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FARMÁCIA CLÍNICA
E A PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS FARMA-
CÊUTICOS
Descubra como a emergente área da Farmácia Clínica e dos Serviços Farmacêuticos
pode ajudar a aproximar pacientes, médicos e demais profissionais da saúde, em
busca de uma farmácia mais atuante e de melhores resultados de saúde para todos.
Cassyano J Correr
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS
Copyright © 2016 ABRAFARMA
Reservados todos os direitos. Os direitos de uso desta obra foram cedidos por seus autores à ABRAFARMA. É proibida a dupli-
cação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico,
gravação, fotocópia, distribuição na internet ou outros), sem permissão expressa da ABRAFARMA. As opiniões aqui expressas
são de responsabilidade de seus autores, e não refletem necessariamente as da entidade. Esta obra também é parte inerente
do curso Farmácia Clínica e Serviços Farmacêuticos, oferecido na modalidade à distância pela Abrafarma a profissionais de
todo país.
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Os autores desta obra empenharam seus melhores esforços para assegurar que as informações e os procedimentos apresentados no texto estejam em acordo com os padrões aceitos à época da publi-
cação, e todos os dados foram atualizados até a data da entrega dos originais à editora. Entretanto, tendo em conta a evolução das ciências da saúde, as mudanças regulamentares governamentais e o
constante fluxo de novas informações em administração e saúde, recomendamos enfaticamente que os leitores sempre consultem outras fontes fidedignas (p. ex., Anvisa, diretrizes e protocolos clínicos),
de modo a se certificarem de que as informações contidas neste manual estão corretas e de que não houve alterações nas dosagens recomendadas ou na legislação regulamentadora. Recomendamos que
cada profissional utilize este livro como guia, não como única fonte de consulta.
Os autores e a editora se empenharam para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores de direitos autorais de qualquer material utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis correções
posteriores caso, inadvertida e involuntariamente, a identificação de algum deles tenha sido omitida.
Editoração:
C345 Correr, Cassyano Januário
Farmácia Clínica e a prestação de serviços farmacêuticos /
Cassyano Januário Correr. 1. ed. Curitiba: Ed. Practice,
2016.
132 p. : il. ( algumas color.)
ISBN 978-85-68784-10-5
1. Saúde. 2. Farmácia . I. Título
AUTOR:
Cassyano J Correr, BPharm, MSc, PhD
Departamento de Farmácia, Universidade Federal do Paraná
Consultor Abrafarma - Projeto Assistência Farmacêutica Avançada
projetofarma@abrafarma.com.br
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS5
O que esta imagem
significa para você?
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS6
su-
má-
rio
95
107
113
116
122
Promoção: como o serviço é comu-
nicado aos pacientes e clientes?
Processo: o serviço é bem feito?
Pessoas: o provedor do serviço é
bem preparado?
Provas: o que o paciente vê? O que
ele leva para casa?
Referências
43
62
64
69
83
31
40
Um novo plano para os serviços
farmacêuticos
Produto: que benefício (valor) o
serviço gera para o paciente
Ponto: onde o serviço é fornecido?
Preço: quanto custa para o cliente
obter o serviço?
O modelo Abrafarma para os servi-
ços farmacêuticos
Os serviços farmacêuticos em far-
mácias e drogarias
Um pouco mais sobre dispensação
de medicamentos
07
12
15
16
21
24
29
A jornada do paciente
Automedicação e os problemas de
saúde autolimitados
Um pouco de história
Os farmacêuticos e os médicos pre-
cisam trabalhar juntos
A voz do consumidor: o que eles
pensam do farmacêutico?
Entenda o que é adesão ao
tratamento
Problemas relacionados à
farmacoterapia
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS7
“O farmacêutico é tradicionalmente reconhecido como um profis-
sional responsável pela produção e distribuição de medicamentos
e pouco envolvido no cuidado dos pacientes. O modelo de prática
de dispensação de medicamentos também corresponde a este pa-
pel tradicional. Esta realidade, entretanto, vem sendo transformada,
na medida em que cresce a necessidade de uma maior participação
do farmacêutico no manejo do uso dos medicamentos, tendo como
foco de trabalho o paciente e não apenas o medicamento. A promo-
ção do uso racional de medicamentos, a diminuição da morbidade e
mortalidade relacionadas aos medicamentos e a busca da melhoria
da qualidade de vida da população têm sido o foco das ações pro-
postas.”
Correr; Otuki. A prática farmacêutica na farmácia comunitária. Artmed, 2013.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS8
A jornada do paciente
Vamos começar com uma boa notícia. Nós estamos vivendo mais e melhor e
essa é uma realidade em todo mundo. Não importa a pobreza do país, todos
assistiram a um aumento da expectativa de vida no último século. Mas há um
preço cada vez menos oculto a ser pago. O envelhecimento populacional, as
famílias com menos filhos, as mudanças no perfil das doenças. Tudo isso cobra
sua conta sobre quem paga os gastos da saúde.
O aumento da prevalência das condições crônicas é o principal fator que atual-
mente pressiona os sistemas de saúde em todo mundo. Se 100 anos atrás as
causas de morte eram principalmente as doenças infecciosas e parasitárias,
hoje a maior carga de morbidade e mortalidade pertence às doenças crônicas
não transmissíveis1
.
As mais importantes são as doenças cardiocirculatórias, o
câncer, o diabetes, doenças crônicas pulmonares e neurop-
siquiátricas.
Os fatores de risco mais relevantes para essas doenças são: tabagismo, consu-
mo abusivo de álcool, excesso de peso, níveis elevados de colesterol, baixo con-
sumo de frutas e verduras e sedentarismo. No Brasil, 31% dos brasileiros adultos
afirma ter pelo menos uma doença crônica. Essa proporção aumenta conforme
a faixa etária, chegando a 79% dos idosos com mais de 65 anos2
.
A partir dos 50 anos de idade, a prevalência das doenças crônicas aumenta con-
sideravelmente, e acaba levando à polimedicação, que é o uso simultâneo de
vários medicamentos. Nos idosos, por exemplo, 1 em cada 3 utiliza mais de 5
medicamentos contínuos, e isso representa custos crescentes nos gastos em
saúde3
. A importância das doenças crônicas cresce em nosso país, ao mesmo
tempo em que problemas básicos de saneamento, nutrição infantil e doenças
infecciosas endêmicas, como a febre amarela, e epidêmicas, com a dengue, con-
tinuam importantes. Adicionalmente, os números da violência, principalmente
nas grandes cidades, tornam significativas as causas externas de morte. Por
isso, é comum ver os especialistas referirem que no Brasil convivemos com uma
tripla carga de morbimortalidade, representada pelas condições crônicas, as do-
enças infecciosas e as causas externas4
.
O desafio das doenças crônicas é que elas exigem um outro modelo de cuidados
em saúde. A lógica tradicional da doença aguda, em que se tem sintomas cla-
ros, diagnóstico, tratamento e cura, não funciona para as doenças crônicas. Para
doenças como hipertensão e diabetes, os sintomas costumam estar ausentes, o
diagnóstico muitas vezes é incerto, o tratamento é longo, e não há cura.
O primeiro desafio é a detecção para o diagnóstico precoce. Esse continua sendo
um desafio no Brasil. Em média, uma pessoa pode levar 12 meses ou mais para
conseguir percorrer a jornada entre uma primeira consulta médica, fazer os exames,
retornar ao médico para fechamento do diagnóstico e receber uma prescrição do
tratamento. Essa dificuldade é maior principalmente na parcela da população com
mais baixa renda, e na dependência de especialistas e exames mais caros.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS9
Mas o que isso tem a ver com a farmácia?
E uma vez que o paciente recebe o diagnóstico e consegue iniciar o tratamento,
daí começa uma outra jornada. O acompanhamento, as consultas periódicas, os
exames, os ajustes necessários na medicação, a aceitação da doença e a força
de vontade para mudar hábitos de vida.
Mesmo em países desenvolvidos, como a Inglaterra, um
doente crônico passa, em média, apenas 3 horas por ano
com o médico.
Isso representa 0,03% das 8.760 horas de um ano. Fica fácil perceber que para
as doenças crônicas o autocuidado é mais importante do que o cuidado profis-
sional, e esse, de fato, é um dos pilares do modelo de cuidados crônicos 1,5
. O
treinamento e a educação do paciente são fundamentais.
Tem tudo a ver! Por isso, é importante que existam ações que possibilitem a detecção de risco nos pacientes, especialmente nas doenças crônicas mais assintomá-
ticas. Essas ações são chamadas de rastreamento em saúde. Um teste positivo no rastreamento é o primeiro passo para a obtenção de um diagnóstico, que deverá
ser confirmado pelo médico. Um exemplo bem conhecido é o teste de glicemia, capaz de detectar pacientes com risco de diabetes de uma forma rápida, acessível
e bastante confiável. Quer outros exemplos? a medida da pressão arterial, a densitometria óssea de calcanhar, o teste de colesterol, o PHQ-2, etc.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS10
O paciente enfrenta uma longa jornada, começando pelo
pré-diagnóstico
4 meses 4 meses
Paciente busca atendi-
mento médico
TEMPO
DÚVIDAS
INSEGURANÇA
CUSTOS
Médico faz consulta e
solicita exames
3-4 meses
Paciente realiza os
exames
Paciente retorna ao médi-
co com os exames
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS11
O diagnóstico é apenas o início.
É durante o tratamento que outros problemas podem surgir.
Adesão ao tratamento
Recaídas / dúvidas
Efeitos colaterais
Acesso aos profissionais
Autogestão da doença
Paciente inicia o tratamento
Paciente faz exames e
consultas periódicas
Tratamento é ajustado conforme
os resultados
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS12
A importância crescente das doenças crônicas tornou a adesão ao tratamento
um dos maiores desafios que temos hoje na saúde.
A Organização Mundial da Saúde estima que 50% dos pa-
cientes tem baixa adesão ao tratamento6
.
Um estudo com mais de 150.000 pessoas, feito nos Estados Unidos, mostrou
que a adesão a medicamentos para glaucoma, dislipidemia, osteoporose, dia-
betes e hipertensão varia de 37% a 72% nos primeiros 12 meses de tratamento.
Nos hipertensos tratados por 10 anos, 22% interrompem e reiniciam o trata-
mento durante o período e 39% abandonam o tratamento definitivamente7
. Em
pessoas com mais de 40 anos, usando medicamentos contínuos, a taxa de não
adesão completa aos medicamentos é de 63%. As principais causas são des-
continuidade de acesso, falta de acompanhamento profissional e ter que usar
medicamentos muitas vezes ao dia8
.
ALGUNS NÚMEROS DA NÃO ADESÃO AOS MEDICAMENTOS
50% dos pacientes
possuem adesão
aos medicamentos
abaixo do
necessário
A não adesão ao tra-
tamento para doenças
crônicas varia de 37%
a 72% nos primeiros
12 meses
63% das pessoas
com mais de 40 anos
admitem não ter
adesão completa ao
tratamento
Fica claro que o cuidado tradicional centrado apenas no médico, com um diag-
nóstico e uma receita de medicamentos, não funciona bem para as doenças
crônicas. É preciso um trabalho multiprofissional e um acompanhamento conti-
nuo da saúde desses pacientes. É preciso educar e dar suporte ao autocuidado,
pois essas doenças exigem que o paciente seja o verdadeiro protagonista do
seu tratamento. A falta dessa abordagem compromete a qualidade do cuidado
e o controle das doenças crônicas, com grande impacto social e econômico.
Vejamos a situação do cuidado das principais doenças e fatores de risco.
TABAGISMO: A prevalência de usuários atuais de produtos derivados de tabaco,
fumado ou não fumado, de uso diário ou ocasional, é de 15,0% (21,9 milhões
de pessoas). Os homens apresentaram percentual mais elevado de usuários
(19,2%) do que as mulheres (11,2%). Por faixa etária, aqueles com idade entre
40 e 59 anos apresentaram o maior percentual (19,4%). Mais da metade dos
fumantes (51,1%) tentou parar de fumar nos últimos 12 meses. Apenas 8,8%
procuraram tratamento ou profissional da saúde para parar de fumar 2
.
SOBREPESO E OBESIDADE: 51% dos brasileiros (54% dos homens e 38% das
mulheres) apresentam sobrepeso e 17,5% dos brasileiros (16% dos homens e
18% das mulheres) são obesos9
.
HIPERTENSÃO ARTERIAL: 21,4% dos brasileiros com mais de 18 anos referem
diagnóstico de hipertensão. Do total de pessoas com idade entre 60 e 64 anos,
44,4% referiram diagnóstico de hipertensão. Um em cada cinco (18,6%) admi-
tem não ter tomado os medicamentos para hipertensão nas últimas duas sema-
nas. Um em cada três (30,3%) não receberam nenhuma assistência médica nos
últimos 12 meses 2
. O controle da hipertensão no Brasil é ruim. Mais de 60% dos
pacientes controlam mal a condição e é esperado que apenas 3 ou 4 a cada 10
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS13
pacientes tratados estejam com pressão arterial estabilizada abaixo de 140/90
mmHg (que é a meta geral do tratamento)10
.
DIABETES MELLITUS: 11,5% dos brasileiros com mais de 18 anos nunca fize-
ram exame de sangue para determinar a glicemia 2
. Diagnóstico: 6,2% da popu-
lação de 18 anos ou mais de idade referiram diagnóstico médico de diabetes (9,1
milhões de pessoas). Em pessoas com 65 anos ou mais a prevalência é de 19%
2
. Tratamento: 75% dos diabéticos tipo 2 controlam mal a doença e não atingem
a meta do tratamento11
. Uma em cada quatro pessoas com diabetes (27%) não
recebeu nenhuma assistência médica nos últimos 12 meses. Um em cada cinco
(20,%) admitiram não ter utilizado medicamento ou insulina nas últimas duas
semanas2
.
DISLIPIDEMIAS: 12,5% das pessoas de 18 anos ou mais de idade (18,4 milhões)
tiveram diagnóstico médico de colesterol alto. A frequência de pessoas que re-
feriram diagnóstico médico de colesterol alto é mais representativa nas faixas
de maior idade: 25,9% das pessoas de 60 a 64 anos de idade, 25,5% das pessoas
de 65 a 74 anos de idade e 20,3% para aqueles com 75 anos ou mais. Uma em
cada sete pessoas (14,3%) acima de 18 anos nunca fez exame de colesterol e
triglicerídeos2
.
Observa-se a importância de ações que melhorem a gestão e o acompanhamen-
to do tratamento desses pacientes, juntamente com as ações de prevenção e
rastreamento de doenças. Essa é base dos serviços clínicos que o farmacêutico
vem desenvolvendo.
Entenda o que é adesão ao tratamento
Entende-se por adesão terapêutica o quanto há de concordância entre o compor-
tamento do paciente na utilização de medicamentos ou seguimento de medidas
não farmacológicas, e aquelas recomendações feitas pelos profissionais da saú-
de. A adesão terapêutica é mais do que apenas tomar os comprimidos. Trata-se,
afinal, do quanto o paciente compreende, concorda e participa do seu tratamento.
Outro parâmetro importante é o que chamamos de persistência, que consiste
no tempo (em dias, meses, ou anos) em que o paciente permanece tomando o
medicamento, sem interrupção do tratamento. Muitos pacientes abandonam o
tratamento de forma definitiva ou por períodos de tempo, e isso pode compro-
meter a evolução das complicações crônicas. De maneira prática esses concei-
tos, adesão e persistência, estão correlacionados, e devem “andar juntos” 12
.
Nós sabemos que vários fatores podem prejudicar a
adesão aos medicamentos, funcionando como barrei-
ras. Questões da qualidade do sistema de saúde, como
o relacionamento médico-paciente, fatores econômicos
e sociais, como o acesso aos medicamentos, fatores
ligados ao tratamento, como a polimedicação, a comple-
xidade da terapia, e fatores ligados as doenças, como a
ausência de sintomas, os prejuízos cognitivos ou funcio-
nais do paciente6
.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS14
E os pacientes não aderentes, como as pessoas, não são
todos iguais.
Há pacientes que omitem doses, que com frequência pulam doses e tomam
menos medicamento do que foi prescrito. Há pacientes que exageram na dose.
