aula de codigo de etica dos profissionais da enfermagem
Transtornos do uso de substâncias na mulher perinatal
1. Como são os Transtornos do uso
de substâncias e a mulher no
período perinatal?
HEWDY LOBO RIBEIRO
COMISSÃO DE SAÚDE MENTAL DA MULHER - ABP
PSIQUIATRA FORENSE E PSICOGERIATRA – ABP
2. Mulher no período perinatal
Gestação é caracterizada como um dos períodos mais
marcantes que compõem o ciclo vital da mulher
Gravidez e fase puerperal impactam de forma importante a
vida da mulher, principalmente primíparas
Alterações são devidas às mudanças físicas (fatores
hormonais), psicológicas (relacionadas aos cuidados no
recém-nascido) e sociais (questões contextuais)
Transformações desafiam a capacidade de adaptação, e
repercute no humor, bem-estar, relacionamento com
amigos, familiares, e parceria
(Ribeiro et al, 2016)
3. O uso no período perinatal
Gestantes com Transtorno por Uso de Substância (TUS) sofrem estigma social
e preconceito
Dados sobre epidemiologia do consumo são limitados - provável que muito
abaixo da realidade - não contam por medo de serem repreendidas,
julgadas e punidas
Cannabis - substância ilícita mais utilizada por gestantes e puérperas
3% a 10% mundialmente
Este momento pode representar fator proteção em que a gestante escolhe
parar de usar motivada pela saúde do bebê e pela nova fase
Porém estudos demonstram que há a urgência em pensar alternativas de
tratamento para mulheres que não interrompem o consumo
Dificuldades e estresse gerados pela gestação podem representar fator de risco,
sendo o consumo uma forma desadaptada de manejar as emoções
(Rennó Jr, Ribeiro, Demarque, 2013)
4. Consequências
Se recomenda a abstinência durante este período devido às possíveis
consequências ao feto ou recém nascido, mesmo no longo prazo
Ressalta-se a necessidade de esta orientação estar vinculada com a
valorização da mulher:
Como ela significa este momento em sua vida?
Quais são as necessidades atuais desta mulher?
O que ela pensa sobre a maternidade?
Quais são seus medos e inseguranças?
Cuidado à mulher gestante não deve ser apenas pelas possíveis
consequências ao feto
Lembrar que não é apenas o uso de substâncias da mãe que pode
colocar o feto ou recém nascido em risco, mas também as possíveis
violências que esta sofre ou outras situações de vulnerabilidade
5. Foram entrevistadas psicólogas, terapeutas familiares, enfermeiras,
assistentes sociais (n=40) em quatro grandes serviços de internação para
gestantes TUS da Noruega
Discurso predominante era a necessidade da criação de vínculo entre a mãe
e a criança durante o tratamento
Discurso da “boa mãe” estigmatizante
Naturalização do vínculo/apego como algo biológico
Falta de vínculo como um problema da mãe
Tratamento involuntário “ajudaria” a criação deste vínculo
Conclusão: vínculo como único objetivo de tratamento, e minimização da
importância da história e contexto de vida da mulher, ainda que esta seja
determinante para a possibilidade do vínculo
6. Abordagem
Avaliação deve incluir:
Histórico de violência - violência doméstica, traumas físicos, psicológicos e sexuais, e
negligência (com oferta de terapia para manejo do trauma e medidas de proteção)
Verificar condições de moradia e alimentação
Comorbidades psiquiátricas - principalmente depressão e ansiedade
Parceira e violência
Mulheres TUS que sofrem violência por parceiro íntimo antes da gestação são mais
propensas a apresentar TUS mais grave em comparação com as não vítimas
Durante a gestação vítimas têm maior probabilidade de consumir substâncias que as não
vítimas
(Martin, Beaumont, Kupper, 2003)
Presença de parcerias TUS atrasam busca por tratamento e dificultam a adesão
Imprescindível a presença da parceria durante o pré-natal e tratamento para o aumento
das chances de recuperação
(Wong, Ordean, Kahan, 2011)
7. Abordagem
Quando tratamento e cessação não precede a gravidez, o principal objetivo
será promover intervenções que evitem morbidades e mortalidades e
aumentem a saúde da mãe e do feto / bebê
Barreiras pessoais: vergonha, medo do estigma, sentimento de culpa, falta
de suporte familiar, parceria TUS, medo de perder a criança, dificuldade para
transporte, medo de consequências legais
Barreiras do sistema: falta de tratamento apropriado para mulheres gestantes
TUS, atitudes negativas e preconceituosas de profissionais da saúde
(Ribeiro et al, 2016)
Denúncia para órgãos protetores
Histórico de uso de SPA em si não impossibilita o desempenho do papel de
mãe
Há necessidade de denúncia em caso de suspeita de risco ao feto / recém
nascido por violência ou negligência
Profissional da saúde deve sinalizar a necessidade de proteção à criança,
estimulando mudanças de comportamento e motivando para a cessação e
adesão ao tratamento
8. Abordagem
Importante: postura acolhedora, não julgadora, flexível, respeitosa e
estimulante do profissional
Organização Mundial da Saúde (OMS, 2014) - Profissionais da saúde
devem aplicar à mulheres com TUS:
Avaliação compreensiva e cuidado individualizado
Perguntar sobre consumo no passado e no presente, desde o início
da gestação até a visita pré-parto
Aconselhar a cessar seu consumo, ofertar ou encaminhar para
serviços de desintoxicação sob supervisão médica quando necessário
Encorajar aleitamento materno e contatos pele a pele em mãe que
esteja em condições de responder às necessidades do bebê
Indicar farmacoterapia se necessário
9. Mães usuárias de álcool:
Maior prevalência de depressão pós parto
Menores chances de ir à serviços de saúde para tratamento e orientação
Medicamentos - fornecidos para diminuir efeitos durante a desintoxicação
BDZ e antispicóticos - reduzir ansiedade e insônia
Antidepressivos - podem ser administrados após a abstinência
Disulfiram, naltrexona e acamprosato - casos mais graves para diminuir fissura e
manter abstinência.
