Este documento discute quem fala no jornalismo moderno. Resume que jornalistas não são mais os únicos que definem a verdade, como as fontes agora são ativas e influenciam decisões jornalísticas. Também explora como o discurso midiático reflete interesses de poder e como alguns grupos tem mais acesso à mídia do que outros.
2. Quem Fala no Jornalismo?
○ Cidadão Kane (Orson
Welles, 1941) =
jornalista como
profissional em busca
da verdade.
○ Unidade I: A empresa
jornalística e a
construção da política
editorial
○ 1.2 Linha editorial,
opinião e o debate em
torno da "objetividade“
○ Exposição baseada no artigo
homônimo de Jandira Fonseca
Gonçalves.
3. Quem Fala no Jornalismo?
○ Relações entre
jornalistas e fontes
como parte do método
para se descobrir a
verdade.
○ Parceria entre jornalistas e informantes retratada
sempre apegada à imagem de um círculo de
segredos, intrigas, parcerias inusitadas e de um
repórter que atua ao mesmo tempo como espião,
policial e benfeitor público.
4. Quem Fala no Jornalismo?
○ Jornalista representado
como aquele que
comanda o discurso,
que o elabora, que
decide o certo e o
errado e o que será ou
não publicado.
○ Esta imagem está desgastada,
principalmente devido às novas
tecnologias e à profissionalização
das fontes em assessorias ou
grupos organizados – que
produzem uma enxurrada de
releases e promovem conteúdos
de seu próprio interesse como
produtos em liquidação.
5. Quem Fala no Jornalismo?
○ A fonte como metáfora
da origem das
informações com
potencial para serem
transformadas em
notícias.
○ Esta metáfora sugere
uma busca ativa pela
informação (por parte do
repórter), que procura se
abastecer de um produto
disponível (a água, ou as
informações).
6. Quem Fala no Jornalismo?
○ A fonte como metáfora
da origem das
informações com
potencial para serem
transformadas em
notícias.
○ Contudo, ignora o fato de que as fontes atualmente
são essencialmente ativas. A metáfora mais
adequada, atualmente, é a do
‘cabo de guerra’, tal a luta
entre jornalistas,
fontes,
veículos, grupos de
poder e público.
7. Quem Fala no Jornalismo?
○ Fontes dispõem de
recursos e estratégias
para se imporem na
cena midiática e se
fazerem presentes.
○ Assim como os jornalistas
têm o poder de “escolher” a
quem dar voz ou a quem
garantir espaço de
manifestação, as fontes
também têm poder de pautar
a mídia, de buscar cobertura
para os temas e questões de
seu interesse, de falar
algumas coisas e não falar
outras.
8. Quem Fala no Jornalismo?
○ Sequer a voz do
jornalista é isenta de
interesses e pressões.
○ Ao contrário, é impregnada da política editorial, dos
valores da empresa à qual está ligado, e se insere
num quadro político, num jogo de forças do qual
inevitavelmente acaba por fazer parte e tomar parte.
9. Quem Fala no Jornalismo?
○ Sequer a voz do
jornalista é isenta de
interesses e pressões.
○ Afinal, a quem pertence o discurso veiculado pela
imprensa?
● Ao jornalista?
● Aos veículos?
● Aos personagens envolvidos na notícia?
● Aos setores interessados nos acontecimentos?
○ Ainda:
● Quem ganha voz na imprensa?
● Quem é chamado a falar e legitimado como
porta-voz de informações relevantes?
10. Quem Fala no Jornalismo?
○ Quem define e quem
diz a suposta “verdade”
dos fatos?
○ A quem é dada a oportunidade de se manifestar na
privilegiada arena midiática?
○ No dia a dia marcado pelas pressões da rotina
jornalística, pela escassez de tempo e de recursos
para apuração, poucas matérias se originam da
observação do repórter. A maioria é construída a
partir de informações fornecidas por pessoas,
instituições e documentos.
11. Quem Fala no Jornalismo?
○ O jornalista não é
mais, se é que já tenha
sido de maneira plena,
o maestro absoluto
desse conjunto.
○ Embora o jornalista tenha (ainda) grande poder de
decisão sobre o conteúdo publicado, será isso
suficiente para defini-lo como alguém dotado de uma
voz preponderante no jornalismo?