Eventualmente tomam mais comprimidos do que foi prescrito. Outros aumen-
tam a dose por conta própria. Há os pacientes que tiram ‘férias’ do tratamen-
to: interrompem o tratamento por um período de tempo, depois voltam. Há os
aderentes pré-consulta, que começam a cumprir o tratamento adequadamente
apenas nos dias que antecedem a consulta médica. Também os aderentes pós-
-consulta, que após a consulta médica, começam a cumprir o tratamento correta-
mente, mas apenas por um período tempo limitado. Há também os aderentes ale-
atórios, que tomam os medicamentos apenas quando se lembram. E há a adesão
ligada a sintomas, que são os pacientes que tomam os medicamentos apenas
quando sentem os sintomas da doença.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS15
Os não aderentes involuntários são pessoas que tem apenas dificuldade de se
lembrar de tomar os medicamentos, se confundem ou não conseguem orga-
nizar toda medicação adequadamente. Isso é bem comum quando o paciente
toma muitos medicamentos, em pessoas com baixa escolaridade, ou simples-
mente quando a pessoa não foi bem orientada pelo profissional da saúde.
E há os pacientes que não aderem de forma voluntária. São pessoas que de-
cidem, conscientemente, não tomar os medicamentos conforme prescrito. Os
motivos são pessoais, multifatoriais e podem ser muito variados. O abandono
do tratamento geralmente está ligado à experiência do paciente com os medi-
camentos e precisa ser abordado com mais profundidade pelo farmacêutico.
Nestes pacientes mais resistentes, vá com calma, procure ganhar sua confiança
e avance aos poucos.
Nós podemos também classificar a não adesão em primária
ou secundária. “Não adesão primária” é quando o paciente
não consegue acesso ao medicamento, por ruptura de es-
toque ou por causa do custo, por exemplo. Na “não adesão
secundária”, o paciente tem o medicamento, mas não adere
por outros motivos13
.
Mas se as pessoas vão ao médico, por es-
pontânea vontade, a fim de obter auxilio para
um problema de saúde, e recebem uma pres-
crição de medicamentos, por que elas não
utilizariam esta prescrição? Para compre-
ender melhor este enigma, vamos primeiro
diferenciar duras formas de não adesão: a
involuntária e a voluntária.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS16
Há trabalhos na literatura que trazem vários métodos diferentes para diagnos-
ticar a baixa adesão aos tratamentos e diversas estratégias a fim de aumentar
a adesão. Não existe um método padrão-ouro, que permita avaliar todos os as-
pectos relacionados à adesão. Os métodos de avaliação da adesão são dividi-
dos em diretos (por exemplo, a dosagem do fármaco ou metabólitos no plasma,
saliva ou urina) e métodos indiretos (por exemplo, a contagem de comprimidos,
avaliação de resultados terapêuticos e os questionários).
Todos os métodos tem suas vantagens e desvantagens. Em geral, nas pesqui-
sas, os métodos considerados mais robustos são a contagem dos comprimidos
e o cálculo da taxa de posse dos medicamentos, a partir dos registros da farmá-
cia. Em inglês a taxa de posse é chamada de Medication Possession Ratio, ou
MPR14
. Na prática clínica, o uso de questionários e a própria entrevista com o
paciente são os métodos mais factíveis e confiáveis.
Entre os questionários validados, sugiro que você conheça
pelo menos dois: Morisky-Green-Levine e Haynes-Sackett15
.
A não adesão aos medicamentos por parte dos pacientes é um problema de
natureza rara, capaz de unir todos os elos importantes da cadeia farmacêutica,
desde os laboratórios fabricantes, o governo, os médicos, o varejo farmacêutico
e os farmacêuticos. Não há um só desses elos que não ganhe com o aumento da
adesão aos tratamentos, incluindo, obviamente, os pacientes e a saúde pública.
Automedicação e os
problemas de saúde
autolimitados
Podemos pensar que no lado oposto ao comportamento de não adesão aos medi-
camentos, está a automedicação. Isto é, tomar medicamentos por conta própria,
sem supervisão de um profissional da saúde. Todos sabemos que automedicação
feita de forma errada por levar a dano para os pacientes, e que existe uma cultura
de automedicação bastante presente entre os brasileiros. Há estudos que mostram
que menos de 10% das pessoas procura o médico quando tem um problema de
saúde, enquanto mais de 30% se automedicam16
. E os medicamentos mais usados
por automedicação no Brasil são os analgésicos e os antiinflamatórios não-esteroi-
dais (os AINES). Nas farmácias, existe uma demanda tradicional e constante para
que o farmacêutico indique medicamentos.
Um levantamento feito pelo IBOPE em 2011 mostrou que
69%
das pessoas, quando decidem se automedicar, procuram
diretamente pelo farmacêutico e
62%
pedem a ele que seja recomendado um medicamento17
.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS17
Se por um lado a automedicação é parte inerente dos sistemas de saúde e é
importante para sua sustentabilidade, de outro é preciso minimizar os riscos,
seja liberando para venda sem receita apenas medicamentos com uma relação
risco/benefício favorável, seja utilizando a farmácia como um ponto de apoio
para a prática segura da automedicação.
É o chamado “autocuidado assistido”, ou automedicação assistida, que é diferen-
te do autocuidado puro, em que o paciente toma suas decisões de cuidados em
saúde sem ajuda de nenhum profissional. Nas maiores redes de farmácias do
país, estima-se que cada farmacêutico faça entorno de 200 atendimentos dessa
natureza por mês, com alguma indicação de medicamento ao cliente 18
. Isso
representa dezenas de milhões de atendimentos todos os anos.
Essa é uma demanda gigantesca, que exigiu uma melhor regulamentação e pro-
fissionalização desses atendimentos. Esse é um dos grande motivos pelo qual
o Conselho Federal de Farmácia buscou regulamentar a prática da prescrição
farmacêutica para medicamentos que não requerem receita médica, por meio
da resolução no
586, de 2013 19
.
Este é o serviço farmacêutico que o CFF denomina manejo
de problemas de saúde autolimitados.
E a Lei no
13.021 de 2014, em seu artigo 13, reforça a obrigação de um papel
mais clínico do farmacêutico no atendimento das demandas da população, fa-
zendo a orientação farmacêutica e esclarecendo o paciente sobre os benefícios
e riscos dos medicamentos.
Existe uma ampla gama de Medicamentos Isentos de Prescrição Médica, os
MIPs. A Anvisa regulamentou essa classe de produtos em 2003, por meio RDC
no
138, e recentemente definiu novas regras para o chamado SWITCH, que é a
passagem de medicamentos tarjados para MIP20
.
Hoje, existem MIPs para tratamentos de uma série de problemas de saúde:
problemas de pele, alergias, dores de cabeça, dores mus-
culares, problemas digestivos, dificuldade para dormir,
sintomas respiratórios, parasitoses, entre outros.
Atualmente, nas farmácias, esses medicamentos podem ficar diretamente ao
alcance dos consumidores, nas gondolas. E há uma tendência crescente para
que a gestão dessas categorias nos estabelecimentos torne a escolha por parte
dos clientes um processo mais seguro e informado do que vemos hoje.
Problemas relacionados a
farmacoterapia
Tanto a adesão ao tratamento, como a automedicação, podem ser examinados
pela ótica mais abrangente dos problemas relacionados aos medicamentos, co-
nhecidos no meio farmacêutico como PRMs. Atualmente, a denominação PRM
tem caído em desuso, e é mais comum ouvir os especialistas se referindo a
problemas relacionados à farmacoterapia.
Independentemente da denominação, não há dúvida de que o principal valor
que o farmacêutico pode entregar à sociedade por meio dos serviços farma-
cêuticos é a solução dos problemas relacionados à farmacoterapia.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS18 FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS18
E esses problemas são grandes no Brasil. Estima-se que
aconteçam, por ano no país, entre 1,2 e 3,2 milhões de
internamentos hospitalares de urgência ligados ao mau
uso de medicamentos. E o custo somente para o SUS
pode chegar a 3,6 bilhões de reais por ano34
. Precisamos
entender melhor por que isso acontece e como minimizar
estes problemas.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS19
Quando uma pessoa tem o diagnóstico de uma doença e começa um tratamento
com medicamentos, uma série de eventos bem sucedidos precisa ocorrer, para
que haja melhora da saúde desse paciente. Em primeiro lugar, a prescrição preci-
sa ser adequada para o paciente, então esse paciente precisa utilizar corretamen-
te esse medicamento, ter boa adesão ao tratamento, além disso, o medicamento
precisa ter uma boa qualidade, enquanto produto, para que o processo biofarma-
cêutico ocorra como planejado. Se tudo isso estiver certo, a biodisponibilidade for
boa, nós poderemos ter o efeito farmacológico esperado (resultante da farma-
cocinética e farmacodinâmica) e os resultados de saúde surgirão. E nós vamos
enxergar esses resultados de saúde em termos de efetividade do tratamento e
ausência de reações adversas. Basicamente é isso. Chamamos a todo esse ciclo
de “processos da farmacoterapia” 21
.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS20
Entretanto, caso haja qualquer problema nesses
processos, como falhas de prescrição, desvio
de qualidade no produto, baixa adesão ao trata-
mento, interações medicamentosas, ou dezenas
de outros fatores que podem interferir nesse
tratamento, então nós estaremos diante de um
problema da farmacoterapia. Nesses casos, o
paciente pode não melhorar de sua doença, ou
sofrer um agravo, um dano, e nós teremos con-
sequências para a vida dessa pessoa e para o
sistema de saúde.
Vamos ver alguns números desses problemas no Brasil. Um estudo do Ministé-
rio da Saúde feito em Curitiba com mais de 500 pacientes polimedicados que
passaram por uma consulta com o farmacêutico, revelou que mais de 80% ti-
nham algum problema ligado ao uso correto dos medicamentos. Um em cada
três pacientes tinha abandonado algum tratamento, 54% omitiam doses, 14%
faziam automedicação inadequada, 33% usavam medicamentos em horários
errados, 21% adicionavam doses não prescritas, 13% não haviam iniciado algum
tratamento prescrito, e 8% cometiam erros na técnica de administração da for-
ma farmacêutica, entre outros problemas diversos 22
Nesses pacientes, ainda, 20% sofriam alguma reação adversa e quase meta-
de deles fazia algum tratamento que não estava sendo suficientemente efetivo.
Isto é, não vinha produzindo os resultados esperados. Isso revela uma outra face
oculta do uso de medicamentos em nosso meio: o baixo controle de doenças
crônicas no Brasil.
Como já citamos, na hipertensão, por exemplo, que tem uma prevalência de
mais de 20% entre os brasileiros adultos, apenas 30% dos pacientes tratados
tem a pressão arterial sob controle. No caso do diabetes tipo 2, apenas 25%
conseguem controlar bem a doença, o que nos coloca como um dos piores paí-
ses do mundo no controle do diabetes. E nós vemos dados não muito diferentes
para pacientes com hiperlipidemia, hipotireoidismo, sobrepeso e obesidade.
E nós sabemos que o mau controle de todas essas condições crônicas leva a
consequência desastrosas. No Brasil, o diabetes mata mais do que AIDS e aci-
dentes de transito. O infarto do miocárdio ainda é responsável por 30% das mor-
tes no país. A cada hora, 23 pessoas morrem por males relacionados ao cigarro.
E as mortes por obesidade triplicaram no país nos últimos 10 anos.
Esse é o contexto em que a profissão de farmacêutico existe hoje. Uma mu-
dança epidemiológica, o envelhecimento populacional, o uso cada vez maior de
medicamentos, problemas de adesão ao tratamento, automedicação e falhas
observadas em todos os processos da farmacoterapia. E o paciente utilizando
cada vez mais o sistema, com uma expectativa cada vez maior de qualidade de
atendimento e acesso às novas tecnologias.
Portanto, há muito o que ser feito na promoção do uso racional dos medica-
mentos. Por isso os problemas relacionados aos medicamentos são uma parte
central do trabalho clínico do farmacêutico e do benefício que ele pode trazer
para a sociedade.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS21
Fonte: Ministério da Saúde, 2014.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS22
Um pouco de história
Resgatando os últimos cem anos de história da
prática farmacêutica, três períodos são claramen-
te observados: o tradicional, o de transição e os
estágios de desenvolvimento do cuidado de pa-
cientes23
.
Você já deve ter ouvido esta história muitas vezes, mas não custa lembrar. Na vi-
rada do século 20, o principal papel social do farmacêutico (então boticário) con-
sistia no preparo e dispensa do medicamento magistral. Com a industrialização
maciça da produção na metade do século, o farmacêutico passou a dispensar
medicamentos e desenvolveu sua competência em outras áreas emergentes
naquele momento: a indústria farmacêutica e as análises clínicas. Nos anos 60,
o desenvolvimento da farmácia clínica marca o início de um período de transi-
ção, em que o farmacêutico passa a exercer novas funções dentro da equipe
de saúde, particularmente nos hospitais, assumindo um lugar de consultor so-
bre medicamentos e desenvolvendo uma prática mais orientada ao paciente e à
equipe de saúde, focada na melhoria do processo de uso de medicamentos. Os
farmacêuticos comunitários, ainda focados no produto, acrescentaram ao ato
de dispensar medicamentos a função de prover informações aos pacientes so-
bre substituição por genéricos e aconselhar sobre uso de medicamentos isentos
de prescrição24
.
A Farmácia Clínica é a área da prática farmacêutica que contribui diretamen-
te para o cuidado do paciente, buscando desenvolver e promover o uso racional
dos medicamentos e produtos para a saúde. Como ciência, a farmácia clínica
fornece a base técnica e científica, ligada aos medicamentos e à terapêutica,
sobre a qual se possibilitou construir a prática farmacêutica clínica. Ela teve iní-
cio no âmbito hospitalar, mas atualmente incorpora a filosofia do Pharmaceu-
tical Care e, como tal, expande-se a todos os níveis de atenção à saúde. Esta
prática pode ser desenvolvida em hospitais, ambulatórios, unidades de atenção
primária à saúde, farmácias, instituições de longa permanência e domicílios de
pacientes, entre outros. Uma definição mais atual de Farmácia Clínica a coloca
como a “área da farmácia voltada à ciência e prática do uso racional de medi-
camentos, na qual os farmacêuticos prestam cuidado ao paciente, de forma a
otimizar a farmacoterapia, promover saúde e bem-estar, e prevenir doenças” 25
.
Os primeiros serviços de farmácia clínica, nos hospitais, desenvolveram ativi-
dades voltadas aos pacientes, como a análise de prescrições, a monitorização
plasmática de medicamentos e o aconselhamento de pacientes. E também vol-
tadas à equipe de saúde, como informação sobre medicamentos e a participa-
ção em comissões de farmácia e terapêutica. Para muitos farmacêuticos hos-
pitalares, essas atividades ainda são sinônimo de farmácia clínica, mas existem
um “mundo novo” de serviços e atividades que se desenvolveram nos últimos 10
anos e precisam ser conhecidos.
No plano internacional, os serviços mais populares são:
Conciliação de Medicamentos (Medication Reconcilia-
tion), Gestão da Farmacoterapia (Medication Therapy
Management), Revisão da Medicação (Medication Re-
view), Programas de Gestão da Doença (Disease State
Management).
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS23
Enquanto isso, no Brasil, a Lei no
13.021 de 2014 “sacramentou” o acompanha-
mento farmacoterapêutico como uma das principais obrigações do farmacêutico,
tanto no hospital como nas farmácias e drogarias. Falaremos sobre isso adiante.
Vamos relembrar o
Pharmaceutical Care e seu
encontro com a Farmácia
Clínica
O termo pharmaceutical care foi utilizado pela primeira vez na década de 70,
todavia o conceito mundialmente difundido foi publicado em 1990 por Hepler
& Strand, nos Estados Unidos 26
. Este termo foi traduzido para vários idiomas
mundo afora e ganhou diferentes significados, de acordo com as característi-
cas culturais e da prática farmacêutica dos países. Na Espanha foi traduzido
como “Atención Farmacéutica”, na França “Suive Pharmaceutique”, em Portugal
“Cuidados Farmacêuticos”, no Brasil inicialmente como “Atenção Farmacêutica”.
Atualmente, o termo recomendado em nosso país é “Cuidado Farmacêutico”.
