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Parnasianismo: além da forma pela forma  Revisão de conteúdos, biografias e textos.
Parnasianismo: contexto O Parnasianismo surge na França, na década de 1860, com a publicação do coletivo de poetas: Le Parnasse Contemporain.
Parnasianismo: aspectos formais
Monte Parnaso, situado na antiga Delfos, próximo a Corinto. Apólo
Parnasianismo: aspectos formais Segue, nos próximos slides, uma análise detalhada do soneto, sua forma, que ajudam a esclarecer sua escolha como forma perfeita para os parnasianos.
Estudo comparativo: soneto  Desenvolvido no sul italiano, durante a Renascença,  formatado a partir da didática da “Poética”  de Aristóteles. É uma das formas mais utilizadas de poesia no Ocidente . Escolhida como a “forma perfeita” para o Parnasianismo, por seu detalhismo de versos, rimas e metrificação. Busque Amor novas artes, novo engenho,Para matar-me, e novas esquivanças,Que não pode tirar-me as esperanças,Que mal me tirará o que eu não tenho. Olhai de que esperanças me mantenho!Vede que perigosas seguranças!Que não temo contrastes nem mudanças,Andando em bravo mar, perdido lenho.   Mas, conquanto não pode haver desgostoOnde esperança falta, lá me escondeAmor um mal que mata e não se vê;   Que dias há que na alma me tem postoUm não sei quê, que nasce não sei onde,Vem não sei como, e dói não sei porquê. Camões, classicista (séc. XVI) "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto... E conversamos toda a noite, enquanto A via láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?" E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas.“ Bilac, parnasiano (séc. XIX). Tese ou proposição Desenvolvimento da tese contraposição ou antítese  Fecho de ouro ou Síntese ,[object Object]
 A dialética platônica (tese, antítese e síntese) é uma influência do pensamento neoplatônico sobre essa forma de poesia.,[object Object]
 Cada verso é formado de 10 sílabas poéticas (contudo, os acentos nas sílabas tônicas podem variar):Busque Amor novas artes, novo engenho, APara matar-me, e novas esquivanças, BQue não pode tirar-me as esperanças, BQue mal me tirará o que eu não tenho. A Olhai de que esperanças me mantenho! AVede que perigosas seguranças!  BQue não temo contrastes nem mudanças, BAndando em bravo mar, perdido lenho. A   Mas, conquanto não pode haver desgosto COnde esperança falta, lá me esconde DAmor um mal que mata e não se vê; E   Que dias há que na alma me tem posto  CUm não sei quê, que nasce não sei onde,  DVem não sei como, e dói não sei porquê. E Camões, classicista (séc. XVI) "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo   APerdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,  B Que, para ouvi-las, muita vez desperto  AE abro as janelas, pálido de espanto... BE conversamos toda a noite, enquanto  BA via láctea, como um pálio aberto, ACintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, B Inda as procuro pelo céu deserto. ADireis agora: "Tresloucado amigo! CQue conversas com elas? Que sentido DTem o que dizem, quando estão contigo?“ C E eu vos direi: "Amai para entendê-las!  EPois só quem ama pode ter ouvido DCapaz de ouvir e de entender estrelas.“ E Bilac, parnasiano (séc. XIX)
Parnasianismo no Brasil O Parnasianismo chega ao Brasil na década de 1870, firmou-se com a publicação de Sinfonias (1883), de Raimundo Correia. Desenvolve-se no Brasil como o “Realismo de Estilo”, uma contraposição ao Romantismo – a essa altura era marcantemente de 3ª geração, aquela dos abolicionistas e republicanos, marcada por uma retórica exagerada e apelativa, que não caiu no gosto popular –, contudo tendeu muito a sensibilidade, não apenas fixando-se no racionalismo neutro de um parnaso rígido.  Você pode encontrar mais informações e detalhes do desenvolvimento do Parnasianismo Brasileiro nas biografias dos três poetas ao lado. Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac: a trindade do parnaso brasileiro.
Olavo Bilac – o príncipe dos poetas Biografia Olavo Bilac (O. Braz Martins dos Guimarães B.), jornalista, poeta, inspetor de ensino, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 16 de dezembro de 1865, e faleceu, na mesma cidade, em 28 de dezembro de 1918. Um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, criou a Cadeira nº 15, que tem como patrono Gonçalves Dias. (...) Após os estudos primários e secundários, matriculou-se na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, mas desistiu no 4º. ano. Tentou, a seguir, o curso de Direito em São Paulo, mas não passou do primeiro ano. Dedicou-se desde cedo ao jornalismo e à literatura. (...) Fundou vários jornais, de vida mais ou menos efêmera, como A Cigarra, O Meio, A Rua. Na seção “Semana” da Gazeta de Notícias, substituiu Machado de Assis, trabalhando ali durante anos. É o autor da letra do Hino à Bandeira. Fazendo jornalismo político nos começos da República, foi um dos perseguidos por Floriano Peixoto. Teve que se esconder em Minas Gerais, quando freqüentou a casa de Afonso Arinos em Ouro Preto. No regresso ao Rio, foi preso. Em 1891, foi nomeado oficial da Secretaria do Interior do Estado do Rio. Em 1898, inspetor escolar do Distrito Federal, cargo em que se aposentou, pouco antes de falecer. Foi também delegado em conferências diplomáticas e, em 1907, secretário do prefeito do Distrito Federal. Em 1916, fundou a Liga de Defesa Nacional. Sua obra poética enquadra-se no Parnasianismo, que teve na década de 1880 a fase mais fecunda. Embora não tenha sido o primeiro a caracterizar o movimento parnasiano, pois só em 1888 publicou Poesias, Olavo Bilac tornou-se o mais típico dos parnasianos brasileiros, ao lado de Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.
