1. Manutenção do Vínculo Professor-Aluno no Ciclo
de Alfabetização
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1. INTRODUÇÃO
Com a implantação do Ensino Fundamental de 9 (nove) anos passou-se a planejar a
alfabetização dos alunos que ingressam no sistema com 6(seis) anos de idade num
prazo mais longo e que ultrapassa o período de 1 (um) ano letivo.
Colocada a situação-problema em que se encontram todas as escolas brasileiras que
oferecem o Ensino Fundamental a partir da 1ª série, faz-se necessário debruçar sobre
esta situação e procurar vislumbrar atitudes e decisões a serem tomadas para evitar a
solução de continuidade no processo pedagógico que ocorre quando os jovens alunos
de 6 (seis) anos de idade, no início do processo de alfabetização, são tomados de
surpresa com o aparecimento de um novo professor no ano seguinte, com novas ideias
e novas metodologias, obrigando que todos os alunos passem novamente por um
processo adaptativo que muitas vezes é prejudicial e pernicioso ao processo de
alfabetização e aprendizagem.
2. A SITUAÇÃO DOS MUNICÍPIOS
A oferta do Ensino Fundamental público e gratuito é um direito constitucional
garantido a todas as crianças brasileiras. Este nível de ensino é normalmente
municipalizado e as políticas são regionalizadas também ao nível municipal.
Assim a gama de problemas é diversificada e depende do nível de desenvolvimento
econômico e social de cada município.
As políticas educacionais no nível de município são heterogêneas ao extremo, pois
dependem em muito do volume de recursos recebidos, recursos estes provenientes de
repasses federais e estaduais além dos recursos próprios do município.
A partir do momento em que o Município contrata o profissional de educação ele
também tem toda a liberdade de estabelecer a política de recursos humanos que irá
implantar na relação de trabalho com este tipo de servidor municipal.
Existem cidades que são estruturadas de forma moderna onde os profissionais de
educação são reunidos sob a égide de um Estatuto do Magistério que regulamenta toda
a relação de trabalho que envolve os profissionais da educação. Por outro lado ainda
possuímos cidades onde a própria administração pública não possui estrutura alguma e
o tratamento dado aos servidores depende em muito do humor de quem está no
comando do Paço e da Câmara Municipal.
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3. O VÍNCULO PROFESSOR-ALUNO
A permanência do professor alfabetizador, com a mesma turma, durante os dois anos
da pesquisa foi considerada conveniente e benéfica do nosso ponto de vista
pedagógico, pois propiciou a oportunidade de se dar sequência ao processo de ensino-
aprendizagem sem a retomada de conteúdos pelos alunos defasados em idade-série.
(Ana Maria de Paula SIQUEIRA)
Uma das premissas básicas que sustentam a implantação dos Ciclos é a continuidade
das mesmas crianças, nas mesmas turmas com o mesmoprofessor, visando garantir a
continuidade do processo de aprendizagem previsto pelaprogressão continuada das
crianças entre uma série e outra, conforme explicitado nosdocumentos oficiais:
“É de fundamental importância a permanência do professor na mesma turma, ao longo
do ciclo visando assegurar:A continuidade do processo, melhores condições de
acompanhar o desenvolvimento dos alunos, de identificarsuas necessidades e propor
medidas para saná-las e o entrelaçamento afetivo da relação aluno-professor”
(BOLETIM DE PSICOLOGIA, 2006, VOL. LVI, Nº 125: 221-240)
A melhor solução para o Sistema Educacional é o estabelecimento de vínculos mais
sólidos dos professores com a Escola e com seus alunos. Como poderia ser feito?
É necessário adequar a legislação abrangente dos profissionais do magistério a uma
nova visão da atuação dos mesmos. Na medida em que o professor cria vínculo com a
sua escola ele passará a preocupar-se com o seu ambiente de trabalho por que ele
saberá que sua permanência naquelas instalações não será meteórica e que ele passará
ali uma boa parte da sua vida profissional. Haverá empenho da equipe na “educação”
dos alunos para a preservação do bem público (escola) que é a base para um ambiente
de trabalho saudável e produtivo. Mesmo que o sistema educacional não trabalhe com
ciclos e que a avaliação/aprovação/reprovação seja feita anualmente, a permanência do
professor com a mesma turma durante o primeiro e segundo ciclo de alfabetização é
de suma importância para fortalecer o vínculo professor-aluno, sedimentação da
metodologia e para uma melhor avaliação dos resultados pelo sistema, tendo em vista
que uma das variáveis (o professor) ficará constante.