A OMS em sua histórica “Declaração de Tóquio” (1993) sobre as funções do
farmacêutico no sistema de atenção à saúde, reconhece os cuidados farmacêu-
ticos e sua aplicabilidade a todos os países, mesmo considerando as diferenças
de evolução socioeconômicas entre eles. Além disso, foi a OMS que apresentou
um conceito mais estendido à comunidade e não somente ao indivíduo, enten-
dendo o farmacêutico como um prestador de serviços de saúde que pode parti-
cipar ativamente na prevenção de doenças e na promoção da saúde junto com
outros membros da equipe de atenção à saúde 27
.
Sabemos que a imensa maioria dos farmacêuticos das farmácias e drogarias
trabalha separadamente dos médicos e sente dificuldade em avaliar os dados
do paciente ou contatar médicos sobre aspectos do tratamento.
Por outro lado, os farmacêuticos são muito acessíveis aos pacientes (e vice-ver-
sa) e geralmente sentem pouca dificuldade organizacional em conversar com
esses pacientes. O intervalo de tempo entre as consultas médicas é raramente
ditado pelo ritmo da farmacoterapia e os farmacêuticos costumam ver esses
pacientes por várias vezes entre as consultas médicas. Assim, esses farmacêu-
ticos encontram-se naturalmente em uma boa posição para monitorar o pro-
gresso do tratamento farmacológico 28
.
O conceito de farmácia clínica evoluiu e incorporou esses preceitos da prática
centrada no paciente, dos cuidados farmacêuticos. A visão atual do “American
College of Clinical Pharmacy (ACCP)” para a profissão, de acordo com seu plano
estratégico para a prática farmacêutica em 2015, é que o farmacêutico será o
profissional de saúde responsável pelo uso de forma ideal da farmacoterapia na
prevenção e tratamento de doenças25,29
. Segundo a ACCP,
“a prática da farmácia clínica abrange a filosofia da atenção farmacêutica ou
dos cuidados farmacêuticos, dessa forma, combina uma orientação para o
cuidado com conhecimentos especializados de terapêutica, experiência e ju-
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS24
ízo clínico, com propósito de garantir resultados ideais para o paciente. Far-
macêuticos clínicos cuidam de pacientes em todos os locais onde se pratica
atenção à saúde. Estes possuem conhecimentos aprofundados sobre medi-
camentos, integrados com uma compreensão fundamental das ciências bio-
médicas, farmacêuticas, sócio-comportamentais e clínicas. A fim de atingir
metas terapêuticas desejadas, o farmacêutico clínico aplica diretrizes basea-
das em evidências, novos conhecimentos de ciências em evolução, tecnolo-
gias emergentes, além de princípios legais, éticos, sociais, culturais, econômi-
cos e profissionais”.25
Nota deve ser feita sobre a ausência na visão atual da ACCP de qualquer men-
ção à dispensação como uma atividade ligada à área de farmácia clínica. Isso
ocorre pelo entendimento (cada vez mais presente) de que o serviço de dispen-
sação encontra-se ligado à área de distribuição de medicamentos (serviços não-
-clínicos) e não propriamente dentro da atuação do farmacêutico clínico.
Nos Estados Unidos é comum referir-se ao farmacêutico da dispensação como
um “farmacêutico da distribuição”, em contraste ao “farmacêutico clínico” que
atua diretamente no cuidado do paciente e em serviços clínicos. Em grande
parte, isto vem de uma visão diferente dos farmacêuticos americanos sobre o
que é “DISPENSING”. Este termo em inglês designa principalmente na atividade
de receber o receituário, validá-lo, fracionar o medicamento conforme a receita,
acondicionar e rotular o medicamento, deixando-o pronto para que seja entregue
ao paciente. A orientação dada pelo farmacêutico juntamente com esta entrega
é comumente chamada pelos nativos da língua inglesa de “COUNSELING”.
Eventualmente, o paciente pode apresentar um pro-
blema que precisa ser resolvido junto ao prescritor
ou diretamente pelo farmacêutico. Nestes casos
pode-se dizer que são realizadas “CLINICAL INTER-
VENTIONS” juntamente com o “DISPENSING & COU-
NSELING” do paciente. Estas intervenções clínicas
visam a resolução de problemas relacionados aos
medicamentos e podem ser inclusive remuneradas
por seguros de saúde ou pelo próprio governo, como
já ocorreu na Austrália30
. Assim, atividades clínicas podem ocorrer através da
dispensação, mas esta é essencialmente um atividade ligada ao preparo do me-
dicamento para ser entregue ao paciente e mais preocupada em não deixar que
erros passem (na prescrição e na própria dispensação).
Esta distinção clara no inglês, entre DISPENSING e COUNSELING, não ocorre
na língua portuguesa, particularmente no Brasil, pois tornou-se senso comum
dizer que a DISPENSAÇÃO inclui a ORIENTAÇÃO do paciente, isto é, teorica-
mente, pode haver ACONSELHAMENTO sem DISPENSAÇÃO, mas não existe
DISPENSAÇÃO sem ACONSELHAMENTO.
Eu suponho que o fato dos medicamentos serem vendidos no Brasil em emba-
lagens prontas, sem fracionamento efetivo acontecendo e sem necessidade de
rotular de forma personalizada os medicamentos, fez com que essa mudança
na interpretação do termo dispensação ocorresse com o passar dos anos. Por
outro lado existe também uma clara demarcação de território da profissão. É
preciso valorizar a dispensação até para aquilo que ela não é (às vezes algumas
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS25
pessoas até exageram na importância da dispensação), pois aceitar a dispen-
sação apenas por aquilo que ela realmente é poderia colocar em cheque mate a
prática (e o emprego) de milhares de profissionais.
Abalei suas convicções de farmacêutico(a) com essas afir-
mações?
Se a resposta for sim, está na hora de você rever seus conceitos, pois todos nós
deveríamos pensar naquilo que é melhor para o paciente e moldar a prática a
isso. E não ficar tentando convencer o mundo da importância de uma prática
criada em sua origem para preservar a corporação.
Mas uma ressalva. O Conselho Federal de Farmácia no Brasil, no entanto, con-
siderando a realidade da profissão e a legislação nacional, mantém a dispensa-
ção como uma das atribuições clínicas estratégicos do farmacêutico clínico 31.
Essa, a meu ver, é uma decisão acertada para nosso momento histórico.
Mas nada disso elimina um ponto fraco. Onde
estão os ensaios clínicos randomizados mos-
trando que a dispensação produz benefícios clí-
nicos palpáveis aos pacientes em comparação
à entrega simples de medicamentos? Eu ainda
espero por estes estudos.
Os farmacêuticos e os mé-
dicos precisam trabalhar
juntos
Duas profissões milenares, que já foram uma só e se sepa-
raram em algum ponto da história. Ambas tão ligadas aos
medicamentos e à terapêutica. Médico <-> Medicamento.
Farmacêutico <-> Fármaco. Pare para pensar no poder das
palavras.
Que tema delicado. Se você é médico e está lendo este livro, fique tranquilo, pois
os farmacêuticos não fazem diagnóstico de doenças e não irão prescrever me-
dicamentos tarjados a partir desses diagnósticos. Mas é caro para a profissão
farmacêutica poder avançar em seu papel clínico, recomendando, quando julgar
necessário, medicamentos que são isentos de receita médica. Está na lei. São
tratamentos sintomáticos, que dispensam diagnóstico prévio. Isso precisa ficar
claro. No caso de pacientes crônicos e diagnosticados, os farmacêuticos podem
auxiliar no acompanhamento e ajustes na terapia, para benefício do paciente
e de toda equipe, mas sempre com a anuência e encaminhando o paciente ao
médico que prescreveu o tratamento. Na verdade, o farmacêutico pode ser seu
melhor parceiro. Nós podemos lhe ajudar com seus pacientes!
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS26
Se você é farmacêutico, esteja atento. Diagnóstico de doenças e prescrição de
medicamentos tarjados é exercício ilegal da medicina. Seu papel é outro. E para
fazer modificações em receitas, mudar doses, etc. é obrigatório que você esteja
em pleno acordo com o médico prescritor, em situações excepcionais, como em
clínicas, hospitais ou ambulatórios, onde haja trabalho conjunto e protocolos
comuns. Na farmácia, seu papel é proporcionar uso seguro dos medicamentos.
Você pode prescrever, sim, medicamentos de venda livre, orientações não far-
macológicas e encaminhamentos a outros profissionais. Guarde que prescrever
vai além de medicamentos, é aconselhar por escrito!
Diversos documentos publicados con-
juntamente por sociedades médicas e
farmacêuticas tratam da clara divisão
de responsabilidades entre essas profis-
sões. Falarei apenas do mais importante.
A Associação Médica Mundial, durante
sua 51ª Assembleia Geral em Israel, em
outubro de 1999, publicou documento
sobre as relações profissionais entre mé-
dicos e farmacêuticos na terapia com
medicamentos32
.
É a “Declaração de Tel Aviv”.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS27
Declaração de Tel Aviv. Responsabilidades do médico e do farmacêutico com relação à far-
macoterapia, segundo a Associação Médica Mundial
RESPONSABILIDADES DO MÉDICO: RESPONSABILIDADES DO FARMACÊUTICO:
Diagnóstico de enfermidades, com base
na formação do médico e seus
conhecimentos como especialista, e
aceite da responsabilidade somente do
diagnóstico.
Assegurar a obtenção, armazenamento
e distribuição segura de medicamentos
(dentro das regulamentações pertinentes).
Avaliação da necessidade de uma
terapia medicinal e a prescrição das
terapêuticas pertinentes (na consulta
com os pacientes, farmacêuticos e ou-
tros profissionais dasaúde, quando seja
apropriado).
Repasse de informações aos pacientes,
que pode incluir o nome do medicamento,
sua ação, interações potenciais e efeitos
secundários, como também o uso e arma-
zenamento corretos.
Repasse de informações aos pacientes
sobre diagnóstico, indicações e objeti-
vos do tratamento, como também ação,
benefícios, riscos e efeitos secundários
potenciais da terapia medicamentosa.
Seguimento da prescrição para identificar
interações, reações alérgicas, contrain-
dicações e duplicações terapêuticas. As
preocupações devem discutidas com o
médico.
Controle e avaliação da resposta da te-
rapia medicinal, progresso dos objetivos
terapêuticos, e quando seja necessária,
revisão do plano terapêutico (quando
seja apropriado, em colaboração com os
farmacêuticos e outros profissionais de
saúde).
A solicitação do paciente, discussão dos
problemas relacionados com medicamen-
tos ou preocupações com respeito aos
medicamentos prescritos.
Fornecimento e divisão da informação Assessoramento aos pacientes, quando
em relação à terapia medicinal com
outros provedores de atenção médica.
corresponda, sobre a seleção e utilização
dos medicamentos não prescritos e o ma-
nejo dos sintomas ou mal-estares menores
(aceitando a responsabilidade do dito as-
sessoramento). Quando a automedicação
não é apropriada, pedir aos pacientes que
consultem a seus médicos para tratamen-
to e diagnóstico.
Manutenção dos registros adequados
para cada paciente, segundo a necessi-
dade de uma terapia e de acordo com a
legislação (legislação médica).
Informar as reações adversas aos medica-
mentos, às autoridades de saúde, quando
necessário.
Manutenção de um alto nível de
conhecimentos sobre a terapia me-
dicinal, através da educação médica
continuada.
Repasse e repartição de informação geral
e específica relacionada com os medica-
mentos, e assessorar ao público e prove-
dores de atenção médica.
Assegurar a obtenção, armazenamento
e distribuição segura de medicamentos,
que deve ministrar o médico.
Manter um alto nível de conhecimentos
sobre a terapia de medicamentos, atra-
vés de um desenvolvimento profissional
continuado.
Seguimento da prescrição para identificar
as interações, reações alérgicas, contrain-
dicações e duplicações terapêuticas.
Informar as reações adversas aos
medicamentos às autoridades de saúde,
quando necessário.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS28
Enquanto isso no Brasil...
Ainda impera uma distância oceânica que a medicina, enquanto corporação, faz
questão de manter em relação às demais profissões da saúde. O argumento ge-
ral é simples, “nenhuma profissão da saúde chega aos pés da medicina no que
diz respeito a conhecimento e capacidade de cuidado do paciente. São todos
profissionais subalternos”. Felizmente no dia-a-dia, a maioria dos profissionais
médicos (principalmente os melhores) tem outra atitude e há entidades que são
oásis no deserto, como a Medicina de Família e Comunidade. Um exército de
profissionais médicos que faz uma outra saúde, bem diferente do excesso de
especialidade de muitas escolas.
Então é uma questão de tempo e de justiça. Faz parte do amadurecimento do
país, do seu povo, da sua política, do próprio conceito do que é cuidado em saú-
de, uma maior aproximação entre as profissões. Na prática isso é visto pelos
movimentos das atribuições de cada profissão.
Olhe ao seu redor e veja como está se transformando a en-
fermagem, a nutrição, a fisioterapia, a psicologia, a educa-
ção física. Uma transformação em comum: mais clínica,
maior autonomia e mais proximidade do paciente.
Agora voltemos um pouco ao mundo da farmácia. No Brasil, hoje a farmácia
clínica é vista como uma área de atuação, como são as análises clínicas ou
a indústria. Os profissionais que atuam nesta área, quando detentores de títu-
lo de especialista, são chamados farmacêuticos clínicos. A área no Brasil que
compreende a Assistência Farmacêutica é ainda mais ampla, pois inclui todos
os serviços farmacêuticos, clínicos e não-clínicos. Por serviços farmacêuticos
não-clínicos entendem-se aqueles relacionados, p.ex., à cadeia logística do me-
dicamento, particularmente atividades de programação, aquisição e distribuição
de medicamentos.
Pelo Conselho Federal de Farmácia, em 2013 foi publicada a resolução no
585,
que trata das atribuições clínicas do farmacêutico31
, e a resolução no
586, que re-
gulamenta a prescrição farmacêutica19
. É nestas resoluções que o CFF estabele-
ce as bases profissionais para os novos serviços farmacêuticos em farmácias,
definindo a consulta farmacêutica, o consultório farmacêutico e os diversos pro-
cedimentos que o farmacêutico pode realizar junto ao paciente.
O Conselho Federal de Farmácia defende uma visão ampla e integrada de farmá-
cia clínica, abrangendo serviços farmacêuticos voltados ao paciente, à família
e comunidade. No âmbito ambulatorial e comunitário, esses serviços incluem
a dispensação, o manejo de problemas autolimitados, a educação em saúde,
a conciliação de medicamentos, a revisão da farmacoterapia, o rastreamento
em saúde, o acompanhamento farmacoterapêutico e a gestão das doenças ou
condições de saúde do paciente.
Em 2014, foi publicada a Lei no
13.021, que nós podemos considerar como a lei
do ato farmacêutico. Essa lei é um marco histórico, pois redefine a farmácia no
Brasil, como sendo um estabelecimento de prestação de serviços, destinada a
prestar assistência farmacêutica, assistência à saúde e orientação individual e
coletiva. O farmacêutico passa, a partir dela, a ter a responsabilidade de prover
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS29
cuidados clínicos aos pacientes. Esta lei permite, ainda, que as farmácias dispo-
nham de vacinas para atendimento à população, ampliando o papel do estabele-
cimento no sistema de saúde e junto à população.
A lei no
5.991 de 1973, que regulamenta o comércio de medicamentos, continua
a valer após a Lei no
13.021/14. Mas um ponto importante é que foi resolvida a
questão da obrigação da presença do farmacêutico para que a farmácia possa
funcionar. Apesar da polêmica envolvendo a aplicação da lei junto a micro e
pequenas empresas, a 13.021 é a que vale atualmente, quando se trata da res-
ponsabilidade técnica.
Cabe destacar também outras resoluções do CFF que fundamentam o trabalho
clínico do farmacêutico. Entre elas a resolução no
574 de 2013, que define a com-
petência do farmacêutico na aplicação de vacinas e a resolução no
546 de 2011,
que trata da indicação farmacêutica de plantas medicinais e fitoterápicos.
Somando essas à RDC no
44 da ANVISA, de 2009, que regulamenta boas práti-
cas em farmácias e drogarias, e às demais normas sanitárias que por ventura
venham a substitui-la, temos as bases legais que precisam ser seguidas quando
se trata de oferecer serviços clínicos farmacêuticos em farmácias e drogarias.
