O livro propõe uma abordagem original às questões femininas emergentes no cíclo gravídico-puerperal. A psicologia arquetípica utilizada faz referência às perspectivas de Jean Shinoda Bolen e de Jennifer Barker Woolger e Roger Wooger, mas está sob a influência da psicologia pós-junguiana de Silvia Montefoschi (psicanalista italiana). O conteúdo do livro está contextualizado na realidade social e obstétrica brasileira e visa a promoção do protagonismo da mulher.
Cada Deusa fala de uma fase específica da gestação, com suas exigências e necessidades. Exercícios ao final de cada capítulo ajudam a leitora a proceder de forma positiva e saudável pela gestação e parto.
Começa-se com Héstia, pela qual criamos o ninho; segue Perséfone, que promove a introversão e o centramento, graças aos quais, Deméter, a maternidade plena, pode ser gestada e nascer; Afrodite ajuda a compreender a sensibilidade tão características das grávidas; Atena dá planos e estratégias; Hera estimula a autonomia e o auto-respeito. Por fim, Ártemis, a do “bom parto”, abre as portas para um parto ativo, saudável e empoderador. Citações e depoimentos encontram-se ao longo de todo o livro.
2. Psicologia perinatal.
Uma abordagem arquetípica e
pós-junguina
O que são os
arquétipos
Deusas e sua
psicologia
Héstia e o ninho
Mulheres e
gravidez hoje
Perséfone e os quesitos
Deméter e a mãe
Afrodite e a
sensibilidade
Atena e o
conhecimento
Hera e o poder
Ártémis e os
instintos
3. Arquétipos
• Arque – tipos = modelos originários
• Padrões existencias/modo de ser
• Naturalidade do arquétipo • Jung, inconsciente
coletivo
• Patrimônio histórico e
cultural da humanidade
...disposição a reproduzir, em determinadas
circunstâncias, certas representações típicas que
correspondem às experiências fundamentais que a
humanidade tem feito, desde os primórdios, no
processo de desenvolvimento da consciência.
Silvia Montefoschi
4. Deusas e sua psicologia
Héstia representa o fundamento
do lar, tornando-o um espaço
seguro e pacífico.
Deméter, deusa da maternidade e
da comunidade. Alegre e simples,
tem sabedoria instintiva.
Atena, deusa do pensamento, da
racionalidade e das artes ligadas à
melhora da vida humana.
Perséfone, a rainha do além, dos
mistérios e do mundo invisível.
Ártemis, deusa da voz rebelde
contra todos os estereótipos e
preconceitos.
Hera, deusa que preside ao
casamento e às relações sociais e
institucionais.
Afrodite, deusa da sensualidade,
das artes e da sexualidade. Graça
feita de cultura e espontaneidade.
5. Mulheres e gravidez hoje
Estudar, trabalhar, ganhar
quase quanto um homem!
Puxa...
Ter filhos...
Não poder criá-los , não ter
tempo e/ou dinheiro. Não
saber o que fazer com
eles, onde e com quem
deixá-los 8-12 horas por
dia enquanto trabalha.
Estar dividida entre amor e
obrigações, maternidade e
trabalho....
É comum a mulher desconsiderar
suas reais necessidades, surda ao
pedido interno de introversão. Até
por uma simples questão de inércia,
ela tende a continuar fazendo o que
sempre fez e quando sentir vontade
de parar, de mudar o rítmo, ouvrá
alguém dizendo: “Gravidez não é
doença”, que, no contexto social
atual, significa: sua vontade de
parar, de mudar o rítmo é
injustificada.
6. Héstia, criando o ninho
Toda fêmea grávida precisa
de um ninho. A gestação é
um tempo para chocar a
cria, o que significa: tempo
para parar. Mesmo que isso
possa parecer impossível, é
indispensável entrar em
Héstia, construir um templo
primeiramente dentro de si
onde ir, parar e contemplar.
Dar um tempo e dar-se um
tempo.
Hésta é o centro da Terra, o âmago do lar
e nosso próprio centro pessoal. Ela não
deixa seu lugar; é preciso ir até ela.
Ginette Paris, Meditações pagãs
7. Perséfone, voltando-se
para dentro
A gravidez convida ou arrasta
para o interior. A condição de
grávida dá à mulher maior
proximidade com seu
inconsciente, aumenta a
intimidade com os conteúdos
interiores. Neste processo,
porém, ela irá se deparar
também com o bloqueia
aprendido a se relacionar
consigo e com os próprios
medos.
O conselho que eu daria às mães de
primeira viagem é o de enfrentarem os
medos porque são neles que
aprendemos o que fazer e como fazer,
e para terem muita certeza de que
querem ser mães, porque isso é uma
coisa que não se desfaz depois e é
bastante trabalhoso. Fernanda
8. Deméter, gestando a mãe
A mulher, até então filha, ao
ingressar na maternidade, estará
dando início à transição da
condição de quem é cuidada para
aquela de cuidadora, assumindo
um papel que era antes de sua
mãe. Ao mesmo tempo, esta,
sobretudo se morar perto, deverá
abrir espaço para que sua filha se
desenvolva como mãe, e do jeito
dela.
