O documento resume o movimento literário Parnasianismo no Brasil no final do século XIX, caracterizado pelo culto à forma e à beleza estética. Destaca Olavo Bilac como um dos maiores representantes, descrevendo dois de seus poemas que ilustram os ideais parnasianos de perfeição formal e linguagem objetiva e culta.
1. PARNASIANISMO – final do século XIX
Origem do nome: Vem do Monte Parnaso, região da Grécia onde moravam deuses
e musas. Lá os poetas buscavam a inspiração e o aprimoramento da técnica para a
composição artística.
Estilo: publicação da revista francesa “O Parnaso contemporâneo” com crítica ao
Romantismo (sentimentalismo exagerado) e ao Realismo/Naturalismo (denúncia
social).
No Brasil: Batalha do Parnaso
1882: Fanfarras, de Theófilo Dias, inicia o movimento no Brasil.
Olavo Bilac foi um dois maiores representantes do Parnasianismo no Brasil.
Essa escola literária nasceu na França por volta do ano 1850 e tinha como principais
características o positivismo e cientificismo.
Os escritores parnasianos prezavam pelo rigor da forma escrita, respeito às regras
gramaticais, vocabulário rico e erudito, rimas ricas e preferências por formas fixas
(por exemplo, os sonetos).
2. Linguagem objetiva, impessoal e culta.
Foco na descrição sem sentimentalismos. Negação do Romantismo.
Temas universais: fatos históricos, arte, paisagens, tempo e objetos,
de forma exótica e mitológica, além do fazer poético.
Erotismo e sensualidade feminina. Visão carnal da mulher.
Não tinham como objetivo retratar problemas sociais.
Busca da perfeição estética pelo uso preciso da palavra.
3. PROFISSÃO DE FÉ
Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor
Com que ele, em ouro, o alto relevo
Faz de uma flor.
Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.
Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.
Corre; desenha, enfeita a imagem,
A ideia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.
4. Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.
[...]
E horas sem conto passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento.
5. Porque o escrever – tanta perícia,
Tanta requer,
Que oficio tal… nem há notícia
De outro qualquer.
Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!
[...]
Olavo Bilac
6. Olavo Bilac, em Profissão de Fé, compara o poeta a um ourives, que trabalha
detalhadamente sua joia. Nesse poema codificou o seu credo parnasiano,
defendendo o culto do estilo, da pureza da linguagem e da correção da
forma.
Como poeta parnasiano, buscou a perfeição formal, a “arte pela arte”, o
trabalho artesanal da rima, da métrica, da
imagem.
As palavras são usadas para transformar o poema em joia rara de beleza.
7. LÍNGUA PORTUGUESA
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Olavo Bilac
8. • Com a metáfora “Última flor do Lácio, inculta e bela”, refere-se
ao fato de a língua portuguesa ter sido a última língua neolatina
formada a partir do latim vulgar – falado pelos soldados da
região italiana do Lácio.
• No segundo verso, há um paradoxo: “És a um tempo,
esplendor e sepultura”. “Esplendor”, porque uma nova língua
estava ascendendo, dando continuidade ao latim. “Sepultura”
porque, a partir do momento em que a língua portuguesa vai
sendo usada e se expandindo, o latim vai caindo em desuso,
“morrendo”.
• No terceiro e quarto versos, “Ouro nativo, que na ganga impura
/ A bruta mina entre os cascalhos vela”, o poeta exalta a língua
que ainda não foi lapidada pela fala, em comparação às outras
também formadas a partir do latim.
9. O poeta enfatiza a beleza da língua em suas diversas
expressões: “Amo-te assim, desconhecida e obscura,/ Tuba de
alto clangor, lira singela”.
Ao fazer uso da expressão “O teu aroma/ de virgens selvas e
oceano largo”, o autor aponta a relação subjetiva entre o
idioma novo e o “cheiro agradável das virgens selvas”,
caracterizando as florestas brasileiras ainda não exploradas
pelo homem branco. Ele manifesta a maneira pela qual a língua
foi trazida ao Brasil – através do oceano, numa longa viagem
de caravela.
10. • Ainda expressando o seu amor pelo idioma, agora através de
um vocativo, “Amo-te, ó rude e doloroso idioma”, Olavo Bilac
alude ao fato de que o idioma ainda precisava ser moldado e,
impor essa língua a outros povos não era um tarefa fácil, pois
implicou em destruir a cultura de outros povos.
• No último terceto, para finalizar, quando o autor diz: “Em que da
voz materna ouvi: “meu filho!/ E em que Camões chorou, no
exílio amargo/ O gênio sem ventura e o amor sem brilho”, ele
refere-se a Camões, quem consolidou a língua portuguesa no
seu célebre livro “Os Lusíadas”, uma epopeia que conta os
feitos grandiosos dos portugueses durante as “grandes
navegações”.
11. HINO À BANDEIRA
Salve lindo pendão da esperança!
Salve símbolo augusto da paz!
Tua nobre presença à lembrança
A grandeza da Pátria nos traz
Recebe o afeto que se encerra
Em nosso peito varonil
Querido símbolo da terra
Da amada terra do Brasil!
[...]
Olavo Bilac