Também em 2014, o Ministério da Saúde, por meio do
Departamento de Assistência Farmacêutica, iniciou um
projeto ambicioso, para a implantação de consultórios far-
macêuticos nas unidades de saúde e a rediscussão de toda
assistência farmacêutica nas redes de atenção à saúde.
Série de Cadernos do Ministério da Saúde:
“Cuidado Farmcêutico na Atenção Básica”
Os resultados do Projeto Piloto na cidade de Curitiba foram publicados em
uma série de Cadernos, intitulados “Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica”
15,22,33,34
. Os resultados impressionaram pelo volume, mesmo para mim que esti-
ve no time executivo do projeto.
Foram mais de 2.000 consultas farmacêuticas registradas no
prontuário em 1 ano e uma verdadeira revolução na mentalidade
(mindset) dos farmacêuticos e da secretaria de saúde.
Toda problemática envolvendo o mau uso dos medicamentos e que tipo de re-
desenho precisava ser feita para a assistência farmacêutica tornou-se “objeto de
domínio público”. Foi lindo.
Essa experiência ganhou apoio de vários entidades, como o CONAS e o CONA-
SEMS, e tem sido a nova base para o avanço do papel dos farmacêuticos no SUS
em diversos estados e municípios.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS30
Na mesma linha, o Conselho Federal de Farmácia mantém uma bem sucedida série de
publicações sobre experiências exitosas de farmacêuticos no SUS, tanto no âmbito logís-
tico como assistencial.
http://www.cff.org.br/experiencias_exitosas.php
Todo esse avanço político e regulatório tem colocado o farmacêutico em evi-
dência na mídia, como raras vezes esteve. Infelizmente, isso também provocou
reações por parte de algumas entidades médicas que, em uma posição unica-
mente corporativa, e distante da própria recomendação da Associação Médica
Mundial, tem combatido para que não haja nenhum avanço nas atribuições e
responsabilidades clínicas dos farmacêuticos no Brasil. Movimento esse espe-
rado, e que certamente trará evolução para toda discussão sobre o sistema de
saúde brasileiro e o papel das profissões regulamentadas na saúde.
Avozdoconsumidor:oque
elespensamdofarmacêutico?
A farmácia pode (aliás, deve) desempenhar um papel mais rele-
vante na vida do brasileiro quando o assunto é prevenção e manu-
tenção da saúde. Quem faz a afirmação são os próprios cidadãos,
cuja opinião foi corroborada por uma ampla pesquisa do Ibope, realizada em
2015 a pedido da Abrafarma, e cujos principais resultados publicados na Revista
Excelência (Número 5, Dez 2015) reproduzimos parcialmente a seguir.
O principal objetivo do levantamento foi identificar a percepção do brasileiro a
respeito da assistência farmacêutica nas farmácias e também sobre a impor-
tância do papel do farmacêutico. O estudo consultou 2.002 pessoas em 143
municípios. Foi realizada também uma análise qualitativa com grupos focais de
homens e mulheres representando diferentes faixas etárias e de renda.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS31
De acordo com os resultados, novos serviços farmacêuticos serão muito bem
recebidos pela população.
•	 Para 53% dos entrevistados, a farmácia seria um local ideal para esclarecer
dúvidas e se aconselhar sobre os medicamentos que estão utilizando;
•	 51% realizariam exames preventivos para várias doenças;
•	 48% aceitariam receber um programa de tratamento e acompanhamento
para parar de fumar.
“A farmácia proporciona uma experiência muito positiva
para parcela significativa dos entrevistados”, analisa Már-
cia Cavallari Nunes, CEO do Ibope Inteligência.
* Em relação ao uso de vários medicamentos, 48% dos entrevistados pediriam
ajuda do farmacêutico sobre a melhor forma de organizar todo o tratamento,
atitude que é explicada por alguns entrevistados ao dizerem que esse auxílio é
importante para aqueles que tomam muitos remédios e não conhecem seus
efeitos. Para eles, o farmacêutico, nesse cenário, poderia tirar essas dúvidas.
•	 Um total de 46% ainda aceitaria receber materiais educativos e relatórios
de acompanhamento e
•	 43% têm interesse em tomar vacinas na farmácia.
•	 O acompanhamento e avaliação do tratamento junto com o farmacêutico
seriam adotados por 41% dos entrevistados, a fim de saber se os medi-
camentos estão produzindo o efeito esperado ou causando algum efeito
colateral;
•	 36% aceitariam receber um programa de tratamento e acompanhamento
para emagrecimento e gerenciamento do peso; e
•	 34% procurariam aconselhamento e tratamento para sintomas e mal-esta-
res de baixa gravidade.
Embora a proposta de incremento da assistência farmacêutica tenha sido bem
recebida, mais da metade dos entrevistados afirmou não ter nenhum envolvi-
mento cotidiano com o farmacêutico. Apenas 42% falam com o farmacêutico
na maioria das vezes que vão à farmácia, apesar de 45% acreditarem que esse
professional está sempre acessível.
“A distância deste profissional para o consumi-
dor é abismal. Precisamos mudar esse pano-
rama e parar de relegá-lo à função de entregar
caixinhas de medicamentos. Mais do que valo-
rizá-lo, vamos contribuir para desafogar o sis-
tema público de saúde e assegurar a milhões
de brasileiros um acompanhamento mais dig-
no”, endossa Sérgio Mena Barreto, presidente
executivo da Abrafarma, que foi a entidade que
encomendou o estudo ao IBOPE.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS32
Os serviços farmacêuticos
em farmácias e drogarias
Existem diversos serviços que foram testados em farmá-
cias de vários países, e que mostram benefícios para o
paciente e a sociedade, quando oferecidos por farmacêuti-
cos clínicos bem treinados. No Brasil, o Conselho Federal
de Farmácia pôs em marcha um documento de referência
sobre este tema, que traz luz a uma série de conceitos e
práticas. Vamos aos exemplos sobre os principais serviços
desse documento.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS33
Rastreamento em saúde
É o serviço voltado a pessoas assintomáticas, com objetivo
de detectar riscos e alterações de saúde que podem sugerir
uma doença. Um exemplo é a avaliação da glicemia capilar
e do risco de diabetes, que pode revelar um paciente com
diabetes mellitus que não sabia que tinha a doença. É im-
portante frisar que o rastreamento não confirma o diagnós-
tico. O paciente precisa ser encaminhado ao médico para
avaliação e confirmação.
Nos Estados Unidos, redes de farmácias e também empresas de varejo convencional inves-
tem em grandes feiras de saúde, focadas na oferta de testes de saúde e detecção rápida de
doenças. Exemplos incluem medida da pressão arterial, testes de glicemia, painel lipídico,
densitometrias rápidas para osteoporose, bioimpedância, testes de HIV, entre outros.
A Walgreens, por exemplo, por mais de 5 anos vem organizando eventos para testes
rápidos de HIV/AIDS, em parceria com grupos comunitários e ONGs. Segundo Jim Cohn,
assessor de imprensa da empresa, “Essas feiras já ajudaram mais de 27.000 pessoas a
conhecer seu resultado de HIV. Em 2015, por exemplo, nós trabalhamos com mais de 215 se-
cretarias públicas de saúde e organizações civis locais e realizamos eventos em mais de 150
cidades americanas” 35
.
Capa da revista DrugStoreNews, importante veículo do varejo farmacêutico Norte Ame-
ricano. No número de fevereiro de 2016 reportagens especiais sobre rastreamento em
farmácia.
http://www.drugstorenews.com/sites/drugstorenews.com/files/Web_HealthEvents_0.pdf
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS34
Manejo de problemas de
saúde autolimitados
É o serviço clínico mais típico que um farmacêutico pode oferecer na farmácia.
Trata-se de fazer uma consulta, geralmente por demanda do paciente, que
traz uma queixa, sinais e sintomas que poderiam ser tratados na farmácia. O
farmacêutico pode, nesses casos, recomendar, prescrever medicamentos que
não exigem receita médica, bem como medidas não farmacológicas. E encami-
nhar o paciente ao médico nos casos mais graves. Inclusive este serviço é uma
forma eficaz de promover a automedicação responsável.
No Reino Unido, países como a Inglaterra, Escócia e Irlanda tem promovido
contratos entre o sistema público de saúde e os farmacêuticos, para tratamen-
to de transtornos menores (minor ailments scheme) nas farmácias. O objetivo
é desafogar a atenção primária de demandas que podem ser resolvidas pelo
farmacêutico, liberando a agenda do médico para pacientes mais graves. O
farmacêutico, nestes casos, tem autonomia para recomendar tratamentos e o
medicamento é coberto pelo sistema público se o paciente estiver no perfil ele-
gível. Existem protocolos para guiar a conduta dos profissionais. Na imagem,
vê-se a propaganda de uma farmácia do condado de Staffordshire na Inglaterra
promovendo este tipo de esquema.
Publicidade de uma farmácia inglesa para o programa chamado “Pharmacy First”
http://www.easonpharmacy.co.uk/services/pharmacy-first-winter-pressures-minor-ailments-scheme/
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS35
Educação em saúde
É um termo amplo, que abrange todas as ações que visam
aumentar o conhecimento e a capacidade dos pacientes
de tomar melhores decisões em saúde. Inclui o aconse-
lhamento do paciente sobre os medicamentos e as cam-
panhas de saúde que podem ser feitas nas farmácias.
Possuem uma eficácia bem estabelecida no aumento do
letramento em saúde e da adesão ao tratamento, podendo
em alguns casos ter grande impacto sobre desfechos clíni-
cos.
É como ocorre na asma, em que a educação em saúde já provou produzir me-
lhora do controle da doença e redução de hospitalizações36
. Evidências como
essas levam ao surgimento de programas de educação para pacientes, que
envolvem diretamente os farmacêuticos e as farmácias.
É o caso da Inland Pharmacy, da cidade de Hemet, na Califórnia (EUA). Ela
participa desde 2013 de um programa de pagamento por performance (pay-
-for-performance) no plano de saúde Empire Health Plan (IEHP), que inclui
entre suas métricas para pagamento de serviços indicadores para asma, como
“ausência de utilização de medicamentos de resgate entre os pacientes” e
“controle sub-ótimo da doença”. Em outras palavras, a farmácia recebe paga-
mentos de medicamentos e serviços conforme os resultados que alcançam
nos pacientes.
Esse sistema de auditoria e
pagamento levou a farmácia
a criar programas de educa-
ção em saúde e acompanha-
mento de pacientes. Como
diz Bruno Tching [foto],
farmacêutico PharmD: “Nós
ligamos e nos encontramos
com nossos pacientes regularmente, para ter certeza de que está indo tudo
bem com o tratamento deles, que eles não tem efeitos colaterais e que estão
sendo aderentes à terapia”.
Na foto abaixo, Dr. Tching conduz o aconselhamento com uma paciente sobre
o uso correto de dispositivos inalatórios.
Fonte: http://pharmacytoday.org/article/S1042-0991(16)00353-4/fulltext
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS36
A transição do paciente do hospital de volta para sua casa é um momento deli-
cado. Veja alguns números sobre problemas que podem ocorrer:
• Perto de 1 a cada 5 idosos são re-hospitalizados nos 30 dias após a alta.
• Mais da metade desses internamentos é evitável e 66% são relacionados a
problemas com os medicamentos.
• Pacientes idosos recebem alta com uma média de 10 medicamentos dife-
rentes prescritos.
• Faltam informações sobre os medicamentos no resumo de alta em até 40%
das vezes.
• Menos de 10% dos pacientes que receberam alta são totalmente aderentes
ao seu tratamento37
.
Nos Estados Unidos estes números tem geralmente mudanças. Alguns hospi-
tais tem sido penalizados, recebendo multas, caso seus pacientes sejam read-
mitidos em 30 dias após alta. Em 2013, o governo Americano aplicou perto de
280 milhões de dólares em multas.
Conciliação de medicamentos
Na prática ambulatorial, é um serviço pensado para
pacientes que receberam alta hospitalar recente.
Muitas vezes o paciente se confunde com prescri-
ções de vários médicos diferentes e não sabe quais
medicamentos deve continuar a tomar depois que
sai do hospital. Conciliar significa checar todas as
prescrições e detectar discrepâncias que precisam
ser resolvidas. O produto deste serviço é uma lista
conciliada dos medicamentos que o paciente deve
seguir utilizando.
Apesar de historicamente a alta ter sido uma questão unicamente hospitalar,
isso tem mudado e o papel das farmácias tem sido levantado. Os farmacêu-
ticos podem funcionar como elos de ligação entre esses pontos de atenção à
saúde, garantindo a continuidade do cuidado37
.
Ainda existem barreiras, como por exemplo, o acesso das farmácias a informa-
ções completas sobre os medicamentos dos pacientes utilizadas no hospital e
o modelo remuneração do serviço. Mas esta é uma tendência para os serviços
farmacêuticos na comunidade38
.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS37
Revisão da farmacoterapia
Na verdade existem diferentes tipos de revisão da farmacoterapia
ou revisão da medicação. Nas farmácias, o serviço mais prestado
é uma espécie de checkup dos medicamentos. O farmacêutico
pede ao paciente que leve os medicamentos para a farmácia e faz,
durante a consulta, uma revisão detalhada com ele sobre cada
tratamento. Tira dúvidas, resolve problemas, orienta o paciente e
promove adesão ao tratamento. Também pode fazer recomenda-
ções de mudanças ao médico e encaminhar o paciente. O produto
deste serviço costuma ser uma lista precisa dos medicamentos
que o paciente deve seguir utilizando. Esta revisão melhora a
adesão ao tratamento, resolve problemas da terapêutica e previne
consultas e hospitalizações não previstas.
Um tipo de serviço de revisão da medicação que ficou famoso esta todo
mundo é o Medicines Use Review (MUR), patrocinado pelo NHS inglês. Os
farmacêuticos que passam por um curso e são qualificados para MUR, podem
realizar até 400 consultas deste tipo por ano, e a farmácia recebe 27 libras por
cada atendimento registrado. A recomendação é que cada paciente passe por
uma consulta como essa com seu farmacêutico pelo menos 1 vez ao ano39
.
Fonte: http://www.lloydspharmacy.com/en/info/medicines-check-up
que permite que os pacientes terem uma consulta privada com o farmacêutico
sobre seus medicamentos. Segundo Kelly Winstanley, brasileira e farmacêutica
da Lloyds: “A consulta de MUR dura 10-15 minutos e nós nos guiamos por sete per-
guntas muito simples:
1. Como está indo seu tratamento com medicamentos?
2. Como você utiliza cada um de seus medicamentos?
3. Está tendo algum problema ou preocupação com relação a eles?
4. Você acha que seus medicamentos estão funcionando?
5. Você acha que está tendo algum efeito colateral ou inesperado?
6. Você já esqueceu de tomar alguma dose? Quando foi a última vez?
7. Teria algo mais que você gostaria de saber sobre seus medicamentos?
Como exemplo, temos a Lloyds Pharmacy, uma rede de farmácias da Inglater-
ra com mais de 1.600 lojas, que dispensa 150 milhões de prescrições por ano.
Um de seus serviços é o MEDICINES CHECK UP SERVICE, um serviço de MUR
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS38
Acompanhamento farma-
coterapêutico
Uma iniciativa significativa de implantação do acompanhamento farmacotera-
pêutico como um serviço das farmácias, é o Projeto conSIGUE, do Consejo Gene-
ral de Colegios Oficiales de Farmacéuticos e o Grupo de Investigación en Atención
Farmacéutica de la Universidad de Granada, na Espanha40
.
O projeto já alcançou, segundo números de fevereiro de 2016, mais de 800 pa-
cientes em 135 farmácias. O acompanhamento é feito em idosos polimedica-
dos e mostrou reduzir 56% os problemas de saúde não controlados, em 49% o
número de pacientes referindo consultas de urgência e em 55% as admissões
hospitalares41
.
“já temos a evidência de que os farmacêuticos, mediante este serviço, podem
contribuir para a melhoria da saúde dos cidadãos e da eficiência do sistema.
A profissão está preparada e agora devemos convencer aos gestores para que
contem com o farmacêutico, querem melhorar o sistema de saúde”, afirmou
Jesús Aguilar, presidente do CGF41
.
