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O REALISMO E O NATURALISMO NA LITERATURA
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a) APEGO À OBJETIVIDADE – Não há mais espaço para uma literatura com textos prolixos, com
descrições exaltadas de paisagens e de personagens.

b) CRENÇA NA RAZÃO – A emoção cede lugar à razão, sugerindo frieza (às vezes crueza) nas
relações amorosas.

c) MATERIALISMO – A literatura passa a exibir uma visão materialista da vida, do homem e da
sociedade, negando a relação com Deus.

d) CIENTIFICISMO – A defesa de que a vida e as ações dos homens são determinadas pela ciência é
postura radical do Naturalismo.

e) DETERMINISMO – O Naturalismo constrói personagens cuja conduta obedece a três variáveis: a
hereditariedade (que explica as tendências, os caracteres e as patologias), o meio (capaz de determinar
o comportamento) e o momento histórico (responsável pelas ideologias).

f) PROBLEMAS PATOLÓGICOS – A literatura passa a retratar temas que chocam a sociedade:
homossexualismo, lesbianismo, incesto, taras sexuais, loucura, adultério, racismo, prostituição.

- El Naturalismo surge como una derivación del Realismo,. - Objetivo: explicar los comportamientos
del ser humano. - El novelista del Naturalismo pretende interpretar la vida mediante la descripción del
entorno social. - Los escritores representan a los personajes en situaciones de pobreza y marginación. -
Hacen descripciones de lugares sórdidos y de ambiente bajo.

- Rebelión del individuo - Absoluta libertad en política, moral y arte. - Mantienen una actitud
idealista ,los lleva a la rebeldía contra la patria, la sociedad etc.. - Se produce la desesperación y el
desengaño. -La belleza es la verdad.



Introdução

Torna-se mais fácil entender o termo, conhecendo-se os elementos que o compõem:
Realismo = real ( do latim res), significa coisa, fato + o sufixo -ismo que denota partido, gênero, doutrina,
profissão, crença, escola. A palavra realismo indica, pois, a preferência pelos fatos e a tendência a encará-los
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sob o prisma da realidade. Em literatura, o termo realismo opõe-se a idealismo, designado as obras literárias
que retiram da vida real seus assuntos de forma objetiva, documental.

O Romantismo foi o estilo de época anterior ao Realismo, voltado para o predomínio da emoção e da
subjetividade. Entretanto, a substituição da estética romântica pela realista não ocorreu de repente e, em
muitos momentos, estas duas manifestações literárias coexistiram. Diz Afrânio Coutinho que “o século XIX é
uma grande encruzilhada de correntes literárias”.

Origem
O Realismo é um fenômeno cultural típico do século XIX, embora sua existência seja tão antiga quanto a das
artes. O artista, em seu processo de criação, parte da observação da realidade que o cerca e pode reproduzi-la
fielmente em sua obra (atitude realista) ou recriá-la através de sua imaginação (atitude romântica ou
idealizadora). Assim, ao longo dos tempos, a postura realista esteve sempre presente, em maior ou menor
grau; só no século XIX, porém, essa postura é adotada como estética e se desenvolve intensamente, através do
movimento denominado Realismo.
  Como movimento literário, o Realismo origina-se na França com Balzac e Flaubert. Esses escritores
apresentam, em sua ficção, uma considerável tendência anti-romântica. Flaubert publica, em 1857, Madame
Bovary, obra que define o Realismo na França.

Em 1865, Claude Bernard publica uma tese sobre a hereditariedade: Introdução à Medicina Experimental.
Entusiasmado com a leitura desse livro, Émile Zola, em Le Roman Experimental, estabelece um paralelo entre
as teorias científicas de Bernard e a literatura, concluindo que entre elas não há distinção. Em 1876, Zola lança
as bases do romance naturalista com o livro Thérese Raquin.

Dentro do Realismo, surge uma outra corrente literária motivada pela intensificação de algumas de suas
características: é o Naturalismo. Nele, exagera-se a tendência de observar a realidade de forma científica,
buscando evidenciar seus aspectos mais doentios ou brutais. O Naturalismo é o Realismo levado ao extremo.

Panorama histórico-cultural

O século XIX é marcado por grandes transformações econômicas e culturais. A Revolução Industrial, iniciada no
século anterior, encaminha-se para uma fase nitidamente urbana, com o surgimento de indústrias que
empregam boa parcela da população. Apesar de realizar jornadas de trabalho de até catorze horas diárias, o
proletariado não tem acesso aos bens que produz. Em 1848, em seu Manifesto Comunista, Marx e Engels
haviam discutido o problema, evidenciando a distinção entre capital e trabalho e mostrando o quanto o aspecto
social está vinculado ao econômico.

Além do socialismo marxista e do proudhoniano, marcados pelo materialismo, surge também o Positivismo,
filosofia criada por Augusto Comte. Nela rejeitam-se todas as interpretações metafísicas sobre a realidade,
mostrando que o estágio mais avançado do desenvolvimento do ser humano seria o estágio científico.
Charles Darwin lança sua teoria sobre o evolucionismo das espécies, mostrando que há um processo de seleção
natural, o que faz com que as teorias pregadas pela Igreja sejam questionadas.

Essa nova filosofia de vida (cética e materialista) põe em evidência o fato do homem ser um produto do meio e
do momento em que vive. Com o progresso da ciência, o homem passa a indagar sobre as razões dos
fenômenos; não mais permanece impassível, inerte diante dos acontecimentos e, em decorrência disso,
profundas alterações ocorrem na estrutura social e econômica dos grandes centros urbanos:
 a) triunfo material e político da burguesia;
 b)mecanização intensiva, principalmente pela aglomeração do proletariado nos grandes centros industriais;
c) com a evolução das idéias sociais, surge uma nova filosofia do proletariado;

d) o desnível entre a evolução social e econômica de um lado, e a política do outro, gerando grandes conflitos
ideológicos;
e) melhoria e maior rapidez dos meios de transportes e de comunicação: construção de estradas de ferro, o
telégrafo, a navegação a vapor, tudo isso colaborando para proporcionar um novo caráter de vida à
humanidade.
Todas essas novas idéias fazem com que se inicie uma reação anti-romântica, um verdadeiro processo de
ruptura cultural, que se reflete na literatura.
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Tendências

O Realismo foi um movimento literário marcado por uma oposição ao idealismo romântico. Desdobrou-se em:
realismo e naturalismo, na prosa; parnasianismo, na poesia;
É possível salientar as seguintes tendências do Realismo:
 a) em Portugal: inicia-se o Realismo em Portugal com a ruidosa polêmica Questão Coimbrã. A poesia realista
tem como principais representantes: Antero de Quental, Guerra Junqueiro, Gomes Leal e Cesário Verde.

b) no Brasil: o romance realista surge, em 1881, com Machado de Assis que escreve Memórias Póstumas de
Brás Cubas.
O romance naturalista passa a ser cultivado pro Aluísio Azevedo nas obras: O Mulato, O Cortiço, Casa de
Pensão; e por Júlio Ribeiro

                                              Realismo/Naturalismo
                                             (2º metade do séc. XIX)




Tendências

Realismo } Prosa
Naturalismo } Prosa
Parnasianismo} Poesia (realismo na prosa)

Contexto histórico-cultural

      a.   Choques ideológicos de classe: burguesia
      b.   Industrial X Proletariado
      c.   Manifesto comunista (1848) – Karl Marx e Engels
      d.   Capitalismo industrial (burguesia)
      e.   Principio do lucro empresarial
      f.   Avanço tecnológico
      g.   Mecanização dos centros industriais
      h.   Tecnologia:

