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TROVADORISMO


Edited by: Caio César P. Gabriel
O Trovadorismo é a primeira manifestação literária da Língua
Portuguesa. Seu surgimento ocorreu no mesmo período em que
Portugal começou a despontar como nação independente, no
século XII. Os textos foram escritos em galego-português,
em virtude da integração cultural e linguística que existia, na
época, entre Portugal e Galícia, região que hoje pertence à
Espanha. É o período literário que reúne basicamente os
poemas feitos pelos trovadores para serem cantados em
feiras, festas e nos castelos durante os últimos séculos da
Idade Média, uma vez que a escrita era pouco difundida na
época. A poesia não era escrita para ser lida por um leitor
solitário. Eram poemas cantados e acompanhados de
instrumentos musicais e de danças. Por esse motivo, foram
denominados CANTIGAS. Os autores dessas cantigas eram os
trovadores (pessoas que compunham as poesias, as melodias,
faziam trovas e rimas). A designação "trovador" aplicava-se
aos autores de origem nobre ou clero, sendo que os autores
de origem vilã (camada popular) tinham o nome de jogral,
cantavam e executavam as canções, mas não as criavam.
TRADUÇÃO – CANTIGA DA RIBEIRINHA
No mundo não conheço outro como eu,
enquanto me acontecer como me acontece:
porque já morro por vós, e ai!,
minha senhora branca e vermelha,
quereis que vos censure
quando vos eu vi em saia? (em corpo bem feito)
Mau dia me levantei
que vos então não vi feia!

E, minha senhora, desde então,
passei muitos maus dias, ai!
E vós, filha de D. Paio
Moniz, parece-vos bem
ter eu de vós uma garvaia? (manto)
Pois eu, minha senhora, de presente
nunca de vós tive nem tenho
nem a mais pequenina coisa.
LITERATURA

MEDIEVAL
Classificação das cantigas

Com base na maioria das cantigas reunidas nos cancioneiros,
podemos, classificá-las da seguinte forma:

                        GÊNERO LÍRICO
                       Cantigas de Amor
                        Cantigas de Amigo


                      GÊNERO SATÍRICO
                      Cantigas de Escárnio
                      Cantigas de Maldizer
Cantiga de amigo: tem raízes nas tradições da península Ibérica, em suas festas rurais
e populares, em sua música e música. Apresentam normalmente ambientação rural,
linguagem e estrutura simples; seu tema mais frequente é o lamento da moça pela
ausência do amado. O eu-lírico é uma mulher (mas o autor era masculino, devido à
sociedade feudal e o restrito acesso ao conhecimento da época), que canta seu amor
pelo amigo (amigo = namorado). Também destacam-se, como características, o
paralelismo (refrão), a presença da natureza e o amor NÃO cortês.


    Ai flores, ai flores do verde pino,         Se sabedes novas do meu amigo,
    se sabedes novas do meu amigo!              aquel que mentiu do que pôs comigo!
    ai Deus, e u é?                             ai Deus, e u é?

    Ai flores, ai flores do verde ramo,         Se sabedes novas do meu amado,
    se sabedes novas do meu amado!              aquel que mentiu do que mi há
    ai Deus, e u é?                             jurado!
                                                ai Deus, e u é?
DIFERENÇA ENTRE AS CANTIGAS DE AMIGO E AS DE AMOR:




CANTIGAS DE AMIGO                     CANTIGAS DE AMOR

Eu lírico feminino                    Eu lírico masculino
Presença de paralelismo               Ausência de paralelismo de par e estrofes
Predomínio da musicalidade            Predomínio das idéias
Assunto principal é o lamento da      Assunto principal é o sofrimento amoroso do eu
moça cujo namorado partiu             lírico perante uma mulher idealizada e distante
Amor natural e espontâneo             Amor cortês; convencionalismo amoroso
Ambientação popular rural ou urbana   Ambientação aristocrática das cortes
Influência da tradição oral ibérica   Forte influência provençal
AS CANTIGAS SATÍRICAS
Cantigas de escárnio: Esta cantiga é uma composição satírica em que se
critica alguém através da zombaria do sarcasmo , traço típico da sátira . A
cantiga de escárnio exige unicamente a alusão indireta e cheia de duplos
sentidos, para que o destinatário não seja reconhecido, estimula a
imaginação do poeta e sugere-lhe uma expressão irônica, embora, por
vezes, bastante mordaz. Na cantiga de escárnio, o eu-lírico faz uma sátira
a alguma pessoa. As cantigas de escárnio definem-se, pois, como sendo
aquelas feitas pelos trovadores para dizer mal de alguém, por meio de
ambigüidades, trocadilhos, ironias e sutilezas.
   Un cavalo non comeu                  creceu a erva,
   á seis meses nen s’ergueu            e paceu, e arriçou,
   mais prougu’a Deus que choveu,       e já se leva!
   creceu a erva,                       Seu dono non lhi quis dar
   e per cabo si paceu,                 cevada, neno ferrar;
   e já se leva! [foi embora]           mais, cabo dum lamaçal
   Seu dono non lhi buscou              creceu a erva,
   cevada neno ferrou:                  e paceu, e arriç’ar,
   mai-lo bon tempo tornou,             e já se leva!
Cantigas de maldizer: Esse tipo de cantiga traz uma sátira direta e sem
duplos sentidos. É comum a agressão verbal à pessoa satirizada, e muitas
vezes, são utilizados até palavrões. O nome da pessoa satirizada costuma
ser identificado.
As críticas referem-se a comportamentos políticos , sexuais , a nobres
traidores , a compositores incapazes , a rivais amorosos , a mulheres de
hábitos feios ou imorais , a pessoas , profissionais ou proprietários
pretensiosos . A linguagem é mais grosseira e até obscena.
                                      Que vos eu loe en esta razon,
"Ai dona fea! Foste-vos queixar       Vos quero já loar toda via;
Que vos nunca louv'en meu trobar      E vedes qual será a loaçon:
Mais ora quero fazer un cantar        Dona fea, velha e sandia!
En que vos loarei toda via;           Dona fea, nunca vos eu loei
E vedes como vos quero loar:          En meu trobar, pero muito trobei;
Dona fea, velha e sandia!             Mais ora já en bom cantar farei
Ai dona fea! Se Deus mi pardon!       En que vos loarei toda via;
E pois havedes tan gran coraçon       E direi-vos como vos loarei:
                                      Dona fea, velha e sandia!"
                                                    Joan Garcia de Guilhade
DIFERENÇA ENTRE AS CANTIGAS DE ESCÁRNIO E AS DE MALDIZER:



 CANTIGAS DE ESCÁRNIO             CANTIGAS DE MALDIZER


 indiretas;                      diretas, sem equívocos;
 uso da ironia e do equívoco.    intenção difamatória;
                                  palavrões e xingamentos 
Trovador da lírica medieval
Escrita Medieval




                                                                                               
Iluminura de trovadores nas Cantigas de Santa
Iluminura do Cancioneiro da Ajuda   Maria, século XIII-XIV
Canção de amor
                                               D. Dinis
Quer’eu em maneira de proença!
fazer agora um cantar d’amor
e querrei muit’i loar lmia senhor
a que prez nem fremosura nom fal,
nem bondade; e mais vos direi ém:           Ca mia senhor nunca Deus pôs mal,
tanto a fez Deus comprida de bem            mais pôs i prez e beldad’e loor
que mais que todas las do mundo val.        e falar mui bem, e riir melhor
                                            que outra molher; desi é leal
Ca mia senhor quizo Deus fazer tal,         muit’, e por esto nom sei oj’eu quem
quando a faz, que a fez sabedord
e todo bem e de mui gram valor,             possa compridamente no seu bem
e com tod’est[o] é mui comunal              falar, ca nom á, tra-lo seu bem, al.
ali u deve; er deu-lhi bom sém,
e desi nom lhi fez pouco de bem
quando nom quis lh’outra foss’igual
Tradução:

    Porque em minha senhora nunca Deus pôs mal,

    mas pôs nela honra e beleza e mérito
    e capacidade de falar bem, e de rir melhor
    que outra mulher também é muito leal
    e por isto não sei hoje quem
    possa cabalmente falar no seu próprio bem
    pois não há outro bem, para além do seu. 
Canção de amigo
                                             Martim
                           Codax

Ondas do mar de Vigo,           Se vistes meu amigo,
se vistes meu amigo?            o por que eu sospiro?
E ai Deus, se verra cedo!       E ai Deus, se verra cedo!

