1. espiral
boletim da associação FRATERNITAS MOVIMENTO
FRATERNIT
TERNITAS
N.º 29 - Outubro / Dezembro de 2007
Q uantas e quantas vezes temos recitado esta
invocação: «Enviai Senhor o Vosso Espírito
e tudo será criado! E renovareis a face da Terra!»
VINDE
Nestes últimos tempos ocorre-me muitas vezes este SANTO…
ESPÍRITO SANTO…
pensamento: porque não apelar a cada membro
do nosso Movimento que, no silêncio do seu cora-
ção, invoque o Espírito e escute a resposta que Ele
RENOV
E RENOVAREIS
lhe transmitirá? Eu próprio o tenho feito, e por isso frágil embarcação, procurámos estar atentos à von-
mesmo tomei a decisão de que vos quero falar. tade diversificada dos membros da Fraternitas, e con-
Quando em 2005 aceitei a escolha que de cretizar, inovando, as aspirações que foram sendo
mim fizeram para assumir a presidência da Fraternitas, expressas em várias ocasiões. Fizemo-lo sempre em
fi-lo com espírito de serviço, consciente de todas as espírito de serviço, e fomos procurando recolher os
minhas limitações e fraquezas, mas com vontade de sentimentos de todos face às inovações que fomos
ajudar a nossa caminhada com coração jovem e o introduzindo.
dinamismo possível, de que ainda disponho. Como é evidente, em todo o grupo humano há
Claro que nunca o poderia fazer sozinho, e por diferentes sensibilidades, são várias as perspectivas,
isso apelei a um conjunto de pessoas para que me é plural a visão das coisas. Isso é uma enorme ri-
acompanhassem nesse esforço e comigo fizessem queza, e o facto de nem todas as iniciativas agra-
essa mesma caminhada. Foram inexcedíveis de ge- darem do mesmo modo a todos os elementos, ape-
nerosidade e empenhamento, e em conjunto procu- nas significa que cada um vive a sua plenitude de
rámos fazer o melhor para que a Fraternitas seja de vida e de esperança de modo diversificado. Ainda
facto um «movimento», não uma mera e piedosa bem, e seria assustador se sucedesse doutra forma.
«associação» estática e saudosista, mas algo que Nunca esteve na nossa preocupação agradar a
procurasse sempre avançar, melhorar, experimentan- todos, porque isso só seria possível se nada fizésse-
do novos caminhos, tentando metodologias de ino- mos, se ficássemos no imobilismo repetitivo das coi-
vação, procurando ajudas internas e externas para sas. Toda a mudança tem o seu quê de inquietante,
reflectir, aprofundar, vivenciar em conjunto e parti- e aceitámos com tranquilidade as diferentes reac-
lha as nossas próprias experiências e sucessos, bem ções às diversas iniciativas tomadas. Com tranquili-
como as dificuldades e fracassos. dade mas com enorme respeito por cada opinião,
Ao longo deste tempo em que assumimos a res- por cada sensibilidade.
ponsabilidade de dirigir, nunca esquecendo as gran- Em Abril de 2008 no nosso Encontro Nacio-
2008,
des linhas de orientação do nosso querido P e Filipe
. nal, em Fátima, terá lugar a Assembleia-Geral para
Figueiredo, e daqueles que foram, no correr dos anos eleição por três anos dos órgãos directivos da
e desde o princípio, segurando o leme desta nossa Fraternitas. Ainda falta algum tempo, mas estas coi-
sas não se improvisam. Por isso, partilho convosco a
decisão de não me apresentar de novo a essa elei-
SumáRIO ção. Os meus companheiros de caminho já sabem
Vinde Espírito Santo e renovareis 1 desta decisão e temos dialogado sobre ela.
Padre Américo 2 O que nos parece é que não faz muito sentido a
prática que tem sido normal, não só na nossa como
Dossier: Curso de Actualização 3a7 na maioria das instituições. A Direcção cessante é
Hans Küng e a crise da Igreja 8 que sugere quem lhe deve suceder, e embora exista
sempre a possibilidade de aparecerem outras listas,
Carta de D. Manuel Falcão 8
(continua na pág. 2)
2. 2 espiral
(Continuação pág. 1) capacidades enormes de nos ajudar a todos a reno-
na prática todos se instalam na cómoda posição de var, e neste momento a Fraternitas necessita muito
deixar essa tarefa para os outros, nada se preocu- deles. Mas apenas se todos e todas se dispuserem a
pando com o assunto, e limitando-se a concordar isso é que poderemos avançar, dar mais passos no
ou não com a lista apresentada. caminho que encetámos e temos vindo a seguir.