-   Melhoria e rapidez dos meios de transportes e comunicação
-   Construção de estradas de ferro
-   O telegrafo
-   O avião
-   O automóvel
-   A navegação a vapor

      i.   Cientificismo:

- Desenvolvimento cientifico
- Filosofia materialistas
- Teorias cientificas

Teorias cientificas

      a. Evolucionismo – Charles Darwin ou Darwinismo – teoria cientifica criada por CD que mostra o processo
         de evolução das espécies apartir da seleção natural, ou seja, diz que apenas "os fortes" têm condições
         de sobreviver. Os "fracos" "naturalmente" eliminados é produzido do meio e questiona as teorias
         religiosas sobre a criação.
      b. Positivismo – Augusto Conte – teoria cientifica que defende posturas exclusivamente materialistas e
         limita o conhecimento das coisas apenas quando estas podem ser provadas cientificamente. A realidade
         é apenas aquilo que vemos, pegamos e podemos explicar. Essa teoria é totalmente contraria as teorias
         metafísicas.
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    c. Socialismo Cientifico – karl marx e Engels – teoria cientifica contraria ao socialismo utópico de Pierre
         Joseph Proudhon. Estimula as lutas de classe e a organização político do proletariado. É uma resposta
         da exploração do operariado nas industrias e nos grandes centros urbanos. Nessa teoria Marx e Engels
         mostram o quanto o aspecto social esta vinculado ao processo econômico e político.

Avanços Científicos

    a.   Utilização do éter como anestésico
    b.   Formulação da teoria microbiana das doenças
    c.   Descoberta dos microorganismos responsáveis pela Sífilis, Malária e Tuberculose.
    d.   Descrição dos hormônios
    e.   Identificação da energia mecânica e do eletromagnetismo

Origem do Nome Realismo

Real (do latin "Res") – Fato, coisa
Ismo – partido, escola, doutrina

    1. Origem

    •    França (realismo) – "Madame Bovary" – Gustavo Flaubert (1857)
    •    França (naturalismo) – "Therese Raquim" – Emile Zola (1867)
    •    Portugal – O realismo nasceu com a polêmica "Questão Coimbra" (1865)
    •    Brasil (realismo) – "Memórias Póstumas de Brás Cubas" – Machado de Assis (1881)

    2. Origem Naturalismo - dentro do realismo surge uma corrente literária motivada pela intensificação de
       algumas de suas características: é o Naturalismo. Nele exagera-se s tendência de observar a realidade
       de forma cientifica, entretanto o naturalismo é. de fato, um realismo levado ao extremo.

Contexto histórico no Brasil

    a. A sociedade agrária, latifundiária escravocrata e aristrocatica, transforma-se em burguesia e urbana.
    b. Fundação da Academia Brasileira de Letras (1897)
    c. A literatura e o escritor antes marginalizado ganham prestigio.
    d. Ascensão da população mestiça e sua participação na psicologia
    e. Desenvolvimento no campo cientifico, principalmente na psicologia e na antropologia social
    f. 1864-1870 – Guerra do Paraguai, provoca consequências sociais e políticas, fortalecendo o partido
       republicano e enfraquecendo a monarquia.
    g. 1888 – Abolição a escravatura
    h. 1889 – Proclamação da Republica

                                                   REALISMO

                                                 NATURALISMO


                                      REALISMO                     NATURALISMO
                           1. Método de observação            1. Método de
                              da realidade                       experimentação da
                           2. Interpretação psicológica          realidade
                              do comportamento dos            2. Interpretação biológicas
                              indivíduos                         dos grupos humanos
                           3. Toma como base o                3. Toma como base o
                              indivíduo                          coletivo
                           4. Cria o romance                  4. Cria o romance de tese
                              documental                      5. Retrata o universo
                           5. Retrata o universo                 exterior dos grupos
                              interior da personagem             humanos – Patologia
                              humana: o egoísmo, o               Social
6
                             ciúme, a mequinhes etc           6. Tem maior preocupação
                          6. Tem maior preocupação               em retratar os "Fatos da
                             com o técnico literário,            vida"
                             com o estilo e o apuro
                             da linguagem                     7. Predomínio da descrição

                          7. Predomínio da narrativa


                                         O Cortiço - Contexto Histórico

                                   Por Isabel Amadeu, Mayra Rossini, Silvana das Neves e Annie Baracat - UNIP

         Com o fim do tráfico de escravos, a economia açucareira passa a sofrer grande decadência, e a região
sul passa a ter maior destaque com a economia cafeeira. As classes médias urbanas passavam a ter idéias
liberais, abolicionistas e republicanas. De 1870 a 1890 essas idéias vão se tornando cada vez mais repetitivas
ao pensamento europeu que na época girava em torno do positivismo e do evolucionismo. Muitos escritores
como Tobias Barreto, Euclides da Cunha e Graça Aranha foram influenciados por Comte, Taine, Spencer,
Darwin e Haeckel, durante a luta contra as tradições e o espírito monárquico.

        A partir de 1870, a questão da abolição da escravatura e da república passavam a ser o centro das
ideologias do homem culto brasileiro. Na verdade, queria-se a expansão de uma ideologia que tomava aos
evolucionistas idéias para acabar com o ideal romântico, que ainda existia naquela época. Daí em diante,
passam a existir duas correntes ideológicas na Europa: o pensamento burguês, conservador, e o pensamento
das classes médias, que assume a postura liberalista e socialista.

         A primeira mudança é o modo de o autor relacionar-se com o conteúdo de sua obra. O romântico faz
uso demasiado de sentidos e patriotismo e mitifica os temas que escolhe. É esse conjunto de ideologias que a
literatura realista critica. O escritor anti-romântico usa da impessoalidade para falar de objetos e pessoas. Essa
necessidade de ser objetivo, é que faz com que esse escritor apóie-se nos métodos científicos da época.

       Flaubert, Zola e Anatole foram os mestres dessa objetividade na ficção; Comte, Taine e Renan, no
pensamento e na história. Em segundo plano, Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão e Antero de Quental, que em
Coimbra tentavam abalar velhos preconceitos. Em relação a Machado de Assis, a procura pela linha humorística
pesou sobre a sua eleição de leituras inglesas.

          O escritor realista tem como norma o distanciamento da subjetividade. A aceitação da existência tal
como ela se dá aos sentidos desdobra-se em dois planos complementares: no nível ideológico, no sentido da
explicação do real, a certeza de uma situação irreversível, concretiza-se no determinismo. No nível estético,
onde o ato de escrever tem a liberdade reconhecida implicitamente, resta ao escritor a não inovação. O cuidado
estilístico, à vontade de criar algo novo, têm origem e alimentam-se do pessimismo que vem da ideologia
determinista.

         O realismo passará ao naturalismo sempre que houver personagens e enredos que aceitam o destino
das leis naturais que a ciência da época pensava ter codificado.

        A literatura realista naturalista é, na verdade, uma literatura triste. Mostra todos os defeitos de uma
sociedade, exatamente o oposto do romantismo, repletos de heróis e heroínas, que sofriam por seus amores e
por sua pátria.

         O Realismo narra os costumes contemporâneos da primeira metade do século XIX. As falcatruas da vida
pública e os contrastes da vida íntima são mostrados. Para ambos os casos, buscam-se causas naturais (raça,
clima, temperatura) ou culturais (meio, educação). O escritor realista sente-se no dever de descobrir a verdade
de seus personagens. Nada de lirismos, reflexões.

       Enquanto o escritor romântico eleva a beleza excepcional, o naturalista julga interessante o patológico,
porque prova a dependência do homem em relação às leis naturais.
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         Dessa forma, de uma corrente literária a outra, (Romantismo ao Realismo), houve uma passagem da
subjetividade, do ideal ao fato. Quanto ao modo de escrever, à composição das personagens, os autores
realistas brasileiros procuram obter maior coerência na organização dos episódios, que deixariam de ter uma
série de caprichos, para serem compostos por necessidades objetivas do meio ou da estrutura moral das
personagens.