Ondas do mar levado,            Se vistes meu amado,
se vistes meu amado?            por que ei gran coitado?
E ai Deus, se verra cedo!       E ai Deus, se verra cedo!
Tradução:



Ondas do mar de Vigo,           Acaso vistes meu amigo
acaso vistes meu amigo?         aquele por quem suspiro?
Queira Deus que ele venha cedo! Queira Deus que ele venha cedo!

Ondas do mar agitado,           Acaso vistes meu amado,
acaso vistes meu amado?         por quem tenho grande cuidado (preocupado) ?
Queira Deus que ele venha cedo! Queira Deus que ele venha cedo!
Idade Média

De acordo com a maioria dos historiadores, a idade média ou idade
  medieval é o período da história européia compreendida entre os
      séculos V e XV. Durante esse período a sociedade assumiu
   características que a diferenciaram do período imediatamente
   anterior (antiguidade) e do posterior (idade moderna). Algumas
              dessas características verificaremos agora.
A economia da idade média era baseada no feudo, que era principal
      unidade de produção. Tudo que era produzido no feudo era
     consumido no próprio feudo, ou seja, era uma economia auto
suficiente. Por isso, a circulação monetária era tão escassa durante
    quase toda a idade média. Tal fato também contribuiu para a
     ruralização da sociedade, já que o renascimento das cidades
             acontecerá somente a partir do século XIII.
A igreja católica estruturou religiosamente a sociedade feudal, mas
 também era grande proprietária de terras. Uma vez detentora do
poder espiritual, influenciava o modo de pensar e o comportamento
     na idade média. Os monges eram responsáveis pela proteção
    espiritual da sociedade e também tiveram a grande missão de
     copiar livros e a bíblia, preservando grande parte da cultura
                                ocidental.
Até meados do século XI, a sociedade era dividida em três grande
grupos: Nobreza, Clero e Servos. O clero tinha a missão de dirigir
  espiritualmente a sociedade, a nobreza participava das guerras e
      da proteção de todos e os servos deveriam trabalhar para
                      sustentar toda a sociedade.
Porém, nos séculos finais da idade média surgiu uma nova camada
social. Os burgueses, detentores do poder político e econômico nas
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          provocando uma nova maneira de olhar o mundo.

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O Trovadorismo na Idade Média