Olavo Bilac – o príncipe dos poetas Fundindo o Parnasianismo francês e a tradição lusitana, Olavo Bilac deu preferência às formas fixas do lirismo, especialmente ao soneto. Nas duas primeiras décadas do século XX, seus sonetos de chave de ouro eram decorados e declamados em toda parte, nos saraus e salões literários comuns na época. Nas Poesias encontram-se os famosos sonetos de “Via-Láctea” e a “Profissão de Fé”, na qual codificou o seu credo estético, que se distingue pelo culto do estilo, pela pureza da forma e da linguagem e pela simplicidade como resultado do lavor. Ao lado do poeta lírico, há nele um poeta de tonalidade épica, de que é expressão o poema “O caçador de esmeraldas”, celebrando os feitos, a desilusão e morte do bandeirante Fernão Dias Pais. Bilac foi, no seu tempo, um dos poetas brasileiros mais populares e mais lidos do país, tendo sido eleito o “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, no concurso que a revista Fon-fon lançou em 1º. de março de 1913. Alguns anos mais tarde, os poetas parnasianos seriam o principal alvo do Modernismo. Apesar da reação modernista contra a sua poesia, Olavo Bilac tem lugar de destaque na literatura brasileira, como dos mais típicos e perfeitos dentro do Parnasianismo brasileiro. Foi notável conferencista, numa época de moda das conferências no Rio de Janeiro, e produziu também contos e crônicas
Profissão de Fé Le poète est ciseleur,Le ciseleur est poète.Victor Hugo. [Tradução livre: O poeta é ourives/  O ourives é poeta.] (...) Mais que esse vulto extraordinário, Que assombra a vista,Seduz-me um leve relicário De fino artista.Invejo o ourives quando escrevo:Imito o amorCom que ele, em ouro, o alto relevo Faz de uma flor.Imito-o. E, pois, nem de Carrara A pedra firo:O alvo cristal, a pedra rara, O ônix prefiro.Por isso, corre, por servir-me, Sobre o papelA pena, como em prata firme Corre o cinzel. Corre; desenha, enfeita a imagem, A idéia veste:Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem Azul-celeste. Torce, aprimora, alteia, lima A frase; e, enfim, No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim.Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina Sem um defeito:E que o lavor do verso, acaso, Por tão subtil,Possa o lavor lembrar de um vaso De Becerril.E horas sem conto passo, mudo, O olhar atento,A trabalhar, longe de tudo O pensamento.Porque o escrever - tanta perícia, Tanta requer,Que oficio tal... nem há notícia De outro qualquer.(...) Caia eu também, sem esperança, Porém tranqüilo,Inda, ao cair, vibrando a lança, Em prol do Estilo!
NelMezzodelCamin... Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigadaE triste, e triste e fatigado eu vinha.Tinhas a alma de sonhos povoada,E a alma de sonhos povoada eu tinha... E paramos de súbito na estradaDa vida: longos anos, presa à minhaA tua mão, a vista deslumbradaTive da luz que teu olhar continha. Hoje, segues de novo... Na partidaNem o pranto os teus olhos umedece,Nem te comove a dor da despedida. E eu, solitário, volto a face, e tremo,Vendo o teu vulto que desapareceNa extrema curva do caminho extremo. (Poesias, Sarças de fogo, 1888.) A Um Poeta Longe do estéril turbilhão da rua,Beneditino, escreve! No aconchegoDo claustro, no silêncio e no sossego,Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! Mas que na forma se disfarce o empregoDo esforço; e a trama viva se construaDe tal modo, que a imagem fique nua,Rica, mas sóbria, como um templo grego. Não se mostre na fábrica o suplícioDo mestre. E, natural, o efeito agrade,Sem lembrar os andaimes do edifício: Porque a Beleza, gêmea da Verdade,Arte pura, inimiga do artifício,É a força e a graça na simplicidade. (Tarde, 1919.)
Língua Portuguesa Última flor do Lácio, inculta e bela,És, a um tempo, esplendor e sepultura;Ouro nativo, que, na ganga impura,A bruta mina entre os cascalhos vela... Amo-te assim, desconhecida e obscura,Tuba de alto clangor, lira singela,Que tens o trom e o silvo da procela,E o arrolo da saudade e da ternura! Amo o teu viço agreste e o teu aromaDe virgens selvas e de oceanos largos!Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"E em que Camões chorou, no exílio amargo,O gênio sem ventura e o amor sem brilho! (Tarde, 1919.)  As Ondas Entre as trêmulas mornas ardentias,A noite no alto mar anima as ondas.Sobem das fundas úmidas Golcondas,Pérolas vivas, as nereidas frias: Entrelaçam-se, correm fugidias,Voltam, cruzando-se; e, em lascivas rondas,Vestem as formas alvas e redondasDe algas roxas e glaucas pedrarias. Coxas de vago ônix, ventres polidosDe alabatro, quadris de argêntea espuma,Seios de dúbia opala ardem na treva; E bocas verdes, cheias de gemidos,Que o fósforo incendeia e o âmbar perfuma,Soluçam beijos vãos que o vento leva... (Tarde, 1919.)