O objetivo do projeto, portanto, é demostrar a eficácia do serviço, a fim de conse-
guir remuneração junto ao Ministério de Saúde Espanhol para que os farmacêu-
ticos prestem este serviço de forma extensiva nas farmácias.
Fonte: http://www.portalfarma.com/Profesionales/consejoinforma/Paginas/conSIGUE-Implan-
tacion-2016.aspx
A acompanhamento se inicia por uma consulta de re-
visão clínica da farmacoterapia, com um olhar mais
voltado aos resultados do tratamento. Em segui-
da o farmacêutico trabalha com o paciente em um
plano de cuidado e organiza consultas de retorno.
Diferentemente dos serviços anteriores, o acompanha-
mento farmacoterapêutico permite um relacionamento
mais longo e longitudinal entre o paciente e o farma-
cêutico. Alguns métodos que tratam do acompanha-
mento, como o Dáder (Espanha)42
e o Pharmacothera-
py Workup (EUA)43
, são bastante conhecidos no Brasil.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS39
Gestão da condição de
saúde
Também é chamado de gestão da doença. Neste serviço, o pro-
fissional atende e acompanha o paciente, mas focado em uma
doença específica, como o diabetes, a hipertensão ou a hiperli-
pidemia. Diferente do acompanhamento farmacoterapêutico em
que a avaliação é mais global e generalista. O serviço de gestão
da doença é importante porque pode melhorar a capacidade do
paciente em cuidar melhor da sua condição, num enfoque para
o autocuidado apoiado. O processo do ‘coaching’ do paciente é
fundamental neste trabalho. Existem evidências bastante sóli-
das de que esse serviço melhora o controle de várias doenças
crônicas44
.
As populações tradicionais que recebem este serviço são aquelas com doen-
ças de alta prevalência e alto custo, como asma, diabetes, insuficiência cardía-
ca, DPOC e doença coronariana. Nos Estados Unidos, o mercado entorno deste
serviço movimentou $30 bilhões em 2013 e existem mais de 160 empresas
especializadas que oferecem programas de gestão de doenças45
.
Naquele país, há uma forte tendência da oferta desse tipo de serviços em far-
mácias. Esse movimento é impulsionado pelo sucesso das Clínicas de Varejo
que vem sendo criadas nas grandes redes e do possível pagamento por esses
serviços por parte das operadoras de planos de saúde e do Medicare45
.
Fonte: http://www.walgreens.com/topic/pharmacy/healthcare-clinic.jsp
Um ponto importante neste caso é o trabalho multiprofissional. Clínicas de
varejo são formadas por médicos e enfermeiras que, em conjunto com o far-
macêutico dessas farmácias, podem oferecer excelentes serviços de gestão
de doenças. É o que acontece, por exemplo, na Healthcare Clinic da Walgre-
ens, que em seu website divulga serviços de acompanhamento e exames para
DRGE, asma, bronquite crônica, diabetes, enfisema, hipertensão arterial, hiper-
colesterolemia, depressão, osteoartrite, osteoporose e distúrbios da tireoide.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS40
Recentemente, a Colaboração Cochrane publicou uma revisão
sistemática com estudos feitos em países em desenvolvimen-
to, incluindo o Brasil 46
. Os principais efeitos obtidos do cuida-
do farmacêutico ambulatorial em relação aos cuidados usuais
são mostrados no gráfico ao lado.
As conclusões dos autores foram as seguintes:
“Os serviços farmacêuticos orientados
aos pacientes podem melhorar resulta-
dos clínicos como o gerenciamento da
hiperglicemia em diabéticos, gerencia-
mento dos níveis de pressão arterial e
colesterol, e pode melhorar a qualidade
de vida dos pacientes com condições
crônicas como o diabetes, hipertensão e
asma. Os serviços do farmacêutico po-
dem reduzir a utilização dos serviços de
saúde, tais como visitas aos médicos de
família e as taxas de hospitalização”
Por fim, vale lembrar que todos esses serviços tem uma coisa em comum. Eles acontecem em
uma consulta farmacêutica. Por isso é fundamental ter um espaço privado na farmácia, seja um
consultório ou sala de serviços farmacêuticos. E também um plano bem elaborado de marketing e
remuneração dos serviços, essenciais para a sustentabilidade ao longo do tempo. Falaremos mais
desses pontos adiante.
Evidências.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS41
Um pouco mais
sobre
dispensação de
medicamentos
O modelo tradicional de prática farmacêutica nos
últimos setenta anos tem sido centrado no forneci-
mento de medicamentos industrializados, associado
à informação sobre sua utilização para o paciente.
Este modelo tem na dispensação sua atividade pri-
mordial e é predominante no Brasil até os dias de
hoje.
Dentro do processo geral de uso de medicamentos, a
dispensação é o último contato possível do paciente
com um profissional de saúde antes de iniciar o trata-
mento. Então a razão de ser da dispensação está em
analisar a prescrição, corrigir eventuais problemas, e
garantir que o paciente sabe como fazer aquele tra-
tamento. Para analisar bem uma prescrição é preciso
um bom conhecimento clínico, além de conhecimen-
to sobre legislação. E para orientar bem um paciente,
além do conhecimento clínico, são necessárias boas
habilidades de comunicação 21
.
Para muitos pacientes, ainda, a dispensação pode
ser a única oportunidade de atendimento por um
profissional da saúde, por exemplo, na automedica-
ção. Nesse caso, o farmacêutico pode participar di-
retamente da escolha do medicamento, e orientar o
paciente sobre o melhor manejo daqueles sintomas.
Isso vai exigir também habilidades no campo da se-
miologia e da terapêutica.
De fato, a dispensação é um dos poucos
atos privativos do farmacêutico. Isso está
no Decreto no
85.878, de 1981, sobre o
exercício da profissão. A lei no
13.021, de
2014, reforçou este ato, mas expandiu
em seu artigo 13, as obrigações do far-
macêutico junto ao paciente, levando a
profissão definitivamente por um caminho
mais clínico, que somente a dispensação
de medicamentos jamais poderia levar.
Por isso, vamos distinguir dois perfis bem
diferentes de profissionais. Vamos cha-
má-los de o “farmacêutico dispensador” e
o “farmacêutico clínico”.
O farmacêutico da dispensação cuida do produto. Da
distribuição dos medicamentos, da burocracia envol-
vendo as prescrições, do SNGPC, do balcão de modo
geral. E tem menos contato com os pacientes, por-
que gasta uma boa parte do seu tempo cuidando, di-
gamos, dos bastidores da farmácia. O principal valor
que este profissional entrega à sociedade é a infor-
mação e a garantia da qualidade dos produtos que
ele dispensa. Ele precisa ter bons conhecimentos
e habilidades clínicas, mas acaba aplicando pouco
essas competências. E com o tempo, se não tomar
cuidado, ele vai “perdendo a mão” da clínica. Um dos
motivos disso, é que a remuneração desse farma-
cêutico advém, essencialmente, da margem de lucro
da venda dos medicamentos, e não da prestação de
serviços. Novamente, o produto está no centro de
tudo nesse caso.
Já o farmacêutico clínico que atua na comunidade
trabalha mais diretamente na prestação de servi-
ços ao paciente. Ele atende dentro de uma sala de
atendimento, ou consultório, e cumpre uma série de
atividades, como exames rápidos de rastreamento,
vacinação, aconselhamento ao paciente, revisão da
medicação, acompanhamento e monitorização de
pacientes crônicos, etc. O principal valor que este far-
macêutico entrega à sociedade é a solução de pro-
blemas de saúde, a solução de problemas da farma-
coterapia. E a remuneração deste profissional pode
advir da prestação de serviços, pagos diretamente
pelo paciente, ou por terceiros pagadores, como o
governo ou planos de saúde.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS42
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS43
Éimportante que o farmacêutico perceba clara-
mente esses dois papéis (dispensador e clínico)
e avalie em que perfil se encaixa melhor. Com
o tempo, é esperado que essas carreiras sigam
caminhos distintos nos planos de cargos e salá-
rios das grandes empresas. Nos dias de hoje, no
entanto, percebe-se um movimento do mercado
de trabalho no sentido de contratar profissionais
que atendam aos dois perfis. Pessoas que sejam
capazes de cuidar da dispensação de medica-
mentos, e tudo que ela envolve, e também de
inovar, provendo serviços clínicos de alto nível
que reposicionem a farmácia junto à comunida-
de. Para as boas empresas, trata-se de um perfil
de profissional desejado e difícil de encontrar.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS44
A Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma)
vem desenvolvendo desde 2013 um modelo de serviços farmacêuticos que
possa ser aplicados pelas farmácias de suas associadas em todo país.
Esse modelo busca aproximar a
visão proporcionada pelos exem-
plos de farmácias dos Estados
Unidos, Canadá e Inglaterra, os
conceitos técnicos e empresa-
riais aplicados no Brasil e uma
proposta de valor que possa ser
facilmente compreendida pela
população usuária dos serviços.
O Modelo Abrafarma para os Serviços
Farmacêuticos
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS45
Esse processo deu origem ao Projeto “Assistência Farmacêutica Avançada”.
Sua primeira etapa consistiu em um amplo levantamento no ano de 2013 so-
bre o perfil do farmacêutico e os serviços e práticas desenvolvidas pelas redes
de farmácia. Os resultados mostraram uma oferta pequena de serviços, com
grande potencial de profissionalização e expansão 18
. A partir desse estudo, fo-
ram propostos os 8 serviços farmacêuticos a serem implantados pelas empre-
sas13,47–53
.
Esses serviços são “frentes de trabalho”, são “bandeiras”. Sua
inspiração provem das boas experiências, que mostram que o
foco na prevenção e detecção precoce de doenças, educação
em saúde, gestão de condições crônicas e promoção da adesão
terapêutica trazem bons resultados, tanto para o paciente, como
para o profissional e a farmácia.
Em todos esses serviços, o objetivo não é substituir a consulta médica ou a
realização de exames adicionais, mas dar suporte e orientação aos pacientes,
além de compartilhar informações com o médico e demais profissionais da saú-
de, tornando os farmacêuticos e as farmácias atores relevantes na dinâmica do
cuidado dos pacientes.
As farmácias encerram o potencial de contribuir de forma definitiva para a me-
lhoria do sistema de saúde e produzir uma verdadeira revolução na maneira
como se promove saúde no Brasil. Vamos conhecer agora com mais detalhes,
cada um dos oito serviços farmacêuticos promovidos pela Abrafarma.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS46
HIPERTEN-
SÃO EM DIA
É o serviço farmacêutico
para as pessoas que se en-
contram sob risco de desen-
volver hipertensão arterial e
aquelas já diagnosticadas,
que utilizam medicamentos
para controle da doença.
O objetivo é colaborar com a equipe
de saúde e com o paciente para detecção rápida, orientação e encaminhamento
de pessoas com pressão arterial elevada, para diagnóstico médico e tratamen-
to apropriado. Além disso, o programa visa auxiliar pacientes em tratamento
com medicamentos anti-hipertensivos, para que atinjam um melhor controle da
pressão arterial, bem como de outros fatores de risco cardiovascular concomi-
tantes47
.
Em um ambiente confortável e privativo da farmácia, os pacientes são atendi-
dos pelo farmacêutico, que realiza uma avaliação global do controle pressórico
e dos fatores de risco cardiovascular do paciente. Os pacientes são então orien-
tados de forma personalizada e recebem um relatório detalhado dos resultados
desta avaliação, que pode ser compartilhado com o médico.
Após esta avaliação, pacientes sob tratamento anti-hipertensivo podem aderir
a um programa de acompanhamento, durante o qual são feitas avaliações pe-
riódicas e orientação continuada sobre adesão ao tratamento, uso correto dos
medicamentos e mudanças no estilo de vida. Estes encontros podem ser desde
mensais, bimestrais, ou até semestrais, dependendo da necessidade de cada
paciente. Os atendimentos de retorno também podem coincidir com a aquisição
mensal de medicamentos na farmácia.
Quais são os benefícios para os pacientes?
Diversos estudos mostram que a participação do farmacêutico na educação
dos pacientes e na gestão da farmacoterapia melhora o controle da pressão
arterial e a adesão dos pacientes ao tratamento.
Uma revisão sistemática com meta-análise publicada em 2010 pela Colabora-
ção Cochrane demonstrou um aumento na proporção de pacientes controlados
sob cuidados do farmacêutico e uma redução média na pressão sistólica na or-
dem de 6 mmHg (IC95% -8.8 a -3.83 mmHg) e na pressão diastólica de 3 mmHg
(IC95% -4.57 a -1.67) 54
. Para que se tenha uma ideia do benefício cardiovascular
que isso representa, estudo publicado no Lancet, envolvendo mais de 1 milhão
de adultos mostrou que para cada redução de 2 mmHg na pressão sistólica, há
uma redução de 7% no risco de Doença Arterial Coronariana (DAC) e de 10% no
risco de morte por acidente cerebrovascular (derrame) 55
.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS47
MAIS ADESÃO AO TRATAMENTO PARA HIPERTENSÃO
COM OS FARMACÊUTICOS DA FARMA PONTE
Com tradição no mercado
farmacêutico e o compro-
misso de vender mais ba-
rato todos os dias, a Farma
Ponte (www.farmaponte.
com.br) nasceu na cidade de Sorocaba em 1980 e hoje se consolida entre as
grandes empresas do segmento no estado de São Paulo. Com 126 lojas, atende
o varejo farmacêutico no interior, capital e litoral paulista, sendo seu alcance
distribuído por mais de 41 cidades atendendo mais de 12 milhões de clientes
por ano. Os grandes diferenciais da rede está na força do seu cartão fidelida-
de, que proporciona uma série de benefícios exclusivos aos seus clientes, e
também na localização das lojas, que estão nas melhores ruas e avenidas das
cidades, bem como em shoppings, terminais de ônibus, e estações de metrô.
A Farma Ponte oferece uma ampla linha de medicamentos, grande varieda-
de de perfumaria, diversos produtos de ortopedia e uma moderna linha de
dermocosméticos e perfumes nacionais e importados. Outra força da Rede
está em sua equipe formada por mais de 1800 colaboradores que passam
por inúmeras horas de treinamento e aperfeiçoamento, o que os levam a es-
tarem atualizados e preparados para atender as necessidades dos clientes.
Em 2012 a Rede Farma Ponte lançou o Clinic Saúde Farma Ponte, um ser-
viço oferecido aos clientes do cartão fidelidade, em que os Farmacêuticos
fazem o acompanhamento dos clientes que possuem hipertensão, diabe-
tes e fornecem também um programa para perda de peso. No ano de 2015,
as unidades que possuem o serviço atenderam a mais de 10.000 clien-
tes. Segundo Ricardo Leite, coordenador farmacêutico e executivo da Rede,
“Observamos que os pacientes sob acompanha-
mento frequentaram mais vezes a farmácia (au-
mento no tráfego) e gastaram em média 30% a
mais que os outros clientes (aumento no ticket
médio). Isso é importante para nós, pois garante a
sustentabilidade do serviço”.
Em 2016, a Farma Ponte incrementou seus serviços com o programa de aderên-
cia ao tratamento, que consiste em cadastrar os clientes que fazem tratamento
com medicamentos de uso continuo e organizar uma agenda de follow-up por
telefone, fazendo a orientação e acompanhamento do paciente e convidando-o a
participar dos programas de atendimento pessoal no Clinic Saúde Farma Ponte.
ESTUDO DE CASO
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS48
A Farmácia Santa Lúcia
(http://www.santaluciaonli-
ne.com.br/) atua no Espírito
Santo há 40 anos, sendo refe-
rência no Estado. Presente nas suas principais cidades, atualmente conta com
24 unidades.
Tendo como forte característica ser uma empresa inovadora, a Santa Lúcia im-
plantou em 2016 sua primeira unidade da Clínica Bem Estar, um novo modelo
de cuidado à saúde, com serviços especializados de Atenção Farmacêutica. O
objetivo é facilitar o acesso do paciente ao cuidado de sua saúde, prestar ser-
viço de acompanhamento de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes,
utilizando o farmacêutico como mais um agente na promoção efetiva da saúde
da comunidade. Com isso, o profissional farmacêutico é valorizado e a farmá-
cia, resgatada como estabelecimento de saúde, conquistando a fidelização dos
seus clientes e abrindo nova oportunidade de gerar lucro. De acordo com Rosa-
ne Itaborai, farmacêutica e diretora financeira da empresa,
“a Clínica é um espaço exclusivo e privativo dentro da loja, onde o farmacêuti-
co presta seu atendimento, realiza a anamnese e coloca todas as informações
em um software desenvolvido pela Santa Lúcia, sendo este o prontuário do
paciente que poderá ser acessado por qualquer Clínica da rede. Isso vai pos-
sibilitar a integração dos dados e melhor resultado e facilidade para o cliente.
