O documento discute a santificação cristã. Afirma que a santificação começa com a regeneração, mas deve continuar ao longo da vida através da obediência, despojamento do pecado e revestimento das virtudes de Cristo. Também enfatiza que a santificação é obra do Espírito Santo através da aplicação da Palavra de Deus na vida do crente.
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Só se Vê a Deus com Santificação
Hebreus 12.14
O pecador é transformado em santo quando nasce de novo
pelo Espírito.
Na sua conversão ele é santificado ao ser transformado em
uma nova criatura.
Ele recebe um novo coração, uma nova natureza, a natureza
divina, e assim tem acesso à santidade que o faz aceitável a
Deus.
Esta é a razão pela qual o apóstolo Paulo se refere aos cristãos
em todas as suas epístolas, chamando-os de santos, apesar de
muitos deles serem ainda carnais, como, por exemplo, eram
muitos dos cristãos coríntios (I Cor 1.2; 6.11; 14.33; II Cor 1.1;
13.12; Ef 1.1; 2.19; Fp 1.1; Col 1.2; Jd 3) que eram santos,
separados para Deus, apesar de não serem ainda cristãos
espirituais.
Entretanto, aquele que foi santificado pelo Espírito, é chamado
a prosseguir em santidade, através do processo de
santificação, que não deve cessar ao longo de toda a sua vida
(Jo 17.17,19; Ef 4.12;I Tes 5.23; Apo 22.11).
Este processo consiste basicamente no despojamento das
obras da carne (natureza terrena) e do revestimento das
virtudes de Cristo.
O texto de Hebreus 12.14 diz, “segui a paz com todos e a
santificação” – ambas as coisas, tanto a paz quanto a
santificação devem ser seguidas de forma prática.
Se a santificação tivesse sido obtida em sua forma plena e final
na regeneração (novo nascimento), não haveria necessidade
de se mandar segui-la, ordenança que não se aplica à
justificação, por ter sido obtida de uma vez para sempre na
conversão.
Santificação é conformidade à vontade de Deus, e obediência
aos mandamentos do Senhor. Isto é o trabalho do Espírito na
3. 3
alma, pelo qual o homem é feito semelhante a Deus, e torna-
se participante da natureza divina, sendo livrado da corrupção
que há no mundo através da cobiça.
Não é dito em Heb 12.14 “perfeição de santificação”, mas,
“santificação”.
A santificação é uma coisa que cresce.
Ela pode ser na alma como o grão de mostarda, e ainda não
estar desenvolvida; ela pode ser uma vontade e um desejo no
coração, um suspiro, uma aspiração.
Com as águas do Espírito de Deus, ela crescerá como o grão de
mostarda até se tornar uma árvore.
A santificação, no coração regenerado, é como criança, não
está madura – está perfeita em todas as suas partes, mas não
perfeita no seu desenvolvimento.
Uma criança é um ser perfeito, mas não quanto ao
desenvolvimento que ainda terá até ser uma pessoa madura.
Por conseguinte, quando nós achamos muitas imperfeições e
muitas falhas em nós mesmos, não devemos concluir que isto
significa que não temos interesse na graça de Deus.
A santificação requer que o coração esteja em Deus, e que
pulse de amor por Ele.
“Sem santificação ninguém verá o Senhor”.
Isto quer dizer, nenhum homem pode ter comunhão com Deus
nesta vida, e na vida por vir, sem santidade.
“Podem dois caminharem juntos se não houver entre eles
acordo?”.
Santificação é uma palavra que significa mais do que
purificação, porque ela inclui mais do que a ideia de sermos
limpos, ela inclui também a necessidade de estarmos
adornados com todas as virtudes de Cristo.
“Por causa deles eu me santifico a mim mesmo”. Estas são
palavras que foram proferidas por Jesus em Jo 17.
No caso do Senhor não pode significar purificação do pecado,
porque ele não tinha pecado.
A santificação do Senhor era sua consagração ao completo
propósito divino, sua absorção na vontade do Pai.
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Assim, nossa própria santificação também significa a nossa
consagração à vontade de Deus, além da nossa purificação, já
que somos pecadores.
“Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17).
Ninguém pode santificar uma alma mas somente o Todo
Poderoso Deus, o grande Pai dos espíritos.
Somente aquele que nos fez pode fazer-nos santos.
A regeneração é onde a santificação começa, é totalmente o
trabalho do Espírito de Deus.
Cada pensamento sobre santidade, e cada desejo posterior por
pureza, vêm somente do Senhor, porque nós, por natureza,
somos inclinados ao pecado.
Assim que a última vitória sobre o pecado em nós, e sermos
feitos perfeitamente como o nosso Senhor, deve ser
inteiramente o trabalho do Senhor Deus, que faz novas todas
as coisas, desde que não temos nenhum poder para realizar
tão grande trabalho em nós mesmos.
Isto é uma criação (Tg 1.18). Nós podemos criar esta nova vida?
Isto é uma ressurreição. Nós podemos levantar da morte, pelo
nosso próprio poder?
Nossa natureza degenerada (terrena) pode estar rumando em
direção à putrefação, mas não pode jamais retornar à pureza
ou à perfeição por si mesma; por isto está sentenciada à morte,
pela nossa identificação com a crucificação de Jesus, e temos
recebido uma nova natureza de Deus pela fé, que está
realizando em nosso espírito um trabalho de santificação, e
isto é de Deus, e de Deus somente.
Uma santificação real é inteiramente do início ao fim o
trabalho do Espírito do Deus bendito.
Veja então que grande coisa é a santificação, e como é
necessário para isto que o nosso Senhor orasse ao seu Pai:
“Santifica-os na verdade”.
Todavia, somente a verdade não santifica o homem.
Ele pode permanecer num credo ortodoxo, mas se isto não
tocar o nosso coração e influenciar o nosso caráter, qual é o
valor da nossa ortodoxia?
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Não é a doutrina que, de si mesma, nos santifica, mas o Pai
santifica usando a doutrina como meio.
A verdade é o elemento em que nós devemos viver para
sermos santos.
A falsidade (mentira) conduz ao pecado; a verdade conduz à
santidade; mas há o espírito mentiroso, e há também o Espírito
da verdade, e por estes o erro e a verdade são usados como
meios para se atingir o fim, respectivamente.
