Aula ministrada no curso de História Eclesiástica II no Seminário Teológico Shalom, em 2013. A presente aula visa apresentar os antecedentes que levaram à Reforma Protestante, analisando o fim da Idade Média e aquilo que motivou Lutero a elaborar suas 95 teses.
História da Igreja II: Aula 3: Reforma na Suíça: Zuínglio e Calvino
1. Reforma na Suíça
Zuínglio e Calvino
História Eclesiástica II
Pr. André dos Santos Falcão Nascimento
Blog: http://prfalcao.blogspot.com
Email: goldhawk@globo.com
Seminário Teológico Shalom
2. Diferenças entre Suíça e Alemanha
Alemanha
• Império governado por
príncipe eleito por seus
pares
• Exército próprio de cada
território
• Cada território gerido por
príncipe local
Suíça
• Federação de repúblicas
autogovernadas
• Soldados mercenários
usados por toda Europa
(papado – “Guarda Suíça”)
• Cada “cantão” gerido por
governos locais
democraticamente eleitos
3. Peculiaridades suíças
Suíça
• Cada cantão possuía todo o encargo dos negócios
locais, estando livre para aceitar a forma de religião
que quisesse.
• Cidades suíças eram grandes centros culturais, onde o
Humanismo se estabeleceu.
• Centros universitários sólidos (Basileia)
• Cantões com diversos idiomas
• Norte: Alemão (Zuínglio)
• Sul: Francês (Calvino)
4. Ulrich Zuínglio (1484-1531)
Pai fazendeiro e juiz de Wildhaus, dando
condições financeiras.
Estuda na Universidade de Viena.
Em 1502, vai pra Univ. Basileia, se
formando em 1504 em Bacharel em Artes
e em 1506 em Mestre em Artes.
Demonstra maior interesse pelas ciências
humanas (Erasmo era seu ídolo) do que
pela teologia.
5. Período do serviço
Entre 1506 a 1516, serve ao papado
como sacerdote de paróquia e capelão.
Inclinações humanísticas o fazem
interpretar Paulo à luz de Platão e do
Sermão do Monte, enfatizando mais a
questão moral do evangelho.
Estudo de Erasmo o afasta da Escolástica e o leva à Bíblia.
Seu patriotismo o leva a se opor ao serviço mercenário,
exceto quando a serviço do Papado (viu abusos e a derrota
de perto entre 1512 e 1515, quando serviu como capelão de
alguns grupos).
6. Início da crise
Entre 1506 a 1516, serve ao papado
como sacerdote de paróquia e capelão.
Demonstra enorme patriotismo suíço.
Inclinações humanísticas o fazem
começar a interpretar Paulo à luz de
Platão e do Sermão do Monte,
enfatizando mais a questão moral do
evangelho.
Estudo de Erasmo o afasta da Escolástica e o leva à Bíblia.
Seu patriotismo o leva a se opor ao serviço mercenário,
exceto quando prestado ao Papa.
7. A ruptura
1516-1518: Serve em Einsiedeln, centro de
peregrinos, onde começa a se opor à venda
de indulgências e a adoração a uma imagem
negra de Maria.
Copia as cartas de Paulo do NT grego de
Erasmo em 1516, tornando-se um humanista
bíblico.
Começa a pastorear em Zurique em 1519, onde se converte.
Há divergências se foi por contato com ideias luteranas ou
se foi por iniciativa própria e independente.
Preocupa-se com mensagens de mudanças práticas.
8. As controvérsias
1519: Prega que o dízimo não é obrigatório, mas sim
voluntário, abalando as bases financeiras de Roma.
1522: Casa-se em segredo com a viúva Anna Reinhard, só
legitimando o caso em 1524, após o Conselho da cidade
permitir que o clero contraísse matrimônio.
1522: Mensagem contra práticas quaresmais leva o
impressor Froschauer a reunir algumas pessoas para uma
linguiçada em sua casa durante o período. Zuínglio não
come, mas participa da reunião. Em Basileia, ocorre outra
quebra do jejum, desta vez com a degustação de um leitão.