A partir do instante que os professores forem vinculados a uma determinada Unidade
Escolar, a eficiência daquela Instituição de Ensino quando for avaliada no próximo
ano, refletirá nos mesmos professores que ainda lá estarão. Ficará mais fácil para o
Sistema identificar as falhas e corrigi-las com os mesmos personagens de quando os
fatos ocorreram. É muito comum no sistema atual com rodizio anual de professores a
culpa pela ineficiência ser atribuída ao professor que foi transferido para outra unidade
educacional e perde-se a oportunidade de corrigir uma falha que irá repetir-se pelo
sistema sem nunca ser corrigida.
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O Ciclo de Alfabetização também será favorecido, pois ficando o professor com a
mesma turma desde a primeira série até a quarta sérieserá mais fácil identificar falhas
no processo de aprendizagem, identificar professores com deficiência e leva-los para
uma capacitação tomando por base os resultados apresentados pela sua turma, que será
sempre a mesma durante todo o Ciclo.
4. OBJETIVOS CLAROS E ESPECÍFICOS
Vejamos os Objetivos do Ensino Fundamental, discriminados nos PCN’s:
• compreender a cidadania como participação social e política, assim comoexercício de
direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia,atitudes de
solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outroe exigindo para si
o mesmo respeito;
• posicionar-se de maneira crítica, responsável e construtiva nas diferentes situações
sociais, utilizando o diálogo como forma de mediar conflitose de tomar decisões
coletivas;
• conhecer características fundamentais do Brasil nas dimensões sociais,materiais e
culturais como meio para construir progressivamente a noçãode identidade nacional e
pessoal e o sentimento de pertinência ao País;
• conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio sociocultural brasileiro,bem como
aspectos socioculturais de outros povos e nações,posicionando-se contra qualquer
discriminação baseada em diferençasculturais, de classe social, de crenças, de sexo, de
etnia ou outras características individuais e sociais;
• perceber-se integrante, dependente e agente transformador do ambiente,identificando
seus elementos e as interações entre eles, contribuindoativamente para a melhoria do
meio ambiente;
• desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o sentimento deconfiança em
suas capacidades afetiva, física, cognitiva, ética, estética,de inter-relação pessoal e de
inserção social, para agir com perseverança na busca de conhecimento e no exercício
da cidadania;
• conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e adotando hábitossaudáveis como
um dos aspectos básicos da qualidade de vida e agindocom responsabilidade em
relação à sua saúde e à saúde coletiva;
• utilizar as diferentes linguagens — verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal—
como meio para produzir, expressar e comunicar suas idéias, interpretar eusufruir das
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produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendoa diferentes
intenções e situações de comunicação;
• saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos paraadquirir e
construir conhecimentos;
• questionar a realidade formulando-se problemas e tratando de resolvê-los,utilizando
para isso o pensamento lógico, a criatividade, a intuição, a capacidadede análise
crítica, selecionando procedimentos e verificando sua adequação.
Objetivos da Língua Portuguesa no Primeiro Ciclo:
• compreender o sentido nas mensagens orais e escritas de que é destinatáriodireto ou
indireto: saber atribuir significado, começando a identificarelementos possivelmente
relevantes segundo os propósitos e intençõesdo autor;
• ler textos dos gêneros previstos para o ciclo, combinando estratégias deecifração com
estratégias de seleção, antecipação, inferência everificação;
• utilizar a linguagem oral com eficácia, sabendo adequá-la a intenções esituações
comunicativas que requeiram conversar num grupo, expressarsentimentos e opiniões,
defender pontos de vista, relatar acontecimentos, expor sobre temas estudados;
• participar de diferentes situações de comunicação oral, acolhendo econsiderando as
opiniões alheias e respeitando os diferentes modos defalar;
• produzir textos escritos coesos e coerentes, considerando o leitor e oobjeto da
mensagem, começando a identificar o gênero e o suporte quemelhor atendem à
intenção comunicativa;
• escrever textos dos gêneros previstos para o ciclo, utilizando a escritaalfabética e
preocupando-se com a forma ortográfica;
• considerar a necessidade das várias versões que a produção do textoescrito requer,
empenhando-se em produzi-las com ajuda do professor.
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Objetivos da Matemática no Primeiro Ciclo:
• Construir o significado do número natural a partir de seus diferentesusos no contexto
social, explorando situações-problema que envolvacontagens, medidas e códigos
numéricos.