O Farmacêutico irá avaliar a farmacoterapia, promover a farmacovigilância, de
forma que otimize os benefícios de reestabelecimento da saúde, fazendo as
intervenções necessárias e encaminhando o paciente para reavaliação médi-
ca.”
Na Clínica, são prestados os serviços de acompanhamento do diabético, acom-
panhamento do hipertenso, programa perda de peso, revisão da medicação,
autocuidado, além de aferição da pressão, medição de glicose, perfuração de
lóbulo e aplicação de injetáveis.
ESTUDO DE CASO
ACOMPANHAMENTO DE PACIENTES CRÔNICOS NAS FARMÁ-
CIAS SANTA LUCIA
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS49
COLESTEROL
EM DIA
É o serviço oferecido pelo far-
macêutico nas farmácias e dro-
garias, a pacientes com suspei-
ta ou diagnóstico confirmado
de hiperlipidemias e doenças
ateroscleróticas.
Esse serviço visa colaborar para de-
tecção rápida, orientação e encaminhamento de pessoas com alterações dos
níveis de lipídeos sanguíneos, para diagnóstico médico e tratamento apropriado.
Além disso, o programa auxilia os pacientes a compreenderem melhor sua con-
dição clínica e tratamento, estimulando o autocuidado apoiado e o alcance de
resultados terapêuticos ótimos48
.
Os pacientes são atendidos pelo farmacêutico, que realiza uma avaliação global
dos fatores de risco cardiovasculares do paciente, e efetua testes rápidos para
determinação dos níveis de lipídeos séricos (colesterol total, HDL-C, LDL-C, trigli-
cerídeos). Os pacientes são então orientados de forma personalizada e recebem
um relatório detalhado dos resultados desta avaliação, que pode ser comparti-
lhado com o médico e outros profissionais de saúde.
Após esta avaliação, pacientes podem aderir a um programa de acompanhamento,
durante o qual é mantido um diário, são feitas avaliações periódicas, e orientação
continuada sobre adesão ao tratamento, uso correto dos medicamentos e mudan-
ças no estilo de vida. Estes encontros podem ser desde mensais até semestrais,
dependendo da necessidade de cada paciente. Os atendimentos de retorno tam-
bém podem coincidir com a aquisição mensal de medicamentos na farmácia.
Quais são os benefícios para os pacientes?
As doenças cardiovasculares isquêmicas representam, ainda hoje, a principal
causa de morte nos países de média e alta rendas, segundo a Organização Mun-
dial da Saúde. Apenas em 2012, foram registradas mais de 17 de milhões de
mortes relacionadas a essas doenças em todo mundo 56
. O colesterol elevado
é considerado o principal fator de risco modificável da doença aterosclerótica e
de suas manifestações clínicas, como acidente vascular cerebral (AVC) e infarto
agudo do miocárdio (IAM) 57
. Ensaios clínicos de terapias de redução do coleste-
rol demonstraram benefícios consistentes em curto prazo para pacientes com
doença arterial coronariana estabelecida e em longo prazo para aqueles com
hipercolesterolemia 58–63
.
Serviços farmacêuticos clínicos podem contribuir significativa-
mente para o controle dos níveis de lipídeos sanguíneos e para
redução de desfechos cardiovasculares 64–67
.
Como exemplo, revisão sistemática publicada no periódico Pharmacotherapy
em 2012, indicou que pacientes que receberam cuidado farmacêutico apresen-
taram níveis de colesterol total significativamente menores, e maiores chances
de alcançar controle lipídico adequado, particularmente com redução nos níveis
de LDL-C 66
.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS50
ESTUDO DE CASO
A Drogaria Venâncio é origi-
nal do Rio de Janeiro (RJ),
foi fundada em 1979, na Tiju-
ca, e conta atualmente com
mais de 30 lojas. Ocupa a dé-
cima posição no ranking da Abrafarma em 2016. Pensando ainda mais na saúde
e bem-estar de seus clientes, a Drogaria Venancio criou o Programa +Saúde,
que consiste em oferecer um conjunto de serviços farmacêuticos, para tornar
mais fácil o cuidado da saúde de toda a família. Realizamos em média, 3.000
atendimentos por mês, desde fevereiro de 2016, para pessoas que fazem uso de
medicamentos contínuos e que buscam por melhor qualidade de vida.
Em 14 lojas da rede, estrategicamente localizadas em diferentes bairros da cida-
de do Rio de Janeiro, o cliente tem acesso a serviços como:
Painel lipídico, colesterol total,
aplicação de injetáveis, aferição de
pressão arterial, medição de glice-
mia e de parâmetros fisiológicos,
análise da composição corporal e
colocação de brinco.
Os serviços são realizados por farmacêuticos(as) capa-
citados(as) e dentro de um ambiente adequado para o
atendimento, com privacidade e conforto.
O cliente também pode receber orientação e acompanha-
mento do seu tratamento. Se houver necessidade, pode-
rá ser indicada a visita ao profissional médico, visto que o
Programa + Saúde não possui o objetivo de diagnóstico.
Os serviços oferecidos não substituem a visita ao espe-
cialista e o receituário médico prescrito. Ainda em 2016,
a Drogaria Venancio estima a expansão do projeto para
mais lojas da rede.
AVALIAÇÕES DE SAÚDE E TESTE DE COLESTEROL NAS FAR-
MÁCIAS DA REDE VENÂNCIO
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS51
DIABETES
EM DIA
É o serviço oferecido nas far-
mácias e drogarias, a pacientes
com suspeita ou diagnóstico
confirmado de diabetes melli-
tus.
Esse serviço visa colaborar para detec-
ção rápida, orientação e encaminha-
mento de pessoas com alterações dos níveis glicêmicos, para diagnóstico mé-
dico e tratamento apropriado. Além disso, o programa é destinado a promover a
educação dos pacientes sobre sua condição clínica e tratamento, dando suporte
ao autocuidado e monitorando resultados terapêuticos49
.
Os pacientes com diabetes são atendidos pelo farmacêutico, que realiza uma
avaliação da glicemia, da utilização de medicamentos, adesão ao tratamento e
episódios de hipoglicemia, além de conhecer a história da doença, complicações
e comorbidades. Os pacientes são então orientados de forma personalizada so-
bre seu tratamento e metas terapêuticas, e recebem um relatório detalhado dos
resultados da avaliação feita na farmácia, que pode ser compartilhado com o
médico e outros profissionais de saúde.
Após esta avaliação, pacientes sob tratamento, farmacológico ou não-farmaco-
lógico, podem aderir a um programa de acompanhamento, durante o qual são
feitas avaliações periódicas e orientação continuada sobre adesão ao tratamen-
to, uso correto dos medicamentos e mudanças no estilo de vida.
Quais são os benefícios para os pacientes?
A prevalência do diabetes em todo mundo dobrou nos últimos 40 anos, e vem
aumentando a cada ano em todos os países 68
. Estimativas indicam que o diabe-
tes afeta aproximadamente 382 milhões de pessoas em todo o mundo. Destas,
175 milhões não têm conhecimento da existência de sua doença, e mais de
80% dos pacientes vivem em países de baixa e média renda. No Brasil, estudos
indicaram uma prevalência de DM na população adulta variando de 7% a 17%,
aumentando conforme a faixa etária 69,70
.
Dezenas de ensaios clínicos demonstram benefícios dos serviços
farmacêuticos sobre os resultados de saúde em pacientes diabé-
ticos. Estudos de revisão sistemática e meta-análises mostraram
que a intervenção farmacêutica produz reduções adicionais na
A1c entre 0,5% e 1,0% em comparação ao cuidado usual recebido
pelos pacientes71
.
Em termos comparativos, esta redução na A1c equivale à mesma eficácia de vá-
rios medicamentos antidiabéticos que estão no mercado, entre eles os inibidores
da DPP-IV, o que significa que a intervenção do farmacêutico pode somar eficá-
cia substancial ao tratamento. Outros benefícios para os pacientes diabéticos in-
cluem a melhoria no controle pressórico, no IMC, no colesterol total e no HDL-C 71
.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS52
ESTUDO DE CASO
ACOLHIMENTO E MELHOR CONTROLE DO DIABETES NA
CLINICA FARMA DA PAGUE MENOS
Em 1981 foi aberta a primei-
ra Farmácia Pague Menos
(http://portal.paguemenos.
com.br/)emFortaleza,capital
doCeará.Baseadanaspalavras“Inovação”,“Conveniência”e“Cidadania”,hojeaRede
possuimaisde800lojas,presentesemcentenasdecidadesemtodoBrasil.Éatercei-
ramaiorrededefarmáciasnorankingdaAbrafarma,atráscomentedaRaiaDrogasil
e Pacheco São Paulo. A empresa emprega perto de 3.000 farmacêuticos e desde o
ano 2000 mantém um serviço telefônico farmacêutico 24h chamado SAC Farma.
Em 2014, a Pague Menos foi pioneira ao lançar um
formato diferente de salas de serviços farmacêuti-
cos. As Clinic Farma são espaços, dentro das Far-
mácias, exclusivamente para prestação de serviços
farmacêuticos, como acompanhamento do trata-
mento prescrito pelo médico, revisão da medicação,
esclarecimento de dúvidas, acompanhamento para
clientes com diabetes, hipertensão, risco cardiovas-
cular, asma e obesidade, entre outras ações. O atendimento é gratuito, acontece
individualmente em uma sala privativa, está aberto ao público em geral. Já são
mais de 300 farmácias estruturadas e a meta será chegar à cobertura total da
rede com os serviços farmacêuticos. A Rede tem feito esta implantação contan-
do com o modelo e manuais de procedimentos disponibilizados pela Abrafarma.
“O objetivo do Clinic Farma é possibilitar um melhor resultado do
tratamento prescrito pelos médicos, garantindo mais qualidade
de vida ao paciente e contribuindo com a saúde pública brasilei-
ra”, explica Cristiane Feijó, coordenadora farmacêutica da Rede.
Segundo material de divulgação da rede, “o papel do farmacêutico é garantir a
adesão, continuidade, orientação e acompanhamento do tratamento prescrito”.
Por enquanto, a empresa mantém a gratuidade dos serviços. Trata-se de um
grande investimento de marketing, parcialmente custeado por parcerias com
fornecedores, como de equipamentos e tiras de glicemia. A empresa não reve-
la planos, mas nada impede que os serviços passem a ser cobrados no futuro.
Os números impressionam. Desde 2014, já foram mais de 42.000 pacientes aten-
didos,comcrescimentoaceleradomêsamês.Entreosprocedimentosrealizados,
foram mais de 19 mil testes de glicemia e praticamente 2.000 consultas de acom-
panhamento do diabetes. A rede pretende apresentar em breve seus resultados
em termos de intervenções farmacêuticas e melhorias na saúde dos pacientes.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS53
REVISÃO DA
MEDICAÇÃO
Este serviço é oferecido nas
farmácias e drogarias princi-
palmente a pacientes polime-
dicados, ou seja, aqueles que
utilizam mais do que 5 medica-
mentos contínuos.
O serviço consiste em uma consulta
com o farmacêutico, na qual o paciente traz todos os seus medicamentos, in-
cluindo aqueles prescritos, utilizados por automedicação, fitoterápicos, suple-
mentos, entre outros. O objetivo do farmacêutico é melhorar a adesão do pa-
ciente a farmacoterapia, considerada um dos maiores problemas associados às
condições crônicas. O paciente, por meio de uma conversa franca, é estimulado
a participar como sujeito de seu tratamento, compreender melhor sua condição
e medicamentos, e se responsabilizar pelo seguimento futuro. O farmacêutico
também avalia possíveis interações medicamentosas e reações adversas aos
medicamentos, além de auxiliar o paciente a reduzir os custos com seu trata-
mento, quando possível13
.
Os pacientes são atendidos pelo farmacêutico e orientados de forma persona-
lizada sobre cada um de seus medicamentos. Eles recebem ao final uma lista
completa e atualizada de seus medicamentos, que pode ser compartilhado com
o médico e outros profissionais de saúde. Nos casos em que farmacêutico e pa-
ciente julgarem necessário, podem ser marcadas consultas de retorno e acom-
panhamento, a fim de avaliar os resultados de possíveis mudanças produzidas
no tratamento.
Quais são os benefícios para os pacientes?
Os medicamentos representam a forma mais comum de intervenção terapêuti-
ca, quatro a cada cinco pessoas com mais de 75 anos utilizam pelo menos um
medicamento e 36% estão em uso contínuo de quatro ou mais medicamentos
72
. No entanto, sabe-se que até 50% dos medicamentos não são administrados
como deveriam, devido a problemas de adesão do paciente, e que muitos medi-
camentos de uso comum podem levar a eventos adversos. As reações adversas,
por exemplo, estão relacionadas a 5-17% das internações hospitalares 73
.
A revisão de medicação é reconhecida como um dos pilares da
gestão de medicamentos, evitando problemas de saúde relacio-
nados à farmacoterapia e gastos desnecessários. O envolvimen-
to do paciente nas decisões relativas ao seu tratamento é uma
parte fundamental para melhorar desfechos clínicos, econômi-
cos e humanísticos 74
.
Como exemplo, uma revisão sistemática recente, publicada no British Journal
of Clinical Pharmacology, indicou que a revisão farmacêutica da medicação está
associada a melhora na adesão, no controle de condições clínicas, como hiper-
tensão e dislipidemia e nas taxas de hospitalizações75
.
FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS54
A PanVel surgiu da fusão das empresas Panitz e Velgos em 1973, nas-
cendo como a maior rede de farmácias do sul do Brasil. Hoje parte do
grupo DIMED, a rede possui uma história de pioneirismo, que inclui o
lançamento de produtos marca própria ainda na década de 80 e uma
das primeiras lojas virtuais do país, em 1998. Atualmente a rede pos-
sui mais de 300 filiais e ocupa a 4a posição no ranking geral da Abrafarma.
A rede oferece procedimentos como medida da pressão arterial e teste
de glicemia há muitos anos, mas a partir de 2014 decidiu investir no desen-
volvimento de novos serviços e em uma renovada infraestrutura de traba-
lho em suas lojas. Nasceu o serviço ATENÇÃO FARMACÊUTICA PANVEL,
inicialmente em algumas farmácias piloto, com planos de expansão para to-
das as novas filiais. Para Leonor Moura, coordenadora farmacêutica da rede,
“A valorização do trabalho dos farmacêuticos não advém ape-
nas do fato de estarmos cobrando pelos serviços e procedi-
mentos farmacêuticos. A verdadeira valorização vem desse
reconhecimento por parte dos clientes, que trazem presentes,
elogiam e são os maiores defensores dos nossos serviços”.
O serviço de atenção farmacêutica in-
clui as consultas do programa sempre
bem, voltadas ao acompanhamento de
pacientes crônicos, o programa primeiro
tratamento, para auxiliar pessoas que começam a usar seus medicamentos e
a revisão da medicação. Neste último a rede descreve os benefícios aos seus
clientes: “Nossos farmacêuticos vão conversar com você sobre todos os me-
dicamentos que você utiliza, para lhe ajudar a organizar os medicamentos que
você possui em casa, descartar os vencidos, identificar as indicações, orien-
tar sobre a conservação e a melhor forma de utilização, evitando interações
com outros produtos e alimentos, reações adversas e efeitos indesejáveis.”
“Com certeza a nossa população tem carência e eles querem, mesmo que mu-
tas vezes não tenham consciência disso. É preciso educar sobre esses ser-
viços que o farmacêutico pode oferecer. Eu vejo que isso é o futuro daquela
farmácia e daquele profissional que irão se diferenciar. Eu me sinto muito feliz
de podermos estar oferecendo estes serviço na minha rede”. Conclui Leonor.
