O documento discute a distinção entre o natural e o espiritual. O natural é temporal e sujeito à mudança, enquanto o espiritual é eterno. Embora tenhamos corpos naturais, nossa espiritualidade não é determinada por isso. O documento também afirma que o homem natural é insuficiente para as coisas espirituais e divinas e depende totalmente da graça divina para sua regeneração e santificação.
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Oque é natural passou a existir somente depois
da criação do universo visível por Deus e tudo o
que ele contém. O que é natural se desgasta pelo
uso e se modifica assumindo novas formas até o
ponto da dissolução do que era antes.
Já o espiritual é eterno e não está sujeito à
aniquilação, assim como o que é natural.
Deus é eterno porque é espírito, e todo ser que
ele criou à sua semelhança, também possui um
espírito eterno não sujeito à aniquilação.
Alguns confundem a vida espiritual
contrapondo-a ao que é material, como se nos
fosse vedado aquilo que é material e natural,
quando na verdade, a nossa espiritualidade não
é determinada pela nossa relação com aquilo
que é natural e material, pois, temos um corpo
natural no qual habita o nosso espírito, e se
houvesse uma incompatibilidade entre ambos,
jamais poderíamos chegar a ser espirituais
enquanto no corpo.
A santidade não é de origem natural e material,
mas em seu caráter sobrenatural, celestial e
divino, também santifica tudo aquilo que sendo
natural e material é tocado e movido por quem
é santo.
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Agora, como o natural não pode produzir o que
é santo e espiritual, as Escrituras ensinam a
completa insuficiência do homem natural para
as coisas espirituais, celestiais e divinas, e
apontam para a necessidade do trabalho
exclusivo de redenção e justificação para um
andar no Espírito Santo, sem o qual, o poder da
carne não pode ser vencido. “Andai no Espírito e
jamais cumprireis a concupiscência da carne.”
De modo que em todo crente genuíno sempre
haverá a luta da carne contra o Espírito e vice-
versa, para que a vontade de Deus possa
prevalecer nele.
E quanto a este combate do Espírito com a carne,
deve ser entendido como carne, não
propriamente o nosso corpo físico, mas a
natureza pecaminosa e decaída que herdamos
de Adão, e que nos inclina para longe de Deus e
do que é espiritual e celestial.
A dependência total de Deus para o trabalho da
geração de uma nova criação, ou criatura, pode
ser entendido a partir da natureza deste
trabalho que consistiu basicamente em dar ao
homem a coparticipação na natureza divina.
E como isto foi feito? Por um retirada da
natureza humana? Não. Por se acrescentar a ela
em sua essência algo diferente? Também não.
Podemos entender isto sendo processado em
nós, por meio de um paralelismo com o que
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ocorreu com nosso Senhor Jesus Cristo, que
sendo Deus, tendo a natureza e essência divina,
tomou também a natureza humana. Nele,
ambas naturezas estavam em perfeita união e
harmonia, sem que houvesse entretanto,
qualquer mistura da essência divina com a
humana, de modo que do Senhor pode ser dito
que é perfeito Deus e perfeito homem em uma
só pessoa.
Nós não tínhamos, antes da regeneração, a
natureza divina, a qual nos é concedida pela
habitação do Espírito Santo, de modo que somos
ordenados a seguir a sua instrução, direção,
orientação, inclinando-nos para Ele e não para a
carne, pois nisto consiste basicamente a nossa
santificação.
Do mesmo modo, a natureza humana de Jesus
seguia a direção da divina, de forma que sempre
dizia que tudo o que fazia era pelo poder do
Espírito Santo e segundo a vontade do Pai. Pode
ser dito que a sua natureza humana estava em
perfeita obediência à divina.
Então, nosso corpo, alma e espírito devem estar
sujeitos à direção do Espírito Santo, porque não
há outra forma de se conhecer e obedecer a
vontade de Deus. Não há outra forma de se
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vencer o pendor da carne, o pecado, o diabo e o
mundo.
Podemos concluir portanto, que não há
qualquer mérito, poder ou ação direta do
próprio homem na sua regeneração. Todo o
trabalho é feito pela Trindade divina, em seus
diferentes ofícios. Caminhar com Deus e ter
comunhão com Ele é algo inteiramente
dependente de se receber a graça divina para
isto.