É necessário que cada um vá pensando se não O ideal seria não que aparecesse uma única lista
lhe cabe porventura também a responsabilidade de para as eleições de Abril 2008, mas mais que uma,
sugerir uma lista, de encontrar um grupo de gente para que pudéssemos «escolher» de verdade. Quan-
que o acompanhe nas suas aspirações no que diz do se apresenta só uma lista, como podemos esco-
respeito ao futuro da Fraternitas, naquilo que enten- lher? Também entre nós as virtudes do espírito demo-
de que deve ser feito, modificado, melhorado, ino- crático se podem exercitar, mas as «listas únicas» não
vado. Sobretudo numa instituição como a nossa cuja ajudam nada a isso.
média de idade dos associados é relativamente ele- O Espírito sopra onde quer, mas se não nos dis-
vada, ainda se torna mais importante a renovação. pusermos a ouvir a Sua voz e abrir o nosso coração,
Renovar significa efectivamente «tornar novo», ou o Seu «sopro» não terá eficácia. Neste nosso último
seja, não deixar envelhecer, anquilosar, ficar na roti- Curso de Actualização realizado em Viseu, com a
na. E quando pedimos ao Espírito Santo que «renove excelente orientação de D. Ilídio Leandro, vivemos
a face da terra», estamos a pedir-Lhe que em tudo claramente essa enorme força da Palavra quando
haja «novidade», surpresa, atenção aos sinais dos nos dispusemos a «Escutar». Este é o momento de
tempos e das pessoas, capacidade de mudança, passar à prática essa «escuta» do Espírito.
espírito de juventude. Vasco Fernandes
Os nossos membros mais novos em idade têm
Pe AMÉRICO gente marginalizada tem de Deus. Não O conhe-
cem! Por isso passam sem Ele.
Há 120 anos, deram-lhe um nome - Américo Estamos em 1935. Padre novo, organiza uma
Monteiro de Aguiar -, cujas iniciais (AMA) tra-
Colónia de Férias do Garoto da Baixa de Coimbra.
çaram a sua vida e obra.
É pouco tempo! Mas dá uma dimensão nova à vida
É um marco na história recente da Igreja do
Porto; uma referência para todos. Revelou-se
essencialmente como um educador. «Não há rapa-
breve daqueles miúdos. Em 1940, aparece a pri-
meira Casa do Gaiato, em Miranda do Corvo...
depois a de Paço de Sousa...
zes maus» – uma máxima de toda a sua vida, uma O homem fraco, doente, multiplica-se. Os Lares
aposta de toda a sua actividade. Acreditava essen- de Rapazes, em Coimbra e no Porto, são outra eta-
cialmente que em cada jovem há um interior válido, pa fundamental no percurso da Obra da Rua, que
muitas vezes esquecido e, até, obscurecido. se vai afirmando e alargando. Mais a sul, abre uma
A 23 de Outubro teria completado 120 anos. casa para doentes incuráveis em Beire, Paredes.
Natural de Penafiel, foi o oitavo filho de uma nume- «O Gaiato» é o jornal oficial de toda a Obra da
rosa família. Jovem, emprega-se numa loja de fer- Rua. Partilha amor. Humaniza todas as situações. Os
ragens, no Porto. Tentando melhorar o nível de vida, problemas humanos são vistos nesta perspectiva. A
vai até Moçambique, onde se torna despachante. Fé e o Humano acompanham-se, transformam-se,
Regressa a Portugal questionado pela vida, insatis- apoiam-se, completam-se...
feito, e busca a paz interior e o equilíbrio da fé no O editor dá uma perspectiva, uma visão do Pai
Convento dos Franciscanos, em Tui, Espanha. Per- Américo. Num breve texto - «Pedaços de Doutrina» -
manece dois anos. Não é aquela vida contemplativa recorda a palavra de fé dele.
que procura! Ele contempla Deus vivo no homem, Eu, que nunca me encontrei com o Padre Américo,
imagem viva d’Ele. nem o ouvi falar, releio agora com muita emoção as
Continua a busca. Bate à porta do Seminário no suas palavras. São de facto palavras de vida.
Porto. Nada consegue... Há caminhos que têm de Incarnam Aquele que veio para que tivéssemos «vida
ser percorridos. E vai até Coimbra. Aí, o Bispo abre- em abundância». Há outras publicações, na mesma
-lhe as portas à ordenação sacerdotal. linha, que reproduzem textos ou comunicam o seu
É nomeado pároco, mas não chega a tomar pos- pensamento: «O Barredo», «O Pão dos Pobres».
se. Está debilitado, muito fraco! O Prelado confia-lhe Há pouco mais de 50 anos, Padre Américo foi
a «Sopa dos Pobres». Aqui, o padre Américo revela vítima de um acidente de viação. Mas continua vivo
as suas capacidades humanas e o homem de fé. na Obra da Rua e na memória do povo bom.
Num meio desfavorecido descobre a sede que aquela Joaquim Soares
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CURSO DE ACTUALIZAÇÃO - Viseu 5 a 7 de Outubro de 2007
A FORÇA TERAPÊUTICA DA PALAVRA
fonte de saúde e de paz por D. Ilídio Leandro, Bispo de Viseu
A «Fraternitas» reuniu-se em são da Igreja», e o Plano pastoral que as palavras, pode pensar que
Viseu para o Curso
da Diocese de Viseu para os três basta que o capelão do hospital
de Actualização, de 5 a 7
próximos anos também versa a seja como um bombeiro de servi-
de Outubro. Participaram
mesma temática... Reflectindo ço, à espera do pedido por escrito
perto de 50 membros,
e sorveram o tema
para vós e convosco, estou a ac- e assinado, para se poder aproxi-
que o «Espiral» publica tualizar-me, na diocese e na Igre- mar da cama do doente» (in Cor-
nest dossier,
nes t e dossier, a pensar ja Universal. Desculpai o egoísmo, reio do Vouga, 26.09.2007).
em todos aqueles que pois quero aprender muito Sabemos, também, a inutilida-
não puderam estar convosco. de das palavras quando elas não
presentes. A PALAVRA pode ser também têm nem transmitem conteúdo. En-
olhar, atitude, gesto... Isto é, uma tão, diz-se: «Só tem palavreado»...
