Este documento fornece um resumo do contexto histórico e literário do Trovadorismo em Portugal durante a Idade Média, descrevendo a estrutura social feudal, o surgimento das cantigas e seus principais temas e formas, como as cantigas líricas, satíricas e de escárnio e maldizer. Também apresenta exemplos de cantigas medievais e seus autores.
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Trovadorismo I
1. Trovadorismo I
A Poesia A flagelação de Cristo, na igreja
franciscana alemã de Esslingen (1320).
2. Contexto
Histórico
A Idade Média teria se
iniciado no século V e
terminado no século XV.
A Idade Média pode
também ser subdividida
em períodos menores:
Alta Idade Média
do século V ao X
Baixa Idade Média
do século XI ao XV.
4. Por volta de
Baixa Idade Média
1100 d.C.
do século XI ao XV.
percebeu-se uma
revolução que combinou:
renascimento urbano
e comercial
+
ampliação de culturas
e fronteiras agrícolas
+
Começam a ser abertas crescimento
novas escolas ao longo econômico
de todo o continente,
inclusive em cidades e +
vilas menores. Por desenvolvimento
volta de 1200 são
fundadas as primeiras
intelectual e grandes
universidades – Paris,
evoluções
Coimbra, Bolonha e tecnológicas.
Oxford
5. A Sociedade Feudal
O padre, o cavaleiro e o
camponês :
são as 3 figuras que
exprimem o essencial
da Idade Média em
termos de organização
social.
Estas ordens equivaliam a
três atividades distintas:
os que rezam,
os que combatem e
os que trabalham.
6. O clero
Formado pelos
sacerdotes,o clero era a
camada mais importante.
Por que o clero tinha
este status ?
Porque acreditava- se
que tinha o poder de se
comunicar com Deus.
7. Os guerreiros
Eram os nobres,
os aristocratas,
os proprietários
de terras,
que combatiam os
árabes.
Entre eles era
comum a
vassalagem,
que se refletiu nas
cantigas
trovadorescas.
8. Os trabalhadores
Responsáveis
pelo cultivo da
terra,
os servos
submetiam-se à
exploração de
seu senhor, em
troca de
proteção em
tempos difíceis.
9. O pensamento medieval
Esta estrutura social se manteve assim por muito tempo,
afinal, se configurava por atender aos desejos de Deus.
“Para ajudar o homem a se salvar, a Igreja passou a condenar o comércio que
visava lucros, pois, segundo os ensinamentos da Igreja, os bens materiais
foram dados ao homem como meios para facilitar sua salvação e não para
seu enriquecimento. A finalidade do trabalho não era, portanto, o
enriquecimento. Assim, cada um deveria ficar na posição em que se
encontrava e não desejar ser mais do que era ao nascer.”
(ARRUDA, José J. HIstória Integrada - vol 2. São Paulo, Ática.1997 )
10. Teocentrismo
A igreja era a responsável
pela vida cultural e
religiosa, e portanto,
controlava os valores
morais, éticos e
artísticos, evitando a
influência de culturas
pagãs (grega e latina)
sobre o povo ignorante.
Toda e qualquer
manifestação artística
era voltada para o louvor a
Deus:
TEOCENTRISMO
p.289 do livro Salesiano Deus, Arquiteto do Universo, em pintura medieval
11. As manifestações
do povo
As primeiras
produções artísticas
ligadas à Literatura e
vindas do povo foram as cantigas.
A importância das cantigas encontra-se
em dois aspectos:
Mudança da língua: utilização do
galego-português em vez do latim.
Mudança do assunto: da liturgia
católica, para o cotidiano das pessoas.
12. Trovadorismo
em Portugal
As primeiras cantigas trovadorescas
escritas lusitanas datam do final do
século XII, e são escritas em
galego-português.