                                              O Período Literário

No Brasil, o período realista-naturalista ocorreu entre 1881 a 1902. Tal período foi marcado pelo determinismo
de Taine, o positivismo de Comte e o evolucionismo de Darwin.

        O cientificismo somado à industrialização e a vitória do capitalismo geram a queda da aristocracia e a
ascensão da burguesia. Neste período surge a luta de classes, pois nessa mesma época houve o despertar da
consciência da classe de proletariados, influenciado por Marx.

        Concomitantemente a este momento, começa a surgir uma exigência de que a arte tivesse utilizado o
social, ou seja, a obra literária só era interessante se possuísse cunho político-social. Apesar disso, uma
minoria, que acabou sendo sufocada, defendia a arte pela arte.

        As idéias científicas e filosóficas do Realismo tiveram grande participação na formação de uma
mentalidade no Brasil. Muitos intelectuais da época, ligados aos meios de comunicação, e que vinham de
setores médios da população empenhavam-se numa atitude de engajação, que tinha por objetivo a
transformação social.

A arte realista-naturalista correspondeu ao período de consolidação do poder político da burguesia, na segunda
metade do século XIX. Essa classe social tinha o seu gosto estético orientado para uma arte racional,
considerando não-artístico os excessos sentimentais românticos. Uma arte responsável, isto é, com os critérios
de responsabilidade que utilizava na condução dos negócios do Estado. O realismo-naturalismo, entretanto,
ultrapassou esses limites. Foi uma arte inovadora e voltada para interesses populares. Os ideais de socialismo
“utópicos” , como Pierre Joseph Proudhon, sensibilizaram artistas dessa época, como o escritor Èmile Zola, ou o
pintor Gustave Coubert, que vieram defender a aproximação entre a verdade social e a verdade artística.

        Os conceitos de realismo e de naturalismo confluíram para o ideal positivista desse período histórico.
Pressupunham uma submissão do texto artístico à realidade. Ao artista importava a observação e a experiência
empírica, e não a idealização da realidade que caracterizou o Romantismo. Realismo e Naturalismo, não são
sinônimos. Entretanto muitos teóricos afirmam que são duas faces da mesma moeda.

                          Momento histórico do realismo e do Naturalismo no Brasil

         “O que há de política? É a pergunta que naturalmente ocorre a todos, e a que me fará o meu leitor, se
não é ministro. O silêncio é a resposta. Não há nada absolutamente nada. A tela da atualidade política é uma
paisagem uniforme; nada a perturba, nada a modifica. Dir-se-ia um país onde o povo só sabe que existe
politicamente quando ouve o fisco bater-lhe a porta. O que dá razão a esse marasmo?”

                              (Machado de Assis, crônica publicada no diário do Rio de Janeiro em 1/12/1861).

         No Brasil do Segundo Reinado (1840 – 1889), enquanto D Pedro II escolhe o senador ou o deputado
para o cargo de primeiro-ministro, com a convivência tanto do partido Liberal, quanto do Conservador, numa
espécie de “parlamentarismo às avessas” a população ignora essas decisões governamentais, preocupando-se
com a sobrevivência imediata do dia a dia. Daí a comentada “tranqüilidade política” do período: liberais e
conservadores, que o Imperador habilmente encaminha, revezam-se no poder, sempre de acordo com os
interesses da oligarquia agrária.

         Do ponto de vista econômico, o Brasil, ao longo da segunda metade do séc XIX, mantém uma
estrutura socioeconômica baseada do latifúndio, na monocultura de exportação a esta altura já voltada para a
produção do café e na mão de obra escrava.
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        Assim, é a oligarquia agrária quem: “dá as cartas” na economia e na política do país, embora as
pressões internacionais visando ao desenvolvimento do capitalismo industrial encaminhem-se no sentido da
modernização do país, que se faz com lentidão.

        No entanto por volta de 1870 um conjunto de fatos, essencialmente ligados à referida modernização,
começa a desestabilizar o panorama apresentado: o tráfico negreiro é proibido, aumenta a mão de obra
imigrante, desenvolve-se a industria cafeeira no interior de São Paulo, constroem-se ferrovias, crescem cidade
concentradoras de fábricas. Nelas se forma uma classe média urbana, insatisfeita com a falta de
representatividade política.

         Essa classe, sem espaço no esquema de revezamento dos partidos Liberal e Conservador, no poder
apóia-se, então, no Exército e aceita a liderança dos cafeicultores paulistas, responsáveis pela introdução do
trabalho assalariado no país e defensores de mudanças estruturais, como a substituição da Monarquia
desgastada e reacionária, pela República.

        Entretanto, proclamada em 1889 a República viria a frustrar as ambições da classe média e também
das Forças Armadas: os representantes das oligarquias de São Paulo e de Minas Gerais passam a controlar o
Estado brasileiro, por meio de uma aliança política conhecida como Políticas dos Governadores ou Política do
café-com-leite.

          Em conclusão, os conflitos não se resolvem: por um lado o Brasil é um país de idéias liberais,
republicanas, “modernas” e, por outro, convive com a “humilhação” de uma estrutura econômica-política
oligárquica, agrária, coronelista e latifundiária.

       Entre as idéias modernas vindas da Europa, destacam-se as doutrinas positivistas e deterministas que
deram fundamento à literatura pós-romântica. Essa literatura realizou-se distintamente em cada uma das
chamadas Escolas Realistas.

                                      O Realismo e o Naturalismo no Brasil

         Iniciados oficialmente em 1881, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado
de Assis (marco do surgimento do Realismo) e O Mulato, de Aluísio Azevedo (marco do surgimento do
Naturalismo), e enfraquecidos por volta de 1890, quando floresce o Parnasianismo o advento do Realismo e do
Naturalismo em nosso país ocorre numa data que se tornou simbólica para a literatura brasileira.

          Como mostra Lucia Miguel-Pereira “o ano de 1881 foi dos mais significativos e importantes para a
ficção no Brasil, pois que nele se publicaram as Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis (...), e
O Mulato de Aluísio de Azevedo. (...) Havia (...) nesses dois livros de índoles tão diversas um traço comum: em
ambos triunfava a observação. (...) dois escritores patenteavam repentinamente uma liberdade até então
desconhecida, e conferiam assim ao romance um novo alcance. Começou-se a escrever para procurar a
verdade, e não mais para ocupar os ócios das senhoras sentimentais e de um ou outro cavalheiro dado a
leituras frívolas.” (História da Literatura Brasileira. Prosa de Ficção (1870 a 1920) Rio de Janeiro, livraria José
Olympio).

         A partir de ambos os escritores podemos, então, esboçar o panorama de nossa ficção ao longo da
segunda metade do séc. XIX. Enquanto Machado de Assis desenvolve um realismo psicológico e universal, que
“sela nossa independência literária”, a partir das Memórias Póstumas de Brás Cubas consolidando-a em outras
obras de sua maioridade literária, tais como Dom Casmurro e Quincas Borba, Aluisio Azevedo torna-se o líder
da presença do estilo naturalista entre nós.

                                 As teorias científicas na obra literária O Cortiço

          As teorias científicas da época eram utilizadas para explicar os problemas sociais o que nos leva a crer
que o escritor realista é muito mais um crítico social do que simplesmente um escritor. O pensamento
cientificista também é responsável término do prazer que a paisagem dava aos escritores românticos.