A verdade deve ser aplicada com poder espiritual à mente, à
consciência, ao coração, senão o homem pode receber a
verdade, e ainda permanecer na injustiça.
Eu creio que isto é a coroação do trabalho de Deus no homem,
que seu povo seja perfeitamente livre do mal.
Ele os escolheu para que sejam seu povo particular, zeloso de
boas obras; Ele os redimiu para que fossem livres de toda a
iniquidade, e purificados; ele os chamou efetivamente para
uma elevada e santa vocação, a saber para a verdadeira
santidade.
Todo o trabalho do Espírito de Deus na nova natureza tem em
mira a purificação, a consagração, o aperfeiçoamento de todos
aqueles que Deus, em amor, tomou para Si.
2 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 2
Tudo o que nos sucede na caminhada para o céu tem o
propósito de nos preparar para o fim último da nossa jornada.
Nosso caminho através do deserto tem por objetivo
nos provar, para que possamos conhecer quem realmente
somos, e para que nossos males possam ser descobertos, e nos
arrependermos, e assim, para que nos apresentemos a Deus,
no fim, sem máculas, diante do Seu trono.
Nós estamos sendo educados pelos céus, para o encontro na
assembleia dos perfeitos.
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Ainda não se manifestou o que seremos, mas seremos como
Ele, porque o veremos assim como Ele é.
Nós estamos sendo levantados: através de um duro combate,
longa vigilância, e paciente espera, estamos sendo levantados
em santidade.
Estas tribulações que trilham o nosso trigo e que lançam a
palha para longe, estas aflições que consomem nossas
escórias, e que tornam nosso ouro mais puro, têm um objetivo
glorioso em vista.
Todas as coisas cooperam juntamente para o bem daqueles
que amam a Deus; e o resultado esperado de tudo isso será a
apresentação dos escolhidos a Deus, não tendo mancha ou
ruga ou qualquer coisa semelhante.
Não devemos pensar que a santificação ocorre
instantaneamente, quando se ouve um pregador sincero.
Este não é o trabalho de um momento, de alguns dias, ou da
habilidade humana, mas é o próprio Deus que deve trabalhar
em nós.
Devemos, antes de tudo, ter a habitação do Espírito Santo.
É pela fé em Cristo que se é renascido pelo Espírito. É também
pela mesma fé que somos santificados, assim como temos
crido para o seu perdão e justificação.
Como a santificação é forjada nos cristãos? Jesus disse em João
17: “Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.”.
Observem como Deus tem juntado a verdade e a santificação.
Tem havido uma tendência recentemente para se dividir a
verdade da doutrina; a verdade do preceito.
Nenhuma vida santa será produzida em nós por crer na
falsidade.
A santificação em seu caráter visível vem da edificação em fé
no interior do coração, ou de outra forma é uma mera casca.
Boas obras são o fruto da verdadeira fé, e a verdadeira fé é
uma sincera crença na verdade.
Cada verdade conduz à santificação, cada erro de doutrina,
direta ou indiretamente conduz ao pecado.
E não estamos falando de mero conhecimento intelectual, mas
de conhecimento espiritual, por experiência pessoa, na
7. 7
implantação das virtudes de Cristo em nossa nova natureza,
recebida pela fé nEle (longanimidade, amor, benignidade,
paciência, domínio próprio, alegria etc).
Por isso, somente o ensino que é segundo a Palavra de Deus
revelada, nos santificará.
A matemática é uma verdade, mas ninguém é santificado por
ela.
O erro pode soprar sobre você, ele pode mesmo levar você a
pensar que você está santificado, mas há uma grande e séria
diferença entre ostentar santificação e estar santificado de
fato, uma grave diferença entre se sentir mais purificado que
outros, e estar sendo realmente aceito por Deus.
A verdade nunca é a sua opinião, nem minha; sua mensagem,
nem minha.
Jesus disse, “a tua Palavra é a verdade”.
O que santifica os homens não é apenas a verdade, mas a
verdade que está revelada na Palavra de Deus.
É uma bênção que toda a verdade que é necessária para nos
santificar esteja revelada na Palavra de Deus, tanto que nós
não temos que gastar nossas energias tentando descobrir a
verdade, mas podemos, para nosso maior proveito, usar a
verdade revelada nas Escrituras.
Não haverá mais revelações da verdade, não são mais
necessárias.
O cânon está fixado e completo, e por isso se diz que nada deve
ser retirado ou acrescentado à Palavra, sob a pena de lhe
serem acrescentadas as pragas descritas em Apo 22.18,19.
O Senhor nunca reescreveu ou reeditou Sua Palavra e
certamente nunca o fará, porque ela, verdade que é,
permanece para sempre.
Nosso ensino pode estar cheio de erros, mas o Espírito não
erra.
A fé foi entregue de uma vez por todas aos santos.
A Escritura sozinha é a verdade absoluta e eterna.
É por isso que nos é ordenado que a Palavra de Deus habite
ricamente em nosso coração, e para tanto, será necessário que
a leiamos e que meditemos nela dia e noite.
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É pela leitura e meditação das Escrituras que se chega ao
conhecimento do caráter de Deus, e a termos temor e tremor
em nossa caminhada diante dEle e da Sua justiça.
Quando a verdade for totalmente usada, ela destruirá o
pecado diariamente, nutrirá a graça, inspirará nobres desejos,
e produzirá ações santas.
Agora, ninguém espere ter uma verdadeira santificação sem
isto.
3 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 3
Quando o Senhor diz “sede santos por que eu sou santo” o que
está em foco é uma convocação direta a ser imitado.
Jesus é o nosso exemplo de vida que devemos seguir, se
desejamos de fato ser santificados.
Por isso há várias convocações diretas na Palavra neste sentido
em Mt 10.25; Fil 2.5; I Cor 11.1; Ef 5.1; I Ts 1.6; I Pe 2.21; I Jo
2.6; 4.17, entre outras.
A imitação de Cristo está embutida na ordenança bíblica que
nos manda nos revestirmos de Cristo ou do novo homem, o
que é a mesma coisa (Rom 13.14; Ef 4.24; Col 3.10).
