O Realismo é uma reação contra o Romantismo: o Romantismo
era a apoteose do sentimento; – o Realismo é a anatomia do
caráter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos
próprios olhos – para condenar o que houver de mau na nossa
sociedade.
Eça de Queirós
Momento Histórico
Segunda metade do século XIX: sociedade europeia vive os efeitos da
Revolução Industrial e do amplo progresso científico que a acompanha.
É uma época de benefícios materiais e econômicos para a burguesia
industrial; contudo, o operário vive um período de intensa crise e
miséria.
1848: o ano das revoluções: conturbações sociais produzidas pelas
camadas populares baseadas em ideias liberais, nacionalistas e
socialistas.
Publicação do Manifesto Comunista, de Karl Marx e Frederick Engels.
Socialismo Científico: a sociedade igualitária só seria alcançada por
meio da luta de classes e da extinção da burguesia e do sistema
capitalista.
O Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo são as correntes
artísticas que refletem a consolidação da burguesia e seu
fortalecimento, em função da “implementação” do capitalismo avançado.
A exaltação da liberdade individual, da rebeldia, são substituídas por
novas palavras de ordem: ciência, progresso, razão.
O apogeu da Revolução Industrial marcou profundas transformações
na vida, na arte e no pensamento.
O capitalismo se estrutura em moldes modernos,
com o surgimento de grandes complexos industriais –
por outro lado, a massa operária avolumava-se,
formando uma população marginalizada, que não
partilhava dos mesmos benefícios gerados por esse
progresso industrial, sendo submetida a condições
precárias de trabalho.
Essa nova sociedade serve de pano de fundo para
uma reinterpretação da realidade, que gera teorias de
variadas correntes ideológicas.
Positivismo
Augusto Comte defendia o cientificismo no
pensamento filosófico e a conciliação entre “ordem” e
“progresso” – o que originou a expressão da bandeira
do Brasil.
Comte atribuía à constituição e ao processo da
ciência positiva importância capital para o progresso
de qualquer sociedade.
SOCIALISMO
Marx e Engels, “Manifesto comunista”, 1848 – definição
do materialismo histórico e da luta de classes.
“O que distingue nossa época – a época da burguesia – é
ter simplificado a oposição de classes. Cada vez mais, a
sociedade inteira divide-se em dois grandes blocos inimigos,
em duas grandes classes que se enfrentam diretamente: a
burguesia e o proletariado.”
Evolucionismo
Darwin, 1859, “A origem das espécies” – a evolução das
espécies pelo processo de seleção natural, negando a origem
divina difundida pelo Cristianismo.
O homem passa a ser tomado como um ser animal, regido
pelo instinto biológico.
Determinismo
Taine propõe que o comportamente humano é determinado por forças
biológicas, sociológicas e ambientais e históricas.
Todos os fatos psicológicos e sociais são manifestações naturais que
nada têm de transcendência.
Na pintura
Fim das idealizações românticas.
Os Stonebreakers, de Coubert. 1849.
REALISMO no Brasil
Na década de 1870 surge a Escola de Recife, com Tobias Barreto,
Silvio Romero e outros, cujas ideias se aproximavam do
pensamento europeu.
Considera-se 1881 como o ano inaugural do Realismo no Brasil,
com “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis.
Na divisão tradicional da literatura brasileira, considera-se como
data final do Realismo o ano de 1893, com a publicação de “Missal”
e “Broquéis”, de Cruz e Souza. Essas obras registram o início do
Simbolismo, mas não o término do Realismo e suas manifestações.
Autores realistas brasileiros
Machado de Assis (1839-1908)
“...Marcela me amou durante quinze meses e
onze contos de réis; nada menos.”
Contos, crônicas e romances;
Temas universais;
Capítulos curtos;
Metalinguagem e interlocução;
Digressão;
Correção gramatical;
Humor sutil e ironia.
Romance realista
Narrativa voltada para a análise psicológica e crítica da
sociedade a partir do comportamento dos personagens.
O romance realista é o retrato de uma época.
Raul Pompeia (1863-1895)
“Vais encontrar o mundo, disse-
me meu pai, à porta do Ateneu.
Coragem para a luta.” (1888)
Digressão;
Vida em coletividade;
Zoomorfismo;
Alusões ao homossexualismo.
Origens do Naturalismo
Características
Adoção de tese científica
(Determinismo e Evolucionismo);
Zoomorfismo;
Detalhismo;
Temas relacionados à sexualidade e à degradação humana;
Camadas sociais menos favorecidas;
Exploração brutal do homem.
Naturalismo
É um desdobramento do Realismo – há muitos pontos em comum
entre ambos.
A visão do naturalismo é mais determinista, ressalta-se o aspecto
biofisiológico do homem, visto como animal, regido pelo instinto e
pela fisiologia, não pelo espírito e pela razão.
Tem início também em 1881, com a publicação de “O mulato”, de
Aluísio de Azevedo.
Aluísio Azevedo (1857-1913)
• Crua linguagem naturalista;
• Personagens movidas pelo instinto;
• Descrições detalhadas;
• Foco na coletividade marginalizada.
Introdutor do Naturalismo e do
romance de tese no Brasil
Adolfo Caminha (1867-1897)
Obras
A normalista / Bom-Crioulo
• A literatura com arma de denúncia social;
• Crítica feroz à sociedade de Fortaleza;
• Forte carga erótica;
• Homossexualismo;
• Incesto;
• Obsessões sexuais.
Inglês de Sousa (1853-1918)
A linguagem de Eça e a tese naturalista de Zola;
O poder de persuasão.
O missionário - o tema do celibato social
• Advogado;
• Jornalista;
• Político;
• Sócio fundador da ABL.
Romance naturalista
Marcada pela vigorosa análise social a partir de grupos
humanos marginalizados, em que se valoriza o coletivo.
Autores: Aluísio de Azevedo, Júlio Ribeiro, Raul Pompéia.
Obras: “O mulato”, “O cortiço”, “Casa de pensão”, “O Ateneu”.
Resumindo
• Realismo: os escritores voltavam-se para a observação
do mundo objetivo. Procuravam fazer arte com os
problemas concretos de seu tempo, sem preconceitos ou
convenções. Focalizavam o cotidiano.
• O adultério, o clero e a sociedade burguesa em crise
tornaram-se temas para as obras desse período.
• Naturalismo: radicalizou o Determinismo (o homem como
produto de leis físicas e sociais) do movimento realista.
O Realismo se tingirá de naturalismo, no romance e no conto,
sempre que fizer personagens e enredos que submeterem-se ao
destino cego das “leis naturais” que a ciência da época julgava
ter codificado; ou se dirá parnasianismo, na poesia, à medida
que se esgotar no lavor do verso tecnicamente perfeito.
Alfredo Bosi