O documento discute os movimentos artísticos do Realismo e do Naturalismo no século XIX:
1) O Realismo surgiu como reação ao Romantismo e focou na anatomia do caráter humano e na crítica da sociedade da época;
2) O Naturalismo radicalizou os aspectos deterministas do Realismo, vendo o homem como produto de leis naturais e sociais;
3) Ambos os movimentos refletiram as transformações da Revolução Industrial e do capitalismo nascente, retratando a nova sociedade burguesa
2. O Realismo é uma reação contra o Romantismo: o
Romantismo era a apoteose do sentimento; – o Realismo
é a anatomia do caráter. É a crítica do homem. É a arte
que nos pinta a nossos próprios olhos – para condenar o
que houver de mau na nossa sociedade.
Eça de Queirós
3.
4. Momento Histórico
Segunda metade do século XIX: sociedade europeia vive os
efeitos da Revolução Industrial e do amplo progresso científico
que a acompanha. É uma época de benefícios materiais e
econômicos para a burguesia industrial; contudo, o operário vive
um período de intensa crise e miséria.
1848: o ano das revoluções: conturbações sociais produzidas
pelas camadas populares baseadas em ideias liberais,
nacionalistas e socialistas (movimentos revolucionários)
Publicação do Manifesto Comunista, de Karl Marx e Frederick
Engels.
Socialismo Científico: a sociedade igualitária só seria alcançada
por meio da luta de classes e da extinção da burguesia e do
sistema capitalista.
5.
6. Karl Marx e a História da
Exploração do Homem
(1818 - 1883)
7. Alemão, formou-se em Filosofia na
Universidade de Berlim, doutorando-se
também em Filosofia.
Em 1842 mudou-se para Paris onde conheceu
Friedrich Engels, companheiro de ideias e
publicações por toda a vida.
Em 1848, escreveu com Engels o Manifesto do
Partido Comunista, obra fundadora do
Marxismo enquanto movimento social a favor
do proletariado.
8.
9. I - Burgueses e Proletários(3*)
A história de toda a sociedade até aqui(4*) é a
história de lutas de classes.
[Homem] livre e escravo, patrício e plebeu, barão
e servo [Leibeigener], burgueses de corporação
[Zunftbürger] (5*)e oficial, em suma, opressores e
oprimidos, estiveram em constante oposição uns
aos outros, travaram uma luta ininterrupta, ora
oculta ora aberta, uma luta que de cada vez
acabou por uma reconfiguração revolucionária
de toda a sociedade ou pelo declínio comum
das classes em luta.
10. Nas anteriores épocas da história encontramos quase
por toda a parte uma articulação completa da
sociedade em diversos estados [ou ordens sociais —
Stände], uma múltipla gradação das posições sociais.
Na Roma antiga temos patrícios, cavaleiros, plebeus,
escravos; na Idade Média: senhores feudais, vassalos,
burgueses de corporação, oficiais, servos, e ainda por
cima, quase em cada uma destas classes, de novo
gradações particulares.
11. A moderna sociedade burguesa, saída do declínio
da sociedade feudal, não aboliu as oposições de
classes. Apenas pôs novas classes, novas condições
de opressão, novas configurações de luta, no lugar
das antigas.
A nossa época, a época da burguesia, distingue-se,
contudo, por ter simplificado as oposições de classes.
A sociedade toda cinde-se, cada vez mais, em dois
grandes campos inimigos, em duas grandes classes
que directamente se enfrentam: burguesia e
proletariado. (...)
12. O Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo são
as correntes artísticas que refletem a consolidação
da burguesia e seu fortalecimento, em função da
“implementação” do capitalismo avançado.
A exaltação da liberdade individual, da rebeldia, são
substituídas por novas palavras de ordem: ciência,
progresso, razão.
O apogeu da Revolução Industrial marcou
profundas transformações na vida, na arte e no
pensamento.
13. O capitalismo se estrutura em moldes
modernos, com o surgimento de grandes
complexos industriais – por outro lado, a
massa operária avolumava-se, formando
uma população marginalizada, que não
partilhava dos mesmos benefícios gerados
por esse progresso industrial, sendo
submetida a condições precárias de
trabalho.
Essa nova sociedade serve de pano de
fundo para uma reinterpretação da
realidade, que gera teorias de variadas
correntes ideológicas.
14. Positivismo
Augusto Comte defendia o cientificismo no
pensamento filosófico e a conciliação entre
“ordem” e “progresso” – o que originou a
expressão da bandeira do Brasil.
Comte atribuía à constituição e ao processo
da ciência positiva importância capital para
o progresso de qualquer sociedade.
15. SOCIALISMO
Marx e Engels, “Manifesto comunista”,
1848 – definição do materialismo histórico
e da luta de classes.
“O que distingue nossa época – a época da
burguesia – é ter simplificado a oposição de
classes. Cada vez mais, a sociedade inteira
divide-se em dois grandes blocos inimigos,
em duas grandes classes que se enfrentam
diretamente: a burguesia e o proletariado.”
16. Evolucionismo
Darwin, 1859, “A origami das species” – a
evolução das espécies pelo processo de
seleção natural, negando a origem divina
difundida pelo Cristianismo.