Antes da maternidade eu pensava e me
questionava se seria uma boa mãe, depois do
parto se eu iria dar conta dessa nova etapa de
minha vida. Maria Sirlene
9. Afrodite, a sensibilidade à
flor da pele
Os canais perceptivos de uma mulher
grávida estão ainda mais vivos e alertas do
normal. Este fenômeno faz parte da
gravidez e tem valor psicológico
importante, pois é no coração que sua
maternidade vai fincar raízes. Este tempo é
a oportunidade para arejar os sentimentos,
reciclar, reavaliar , tomar atitudes, criar
prioridades.
O que eu quero deixar claro é que meus partos
normais não mudaram em nada a minha vida
sexual, continuo gostando muito de sexo,
sentindo muito prazer e me achando ainda mais
mulher. Acredito até que meus partos me
deixaram mais resolvida na cama, mais mulher,
além de ser uma mãe apaixonada. Tacyana
10. Atena, a mulher inteligente
Estar em Atena corresponde a ser inspirada, a
organizar-se, planejar, batalhar e executar. Seu
engenho aguçado e claro, lapidado como um
diamante pela lucidez do pensamento criativo
é sua arma mais poderosa. Graças a ele, ela
resolve conflitos, toma as decisões certas,
descobre caminhos e alcança metas.
Comecei a me interessar por assuntos relacionados a gravidez, parto
e filhos. Lia tudo o que via pela frente e pesquisei muito para ter uma
idéia mais profunda e crítica sobre esses assuntos. Participei de um
congresso de humanização do nascimento e, de lá pra cá, depois de
ler e trabalhar muito, conversar com pessoas da área, fazer cursos e
ouvir experiências relacionadas ao tema, me tornei uma ativista e
defensora do parto normal e natural, por entender que o parto é um
processo fisiológico do qual nós, mulheres, somos exclusivamente
capazes e perfeitas para vivê-lo da forma mais saudável e normal
possível. Carol
11. Hera, o resgate necessário
As mulheres, com frequência temem serem
julgadas e se sentem estúpidas, porque o
médico é “quem sabe”. Há também um
profundo sentimento de insegurança
devido ao estado no qual nos encontramos.
Parte dessa insegurança vem do fato que
vive-se a gestação como que de fora, como
algo que nos acontece perante e o qual nos
sentimos presas passivas.
Infelizmente, a questão não parece circunscrita ao
parto: esta é apenas a ponta do iceberg. O
nascimento dos brasileiros e todos os aspectos
que circundam este evento é um ponto nevrálgico
na conquista plena da nossa cidadania. Tami
12. Ártemis, a deusa do parto
Ártemis é aquela que dá coragem para abrir
caminhos, enfrentar novas e desafiadoras tarefas.
Ela é a feminista de alma, a ecologista, a
transgressora. Foi a Filha das Flores na década
dos anos Sessenta e a promotora do parto ativo
na década de Oitenta. Pois, Ártemis é ativa. Não
espera por nada nem ninguém, não conhece a
camisa de força que faz as mulheres se sentirem
pequenas, incapazes e inseguras.
Lembrando tudo o que aconteceu, minha atitude diante do
trabalho de parto, a palavra que resume este dia foi
“entrega” . Não posso conceber um trabalho de parto no
qual não ocorra a entrega total. O corpo tem que agir
sozinho. A mente ajuda se estiver focada no que o corpo
pede. É ele quem vai determinar as emoções e reações
deste momento tão lindo. O parto me proporcionou o dia
mais bonito e emocionante que já vivi até hoje. Jucimara
13. A prova foi superada
O parto é o climax de um processo
que começa fisicamente na
gestação e psicologicamente no
desejo de ter um filho. Como numa
festa, cheia de risos e fogos de
artifício, o nascimento coroa um
longo percurso durante o qual
passamos por dúvidas e desafios,
inseguranças e sonhos. A mulher
que teve um parto ativo e sem
drogas é invadida por uma
enxurrada de hormônios; ela está
potente, animada, feliz.
14. O futuro da maternidade
Durante longos séculos as mulheres foram
condenadas à maternidade como única
forma de:
• conseguirem um lugar no paraíso (a
outra alternativa seria ser freiras ou
beatas);
• receber proteção e respeito;
• obter dinheiro e status;
• ter acesso a um nível social superior e
alcançar o poder.
Quando o movimento feminista surgiu, o
primeiro papel feminino a ser questionado
foi justamente o da maternidade.
15. O movimento pela
humanização do
parto questiona o
papel passivo da
mulher diante do
atendimento
obstétrico
tradicional.
Ao incentivar a mulher a ter um
parto ativo, estamos, querendo ou
não, despertando um processo que
começa antes do parto – numa
gestação informada e preparada –
e que, inevitavelmente, refletir-se-
á no pós-parto.
Uma maternidade que quer ser a
continuação de um parto humanizado
precisa rever seu paradigma de base. A mãe,
informada e ativa durante a gestação e o
parto, estará agora frente ao desafio de fazer
da criação de seus filhos um processo
também ativo e consciente.