A cantiga considerada o
marco inicial
da literatura portuguesa é a
Cantiga da Ribeirinha
( também chamada de Cantiga da
Guarvaia),
composta por Paio Soares de
Taveirós ( 1189 ou 1198)
13. Cantiga da Composta por Paio Soares de
Taveirós para a Sra. Maria Paes
Ribeirinha Ribeiro (a Ribeirinha)
"No mundo nom me sei parelha,
No mundo ninguém se assemelha a mim /
mentre me for' como me vai,
ca ja moiro por vos - e ai enquanto a minha vida continuar como vai /
porque morro por ti e ai /
mia senhor branca e vermelha, minha senhora de pele alva e faces rosadas, /
queredes que vos retraia quereis que eu vos descreva (retrate) /
quando vos eu vi em saia! quanto eu vos vi sem manto (saia : roupa íntima) /
Mao dia que me levantei, Maldito dia! me levantei /
que não vos vi feia (ou seja, viu a mais bela).
que vos enton nom vi fea! "
14. Organização
das cantigas
Cantigas Cantigas
Líricas satíricas
de de de de
Amor Amigo Escárnio Maldizer
Vide p. 134 do livro
Salesiano
15. Cantigas Líricas
“Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai Deus, e u e?”
Essas cantigas tratavam de temas amorosos e
das aventuras de cavaleiros em busca da honra e
do amor de uma donzela.
16. Cantigas Líricas
de Amigo de Amor
Eu –lírico feminino Eu –lírico masculino
Indireta (fala com um confidente) Direta (conversa com a amada)
Presença de refrão, paralelismo e de leixa-pren Ausência de paralelismo e de leixa-pren
Assunto: lamento da moça cujo amado está Assunto: sofrimento por amor não-correspondido
longe (saudade, dúvida) (coita )
Ambiente rural Ambiente da corte.
Linguagem: discreta, recatada Linguagem: ousada, conquistadora
17. O que é o Paralelismo?
Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é? Paralelismo é a repetição
quase total de um verso. A
alteração ocorre no final do
Ai flores, ai flores do verde ramo, verso “repetido” , mas
se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é? mantém-se o ritmo e
normalmente usam-se
sinônimos nessa alteração.
Se sabedes novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?
O que é o refrão?
É a repetição do mesmo verso ao final de Esta cantiga encontra-se na
p. 131 do livro Salesiano.
cada estrofe. Seu autor é D. Dinis
18. O que é Leixa-pren?
Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é? Ao pé da letra,
“leixa-pren” significa
Ai flores, ai flores do verde ramo, “deixa e pega de
se sabedes novas do meu amado, volta”, mas na
ai deus, e u é? poesia medieval é a
estratégia de pegar o
Se sabedes novas do meu amigo, 2º verso de uma
aquele que mentiu do que pôs comigo, estrofe, e repeti-lo
ai deus, e u é? em outra posição (1º
verso) na estrofe
Se sabedes novas do meu amado, intercalada.
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?
19. Cantigas Satíricas
São verdadeiros
documentos da vida social,
principalmente da corte.
Fazem ecoar as reações públicas a
certos fatos políticos: revelam
detalhes da vida íntima da
aristocracia, dos trovadores e dos
jograis, trazendo até nós os
mexericos e os vícios ocultos da
fidalguia medieval portuguesa.
Com o tempo, as cantigas passaram a ser usadas
p.292 do livro
para cantar gozações e maledicências. Salesiano
20. Registro histórico
As cantigas medievais portuguesas
encontram-se reunidas em livros
denominados cancioneiros, dos quais se
destacam:
Cancioneiro da Ajuda
Cancioneiro da Vaticana
Cancioneiro da Biblioteca
Nacional de Lisboa.
21. D. Dinis
D. Dinis foi o 6º rei de Portugal
(final do século XIII, entre 1279 e 1325 )
e preocupou-se em reunir em um
Cancioneiro suas próprias trovas e
muitas outras produzidas por seus
“protegidos”.
Naquela época era comum a
prática do mecenatismo e D. Dinis
foi um destes grandes
incentivadores da cultura.
p. 131 do livro Salesiano
22. Trovadores ( poetas cultos que
compunham a letra e a música das canções)
Os artistas da época medieval
Menestréis (músicos-poetas sedentários,
pois viviam na casa de um fidalgo)
Jograis (cantores e tangedores ambulantes,
geralmente de origem plebeia)
Segréis (trovadores
profissionais, geralmente
fidalgos desqualificados,
que iam de corte em corte
na companhia de um jogral.
Jogralesa e Soldadeira
moças que acompanhavam
tocando pandeiro e
dançando.
