O documento discute as teorias semióticas do texto, definindo-o como um todo de sentido entre emissor e receptor. Apresenta a teoria do percurso gerativo do sentido de Greimas, com três níveis: fundamental, narrativo e discursivo. Ilustra com as análises semióticas da história de uma gata e da psicanálise do açúcar.
2. • Obra apresenta a teoria semiótica de linha
greimasiana, reconhecendo as outras linhas
teóricas.
• Teoria semiótica greimasiana é essencialmente
uma teoria do texto.
• Estudos linguísticos estiveram por muito tempo
circunscritos a questões do âmbito da língua e da
dimensão da frase.
3. • Preocupações com a semântica, na década de
1960, tornaram as limitações da Linguística
insustentáveis.
• Semântica estrutural desenvolveu princípios e
métodos para estudar o plano do conteúdo,
delimitado por Hjelmslev.
• Contribuições da semântica estrutural foram
pequenas, mas serviram para indicar a
necessidade de romper as barreiras entre a frase e
o texto e o enunciado e a enunciação.
4. • Novas concepções estabeleceram o texto como
unidade de sentido, e a frase como uma de suas
partes. Assim, o sentido da frase depende do
sentido do texto como um todo.
• Paralelamente, surgiram teorias pragmáticas que
estudavam relações entre a enunciação e o texto
enunciado, e entre o enunciador e o enunciatário.
• Ambas as vertentes contribuíram para o surgimento
de uma teoria do texto, na qual estão unificadas.
5. AA nnooççããoo ddee tteexxttoo
• Se a Semiótica tem por objeto o texto, dentro do
âmbito da comunicação, faz-se necessário definir
o que é texto.
• Primeira definição de texto: um todo de sentido,
objeto da comunicação estabelecida entre um
destinador e um destinatário.
• Primeira definição coloca o texto como objeto de
significação. Para desvendar essa significação, é
preciso realizar uma análise interna e estrutural do
texto.
6. • Segunda definição: texto é um objeto de
comunicação, cultural, inserido numa sociedade e
determinado por formações ideológicas.
• Segunda definição implica exame das condições
sócio-históricas de produção e recepção dos
textos, remetendo a uma análise externa de seu
conteúdo.
• Métodos de análise interno e externo são muitas
vezes vistos como limitados, redutores ou
corruptores dos textos.
7. • Semiótica tem se esforçado para realizar a análise
tanto da organização interna do texto quanto dos
mecanismos relacionados a sua enunciação.
• Texto estudado pela semiótica pode ser verbal,
não verbal ou sincrético. Diferentes possibilidades
da manifestação textual tendem a convocar
análises especializadas em linguagens específicas,
o que faz com que se perca a possibilidade de
comparação entre expressões distintas.
8. • Como primeiro passo da análise, semiótica propõe
abstração das diferentes manifestações para
centrar foco no plano do conteúdo.
• Assim, a semiótica é a ciência que procura explicar
o sentido dos textos analisando o plano de seu
conteúdo.
9. PPeerrccuurrssoo ggeerraattiivvoo ddoo
sseennttiiddoo
• Semiótica concebe plano do conteúdo como
percurso gerativo do sentido.
• O percurso gerativo do sentido pode ser resumido
em cinco apontamentos:
• 1) sua direção é sempre do mais simples e abstrato
ao mais complexo e concreto;
• 2) é dividido em três níveis, cada qual com sua
própria gramática, mas dependente dos demais;
10. • 3) o nível fundamental ou estrutura
fundamental consiste no estabelecimento
de uma oposição semântica mínima;
• 4) o nível narrativo ou das estruturas
narrativas é constituído a partir de um
sujeito, e estabelece os actantes narrativos
e o desenvolvimento da narrativa;
• 5) o nível do discurso é aquele em que a
estrutura narrativa é assumida pelo sujeito
da enunciação.
11. HHiissttóórriiaa ddee uummaa ggaattaa
• Nível fundamental: oposição básica.
• Liberdade X dominação.
• Às categorias estabelecidas é aplicada a divisão da
categoria das forias, ou seja, quais categorias são
valorizadas positivamente e quais categorias são
valorizadas negativamente.
• No caso, a liberdade é um valor eufórico e a
dominação é um valor disfórico.
• Desenha-se, a partir disso, um percurso, que vai da
dominação disfórica à liberdade eufórica. Considera-se
a relação dos termos em um quadrado semiótico,
em que as oposições recebem termos
complementares.
12.
13.
14. • Nível narrativo.
• Elementos da oposição fundamental são
assumidos por um sujeito de ação. Ele
realiza o percurso narrativo: de um estado
de dominação para um estado de
liberdade.
• Dois destinadores influenciam os valores do
sujeito: o dono, que quer um contrato de
obediência em troca dos bons tratos, e os
gatos da rua, que valorizam e cantam a
liberdade.
15. • Elementos:
• Sujeito da ação: a gata.
• Objeto-valor: liberdade. (eufórico)
• Antiobjeto-valor: comodidade. (disfórico)
• Antidestinador (sujeito da manipulação com valores
disfóricos): o dono da gata.
• Destinador-manipulador (sujeito da manipulação com
valores eufóricos): os outros gatos.
• Performance: gata vai cantar com os outros gatos e
volta de manhã. Configuração do segredo. Sujeito da
ação é o sujeito do retorno. Ainda não houve escolha
do objeto-valor.
• Antissujeito: quem barra a gata na portaria.
16.
17. • Nível discursivo:
• Actantes recebem revestimento figurativo.
• Enunciados narrativos são apresentados por
instâncias de enunciação: personagens,
narradores, pontos de vista.