O homem passa a ser tomado como um ser
animal, regido pelo instinto biológico.
17. Determinismo
Taine propõe que o comportamente humano é
determinado por forças biológicas, sociológicas
e ambientais e históricas.
Todos os fatos psicológicos e sociais são
manifestações naturais que nada têm de
transcendência.
18. Na pintura
Fim das idealizações românticas.
Os Stonebreakers, de Coubert. 1849.
23. Morbidez;
Melancolia;
Soturnidade.
O sentimento dum ocidental
Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal
melancolia,
Que as sombras, o bulício, o
Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo
absurdo de sofrer.
[...]
Voltam os calafates*, aos
magotes*,
De jaquetão ao ombro,
enfarruscados*, secos;
Embrenho-me, a cismar, por
boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se
atracam botes
E evoco, então, as crônicas
navais.
[...]
Cesário Verde
24. Eça de Queirós Três fases:
Ironia, critica da
sociedade;
Tom caricatural;
Linguagem elegante.
2ª- Realista-Naturalista
O Crime do
Padre Amaro
O Primo Basílio
Os Maias
Ilustre casa de
Ramires
A cidade e as
Serras
25. REALISMO no Brasil
Na década de 1870 surge a Escola de Recife, com Tobias
Barreto, Silvio Romero e outros, cujas ideias se
aproximavam do pensamento europeu.
Considera-se 1881 como o ano inaugural do Realismo no
Brasil, com “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de
Machado de Assis.
Na divisão tradicional da literatura brasileira, considera-se
como data final do Realismo o ano de 1893, com a
publicação de “Missal” e “Broquéis”, de Cruz e Souza. Essas
obras registram o início do Simbolismo, mas não o término
do Realismo e suas manifestações.
26. Autores realistas brasileiros
Machado de Assis (1839-1908)
“...Marcela me amou durante quinze
meses e onze contos de réis; nada
menos.”
Contos, crônicas e romances;
Temas universais;
Capítulos curtos;
Metalinguagem e interlocução;
Digressão;
Correção gramatical;
Humor sutil e ironia.
27. Romance realista
Narrativa voltada para a análise
psicológica e crítica da sociedade a
partir do comportamento dos
personagens.
O romance realista é o retrato de uma
época.
28. Raul Pompeia (1863-1895)
“Vais encontrar o mundo,
disse-me meu pai, à porta do
Ateneu. Coragem para a
luta.” (1888)
Digressão;
Vida em coletividade;
Zoomorfismo;
Alusões ao homossexualismo.
29. Origens do Naturalismo
Características
Adoção de tese científica
(Determinismo e Evolucionismo);
Zoomorfismo;
Detalhismo;
Temas relacionados à sexualidade e à degradação
humana;
Camadas sociais menos favorecidas;
Exploração brutal do homem.
30. Naturalismo
É um desdobramento do Realismo – há
muitos pontos em comum entre ambos.
A visão do naturalismo é mais
determinista, ressalta-se o aspecto
biofisiológico do homem, visto como
animal, regido pelo instinto e pela
fisiologia, não pelo espírito e pela razão.
Tem início também em 1881, com a
publicação de “O mulato”, de Aluísio de
Azevedo.
32. Aluísio Azevedo (1857-1913)
• Crua linguagem naturalista;
• Personagens movidas pelo instinto;
• Descrições detalhadas;
• Foco na coletividade marginalizada.
Introdutor do Naturalismo e do
romance de tese no Brasil
33. Adolfo Caminha (1867-1897)
Obras
A normalista / Bom-Crioulo
• A literatura como arma de denúncia social;
• Crítica feroz à sociedade de Fortaleza;
• Forte carga erótica;
• Homossexualismo;
• Incesto;
• Obsessões sexuais.
34. Inglês de Sousa (1853-1918)
A linguagem de Eça e a tese naturalista de
Zola;
O poder de persuasão.
O missionário - o tema do celibato social
• Advogado;
• Jornalista;
• Político;
• Sócio fundador da ABL.
35. Romance naturalista
Marcada pela vigorosa análise social a partir de
grupos humanos marginalizados, em que se valoriza o
coletivo.
Autores: Aluísio de Azevedo, Júlio Ribeiro, Raul
Pompéia.
Obras: “O mulato”, “O cortiço”, “Casa de pensão”, “O
Ateneu”.
36. Resumindo
• Realismo: os escritores voltavam-se para a observação
do mundo objetivo. Procuravam fazer arte com os
problemas concretos de seu tempo, sem preconceitos
ou convenções. Focalizavam o cotidiano.
• O adultério, o clero e a sociedade burguesa em crise
tornaram-se temas para as obras desse período.
• Naturalismo: radicalizou o Determinismo (o homem
como produto de leis físicas e sociais) do movimento
realista.
37. O Realismo se tingirá de naturalismo, no
romance e no conto, sempre que fizer
personagens e enredos que submeterem-se ao
destino cego das “leis naturais” que a ciência
da época julgava ter codificado; ou se dirá
parnasianismo, na poesia, à medida que se
esgotar no lavor do verso tecnicamente perfeito.
Alfredo Bosi