REVISÃO DA MEDICAÇÃO NAS NOVAS FARMÁCIAS DA
REDE PANVEL
ESTUDO DE CASO
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Livro - Farmácia Clínica e Serviços Farmacêuticos

  • 1. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMA- CÊUTICOS Descubra como a emergente área da Farmácia Clínica e dos Serviços Farmacêuticos pode ajudar a aproximar pacientes, médicos e demais profissionais da saúde, em busca de uma farmácia mais atuante e de melhores resultados de saúde para todos. Cassyano J Correr
  • 2.
  • 3. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS Copyright © 2016 ABRAFARMA Reservados todos os direitos. Os direitos de uso desta obra foram cedidos por seus autores à ABRAFARMA. É proibida a dupli- cação ou reprodução deste volume, no todo ou em parte, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (eletrônico, mecânico, gravação, fotocópia, distribuição na internet ou outros), sem permissão expressa da ABRAFARMA. As opiniões aqui expressas são de responsabilidade de seus autores, e não refletem necessariamente as da entidade. Esta obra também é parte inerente do curso Farmácia Clínica e Serviços Farmacêuticos, oferecido na modalidade à distância pela Abrafarma a profissionais de todo país. ABRAFARMA - Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias Alameda Santos, 2300 - Conj. 71 - São Paulo / SP CEP 01418-200 | Tel.: (11) 4550-6201 Practice Editora | Grupo Practice Ltda Supervisão: Graziela Sponchiado | Diagramação: Guilherme Menezes | Contatos: contato@grupopractice.com.br | http://farmaceuticoclinico.com.br Os autores desta obra empenharam seus melhores esforços para assegurar que as informações e os procedimentos apresentados no texto estejam em acordo com os padrões aceitos à época da publi- cação, e todos os dados foram atualizados até a data da entrega dos originais à editora. Entretanto, tendo em conta a evolução das ciências da saúde, as mudanças regulamentares governamentais e o constante fluxo de novas informações em administração e saúde, recomendamos enfaticamente que os leitores sempre consultem outras fontes fidedignas (p. ex., Anvisa, diretrizes e protocolos clínicos), de modo a se certificarem de que as informações contidas neste manual estão corretas e de que não houve alterações nas dosagens recomendadas ou na legislação regulamentadora. Recomendamos que cada profissional utilize este livro como guia, não como única fonte de consulta. Os autores e a editora se empenharam para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores de direitos autorais de qualquer material utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis correções posteriores caso, inadvertida e involuntariamente, a identificação de algum deles tenha sido omitida. Editoração: C345 Correr, Cassyano Januário Farmácia Clínica e a prestação de serviços farmacêuticos / Cassyano Januário Correr. 1. ed. Curitiba: Ed. Practice, 2016. 132 p. : il. ( algumas color.) ISBN 978-85-68784-10-5 1. Saúde. 2. Farmácia . I. Título
  • 4. AUTOR: Cassyano J Correr, BPharm, MSc, PhD Departamento de Farmácia, Universidade Federal do Paraná Consultor Abrafarma - Projeto Assistência Farmacêutica Avançada projetofarma@abrafarma.com.br
  • 5. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS5 O que esta imagem significa para você?
  • 6. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS6 su- má- rio 95 107 113 116 122 Promoção: como o serviço é comu- nicado aos pacientes e clientes? Processo: o serviço é bem feito? Pessoas: o provedor do serviço é bem preparado? Provas: o que o paciente vê? O que ele leva para casa? Referências 43 62 64 69 83 31 40 Um novo plano para os serviços farmacêuticos Produto: que benefício (valor) o serviço gera para o paciente Ponto: onde o serviço é fornecido? Preço: quanto custa para o cliente obter o serviço? O modelo Abrafarma para os servi- ços farmacêuticos Os serviços farmacêuticos em far- mácias e drogarias Um pouco mais sobre dispensação de medicamentos 07 12 15 16 21 24 29 A jornada do paciente Automedicação e os problemas de saúde autolimitados Um pouco de história Os farmacêuticos e os médicos pre- cisam trabalhar juntos A voz do consumidor: o que eles pensam do farmacêutico? Entenda o que é adesão ao tratamento Problemas relacionados à farmacoterapia
  • 7. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS7 “O farmacêutico é tradicionalmente reconhecido como um profis- sional responsável pela produção e distribuição de medicamentos e pouco envolvido no cuidado dos pacientes. O modelo de prática de dispensação de medicamentos também corresponde a este pa- pel tradicional. Esta realidade, entretanto, vem sendo transformada, na medida em que cresce a necessidade de uma maior participação do farmacêutico no manejo do uso dos medicamentos, tendo como foco de trabalho o paciente e não apenas o medicamento. A promo- ção do uso racional de medicamentos, a diminuição da morbidade e mortalidade relacionadas aos medicamentos e a busca da melhoria da qualidade de vida da população têm sido o foco das ações pro- postas.” Correr; Otuki. A prática farmacêutica na farmácia comunitária. Artmed, 2013.
  • 8. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS8 A jornada do paciente Vamos começar com uma boa notícia. Nós estamos vivendo mais e melhor e essa é uma realidade em todo mundo. Não importa a pobreza do país, todos assistiram a um aumento da expectativa de vida no último século. Mas há um preço cada vez menos oculto a ser pago. O envelhecimento populacional, as famílias com menos filhos, as mudanças no perfil das doenças. Tudo isso cobra sua conta sobre quem paga os gastos da saúde. O aumento da prevalência das condições crônicas é o principal fator que atual- mente pressiona os sistemas de saúde em todo mundo. Se 100 anos atrás as causas de morte eram principalmente as doenças infecciosas e parasitárias, hoje a maior carga de morbidade e mortalidade pertence às doenças crônicas não transmissíveis1 . As mais importantes são as doenças cardiocirculatórias, o câncer, o diabetes, doenças crônicas pulmonares e neurop- siquiátricas. Os fatores de risco mais relevantes para essas doenças são: tabagismo, consu- mo abusivo de álcool, excesso de peso, níveis elevados de colesterol, baixo con- sumo de frutas e verduras e sedentarismo. No Brasil, 31% dos brasileiros adultos afirma ter pelo menos uma doença crônica. Essa proporção aumenta conforme a faixa etária, chegando a 79% dos idosos com mais de 65 anos2 . A partir dos 50 anos de idade, a prevalência das doenças crônicas aumenta con- sideravelmente, e acaba levando à polimedicação, que é o uso simultâneo de vários medicamentos. Nos idosos, por exemplo, 1 em cada 3 utiliza mais de 5 medicamentos contínuos, e isso representa custos crescentes nos gastos em saúde3 . A importância das doenças crônicas cresce em nosso país, ao mesmo tempo em que problemas básicos de saneamento, nutrição infantil e doenças infecciosas endêmicas, como a febre amarela, e epidêmicas, com a dengue, con- tinuam importantes. Adicionalmente, os números da violência, principalmente nas grandes cidades, tornam significativas as causas externas de morte. Por isso, é comum ver os especialistas referirem que no Brasil convivemos com uma tripla carga de morbimortalidade, representada pelas condições crônicas, as do- enças infecciosas e as causas externas4 . O desafio das doenças crônicas é que elas exigem um outro modelo de cuidados em saúde. A lógica tradicional da doença aguda, em que se tem sintomas cla- ros, diagnóstico, tratamento e cura, não funciona para as doenças crônicas. Para doenças como hipertensão e diabetes, os sintomas costumam estar ausentes, o diagnóstico muitas vezes é incerto, o tratamento é longo, e não há cura. O primeiro desafio é a detecção para o diagnóstico precoce. Esse continua sendo um desafio no Brasil. Em média, uma pessoa pode levar 12 meses ou mais para conseguir percorrer a jornada entre uma primeira consulta médica, fazer os exames, retornar ao médico para fechamento do diagnóstico e receber uma prescrição do tratamento. Essa dificuldade é maior principalmente na parcela da população com mais baixa renda, e na dependência de especialistas e exames mais caros.
  • 9. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS9 Mas o que isso tem a ver com a farmácia? E uma vez que o paciente recebe o diagnóstico e consegue iniciar o tratamento, daí começa uma outra jornada. O acompanhamento, as consultas periódicas, os exames, os ajustes necessários na medicação, a aceitação da doença e a força de vontade para mudar hábitos de vida. Mesmo em países desenvolvidos, como a Inglaterra, um doente crônico passa, em média, apenas 3 horas por ano com o médico. Isso representa 0,03% das 8.760 horas de um ano. Fica fácil perceber que para as doenças crônicas o autocuidado é mais importante do que o cuidado profis- sional, e esse, de fato, é um dos pilares do modelo de cuidados crônicos 1,5 . O treinamento e a educação do paciente são fundamentais. Tem tudo a ver! Por isso, é importante que existam ações que possibilitem a detecção de risco nos pacientes, especialmente nas doenças crônicas mais assintomá- ticas. Essas ações são chamadas de rastreamento em saúde. Um teste positivo no rastreamento é o primeiro passo para a obtenção de um diagnóstico, que deverá ser confirmado pelo médico. Um exemplo bem conhecido é o teste de glicemia, capaz de detectar pacientes com risco de diabetes de uma forma rápida, acessível e bastante confiável. Quer outros exemplos? a medida da pressão arterial, a densitometria óssea de calcanhar, o teste de colesterol, o PHQ-2, etc.
  • 10. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS10 O paciente enfrenta uma longa jornada, começando pelo pré-diagnóstico 4 meses 4 meses Paciente busca atendi- mento médico TEMPO DÚVIDAS INSEGURANÇA CUSTOS Médico faz consulta e solicita exames 3-4 meses Paciente realiza os exames Paciente retorna ao médi- co com os exames
  • 11. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS11 O diagnóstico é apenas o início. É durante o tratamento que outros problemas podem surgir. Adesão ao tratamento Recaídas / dúvidas Efeitos colaterais Acesso aos profissionais Autogestão da doença Paciente inicia o tratamento Paciente faz exames e consultas periódicas Tratamento é ajustado conforme os resultados
  • 12. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS12 A importância crescente das doenças crônicas tornou a adesão ao tratamento um dos maiores desafios que temos hoje na saúde. A Organização Mundial da Saúde estima que 50% dos pa- cientes tem baixa adesão ao tratamento6 . Um estudo com mais de 150.000 pessoas, feito nos Estados Unidos, mostrou que a adesão a medicamentos para glaucoma, dislipidemia, osteoporose, dia- betes e hipertensão varia de 37% a 72% nos primeiros 12 meses de tratamento. Nos hipertensos tratados por 10 anos, 22% interrompem e reiniciam o trata- mento durante o período e 39% abandonam o tratamento definitivamente7 . Em pessoas com mais de 40 anos, usando medicamentos contínuos, a taxa de não adesão completa aos medicamentos é de 63%. As principais causas são des- continuidade de acesso, falta de acompanhamento profissional e ter que usar medicamentos muitas vezes ao dia8 . ALGUNS NÚMEROS DA NÃO ADESÃO AOS MEDICAMENTOS 50% dos pacientes possuem adesão aos medicamentos abaixo do necessário A não adesão ao tra- tamento para doenças crônicas varia de 37% a 72% nos primeiros 12 meses 63% das pessoas com mais de 40 anos admitem não ter adesão completa ao tratamento Fica claro que o cuidado tradicional centrado apenas no médico, com um diag- nóstico e uma receita de medicamentos, não funciona bem para as doenças crônicas. É preciso um trabalho multiprofissional e um acompanhamento conti- nuo da saúde desses pacientes. É preciso educar e dar suporte ao autocuidado, pois essas doenças exigem que o paciente seja o verdadeiro protagonista do seu tratamento. A falta dessa abordagem compromete a qualidade do cuidado e o controle das doenças crônicas, com grande impacto social e econômico. Vejamos a situação do cuidado das principais doenças e fatores de risco. TABAGISMO: A prevalência de usuários atuais de produtos derivados de tabaco, fumado ou não fumado, de uso diário ou ocasional, é de 15,0% (21,9 milhões de pessoas). Os homens apresentaram percentual mais elevado de usuários (19,2%) do que as mulheres (11,2%). Por faixa etária, aqueles com idade entre 40 e 59 anos apresentaram o maior percentual (19,4%). Mais da metade dos fumantes (51,1%) tentou parar de fumar nos últimos 12 meses. Apenas 8,8% procuraram tratamento ou profissional da saúde para parar de fumar 2 . SOBREPESO E OBESIDADE: 51% dos brasileiros (54% dos homens e 38% das mulheres) apresentam sobrepeso e 17,5% dos brasileiros (16% dos homens e 18% das mulheres) são obesos9 . HIPERTENSÃO ARTERIAL: 21,4% dos brasileiros com mais de 18 anos referem diagnóstico de hipertensão. Do total de pessoas com idade entre 60 e 64 anos, 44,4% referiram diagnóstico de hipertensão. Um em cada cinco (18,6%) admi- tem não ter tomado os medicamentos para hipertensão nas últimas duas sema- nas. Um em cada três (30,3%) não receberam nenhuma assistência médica nos últimos 12 meses 2 . O controle da hipertensão no Brasil é ruim. Mais de 60% dos pacientes controlam mal a condição e é esperado que apenas 3 ou 4 a cada 10
  • 13. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS13 pacientes tratados estejam com pressão arterial estabilizada abaixo de 140/90 mmHg (que é a meta geral do tratamento)10 . DIABETES MELLITUS: 11,5% dos brasileiros com mais de 18 anos nunca fize- ram exame de sangue para determinar a glicemia 2 . Diagnóstico: 6,2% da popu- lação de 18 anos ou mais de idade referiram diagnóstico médico de diabetes (9,1 milhões de pessoas). Em pessoas com 65 anos ou mais a prevalência é de 19% 2 . Tratamento: 75% dos diabéticos tipo 2 controlam mal a doença e não atingem a meta do tratamento11 . Uma em cada quatro pessoas com diabetes (27%) não recebeu nenhuma assistência médica nos últimos 12 meses. Um em cada cinco (20,%) admitiram não ter utilizado medicamento ou insulina nas últimas duas semanas2 . DISLIPIDEMIAS: 12,5% das pessoas de 18 anos ou mais de idade (18,4 milhões) tiveram diagnóstico médico de colesterol alto. A frequência de pessoas que re- feriram diagnóstico médico de colesterol alto é mais representativa nas faixas de maior idade: 25,9% das pessoas de 60 a 64 anos de idade, 25,5% das pessoas de 65 a 74 anos de idade e 20,3% para aqueles com 75 anos ou mais. Uma em cada sete pessoas (14,3%) acima de 18 anos nunca fez exame de colesterol e triglicerídeos2 . Observa-se a importância de ações que melhorem a gestão e o acompanhamen- to do tratamento desses pacientes, juntamente com as ações de prevenção e rastreamento de doenças. Essa é base dos serviços clínicos que o farmacêutico vem desenvolvendo. Entenda o que é adesão ao tratamento Entende-se por adesão terapêutica o quanto há de concordância entre o compor- tamento do paciente na utilização de medicamentos ou seguimento de medidas não farmacológicas, e aquelas recomendações feitas pelos profissionais da saú- de. A adesão terapêutica é mais do que apenas tomar os comprimidos. Trata-se, afinal, do quanto o paciente compreende, concorda e participa do seu tratamento. Outro parâmetro importante é o que chamamos de persistência, que consiste no tempo (em dias, meses, ou anos) em que o paciente permanece tomando o medicamento, sem interrupção do tratamento. Muitos pacientes abandonam o tratamento de forma definitiva ou por períodos de tempo, e isso pode compro- meter a evolução das complicações crônicas. De maneira prática esses concei- tos, adesão e persistência, estão correlacionados, e devem “andar juntos” 12 . Nós sabemos que vários fatores podem prejudicar a adesão aos medicamentos, funcionando como barrei- ras. Questões da qualidade do sistema de saúde, como o relacionamento médico-paciente, fatores econômicos e sociais, como o acesso aos medicamentos, fatores ligados ao tratamento, como a polimedicação, a comple- xidade da terapia, e fatores ligados as doenças, como a ausência de sintomas, os prejuízos cognitivos ou funcio- nais do paciente6 .