Cabe ressaltar que na regeneração já ocorreu um revestimento
do novo homem, e um despojamento do velho homem, mas
tanto uma coisa quanto outra (revestimento e despojamento)
devem prosseguir na santificação.
Quando encontramos na Palavra de Deus, citações ao fato de
já termos sido lavados, santificados, revestidos do novo
homem e despojados do velho, a referência se aplica no caso
à REGENERAÇÃO (novo nascimento), e quando há uma
exortação no sentido de se prosseguir com o trabalho de
purificação da alma, de despojamento da carne, mortificação
da natureza terrena e revestimento de Cristo ou do novo
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homem, a referência então se aplica ao processo da
SANTIFICAÇÃO, que deve prosseguir por toda a vida, até que
sejamos recebidos na glória.
A santificação consiste basicamente na ordenança de Rom
13.14: revestir-se de Cristo e nada dispor para a carne quanto
às suas concupiscências.
E para revestir-se externamente de Cristo é necessário
primeiro conhecê-lo interiormente.
Jesus deve ser recebido no coração por fé, antes de poder se
manifestar na vida pela santidade.
Para que a luz apareça e ilumine é preciso primeiro acender a
lâmpada.
É assim que a luz do cristão brilha no mundo, pelo testemunho
de sua própria vida, pelas virtudes visíveis de Cristo que se
manifestam na mesma.
Esta luz pode brilhar mais em uns do que em outros, conforme
o nível de sua consagração, e consequentemente, da sua
santificação.
Assim, o exterior e visível deve ser precedido e inspirado pelo
interior e invisível, para que o mundo não possa negar que
somos filhos da luz e do dia (I Tes 5.5,8).
Não basta que Cristo seja o alimento que sustém o homem
interior, é também necessário que seja o vestido que cobre o
homem exterior, e que deve ser visto pelo mundo, através do
seu testemunho.
O cristão deve estar vestido de Cristo em todo o tempo, e deve
estar de tal maneira vestido do Senhor, que se confunda com
Ele.
Na conversão, quando é regenerado pelo Espírito esta
exortação é cumprida num sentido parcial, pois o cristão se
reveste de Cristo como um manto de justiça.
A justiça de Cristo que é imputada ao cristão na justificação,
passa a ser dele, porque Cristo agora lhe pertence e ele a
Cristo.
Embora injusto por natureza, o cristão passa a ser justo.
Mas a ordenança de Rom 13.14 não se refere à justificação,
mas à santificação.
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Entretanto o ato de se revestir de Cristo só pode ser cumprido
por aqueles que já foram justificados e regenerados.
Devemos nos revestir de Cristo, continuamente, para que a
santidade de Cristo seja reproduzida em nossa conduta diária.
Se é a Cristo que devemos ir para obter o perdão e a
justificação, não devemos ir a outro para obter a santificação
(I Cor 1.30).
Havendo começado com Jesus, devemos seguir com Ele até o
fim.
O ato de se revestir de Cristo consiste em imitá-lo.
Ele é o modelo, o único modelo que deve ser seguido pelos
cristãos.
Devemos andar no mundo como Cristo andava.
Uma pergunta deve acompanhar o cristão em todas as áreas
de atividades e situações de sua vida:
“o que faria Jesus em meu lugar?”, e sua ação deve ser
norteada pela resposta a tal pergunta.
É pela vida de Jesus que devemos modelar a nossa.
O motivo ativo e potente que nos encoraja a imitar Jesus como
nosso modelo é a santificação das nossas almas.
Acheguemo-nos ao Senhor e Ele nos dará o vigor que nos falta.
Sem a graça que está em Cristo Jesus não é possível ter a
verdadeira santidade.
O próprio Moisés e todos os que agradaram a Deus na
dispensação da lei foram assistidos e fortificados pela graça,
que também operou mediante a fé.
A fonte da verdadeira santidade está em que “o pecado não
terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim,
da graça.”.
Todos os que agradam a Deus não são os que se deixam
constranger pela força dos Seus mandamentos, como quem
serve a um rude patrão, mas, são os que O servem como filhos
que estimam e amam a seu Pai.
A motivação do cristão deve repousar na gratidão pela graça e
redenção de Jesus, que lhe trouxe a salvação.
Não é no Sinai que deve buscar o estímulo à sua santidade, mas
no Calvário.
11. 11
Inflamado de amor pelo Salvador, que morreu por ele, será a
sua felicidade estar pronto para viver ou para morrer, para
trabalhar ou para sofrer pelo seu Senhor.
O desejo de ser louvado e o temor de ser censurado não são
motivos para a santidade, são indignos de quem pertence a
Cristo.
O servo do Senhor não pode se fazer servo dos homens, agindo
como que para agradar a homens.
Antes, a glória do seu Mestre é sua paixão, e tudo o mais é sem
importância.
Dizer “revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” é o mesmo que
dizer, “revesti-vos da perfeição”.
Assim, o cristão deve se revestir das virtudes que fazem parte
do caráter de Jesus.
Não de parte destas virtudes, mas de todas elas.
Não é somente sua humildade ou doçura, ou amor, ou zelo o
que devemos imitar, mas a sua completa santidade.
A nossa comunhão com Cristo deve ser tão íntima, que a sua
personalidade possa ser reproduzida em nós.
A nossa vontade deve ser conformada à dEle.
É a vontade de Deus que sejamos cada vez mais semelhantes
a Jesus (Rom 8.29).
4 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 4
Lendo o texto de Col 3.12-14 vemos que Paulo está
descrevendo o traje do cristão.
As vestes que ali são descritas devem ser usadas
permanentemente.
Nenhuma delas deve ser deixada de lado.
Todas devem ser vestidas.
Não apenas no domingo, mas durante todos os dias da
semana.
12. 12
As primeiras vestes citadas são a misericórdia e a bondade.
Somos tão misericordiosos, benignos, ternos e compassivos
com os nossos semelhantes como é o próprio Cristo?
Pela santificação, obtivemos este traje, e estamos com ele
vestidos?
Esforçamo-nos para alcançá-lo?
Se não, a nossa alegada santidade está nua em parte.
