Este documento descreve o contexto histórico e cultural da Idade Média, com foco no Trovadorismo em Portugal. Aborda o teocentrismo, o feudalismo, o projeto literário dos trovadores e as diferentes categorias de cantigas produzidas, como cantigas de amor, de amigo e satíricas. Fornece exemplos dessas cantigas e explica como elas refletem a sociedade medieval portuguesa.
2. Contexto Histórico
Idade Média
Início – conquista do Império Romano do Ocidente
– ano de 476
Final – queda do Império Romano do Oriente – 1753
Cristianismo
Europa cristã - substituído o modo de produção
feudal pelas atividades mercantis. Funda-se o
Mercantilismo.
3. Teocentrismo
Religião – escrita e leitura – mosteiros e
abadias
Latim como língua literária
Feudalismo - vassalagem
População não – alfabetizada
4. Teocentrismo
Quanto ao contexto cultural e
artístico, podemos afirmar que toda a Idade
Média foi fortemente influenciada pela
Igreja, a qual detinha o poder político e
econômico, mantendo-se acima até de toda a
nobreza feudal. Nesse ínterim, figurava uma
visão de mundo baseada tão somente no
teocentrismo, cuja ideologia afirmava que
Deus era o centro de todas as coisas. Assim, o
homem mantinha-se totalmente crédulo e
religioso, cujos posicionamentos estavam
sempre à mercê da vontade divina, assim
como todos os fenômenos naturais.
5. Trovadorismo
•Trovadorismo entre os anos de 1189 e 1385.
• Primeira fase da história portuguesa - de
Portugal como reino independente.
•É o período literário que reúne basicamente
os poemas feitos pelos trovadores para serem
cantados em feiras, festas e nos castelos
durante os últimos séculos da Idade Média.
•É contemporâneo às lutas pela
independência e ao surgimento do Estado
português.
6. Projeto literário
Literatura oral para entreter homens e mulheres da
nobreza
Redefinição do papel dos cavaleiros nas cortes – cortesia –
amor cortês
Criação de estruturas literárias equivalentes às da relação
de vassalagem
Sociedade: subserviência total a Deus (teocentrismo)
Literatura: submissão do trovador à dama (poesia) ou do
cavaleiro à donzela (novelas de cavalaria)
Jogo amoroso – amor cortês – disputas com regras para
conquista das damas
7. Regras da conduta amorosa
Vassalagem – trovador expressaria elogios e
súplicas a uma mulher da nobreza, casada.
Mulher – Senhora
Homem – vassalo, servo.
Idealização amorosa
Coita de amor - sofrimento amoroso
8. Linguagem da vassalagem amorosa
Galego - português
Metros regulares e rimas
Não revelar o nome da dama – propor
adivinhar identificação
MESURA – mérito, valor da dama
CORTEZIA / PREZ - do trovador
GALARDAM – prêmio pela vassalagem
amorosa
9. Cancioneiros
Chegaram até nós três coletâneas de
poesias: o Cancioneiro da Vaticana, o
Cancioneiro da Biblioteca Nacional e
o Cancioneiro da Ajuda, todos eles
contendo composições que vão do século
XII ao século XIV. Os trovadores mais
famosos foram o rei Afonso X de Castela
e o rei D. Dinis de Portugal.
10. As cantigas trovadorescas
Todos os textos poéticos desta primeira época medieval
eram acompanhados por música e normalmente
cantados em coro, daí serem chamados de cantigas.
Assim, trovador era o poeta, quase sempre um
nobre, que compunha sem preocupações financeiras
como é o caso do rei D. Dinis.
Depois o jogral, segrel ou menestrel que exercia sua
profissão de castelo em castelo, entretendo a alta
nobreza. Além de cantar poesias escritas pelos
trovadores, alguns desses artistas chegavam a compor.
Também havia a soldadeira, ou jogralesa, dançarina
que cantava e tocava castanholas ou pandeiro.
11.
12. Canção da Ribeirinha (Guarvaia)
A primeira manifestação documentada
da literatura portuguesa data de 1189:
a Canção da Ribeirinha, escrita por Paio
Soares de Taveirós. Assim, do final do século
XII até o início do século XVI ocorrem, em
Portugal, manifestações literárias
presas, com maior ou menor intensidade, à
modelos medievais.
13. Em Galaico Português
No mundo no me sei parelha*,
mentre me for’ como me vai,
ca ja moiro por vós – e ai
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando vos eu vi en saia!
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, des aquel di’, ai!
me foi a mi muin mal,
e vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d’aver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d’alfaia
nunca de vós ouve nem ei
valia d’~u correa.
