O documento fornece um resumo sobre as comunidades quilombolas no Pará. Descreve a escravidão negra no estado entre os séculos XVII e XIX e a formação de quilombos após a abolição. Apresenta características das comunidades quilombolas atuais e discute a situação social da população negra no Brasil e no Pará. Por fim, resume os resultados do Atlas Geossociolinguístico Quilombola do Nordeste do Pará, que mapeou a variedade linguística de seis comunidades.
11oC_-_Mural_de_Portugues_4m35.pptxTrabalho do Ensino Profissional turma do 1...
Uma análise das comunidades quilombolas no Pará
1. UM OLHAR SOBRE AS COMUNIDADES
QUILOMBOLAS NO PARÁ
Prof. Dr. Marcelo Pires Dias
Faculdade de Etnodiversidade/UFPA
mpdias@ufpa.com
2. Escravidão Negra no Pará
• Do século XVII até o ano de 1835;
• O tráfico negreiro regional atendia demandas agrícolas;
• Forte presença de negros escravizados de origem
Bantu);
• Desestabilização do sistema escravagista em virtude da
Revolta da Cabanagem (1835-1840);
• População negra e mestiça numericamente superior em
relação à população branca pós escravidão;
• Até 1877 a Língua Portuguesa era língua minoritária no
Pará.
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4. Podem ser consideradas ‘comunidades
remanescentes de quilombos’, as que foram
formadas a partir dos quilombos considerados
como tal, no tempo do escravismo (reduto de
escravizados fugidos); dos que resultaram de
herança deixadas pelos ‘senhores’; das ‘terras
de preto’; das aglomerações de negros após a
abolição e outras, desde que se auto definam
como quilombolas.
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5. O combate aos quilombos
"Não é desconhecido à polícia a notícia de existirem dois grandes
quilombos entre Epinegé e Arauaia, e outros lugares assim
infestados de semelhante mal, que diariamente se acoutam escravos
fugidos e desertores. Esperamos ao bem conhecido zelo da polícia,
que mande sem demora alguma, assaltar o dito quilombo, com
gente armada de pólvora e bala, fazendo apreender todos os que
nele se acharem, destruindo e arrasando para nunca mais ter
serventia alguma, pois não só deve ser garantido a propriedade dos
cidadãos deste distrito.mesma polícia perante o país”
In: "Velho Brado do Amazonas", Belém, ano 1, nº 77, 29/05/1851. Apud Salles,
1971: 210-211).
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6. Constituição Federal (1988)
Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos
quilombos que estejam ocupando suas terras é
reconhecida a propriedade definitiva, devendo o
Estado emitir-lhes os títulos respectivos.
(ATO DAS DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS).
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7. Quilombos no Pará
• Há no Brasil 3.524 comunidades de
remanescentes de quilombo reconhecidas
atualmente, das quais 523 estão no Pará.
Dessas, apenas 53 são tituladas).
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9. Características dos quilombos
a) Estão localizados, na maioria das vezes, no meio rural;
b) A maioria dos moradores que reside nessas
comunidades é negra;
c) Muitos moradores da comunidade possuem a mesma
origem familiar;
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10. Características dos quilombos
d) Dentre as principais atividades podemos destacar o
extrativismo animal (pesca e captura do caranguejo, por
exemplo), extrativismo vegetal (coleta de castanhas, látex,
açaí, palmito, etc.), além de plantios de mandioca, milho,
hortas, frutas, etc.;
e) As atividades produtivas são realizadas,
predominantemente por mão de obra familiar;
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11. Características dos quilombos
f) A terra é considerada coletiva e cada morador possui
direito ao plantio;
g) Geralmente professam a mesma religião, na maioria
das vezes a católica, em virtude do contato intermitente
com a cultura branca, além das religiões de matriz
africana, como a umbanda, tambor de mina e o
candomblé.
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12. Situação social da população negra no Brasil
e no Pará: exclusão e vulnerabilidade social
16. • Festividades do Divino, São Sebastião e São
Benedito;
• Marujadas de Bragança e Augusto Corrêa,
originalmente organizadas por irmandades
compostas por negros.