E scolhi este tema pela sua
força e omnipresença na
nossa vida e pela carga terapêuti-
forma de comunicação e que,
como dizemos, no mal e no bem,
aqueles – gestos, atitudes e olha-
«Palavras leva-as o vento»...
«Parole, parole, parole»… «De
boas intenções está o inferno
ca que tem na nossa existência de res – podem valer por mil pala- cheio»... «Bem fala o Frei Tomás:
todos os dias. vras... segue o que ele diz, não o que ele
Não nos passa pela cabeça FORÇA TERAPÊUTICA... Sabe- faz»... Há, pois, o perigo de tor-
deixar de utilizar a palavra como mos todos que sim. Diz-se isto do nar a palavra inútil ou ofensiva…
forma de comunicação, seja para médico (alguém que, só por o ver Assim diz S. Tiago: «Cada um seja
nos declararmos e fazermos pre- ou ouvir, fica curado ou, pelo me- pronto para ouvir, lento para falar
sentes, seja para nos comunicar- nos, ficou melhor)... Poder-se-á e lento para se irar (…) e recebei
mos no nosso saber, no nosso dizer de qualquer área e, mesmo, com mansidão a Palavra em vós
darmo-nos e entregarmo-nos aos de qualquer pessoa. Uma pala- semeada, a qual pode salvar as
outros, no nosso acolhimento, no vra de paz, cria paz; de amor, gera vossas almas. Mas tendes de a pôr
nosso confiar e no nosso querer... amor; de vida, gera qualidade de em prática e não apenas ouvi-la,
Muitas vezes, e dadas determi- vida... Daqui a importância em enganando-vos a vós mesmos» (Tg
nadas e quase totais dependênci- acolher bem alguém que vem ter 1, 19.21-22). É a prova de que
as, é a força da palavra que nos connosco… ela é, de verdade, «mais afiada
torna livres e que nos permite a de- Não se diz que, hoje, há mui- do que toda a espada de dois
fesa dos nossos direitos e a afir- tos psicólogos e psiquiatras porque gumes» (cf Heb 4, 12) …
mação da nossa personalidade. não há tantos confessionários?!... PALAVRA tem origem no latim
Todos nós temos um conhecimen- O atendimento corrector e – VERBO. Verbo é um conteúdo, é
to inato deste valor, fruto da nossa respeitador de doentes psíquicos, a verbalização de uma acção.
natureza ou fruto da nossa experi- de supostos «possessos»… é im- Deve corresponder-lhe, sempre,
ência: mulheres e padres. portante para curar, libertar, ao jeito uma acção concreta ou o desejo
Porque é importante, e porque de Lc 4, 18-19. Também se dá o dela... É o centro e síntese da afir-
todos temos consciência deste va- contrário: guerras de palavras; mação e há pessoas que apenas
lor e da supremacia que dá a quem gestos que afastam; olhares que falam os verbos e tornam-se inteli-
a sabe usar e/ou manipular, há transmitem ódio e que gelam as gíveis, enquanto os artigos, prono-
que utilizá-la na recta ordem, tor- pessoas... mes, adjectivos, substantivos... são
nando-a fonte de saúde e de paz, Hoje, este tema está bem na or- incompletos no sentido...
para nós e para todos, e não o dem do dia, dadas as propostas Então, a Palavra mais comple-
contrário. que têm vindo a lume para as ta, é Jesus Cristo, o Verbo, Palavra
Porque me lembrei deste tema capelanias hospitalares. Diz, a este de Deus. É desta Palavra – torna-
e vo-lo propus? O próximo Síno- propósito, D. António Marcelino: da Pessoa no Verbo, Jesus Cristo –
do dos Bispos, a realizar em Ou- «Só quem nunca sentiu a comuni- que vamos, sobretudo, falar ou
tubro de 2009, tem como tema «A cação silenciosa de um gesto res- que vai estar na base da nossa
Palavra de Deus na vida e na mis- peitoso quando o silêncio diz mais reflexão nestes dias.
4. 4 espiral
CURSO DE ACTUALIZAÇÃO - Viseu 5 a 7 de Outubro de 2007
Jesus Cristo, a Palavra Criadora
e Redentora do Pai
N o princípio era o Verbo –
a Palavra –, e esta Pala-
vra é de Deus, é Deus, vem de
também há a ilicitude de «tentar
Deus». Daí, Deus, depois de ter
tentado e experimentado tantas
que estava a vida de tudo o que
veio a existir»... «O Verbo era a Luz
verdadeira»... «E o Verbo fez-Se
Deus e permanece eternamente (Jo formas, Ele próprio Se tornou Pa- homem e veio habitar connosco»...