Biografia Raimundo Correia (R. da Mota de Azevedo C.), magistrado, professor, diplomata e poeta, nasceu em 13 de maio de 1859, a bordo do navio brasileiro São Luís, ancorado na baía de Mogúncia, MA, e faleceu em Paris, França, em 13 de setembro de 1911. [Em 1876] matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo. Ali encontrou um grupo de rapazes entre os quais estavam Raul Pompéia, Teófilo Dias, Eduardo Prado, Afonso Celso, Augusto de Lima, Valentim Magalhães, Fontoura Xavier e Silva Jardim, todos destinados a ser grandes figuras das letras, do jornalismo e da política. Em São Paulo, no tempo de estudante, colaborou em jornais e revistas. Estreou na literatura em 1879, com o volume de poesias Primeiros sonhos. Em 1883, publicou as Sinfonias, onde se encontra um dos mais conhecidos sonetos da língua portuguesa, “As pombas”. Este poema valeu a Raimundo Correia o epíteto de “o Poeta das pombas”, que ele, em vida, tanto detestou. (...) Em 22 de fevereiro de 1892, foi nomeado diretor da Secretaria de Finanças de Ouro Preto. Na então capital mineira, foi também professor da Faculdade de Direito. No primeiro número da Revista que ali se publicava, apareceu seu trabalho “As antiguidades romanas”. Em 97, no governo de Prudente de Morais, foi nomeado segundo secretário da Legação do Brasil em Portugal. Ali edita suas Poesias, em quatro edições sucessivas e aumentadas, com prefácio do escritor português D. João da Câmara. Por decreto do governo, suprimiu-se o cargo de segundo-secretário, e o poeta voltou a ser juiz de direito. Em 1899, residindo em Niterói, era diretor e professor no Ginásio Fluminense de Petrópolis. Raimundo Correia – o poeta das pombas
Em 1900, voltou para o Rio de Janeiro, como juiz de vara cível, cargo em que permaneceu até 1911. Por motivos de saúde, partiu para Paris em busca de tratamento. Ali veio a falecer. Seus restos mortais ficaram em Paris até 1920. Naquele ano, juntamente com os do poeta Guimarães Passos também falecido na capital francesa, para onde fora à procura de saúde foram transladados para o Brasil, por iniciativa da Academia Brasileira de Letras, e depositados, em 28 de dezembro de 1920, no cemitério de São Francisco Xavier. Raimundo Correia ocupa um dos mais altos postos na poesia brasileira. Seu livro de estréia, Primeiros sonhos (1879) insere-se ainda no Romantismo. Já em Sinfonias (1883) nota-se o feitio novo que seria definitivo em sua obra o Parnasianismo. Segundo os cânones dessa escola, que estabelecem uma estética de rigor formal, ele foi um dos mais perfeitos poetas da língua portuguesa, formando com Alberto de Oliveira e Olavo Bilac a famosa trindade parnasiana. Além de poesia, deixou obras de crítica, ensaio e crônicas.
Amor e Vida Esconde-me a alma, no íntimo, oprimida,Este amor infeliz, como se foraUm crime aos olhos dessa, que ela adora,Dessa, que crendo-o, crera-se ofendida. A crua e rija lâmina homicidaDo seu desdém vara-me o peito; embora,Que o amor que cresce nele, e nele mora,Só findará quando findar-me a vida! Ó meu amor! como num mar profundo,Achaste em mim teu álgido, teu fundo,Teu derradeiro, teu feral abrigo! E qual do rei de Tule a taça de ouro,Ó meu sacro, ó meu único tesouro!Ó meu amor! tu morrerás comigo! (Sinfonias, 1883.)   As Pombas Vai-se a primeira pomba despertada...Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenasDe pombas vão-se dos pombais, apenasRaia sanguínea e fresca a madrugada... E à tarde, quando a rígida nortadaSopra, aos pombais de novo elas, serenas,Ruflando as asas, sacudindo as penas,Voltam todas em bando e em revoada... Também dos corações onde abotoam,Os sonhos, um por um, céleres voam,Como voam as pombas dos pombais; No azul da adolescência as asas soltam,Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,E eles aos corações não voltam mais... (Sinfonias, 1883.)
A Cavalgada A lua banha a solitária estrada...Silêncio!... Mas além, confuso e brando,O som longínquo vem-se aproximandoDo galopar de estranha cavalgada. São fidalgos que voltam da caçada;Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando.E as trompas a soar vão agitandoO remanso da noite embalsamada... E o bosque estala, move-se, estremece...Da cavalgada o estrépito que aumentaPerde-se após no centro da montanha... E o silêncio outra vez soturno desce...E límpida, sem mácula, alvacentaA lua a estrada solitária banha... (Sinfonias, 1883.)   Mal Secreto Se a cólera que espuma, a dor que moraN’alma, e destrói cada ilusão que nasce,Tudo o que punge, tudo o que devoraO coração, no rosto se estampasse; Se se pudesse, o espírito que chora,Ver através da máscara da face,Quanta gente, talvez, que inveja agoraNos causa, então piedade nos causasse! Quanta gente que ri, talvez, consigoGuarda um atroz, recôndito inimigoComo invisível chaga cancerosa! Quanta gente que ri, talvez existe,Cuja aventura única consisteEm parecer aos outros venturosa! (Sinfonias, 1883.)