  • 1. TROVADORISMO Edited by: Caio César P. Gabriel
  • 2. O Trovadorismo é a primeira manifestação literária da Língua Portuguesa. Seu surgimento ocorreu no mesmo período em que Portugal começou a despontar como nação independente, no século XII. Os textos foram escritos em galego-português, em virtude da integração cultural e linguística que existia, na época, entre Portugal e Galícia, região que hoje pertence à Espanha. É o período literário que reúne basicamente os poemas feitos pelos trovadores para serem cantados em feiras, festas e nos castelos durante os últimos séculos da Idade Média, uma vez que a escrita era pouco difundida na época. A poesia não era escrita para ser lida por um leitor solitário. Eram poemas cantados e acompanhados de instrumentos musicais e de danças. Por esse motivo, foram denominados CANTIGAS. Os autores dessas cantigas eram os trovadores (pessoas que compunham as poesias, as melodias, faziam trovas e rimas). A designação "trovador" aplicava-se aos autores de origem nobre ou clero, sendo que os autores de origem vilã (camada popular) tinham o nome de jogral, cantavam e executavam as canções, mas não as criavam.
  • 3. TRADUÇÃO – CANTIGA DA RIBEIRINHA No mundo não conheço outro como eu, enquanto me acontecer como me acontece: porque já morro por vós, e ai!, minha senhora branca e vermelha, quereis que vos censure quando vos eu vi em saia? (em corpo bem feito) Mau dia me levantei que vos então não vi feia! E, minha senhora, desde então, passei muitos maus dias, ai! E vós, filha de D. Paio Moniz, parece-vos bem ter eu de vós uma garvaia? (manto) Pois eu, minha senhora, de presente nunca de vós tive nem tenho nem a mais pequenina coisa.
  • 5. Classificação das cantigas Com base na maioria das cantigas reunidas nos cancioneiros, podemos, classificá-las da seguinte forma: GÊNERO LÍRICO Cantigas de Amor  Cantigas de Amigo GÊNERO SATÍRICO Cantigas de Escárnio Cantigas de Maldizer
  • 6. Cantiga de amigo: tem raízes nas tradições da península Ibérica, em suas festas rurais e populares, em sua música e música. Apresentam normalmente ambientação rural, linguagem e estrutura simples; seu tema mais frequente é o lamento da moça pela ausência do amado. O eu-lírico é uma mulher (mas o autor era masculino, devido à sociedade feudal e o restrito acesso ao conhecimento da época), que canta seu amor pelo amigo (amigo = namorado). Também destacam-se, como características, o paralelismo (refrão), a presença da natureza e o amor NÃO cortês. Ai flores, ai flores do verde pino, Se sabedes novas do meu amigo, se sabedes novas do meu amigo! aquel que mentiu do que pôs comigo! ai Deus, e u é? ai Deus, e u é? Ai flores, ai flores do verde ramo, Se sabedes novas do meu amado, se sabedes novas do meu amado! aquel que mentiu do que mi há ai Deus, e u é? jurado! ai Deus, e u é?
  • 7. DIFERENÇA ENTRE AS CANTIGAS DE AMIGO E AS DE AMOR: CANTIGAS DE AMIGO CANTIGAS DE AMOR Eu lírico feminino Eu lírico masculino Presença de paralelismo Ausência de paralelismo de par e estrofes Predomínio da musicalidade Predomínio das idéias Assunto principal é o lamento da Assunto principal é o sofrimento amoroso do eu moça cujo namorado partiu lírico perante uma mulher idealizada e distante Amor natural e espontâneo Amor cortês; convencionalismo amoroso Ambientação popular rural ou urbana Ambientação aristocrática das cortes Influência da tradição oral ibérica Forte influência provençal
  • 8. AS CANTIGAS SATÍRICAS Cantigas de escárnio: Esta cantiga é uma composição satírica em que se critica alguém através da zombaria do sarcasmo , traço típico da sátira . A cantiga de escárnio exige unicamente a alusão indireta e cheia de duplos sentidos, para que o destinatário não seja reconhecido, estimula a imaginação do poeta e sugere-lhe uma expressão irônica, embora, por vezes, bastante mordaz. Na cantiga de escárnio, o eu-lírico faz uma sátira a alguma pessoa. As cantigas de escárnio definem-se, pois, como sendo aquelas feitas pelos trovadores para dizer mal de alguém, por meio de ambigüidades, trocadilhos, ironias e sutilezas. Un cavalo non comeu creceu a erva, á seis meses nen s’ergueu e paceu, e arriçou, mais prougu’a Deus que choveu, e já se leva! creceu a erva, Seu dono non lhi quis dar e per cabo si paceu, cevada, neno ferrar; e já se leva! [foi embora] mais, cabo dum lamaçal Seu dono non lhi buscou creceu a erva, cevada neno ferrou: e paceu, e arriç’ar, mai-lo bon tempo tornou, e já se leva!