1, 1-18). Torna-nos contemporâ- lavra. E Ela é Jesus Cristo, o Verbo Cristo é a Palavra de Deus e a
neos da sua pronúncia, destinatá- Encarnado, a Palavra eterna dita Sua força comunicadora. Esta co-
rios directos e em primeira-mão. pelo Pai (cf Heb 1, 1-3). municação realiza-se, em primei-
Faz de nós pessoas convocadas, De facto, a Palavra mais plena ro lugar, pela Criação, e, em se-
como protagonistas, para a sua re- e mais perfeita é Jesus Cristo. Ele é gundo, pela Redenção ou Nova
alização e para sermos testemu- a Palavra Criadora e Redentora do Criação. Uma e outra são acção
nhas do seu cumprimento. Pai. Podemos, numa linguagem de doação de Vida e de tudo o
O homem tem mostrado que humana, pensar este esquema: que significa amor.
precisa de ouvir Deus... No Antigo Deus – Verbo – Palavra – Pessoa –
Testamento fala-se da angústia Jesus Cristo – Palavra de Deus – PRIMEIRA CRIAÇÃO
perante o silêncio de Deus. Hoje Boa Nova – Evangelho (anuncia- São belas e significativas as Pa-
clama-se: «Senhor Padre, reze por do, vivido, celebrado). lavras da Criação (cf Gen. 1),
mim… Está mais perto de Deus… «No princípio existia o Verbo; o numa harmonia perfeita entre o
Deus, a mim, não me ouve.» Verbo estava com Deus; e o Verbo Deus que fala e o Deus que age:
Nota-se muitas vezes nesta pro- era Deus»... «Por Ele é que tudo é a Palavra que Se realiza. Anteci-
cura que, buscando todas as for- começou a existir»... «e sem Ele pa-se sempre com um refrão re-
mas de O descobrir e pôr a falar, nada veio à existência»... «N’Ele é petido em cada acção, lembran-
Mediação da Palavra
para encontrar, viver e transmitir paz e saúde
A Palavra de Deus é viva, é
realizadora, mais afiada
que a espada de dois gumes: ela
Homem, o Mandamento... E hoje,
para nós, o que é o Cristianismo?
O que resta de novidade, ou o que
Hebreus. Importa que a missão de
Jesus continue a ser vivida pelos
anunciadores da Igreja e que, pela
penetra até onde se dividem a vida sentimos de verdadeiramente novo verdade e transparência das nossas
do corpo e a do espírito, as articu- para nós, que tenhamos alegria, vidas, o anúncio seja significante e
lações e as medulas e é capaz de pressa, necessidade de anunciar significativo.
distinguir as intenções e os pensa- aos outros?... Precisamos de recu- A missão de Jesus Cristo vem
mentos do coração.» (Heb 4, 12). perar a Teologia da Notícia, o ver- anunciada em S. Lucas (cf Lc 4, 18-
A Palavra de Deus tem esta for- dadeiro carisma da Boa Nova da 19) e esta é a missão da Igreja:
ça – a de realizar para nós, hoje, Salvação, o autêntico fundamen- «Anunciar a Boa Nova aos pobres;
uma Nova Encarnação e uma to e conteúdo do Evangelho... proclamar a libertação aos cativos;
Nova Páscoa. Por isso, ela é, tam- Não duvidamos que a Palavra recuperar a vista aos cegos; mandar
bém, o conteúdo da Nova Evan- de Deus é caminho de «purifica- em liberdade os oprimidos; procla-
gelização. Faltam os novos discí- ção», como nos diz Jesus: «Vós já mar um ano favorável da parte do
pulos-missionários, com novos estais purificados pela palavra que Senhor; e, cumpriu-se hoje a Escri-
métodos, novas estratégias, nova vos tenho anunciado» (Jo 15, 3). tura que acabais de ouvir.»
linguagem, novo entusiasmo... Porém, será que nós nos deixamos O cristão é chamado a viver esta
Não é verdade que perdemos purificar, limpar, higienizar, com a passagem, tornando-se, pela pala-
o carácter de novidade, o especi- Palavra que acolhemos e anunci- vra, pela vida e pelo testemunho,
ficamente novo do Evangelho de amos aos outros?... um instrumento de cura, de liberta-
Jesus Cristo? N’Ele tudo é novo: o A Palavra tem uma força salu- ção (salvação) e de paz – um ins-
Testamento, a Aliança, a Vida, o tar, de acordo com a Epístola aos trumento de saúde integral, alguém
página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: geral@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: direccao@fraternitas.pt * pági
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CURSO DE ACTUALIZAÇÃO - Viseu 5 a 7 de Outubro de 2007
do, sempre, o poder criador da São, igualmente, verbos – palavras Nascimento de Jesus (cf Lc 2, 1-
Palavra. «Deus disse»: «Faça-se a – com imediata tradução na ac- 20): «Hoje, na cidade de David,
luz»... «e a luz foi feita». «Haja um ção realizadora, criadora e liber- nasceu-vos um Salvador, que é o
firmamento»... «e assim aconte- tadora (salvadora) de Deus: «O Messias Senhor.» = realizou-se o
ceu». «Reunam-se as águas» ... «e Senhor disse: Eu bem vi a opres- Plano de Deus...
assim aconteceu». «Que a terra são do Meu Povo. (...) Ouvi o seu «De repente, juntou-se ao anjo
produza»... «e assim aconteceu». clamor. (...) Conheço os seus so- uma multidão do exército celeste,
«Haja luzeiros no firmamento» ... frimentos. (...) Desci a fim de o li- louvando a Deus e dizendo: “Gló-
«e assim aconteceu». «Que as bertar. (...) E agora, eis que o cla- ria a Deus nas alturas e paz na ter-
águas sejam povoadas de inúme- mor dos filhos de Israel chegou até ra aos homens do Seu agrado” =
ros seres vivos»... Deus criou, se- Mim e vi também a tirania. (...) E e assim aconteceu...