Revisão não encontrou estudos controlados randomizados que avaliem a eficácia
das intervenções farmacológicas em mulheres grávidas em programas de
tratamento de álcool para melhorar os desfechos da mãe, do nascimento e da
criança
10. Abordagem Psiquiátrica
TUS é um fator de risco independente para malformação congênita e
aumento da mortalidade fetal e o período perinatal
Benzodiazepínicos (BDZ) estão entre os psicofármacos mais prescritos para
gestantes
Apesar de estudos anteriores sugerirem a relação entre a exposição
intrauterina a BDZ no primeiro trimestre e malformações congênitas ou
fenda labial ou palatina, pesquisas recentes não identificaram esta associação
de forma tão frequente
Estudos atuais também não identificaram atrasos cognitivos e motores
Não é isento de risco:
Parto prematuro, baixo peso ao nascer, baixo Apgar score, admissão em UTI
neonatal e síndrome do desconforto respiratório
Síndrome de abstinência do neonato e Síndrome do floppy baby
Aleitamento: sedação da criança, náuseas e alimentação pobre
(RIBEIRO et al, 2017)
11. Abordagem
OMS (2014) coloca como Princípios para Programas para Gestantes com
TUS:
Priorização da prevenção: prevenir, reduzir e cessar o consumo na gestação e
no pós parto para a melhoria da saúde e bem estar da mulher e seus filhos
Garantir acesso à prevenção e a serviços de tratamento: com especial
atenção à confidencialidade, legislação nacional e aos direitos humanos
internacionais
Respeito à autonomia da paciente: e estas devem ser totalmente informadas
sobre os riscos e benefícios, para elas e para seu feto ou bebê, das opções
de tratamento
Promover cuidado compreensivo: serviços devem ter um nível de
compreensão que seja adequado á complexidade e natureza multifacetada
dos TUS e seus antecedentes
Proteção contra discriminação e estigmatização: e promoção do apoio
familiar, comunitário e social, assim como inclusão social através de ligações
com serviços de cuidados à criança, de emprego, educação e outros
12. Abordagem
Período do puerpério
Consultas regulares para seguimento
Entrevista motivacional para manutenção da abstinência e do tratamento
Pode ser necessário orientações para não exposição do bebê à SPA
Psicoeducação sobre riscos ao bebê decorrentes do uso
Follow up de comorbidades clínicas e psiquiátricas, e dos impactos do novo
papel de mãe
Psicoeducação sobre anticoncepção e doenças sexualmente transmissíveis
Gerenciamento de caso e encaminhamento para outros serviços de saúde
(Ribeiro et al, 2016; Wong, Ordean, Kahan, 2011)
13. Referências
RIBEIRO, H. L.; Joel Rennó Júnior ; DEMARQUE, R. ; CAVALSAN, J. P. ; ROCHA, R. ; CANTILINO, A. ;
RIBEIRO, J. A. M. ; VALADARES, G. ; SILVA, A. G. . Efeitos Do Consumo De Cannabis Na Gravidez E No
Período Pós-Parto. REVISTA DEBATES EM PSIQUIATRIA, v. 2, p. 16-24, 2016.
Joel Rennó Jr, Ribeiro, HL, Demarque, R. Sexualidade Durante a Gestação e Puerpério. In: Alessandra
Diehl; Denise Leite Vieira. (Org.). Sexualidade: do prazer ao sofrer. 1ed.São Paulo: São Paulo, 2013, v. , p.
115-131.
Wong S, Ordean A, Kahan M; Maternal Fetal Medicine Committee; Family Physicians Advisory
Committee; Medico-Legal Committee; Society of Obstetricians and Gynaecologists of Canada. Substance
use in pregnancy. J Obstet Gynaecol Can. 2011 Apr;33(4):367-84.
WHO. Guidelines for the identification and management of substance use and substance use disorders in
pregnancy. 2014. Disponível em:
http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/107130/1/9789241548731_eng.pdf?ua=1
RIBEIRO, H. L.; OLIVEIRA, A. C. S. ; Joel Rennó Júnior . Maconha: Efeitos na Gestante, no Feto e no
Recém-Nascido. In: Conceição A. M. Segre; Helenilce de Paula Fiod Costa; Umberto Gazi Lippi. (Org.).
Perinatologia - Fundamentos e Prática. 3ed.São Paulo: Sarvier, 2015, v. 1, p. 357-.
Martin SL, Beaumont JL, Kupper LL. Substance use before and during pregnancy: links to intimate
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RIBEIRO, H. L.; Fábio Tápia Salzano ; PEROSA, R. C. ; Táki Athanássios Cordás ; Joel Rennó Júnior .
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Smith EJ., Lui S, Terplan M. Pharmacologic Interventions for Pregnant Women Enrolled in Alcohol
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Myra SM, Ravndal E, Torsteinsson VW, Øfsti AKS. Pregnant Substance Abusers in Voluntary and Coercive
treatment in Norway: therapists' reflections on change processes and attachment experiences. J Clin
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