Longe de nós a presunção da igreja de Laodiceia que lhe custou
a reprimenda de Apo 3.17.
Em seguida são citadas como parte do vestuário de Cristo, a
mansidão e a humildade.
Jesus não oprime nem tiraniza a ninguém.
Ele foi sempre humilde, manso e cheio de graça, sendo o
Mestre de todos, e o Senhor dos senhores.
Somos arrogantes e duros de coração por natureza. É somente
pelo trabalho de quebrantamento do Espírito Santo que
deixamos de sê-lo.
Há também os vestidos da longanimidade e da paciência, no
trato com os semelhantes.
Há cristãos que se não fazem tudo a seu gosto, logo se
encolerizam.
São egoístas, obstinados, iracundos e suscetíveis.
Não se sujeitam à disciplina do Espírito Santo, e nem à
autoridade da Palavra de Deus.
A verdade que servem é a própria, engendrada por sua
imaginação e sentimentos carnais.
Estas vestes da velha natureza devem ser trocadas pelas vestes
de Jesus, da longanimidade (tardio em se irar) e da paciência.
Devemos ser pacientes ainda quando tenhamos sido vítimas
de grandes injustiças: mais vale sofrer do que devolver mal por
mal (Rom 12.17-21; I Pe 2.19-23; 4.12-14).
O apóstolo segue dizendo:
“Perdoai-vos mutuamente...”.
Não é evidente que tal ensino não é da terra, mas que nos veio
do céu? T
Tratemos pois de colocá-lo em ação.
13. 13
Vesti-vos do Espírito de Cristo, e sua língua não soltarápalavras
tão amargas.
Vesti-vos do seu amor, e seu coração não abrigará sentimentos
tão ásperos.
Que suas almas se encham de sua santidade, e de boa vontade
perdoarão, não sete, mas setenta vezes sete.
Agora, o cinturão que mantém em seu lugar cada peça deste
vestuário espiritual é:
“Acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da
perfeição.”.
Este cinturão é divino: o amor.
Tudo o que temos feito tem muito pouco valor se nossas
animosidades não têm sido sepultadas com o velho homem.
Ainda que tenhamos muitos defeitos, que não nos falte o amor
pelo Senhor e por nossos semelhantes.
E finalmente:
“a paz de Deus governe os seus corações e sejam
agradecidos.”.
A gratidão deve ser achada entre os discípulos de Jesus.
Bem-aventurada a alma que está em plena possessão de si
mesma, sempre tranquila e descansada.
Se desejamos ser semelhantes a Jesus devemos estar vestidos
da Sua paz.
5 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 5
Uma pessoa santa, além das virtudes destacadas em Col 3.12-
14 também possui: submissão, domínio próprio, auto negação,
amor fraternal por seus irmãos em Cristo, pureza de coração,
temor de Deus, fidelidade em todos os deveres e
relacionamentos, e todas as demais virtudes que caracterizam
o cristão fiel, segundo o que está revelado na Bíblia.
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Apesar de estarmos revestidos de Jesus, temos necessidade
ainda de lutar contra a carne como se diz em Rom 13.14.
Não devemos ser indulgentes com a carne, nem desculpá-la.
Nunca digamos: “Cristo me tem perdoado porque tenho mau
gênio, e não posso livrar-me dele.”.
Nunca justifiquemos aquilo que em nós não se encontra na
natureza de Cristo.
Alguém pode dizer: “Sou muito alegre por natureza e assim,
um pouco de prazer mundano me é necessário.”.
Jogo perigoso é este!
Está fazendo o que a Palavra proíbe.
Está adulando a carne para satisfazer os seus desejos.
Cuidado!
Não se deve dar trégua ao pecado, nem por um dia, uma hora,
um minuto, um segundo.
Nossa obediência deve ser sem interrupção.
Não devemos consentir que a carne levante a cabeça, pois não
se pode saber até onde é capaz de nos arrastar.
A carne é voraz e nunca se sacia.
Não devemos lhe dar nem ainda as migalhas que caem da
mesa.
Revesti-vos do Senhor Jesus e já não haverá lugar para as
concupiscências da carne.
O pecado está onde Cristo não está.
Qual é o vestido de casamento que nos fará dignos de ir ao
encontro de Cristo e participar do Seu triunfo? É o próprio
Cristo.
Se aqui neste mundo Ele é meu adorno, e minha formosura,
posso estar seguro de que Ele será minha glória durante a
eternidade.
A carne é tão ardilosa que os próprios mandamentos de Deus,
que nos são dados para vida (Rom 7.10), ela os utiliza para
reviver o pecado (a carne gosta do que é proibido – Rom 7.9),
e assim, o pecado, se prevalecendo do mandamento, pelo
próprio mandamento nos engana e mata (Rom 7.11).
15. 15
Diante de um inimigo tão ardiloso, que ainda opera na
natureza terrena do cristão, toda vigilância e cuidado são
poucos.
Por é necessário estar sempre alerta quanto à presunção
espiritual, sobre a qual somos exortados em I Cor 10.12:
“Aquele, pois que pensa estar de pé tome cuidado para não
cair.”.
O diabo e a nossa própria carne (natureza terrena) podem nos
enganar imitando com o vício da presunção, a virtude da
completa segurança da fé, que é uma das bênçãos que é obtida
com o verdadeiro progresso na santificação, quando a salvação
pela graça, mediante a fé, caminha rumo à perfeição, pelo
amadurecimento na confiança no Senhor, e no trabalho que
Sua graça tem realizado em nós.
Temos o grande direito de crer que estamos de pé, se cremos
que o estamos através do poder de Deus.
Pois, quando cremos que estamos de pé, sem que haja
comunhão real com o Senhor, quando damos acolhida a
pequenos pecados que sejam, quando não há mais um
trabalho de santificação na vida, porque não o buscamos, e
vivemos segundo o mundo, então se aplica a nós o que o texto
afirma: “aquele que pensa”.
Pensamos que estamos de pé, mas de fato não estamos.
Estamos sim, rumo a uma queda, que ainda que não seja final,
há de nos manter afastados da comunhão com o Senhor, por
apagarmos o Espírito Santo (I Tes 5.19; Tg 4.4, 8-10).