Biografia Alberto de Oliveira (Antônio Mariano A. de O.), farmacêutico, professor e poeta, nasceu em Palmital de Saquarema, RJ, em 28 de abril de 1857, e faleceu em Niterói, RJ, em 19 de janeiro de 1937. (...)Diplomou-se em Farmácia, em 1884, e cursou a Faculdade de Medicina até o terceiro ano, onde foi colega de Olavo Bilac, com quem, desde logo, estabeleceu as melhores relações pessoais e literárias. Bilac seguiu para São Paulo, matriculando-se na Faculdade de Direito, e Alberto foi exercer a profissão de farmacêutico. (....) Em 1892, foi oficial de gabinete do presidente do Estado, Dr. José Tomás da Porciúncula. De 1893 a 1898, exerceu o cargo de diretor geral da Instrução Pública do Rio de Janeiro. No Distrito Federal, foi professor da Escola Normal e da Escola Dramática. Com dezesseis irmãos, sendo nove homens e sete moças, todos com inclinações literárias, destacou-se Alberto de Oliveira como a mais completa personalidade artística. Ficou famosa a casa da Engenhoca, arrabalde de Niterói, onde residia, com os filhos, o casal Oliveira, e que era freqüentada, na década de 1880, pelos mais ilustres escritores brasileiros, entre os quais Olavo Bilac, Raul Pompéia, Raimundo Correia, Aluísio e Artur Azevedo, Afonso Celso, Guimarães Passos, Luís Delfino, Filinto de Almeida, Rodrigo Octavio, Lúcio de Mendonça, Pardal Mallet e Valentim Magalhães. Nessas reuniões, só se conversava sobre arte e literatura. Sucediam-se os recitativos. Eram versos próprios dos presentes ou alheios. Heredia, Leconte, Coppée, France eram os nomes tutelares, quando o Parnasianismo francês estava no auge. Alberto de Oliveira
Em seu livro de estréia, em 1877, as Canções românticas, (...) O anti-romantismo vinha da França, a partir de um plêiade de poetas reunidos no ParnasseContemporain, Leconte de Lisle, Banvill, Gautier. Nas Meridionais (1884) está o seu momento mais alto no que concerne à ortodoxia parnasiana. Concretiza-se o forte pendor pelo objetivismo e pelas cenas exteriores, o amor da natureza, o culto da forma, a pintura da paisagem, a linguagem castiça e a versificação rica. Essas qualidades se acentuam nas obras posteriores. Com os Sonetos e poemas, os Versos e rimas e, sobretudo, com as coletâneas das quatro séries de Poesias, que se sucederam nos anos de 1900, 1905, 1913 e 1928, é que ele patenteou todo o seu talento de poeta, a sua arte, a sua perfeita mestria. Foi um dos maiores cultores do soneto em língua portuguesa. Com Raimundo Correia e Olavo Bilac, constituiu a trindade parnasiana no Brasil.  (....) Tendo envelhecido tranqüilamente, Alberto de Oliveira pôde assistir, através de uma longa existência, ao fim da sua escola poética. Mas o fez com a mesma grandeza, serenidade e fino senso estético que foram os traços característicos da sua vida e da obra. O Soneto que abre a 4ª. série das Poesias (1928), "Agora é tarde para novo rumo/ dar ao sequioso espírito;..." sintetiza bem a sua consciência de poeta e o elevado conceito em que punha a sua arte. Durante toda a carreira literária, colaborou também em jornais cariocas: Gazetinha, A Semana, Diário do Rio de Janeiro, Mequetrefe, Combate, Gazeta da Noite, Tribuna de Petrópolis, Revista Brasileira, Correio da Manhã, Revista do Brasil, Revista de Portugal, Revista de Língua Portuguesa. Era um apaixonado bibliógrafo, e chegou a possuir uma das bibliotecas mais escolhidas e valiosas de clássicos brasileiros e portugueses, que doou à Academia Brasileira de Letras. Alberto de Oliveira
O Ídolo Sobre um trono de mármore sombrio,Em templo escuro, há muito abandonado,Em seu grande silêncio, austero e frioUm ídolo de gesso está sentado. E como à estranha mão, a paz silenteQuebrando em torno às funerárias urnas,Ressoa um órgão compassadamentePelas amplas abóbadas soturnas. Cai fora a noite - mar que se retrataEm outro mar - dois pélagos azuis;Num as ondas - alcíones de prata,No outro os astros - alcíones de luz. E de seu negro mármore no tronoO ídolo de gesso está sentado.Assim um coração repousa em sono...Assim meu coração vive fechado. (Canções românticas, 1878.)  Vaso Grego Esta de áureos relevos, trabalhadaDe divas mãos, brilhante copa, um dia,Já de aos deuses servir como cansada,Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. Era o poeta de Teos que a suspendiaEntão, e, ora repleta ora esvazada,A taça amiga aos dedos seus tinia,Toda de roxas pétalas colmada. Depois... Mas o lavor da taça admira,Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordasFinas hás de lhe ouvir, canora e doce, Ignota voz, qual se da antiga liraFosse a encantada música das cordas,Qual se essa voz de Anacreonte fosse. (Sonetos e poemas, 1886.)  
Vaso Chinês Estranho mimo aquele vaso! Vi-o.Casualmente, uma vez, de um perfumadoContador sobre o mármor luzidio,Entre um leque e o começo de um bordado. Fino artista chinês, enamorado,Nele pusera o coração doentioEm rubras flores de um sutil lavrado,Na tinta ardente, de um calor sombrio. Mas, talvez por contraste à desventura,Quem o sabe?... de um velho mandarimTambém lá estava a singular figura; Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,Sentia um não sei quê com aquele chimDe olhos cortados à feição de amêndoa. (Sonetos e poemas, 1886.)   A Janela e o Sol "Deixa-me entrar, - dizia o sol - suspendeA cortina, soabre-te! PrecisoO íris trêmulo ver que o sonho acendeEm seu sereno virginal sorriso. Dá-me uma fresta só do paraísoVedado, se o ser nele inteiro ofende...E eu, como o eunuco, estúpido, indeciso,Ver-lhe-ei o rosto que na sombra esplende." E, fechando mais, zelosa e firme,Respondia a janela: "Tem-te, ousado!Não te deixo passar! Eu, néscia, abri-me! E esta que dorme, sol, que não diriaAo ver-te o olhar por trás do cortinado,E ao ver-se a um tempo desnudada e fria?!" (Sonetos e poemas, 1886.)