         Teorias como o positivismo, o determinismo, o evolucionismo e o marxicismo, são encontradas nas
obras realistas-naturalista. Excetuando o marxicismo, todas as outras teorias estão presentes em O cortiço.
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         Aluísio procurava entender o cientificismo que é a ciência como o único conhecimento, substituindo
assim, a visão subjetiva reinante nos romances românticos para uma visão totalmente objetiva, portanto ser
objetivo e imparcial era a grande preocupação do autor de O Cortiço.

          Na obra de Aluísio, há uma preocupação em relatar questões polêmicas como, por exemplo, a
escravidão, o preconceito, o adultério etc. Fala ainda, o autor, sobre as agruras do cotidiano, a pobreza, a
prostituição, a ganância, a exploração do homem pelo homem deixando bastante claro que o “mundo pertence
aos mais espertos”. Todas essas “deficiências” sociais são ressaltadas durante toda a obra.

        Vejamos como Aluísio Azevedo comenta a escravidão nesta obra:

                         “... A escrava passara naturalmente em herança a qualquer dos filhos do morto; mas,
por estes, nada havia que recear: dois pândegos de marca maior que, empolgada e legítima, cuidariam de
tudo, menos de atirar-se na pista de uma crioula a quem não viam...” (p.17)

        O adultério é evidenciado em trechos como:

                          “... mudar-se-ia ele para lá com a família, pois que a mulher, Dona Estela, senhora
pretensiosa já não podia suportar a residência no centro da cidade, como também sua menina, a Zulmirinha,
crescia muito pálida e precisava de largueza para enrijar e tomar corpo”.

                        Isto foi o que disse Miranda aos colegas, porém a verdadeira causa da mudança
estava na necessidade, que ele, reconhecia urgente, de afastar Dona Estela do alcance de seus caixeiros.”
(p.19)

POSITIVISMO

         Comte prega a transformação da sociedade através de normas necessárias para reformá-la,
conduzindo-a a uma etapa positiva. Deve-se fazer observação, experiência comparação. Para amenizar os
problemas da sociedade na época, deveria haver uma reorganização de crenças e costume. Sendo assim, a
educação e a estrutura familiar seriam fundamentais para o êxito dessa teoria.

        Notamos, em alguns trechos da obra O cortiço características positivistas, como, por exemplo, a
preocupação de Jerônimo em manter sua filha em um colégio, no intuito que ela tivesse melhores chances de
vida.

          “... E, defronte do cabedeiro de querosene, conversavam sobre a sua vida e sobre a sua Marianita, a
filhinha que estava no colégio e que só os visitava aos domingos e dias santos”.

                        DETERMINISMO

                 Segundo Taine, tudo, inclusive a arte, é produto do meio, a raça e do momento histórico. Para
ele todo o agir humano é determinado por variáveis biológicas. Ou seja, todas as suas vontades e ações não
são livres, no sentido de uma determinação racional e espontânea do sujeito, e sim resultado de mecanismos
biológicos.

        O determinismo aparece na perspectiva em que os narradores criam suas personagens. A suposta
neutralidade não oculta o fato do autor sempre carregar de tons sombrios, o destino de suas personagens.

         De acordo com esta teoria quem nasceu pobre, vai morrer pobre, empregado jamais será patrão, filha
de prostituta será prostituta. Teoria um tanto quanto radical que encontramos presente em praticamente todos
os momentos da obra O cortiço.

        A narrativa demonstra do início ao fim que a teoria de Taine é absolutamente predominante, mostra
que, maior parte das pessoas pobres está acomodada com sua situação e acreditam que aquela vida um tanto
quanto “lamentável” é o destino de cada um deles.

         Dentre outros personagens, ao contrário do que muitos pensam, Bertoleza fugia ao determinismo e
preferiu tirar a própria vida a aceitar o seu cruel destino.
10
        A crioula Bertoleza trabalhava duro para pagar sua alforria, não se contentava em ser escrava. Para
nós o fato de ela ter continuado sendo escrava de João Romão não tirou dela o desejo de obter uma vida
melhor. Poderia, ter-se envolvido com homens de sua raça, mas preferia se envolver com pessoas, em tese,
superiores como no caso de João Romão.

        “Reconheceu logo o filho mais velho do seu primitivo senhor, e um calafrio percorreu-lhe o corpo. Num
relance compreendeu a situação; adivinhou tudo com lucidez de quem se vê perdido para sempre: adivinhou
que tinha sido enganada; que a sua carta de alforria era uma mentira...” (p.206)

         ...antes que alguém conseguisse alcança-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de
lado a lado.” (p. 207)

                        EVOLUCIONISMO

         Destaca entre outras coisas a permanente concorrência entre os indivíduos como base da
transformação social.

       Como exemplo disso podemos citar a concorrência desenfreada entre João Romão e Miranda, a inveja
que um sentia do outro etc...

        “Travou-se então uma luta renhida e surda entre o português negociante de fazendas por
atacado e o português negociante de secos e molhados...” (p.22)




azevedo                                                      marxismo
11
Escolas Literárias: Realismo e Naturalismo

Contexto (2ª metade do século XIX-Início do século XX):
Europa: Capitalismo industrial; surgimento do proletariado; cientificismo (Positivismo, Determinismo,
Evolucionismo, Marxismo, Psicanálise)
Brasil: Abolição da escravatura; proclamação da República.

Com a 2ª Revolução Industrial, impulsionada pelo desenvolvimento científico, houve uma profunda modificação
nos processos de produção. A automação e o surgimento de cartéis acirram as desigualdades entre a burguesia
e o proletariado. Os centros urbanos crescem desordenadamente, revelando marginalidade, miséria, e
condições insalubres.
Já não era possível a postura evasiva dos românticos.
Algumas das principais teorias científicas veiculadas na época:
Positivismo: Comte acreditava que a sociedade poderia ser analisada por meio de um sistema científico, como
uma ciência exata (ordem e progresso)
Socialismo: Para Marx, a história da humanidade sempre fora marcada pela luta de classes. Em O Capital
disseca o sistema capitalista e prevê a sua superação pela ditadura do proletariado.
Evolucionismo: Darwin põe em cheque a teoria criacionista com as idéias de seleção natural e luta pela
sobrevivência.
Psicanálise: Freud elaborou sua teoria do inconsciente, sendo este a parte do psiquismo humano que não pode
chegar à conscieência; são desejos e sensações inaceitáveis do ponto de vista moral ou social, que ficam
reprimidos (recalcados), mas mesmo assim interferem nas funções conscientes.

Realismo e Naturalismo se desenvolveram no mesmo momento histórico e têm características comuns. O
racionalismo e a preocupação com a realidade objetiva se manifestam em temas atuais, em uma linguagem
detalhista, minuciosamente descritiva. Para uma análise objetiva da sociedade, havia a preferência pelo foco
narrativo em 3ª pessoa, que possibilitaria maior distanciamento e imparcialidade (no sentido de universalidade),
revelando as relações humanas de forma desidealizada (pessimismo).
Apesar dessas semelhanças, realistas e naturalistas possuem propostas distintas:

REALISMO
 Romance de revolução: pretendiam reformar a sociedade por meio de uma literatura crítica.←
← Análise psicológica: um pequeno número de personagens permite o aprofundamento de seus conflitos
internos. Esperavam que os leitores se identificassem com as personagens e situações, podendo a partir daí
realizar uma auto-análise.
 Tipificação social: Cada personagem← corresponde a um grupo social, a um tipo de conduta ou situação pré-
existente na sociedade.

NATURALISMO
 Romance de tese: análise científica da sociedade. O romance funciona como um experimento para a
comprovação de uma tese.←
← Perspectiva físico-biológica: O predomínio dos instintos sobre a razão, muitas vezes, reduz o indivíduo à
condição animal.Assim, o amor, por exemplo, seria simplesmente a necessidade de satisfação dos impulsos
sexuais.
 Determinismo: Além do já observado determinismo biológico, os naturalistas exploram as influências do meio
sobre o homem.←
← Predomínio do coletivo e do patológico: geralmente não há um protagonista, mas um aglomerado de seres
humanos em um drama coletivo, geralmente em condições totalmente insalubres.