Assim, não estamos falando contra a fé poderosa que alguém
alega possuir.
Quem dera todos a possuíssemos.
Mas estamos falando contra esta presunção não santa.
Há muitos que se aventuram no meio da tentação,
frequentando companhias, locais, situações que são fontes de
tentação, e que se gabam dizendo: “você pensa que eu sou
fraco para pecar ?”. “Não, eu estarei de pé!”. “Dê-me um copo
de bebida; eu nunca serei um alcoólatra.”. “Dê-me a
pornografia em suas variadas formas (TV, vídeos, internet,
16. 16
casas de má fama etc) e eu me manterei puro em meu corpo e
espírito.”. Assim são as pessoas presunçosas.
Não é preciso ir muito longe para achá-los.
A própria igreja está repleta deles.
Há em cada igreja homens que pensam estar de pé; homens
que se gabam em si mesmos, por imaginarem ter força e
poder, mas não vivem a vida dos filhos de Deus, eles não têm
sido humilhados ou quebrados em espírito, ou se têm sido,
adotam uma segurança carnal até que se transformem em
gigantes que pisam a flor da humildade sob os seus pés.
Qualquer cristão está sujeito a ser presunçoso, cedendo a uma
falsa segurança carnal.
É um mal contra o qual devemos sempre vigiar, daí a exortação
do Espírito pela boca de Paulo em I Cor 10.12.
São fatores que, dentre outros, podem favorecer a presunção:
1 – Prosperidade mundana – “eu estou de pé, e a minha
prosperidade prova isto”, é o que diz o presunçoso.
2 – Pensamentos leves sobre o pecado – perde-se o temor de
pecar que se sentia quando era novo convertido. “Não é um
pequeno pecado?” – diz o presunçoso, e ainda: “Nós
tropeçamos um pouco, falamos e fazemos umas poucas cousas
não santas, mas no tocante à maior parte da nossa vida
espiritual temos sido perseverantes.”.
3 – Fracos pensamentos sobre o valor da fé. Nenhum de nós
valoriza a fé o suficiente. Baixos pensamentos acerca de Cristo,
significa baixos pensamentos acerca do estado eterno das
nossas almas e do valor da fé que nos salva e santifica. Isto nos
conduz a sermos descuidados com a segurança da nossa
salvação. Tomemos cuidado com as fracas e baixas ideias sobre
o evangelho, para que não sejamos apanhados
repentinamente pelo mal.
A palavra do evangelho é o poder para a salvação de todo o
que crê.
É uma palavra mais do que preciosa, de valor inestimável.
E é assim que nos convém estimar a Palavra de Deus.
4 – Ignorância sobre o que somos e sobre onde somos
firmados.
17. 17
Muitos cristãos não têm aprendido ainda o que eles são.
O primeiro ensino de Deus é revelar qual é a condição real da
nossa natureza terrena, que devemos mortificar
continuamente pelo Espírito (Col 3.5).
Mas não chegamos a conhecer isto perfeitamente, mesmo
depois de muitos anos de termos conhecido Jesus.
A corrupção dos nossos corações não é desenvolvida em
apenas uma hora. Há cristãos que pensam que têm um bom
coração. Jeremias tinha um coração melhor do que o deles e
mesmo assim disse: “o coração é enganoso acima de todas as
coisas, e desesperadamente corrupto, quem o conhecerá ?”
(Jer 17.9).
Na verdade, sem Cristo o nosso espírito está morto,
completamente destituído da vida de Deus, e da comunhão
com Ele.
É preciso estar consciente na constante luta entre a velha
natureza e a nova, que se trava no coração de qualquer cristão,
para que, em vigilância e oração constantes, possamos estar
de pé diante do trono.
5 – O orgulho é a mais grave causa da presunção.
O verdadeiro cristão, ainda que não tenha a possibilidade de
sofrer uma queda final, está muito propenso a cair. Qualquer
cristão pode se desviar do caminho, e quando se desvia, se
acometerá a si mesmo com muitas tristezas.
O cristão que pensa estar de pé definitivamente, e que não
depende da graça diariamente, buscando santificar-se mais e
mais, está muito mais exposto ao perigo de cair mais do que
outros, porque será descuidado em meio à tentação.
Ele pensa que é muito forte, e em meio aos ataques do inimigo
mantém sua espada na bainha, e nem sequer se dá-se conta
da luta espiritual, e assim, não ora, não medita na Palavra para
aplicá-la à vida, não tem compromisso real com Cristo, não
frequenta a igreja com assiduidade, confia em sua
prosperidade material e financeira, e considera a falta de
tribulações como sinal da aprovação e bênção de Deus.
Vale lembrar que o Espírito Santo abandona os corações onde
habita o orgulho.
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Ele não se demorará em tal companhia. A graça é dada a quem
se humilha e é negada a quem se exalta.
6 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 6
Nunca podemos dizer que a santificação chega ao
amadurecimento e perfeição total, ou que todas as virtudes
citadas até aqui, especialmente as de Col 3.12-14, sejam
achadas em total florescimento e força, para que possamos
dizer que a pessoa é santa.
Não, longe disto.
A santificação é sempre um trabalho progressivo, e consoante
a concessão da graça do evangelho, que trabalha muito mais
com a nossa consagração a Deus e à Sua Palavra, do que com
a nossa perfeição presente, quanto aos nossos pensamentos,
motivações, sentimentos e ações.
As virtudes ou graças de algumas pessoas são como plantas em
germinação, em outras, como plantas crescidas, e ainda em
outras como plantas maduras com frutos.
Mas todas elas tiveram um começo.
Nós nunca devemos desprezar “o dia dos humildes começos”
(Zac 4.10).
E a santificação neste mundo, no melhor dos snaos, é um
trabalho imperfeito.
A história dos maiores santos que já viveram contem muitos
“poréns”, “todavias” e “emboras”.
O ouro nunca será sem algumas escórias e nós nunca
brilharemos sem algumas nuvens, até que alcancemos a
Jerusalém celestial.
Os homens e mulheres mais santificados têm tido muitas
manchas e defeitos, quando comparados com o padrão
elevado e santo da Palavra de Deus.
