O documento discute a ética moderna entre os séculos XVI e XVIII. Neste período, as discussões éticas centraram-se no embate entre racionalismo e empirismo. A ética passou a ser vista como garantidora das condições para a felicidade coletiva e o aprimoramento do indivíduo. Filósofos como Descartes, Spinoza, Hobbes e Locke influenciaram o pensamento ético moderno, debatendo temas como a relação entre Estado e indivíduo.
2. ÉTICA E BIOÉTICA Aula 3 - A Ética moderna
A Ética na idade moderna – 1473 à 1789:
Entre os séculos XVI e XVIII, as discussões éticas
estiveram centralizadas no embate entre
racionalismo e empirismo (doutrina segundo a qual
todo conhecimento provém unicamente da
experiência, limitando-se ao que pode ser captado
do mundo externo, pelos sentidos, ou do mundo
subjetivo, pela introspecção).
A Idade Moderna foi à época da formação e
consolidação dos Estados Nacionais europeus,
precedendo a Revolução Francesa e Industrial,
quando a separação entre Estado e igreja tornou-se
definitiva, com a preponderância do
antropocentrismo e a aceleração do avanço da
Ciência.
Representantes de Estados Europeus na assinatura dos Tratados de Westfália, em outubro de 1648 - A guerra dos trinta anos “guerra
religiosa” que surgiu o conceito de raison d’état (razão de Estado), pela qual os interesses de um Estado soberano se sobrepunham a
quaisquer outros, inclusive aos da Igreja Católica. Ironicamente, quem elaborou este conceito foi um príncipe da Igreja, o cardeal Richelieu.
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Foi também um período de transição para a
Idade Contemporânea, registrando
contradições de cunho ainda medieval e forte
influencia da religião na vida das pessoas.
Qualquer que seja a tendência teórica, a
ética passou a ser vista novamente voltada
para a busca da felicidade coletiva,
retomando seu sentido original grego,
vinculado com a política, compondo
orientações para a realização plena do
cidadão.
Luis XIV “O Rei sol” – “O
Estado sou eu” - Seu
reinado de 72 anos e 110
dias é o mais longo da
história de qualquer
monarca europeu na
história. – Reina de 14 de
Maio de 1643 até 1º de
Setembro de 1715
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Diante de múltiplos caminhos para chegar a
eudaimonia (verdadeira felicidade), a ética foi
pensada como garantia de condições para que
o sujeito se aprimore por meios legítimos.
Onde entraria o Estado como fomentador e
garantidor de condições de condições
transformadoras, providenciando educação,
direitos individuais, justiça e subsistência.
Neste sentido, os preceitos religiosos
começaram a perder força, em uma tentativa
da ética se sobrepor a moral, universalizando
e discutindo princípios de convivência em
sociedade.
“Burgo” que cresce ao redor do castelo
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O caminho da dúvida cartesiana conduziu Descartes
a estabelecer uma moral provisória, baseado em
recomendações como obedecer às leis e costumes
do país, mantendo a religião e a fé em Deus,
guiando-se pelas opiniões mais moderadas e aceitas
pela prática, evitando excessos e cultivando o bom
senso.
René Descartes – 1593 à 1650 “Os planos cartesianos”
René Descartes é considerado o Pai da filosofia moderna tendo
como sua obra magna “O discurso do método”. Frase “Penso logo
existo”.
Em primeiro lugar, existe uma defesa da ética
vinculada com as necessidades do Estado, estando
subordinada ao Direito.
Depois, uma normatização ética atrelada à razão,
obrigando o individuo a refletir e tomar decisões, sob
pena de entregar-se ao azar.
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Outro racionalista, Baruch Spinoza, delineou com maior
precisão as questões éticas na obra Ethica, publicada em
1677.
Ele fixou como parâmetro de definição do que é bom ou mau
as necessidades e interesses humanos, inserindo a razão
como elemento capaz de frear as paixões, permitindo
alcançar prazer e felicidade.
Também para Spinoza, o amor intelectual a Deus é garantia
da virtude, esta definida como a própria felicidade advinda da
contemplação da totalidade do universo mental e físico,
através da natureza divina, sendo ela inata.
Baruch Spinoza – 1632 à 1677 -Obras: “Um breve tratado sobre Deus e o Homem”, “Princípios da
filosofia cartesiana”, “Tratado sobre a Religião e o Estado”.
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O Empirismo:
Thomas Hobbes forneceu a base de sustentação para o Estado
Absolutista, ligando a monarquia com a vontade de Deus; mas
defendeu a ideia de que a natureza humana é desonesta,
solitária e violenta, expressa pela máxima “O homem é o lobo
do homem”.
Como consequência seria necessário organizar a sociedade,
estabelecendo um contrato social para eliminar a guerra de todos
contra todos, fortalecendo o Estado para reprimir a maldade
humana.
A implicação ética está fixada no cidadão, que para integrar-se à
sociedade, precisa refletir sobre si mesmo e seu papel coletivo.
Thomas Robbes – 1588 à 1679
Obras: “Leviatã” (autoridade inquestionável), “Elementos de Lei e do Cidadão”
(trata a questão da relação entre a Igreja e o Estado).
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John Locke retomou o conceito de contrato social como limitador do poder
absoluto da autoridade, promovendo a felicidade através da garantia de
liberdade individual restrita.
David Hume também complementou a concepção de Hobbes, afirmando que
as ideias inatas não existiam, sendo regras compostas pela experiência,
exigindo a padronização de comportamentos éticos a partir daquilo que fosse
útil e prazeroso para a maioria.
Portanto, a ética moderna, a despeito de ainda vinculada com a religião,
começou a tentar sobrepujar a moral, resgatando discussões presentes
na antiguidade, avançando alguns passos rumo à vinculação com a
liberdade.
Entretanto, foi pensada como instrumento de sustentação do poder do Estado
perante a vida coletiva e individual.
9. REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. A ética; textos selecionados. São Paulo: Edipro, 2003.
BENTHAM, Jeremy. Uma introdução aos princípios da moral e da legislação. São
Paulo: Abril Cultural, 1974.
HUME, David. Ensaios morais, políticos e literários. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo: Abril
Cultural, 1974.
MACIEL JR, A. Pré-socráticos: a invenção da razão. São Paulo: Odysseus, 2007.
PLATÃO. A república. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2000.