gundo as suas espécies (...) e viu agora, vai. (...) Eu te envio... Faz
que isto era bom» (...) Que a terra sair o Meu povo.» PARA REFLECTIR
produza seres vivos» ... «e assim Que pensais da concordância
aconteceu». «Façamos o ser huma- PLENITUDE DOS TEMPOS entre a palavra e a acção, nas di-
no à Nossa imagem, à Nossa se- A Nova Criação acontece no versas áreas e dimensões da vida:
melhança. (...) Deus criou o ser hu- Anúncio do Nascimento de Jesus cultural, social, política e eclesial?
mano à Sua imagem, criou-o à ima- (cf Lc 1, 26-38): «Maria disse, en- Que poderemos aprender dos
gem de Deus; Ele os criou homem tão: “Eis a serva do Senhor, faça-se textos bíblicos que foram aponta-
e mulher»... em mim segundo a Tua palavra” = dos durante a reflexão?
faça-se em mim a Palavra de Deus Partilhai estas e as posteriores
REDENÇÃO = aconteça em mim a vontade de
reflexões para o correio electróni-
São igualmente significativas as Deus = Haja vida nova e salva-
co: direccao@fraternitas.pt.
Palavras da Redenção, que apa- ção...
E consultai os comentários em
recem já, como tipo e promessa, «E o anjo retirou-se de junto
no Livro do Êxodo (cf Ex 3, 7-10). dela» = e assim aconteceu... no www.fraternitas.pt.
que, em cada situação, conhece, laremos com muita mais eficá- Importa que eu leia e fale da
vive e anuncia a Boa Nova, com cia!... Palavra de Deus como um conjun-
o testemunho da própria vida. Quando a Palavra de Deus é to de cartas de amor que Deus nos
Este desafio à Igreja Jesus fê-lo colocada nas mãos de pessoas foi escrevendo ao longo da histó-
no Mandato (Mt 28, 18-20), no simples, os frutos aparecem. É uma ria e que, às minhas, ainda não
envio dos 72 discípulos e na fina- das experiências da leitura orante lhes respondi, ou, talvez, ainda não
lidade da sua experiência apos- da Bíblia. Porque toda a pessoa as compreendi, ou, mesmo, não
tólica e missionária: saudação, tem a capacidade de conhecer abri muitas delas...
desejo da paz, curas, anúncio: Deus. Em cada uma existem as «se- Hoje, ao ler-se a Palavra de
«Dizei-lhes: “Está perto de vós o mentes do Verbo» e a certeza de Deus, deveria sempre dizer-se:
Reino de Deus.” (L2 10, 1-12). que a conversão é um «retorno», é “Leitura da Carta de S. Paulo (…)
Para isto, é necessário que se- um «voltar». Significa também que, aos cristãos de Viseu, Porto, Lis-
jamos coerentes e que a nossa quando vamos anunciar o Evan- boa”… e tirar-se o «naquele tem-
vida tenha consequências... As gelho a alguém ou lhe comunica- po», pois é no hoje da nossa his-
bem-aventuranças, a Eucaristia, os mos a Palavra, Deus já lá está, an- tória que Deus nos quer falar por
frutos do Espírito Santo(... ) são tecipando-Se sempre, pois Ele é Jesus Cristo.
exemplos de coerência que devem Quem prepara o coração de al- E a interpretação da Palavra de
tornar o nosso ser cristão guém para O receber. Ele é Quem Deus deve ser feita também para
deontologicamente consciente e parte sempre ao encontro de hoje, para as pessoas e os acon-
competente. Teremos a confirma- quem está perdido… tecimentos de hoje.
ção da palavra de Jesus (Ele refe-
re que há coisas que são escondi- PARA REFLECTIR
das aos sábios e reveladas, por- Qual a importância da comunicação social que temos? Como nos
que compreendidas pelos simples influencia? Como poderá ser evangélica e evangelizadora?
e humildes) sempre que formos Como vencer o anonimato em que se vive através do acolhimento,
simples e humildes, pois compre- do silêncio e da escuta dos outros? Como criar novos estilos de relaci-
enderemos muito melhor e reve- onamento entre pessoas?
ina oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: secretariado@fraternitas.pt * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: tesoureiraria@fraternitas.pt
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CURSO DE ACTUALIZAÇÃO - Viseu 5 a 7 de Outubro de 2007
O PODER DO SILÊNCIO ter, no coração, um lugar para o
outro que vem ao meu encontro).
O silêncio é a atitude de
quem quer escutar, quer
falar e, sobretudo, quer praticar a
tros órgãos de comunicação social
– nos debates políticos, por exem-
plo?...