  • 9. Cantigas de maldizer: Esse tipo de cantiga traz uma sátira direta e sem duplos sentidos. É comum a agressão verbal à pessoa satirizada, e muitas vezes, são utilizados até palavrões. O nome da pessoa satirizada costuma ser identificado. As críticas referem-se a comportamentos políticos , sexuais , a nobres traidores , a compositores incapazes , a rivais amorosos , a mulheres de hábitos feios ou imorais , a pessoas , profissionais ou proprietários pretensiosos . A linguagem é mais grosseira e até obscena. Que vos eu loe en esta razon, "Ai dona fea! Foste-vos queixar Vos quero já loar toda via; Que vos nunca louv'en meu trobar E vedes qual será a loaçon: Mais ora quero fazer un cantar Dona fea, velha e sandia! En que vos loarei toda via; Dona fea, nunca vos eu loei E vedes como vos quero loar: En meu trobar, pero muito trobei; Dona fea, velha e sandia! Mais ora já en bom cantar farei Ai dona fea! Se Deus mi pardon! En que vos loarei toda via; E pois havedes tan gran coraçon E direi-vos como vos loarei: Dona fea, velha e sandia!" Joan Garcia de Guilhade
  • 10. DIFERENÇA ENTRE AS CANTIGAS DE ESCÁRNIO E AS DE MALDIZER: CANTIGAS DE ESCÁRNIO CANTIGAS DE MALDIZER  indiretas;  diretas, sem equívocos;  uso da ironia e do equívoco.  intenção difamatória;  palavrões e xingamentos 
  • 12. Escrita Medieval                                                                                              
  • 13. Iluminura de trovadores nas Cantigas de Santa Iluminura do Cancioneiro da Ajuda Maria, século XIII-XIV
  • 14. Canção de amor                         D. Dinis Quer’eu em maneira de proença! fazer agora um cantar d’amor e querrei muit’i loar lmia senhor a que prez nem fremosura nom fal, nem bondade; e mais vos direi ém: Ca mia senhor nunca Deus pôs mal, tanto a fez Deus comprida de bem mais pôs i prez e beldad’e loor que mais que todas las do mundo val. e falar mui bem, e riir melhor que outra molher; desi é leal Ca mia senhor quizo Deus fazer tal, muit’, e por esto nom sei oj’eu quem quando a faz, que a fez sabedord e todo bem e de mui gram valor, possa compridamente no seu bem e com tod’est[o] é mui comunal falar, ca nom á, tra-lo seu bem, al. ali u deve; er deu-lhi bom sém, e desi nom lhi fez pouco de bem quando nom quis lh’outra foss’igual
  • 15. Tradução: Porque em minha senhora nunca Deus pôs mal, mas pôs nela honra e beleza e mérito e capacidade de falar bem, e de rir melhor que outra mulher também é muito leal e por isto não sei hoje quem possa cabalmente falar no seu próprio bem pois não há outro bem, para além do seu. 
  • 16. Canção de amigo                                      Martim Codax Ondas do mar de Vigo, Se vistes meu amigo, se vistes meu amigo? o por que eu sospiro? E ai Deus, se verra cedo! E ai Deus, se verra cedo! Ondas do mar levado, Se vistes meu amado, se vistes meu amado? por que ei gran coitado? E ai Deus, se verra cedo! E ai Deus, se verra cedo!
  • 17. Tradução: Ondas do mar de Vigo, Acaso vistes meu amigo acaso vistes meu amigo? aquele por quem suspiro? Queira Deus que ele venha cedo! Queira Deus que ele venha cedo! Ondas do mar agitado, Acaso vistes meu amado, acaso vistes meu amado? por quem tenho grande cuidado (preocupado) ? Queira Deus que ele venha cedo! Queira Deus que ele venha cedo!
  • 18. Idade Média De acordo com a maioria dos historiadores, a idade média ou idade medieval é o período da história européia compreendida entre os séculos V e XV. Durante esse período a sociedade assumiu características que a diferenciaram do período imediatamente anterior (antiguidade) e do posterior (idade moderna). Algumas dessas características verificaremos agora. A economia da idade média era baseada no feudo, que era principal unidade de produção. Tudo que era produzido no feudo era consumido no próprio feudo, ou seja, era uma economia auto suficiente. Por isso, a circulação monetária era tão escassa durante quase toda a idade média. Tal fato também contribuiu para a ruralização da sociedade, já que o renascimento das cidades acontecerá somente a partir do século XIII.
  • 19. A igreja católica estruturou religiosamente a sociedade feudal, mas também era grande proprietária de terras. Uma vez detentora do poder espiritual, influenciava o modo de pensar e o comportamento na idade média. Os monges eram responsáveis pela proteção espiritual da sociedade e também tiveram a grande missão de copiar livros e a bíblia, preservando grande parte da cultura ocidental. Até meados do século XI, a sociedade era dividida em três grande grupos: Nobreza, Clero e Servos. O clero tinha a missão de dirigir espiritualmente a sociedade, a nobreza participava das guerras e da proteção de todos e os servos deveriam trabalhar para sustentar toda a sociedade.
  • 20. Porém, nos séculos finais da idade média surgiu uma nova camada social. Os burgueses, detentores do poder político e econômico nas cidades, alteraram o panorama social da sociedade medieval, provocando uma nova maneira de olhar o mundo.