O documento descreve o movimento literário Parnasianismo no século XIX, caracterizado por uma ênfase na forma e perfeição métrica dos poemas, utilizando temas mitológicos e descrições objetivas. Os poetas parnasianos buscavam distanciar-se do sentimentalismo romântico, valorizando o trabalho do autor e a beleza formal dos versos. Exemplos de poemas de autores parnasianos brasileiros como Olavo Bilac, Raimundo Corrêa e Alberto de Oliveira ilustram essas características.
2. PARNASIANISMO
O Realismo, o Naturalismo e o Parnasianismo foram movimentos
literários contemporâneos: Realismo e Naturalismo na prosa, e
Parnasianismo na poesia.
Origem do Parnasianismo– O parnasianismo, cujo nome deriva
de Le Parnasse Contemporian, título de uma antologia francesa
de poemas, de 1866, surge na França, no fim do século XIX.
Contexto Histórico – O movimento parnasiano é concebido
como uma forma de RECUSA ao sentimentalismo e subjetivismo
românticos, numa época de grande progresso industrial e
desenvolvimento científico. A RACIONALIDADE então em voga
motiva os parnasianos a exaltar a forma e procurar a PERFEIÇÃO
e a BELEZA do verso nas métricas da ANTIGUIDADE CLÁSSICA.
3. Características:
• Formas poéticas tradicionais: com esquema métrico rígido, rima,
soneto.
• Purismo e preciosismo vocabular, com predomínios de termos eruditos,
raros, visando à máxima precisão, e de construções sintáticas refinadas.
Escolha de palavras no dicionário para escrever o poema com palavras
difíceis.
• Tendência descritivista, buscando o máximo de objetividade na
elaboração do poema, assim separando o sujeito criador do objeto
criado.
• Postura antirromântica, baseada no binômio: objetividade
temática/culto da forma.
• Referências à mitologia greco-latina.
• O esteticismo, a depuração formal, o ideal da “arte pela arte”. O tema
não é importante, o que importa é o jeito de escrever, a forma.
• A visão da obra como resultado do trabalho, do esforço do artista, que
se coloca como um ourives que talha e lapida a joia.
• Transpiração no lugar da inspiração romântica. O escritor precisa
trabalhar muito, “suar a camisa”, para fazer uma boa obra. O poeta é
comparado a um ourives.
4. Principais Temas
• Objetos raros e preciosos, que simbolizam a beleza e a perfeição,
como vasos, estátuas de mármore e joias
• Referência à mitologia Greco-romana, aos templos antigos e
descrevem cenas históricas, paisagens etc.
• Fazer poético, cultuando a língua e descrevendo o trabalho
poético como resultado de esforço, técnica e dedicação, em vez
de produto da inspiração.
O Parnasianismo brasileiro não é uma exata reprodução do modelo
francês, pois não obedece à mesma preocupação de objetividade,
de cientificismo e de descrições realistas como na França. Foge do
sentimentalismo romântico, mas não exclui totalmente o
subjetivismo. Sua preferência dominante é pelo verso alexandrino
de tipo francês, com rimas ricas, e pelas formas fixas, em especial o
soneto.
5.
6. Olavo Bilac:
Profissão de fé
[..] Mais que esse vulto extraordinário,
Que assombra a vista,
Seduz-me um leve relicário
De fino artista.
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.
[...]
Via Láctea - Soneto XIII
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
[...]
7. Raimundo Corrêa:
As pombas
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim
dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas,
serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas
voltam,
E eles aos corações não voltam mais...
Alberto de Oliveira:
Vaso Chinês
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.
Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.
Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?... de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura.
Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
8. Complicado e perfeitinho Parnaso
Complicada e perfeitinha
A rima apareceu
Romantismo combatia
Parnaso vem forte
E com a mitologia
O verso escreveu
Com a métrica certinha
E viva a arte!
Poesia ruim
o sentimento aflora
Esse tipo de poema, parnaso quer não
Quer rima rica, razão que manda agora
Objetiva é a linguagem, e viva a
descrição!
9. Eles queriam arte perfeita criar
A mais linda do mundo
Arte era tanta que sobre objetos preciosos, se escrevia
Forma fixa, o poeta adora
Disse que poesia é trabalho e não inspiração
Me diz Zeus, qual deus eu uso agora?
Já tem palavras rebuscadas rumo à perfeição
Brasil inventa
parnaso peculiar
Subjetivo em partes
Complicado e perfeitinho
O trio apareceu
Romantismo combatia
Parnaso vem forte
E com a mitologia
O verso escreveu
Com a métrica certinha
VIVA O BILAC!