Levar as palavas a sério é le-
var os outros a sério mas, deve ser
também, não prejudicar ninguém
Palavra. A força e o valor do Silêncio com palavras ocas, precipitadas
Silêncio, escuta, anúncio, prá- estão na oportunidade que ele dá e agressivas. Posso dizer que nun-
tica. Cada aspecto não é valor à contemplação... manifestam-se ca me arrependi por ter deixado
absoluto em si mesmo, mas está na riqueza e força e transparência de dizer palavras... Arrependi-me
em relação com outros e em fun- do olhar, na beleza e serenidade de dizer algumas e, por vezes, não
ção de outros, e o seu objectivo e expressividade do sorriso... descanso enquanto não peço des-
final é a comunhão. Nisto tem se- O silêncio faz-nos escutar, rece- culpa por ter dito determinadas
melhanças com a vida da Trinda- ber e saborear a Palavra de Deus palavras... Sei que, com algumas
de. Ela é uma relação para que o como se a ouvíssemos no Paraíso palavras, outras pessoas ficaram
Outro viva e Se construa sempre terrestre, de mãos dadas com Deus a sofrer e se não foi por amor e
na comunhão. que passeia connosco... Leva-nos, para as ajudar, eu não tinha o di-
O Silêncio está em função da também, a escutar, receber e sa- reito de as pronunciar, somente por
Escuta da Palavra. O Anúncio está borear, interiormente, as palavras vaidade, vingança, nervosismo ou
em função da necessidade de co- dos outros, como se deixássemos fraqueza...
municar a Palavra. A Prática da Pa- entrar os outros no coração, antes As nossas palavras deveriam
lavra está em função da autentici- de lhes darmos a resposta... Não conter sempre, de uma forma cla-
dade da mesma Palava, para que vem daqui a expressão de «dormir, ra, uma Boa Notícia, uma Boa
ela, tal qual a semente que nos é primeiro, sobre o travesseiro»? Ou Nova, de forma a que, a nossa
entregue, possa ser acolhida, ger- de «contar até 10, antes de respon- presença, junto de outrém, deixas-
mine e dê fruto. der»?... No fundo, é acolher o ou- se sempre uma sensação de novi-
Não é fácil aceitar, entender e tro no coração e, a partir daqui, ter dade feliz ou de coragem, paz e
viver o Silêncio. Normalmente, o disponibilidade de tempo, de reló- confiança... Deveríamos ter o gos-
Silêncio mete medo e traz insegu- gio, de agenda e, sobretudo, de to de ser mensageiros de boas
rança. A pessoa fala, por vezes, coração para escutar até ao fim… novas de paz, de alegria e de
sem ter nada a comunicar mas, Há necessidade de amor, ainda que tenhamos que
somente, para não se pôr em docificarmos o coração, a cabeça calar algumas... É importante re-
questão e para não ser confron- e a vida e, para isto, não há como flectir e cumprir a mensagem do
tada com as suas inseguranças... deixarmos, pelas palavras, que os adágio: «Dos outros, se não po-
Por isso, as nossas palavras não outros entrem no meu coração e, des dizer bem, não digas nada».
produzem efeitos... São banais e com as suas palavras, higienizarmos Que belo exemplos os casos
são, tantas vezes, puros ruídos. a cabeça, o coração e a vida para, de Zaqueu, da Samaritana, da
Além disso, ao não criar con- ao falarmos, não reagirmos pela mulher pecadora, do filho pródi-
dições de Silêncio, não há capa- força do instinto mas pela go, de Pedro... Não foram, em
cidade de reflexão, de assimila- afectividade da misericórdia (isto é, caso algum, os muitos argumen-
ção, de aprofundamento, de tos que mudaram as suas vidas.
personalização... e as palavras e Foi, e é sempre, a proximidade, o
REFLECTIR EM CASAL
as vidas tornam-se muito superfi- olhar, o acolhimento, a ternura...,
ciais, muito ocas e vazias. Usam-se que levam à mudança... É o pre-
Como é a nossa relação de di-
as palavras não para transmitir ferir a misericórdia ao sacrifício...
álogo, de contemplação, de aco-
paz, saúde, experiências de vida, Normalmente, como procedo
lhimento e de escuta? Que pode-
mas para tirar aos outros a opor- eu?... Importa reforçar a necessi-
ria modificar-se na nossa vida con-
tunidade de falar... às vezes, para dade de coerência entre «palavra»
jugal e familiar?
comunicar agressividade, acusa- e «acontecimento», isto é, entre o
O que poderá a relação
ção, auto-suficiência, “egos”... que digo e o que faço. De outra
Trinitária ensinar à nossa vida de
ou, então, para não ouvir nem forma, posso deixar de ser leva-
casal, de família e de convivência
deixar ouvir o que o outro pode do a sério: na família, na profis-
social?
querer comunicar, pondo-me em são, na vida (como o rapaz que
Qual a importância da oração
questão... Não é isto que, por ve- guardava o rebanho e gostava de
para o casal e a família cristãos?
zes, vemos – nas televisões e ou- brincar ao «aí vem lobo!».