○ É dele a versão da realidade que estampa as
manchetes e circula pelos canais de comunicação?
12. Quem Fala no Jornalismo?
○ As perspectivas
apontadas pelas fontes
influenciam em grande
medida a decisão
jornalística.
○ O trato com os informantes (fontes) é um dos pontos
de grande relevância na formação de jovens
jornalistas e uma questão que diz respeito mesmo
aos veteranos mais conceituados.
○ A ética do relacionamento, o respeito àqueles que
são ouvidos, a responsabilidade com os dados
fornecidos, são um mantra que todos os repórteres
precisam repetir diariamente.
13. Quem Fala no Jornalismo?
○ Na verdade, esta ética
deve ir além.
○ O cuidado não se limita ao tratamento
das informações obtidas, mas deve
estar presente na própria seleção de
quem irá falar na reportagem, de quando
falará e do que falará.
○ Num cenário marcado pelo
empoderamento das fontes, o
referencial ético deve guiar o profissional
(repórter) numa perspectiva crítica sobre
por quem se deixar “seduzir”.
14. Quem Fala no Jornalismo?
○ Fontes são aliadas
ativas do processo de
produção da notícia.
São essenciais, mas
isso pode fazer surgir
alguns problemas.
○ Repórter estabelece relação de conivência com a
fonte:
● Jornalista e/ou veículo assumem a fala e os
argumentos da fonte como seus, corroborando
como afirmação da verdade.
● Jornais, programas televisivos etc que fazem
uso das mesmas fontes (ou mesmo perfil de
fontes) repetidamente, dando voz privilegiada a
essas fontes, a alguns setores ou instituições,
naturalizando e referendando esses discursos.
15. Quem Fala no Jornalismo?
○ A comunicação é
sempre um ato
intencional. Na
construção da notícia há
sempre interesses em
jogo. Jornalismo como
arena política na qual
diversos atores lutam
pelo reconhecimento e
pela supremacia.
○ O relato jornalístico é construído num contexto
amplo, preso a um emaranhado de relações,
interesses e valores. As práticas profissionais são
tensionadas por quadros políticos, culturais,
econômicos e sociais.
○ Não se trata de tomar o jornalista como sujeito
passivo, manipulável, facilmente controlável, mas de
reconhecer a teia de interesses e pressões políticas
que recaem sobre a atuação do profissional.
16. Quem Fala no Jornalismo?
○ Pacificação das favelas ○ O discurso jornalístico é construído sobre
determinados conceitos de segurança, justiça e
autoridade próprios da visão dominante na
sociedade.
○ A apuração dos fatos é precedida pela noção de que
a “pacificação” objetiva o bem, e dificilmente uma
voz dissonante ganhará espaço.
17. Quem Fala no Jornalismo?
○ Jornalismo se depara
com uma dificuldade
quase intransponível de
estabelecer uma
polifonia em seus
produtos noticiosos.
○ A rede criada pelo aparato da mídia (para alimentar
as redações com informações potencialmente
noticiosas) tanto impede alguns eventos de serem
noticiados – pelo fato de estarem fora do alcance da
rede – como permite identificar os critérios de
noticiabilidade adotados pelo veículo. Afinal, essa
rende reflete com muita fidelidade a estrutura social
e de poder existentes.
18. Quem Fala no Jornalismo?
○ Na constituição das
redes, fontes do poder
(fontes oficiais,
institucionais e estáveis)
e aquelas que se
ajustam aos processos
de produção da notícia
são tidas como
preferenciais.
○ Algumas fontes são privilegiadas, em detrimentos de
outras.
○ O acesso à mídia torna-se um bem estratificado
socialmente (Traquina, 1999). Agentes sociais que
não participam do poder não têm acesso regular aos
meios de comunicação, e por isso precisam
incomodar para “forçar a notícia”, para adquirem
visibilidade para suas pautas.
19. Referências
GONÇALVES, Jandira Fonseca. Quem fala no jornalismo? IN: LEAL, Bruno
Souza; ANTUNES, Helton; VAZ, Paulo Bernardo (Orgs.) Para entender o
jornalismo. Belo Horizonte : Autêntica Editora, 2014.