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Parnasianismo

  • 1. Parnasianismo: além da forma pela forma Revisão de conteúdos, biografias e textos.
  • 2. Parnasianismo: contexto O Parnasianismo surge na França, na década de 1860, com a publicação do coletivo de poetas: Le Parnasse Contemporain.
  • 4. Monte Parnaso, situado na antiga Delfos, próximo a Corinto. Apólo
  • 5. Parnasianismo: aspectos formais Segue, nos próximos slides, uma análise detalhada do soneto, sua forma, que ajudam a esclarecer sua escolha como forma perfeita para os parnasianos.
  • 6.
  • 7.
  • 8. Cada verso é formado de 10 sílabas poéticas (contudo, os acentos nas sílabas tônicas podem variar):Busque Amor novas artes, novo engenho, APara matar-me, e novas esquivanças, BQue não pode tirar-me as esperanças, BQue mal me tirará o que eu não tenho. A Olhai de que esperanças me mantenho! AVede que perigosas seguranças! BQue não temo contrastes nem mudanças, BAndando em bravo mar, perdido lenho. A   Mas, conquanto não pode haver desgosto COnde esperança falta, lá me esconde DAmor um mal que mata e não se vê; E   Que dias há que na alma me tem posto CUm não sei quê, que nasce não sei onde, DVem não sei como, e dói não sei porquê. E Camões, classicista (séc. XVI) "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo  APerdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, B Que, para ouvi-las, muita vez desperto  AE abro as janelas, pálido de espanto... BE conversamos toda a noite, enquanto  BA via láctea, como um pálio aberto, ACintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, B Inda as procuro pelo céu deserto. ADireis agora: "Tresloucado amigo! CQue conversas com elas? Que sentido DTem o que dizem, quando estão contigo?“ C E eu vos direi: "Amai para entendê-las!  EPois só quem ama pode ter ouvido DCapaz de ouvir e de entender estrelas.“ E Bilac, parnasiano (séc. XIX)
  • 9. Parnasianismo no Brasil O Parnasianismo chega ao Brasil na década de 1870, firmou-se com a publicação de Sinfonias (1883), de Raimundo Correia. Desenvolve-se no Brasil como o “Realismo de Estilo”, uma contraposição ao Romantismo – a essa altura era marcantemente de 3ª geração, aquela dos abolicionistas e republicanos, marcada por uma retórica exagerada e apelativa, que não caiu no gosto popular –, contudo tendeu muito a sensibilidade, não apenas fixando-se no racionalismo neutro de um parnaso rígido. Você pode encontrar mais informações e detalhes do desenvolvimento do Parnasianismo Brasileiro nas biografias dos três poetas ao lado. Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo Bilac: a trindade do parnaso brasileiro.
  • 10. Olavo Bilac – o príncipe dos poetas Biografia Olavo Bilac (O. Braz Martins dos Guimarães B.), jornalista, poeta, inspetor de ensino, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 16 de dezembro de 1865, e faleceu, na mesma cidade, em 28 de dezembro de 1918. Um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, criou a Cadeira nº 15, que tem como patrono Gonçalves Dias. (...) Após os estudos primários e secundários, matriculou-se na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro, mas desistiu no 4º. ano. Tentou, a seguir, o curso de Direito em São Paulo, mas não passou do primeiro ano. Dedicou-se desde cedo ao jornalismo e à literatura. (...) Fundou vários jornais, de vida mais ou menos efêmera, como A Cigarra, O Meio, A Rua. Na seção “Semana” da Gazeta de Notícias, substituiu Machado de Assis, trabalhando ali durante anos. É o autor da letra do Hino à Bandeira. Fazendo jornalismo político nos começos da República, foi um dos perseguidos por Floriano Peixoto. Teve que se esconder em Minas Gerais, quando freqüentou a casa de Afonso Arinos em Ouro Preto. No regresso ao Rio, foi preso. Em 1891, foi nomeado oficial da Secretaria do Interior do Estado do Rio. Em 1898, inspetor escolar do Distrito Federal, cargo em que se aposentou, pouco antes de falecer. Foi também delegado em conferências diplomáticas e, em 1907, secretário do prefeito do Distrito Federal. Em 1916, fundou a Liga de Defesa Nacional. Sua obra poética enquadra-se no Parnasianismo, que teve na década de 1880 a fase mais fecunda. Embora não tenha sido o primeiro a caracterizar o movimento parnasiano, pois só em 1888 publicou Poesias, Olavo Bilac tornou-se o mais típico dos parnasianos brasileiros, ao lado de Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.