19. 19
Suas vidas estão continuamente em guerra com o pecado, e o
diabo; e algumas vezes vocês os verão não submetendo o
Inimigo e a carne, mas sendo submetidos.
Assim, não é pelo tanto que ainda haja de imperfeições e
fraquezas em nós, que estaremos impedindo ou
desacelerando o processo de santificação, mas o quanto não
nos arrependemos do nosso procedimento contrário à
vontade de Deus.
Enquanto tivermos o temor do Senhor e da Sua Palavra,
enquanto confessarmos os nossos pecados, e nos
arrependermos de nossas más obras, buscando andar do
modo que Deus aprova, sempre haverá esperança para o
nosso caso, quanto a fazermos progresso em santificação.
Afinal, a carne está sempre lutando contra o Espírito, e o
Espírito contra a carne, e “todos nós tropeçamos em muitas
coisas” (Tg 3.2; Gál 5.17).
Mas todo verdadeiro cristão, renascido do Espírito, perseguirá
o alvo da santificação.
E corajosa e confiantemente eu digo, que a verdadeira
santificação é uma grande realidade.
Ela é algo que pode ser visto nos homens e mulheres, e mesmo
em crianças, e que pode ser sentido por todos ao seu redor.
Eu sei que o caminho pode ir de um ponto a outro, e ter muitas
curvas e deformações, e a pessoa pode ser verdadeiramente
santa, e ainda ser rodeada por muitas fraquezas.
O ouro não é menos ouro porque está misturado com algum
liga metálica; nem a luz é menos luz porque é fraca e turva;
nem a graça é menos graça porque é jovem e fraca.
Mas depois de todas estas considerações eu não posso dizer
que uma pessoa mereça ser chamada “santificada”, que
deliberadamente se permite continuar habitualmente nos
seus pecados, e que não se sente envergonhada por causa
deles.
Eu não ousaria chamar de “santo” quem faz um hábito
deliberado negligenciar os deveres conhecidos, e que pratica
aquilo que sabe que Deus tem claramente proibido em Sua
Palavra.
20. 20
John Owen se expressou muito bem quanto a isto: “Eu não
entendo como um homem pode ser um cristão verdadeiro sem
que o seu pecado não lhe seja a maior aflição, tristeza e
problema.”.
7 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 7
Estamos Santificados?
Esta é a pergunta de maior importância para as nossas almas.
Se a Bíblia é a verdade, e é certo que é, a menos que nós
sejamos santificados, nós não seremos salvos.
Há três coisas que de acordo com a Bíblia, são absolutamente
necessárias à salvação de cada homem e mulher cristão.
Estas três coisas são a justificação, a regeneração e a
santificação.
Aquele em quem falte alguma destas três coisas, não poderá ir
para o céu quando morrer.
Onde, então está o dano em perguntar, “estamos santificados
?”.
Onde está o bom senso de rejeitar a inquirição?
Esta é uma questão muito apropriada para ser tratada nos dias
atuais.
Estranhas doutrinas têm se levantado ultimamente sobre todo
o assunto da santificação.
Alguns parecem confundi-la com a justificação. Outros a
fragmentam em nada, sob o pretenso zelo pela livre graça.
Outros levantam um erro de uma santificação padrão diante
dos seus olhos, e falham ao tentar alcançá-la em suas vidas
através de repetidas mudanças de igreja a igreja, na vã
esperança que eles acharão o que eles desejam.
Num dia como este, o calmo exame da pergunta em título,
pode ser de grande utilidade para nossas almas.
21. 21
Em primeiro lugar, nós temos que considerar a natureza da
santificação. A que se refere a Bíblia quando fala de um
homem “santificado”?
Santificação é o trabalho espiritual interior que o Senhor Jesus
Cristo opera no homem pelo Espírito Santo, quando Ele o
chama para ser um autêntico cristão, separando-o do seu
natural amor ao pecado e ao mundo, e põe um novo princípio
em seu coração, e o torna praticamente devoto em sua vida.
O instrumento pelo qual o Espírito efetua este trabalho é
geralmente a Palavra de Deus, embora algumas vezes Ele
utilize as aflições e visitações providencias.
O sujeito deste trabalho de Cristo pelo seu Espírito, é chamado
na Escritura de homem santificado.
Aquele que supõe que Jesus Cristo somente viveu e morreu e
ascendeu ao céu para prover justificação e perdão dos pecados
do Seu povo, tem ainda muito que aprender.
Enquanto ele não sabe isto, está desonrando o nosso bendito
Senhor, e fazendo-lhe somente um Salvador pela metade.
O Senhor Jesus tem se responsabilizado por tudo que as almas
do seu povo necessitam; não somente em livrá-las da culpa de
seus pecados, através da Sua morte expiatória, mas pelo
domínio dos seus pecados, pela habitação do Espírito Santo em
seus corações; lhes santificando.
Ele é, assim, não somente sua justiça, mas também sua
santificação (I Cor 1.30).
Ouça o que a Bíblia diz em Jo 17.19; Ef 5.25-27; Tt 2.13,14; I Pe
2.24 e Col 1.22.
Deixe-me apresentar o significado destes cinco textos
cuidadosamente considerados.
Se palavras significam algo, elas ensinam que Cristo toma para
si a responsabilidade pela nossa santificação, não menos do
que pela justificação.
Ambas são igualmente providas porque neste pacto eterno
está ordenado em todas as coisas e certamente, que o
Mediador é Cristo.
De fato, Cristo em Heb 2.11 é chamado “o que santifica”, e Seu
povo, “os que são santificados”.
22. 22
O assunto diante de nós é tão profundo e de vasta importância,
que requer, para que seja devidamente entendido, que
seja avaliado, clareado e marcado em todos os seus lados.
A santificação, então, é o resultado invariável desta vital união
com Cristo que a verdadeira fé dá ao cristão.
“Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto;
porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15.5).
O ramo que não produz fruto não é um ramo vivo da videira.
A união com Cristo que não produz efeito no coração e na vida
é uma mera união formal, que é sem valor diante de Deus.
A fé que não tem uma influência santificadora sobre o caráter
não é melhor do que a fé dos demônios.
Ela é uma “fé morta, porque é somente isto”.