9. O debate
Motivadas pelo incidente da quaresma, as
autoridades católicas solicitam ao Conselho
da Cidade a convocação de um debate
público.
Zuínglio renuncia a seu posto eclesiástico,
mas recebe outro civil, o de Ministro da
Pregação do Evangelho, ficando a serviço
da administração pública.
O debate ocorre em 29/01/1523, entre Zuínglio e Johann
Faber. Mais de 600 pessoas comparecem (Zurique tinha 9
mil habitantes) e Faber se recusa a questionar Zuínglio, que
usa argumentação bíblica para defender suas ideias.
10. Resultados do debate
Por conta da negativa de Faber de debater, sugerindo a
convocação de um Concílio Universal, Zuínglio é declarado
vencedor do debate e suas ideias são tornadas legais pelo
Conselho da cidade.
Para argumentar com Faber, Zuínglio preparara um
documento, denominado “67 Conclusões”, sobre suas
crenças.
Com a decisão do Conselho, comunidade cristã e civil se
unem em Zurique. Uma Polícia de costumes controla a
frequência dos cidadãos ao culto e à ceia.
11. Os efeitos da Reforma de Zurique
A partir de 1522, várias decisões são tomadas para mudar a
religiosidade da cidade pelo Conselho:
Taxas de batismo e sepultamento abolidas.
Permissão para que o clero possa contrair matrimônio.
Proibição do uso de imagens e relíquias.
Eliminação de elementos externos que pudessem dar a sensação
de salvação (música de órgão, canto coral, ornamentação, altar
transformado em simples mesa de ceia).
Objetos de metais preciosos transformados em moedas.
Simplificação de vestes litúrgicas
Eliminação da missa (1525)
12. O término da carreira
1522-1525: Confrontos com grupos
anabatistas causam a expulsão deste
grupo da cidade.
1529: Debate com Lutero no Colóquio de
Marburg gera cisão entre os dois devido
a divergência sobre a natureza da Ceia.
1529: União de Cantões Católicos, formada pelo papa,
entra em guerra contra os cantões protestantes. Uma
trégua permite que a maioria dos cidadãos escolha a
religião do cantão, permitindo tolerância aos protestantes
que vivam em cantões católicos.
13. O término da carreira
1531: Nova guerra irrompe entre os dois lados, quando
Zuínglio tenta conquistar Genebra para o lado protestante.
Zuínglio junta-se aos combatentes como capelão e é morto
em combate.
O resultado da batalha foi que cada cantão teria o controle
total de seus negócios internos.
Zurique deixa a Liga de Cantões Reformados.
Heinrich Bullinger (1504-1575) torna-se sucessor de Zuínglio.
Zuinglianos e calvinistas conjugam seus esforços nas Igrejas
Reformadas da Suíça, através do Consenso de Zurique -1549
14. Colaboração Teológica de Zuínglio
Zuínglio tinha ideias bem semelhantes às de Lutero em
diversos pontos. No Colóquio de Marburg, ambos diferiram
apenas em relação à Ceia. Para Zuínglio, a Ceia era um
memorial, uma comemoração da morte e ressurreição de
Cristo, contrariando o ensino da Consubstanciação de Lutero.
Zuínglio também trabalhou o conceito de Predestinação,
afirmando que só os que ouviram o evangelho e o recusaram
estariam predestinados à condenação.
Quanto ao pecado original, Zuínglio cria que era uma doença
moral, e não culpa. Por isso, entendia que as crianças podiam
ser salvas sem a necessidade do batismo.
15. João Calvino (1509 – 1564)
Nascido em Noyon, capital da Picardia,
França.
Filho de um severo tabelião/administrador
eclesiástico, que recebeu verbas para
educar seus filhos.
Estudou até os 14 anos em Paris, com a
intenção de fazer Teologia futuramente,
mas como seu pai teve problemas com a
igreja por questões financeiras não
esclarecidas e foi excomungado, migra
para Orleáns para estudar Direito.
16. O início da caminhada
Como não estudou Teologia nos moldes
tradicionais, usa seus fundamentos de
lógica, dialética e metafísica para
estudar diretamente a Bíblia, com auxílio
da Patrística e dos textos reformados de
sua época.