  • 11. Olavo Bilac – o príncipe dos poetas Fundindo o Parnasianismo francês e a tradição lusitana, Olavo Bilac deu preferência às formas fixas do lirismo, especialmente ao soneto. Nas duas primeiras décadas do século XX, seus sonetos de chave de ouro eram decorados e declamados em toda parte, nos saraus e salões literários comuns na época. Nas Poesias encontram-se os famosos sonetos de “Via-Láctea” e a “Profissão de Fé”, na qual codificou o seu credo estético, que se distingue pelo culto do estilo, pela pureza da forma e da linguagem e pela simplicidade como resultado do lavor. Ao lado do poeta lírico, há nele um poeta de tonalidade épica, de que é expressão o poema “O caçador de esmeraldas”, celebrando os feitos, a desilusão e morte do bandeirante Fernão Dias Pais. Bilac foi, no seu tempo, um dos poetas brasileiros mais populares e mais lidos do país, tendo sido eleito o “Príncipe dos Poetas Brasileiros”, no concurso que a revista Fon-fon lançou em 1º. de março de 1913. Alguns anos mais tarde, os poetas parnasianos seriam o principal alvo do Modernismo. Apesar da reação modernista contra a sua poesia, Olavo Bilac tem lugar de destaque na literatura brasileira, como dos mais típicos e perfeitos dentro do Parnasianismo brasileiro. Foi notável conferencista, numa época de moda das conferências no Rio de Janeiro, e produziu também contos e crônicas
  • 12. Profissão de Fé Le poète est ciseleur,Le ciseleur est poète.Victor Hugo. [Tradução livre: O poeta é ourives/ O ourives é poeta.] (...) Mais que esse vulto extraordinário, Que assombra a vista,Seduz-me um leve relicário De fino artista.Invejo o ourives quando escrevo:Imito o amorCom que ele, em ouro, o alto relevo Faz de uma flor.Imito-o. E, pois, nem de Carrara A pedra firo:O alvo cristal, a pedra rara, O ônix prefiro.Por isso, corre, por servir-me, Sobre o papelA pena, como em prata firme Corre o cinzel. Corre; desenha, enfeita a imagem, A idéia veste:Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem Azul-celeste. Torce, aprimora, alteia, lima A frase; e, enfim, No verso de ouro engasta a rima, Como um rubim.Quero que a estrofe cristalina, Dobrada ao jeito Do ourives, saia da oficina Sem um defeito:E que o lavor do verso, acaso, Por tão subtil,Possa o lavor lembrar de um vaso De Becerril.E horas sem conto passo, mudo, O olhar atento,A trabalhar, longe de tudo O pensamento.Porque o escrever - tanta perícia, Tanta requer,Que oficio tal... nem há notícia De outro qualquer.(...) Caia eu também, sem esperança, Porém tranqüilo,Inda, ao cair, vibrando a lança, Em prol do Estilo!
  • 13. NelMezzodelCamin... Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigadaE triste, e triste e fatigado eu vinha.Tinhas a alma de sonhos povoada,E a alma de sonhos povoada eu tinha... E paramos de súbito na estradaDa vida: longos anos, presa à minhaA tua mão, a vista deslumbradaTive da luz que teu olhar continha. Hoje, segues de novo... Na partidaNem o pranto os teus olhos umedece,Nem te comove a dor da despedida. E eu, solitário, volto a face, e tremo,Vendo o teu vulto que desapareceNa extrema curva do caminho extremo. (Poesias, Sarças de fogo, 1888.) A Um Poeta Longe do estéril turbilhão da rua,Beneditino, escreve! No aconchegoDo claustro, no silêncio e no sossego,Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua! Mas que na forma se disfarce o empregoDo esforço; e a trama viva se construaDe tal modo, que a imagem fique nua,Rica, mas sóbria, como um templo grego. Não se mostre na fábrica o suplícioDo mestre. E, natural, o efeito agrade,Sem lembrar os andaimes do edifício: Porque a Beleza, gêmea da Verdade,Arte pura, inimiga do artifício,É a força e a graça na simplicidade. (Tarde, 1919.)
  • 14. Língua Portuguesa Última flor do Lácio, inculta e bela,És, a um tempo, esplendor e sepultura;Ouro nativo, que, na ganga impura,A bruta mina entre os cascalhos vela... Amo-te assim, desconhecida e obscura,Tuba de alto clangor, lira singela,Que tens o trom e o silvo da procela,E o arrolo da saudade e da ternura! Amo o teu viço agreste e o teu aromaDe virgens selvas e de oceanos largos!Amo-te, ó rude e doloroso idioma, Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"E em que Camões chorou, no exílio amargo,O gênio sem ventura e o amor sem brilho! (Tarde, 1919.)  As Ondas Entre as trêmulas mornas ardentias,A noite no alto mar anima as ondas.Sobem das fundas úmidas Golcondas,Pérolas vivas, as nereidas frias: Entrelaçam-se, correm fugidias,Voltam, cruzando-se; e, em lascivas rondas,Vestem as formas alvas e redondasDe algas roxas e glaucas pedrarias. Coxas de vago ônix, ventres polidosDe alabatro, quadris de argêntea espuma,Seios de dúbia opala ardem na treva; E bocas verdes, cheias de gemidos,Que o fósforo incendeia e o âmbar perfuma,Soluçam beijos vãos que o vento leva... (Tarde, 1919.)