23. Mia irmana fremosa
Mia irmana fremosa, treides comigo
a la ygreia de Vigo, u e o mar salido.
E miraremos las ondas.
Mia irmana fremosa, treides de grado
a la igreya de Vigo, u e o mar levado.
E miraremos las ondas.
A la igreya de Vigo, u e o mar salido,
e verra i mia madre e o meu amigo.
E miraremos las ondas Martim Codax
A la igreya de Vigo, u e o mar levado, Viveu entre a segunda
e verra i mia madre o meu amado metade do século XIII e
E miraremos las ondas. começo do século XIV. Não
há muitos dados sobre a
identidade deste jogral.
Ouça esta cantiga
http://www.youtube.com/watch?v=Q_1EDSpz-fE
24. Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo!
e ai Deus, se verrá cedo!
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
e ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amigo,
o por que eu sospiro!
e ai Deus, se verrá cedo!
Se vistes meu amado
por que ei gram cuidado!
e ai Deus, se verrá cedo!
Martim Codax
Ouça esta cantiga
http://www.youtube.com/watch?v=cRdec9FYbBI
25. Cantigas
Satíricas
de de
Escárnio Maldizer
•Indiretas •Diretas
•ambíguas •sem equívocos
•uso da ironia leve •ofensivas
•Intenção de brincadeira. •uso de palavrões e xingamentos
•Intenção difamatória
Essas composições satíricas circulavam por lugares públicos como feiras, colheitas, tabernas, periferias, caracterizando
uma literatura marginal , mas mesmo por isso, de importância histórica bastante razoável pelo registro social feito .
26. Ai, dona feia, foste-vos queixar
que nunca vos quis louvar em meu trovar
mas agora quero fazer um cantar
em que a louvação não será pouca
e vede como quero vos louvar:
dona feia, velha e louca!
Dona feia, Deus me dê perdão!
pois vós tendes tão bom coração
Por isso vos louvo nesta razão
Cantiga
em que a louvação não será pouca
e vede qual será a louvação:
de
dona feia, velha e louca!
Escárnio
Ai,dona feia, nunca vos eu louvei
meu trovar, mas muito eu já trovei
mas agora já um bom cantar farei
em que a louvação não será pouca
E direi-vos como vos louvarei:
Dona feia, velha e louca!
João Garcia de Ghilhade
p.292 do livro
(atualizado por José Luís Landeira) Salesiano
27. Conheceis uma donzela
Por quem trovei e a que um dia
Chamei dona Berinjela? Cantiga de Maldizer
Nunca tamanha porfia
Vi nem mais disparatada.
Agora que está casada
Chamam-lhe Dona Maria.
Algo me traz enojado,
Assim o céu me defenda:
Um que está a bom recato
(negra morte o surpreenda
e o Demônio cedo o tome!)
quis chamá-la pelo nome
e chamou-lhe Dona Ousenda.
Pois que se tem por formosa
Quanto mais achar-se pode,
Pela Virgem gloriosa!
Um homem que cheira a bode
E cedo morra na forca
Quando lhe cerrava a boca
Chamou-lhe Dona Gondrode. D. Afonso Sanches
28. Cantiga de Maldizer
Maria Mateu, daqui vou desertar.
De cona não achar o mal me vem.
Aquela que a tem não ma quer dar
e alguém que ma daria não a tem.
Maria Mateu, Maria Mateu,
tão desejosa sois de cona como eu!
Quantas conas foi Deus desperdiçar
quando aqui abundou quem as não quer!
E a outros, fê-las muito desejar:
a mim e a ti, ainda que mulher.
Maria Mateu, Maria Mateu
tão desejosa sois de cona como eu!
Afonso Eanes de Coton
29. Herança cultural
Existem ecos dessa tradição medieval em
diversas culturas, principalmente na
composição musical.
Diversos compositores trazem marcas
dessas estruturas em suas canções até hoje,
tanto quanto à intenção ou quanto a
elementos de construção paralelística.
A cultura brasileira, por exemplo, preserva
essa tradição na voz dos repentistas e na
literatura de cordel.