Isto não é o dom de Deus, a fé dos eleitos de Deus.
Em resumo, se não há santificação de vida, não há fé real em
Cristo.
A verdadeira fé opera pelo amor.
Ela constrange o cristão a viver no Senhor com um profundo
senso de gratidão pela redenção.
Isto o faz sentir que ele nunca pode fazer muito por Ele, que
morreu no seu lugar.
Sendo muito perdoado ele ama muito.
Aquele que é lavado pelo sangue caminha na luz.
Aquele que tem uma real e viva esperança em Cristo, purifica-
se a si mesmo assim como Ele é puro (Tg 2.17.20; Tt 1.1; Gál
5.6; I Jo 1.7; 3.3).
Quanto maior a santificação, maior a consciência espiritual de
que se estava morto, separado da vida de Deus, e da
comunhão com Ele, porque o oposto disto, ou seja, vida e
comunhão, crescem à medida que a santificação aumenta em
graus.
A santificação, também, é a inseparável consequência da
regeneração.
Aquele que é nascido de novo do Espírito, que foi feito nova
criatura, recebe uma nova natureza e um novo princípio, e
sempre vive uma nova vida.
23. 23
A regeneração que um homem pode ter, e ainda viver
descuidadamente no pecado ou de forma mundana, é uma
regeneração que nunca é mencionada na Escritura.
Ao contrário, João expressivamente diz que aquele que é
nascido de Deus não vive na prática do pecado, mas pratica a
justiça, ama os irmãos, guarda-se a si mesmo e vence o mundo
(I Jo 2.29; 3.8-14; 5.4-18).
Numa palavra, onde não há santificação, não há regeneração,
e onde não há vida santa não há novo nascimento.
Isto é, sem dúvida, uma dura coisa para se dizer a muitas
almas; mas, dura ou não, isto é simplesmente a verdade
bíblica.
De modo que ninguém dê descanso à sua alma enquanto não
tiver obtido isto. Porque caso se satisfaça com uma mera
confissão religiosa, corre o grande perigo de permanecer ainda
sujeito à condenação eterna, por nunca ter sido redimido por
Cristo, ainda que pense que o tenha sido.
Por isso, em Sua misericórdia, Deus nos dá evidências seguras
na Bíblia, para que possamos saber se fomos ou não
regenerados, e por conseguinte, se estamos sendo
santificados, porque esta sempre se seguirá em todos os que
nasceram de novo do Espírito, por terem crido em Cristo.
Assim o engano ou o auto engano poderão ser evitados, a bem
do futuro eterno de nossas almas.
Isto está escrito claramente, que aquele que é nascido de Deus
é um cuja “semente permanece nele, e ele não pode viver
pecando porque ele é nascido de Deus.” (I Jo 3.9).
A santificação, ainda, é a única e certa evidência da habitação
do Espírito Santo que é essencial à salvação.
“Se alguém não tem o Espírito de Cristo esse tal não é dEle.”
(Rm 8.9).
Muitos se iludem por sentimentos, dizendo que sentem algo
lhes dizendo no seu interior que são salvos.
Apesar de o Espírito Santo testificar com o nosso espírito que
fomos salvos, não se pode ter por seguro que toda voz ouvida
no coração seja do Espírito, porque a carne ou o Inimigo
poderão nos enganar.
24. 24
Então essa testificação do Espírito Santo, aumenta em graus,
naqueles que se santificam.
E é especialmente pela constatação pessoal do aumento das
suas graças transformadoras em nós, que podemos ter a plena
certeza que somos de fato de Cristo (pelo aumento da
longanimidade, do amor aos irmãos e a Deus, da benignidade,
paciência etc).
O Espírito nunca permanece adormecido e ocioso na alma: Ele
sempre faz Sua presença conhecida pelo fruto que Ele produz
no coração, no caráter e na vida.
“O fruto do Espírito”, diz Paulo, “é amor, alegria, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão,
domínio próprio,” (Gál 5.22,23).
Quando estas coisas são encontradas, há o Espírito: quando
estas coisas não existem, os homens estão mortos diante de
Deus.
O Espírito é comparado ao vento, e, como o vento, Ele não
pode ser visto pelos nossos olhos de carne.
Mas assim como nós conhecemos o efeito que o vento produz
nas ondas, nas árvores, na fumaça, assim nós podemos saber
que o Espírito está no homem pelos efeitos que Ele produz na
conduta dos homens.
É possível supor que nós temos o Espírito, se nós também
“andarmos no Espírito” (Gál 5.25), produzindo o fruto que é
consequente dessa santa
Assim, os que são realmente “guiados pelo Espírito de Deus,
são filhos de Deus.” (Rom 8.14).
8 - Sobre a Santificação Verdadeira – Parte 8
A santificação, ainda, é a única e clara marca da eleição de
Deus.
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Os nomes e números dos eleitos são uma coisa secreta, sem
dúvida, que Deus tinha sabiamente guardado em Seu próprio
poder, e não revelou ao homem.
Não é dado a nós neste mundo estudar as páginas do livro da
vida, e ver se nós estamos inscritos nele.
Mas se há uma coisa claramente estabelecida sobre a eleição,
é esta, que os homens e mulheres eleitos podem ser
conhecidos e distinguidos pelas suas vidas santas.
Isto está expressamente escrito que eles são “eleitos através
da santificação do Espírito (I Pe 1.2); predestinados para serem
conformes à imagem do Filho de Deus (Rom 8.29); escolhidos
em Cristo antes da fundação do mundo para serem santos e
irrepreensíveis (Ef 1.4).
Portanto, quando Paulo viu a operosidade da fé, a abnegação
doamor, e a firmezada esperança dos cristãos tessalonicenses
(I Tes 1.3), ele disse, que reconhecia através disso a eleição
deles por Deus (I Tes 1.4).
Aquele que se vangloria em ser eleito de Deus, enquanto ele
está deliberada e habitualmente vivendo no pecado, está
somente enganando a si mesmo, e dizendo uma perversa
blasfêmia, porque com isso desonra a santidade de Deus, pois
não há qualquer sombra de pecado em Deus.
Mas onde não há, pelo menos, alguma aparência de
santificação, nós podemos estar completamente certos de que
não há eleição.