  • 15. Biografia Raimundo Correia (R. da Mota de Azevedo C.), magistrado, professor, diplomata e poeta, nasceu em 13 de maio de 1859, a bordo do navio brasileiro São Luís, ancorado na baía de Mogúncia, MA, e faleceu em Paris, França, em 13 de setembro de 1911. [Em 1876] matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo. Ali encontrou um grupo de rapazes entre os quais estavam Raul Pompéia, Teófilo Dias, Eduardo Prado, Afonso Celso, Augusto de Lima, Valentim Magalhães, Fontoura Xavier e Silva Jardim, todos destinados a ser grandes figuras das letras, do jornalismo e da política. Em São Paulo, no tempo de estudante, colaborou em jornais e revistas. Estreou na literatura em 1879, com o volume de poesias Primeiros sonhos. Em 1883, publicou as Sinfonias, onde se encontra um dos mais conhecidos sonetos da língua portuguesa, “As pombas”. Este poema valeu a Raimundo Correia o epíteto de “o Poeta das pombas”, que ele, em vida, tanto detestou. (...) Em 22 de fevereiro de 1892, foi nomeado diretor da Secretaria de Finanças de Ouro Preto. Na então capital mineira, foi também professor da Faculdade de Direito. No primeiro número da Revista que ali se publicava, apareceu seu trabalho “As antiguidades romanas”. Em 97, no governo de Prudente de Morais, foi nomeado segundo secretário da Legação do Brasil em Portugal. Ali edita suas Poesias, em quatro edições sucessivas e aumentadas, com prefácio do escritor português D. João da Câmara. Por decreto do governo, suprimiu-se o cargo de segundo-secretário, e o poeta voltou a ser juiz de direito. Em 1899, residindo em Niterói, era diretor e professor no Ginásio Fluminense de Petrópolis. Raimundo Correia – o poeta das pombas
  • 16. Em 1900, voltou para o Rio de Janeiro, como juiz de vara cível, cargo em que permaneceu até 1911. Por motivos de saúde, partiu para Paris em busca de tratamento. Ali veio a falecer. Seus restos mortais ficaram em Paris até 1920. Naquele ano, juntamente com os do poeta Guimarães Passos também falecido na capital francesa, para onde fora à procura de saúde foram transladados para o Brasil, por iniciativa da Academia Brasileira de Letras, e depositados, em 28 de dezembro de 1920, no cemitério de São Francisco Xavier. Raimundo Correia ocupa um dos mais altos postos na poesia brasileira. Seu livro de estréia, Primeiros sonhos (1879) insere-se ainda no Romantismo. Já em Sinfonias (1883) nota-se o feitio novo que seria definitivo em sua obra o Parnasianismo. Segundo os cânones dessa escola, que estabelecem uma estética de rigor formal, ele foi um dos mais perfeitos poetas da língua portuguesa, formando com Alberto de Oliveira e Olavo Bilac a famosa trindade parnasiana. Além de poesia, deixou obras de crítica, ensaio e crônicas.
  • 17. Amor e Vida Esconde-me a alma, no íntimo, oprimida,Este amor infeliz, como se foraUm crime aos olhos dessa, que ela adora,Dessa, que crendo-o, crera-se ofendida. A crua e rija lâmina homicidaDo seu desdém vara-me o peito; embora,Que o amor que cresce nele, e nele mora,Só findará quando findar-me a vida! Ó meu amor! como num mar profundo,Achaste em mim teu álgido, teu fundo,Teu derradeiro, teu feral abrigo! E qual do rei de Tule a taça de ouro,Ó meu sacro, ó meu único tesouro!Ó meu amor! tu morrerás comigo! (Sinfonias, 1883.)   As Pombas Vai-se a primeira pomba despertada...Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenasDe pombas vão-se dos pombais, apenasRaia sanguínea e fresca a madrugada... E à tarde, quando a rígida nortadaSopra, aos pombais de novo elas, serenas,Ruflando as asas, sacudindo as penas,Voltam todas em bando e em revoada... Também dos corações onde abotoam,Os sonhos, um por um, céleres voam,Como voam as pombas dos pombais; No azul da adolescência as asas soltam,Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,E eles aos corações não voltam mais... (Sinfonias, 1883.)
  • 18. A Cavalgada A lua banha a solitária estrada...Silêncio!... Mas além, confuso e brando,O som longínquo vem-se aproximandoDo galopar de estranha cavalgada. São fidalgos que voltam da caçada;Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando.E as trompas a soar vão agitandoO remanso da noite embalsamada... E o bosque estala, move-se, estremece...Da cavalgada o estrépito que aumentaPerde-se após no centro da montanha... E o silêncio outra vez soturno desce...E límpida, sem mácula, alvacentaA lua a estrada solitária banha... (Sinfonias, 1883.)   Mal Secreto Se a cólera que espuma, a dor que moraN’alma, e destrói cada ilusão que nasce,Tudo o que punge, tudo o que devoraO coração, no rosto se estampasse; Se se pudesse, o espírito que chora,Ver através da máscara da face,Quanta gente, talvez, que inveja agoraNos causa, então piedade nos causasse! Quanta gente que ri, talvez, consigoGuarda um atroz, recôndito inimigoComo invisível chaga cancerosa! Quanta gente que ri, talvez existe,Cuja aventura única consisteEm parecer aos outros venturosa! (Sinfonias, 1883.)