Cantigas de roda infantis são heranças
dessas manifestações populares medievais,
ainda que tenham chegado até os dias de
hoje com transformações vocabulares e
rítmicas.
31. Relacione às João e Maria
cantigas de amor... Chico Buarque
Composição: Chico Buarque/ Sivuca
Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy era você além das outras três
Eu enfrentava os batalhões, os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque e ensaiava o rock
para as matinês
Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei a gente era obrigado a ser feliz
E você era a princesa que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país
Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião, o seu bicho preferido
Vem, me dê a mão, a gente agora já não tinha medo
No tempo da maldade acho que a gente nem tinha nascido
Agora era fatal que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá desse quintal era uma noite que não tem mais fim
Pois você sumiu no mundo sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim?
http://www.youtube.com/watch?v=PvOmONGUZPM&feature=related
32. Queixa
Observe a coita... Caetano Veloso
Composição: Caetano Veloso
Um amor assim delicado Princesa, surpresa, você me arrasou
Você pega e despreza Serpente, nem sente que me envenenou
Não devia ter despertado Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Ajoelha e não reza Senhora, serpente, princesa
Dessa coisa que mete medo Um amor assim delicado
Pela sua grandeza Nenhum homem daria
Não sou o único culpado Talvez tenha sido pecado
Disso eu tenho a certeza Apostar na alegria
Princesa, surpresa, você me arrasou Você pensa que eu tenho tudo
Serpente, nem sente que me envenenou E vazio me deixa
Senhora, e agora, me diga onde eu vou Mas Deus não quer que eu fique mudo
Senhora, serpente, princesa E eu te grito esta queixa
Um amor assim violento Princesa, surpresa, você me arrasou
Quando torna-se mágoa Serpente, nem sente que me envenenou
É o avesso de um sentimento Senhora, e agora, me diga onde eu vou
Oceano sem água Senhora, serpente, princesa
Ondas, desejos de vingança
Dessa desnatureza
Bateu forte sem esperança
Contra a tua dureza
http://www.youtube.com/watch?v=54xAdlQAqpM
33. Compare às
cantigas de maldizer...
Dona Gigi
Os Caçadores
Se me [vê ] agarrado com ela
Separa que é briga, tá ligado!
Ela quer um carinho gostoso
Um bico, [dois soco e três cruzado]!
Tá com pena? [leva ela] pra casa
Porque nem de graça eu quero essa mulher!
Caçadores estão na pista pra dizer como ela é...
Caolha, nariz de tomada, sem bunda, perneta,
Corpo de minhoca, banguela, orelhuda, tem unha encravada,
Com peito caído e um caroço nas costas...
Ih gente! capina, despenca,
Cai fora, vai embora ,
Se não vai dançar,
Chamei 2 guerreiros:
Bispo Macedo, com padre Quevedo pra te exorcizar...
Oi, vaza! http://www.youtube.com/watch?v=zUDfvOsTuyY
34. Minha Vó Ta Maluca
Mc Carol Bombeira
Minha vó ta maluca (2x)
Tanta coisa pra comprar ela comprou uma peruca
Minha vó ta maluca
Minha vó ta...
Deu 120 na peruca (na peruca )
Minha casa no tijolo
Minha geladeira pura
Minha vó ta maluca (2x)
Tá rodando de twister
Com um playboy da jurujuba
Minha vó ta maluca (2x) Preste atenção e responda:
Essa manifestação de funk,
Pancando pra c*** aproxima-se de
Fumando maconha na rua Cantiga de Escárnio
Minha vó ta maluca (2x) ou de Maldizer?
Por quê?
http://www.youtube.com/watch?v=VOHHAV06pmQ
36. Fontes
CEREJA, William Roberto.Português: Linguages, vol 1
Atual Editora, São Paulo 1999.
•http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/c/cantiga_da_ribeirinha
•http://www.profabeatriz.hpg.ig.com.br/literatura/trovadorismo.htm
•http://ifbaportugues.wordpress.com/2009/05/30/cantiga-de-maldizerpor-glauco-mattoso/
•http://www.mundocultural.com.br/literatura1/trovadorismo/trovad_poesia.htm
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Organização e pesquisa
Profa. Cláudia Heloísa Cunha Andria
Contato: clauheloisa@yahoo.com.br