7. espiral 7
CURSO DE ACTUALIZAÇÃO - Viseu 5 a 7 de Outubro de 2007
CADA PESSOA É PALAVRA DE PAZ E SAÚDE
C ada pessoa é uma Pala-
vra de Deus e, como tal,
é convidada a ser uma mensagem
todos os que andais cansados… Eu
vos aliviarei»; «Vou preparar-vos um
lugar»; «Onde dois ou três estão
depende sempre de nós. Não se-
jamos nunca como aquele mari-
do que jamais se lembra dos ani-
a anunciar a beleza, o bem, a ver- reunidos no Meu nome Eu estou versários da esposa ou dos fi-
dade. Como e com que palavras no meio deles»; «Eu estarei lhos… Porém, não guardemos
poderemos ser Paz e Saúde para convosco até ao fim dos tempos»; também os momentos difíceis em
os outros, sobretudo para os que «Façamos Festa». «gavetas», que abrimos de tempos
nos estão mais próximos? Para Deus, ninguém está lon- a tempos e nas situações mais di-
As «palavras» mais compreen- ge, perdido, afastado. Deus não fíceis, para atirar à cara do outro.
síveis e mais eficazes são: atitudes, conhece a derrota. Ele nunca Se Para sermos pessoas e sinais a
olhar, gestos, palavras, por esta desilude com ninguém. Ele vai sem- comunicar paz e saúde, temos que
ordem. Todas elas, fundamentadas pre até ao fim, por cada um. A viver estas dimensões na nossa pró-
em sentimentos válidos, sinceros e conversão é sempre um reencon- pria vida. Isto acontece quando o
duradoiros, são capazes de ven- tro e um retorno, pois Deus não nosso olhar e pensamento sobre a
cer todas as vicissitudes. Se vai embora. Ele volta-Se. Ain- pessoa de alguém é de amor, de
Nestas diversas «palavras» há da que cada um de nós desistisse, misericórdia, de confiança, de aco-
expressões que são (con)sagradas Deus estava lá – Jer 1, 5-8. Aqui lhimento.
e que transportam uma força ca- sente-se a força evangelizadora da É cumprir a Carta de S. Tiago,
paz de levar calma, serenidade, Palavra, quando ela é movida pela quando nos diz: «Mas tendes de a
amor. Vejamos algumas na Bíblia: Esperança (cf Jer 1, 9-12). pôr em prática e não apenas ouvi-la,
«Eu te perdoo os teus pecados. A glória de Deus é o homem enganando-vos a vós mesmos.
Vai em paz»; «Ninguém te conde- que vive. Ele diz: «Amo-te.» Dizer a Porque, quem se contenta com ou-
nou? Eu também não te condeno. outro «amo-te» é dizer-lhe: «Tu não vir a palavra, sem a pôr em prática,
Vai em paz»; «Eu sou a ressurrei- morrerás», «tu és alguém que eu assemelha-se a alguém que con-
ção e a vida»; «Já não vos chamo admiro e de quem gosto muito, tal templa a sua fisionomia num espe-
servos, mas amigos»; «Meu Pai é como és», «não penses mais nisso lho; mal acaba de se contemplar,
também vosso Pai»; «Deus amou – perdoo-te e conta sempre comi- sai dali e esquece-se de como era.
de tal modo o mundo que lhe deu go. Eu quero, também, contar con- Aquele, porém, que medita com
o Seu Filho único»; «Eu vim para tigo», «és uma pessoa fantástica... atenção a lei perfeita, a lei da liber-
que tenham vida e vida em abun- Porém, se fizesses desta maneira, dade, e nela persevera – não como
dância»; «Ninguém tem maior amor serias muito melhor...» quem a ouve e logo se esquece,
do que Quem dá a vida por aque- Há um outro aspecto importan- mas como quem a cumpre – esse
les que ama»; «Eu sou o Pão da te: habituemo-nos a «fazer memó- encontrará a felicidade ao pô-la em
vida»; «Eu sou a Luz do mundo»; ria» agradecida e reconcilia-dora prática» (Tg 1, 22-25).
«Eu sou o Bom Pastor»; «Eu sou o dos outros... Evoquemos os
Caminho, a Verdade e a Vida»; momentos felizes das nossas
«Não fostes vós que Me relações, como se de um di-
escolhestes; Eu vos escolhi a vós»; ário, um álbum se tratasse,
«Permanecei em Mim e Eu perma- e acreditemos que essa feliz
necerei em vós»; «Vinde a Mim, vós e encorajadora recordação
DOMINGOS MOREIRA: a lição da paz e da aceitação
Ao meio-dia de 1 de Novembro, festa de Todos os San-
tos, no Hospital de Stº. António, no Porto, Deus chamou a Si
o nosso querido Domingos Moreira, que esteve internado um
mês com graves complicações pulmonares. Um tumor cere-
bral limitou-o mais de nove anos, com altos e baixos, em grande sofrimento e fortes incapacidades.
No entanto, nunca se revoltou, se lamuriou, se impacientou. Deixou-nos uma tremenda lição, sempre
com um sorriso pacífico, e sem uma queixa. Mais um dos nossos queridos sócios que intercede por nós!
À Celeste e ao seu filho Gilberto, a Fraternitas leva aquele abraço, e contem sempre connosco!
8. RATZINGER INTRIGUISTA
UM RATZINGER INTRIGUISTA
Hans Küng O teólogo suíço evoca também a relação difícil
com o colega Ratzinger e tem palavras extremamen-
e a crise da Igreja te duras para com o Papa actual: «Manifestou aquilo
Hans Küng acrescentou um volume às suas que era – um polícia. Submeteu-se à Cúria Romana,
memórias. O texto faz transparecer a sua co- denunciando-me e fazendo-me condenar como não
ragem e liberdade na fé e no pensamento. católico, e jogou um jogo duplo: escrevia-me cartas
de reconciliação e preparava sanções contra mim.»