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18. • A obra O Batuque (1931), de Bruno de
Menezes;
• O ciclo de romances do escritor Dalcídio
Jurandir, com destaque para o romance Chove
nos Campos de Cachoeira (1941).
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19. Sócio-história da Língua Portuguesa no
Brasil
• 1500-1756: Tupi-guarani; Língua Geral Paulista;
Língua Geral Amazônica;
• 1758: Marquês de Pombal estabelece o português
como única língua oficial;
• 1759: Expulsão dos Jesuítas;
• 1808: transferência da corte portuguesa para o
Brasil;
• 1854: Reforma Educacional de Couto Ferraz;
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24. A expressão língua geral tomou um sentido bem
definido no Brasil nos séculos XVII e XVIII,
quando, tanto em São Paulo como no Maranhão
e Pará, passou a designar as línguas de origem
indígena faladas, nas respectivas províncias, por
toda a população originada no cruzamento de
europeus e índios tupi-guaranis, (...) à qual foi-
se agregando o contingente de origem africana
e contingentes de vários outros povos indígenas.
(RODRIGUES, 1996, p. 6)
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27. Polarização Sociolinguística (LUCCHESI, 2002)
Norma Popular Norma “Culta”
Derivada da transmissão
linguística irregular e do
contato entre línguas indígenas
e africanas
Derivada dos padrões
linguísticos da elite (seja no
Brasil Colônia ou no Brasil
Império)
- PRESTÍGIO + PRESTÍGIO
Falada no dia a dia Utilizada em situações formais
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30. O AGQUINPA
O Atlas Geossociolinguístico Quilombola do Nordeste do
Pará (AGQUINPA) é composto por 153 cartas semântico-
lexicais, das quais 136 são descritas na tese. Tem como
objetivo:
• Realizar levantamento histórico e geossociolinguístico das
comunidades quilombolas pesquisadas;
• Descrever a variedade linguística lexical usada nas
comunidades quilombolas;
• Elaborar cartas linguísticas semântico-lexicais
pluridimensionais do português falado nas comunidades
quilombolas pesquisadas.
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32. Caracterização dos Colaboradores
• Ter sido nascido e criado em uma das
comunidades quilombolas e de pais
quilombolas;
• Autointitular-se quilombola;
• Ter entre 18 a 30 anos (Geração I) ou 50 a
65 anos (Geração II).
24 colaboradores
(4 por comunidade)
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33. Perfil das Comunidades
• Das seis comunidades, quatro possuíam acesso via
terrestre, uma por via fluvial e terrestre e apenas uma
com acesso exclusivamente pelo rio (Comunidade do
Rio Acaraqui/Campompema).
• Todas as comunidades possuíam pelo menos uma
escola que atendia alunos do Ensino Fundamental.
• Nenhuma das comunidades possuia posto de saúde.
• Observamos também que os laços familiares
estreitos, assim como o a consciência identitária e
étnica.
• Alto grau de envolvimento nas questões sociopolíticas
pertinentes às comunidades, como o trabalho na roça
comunitária, na casa de farinha, nas festividades
locais e nas assembleias/reuniões deliberativas.
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40. Fonologia e Morfossintaxe
1) Pronúncias palatalizadas /t/ e /d/ diante de /i/
[‘t⎰ia] (tia)
[‘dℨia] (dia)
2) Supressão da consoante em final de palavra.
[fa.’la] (falar)
[sa.ra.’va] (salvar)
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41. 3) Marcação de plural (Concordância)
• As casa
• Meus amigo
• Essas coisa
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- Variedades rurais;
- Varidades rurbanas;
- variedades urbanas (com menor
monitoramento e maior
informalidade)
45. AGQUINPA em números
• As comunidades Rio
Acaraqui/Campompema (ponto 3) e
Cacau (ponto 1) apresentaram o maior
número de variantes (450 e 427 variantes
respectivamente);
• A comunidade América (ponto 3)
apresentou o menor número de variantes
(375);
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46. • 46 cartas apresentaram predomínio de norma
monoléxica;
• 90 cartas apresentaram predomínio de norma
heteroléxica;
• Tivemos a ocorrência predomínio de norma
heteroléxica entre as mulheres;
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47. Campos semânticos com elevada variação (7
variantes por carta):
• Acidentes Geográficos;
• Fenômenos atmosféricos;
• Comportamento e convívio social.