Forma-se como Mestre de Artes (1529) e Direito (1532).
Em seus estudos, trava contato com diversos humanistas e
com Melchior Wolmar, aluno de Lutero, que o introduz ao
grego, permitindo-o acesso ao NT no original.
Escreve em 1532 um comentário à De Clementia, de Sêneca
17. A conversão
Entre 1533 e 1535, Calvino se converte,
adotando a fé reformada e dispensando
as rendas eclesiásticas.
Em 1534, é forçado a deixar Paris por
colaborar com o reitor da Universidade,
Nicolas Cop, na elaboração de um
documento que exigia uma reforma
bíblica.
Exilado na Basileia, elabora em 1536 sua maior obra, as
Institutas da Religião Cristã. O livro era dirigido a Francisco I,
rei da França, para defender os protestantes de seu país.
18. As Institutas
As Institutas originais era um livro de cerca de
500 páginas e seis capítulos, falando sobre a
Lei, a Fé, a Oração, os Sacramentos, os
“Falsos Sacramentos” e a Liberdade Cristã.
Seu formato era de bolso, para que as
pessoas pudessem facilmente ocultá-las em
seus casacos.
Após 1539, devido a seus vários debates teológicos com
outros intelectuais, grupos e religiosos, Calvino lança novas
edições das Institutas, em latim e francês, até as versões finais
de 1559 e 1560, que possuía quatro livros e oitenta capítulos.
19. Calvino e Genebra
A reforma se iniciou em Genebra em
1532, pelas mãos de Guillaume Farel,
de origem francesa de classe média,
tendo adotado a visão de Lutero sobre
a justificação pela fé desde 1521.
Propaga suas ideias protegido por
Berna e, após vencer uma polêmica
com os inimigos da reforma, consegue
que Genebra adote oficialmente a
Reforma após Assembleia geral dos
cidadãos em 1536.
20. Calvino e Genebra
Ao descobrir que Calvino pernoitava na
cidade em 1536, Farel vai a seu
encontro e pede ajuda. Calvino se
recusa, pois gostava da vida de
estudioso e escritor. Então, tomado de
fúria, Farel vociferou:
“Deus amaldiçoe teu descanso e a tranquilidade que buscas
para estudar, se diante de uma necessidade tão grande te
retiras e te negas a prestar socorro e ajuda”.
Apavorado com a cena, Calvino fica e começa a trabalhar com
Farel em um Catecismo e um credo, além de um esboço de
ordem eclesiástica.
21. O exílio
O esboço de ordem previa que cada cristão de Genebra
deveria comungar uma vez por mês e seguir uma disciplina
ética e didática severas, com o Conselho devendo banir da
cidade todo aquele que não descumprisse o que havia sido
proposto.
A proposta de Calvino não é
aceita pela burguesia e o
conflito faz com que Farel e
Calvino tenham que deixar a
cidade, se refugiando na
Basileia, onde se casa em
1540 com Idelette de Bure.
22. Refúgio, retorno e fim
1538 a 1541: Calvino pastoreia refugiados franceses em
Estrasburgo, onde Martin Bucer (1491 – 1551) havia dirigido a
Reforma e ensinado teologia.
1541: É convocado pelo Conselho de Genebra após as forças
reformadoras retomarem o controle da cidade. Publica a
seguir as Ordenanças Eclesiásticas, que regula que as
decisões eclesiásticas seriam resolvidas por um consistório
formado por cinco pastores e doze leigos.
1549: Idelette, mãe de seu filho morto na infância, falece.
23. Refúgio, retorno e fim
1553: Miguel Servetto, médico espanhol
autor de diversos livros de teologia, contesta
a doutrina da trindade e é levado a um
processo pelo Consistório, sendo condenado
à morte contra a vontade do governo da
cidade. O governo tenta pedir a opinião de
outras cidades protestantes, mas todas
apoiam Calvino. Servetto é condenado à
fogueira, mas acaba tendo sua pena
comutada para morte por decapitação, por
ser “menos cruel”.