O teólogo suíço Hans Küng acaba de editar
o segundo tomo das suas memórias com o
título «Verdade controversa». Esta obra de mais de
É sobretudo a duplicidade que revolta Hans Küng,
dissimulação de que se queixou também Bernhard
700 páginas, com uma escrita agradável, tendo nu- Haering, igualmente perseguido pelo Santo Ofício.
merosas estórias e referências, constitui uma fonte pri- Suave e benevolente na aparência, o Cardeal
morosa sobre a história da Igreja do tempo presen- Ratzinger afiava o cutelo e cravava-o pelas costas.
te. Cobre o período que vai de 1968 a 1979. Ao ser nomeado Arcebispo de Munique e Carde-
O teólogo evoca no livro a sua relação, primeiro al em 1977, Joseph Ratzinger poderia ter facilitado
amigável e, depois, conflituosa com o seu confrade o entendimento com Küng. De facto, aproximou-se
Joseph Ratzinger, o qual preferiu a carreira eclesiásti- do Cardeal Arcebispo de Colónia, Joseph Hoeffner,
ca à liberdade de pensamento. Segundo o professor um tradicionalista convicto, e dizia o pior possível de
Küng «os nossos caminhos de vida avançam em pa- Küng ao Prefeito da Congregação para a Doutrina
ralelo, distanciam-se e cruzam-se de novo». da Fé, o Cardeal Franjo Kuharic. Este, de origem
Na conferência de imprensa de apresentação, que croata, era, por temperamento, mais propenso à in-
se estendeu ao período que será tratado no terceiro dulgência e à complacência, mas não resistia à se-
livro, o teólogo suíço rebelde apresenta João Paulo II veridade do temível Secretário do Santo Ofício de
como um Papa conservador, um homem pouco aber- então, o dominicano Monsenhor Jean-Jérôme Hamer.
to, abrupto e inflexível. Mas evoca principalmente o Sem o equiparar a Joseph Ratzinger, Küng critica
seu encontro a 30 de Julho de 1983 com o Cardeal igualmente o Cardeal Kaarl Lehmann, actual Bispo
Ratzinger, então Prefeito da Congregação para a de Mongúncia e presidente da Conferência dos Bis-
Doutrina da Fé. Foi um autêntico diálogo de surdos. pos Alemães. Censura-o principalmente por não o
Só em 2005, isto é, 22 anos mais tarde, o professor ter apoiado. Jovem e brilhante teólogo de Friburgo,
Küng virá a encontrar-se de novo com o seu antigo Monsenhor Lehmann quis fazer carreira. Segundo
colega, entretanto feito Papa. outras fontes, sendo herdeiro de grandes prelados
Hans Küng, que teve de ajustar contas com Roma liberais, como o Cardeal Franz Koenig e Julius
num passado recente, desenha um quadro bastante Doepfner, Kaarl Lehmann privilegiava o diálogo, que
sombrio da crise actual da Igreja, directamente rela- o tom, por vezes incisivo de Küng, é preciso reconhe-
cionado com o recuo conservador e o aumento da cer, não facilitava.
tEXTO: Réginal Urtebize
intransigência. A impressão contrária deve-se à dife- Tradução: Carlos Leonel
rença de evolução entre os países e nomeadamente
no que toca à secularização que atingiu menos os
países do terceiro mundo, para já, pelo menos. Carta de D. Manuel Falcão, Bispo emérito de Beja
No diário suíço em alemão SonntagsZeitung, de Acabo de passar a vista pelo número 28 do Espi-
16 de Setembro, o professor Küng insiste particular- ral. Felicito pelo encontro com o Senhor D. Ilídio Le-
mente na falta de padres. Porque não podem pôr andro em Outubro próximo.
em causa certas regras estéreis como a do celibato, Li com interesse o relato das «Férias Missionári-
e encarar novas formas de ministério sacerdotal, os as», que me fizeram lembrar os apelos do actual Papa
Bispos mostram-se evasivos a respeito de assunto tão para o Dia das Missões, no 50.º aniversário da céle-
dramático. Tanto mais que, segundo ele, as mulhe- bre Encíclica Fidei Donum de Pio XII.
res são consideradas «crentes de banda estreita». Na Achei curiosa e oportuna a intervenção de Manuel
realidade, porém, numerosas comunidades paroqui- Paiva sobre o bom “português”.
ais estilhaçar-se-iam se as mulheres as não levassem Fiquei com dúvidas sobre o que escreveu o Carlos
à cabeça e às costas. Leonel sobre a liberdade na Igreja.
Segundo Küng, as coisas mudariam, por exem- Faço votos para que a Associação “Fraternitas”
plo na Suíça, se os paroquianos de base se revoltas- continue a sua missão de alertar os sacerdotes que,
sem: «É razoável colocar a questão se se deverá con- na actual disciplina da Igreja, deixaram o exercício das
tinuar a entregar impostos às dioceses quando não ordens, mas sem terem perdido o desejo sincero de
há padres nas paróquias.» continuar ao serviço do Reino de Deus na Terra.
espiral Boletim da Associação
Fraternitas Movimento
Responsável: Fernando Félix
Praceta dos Malmequeres, 4 - 3.º Esq.
N.º 29 - Outubro/Dezembro de 2007 Massamá / 2745-816 Queluz
www.fraternitas.pt e-mail: fernfelix@gmail.com