  • 19. Biografia Alberto de Oliveira (Antônio Mariano A. de O.), farmacêutico, professor e poeta, nasceu em Palmital de Saquarema, RJ, em 28 de abril de 1857, e faleceu em Niterói, RJ, em 19 de janeiro de 1937. (...)Diplomou-se em Farmácia, em 1884, e cursou a Faculdade de Medicina até o terceiro ano, onde foi colega de Olavo Bilac, com quem, desde logo, estabeleceu as melhores relações pessoais e literárias. Bilac seguiu para São Paulo, matriculando-se na Faculdade de Direito, e Alberto foi exercer a profissão de farmacêutico. (....) Em 1892, foi oficial de gabinete do presidente do Estado, Dr. José Tomás da Porciúncula. De 1893 a 1898, exerceu o cargo de diretor geral da Instrução Pública do Rio de Janeiro. No Distrito Federal, foi professor da Escola Normal e da Escola Dramática. Com dezesseis irmãos, sendo nove homens e sete moças, todos com inclinações literárias, destacou-se Alberto de Oliveira como a mais completa personalidade artística. Ficou famosa a casa da Engenhoca, arrabalde de Niterói, onde residia, com os filhos, o casal Oliveira, e que era freqüentada, na década de 1880, pelos mais ilustres escritores brasileiros, entre os quais Olavo Bilac, Raul Pompéia, Raimundo Correia, Aluísio e Artur Azevedo, Afonso Celso, Guimarães Passos, Luís Delfino, Filinto de Almeida, Rodrigo Octavio, Lúcio de Mendonça, Pardal Mallet e Valentim Magalhães. Nessas reuniões, só se conversava sobre arte e literatura. Sucediam-se os recitativos. Eram versos próprios dos presentes ou alheios. Heredia, Leconte, Coppée, France eram os nomes tutelares, quando o Parnasianismo francês estava no auge. Alberto de Oliveira
  • 20. Em seu livro de estréia, em 1877, as Canções românticas, (...) O anti-romantismo vinha da França, a partir de um plêiade de poetas reunidos no ParnasseContemporain, Leconte de Lisle, Banvill, Gautier. Nas Meridionais (1884) está o seu momento mais alto no que concerne à ortodoxia parnasiana. Concretiza-se o forte pendor pelo objetivismo e pelas cenas exteriores, o amor da natureza, o culto da forma, a pintura da paisagem, a linguagem castiça e a versificação rica. Essas qualidades se acentuam nas obras posteriores. Com os Sonetos e poemas, os Versos e rimas e, sobretudo, com as coletâneas das quatro séries de Poesias, que se sucederam nos anos de 1900, 1905, 1913 e 1928, é que ele patenteou todo o seu talento de poeta, a sua arte, a sua perfeita mestria. Foi um dos maiores cultores do soneto em língua portuguesa. Com Raimundo Correia e Olavo Bilac, constituiu a trindade parnasiana no Brasil. (....) Tendo envelhecido tranqüilamente, Alberto de Oliveira pôde assistir, através de uma longa existência, ao fim da sua escola poética. Mas o fez com a mesma grandeza, serenidade e fino senso estético que foram os traços característicos da sua vida e da obra. O Soneto que abre a 4ª. série das Poesias (1928), "Agora é tarde para novo rumo/ dar ao sequioso espírito;..." sintetiza bem a sua consciência de poeta e o elevado conceito em que punha a sua arte. Durante toda a carreira literária, colaborou também em jornais cariocas: Gazetinha, A Semana, Diário do Rio de Janeiro, Mequetrefe, Combate, Gazeta da Noite, Tribuna de Petrópolis, Revista Brasileira, Correio da Manhã, Revista do Brasil, Revista de Portugal, Revista de Língua Portuguesa. Era um apaixonado bibliógrafo, e chegou a possuir uma das bibliotecas mais escolhidas e valiosas de clássicos brasileiros e portugueses, que doou à Academia Brasileira de Letras. Alberto de Oliveira
  • 21. O Ídolo Sobre um trono de mármore sombrio,Em templo escuro, há muito abandonado,Em seu grande silêncio, austero e frioUm ídolo de gesso está sentado. E como à estranha mão, a paz silenteQuebrando em torno às funerárias urnas,Ressoa um órgão compassadamentePelas amplas abóbadas soturnas. Cai fora a noite - mar que se retrataEm outro mar - dois pélagos azuis;Num as ondas - alcíones de prata,No outro os astros - alcíones de luz. E de seu negro mármore no tronoO ídolo de gesso está sentado.Assim um coração repousa em sono...Assim meu coração vive fechado. (Canções românticas, 1878.)  Vaso Grego Esta de áureos relevos, trabalhadaDe divas mãos, brilhante copa, um dia,Já de aos deuses servir como cansada,Vinda do Olimpo, a um novo deus servia. Era o poeta de Teos que a suspendiaEntão, e, ora repleta ora esvazada,A taça amiga aos dedos seus tinia,Toda de roxas pétalas colmada. Depois... Mas o lavor da taça admira,Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às bordasFinas hás de lhe ouvir, canora e doce, Ignota voz, qual se da antiga liraFosse a encantada música das cordas,Qual se essa voz de Anacreonte fosse. (Sonetos e poemas, 1886.)  
  • 22. Vaso Chinês Estranho mimo aquele vaso! Vi-o.Casualmente, uma vez, de um perfumadoContador sobre o mármor luzidio,Entre um leque e o começo de um bordado. Fino artista chinês, enamorado,Nele pusera o coração doentioEm rubras flores de um sutil lavrado,Na tinta ardente, de um calor sombrio. Mas, talvez por contraste à desventura,Quem o sabe?... de um velho mandarimTambém lá estava a singular figura; Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,Sentia um não sei quê com aquele chimDe olhos cortados à feição de amêndoa. (Sonetos e poemas, 1886.)   A Janela e o Sol "Deixa-me entrar, - dizia o sol - suspendeA cortina, soabre-te! PrecisoO íris trêmulo ver que o sonho acendeEm seu sereno virginal sorriso. Dá-me uma fresta só do paraísoVedado, se o ser nele inteiro ofende...E eu, como o eunuco, estúpido, indeciso,Ver-lhe-ei o rosto que na sombra esplende." E, fechando mais, zelosa e firme,Respondia a janela: "Tem-te, ousado!Não te deixo passar! Eu, néscia, abri-me! E esta que dorme, sol, que não diriaAo ver-te o olhar por trás do cortinado,E ao ver-se a um tempo desnudada e fria?!" (Sonetos e poemas, 1886.)
  • 23. Bibliografia: Biografias, coletânea de textos: Academia Brasileira de Letras – www.abl.org.br Imagens: Apólo, Monte Parnaso – www.pt.wikipedia.org Demais imagens: http://www.google.com.br/imghp?hl=pt-BR&tab=ii Pesquisa e informações: Maria Luiza Abaurre. Literatura Brasileira Tempos Leitores e Leituras, Ed. Moderna.