24. Fim da carreira
Até 1546, 58 pessoas haviam sido executadas e 76 exiladas
por conta da política de controle eclesiástico do Consistório
sobre os cidadãos de Genebra.
Após o julgamento de Servetto, a autoridade de Calvino na
cidade não tem rival, pois os teólogos de todas as demais
regiões da Suíça protestante lhe tinham dado apoio e seus
opositores se calaram, não querendo tomar lados na questão.
1559: Calvino funda a Academia Genevensis, tornando-se o
principal centro de reflexão da teologia calvinista.
1564: Calvino falece, sendo sucedido por Teodoro de Beza.
25. Colaboração Teológica de Calvino
A Bíblia é a Palavra de Deus e é um meio para encontrar
Cristo, a Palavra viva de Deus.
O NT não elimina o AT, mas o aperfeiçoa.
A relação do fiel com a Bíblia se dá pela intervenção
momentânea do Espírito Santo, porém se dá apenas na igreja,
pois do contrário a sua interpretação cai no subjetivismo.
Há 4 ministérios na igreja: Pastores, mestres, presbíteros
(anciãos) e diáconos. Pastores e presbíteros formam o
Consistório, que decide os rumos da igreja.
Eucaristia é uma transformação “espiritual” dos elementos, por
meio do Espírito Santo e da fé que cada um possui.
26. Soteriologia calvinista (TULIP)
Depravação Total (Total Depravity)
Eleição Incondicional (Unconditional Election)
Expiação Limitada (Limited Atonement)
Graça Irresistível (Irresistible Grace)
Perseverança dos Santos
(Perseverance of the Saints)
27. Soteriologia calvinista (TULIP)
Depravação Total (Total Depravity)
O homem herdou a culpa do pecado de Adão e nada pode fazer
por sua salvação, pois sua vontade está totalmente corrompida
(“Morto não tem escolha”).
Eleição Incondicional (Unconditional Election)
Expiação Limitada (Limited Atonement)
Graça Irresistível (Irresistible Grace)
Perseverança dos Santos (Perseverance of the Saints)
28. Soteriologia calvinista (TULIP)
Depravação Total (Total Depravity)
Eleição Incondicional (Unconditional Election)
Deus escolhe quem deseja salvar independente de mérito
humano ou presciência divina (“Se Deus sabe, é porque decidiu”).
Expiação Limitada (Limited Atonement)
Graça Irresistível (Irresistible Grace)
Perseverança dos Santos (Perseverance of the Saints)
29. Soteriologia calvinista (TULIP)
Depravação Total (Total Depravity)
Eleição Incondicional (Unconditional Election)
Expiação Limitada (Limited Atonement)
A obra de Cristo na cruz é restringida aos eleitos para a salvação.
Graça Irresistível (Irresistible Grace)
Perseverança dos Santos (Perseverance of the Saints)
30. Soteriologia calvinista (TULIP)
Depravação Total (Total Depravity)
Eleição Incondicional (Unconditional Election)
Expiação Limitada (Limited Atonement)
Graça Irresistível (Irresistible Grace)
O eleito é salvo independente de sua vontade.
Perseverança dos Santos (Perseverance of the Saints)
31. Soteriologia calvinista (TULIP)
Depravação Total (Total Depravity)
Eleição Incondicional (Unconditional Election)
Expiação Limitada (Limited Atonement)
Graça Irresistível (Irresistible Grace)
Perseverança dos Santos (Perseverance of the Saints)
Os eleitos irresistivelmente salvos pela obra do Espírito Santo,
jamais se perderão (“Uma vez salvos, sempre salvos”).
32. Fontes
Texto base: CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos: uma
história da igreja cristã. 3 ed. Trad. Israel Belo de Azevedo e Valdemar
Kroker. São Paulo: Vida Nova, 2008.
Textos auxiliares:
DREHER, Martin N. Coleção História da Igreja, 4 vols. 4 ed. São Leopoldo:
Sinodal, 1996.
GONZALEZ, Justo L. História ilustrada do cristianismo. 10 vols. São Paulo:
Vida Nova, 1983