A verdade da Palavra é que o Espírito Santo santifica todos os
eleitos de Deus.
A santificação, ainda, é uma coisa que sempre será vista, assim
como a Grande Cabeça da Igreja, de quem isto procede, não
pode ser escondida.
Cada árvore é conhecida pelo seu próprio fruto (Lc 6.44).
Uma pessoa verdadeiramente santificada pode ser tão vestida
de humildade, que ela pode ver em si mesma, nada além de
fraquezas e defeitos.
Como Moisés, quando ele veio ao monte, ele pode não ter tido
consciência que sua face brilhava.
26. 26
Como os justos na importante parábola das ovelhas e dos
bodes, que não podiam ver que eles tinham feito algo para o
seu Mestre quando o fizeram a outros (Mt 25.37).
Mas ainda que não vejam isto em si mesmos ou não, outros
sempre verão neles, um tom, um caráter e uma forma de vida
não vista em outros homens.
A luz pode ser muito turva, mas se houver somente uma
centelha num quarto escuro, ela será vista.
A vida pode estar muito débil, mas se houver pulsação, ainda
que fraca, isto será percebido.
É exatamente o mesmo que ocorre com o homem santificado:
sua santificação será algo sentido e visto, embora ele mesmo
não possa compreender isto.
Um santo em quem nada pode ser visto mas mundanismo ou
pecado, é um tipo de monstro não reconhecido pela Bíblia.
A santificação, ainda, é uma coisa pela qual cada cristão é
responsável.
Cada homem na terra é responsável diante de Deus, e todos os
perdidos estarão mudos e sem desculpas no último dia.
Cada homem tem poder para “perder sua própria alma” (Mt
16.26).
Deus tem dado aos cristãos graça e um novo coração, e uma
nova natureza, de modo que tem negado a eles toda a
desculpa, caso não vivam para o Seu louvor.
Este é um ponto que é muito esquecido.
Um homem que professa ser um verdadeiro cristão, enquanto
se assenta ainda, contente com um muito baixo grau de
santificação (se de fato ele tem alguma), e friamente diz que
ele “nada pode fazer quanto a isto”, é de fato uma muito
lamentável visão, de um homem muito ignorante.
Contra esta ilusão deixem-nos vigiar e estar em guarda.
Se o Salvador de pecadores nos der uma graça renovadora, e
nos chamar, pelo Seu Espírito, nós podemos estar certos que
Ele espera que usemos a nossa graça, e que não venhamos a
dormir como os demais.
É o esquecimento disto a causa de muitos cristãos
entristecerem o Espírito Santo, e se tornarem inúteis.
27. 27
A santificação, ainda, é uma coisa que permite o crescimento
e o progresso.
Um homem pode escalar um degrau após outro em santidade,
e ser mais santificado num período de sua vida do que em
outro.
Mais perdoado e mais justificado do que era quando creu no
princípio ele não pode ser, embora ele possa sentir isto com
mais intensidade.
Mais santificado ele certamente pode ser, porque cada graça
em seu novo caráter pode ser fortalecida, ampliada e
aprofundada.
Este é o evidente significado da última oração de nosso Senhor
por seus discípulos, quando ele usou as palavras, “santifica-os”
(Jo 17.17), e Paulo orou pelos tessalonicenses “o mesmo Deus
da paz vos santifique em tudo” (I Tes 5.23).
Em ambos os casos a expressão claramente implica a
possibilidade de aumento da santificação; enquanto que uma
expressão paralela como “justifica-os” nunca é encontrada
uma só vez nas Escrituras, aplicada aos cristãos, porque eles
não podem ser mais justificados do que eles já estão.
A justificação é recebida de uma vez para sempre na conversão
e não é portanto um processo.
Já a santificação é um processo que dura toda a vida.
A ideia de uma “santificação imputada” numa experiência de
poder em avivamento do Espírito não tem respaldo bíblico e
contraria a verdade da Palavrae da própria experiência prática,
porque não existe uma santificação completa que se receba de
uma vez para sempre em determinado momento da vida.
O que pode ocorrer é um renovo espiritual que desperte a
santidade que estava adormecida, mas esta necessitará ser
sempre mantida e renovada e aumentada.
A ordem de Cristo em Apocalipse é que o que é santo,
santifique-se mais ainda.
Isto denota a necessidade de exercício espiritual, de disciplina,
de esforço, de vigilância constante, perseverança e diligência.
Há necessidade de formação progressiva de um hábito de
santidade na vida, em todas as suas áreas.
28. 28
Se há um ponto em que os santos mais consagrados a Deus
concordam, é este que eles veem mais, e conhecem mais, e
sentem mais, e fazem mais, e se arrependem mais, e creem
mais, à medida que avançam na vida espiritual, e em
proporção à intimidade da sua caminhada com Deus.
Em resumo, eles crescem na graça, como Pedro exorta os
cristãos a fazerem (II Pe 3.18), e progridem cada vez mais,
conforme as palavras de Paulo em I Tes 4.1.
A santificação, ainda, é uma coisa que depende grandemente
do diligente uso dos meios das Escrituras.
Quando eu falo “meios” eu me refiro à leitura da Bíblia, à sua
prática na vida, à presença regular à adoração pública, a
regular escuta da Palavra de Deus, a constância na oração, e a
regular recepção da Ceia do Senhor.
Eu não posso achar qualquer exemplo de algum santo
eminente que sempre tenha negligenciado tais coisas.
Elas são apontadas como canais através dos quais o Espírito
Santo conduz novos suprimentos da graça à alma, e fortalece
a obra que ele tem começado no homem interior (nova
criatura, nova natureza).
Deixem os homens chamarem isto de deveres legalistas. Que
o façam se lhes agrada, mas eu nunca recuarei em declarar
minha crença de que não há ganhos espirituais sem esforço ou
sofrimento. Eu seria como um agricultor que espera prosperar
em seu negócio, se contentando em semear seu campo e
nunca cuidar dele até a colheita.
Assim é o cristão que espera alcançar muita santidade mas que
nunca foi diligente na leitura da sua Bíblia, em suas orações, e
no uso do dia do Senhor, para a adoração e serviço.