O documento discute questões éticas em torno da morte, doença e cuidados paliativos. Aborda temas como eutanásia, distanásia, prolongamento artificial da vida e a importância de assegurar uma morte digna. Também reflete sobre como a sociedade ocidental não está preparada para lidar com a morte e como a medicina tenta estender a vida ao máximo, por vezes sem levar em conta a qualidade de vida do paciente.
1. O fim da vida:
a eutanásia, a morte e o morrer
Prof: GERSON DE SOUZA
2. A Morte, a figura
sombria em que em
nenhuma época o
homem foi capaz de
lutar contra ela. Um
tabu que temos como
a única certeza que
temos na vida, que
não conseguimos
esquecê-la ou nega-la.
3. Tentamos controla-la com os avanços da
ciência, tendo a esperança de que as
contribuições com a medicina, ciências
humanas e sociais, possa tirar um pouco desta
inquietude que nos persegue desde quando
nos conhecemos por seres humanos. O
Homem, segundo a ciência, é o único ser vivo
que tem consciência da própria finitude.
5. Historicamente, as atitudes perante a morte foram
passando de uma aceitação espontânea, sendo a ela
incorporada como um fato natural, esperado e superado,
para atitudes nas quais é considerada tau, vergonhosa,
destruidora.
6. Os avanços científicos e tecnológicos de vários
campos, aí se incluindo a medicina, contribuíram
para estigmatizar a morte: não mais natural, mas sim
inimiga a ser vencida a qualquer preço.
7. Questões como eutanásia, distanásia,
doação de órgãos, prolongamento
artificial da vida ou do morrer, entre
outras, implicam repensar sérias
questões bioéticas.
Implicam também um repensar a
formação dos profissionais de saúde,
essencialmente voltada para o
manuseio técnico da doença e a busca
da sua cura.
8. Quando se fala aos médicos que se deve conversar
abertamente com o paciente, em fase terminal, a
respeito de sua doença e do estágio em que ela se
encontra, observa-se uma enorme onda de
protestos e negativas, sob a alegação de que ocultar
do paciente essa informação é um “ato de caridade”.
9. Embora o local onde predominantemente a
morte ocorra seja, hoje em dia, o hospital,
quando do diagnóstico de uma doença que
levará o paciente á morte, a medicina
paliativa tenta resgatar o lugar da morte
como o natural, procurando assegurar que a
morte aconteça de forma digna, cuidadosa,
respeitosa e o menos dolorosa possível.
12. Nossa cultura ocidental não está preparada para
enfrentar a morte. O consumismo, o culto ao corpo, o
progresso, a valorização da juventude e a negação da
velhice, entre outros, nos levam a esquecer que a
morte existe. Não temos espaço para dialogar sobre o
fim da vida.
13. Sabemos que morrer é uma parte do nosso
ciclo vital. Ela é um direito que todos os seres
humanos tem. Mas a morte não é aceita
pelas pessoas, não é entendida, é rejeitada
pela sociedade porque não estamos
acostumados nem fomos educados com a
idéia de que um dia morreremos. Não fomos
preparados para conviver com a morte.
14. A morte hoje, diante de tantos avanços
tecnológicos e científicos, tem sido
prolongada; a medicina quer estender a vida,
garantir a longevidade e a imortalidade,
talvez seja este um dos seus maiores desafios
atuais, mas ao mesmo tempo quer decidir por
meio de um grupo ou de uma equipe até
quando a pessoa deverá viver.
15. Os profissionais de saúde, em especial os
médicos acreditam que têm obrigação de
prolongar eternamente uma vida, criando um
clima d tensão e ressentimentos muito grande
em vários dias quando não consegue evitar a
morte.
16. Se por um lado a tecnologia e a medicina tenha
propiciado condições melhores de vida ao homem,
por outro lado trouxe também à tona questões éticas
sobre o retardamento do processo de morrer, ainda
que não se tenha qualidade de vida.
17. Morrer com os melhores recursos tecnológicos nem
sempre é o que o paciente mais necessita. A
compreensão dos familiares, o apoio dos amigos, a
solidariedade são os sentimentos que certamente
devem envolver as pessoas no momento que estão
morrendo.
18. Por que a morte nos causa tanto medo? Será que gostaríamos
de ser imortais? Com tantas inovações, diagnósticos
eficientes, novas técnicas cirúrgicas, medicamentos potentes,
métodos sofisticados de prevenção de doenças, clonagem,
células-tronco, cura para doenças raras, tudo isso nos leva a
esquecer que a morte seja possível.
19. Com o objetivo de vencer os obstáculos
existentes na formação dos profissionais e
nas políticas de saúde que têm surgido
algumas organizações, embora ainda
incipientes, com o propósito de resgatar o
exercício da essência da medicina. Porém,
há necessidade de muito se fazer a fim de
que possamos enxergar um horizonte
digno, ético e eficaz no combate à dor e
ao sofrimento de milhões de pessoas.
20.
21. A eutanásia,
atualmente, é
conceituada como a
ação que tem por
finalidade levar à
retirada da vida do ser
humano por
considerações tidas
como humanísticas, à
pessoa ou à sociedade,
é ética e legalmente
incorreta no Brasil.
22. O enfermeiro deve ser
ciente do seu código
de ética, o qual traz
claramente em seu
artigo nº 29, quanto às
proibições: “Promover
a eutanásia ou
participar em prática
destinada a antecipar a
morte do cliente”.
23.
24. A distanásia é sinônimo de tratamento fútil ou inútil,
sem benefícios para a pessoa em sua fase terminal. É
o processo pelo qual se prolonga meramente o
processo de morrer, e não a vida propriamente dita,
tendo como consequência morte prolongada, lenta e,
com frequência, acompanhada de sofrimento, dor e
agonia.
25. Quando há investimento à cura, diante de um caso de
incurabilidade, trata-se de agressão à dignidade dessa
pessoa. As medidas avançadas e seus limites devem
ser ponderados visando a beneficência para o
paciente e não a ciência vista como um fim em si
mesma.
26.
27. Ortotanásia é a arte de morrer bem, humana e
corretamente, sem ser vitimado pela mistanásia, por
um lado, ou pela distanásia, por outro, e sem abreviar
a vida, ou seja, recorrer à eutanásia. Tem como
grande desafio o resgate da dignidade do ser humano
em seu processo final, onde há um compromisso com
a promoção do bem-estar da pessoa em fase terminal.
28. Mistanásia; é também denominada de morte
miserável, fora e antes da hora. três situações:
1º) a grande massa de doentes e
deficientes que, por motivos
políticos, sociais e econômicos,
não chegam a ser pacientes, pois
não conseguem ingressar
efetivamente no sistema de
atendimento médico.
29. 2º) os doentes que conseguem ser pacientes para, em
seguida, se tornar vítimas de erro médico e, terceiro.
30. 3º) Os pacientes que acabam sendo vítimas de má-
prática por motivos econômicos, científicos ou
sociopolíticos.
31. REFERÊNCIAS
1- Biondo CA, Silva MJP, Secco LMD. Distanásia,
eutanásia e ortotanásia: percepções dos enfermeiros
de unidades de terapia intensiva e implicações na
assistência. Rev. Latino-Am. Enfermagem
2009;17(5):613-19.
2- Mascarenhas NB, Rosa DOS. Bioética e formação
do enfermeiro: uma interface necessária. Texto
contexto - enferm. 2010;19(2):366-71.
3- Pessini L, Barchifontaine CP. Problemas atuais da
bioética. 7ª ed. São Paulo: Centro Universitário São
Camilo; 2005.