Campos semânticos com baixa variação (3
variantes por carta):
• Ciclos da vida;
• Habitação;
• Vida urbana. 47
48. Cartas com o maior número de variantes:
• L03 (redemoinho de água), L11 (chuva
forte) e L99 (prostituta) – 11 variantes;
• L10 (temporal) e L96 (pessoa sovina) – 10
variantes;
• L28 (parte terminal da inflorescência da
bananeira) e L80 (pessoa de pernas
arqueadas) – 9 variantes.
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49. Variantes que caracterizam Africania
• Registramos 22 variantes de origem Bantu
(quicongo, quimbundo, iorubá e nianja), a
saber: caolho (L62), catinga e inhaca (L73),
meleca (L67), cangote (L69), cutica (L81),
bode (L82), moleque/moleca (L90 e L91),
macumba (L106 e L148), moringa (L143),
calombo (L145), caxumba (L146), diamba
(L147), cachimbo (L149), angu (L150), cará
(L151), jabá (L152), bobó (L153), além de
corcunda, cuturuca, calombo e cumbu (carta
L71).
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50. • As comunidades África (ponto 5),
Laranjituba (ponto 6) e Rio
Acaraqui/Campompema (ponto 3) foram
as que mais apresentaram léxico de
origem Bantu;
• O campo semântico Corpo Humano
apresentou o maior número de variantes
de origem Bantu (10 no total).
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51. • Também tivemos o registro de variantes
não dicionarizadas em língua portuguesa
e de origem indeterminada: nambu (L45),
toré (L45), toqué (L46), crata (L50), pavula
(L66), seruto (L73), cutruque (L79) e sota
(L80).
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53. “Se as vozes dos quatro milhões de negro-africanos que foram
trasladados para o Brasil ao longo de mais de três séculos
consecutivos não tivessem sido abafadas em nossa História, por
descaso ou preconceito acadêmico, hoje saberíamos que eles,
apesar de escravizados, não quedaram mudos, falavam línguas
articuladamente humanas e participaram da configuração do
português brasileiro (...)”
Profª Drª Yeda Pessoa de Castro53
Notas do Editor
Os portugueses tinham receio de uma grande disseminação de conhecimento em seus domínios ultramarinos. A imprensa era aqui proibida e somente, em 1663, um brasileiro teve uma obra publicada, a peça Hay Amigo para amigo, do baiano Manoel Botelho de Oliveyra. Ao que parece, esse receio foi herdado por D. Pedro II, que não permitiu a criação de universidade no Brasil.
A criação da Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), tem uma origem, no mínimo, curiosa.
Sua fundação remonta à visita do rei da Bélgica, Alberto I, ao Brasil, em 1920. Sua Majestade fazia uma viagem internacional para agradecer aos países que se envolveram na Primeira Guerra Mundial (1914-18) em defesa da Bélgica, primeiro país invadido pela Tríplice Aliança (Alemanha-Áustria-Itália).
Na troca de protocolos entre os Ministérios das Relações Exteriores dos dois países, para fechar a agenda de compromissos de sua Majestade, o Itamaraty percebeu que o rei Alberto já tinha recebido e estava cotado para receber inúmeros títulos de doutor honoris causa de um sem-número de universidades pelo mundo afora.
Assim, o governo brasileiro programou a concessão do título de doutor honoris causa da Universidade do Brasil ao rei da Bélgica. Depois do protocolo aprovado, alguém se lembrou de que não havia uma Universidade do Brasil, apenas faculdades isoladas.
Foi quando o presidente Epitácio Pessoa (1919-22) criou, por decreto, a Universidade do Rio de Janeiro (selo comemorativo: Alberto I à esquerda e Epitácio Pessoa à direita).
a) frequência geral; e b) distribuição das variantes. Só foram elaboradas cartas que apresentaram respostas em mais de cinco pontos de inquérito e respondidos por, pelo menos, metade dos colaboradores em cada um desses pontos de inquérito.