A Prevenção Quaternária se refere a ações para proteger pacientes de intervenções médicas desnecessárias e evitar a supermedicalização. Ela se aplica em todas as etapas da relação médico-paciente para promover o cuidado centrado na pessoa e compartilhado de decisões. A comunicação efetiva, o questionamento do excesso de exames e a aceitação de sintomas inexplicáveis clínicamente são fundamentais na abordagem de Prevenção Quaternária.
2. Os Níveis de Prevenção – P1
PREVENÇÃO PRIMÁRIA (P1)
Ação realizada para evitar ou remover a causa de um problema
de saúde em um indivíduo ou população antes que ele se
manifeste.
Ex.: Imunização / Educação
3.
4. Os Níveis de Prevenção – P2
PREVENÇÃO SECUNDÁRIA (P2)
Ação realizada para detectar um problema de saúde em estágio
inicial em um indivíduo ou população, facilitando, dessa forma, a
cura, ou reduzindo ou prevenindo que se espalhe ou cause efeitos
de longo prazo.
Ex.: Triagem, Screening
5.
6. Os Níveis de Prevenção – P3
PREVENÇÃO TERCIÁRIA (P3)
Ação realizada para reduzir os efeitos crônicos de um problema
de saúde em um indivíduo ou população, minimizando o prejuízo
funcional em consequência de problema de saúde agudo ou
crônico. Incluindo reabilitação.
Ex.: Cirurgia
9. Prevenção Quaternária – P4
1988 – Bury propõe Prevenção Quaternária como cuidado
paliativo (visão cronológica).
1995 – Aparece oficialmente em pôster da WONCA pelo Médico
de Família e Comunidade belga Jamoulle (visão relacional –
tabela 2x2).
10. Visão Cronológica
Linha do Tempo
Problema de Saúde
Antes Depois
Primário Secundário Terciário Quaternário
Prevenção Triagem Curativo e
Reabilitação
Paliativo
11. Visão Relacional
P1 P2
P4 P3
PROFISSIONAL DOENÇA
PACIENTEENFERMIDADE
Encaixa-se
perfeitamente na
definição de
prevenção pela
WONCA.
12. “
”
Ação feita para identificar um paciente ou
população em risco de supermedicalização,
para protegê-los de uma intervenção
médica invasiva e sugerir procedimentos
científica e eticamente aceitáveis.
PRIMUM NON NOCERE
13. ATENÇÃO!
Excessos de medidas preventivas e diagnósticas em assintomáticos e
doentes, tanto em adultos como crianças.
Nem todas as intervenções médicas beneficiam as pessoas da mesma
forma e, quando excessivas ou desnecessárias, podem prejudicá-las.
PRIMUM NON NOCERE
15. “Onde se aplica?”
A Prevenção Quaternária se aplica a todos os campos da
relação médico-paciente. Tendo em mente a profunda
influência das atividades do médico e crenças do paciente e
as interações de ambos os atores do cuidado, pode-se
considerar a P4 em cada estágio da atividade médica.
18. Rastreamento
Testes ou Exames diagnósticos
População/pessoas assintomáticas
Diagnóstico precoce ou identificação e controle de riscos.
Objetivo Final – Reduzir a morbidade e ou a mortalidade da
doença, agravo ou risco rastreado.
19. Risco do excesso de Rastreamento
Pessoas assintomáticas catalogadas como doentes
Falso-positivos
Desconforto físico decorrente do exame diagnóstico
Sensação de estar doente apenas pela vivência dos
atendimentos e exames
20. Excesso de Medicalização
Medicalização excessiva
Estados pré-doença
Interesses da indústria farmacêutica
Mercantilização da medicina
24. Como Agir
Praticar o Atendimento Centrado
na Pessoa
Aceitar que há sintomas
clinicamente inexplicáveis
Evitar pseudo-diagnósticos e rótulos
Trabalhar no reforço da relação
médico-paciente (empatia!)
Envolver o paciente nas decisões
25. Ferramentas
• Continuidade do cuidado
• Sintoma como diagnóstico –
CIAP2
• Demora permitida
• Habilidades de comunicação
• Medicina baseada em
evidências
26. Caso Clínico
Elisabeth, 72 – natural da Bélgica
A situação é preocupante. Essa paciente vem sendo acompanhada há um
longo tempo por câncer de mama. O primeiro erro foi solicitar CEA em vez
de CA 15-3. O marcador de CEA é muito alto, e a paciente, cujo marido
morreu de câncer no colo entende imediatamente que a situação é grave.
O colo se mostra negativo na colonoscopia, e o exame de sangue para
controle teve resultado normal. Era um falso-positivo. Ela já sobreviveu a um
câncer de mama e cuidava do marido, portanto conhece o nível de
sofrimento envolvido. Ela não acredita no médico, acha que ele adulterou
os números e pede outro exame. Levará várias consultas e muita paciência
e atenção para aplacar suas dúvidas e reconquistar sua confiança.
27. Referência Bibliográfica
Gusso, G, Lopes, JMC – Tratado de Medicina de Família e Comunidade: princípios,
formação e prática. Porto Alegre : Artmed, 2012
Silva, AL – Prevenção Quaternária, I Seminário Brasileiro sobre Prevenção Quaternária na
Atenção Primária à Saúde – Curitiba, 2013
Norman, AH, Tesser, CD - Prevenção quaternária na atenção primária à saúde: uma
necessidade do Sistema Único de Saúde - Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(9):2012-
2020, set, 2009
Tesser, CD - Prevenção Quaternária para a humanização da Atenção Primária à Saúde -
O Mundo da Saúde, São Paulo – 2012;36(3):416-426