REALISMO NO BRASIL

Marco inicial: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis.
Contexto: O Brasil vivia a transição da Monarquia para a República. Uma nova organização social começava a
se desenhar com a substituição da mão-de-obra escrava pelo trabalho assalariado dos imigrantes. O
pensamento burguês mais conservador entra em choque com uma classe média cada vez mais numerosa.
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O realismo e o naturalismo na literatura

  • 1. 1 O REALISMO E O NATURALISMO NA LITERATURA
  • 2. 2 a) APEGO À OBJETIVIDADE – Não há mais espaço para uma literatura com textos prolixos, com descrições exaltadas de paisagens e de personagens. b) CRENÇA NA RAZÃO – A emoção cede lugar à razão, sugerindo frieza (às vezes crueza) nas relações amorosas. c) MATERIALISMO – A literatura passa a exibir uma visão materialista da vida, do homem e da sociedade, negando a relação com Deus. d) CIENTIFICISMO – A defesa de que a vida e as ações dos homens são determinadas pela ciência é postura radical do Naturalismo. e) DETERMINISMO – O Naturalismo constrói personagens cuja conduta obedece a três variáveis: a hereditariedade (que explica as tendências, os caracteres e as patologias), o meio (capaz de determinar o comportamento) e o momento histórico (responsável pelas ideologias). f) PROBLEMAS PATOLÓGICOS – A literatura passa a retratar temas que chocam a sociedade: homossexualismo, lesbianismo, incesto, taras sexuais, loucura, adultério, racismo, prostituição. - El Naturalismo surge como una derivación del Realismo,. - Objetivo: explicar los comportamientos del ser humano. - El novelista del Naturalismo pretende interpretar la vida mediante la descripción del entorno social. - Los escritores representan a los personajes en situaciones de pobreza y marginación. - Hacen descripciones de lugares sórdidos y de ambiente bajo. - Rebelión del individuo - Absoluta libertad en política, moral y arte. - Mantienen una actitud idealista ,los lleva a la rebeldía contra la patria, la sociedad etc.. - Se produce la desesperación y el desengaño. -La belleza es la verdad. Introdução Torna-se mais fácil entender o termo, conhecendo-se os elementos que o compõem: Realismo = real ( do latim res), significa coisa, fato + o sufixo -ismo que denota partido, gênero, doutrina, profissão, crença, escola. A palavra realismo indica, pois, a preferência pelos fatos e a tendência a encará-los
  • 3. 3 sob o prisma da realidade. Em literatura, o termo realismo opõe-se a idealismo, designado as obras literárias que retiram da vida real seus assuntos de forma objetiva, documental. O Romantismo foi o estilo de época anterior ao Realismo, voltado para o predomínio da emoção e da subjetividade. Entretanto, a substituição da estética romântica pela realista não ocorreu de repente e, em muitos momentos, estas duas manifestações literárias coexistiram. Diz Afrânio Coutinho que “o século XIX é uma grande encruzilhada de correntes literárias”. Origem O Realismo é um fenômeno cultural típico do século XIX, embora sua existência seja tão antiga quanto a das artes. O artista, em seu processo de criação, parte da observação da realidade que o cerca e pode reproduzi-la fielmente em sua obra (atitude realista) ou recriá-la através de sua imaginação (atitude romântica ou idealizadora). Assim, ao longo dos tempos, a postura realista esteve sempre presente, em maior ou menor grau; só no século XIX, porém, essa postura é adotada como estética e se desenvolve intensamente, através do movimento denominado Realismo. Como movimento literário, o Realismo origina-se na França com Balzac e Flaubert. Esses escritores apresentam, em sua ficção, uma considerável tendência anti-romântica. Flaubert publica, em 1857, Madame Bovary, obra que define o Realismo na França. Em 1865, Claude Bernard publica uma tese sobre a hereditariedade: Introdução à Medicina Experimental. Entusiasmado com a leitura desse livro, Émile Zola, em Le Roman Experimental, estabelece um paralelo entre as teorias científicas de Bernard e a literatura, concluindo que entre elas não há distinção. Em 1876, Zola lança as bases do romance naturalista com o livro Thérese Raquin. Dentro do Realismo, surge uma outra corrente literária motivada pela intensificação de algumas de suas características: é o Naturalismo. Nele, exagera-se a tendência de observar a realidade de forma científica, buscando evidenciar seus aspectos mais doentios ou brutais. O Naturalismo é o Realismo levado ao extremo. Panorama histórico-cultural O século XIX é marcado por grandes transformações econômicas e culturais. A Revolução Industrial, iniciada no século anterior, encaminha-se para uma fase nitidamente urbana, com o surgimento de indústrias que empregam boa parcela da população. Apesar de realizar jornadas de trabalho de até catorze horas diárias, o proletariado não tem acesso aos bens que produz. Em 1848, em seu Manifesto Comunista, Marx e Engels haviam discutido o problema, evidenciando a distinção entre capital e trabalho e mostrando o quanto o aspecto social está vinculado ao econômico. Além do socialismo marxista e do proudhoniano, marcados pelo materialismo, surge também o Positivismo, filosofia criada por Augusto Comte. Nela rejeitam-se todas as interpretações metafísicas sobre a realidade, mostrando que o estágio mais avançado do desenvolvimento do ser humano seria o estágio científico. Charles Darwin lança sua teoria sobre o evolucionismo das espécies, mostrando que há um processo de seleção natural, o que faz com que as teorias pregadas pela Igreja sejam questionadas. Essa nova filosofia de vida (cética e materialista) põe em evidência o fato do homem ser um produto do meio e do momento em que vive. Com o progresso da ciência, o homem passa a indagar sobre as razões dos fenômenos; não mais permanece impassível, inerte diante dos acontecimentos e, em decorrência disso, profundas alterações ocorrem na estrutura social e econômica dos grandes centros urbanos: a) triunfo material e político da burguesia; b)mecanização intensiva, principalmente pela aglomeração do proletariado nos grandes centros industriais; c) com a evolução das idéias sociais, surge uma nova filosofia do proletariado; d) o desnível entre a evolução social e econômica de um lado, e a política do outro, gerando grandes conflitos ideológicos; e) melhoria e maior rapidez dos meios de transportes e de comunicação: construção de estradas de ferro, o telégrafo, a navegação a vapor, tudo isso colaborando para proporcionar um novo caráter de vida à humanidade. Todas essas novas idéias fazem com que se inicie uma reação anti-romântica, um verdadeiro processo de ruptura cultural, que se reflete na literatura.
  • 4. 4 Tendências O Realismo foi um movimento literário marcado por uma oposição ao idealismo romântico. Desdobrou-se em: realismo e naturalismo, na prosa; parnasianismo, na poesia; É possível salientar as seguintes tendências do Realismo: a) em Portugal: inicia-se o Realismo em Portugal com a ruidosa polêmica Questão Coimbrã. A poesia realista tem como principais representantes: Antero de Quental, Guerra Junqueiro, Gomes Leal e Cesário Verde. b) no Brasil: o romance realista surge, em 1881, com Machado de Assis que escreve Memórias Póstumas de Brás Cubas. O romance naturalista passa a ser cultivado pro Aluísio Azevedo nas obras: O Mulato, O Cortiço, Casa de Pensão; e por Júlio Ribeiro Realismo/Naturalismo (2º metade do séc. XIX) Tendências Realismo } Prosa Naturalismo } Prosa Parnasianismo} Poesia (realismo na prosa) Contexto histórico-cultural a. Choques ideológicos de classe: burguesia b. Industrial X Proletariado c. Manifesto comunista (1848) – Karl Marx e Engels d. Capitalismo industrial (burguesia) e. Principio do lucro empresarial f. Avanço tecnológico g. Mecanização dos centros industriais h. Tecnologia: - Melhoria e rapidez dos meios de transportes e comunicação - Construção de estradas de ferro - O telegrafo - O avião - O automóvel - A navegação a vapor i. Cientificismo: - Desenvolvimento cientifico - Filosofia materialistas - Teorias cientificas Teorias cientificas a. Evolucionismo – Charles Darwin ou Darwinismo – teoria cientifica criada por CD que mostra o processo de evolução das espécies apartir da seleção natural, ou seja, diz que apenas "os fortes" têm condições de sobreviver. Os "fracos" "naturalmente" eliminados é produzido do meio e questiona as teorias religiosas sobre a criação. b. Positivismo – Augusto Conte – teoria cientifica que defende posturas exclusivamente materialistas e limita o conhecimento das coisas apenas quando estas podem ser provadas cientificamente. A realidade é apenas aquilo que vemos, pegamos e podemos explicar. Essa teoria é totalmente contraria as teorias metafísicas.