• Interpretar e produzir escritas numéricas, levantando hipóteses sobreelas, com base
na observação de regularidades, utilizando-se dalinguagem oral, de registros informais
e da linguagem matemática.
• Resolver situações-problema e construir, a partir delas, os significadosdas operações
fundamentais, buscando reconhecer que uma mesmaoperação está relacionada a
problemas diferentes e um mesmo problemapode ser resolvido pelo uso de diferentes
operações.
• Desenvolver procedimentos de cálculo — mental, escrito, exato,aproximado — pela
observação de regularidades e de propriedades dasoperações e pela antecipação e
verificação de resultados.
• Refletir sobre a grandeza numérica, utilizando a calculadora comoinstrumento para
produzir e analisar escritas.
• Estabelecer pontos de referência para situar-se, posicionar-se e deslocar-se no
espaço, bem como para identificar relações de posição entreobjetos no espaço;
interpretar e fornecer instruções, usando terminologiaadequada.
• Perceber semelhanças e diferenças entre objetos no espaço,identificando formas
tridimensionais ou bidimensionais, em situaçõesque envolvam descrições orais,
construções e representações.
• Reconhecer grandezas mensuráveis, como comprimento, massa,capacidade e
elaborar estratégias pessoais de medida.
• Utilizar informações sobre tempo e temperatura.• Utilizar instrumentos de medida,
usuais ou não, estimar resultados eexpressá-los por meio de representações não
necessariamenteconvencionais.
• Identificar o uso de tabelas e gráficos para facilitar a leitura einterpretação de
informações e construir formas pessoais de registropara comunicar informações
coletadas.
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Vemos então que os PCN’s trazem objetivos gerais sobre o Ensino Fundamental e sobre cada
área de conhecimento, cabendo então aos gestores locais, baseados no princípio da
autonomia, estabelecer os objetivos específicos distribuídos passo-a-passo pelos dias,
semanas, meses, semestres e anos letivos para cada matéria a ser ensinada. O trabalho dos
professores deve pautar-se então neste planejamento específico que deve ser desenvolvido
pela equipe de apoio pedagógico existente em cada secretaria Municipal de Educação.
Justamente este trabalho de especificação de objetivos específicos e imediatos (dia-a-dia)
que falta ser feito na maioria das redes. Os professores trabalham baseados em objetivos
gerais, cada um de uma forma diferente, gerando resultados diferentes e nem sempre muito
bons.
5. CONCLUSÕES
Será possível que nosso País tenha, em espaço de tempo curto ou médio, uma
REVOLUÇÂO na EDUCAÇÃO?
Somente a educação pode tirar o país do subdesenvolvimento. Precisamos de um
sistema de ensino que traga a nossa juventude para a realidade tecnológica existente
no mundo atual. Nossas escolas precisam esquecer o conceito de professor-sala de
aula-lousa-aluno como conceito de espaço educacional. Precisamos dotar as escolas de
espaços educacionais modernos e tecnológicos, precisamos fazer um “upgrade” nos
quadros docentes colocando-os mais coincidentes com o mundo dos jovens que é um
“ambiente conectado”.
Enquanto os professores não tiverem objetivos específicos a atingir, enquanto os
sistemas de ensino não tiverem bases sólidas para avaliar tanto os professores quanto
os alunos, seremos apenas “aspirantes a país desenvolvido”, ou como chamam “país
em desenvolvimento”.
Quando seremos desenvolvidos? Precisamos antes ter um sistema de ensino que
ensine. Precisamos não mais ter analfabetos funcionais. Precisamos professores
comprometidos com o sistema e que tenham uma base de apoio em material didático,
espaços educacionais e perspectiva de carreira com realizações pessoais e financeiras.
Na Coréia do Sul a carreira docente é a mais procurada do país. Para ela convergem os
melhores alunos de todas as escolas porque neste país o professor é respeitado e
valorizado e é cobrado arduamente em suas tarefas diárias, mas recebe em
contrapartida uma boa remuneração, um excelente ambiente de trabalho, objetivos
gerais e específicos a atingir e apoio material e humano para desenvolver suas
atividades.
Enquanto não fizermos esta “revolução” colocando a educação num plano superior e
prioritário de investimento, continuaremos a ser chamado de “país em
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desenvolvimento”, num caminhada que nunca chegará ao fim pois a fila de
analfabetos funcionais só aumenta a cada final de ano letivo.
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