• Narrador é projetado no “eu”: efeito de
subjetividade. Indeterminação do sujeito no
início. Investimento figurativo de dono de
animal doméstico e de gatos de rua.
18. • Oposição fundamental, assumida como
valores narrativos, é recoberta figurativamente
por temas e figuras.
• Domesticidade (liberdade selvagem – conforto
pela dominação);
• Mulher-objeto (mulher livre para se satisfazer –
mulher comprada);
• Adolescência (submissão – não submissão aos
pais);
• Marginalização (liberdade da boemia –
desvalorização da boemia).
20. PPssiiccaannáálliissee ddoo aaççúúccaarr
• Nível fundamental: oposição básica.
• Pureza X sujeira.
• A oposição é projetada no quadrado semiótico,
gerando dois percursos possíveis:
• Pureza – não pureza – sujeira
• Sujeira – não sujeira – pureza
21.
22. • Nível narrativo:
• Sujeito: açúcar.
• Destinador: usina (purifica o açúcar).
• Antidestinador: tempo (mela o açúcar).
• Destinador: banguê (prepara o açúcar, pela
mistura com barro, para a depuração).
23. • Nível discursivo:
• Discurso é construído em terceira pessoa, gerando
o efeito de objetividade (verdade impessoal).
• Há citação de autoridade (as pessoas do Recife
que conhecem o processo de depuração do
açúcar).
24. • Valores de pureza e sujeira assumem
revestimentos figurativos. Temas são
construídos a partir desses valores e da
narratividade do percurso:
• Purificação do açúcar;
• Censura X educação;
• Racismo (brancura, mestiçagem);
• Mecanização da agricultura (valorização
do banguê);
• Política (ordem x rebelião).
25. SSiinnttaaxxee nnaarrrraattiivvaa
• Simula o fazer do homem que transforma o mundo.
• Semiótica pensa duas possibilidades da narrativa:
como mudança de estados e como sucessão de
estabelecimentos e rupturas de contratos entre
destinadores e destinatários.
• Dois actantes do enunciado elementar: sujeito e
objeto, em relação transitiva.
• Enunciados de estado: sujeito está em junção
(conjunção ou disjunção) com o objeto.
• Enunciados de fazer: transformação do estado do
sujeito em relação ao objeto por meio de alguma
ação.
26. • Enunciados de fazer fazem operam a passagem de
um estado para outro. Objeto da transformação é
sempre um enunciado de estado.
• Programa narrativo é a combinação hierárquica
de enunciados de estado e enunciados de fazer.
• Programas narrativos são marcados por sucessões
de conjunções e disjunções.
• Estrutura do programa narrativo:
• F [ S1 -> (S2 ∩ OV)]
27. • Elementos da estrutura:
• F = função (coloca-se o verbo nocional de designa
a ação entre parênteses).
• S1 = sujeito do fazer.
• S2 = sujeito do estado.
• -> = transformação
• ∩ = conjunção
• Ov = objeto-valor
28. • História de uma gata:
• PN1 – F (acariciar, alimentar) [ S1 (dono) -> S2
(gata) ∩ Ov (comida, carinho)]
• PN2 – F (barrar na portaria) [S1 (dono) -> S2 (gata) ∩
Ov (comida, carinho)]
• PN3 – F (sair de casa) [S1 (gata) -> S2 (gata) ∩ Ov
(liberdade, identidade)]
• PN4 – F (ficar em casa) [S1 (gata) -> S2 (gata) ∩ Ov
(liberdade, identidade)]
29. • Psicanálise do açúcar
• PN1 – F (purificar) [S1 (usina) -> S2 (açúcar) ∩ Ov
(brancura, pureza)]
• PN2 – F (melar) [S1 (tempo) -> S2 (açúcar) ∩ Ov
(brancura, pureza)]
• PN3 – F (purificar) [S1 (banguê) – S2 (açúcar) ∩ Ov
(brancura, escuro)]
30. TTiippooss ddee ppoorrggrraammaass
nnaarrrraattiivvooss
• Resultado da transformação é um estado de
conjunção: programa de aquisição.
• Resultado da transformação é um estado de
disjunção: programa de privação.
• Programa narrativo é ação principal: programa de
base.
• Programa narrativo auxilia a ação principal:
programa de uso.
31. • Programas narrativos que atuam sobre objetos-valor
representados por categorias da
competência do sujeito (querer, dever, saber,
poder) são modais.
• Programas narrativos que atuam sobre objetos-valor
representados por valores materiais ou
imateriais são descritivos.
• Programas que têm atores diferentes para
enunciados de fazer e de estado são transitivos.
• Programas que têm o mesmo ator para
enunciados de fazer e de estado são reflexivos.
32. • Programas aquisitivos transitivos são programas de
doação.
• Programas aquisitivos reflexivos são programas de
apropriação.
• Programas privativos transitivos são programas de
espoliação.
• Programas privativos reflexivos são programas de
renúncia.
• Cada programa narrativo pressupõe um outro. A
doação de alguns pode ser espoliação de outros.
33. • Se dois sujeitos atuam em relação a um mesmo
objeto-valor, e a apropriação de um corresponde
à espoliação do outro, e vice-versa, teremos uma
relação sujeito – antissujeito.
• Essa relação é muito comum nos contos populares
e nas histórias de heróis.
34. • Dois tipos fundamentais de programas:
competência e performance.
• Competência é um programa de uso de aquisição
de valores modais. Programa de doação.
• Performance é um programa de base de aquisição
de valores descritivos. Programa de apropriação.