  • 5. 5 c. Socialismo Cientifico – karl marx e Engels – teoria cientifica contraria ao socialismo utópico de Pierre Joseph Proudhon. Estimula as lutas de classe e a organização político do proletariado. É uma resposta da exploração do operariado nas industrias e nos grandes centros urbanos. Nessa teoria Marx e Engels mostram o quanto o aspecto social esta vinculado ao processo econômico e político. Avanços Científicos a. Utilização do éter como anestésico b. Formulação da teoria microbiana das doenças c. Descoberta dos microorganismos responsáveis pela Sífilis, Malária e Tuberculose. d. Descrição dos hormônios e. Identificação da energia mecânica e do eletromagnetismo Origem do Nome Realismo Real (do latin "Res") – Fato, coisa Ismo – partido, escola, doutrina 1. Origem • França (realismo) – "Madame Bovary" – Gustavo Flaubert (1857) • França (naturalismo) – "Therese Raquim" – Emile Zola (1867) • Portugal – O realismo nasceu com a polêmica "Questão Coimbra" (1865) • Brasil (realismo) – "Memórias Póstumas de Brás Cubas" – Machado de Assis (1881) 2. Origem Naturalismo - dentro do realismo surge uma corrente literária motivada pela intensificação de algumas de suas características: é o Naturalismo. Nele exagera-se s tendência de observar a realidade de forma cientifica, entretanto o naturalismo é. de fato, um realismo levado ao extremo. Contexto histórico no Brasil a. A sociedade agrária, latifundiária escravocrata e aristrocatica, transforma-se em burguesia e urbana. b. Fundação da Academia Brasileira de Letras (1897) c. A literatura e o escritor antes marginalizado ganham prestigio. d. Ascensão da população mestiça e sua participação na psicologia e. Desenvolvimento no campo cientifico, principalmente na psicologia e na antropologia social f. 1864-1870 – Guerra do Paraguai, provoca consequências sociais e políticas, fortalecendo o partido republicano e enfraquecendo a monarquia. g. 1888 – Abolição a escravatura h. 1889 – Proclamação da Republica REALISMO NATURALISMO REALISMO NATURALISMO 1. Método de observação 1. Método de da realidade experimentação da 2. Interpretação psicológica realidade do comportamento dos 2. Interpretação biológicas indivíduos dos grupos humanos 3. Toma como base o 3. Toma como base o indivíduo coletivo 4. Cria o romance 4. Cria o romance de tese documental 5. Retrata o universo 5. Retrata o universo exterior dos grupos interior da personagem humanos – Patologia humana: o egoísmo, o Social
  • 6. 6 ciúme, a mequinhes etc 6. Tem maior preocupação 6. Tem maior preocupação em retratar os "Fatos da com o técnico literário, vida" com o estilo e o apuro da linguagem 7. Predomínio da descrição 7. Predomínio da narrativa O Cortiço - Contexto Histórico Por Isabel Amadeu, Mayra Rossini, Silvana das Neves e Annie Baracat - UNIP Com o fim do tráfico de escravos, a economia açucareira passa a sofrer grande decadência, e a região sul passa a ter maior destaque com a economia cafeeira. As classes médias urbanas passavam a ter idéias liberais, abolicionistas e republicanas. De 1870 a 1890 essas idéias vão se tornando cada vez mais repetitivas ao pensamento europeu que na época girava em torno do positivismo e do evolucionismo. Muitos escritores como Tobias Barreto, Euclides da Cunha e Graça Aranha foram influenciados por Comte, Taine, Spencer, Darwin e Haeckel, durante a luta contra as tradições e o espírito monárquico. A partir de 1870, a questão da abolição da escravatura e da república passavam a ser o centro das ideologias do homem culto brasileiro. Na verdade, queria-se a expansão de uma ideologia que tomava aos evolucionistas idéias para acabar com o ideal romântico, que ainda existia naquela época. Daí em diante, passam a existir duas correntes ideológicas na Europa: o pensamento burguês, conservador, e o pensamento das classes médias, que assume a postura liberalista e socialista. A primeira mudança é o modo de o autor relacionar-se com o conteúdo de sua obra. O romântico faz uso demasiado de sentidos e patriotismo e mitifica os temas que escolhe. É esse conjunto de ideologias que a literatura realista critica. O escritor anti-romântico usa da impessoalidade para falar de objetos e pessoas. Essa necessidade de ser objetivo, é que faz com que esse escritor apóie-se nos métodos científicos da época. Flaubert, Zola e Anatole foram os mestres dessa objetividade na ficção; Comte, Taine e Renan, no pensamento e na história. Em segundo plano, Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão e Antero de Quental, que em Coimbra tentavam abalar velhos preconceitos. Em relação a Machado de Assis, a procura pela linha humorística pesou sobre a sua eleição de leituras inglesas. O escritor realista tem como norma o distanciamento da subjetividade. A aceitação da existência tal como ela se dá aos sentidos desdobra-se em dois planos complementares: no nível ideológico, no sentido da explicação do real, a certeza de uma situação irreversível, concretiza-se no determinismo. No nível estético, onde o ato de escrever tem a liberdade reconhecida implicitamente, resta ao escritor a não inovação. O cuidado estilístico, à vontade de criar algo novo, têm origem e alimentam-se do pessimismo que vem da ideologia determinista. O realismo passará ao naturalismo sempre que houver personagens e enredos que aceitam o destino das leis naturais que a ciência da época pensava ter codificado. A literatura realista naturalista é, na verdade, uma literatura triste. Mostra todos os defeitos de uma sociedade, exatamente o oposto do romantismo, repletos de heróis e heroínas, que sofriam por seus amores e por sua pátria. O Realismo narra os costumes contemporâneos da primeira metade do século XIX. As falcatruas da vida pública e os contrastes da vida íntima são mostrados. Para ambos os casos, buscam-se causas naturais (raça, clima, temperatura) ou culturais (meio, educação). O escritor realista sente-se no dever de descobrir a verdade de seus personagens. Nada de lirismos, reflexões. Enquanto o escritor romântico eleva a beleza excepcional, o naturalista julga interessante o patológico, porque prova a dependência do homem em relação às leis naturais.