14. Transcrição em Português Moderno
No mundo ninguém se assemelha a mim
enquanto a minha vida continuar como vai
porque morro por vós, e ai
minha senhora de pele alva e faces rosadas,
quereis que vos descreva ( retrate )
quando vos eu vi sem manto ( saia: roupa íntima )
Maldito dia! Me levantei
que não vos vi feia! ( a viu mais bela )
E, minha senhora, desde aquele dia, ai!
tudo me foi muito mal,
e vós, filha de don Pai
Moniz, e bem vos parece
de ter eu por vós guarvaia ( roupa luxuosa )
pois eu, minha senhora, como mimo ( prova de amor)
de vós nunca recebi
15. Dois grandes grupos de cantigas
As cantigas líricas
cantigas de amor e cantigas de amigo
As cantigas satíricas
cantigas de escárnio e cantigas de maldizer
16. Características
Cantiga de amor
autoria masculina
sentimento masculino
origem: provençal
ambiente retratado: palaciano
o homem presta vassalagem amorosa
a mulher é um ser idealizado, superior
17. Uma palavrinha sobre as cantigas
de amor
Nas cantigas de amor, em cenário real, na postura do homem
diante da mulher, há a vassalagem feudal, ou seja, os papéis são
trocados e o homem apaixonado jura solenemente “servir” à
mulher amada, que se elevava, desse modo, à condição de
“senhor”. Observemos este fato nos versos:
E que queria eu melhor
De ser seu vassalo
E ela minha senhor?
Portanto, a mulher é vista de modo idealizado, e a ela é dedicado
um amor sublimado, igualmente idealizado, pois como a dama é
inatingível, só resta ao trovador sofrer por ela.
18. Cantiga de amor
Quer’eu em maneira de proença!
fazer agora um cantar d’amor
e querrei muit’i loar mia senhor
a que prez nem fremosura nom fal,
nem bondade; e mais vos direi ém:
tanto a fez Deus comprida de bem
que mais que todas las do mundo val.
Ca mia senhor quizo Deus fazer tal,
quando a faz, que a fez sabedord
e todo bem e de mui gram valor,
e com tod’est[o] é mui comunal
ali u deve; er deu-lhi bom sém,
e desi nom lhi fez pouco de bem
quando nom quis lh’outra
foss’igual D. Dinis
19. Cantiga de amigo
autoria masculina
sentimento feminino
origem: galego-portuguesa
ambiente retratado: rural (popular)
a mulher sofre pelo amigo (namorado, amante)
a mulher é um ser real e concreto
Características
20. Detalhes sobre as cantigas de
amigo
As cantigas de amigo refletem o
PATRIARCALISMO. A mulher sofre a
ausência do amigo (amante) que foi ao
“fossado” (Guerra Santa). A angustia
consiste em não saber qual o destino do
amigo, se voltará ou se a trocará por
outra. O ambiente dessas canções é
rural, onde a mulher é camponesa.
21. Cantiga de amigo
Ai flores, ai flores do verde pinho
se sabedes novas do meu amigo,
ai deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquele que mentiu do que pôs comigo,
ai deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquele que mentiu do que me há jurado
ai deus, e u é?
(...)
D. Dinis
22. As cantigas satíricas
As cantigas satíricas dirigiam seu foco para as
relações sociais, ou seja, os costumes;
notadamente do clero e dos vilões, a covardia; a
decadência da nobreza e o adultério feminino.
As cantigas satíricas apresentam interesse
sobretudo histórico. São verdadeiros
documentos da vida social, principalmente da
corte. Fazem ecoar as reações públicas a certos
fatos políticos: revelam detalhes da vida íntima
da aristocracia, dos trovados e dos
jograis, trazendo até nós os mexericos e os
vícios ocultos da fidalguia medieval
portuguesa.
23. As cantigas de escárnio eram
sátiras indiretas, que exploravam
palavras e construções
ambíguas, expressões irônicas.
Rebuscadas de uma linguagem
conotativa, não indicavam o nome
da pessoa satirizada.
Cantigas de escárnio
24. Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!...
João Garcia de Guilhade
25. Cantiga de maldizer
Já as cantigas de maldizer eram sátiras
diretas, com citação nominal da pessoa
ironizada. Envolvidas por uma
linguagem chula, destacavam-se
palavrões, geralmente envoltos por um
tom de obscenidade, fazendo referência
a situações relacionadas a
adultério, prostituição, imoralidade dos
padres, entre outros aspectos.
26. Roi queimado morreu con amor
Em seus cantares por Sancta Maria
por ua dona que gran bem queria
e por se meter por mais trovador
porque lhela non quis [o] benfazer
fez-sel en seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao tercer dia!...
Pero Garcia Burgalês
27. Documentos Históricos
As canções medievais são registro de uma realidade,
portanto, além de arte são documentos de uma sociedade que
se iniciou há quase mil anos.
Dessa maneira, a poesia satírica galego-portuguesa
oferece-nos um precioso testemunho sobre a Idade Média
portuguesa, uma vez que informa sobre os fatos históricos e
sociais mais relevantes. Deixou também, como herança das
cantigas de escárnio, a tradição de praguejar, zombar, etc. que
é bem presente na sociedade de hoje. Para finalizar deixamos
os versos de Fernando Pessoa:
Cantigas de portugueses
São como barcos no mar –
Vão de uma alma para outra
Com riscos de naufragar.