  • 7. 7 Dessa forma, de uma corrente literária a outra, (Romantismo ao Realismo), houve uma passagem da subjetividade, do ideal ao fato. Quanto ao modo de escrever, à composição das personagens, os autores realistas brasileiros procuram obter maior coerência na organização dos episódios, que deixariam de ter uma série de caprichos, para serem compostos por necessidades objetivas do meio ou da estrutura moral das personagens. O Período Literário No Brasil, o período realista-naturalista ocorreu entre 1881 a 1902. Tal período foi marcado pelo determinismo de Taine, o positivismo de Comte e o evolucionismo de Darwin. O cientificismo somado à industrialização e a vitória do capitalismo geram a queda da aristocracia e a ascensão da burguesia. Neste período surge a luta de classes, pois nessa mesma época houve o despertar da consciência da classe de proletariados, influenciado por Marx. Concomitantemente a este momento, começa a surgir uma exigência de que a arte tivesse utilizado o social, ou seja, a obra literária só era interessante se possuísse cunho político-social. Apesar disso, uma minoria, que acabou sendo sufocada, defendia a arte pela arte. As idéias científicas e filosóficas do Realismo tiveram grande participação na formação de uma mentalidade no Brasil. Muitos intelectuais da época, ligados aos meios de comunicação, e que vinham de setores médios da população empenhavam-se numa atitude de engajação, que tinha por objetivo a transformação social. A arte realista-naturalista correspondeu ao período de consolidação do poder político da burguesia, na segunda metade do século XIX. Essa classe social tinha o seu gosto estético orientado para uma arte racional, considerando não-artístico os excessos sentimentais românticos. Uma arte responsável, isto é, com os critérios de responsabilidade que utilizava na condução dos negócios do Estado. O realismo-naturalismo, entretanto, ultrapassou esses limites. Foi uma arte inovadora e voltada para interesses populares. Os ideais de socialismo “utópicos” , como Pierre Joseph Proudhon, sensibilizaram artistas dessa época, como o escritor Èmile Zola, ou o pintor Gustave Coubert, que vieram defender a aproximação entre a verdade social e a verdade artística. Os conceitos de realismo e de naturalismo confluíram para o ideal positivista desse período histórico. Pressupunham uma submissão do texto artístico à realidade. Ao artista importava a observação e a experiência empírica, e não a idealização da realidade que caracterizou o Romantismo. Realismo e Naturalismo, não são sinônimos. Entretanto muitos teóricos afirmam que são duas faces da mesma moeda. Momento histórico do realismo e do Naturalismo no Brasil “O que há de política? É a pergunta que naturalmente ocorre a todos, e a que me fará o meu leitor, se não é ministro. O silêncio é a resposta. Não há nada absolutamente nada. A tela da atualidade política é uma paisagem uniforme; nada a perturba, nada a modifica. Dir-se-ia um país onde o povo só sabe que existe politicamente quando ouve o fisco bater-lhe a porta. O que dá razão a esse marasmo?” (Machado de Assis, crônica publicada no diário do Rio de Janeiro em 1/12/1861). No Brasil do Segundo Reinado (1840 – 1889), enquanto D Pedro II escolhe o senador ou o deputado para o cargo de primeiro-ministro, com a convivência tanto do partido Liberal, quanto do Conservador, numa espécie de “parlamentarismo às avessas” a população ignora essas decisões governamentais, preocupando-se com a sobrevivência imediata do dia a dia. Daí a comentada “tranqüilidade política” do período: liberais e conservadores, que o Imperador habilmente encaminha, revezam-se no poder, sempre de acordo com os interesses da oligarquia agrária. Do ponto de vista econômico, o Brasil, ao longo da segunda metade do séc XIX, mantém uma estrutura socioeconômica baseada do latifúndio, na monocultura de exportação a esta altura já voltada para a produção do café e na mão de obra escrava.
  • 8. 8 Assim, é a oligarquia agrária quem: “dá as cartas” na economia e na política do país, embora as pressões internacionais visando ao desenvolvimento do capitalismo industrial encaminhem-se no sentido da modernização do país, que se faz com lentidão. No entanto por volta de 1870 um conjunto de fatos, essencialmente ligados à referida modernização, começa a desestabilizar o panorama apresentado: o tráfico negreiro é proibido, aumenta a mão de obra imigrante, desenvolve-se a industria cafeeira no interior de São Paulo, constroem-se ferrovias, crescem cidade concentradoras de fábricas. Nelas se forma uma classe média urbana, insatisfeita com a falta de representatividade política. Essa classe, sem espaço no esquema de revezamento dos partidos Liberal e Conservador, no poder apóia-se, então, no Exército e aceita a liderança dos cafeicultores paulistas, responsáveis pela introdução do trabalho assalariado no país e defensores de mudanças estruturais, como a substituição da Monarquia desgastada e reacionária, pela República. Entretanto, proclamada em 1889 a República viria a frustrar as ambições da classe média e também das Forças Armadas: os representantes das oligarquias de São Paulo e de Minas Gerais passam a controlar o Estado brasileiro, por meio de uma aliança política conhecida como Políticas dos Governadores ou Política do café-com-leite. Em conclusão, os conflitos não se resolvem: por um lado o Brasil é um país de idéias liberais, republicanas, “modernas” e, por outro, convive com a “humilhação” de uma estrutura econômica-política oligárquica, agrária, coronelista e latifundiária. Entre as idéias modernas vindas da Europa, destacam-se as doutrinas positivistas e deterministas que deram fundamento à literatura pós-romântica. Essa literatura realizou-se distintamente em cada uma das chamadas Escolas Realistas. O Realismo e o Naturalismo no Brasil Iniciados oficialmente em 1881, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis (marco do surgimento do Realismo) e O Mulato, de Aluísio Azevedo (marco do surgimento do Naturalismo), e enfraquecidos por volta de 1890, quando floresce o Parnasianismo o advento do Realismo e do Naturalismo em nosso país ocorre numa data que se tornou simbólica para a literatura brasileira. Como mostra Lucia Miguel-Pereira “o ano de 1881 foi dos mais significativos e importantes para a ficção no Brasil, pois que nele se publicaram as Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis (...), e O Mulato de Aluísio de Azevedo. (...) Havia (...) nesses dois livros de índoles tão diversas um traço comum: em ambos triunfava a observação. (...) dois escritores patenteavam repentinamente uma liberdade até então desconhecida, e conferiam assim ao romance um novo alcance. Começou-se a escrever para procurar a verdade, e não mais para ocupar os ócios das senhoras sentimentais e de um ou outro cavalheiro dado a leituras frívolas.” (História da Literatura Brasileira. Prosa de Ficção (1870 a 1920) Rio de Janeiro, livraria José Olympio). A partir de ambos os escritores podemos, então, esboçar o panorama de nossa ficção ao longo da segunda metade do séc. XIX. Enquanto Machado de Assis desenvolve um realismo psicológico e universal, que “sela nossa independência literária”, a partir das Memórias Póstumas de Brás Cubas consolidando-a em outras obras de sua maioridade literária, tais como Dom Casmurro e Quincas Borba, Aluisio Azevedo torna-se o líder da presença do estilo naturalista entre nós. As teorias científicas na obra literária O Cortiço As teorias científicas da época eram utilizadas para explicar os problemas sociais o que nos leva a crer que o escritor realista é muito mais um crítico social do que simplesmente um escritor. O pensamento cientificista também é responsável término do prazer que a paisagem dava aos escritores românticos. Teorias como o positivismo, o determinismo, o evolucionismo e o marxicismo, são encontradas nas obras realistas-naturalista. Excetuando o marxicismo, todas as outras teorias estão presentes em O cortiço.
  • 9. 9 Aluísio procurava entender o cientificismo que é a ciência como o único conhecimento, substituindo assim, a visão subjetiva reinante nos romances românticos para uma visão totalmente objetiva, portanto ser objetivo e imparcial era a grande preocupação do autor de O Cortiço. Na obra de Aluísio, há uma preocupação em relatar questões polêmicas como, por exemplo, a escravidão, o preconceito, o adultério etc. Fala ainda, o autor, sobre as agruras do cotidiano, a pobreza, a prostituição, a ganância, a exploração do homem pelo homem deixando bastante claro que o “mundo pertence aos mais espertos”. Todas essas “deficiências” sociais são ressaltadas durante toda a obra. Vejamos como Aluísio Azevedo comenta a escravidão nesta obra: “... A escrava passara naturalmente em herança a qualquer dos filhos do morto; mas, por estes, nada havia que recear: dois pândegos de marca maior que, empolgada e legítima, cuidariam de tudo, menos de atirar-se na pista de uma crioula a quem não viam...” (p.17) O adultério é evidenciado em trechos como: “... mudar-se-ia ele para lá com a família, pois que a mulher, Dona Estela, senhora pretensiosa já não podia suportar a residência no centro da cidade, como também sua menina, a Zulmirinha, crescia muito pálida e precisava de largueza para enrijar e tomar corpo”. Isto foi o que disse Miranda aos colegas, porém a verdadeira causa da mudança estava na necessidade, que ele, reconhecia urgente, de afastar Dona Estela do alcance de seus caixeiros.” (p.19) POSITIVISMO Comte prega a transformação da sociedade através de normas necessárias para reformá-la, conduzindo-a a uma etapa positiva. Deve-se fazer observação, experiência comparação. Para amenizar os problemas da sociedade na época, deveria haver uma reorganização de crenças e costume. Sendo assim, a educação e a estrutura familiar seriam fundamentais para o êxito dessa teoria. Notamos, em alguns trechos da obra O cortiço características positivistas, como, por exemplo, a preocupação de Jerônimo em manter sua filha em um colégio, no intuito que ela tivesse melhores chances de vida. “... E, defronte do cabedeiro de querosene, conversavam sobre a sua vida e sobre a sua Marianita, a filhinha que estava no colégio e que só os visitava aos domingos e dias santos”. DETERMINISMO Segundo Taine, tudo, inclusive a arte, é produto do meio, a raça e do momento histórico. Para ele todo o agir humano é determinado por variáveis biológicas. Ou seja, todas as suas vontades e ações não são livres, no sentido de uma determinação racional e espontânea do sujeito, e sim resultado de mecanismos biológicos. O determinismo aparece na perspectiva em que os narradores criam suas personagens. A suposta neutralidade não oculta o fato do autor sempre carregar de tons sombrios, o destino de suas personagens. De acordo com esta teoria quem nasceu pobre, vai morrer pobre, empregado jamais será patrão, filha de prostituta será prostituta. Teoria um tanto quanto radical que encontramos presente em praticamente todos os momentos da obra O cortiço. A narrativa demonstra do início ao fim que a teoria de Taine é absolutamente predominante, mostra que, maior parte das pessoas pobres está acomodada com sua situação e acreditam que aquela vida um tanto quanto “lamentável” é o destino de cada um deles. Dentre outros personagens, ao contrário do que muitos pensam, Bertoleza fugia ao determinismo e preferiu tirar a própria vida a aceitar o seu cruel destino.
  • 10. 10 A crioula Bertoleza trabalhava duro para pagar sua alforria, não se contentava em ser escrava. Para nós o fato de ela ter continuado sendo escrava de João Romão não tirou dela o desejo de obter uma vida melhor. Poderia, ter-se envolvido com homens de sua raça, mas preferia se envolver com pessoas, em tese, superiores como no caso de João Romão. “Reconheceu logo o filho mais velho do seu primitivo senhor, e um calafrio percorreu-lhe o corpo. Num relance compreendeu a situação; adivinhou tudo com lucidez de quem se vê perdido para sempre: adivinhou que tinha sido enganada; que a sua carta de alforria era uma mentira...” (p.206) ...antes que alguém conseguisse alcança-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado.” (p. 207) EVOLUCIONISMO Destaca entre outras coisas a permanente concorrência entre os indivíduos como base da transformação social. Como exemplo disso podemos citar a concorrência desenfreada entre João Romão e Miranda, a inveja que um sentia do outro etc... “Travou-se então uma luta renhida e surda entre o português negociante de fazendas por atacado e o português negociante de secos e molhados...” (p.22) azevedo marxismo
  • 11. 11 Escolas Literárias: Realismo e Naturalismo Contexto (2ª metade do século XIX-Início do século XX): Europa: Capitalismo industrial; surgimento do proletariado; cientificismo (Positivismo, Determinismo, Evolucionismo, Marxismo, Psicanálise) Brasil: Abolição da escravatura; proclamação da República. Com a 2ª Revolução Industrial, impulsionada pelo desenvolvimento científico, houve uma profunda modificação nos processos de produção. A automação e o surgimento de cartéis acirram as desigualdades entre a burguesia e o proletariado. Os centros urbanos crescem desordenadamente, revelando marginalidade, miséria, e condições insalubres. Já não era possível a postura evasiva dos românticos. Algumas das principais teorias científicas veiculadas na época: Positivismo: Comte acreditava que a sociedade poderia ser analisada por meio de um sistema científico, como uma ciência exata (ordem e progresso) Socialismo: Para Marx, a história da humanidade sempre fora marcada pela luta de classes. Em O Capital disseca o sistema capitalista e prevê a sua superação pela ditadura do proletariado. Evolucionismo: Darwin põe em cheque a teoria criacionista com as idéias de seleção natural e luta pela sobrevivência. Psicanálise: Freud elaborou sua teoria do inconsciente, sendo este a parte do psiquismo humano que não pode chegar à conscieência; são desejos e sensações inaceitáveis do ponto de vista moral ou social, que ficam reprimidos (recalcados), mas mesmo assim interferem nas funções conscientes. Realismo e Naturalismo se desenvolveram no mesmo momento histórico e têm características comuns. O racionalismo e a preocupação com a realidade objetiva se manifestam em temas atuais, em uma linguagem detalhista, minuciosamente descritiva. Para uma análise objetiva da sociedade, havia a preferência pelo foco narrativo em 3ª pessoa, que possibilitaria maior distanciamento e imparcialidade (no sentido de universalidade), revelando as relações humanas de forma desidealizada (pessimismo). Apesar dessas semelhanças, realistas e naturalistas possuem propostas distintas: REALISMO Romance de revolução: pretendiam reformar a sociedade por meio de uma literatura crítica.← ← Análise psicológica: um pequeno número de personagens permite o aprofundamento de seus conflitos internos. Esperavam que os leitores se identificassem com as personagens e situações, podendo a partir daí realizar uma auto-análise. Tipificação social: Cada personagem← corresponde a um grupo social, a um tipo de conduta ou situação pré- existente na sociedade. NATURALISMO Romance de tese: análise científica da sociedade. O romance funciona como um experimento para a comprovação de uma tese.← ← Perspectiva físico-biológica: O predomínio dos instintos sobre a razão, muitas vezes, reduz o indivíduo à condição animal.Assim, o amor, por exemplo, seria simplesmente a necessidade de satisfação dos impulsos sexuais. Determinismo: Além do já observado determinismo biológico, os naturalistas exploram as influências do meio sobre o homem.← ← Predomínio do coletivo e do patológico: geralmente não há um protagonista, mas um aglomerado de seres humanos em um drama coletivo, geralmente em condições totalmente insalubres. REALISMO NO BRASIL Marco inicial: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis. Contexto: O Brasil vivia a transição da Monarquia para a República. Uma nova organização social começava a se desenhar com a substituição da mão-de-obra escrava pelo trabalho assalariado dos imigrantes. O pensamento burguês mais conservador entra em choque com uma classe média cada vez mais numerosa.
  • 12. 12