  • 14. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS14 E os pacientes não aderentes, como as pessoas, não são todos iguais. Há pacientes que omitem doses, que com frequência pulam doses e tomam menos medicamento do que foi prescrito. Há pacientes que exageram na dose. Eventualmente tomam mais comprimidos do que foi prescrito. Outros aumen- tam a dose por conta própria. Há os pacientes que tiram ‘férias’ do tratamen- to: interrompem o tratamento por um período de tempo, depois voltam. Há os aderentes pré-consulta, que começam a cumprir o tratamento adequadamente apenas nos dias que antecedem a consulta médica. Também os aderentes pós- -consulta, que após a consulta médica, começam a cumprir o tratamento correta- mente, mas apenas por um período tempo limitado. Há também os aderentes ale- atórios, que tomam os medicamentos apenas quando se lembram. E há a adesão ligada a sintomas, que são os pacientes que tomam os medicamentos apenas quando sentem os sintomas da doença.
  • 15. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS15 Os não aderentes involuntários são pessoas que tem apenas dificuldade de se lembrar de tomar os medicamentos, se confundem ou não conseguem orga- nizar toda medicação adequadamente. Isso é bem comum quando o paciente toma muitos medicamentos, em pessoas com baixa escolaridade, ou simples- mente quando a pessoa não foi bem orientada pelo profissional da saúde. E há os pacientes que não aderem de forma voluntária. São pessoas que de- cidem, conscientemente, não tomar os medicamentos conforme prescrito. Os motivos são pessoais, multifatoriais e podem ser muito variados. O abandono do tratamento geralmente está ligado à experiência do paciente com os medi- camentos e precisa ser abordado com mais profundidade pelo farmacêutico. Nestes pacientes mais resistentes, vá com calma, procure ganhar sua confiança e avance aos poucos. Nós podemos também classificar a não adesão em primária ou secundária. “Não adesão primária” é quando o paciente não consegue acesso ao medicamento, por ruptura de es- toque ou por causa do custo, por exemplo. Na “não adesão secundária”, o paciente tem o medicamento, mas não adere por outros motivos13 . Mas se as pessoas vão ao médico, por es- pontânea vontade, a fim de obter auxilio para um problema de saúde, e recebem uma pres- crição de medicamentos, por que elas não utilizariam esta prescrição? Para compre- ender melhor este enigma, vamos primeiro diferenciar duras formas de não adesão: a involuntária e a voluntária.
  • 16. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS16 Há trabalhos na literatura que trazem vários métodos diferentes para diagnos- ticar a baixa adesão aos tratamentos e diversas estratégias a fim de aumentar a adesão. Não existe um método padrão-ouro, que permita avaliar todos os as- pectos relacionados à adesão. Os métodos de avaliação da adesão são dividi- dos em diretos (por exemplo, a dosagem do fármaco ou metabólitos no plasma, saliva ou urina) e métodos indiretos (por exemplo, a contagem de comprimidos, avaliação de resultados terapêuticos e os questionários). Todos os métodos tem suas vantagens e desvantagens. Em geral, nas pesqui- sas, os métodos considerados mais robustos são a contagem dos comprimidos e o cálculo da taxa de posse dos medicamentos, a partir dos registros da farmá- cia. Em inglês a taxa de posse é chamada de Medication Possession Ratio, ou MPR14 . Na prática clínica, o uso de questionários e a própria entrevista com o paciente são os métodos mais factíveis e confiáveis. Entre os questionários validados, sugiro que você conheça pelo menos dois: Morisky-Green-Levine e Haynes-Sackett15 . A não adesão aos medicamentos por parte dos pacientes é um problema de natureza rara, capaz de unir todos os elos importantes da cadeia farmacêutica, desde os laboratórios fabricantes, o governo, os médicos, o varejo farmacêutico e os farmacêuticos. Não há um só desses elos que não ganhe com o aumento da adesão aos tratamentos, incluindo, obviamente, os pacientes e a saúde pública. Automedicação e os problemas de saúde autolimitados Podemos pensar que no lado oposto ao comportamento de não adesão aos medi- camentos, está a automedicação. Isto é, tomar medicamentos por conta própria, sem supervisão de um profissional da saúde. Todos sabemos que automedicação feita de forma errada por levar a dano para os pacientes, e que existe uma cultura de automedicação bastante presente entre os brasileiros. Há estudos que mostram que menos de 10% das pessoas procura o médico quando tem um problema de saúde, enquanto mais de 30% se automedicam16 . E os medicamentos mais usados por automedicação no Brasil são os analgésicos e os antiinflamatórios não-esteroi- dais (os AINES). Nas farmácias, existe uma demanda tradicional e constante para que o farmacêutico indique medicamentos. Um levantamento feito pelo IBOPE em 2011 mostrou que 69% das pessoas, quando decidem se automedicar, procuram diretamente pelo farmacêutico e 62% pedem a ele que seja recomendado um medicamento17 .
  • 17. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS17 Se por um lado a automedicação é parte inerente dos sistemas de saúde e é importante para sua sustentabilidade, de outro é preciso minimizar os riscos, seja liberando para venda sem receita apenas medicamentos com uma relação risco/benefício favorável, seja utilizando a farmácia como um ponto de apoio para a prática segura da automedicação. É o chamado “autocuidado assistido”, ou automedicação assistida, que é diferen- te do autocuidado puro, em que o paciente toma suas decisões de cuidados em saúde sem ajuda de nenhum profissional. Nas maiores redes de farmácias do país, estima-se que cada farmacêutico faça entorno de 200 atendimentos dessa natureza por mês, com alguma indicação de medicamento ao cliente 18 . Isso representa dezenas de milhões de atendimentos todos os anos. Essa é uma demanda gigantesca, que exigiu uma melhor regulamentação e pro- fissionalização desses atendimentos. Esse é um dos grande motivos pelo qual o Conselho Federal de Farmácia buscou regulamentar a prática da prescrição farmacêutica para medicamentos que não requerem receita médica, por meio da resolução no 586, de 2013 19 . Este é o serviço farmacêutico que o CFF denomina manejo de problemas de saúde autolimitados. E a Lei no 13.021 de 2014, em seu artigo 13, reforça a obrigação de um papel mais clínico do farmacêutico no atendimento das demandas da população, fa- zendo a orientação farmacêutica e esclarecendo o paciente sobre os benefícios e riscos dos medicamentos. Existe uma ampla gama de Medicamentos Isentos de Prescrição Médica, os MIPs. A Anvisa regulamentou essa classe de produtos em 2003, por meio RDC no 138, e recentemente definiu novas regras para o chamado SWITCH, que é a passagem de medicamentos tarjados para MIP20 . Hoje, existem MIPs para tratamentos de uma série de problemas de saúde: problemas de pele, alergias, dores de cabeça, dores mus- culares, problemas digestivos, dificuldade para dormir, sintomas respiratórios, parasitoses, entre outros. Atualmente, nas farmácias, esses medicamentos podem ficar diretamente ao alcance dos consumidores, nas gondolas. E há uma tendência crescente para que a gestão dessas categorias nos estabelecimentos torne a escolha por parte dos clientes um processo mais seguro e informado do que vemos hoje. Problemas relacionados a farmacoterapia Tanto a adesão ao tratamento, como a automedicação, podem ser examinados pela ótica mais abrangente dos problemas relacionados aos medicamentos, co- nhecidos no meio farmacêutico como PRMs. Atualmente, a denominação PRM tem caído em desuso, e é mais comum ouvir os especialistas se referindo a problemas relacionados à farmacoterapia. Independentemente da denominação, não há dúvida de que o principal valor que o farmacêutico pode entregar à sociedade por meio dos serviços farma- cêuticos é a solução dos problemas relacionados à farmacoterapia.
  • 18. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS18 FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS18 E esses problemas são grandes no Brasil. Estima-se que aconteçam, por ano no país, entre 1,2 e 3,2 milhões de internamentos hospitalares de urgência ligados ao mau uso de medicamentos. E o custo somente para o SUS pode chegar a 3,6 bilhões de reais por ano34 . Precisamos entender melhor por que isso acontece e como minimizar estes problemas.
  • 19. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS19 Quando uma pessoa tem o diagnóstico de uma doença e começa um tratamento com medicamentos, uma série de eventos bem sucedidos precisa ocorrer, para que haja melhora da saúde desse paciente. Em primeiro lugar, a prescrição preci- sa ser adequada para o paciente, então esse paciente precisa utilizar corretamen- te esse medicamento, ter boa adesão ao tratamento, além disso, o medicamento precisa ter uma boa qualidade, enquanto produto, para que o processo biofarma- cêutico ocorra como planejado. Se tudo isso estiver certo, a biodisponibilidade for boa, nós poderemos ter o efeito farmacológico esperado (resultante da farma- cocinética e farmacodinâmica) e os resultados de saúde surgirão. E nós vamos enxergar esses resultados de saúde em termos de efetividade do tratamento e ausência de reações adversas. Basicamente é isso. Chamamos a todo esse ciclo de “processos da farmacoterapia” 21 .
  • 20. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS20 Entretanto, caso haja qualquer problema nesses processos, como falhas de prescrição, desvio de qualidade no produto, baixa adesão ao trata- mento, interações medicamentosas, ou dezenas de outros fatores que podem interferir nesse tratamento, então nós estaremos diante de um problema da farmacoterapia. Nesses casos, o paciente pode não melhorar de sua doença, ou sofrer um agravo, um dano, e nós teremos con- sequências para a vida dessa pessoa e para o sistema de saúde. Vamos ver alguns números desses problemas no Brasil. Um estudo do Ministé- rio da Saúde feito em Curitiba com mais de 500 pacientes polimedicados que passaram por uma consulta com o farmacêutico, revelou que mais de 80% ti- nham algum problema ligado ao uso correto dos medicamentos. Um em cada três pacientes tinha abandonado algum tratamento, 54% omitiam doses, 14% faziam automedicação inadequada, 33% usavam medicamentos em horários errados, 21% adicionavam doses não prescritas, 13% não haviam iniciado algum tratamento prescrito, e 8% cometiam erros na técnica de administração da for- ma farmacêutica, entre outros problemas diversos 22 Nesses pacientes, ainda, 20% sofriam alguma reação adversa e quase meta- de deles fazia algum tratamento que não estava sendo suficientemente efetivo. Isto é, não vinha produzindo os resultados esperados. Isso revela uma outra face oculta do uso de medicamentos em nosso meio: o baixo controle de doenças crônicas no Brasil. Como já citamos, na hipertensão, por exemplo, que tem uma prevalência de mais de 20% entre os brasileiros adultos, apenas 30% dos pacientes tratados tem a pressão arterial sob controle. No caso do diabetes tipo 2, apenas 25% conseguem controlar bem a doença, o que nos coloca como um dos piores paí- ses do mundo no controle do diabetes. E nós vemos dados não muito diferentes para pacientes com hiperlipidemia, hipotireoidismo, sobrepeso e obesidade. E nós sabemos que o mau controle de todas essas condições crônicas leva a consequência desastrosas. No Brasil, o diabetes mata mais do que AIDS e aci- dentes de transito. O infarto do miocárdio ainda é responsável por 30% das mor- tes no país. A cada hora, 23 pessoas morrem por males relacionados ao cigarro. E as mortes por obesidade triplicaram no país nos últimos 10 anos. Esse é o contexto em que a profissão de farmacêutico existe hoje. Uma mu- dança epidemiológica, o envelhecimento populacional, o uso cada vez maior de medicamentos, problemas de adesão ao tratamento, automedicação e falhas observadas em todos os processos da farmacoterapia. E o paciente utilizando cada vez mais o sistema, com uma expectativa cada vez maior de qualidade de atendimento e acesso às novas tecnologias. Portanto, há muito o que ser feito na promoção do uso racional dos medica- mentos. Por isso os problemas relacionados aos medicamentos são uma parte central do trabalho clínico do farmacêutico e do benefício que ele pode trazer para a sociedade.
  • 21. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS21 Fonte: Ministério da Saúde, 2014.
  • 22. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS22 Um pouco de história Resgatando os últimos cem anos de história da prática farmacêutica, três períodos são claramen- te observados: o tradicional, o de transição e os estágios de desenvolvimento do cuidado de pa- cientes23 . Você já deve ter ouvido esta história muitas vezes, mas não custa lembrar. Na vi- rada do século 20, o principal papel social do farmacêutico (então boticário) con- sistia no preparo e dispensa do medicamento magistral. Com a industrialização maciça da produção na metade do século, o farmacêutico passou a dispensar medicamentos e desenvolveu sua competência em outras áreas emergentes naquele momento: a indústria farmacêutica e as análises clínicas. Nos anos 60, o desenvolvimento da farmácia clínica marca o início de um período de transi- ção, em que o farmacêutico passa a exercer novas funções dentro da equipe de saúde, particularmente nos hospitais, assumindo um lugar de consultor so- bre medicamentos e desenvolvendo uma prática mais orientada ao paciente e à equipe de saúde, focada na melhoria do processo de uso de medicamentos. Os farmacêuticos comunitários, ainda focados no produto, acrescentaram ao ato de dispensar medicamentos a função de prover informações aos pacientes so- bre substituição por genéricos e aconselhar sobre uso de medicamentos isentos de prescrição24 . A Farmácia Clínica é a área da prática farmacêutica que contribui diretamen- te para o cuidado do paciente, buscando desenvolver e promover o uso racional dos medicamentos e produtos para a saúde. Como ciência, a farmácia clínica fornece a base técnica e científica, ligada aos medicamentos e à terapêutica, sobre a qual se possibilitou construir a prática farmacêutica clínica. Ela teve iní- cio no âmbito hospitalar, mas atualmente incorpora a filosofia do Pharmaceu- tical Care e, como tal, expande-se a todos os níveis de atenção à saúde. Esta prática pode ser desenvolvida em hospitais, ambulatórios, unidades de atenção primária à saúde, farmácias, instituições de longa permanência e domicílios de pacientes, entre outros. Uma definição mais atual de Farmácia Clínica a coloca como a “área da farmácia voltada à ciência e prática do uso racional de medi- camentos, na qual os farmacêuticos prestam cuidado ao paciente, de forma a otimizar a farmacoterapia, promover saúde e bem-estar, e prevenir doenças” 25 . Os primeiros serviços de farmácia clínica, nos hospitais, desenvolveram ativi- dades voltadas aos pacientes, como a análise de prescrições, a monitorização plasmática de medicamentos e o aconselhamento de pacientes. E também vol- tadas à equipe de saúde, como informação sobre medicamentos e a participa- ção em comissões de farmácia e terapêutica. Para muitos farmacêuticos hos- pitalares, essas atividades ainda são sinônimo de farmácia clínica, mas existem um “mundo novo” de serviços e atividades que se desenvolveram nos últimos 10 anos e precisam ser conhecidos. No plano internacional, os serviços mais populares são: Conciliação de Medicamentos (Medication Reconcilia- tion), Gestão da Farmacoterapia (Medication Therapy Management), Revisão da Medicação (Medication Re- view), Programas de Gestão da Doença (Disease State Management).
  • 23. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS23 Enquanto isso, no Brasil, a Lei no 13.021 de 2014 “sacramentou” o acompanha- mento farmacoterapêutico como uma das principais obrigações do farmacêutico, tanto no hospital como nas farmácias e drogarias. Falaremos sobre isso adiante. Vamos relembrar o Pharmaceutical Care e seu encontro com a Farmácia Clínica O termo pharmaceutical care foi utilizado pela primeira vez na década de 70, todavia o conceito mundialmente difundido foi publicado em 1990 por Hepler & Strand, nos Estados Unidos 26 . Este termo foi traduzido para vários idiomas mundo afora e ganhou diferentes significados, de acordo com as característi- cas culturais e da prática farmacêutica dos países. Na Espanha foi traduzido como “Atención Farmacéutica”, na França “Suive Pharmaceutique”, em Portugal “Cuidados Farmacêuticos”, no Brasil inicialmente como “Atenção Farmacêutica”. Atualmente, o termo recomendado em nosso país é “Cuidado Farmacêutico”. A OMS em sua histórica “Declaração de Tóquio” (1993) sobre as funções do farmacêutico no sistema de atenção à saúde, reconhece os cuidados farmacêu- ticos e sua aplicabilidade a todos os países, mesmo considerando as diferenças de evolução socioeconômicas entre eles. Além disso, foi a OMS que apresentou um conceito mais estendido à comunidade e não somente ao indivíduo, enten- dendo o farmacêutico como um prestador de serviços de saúde que pode parti- cipar ativamente na prevenção de doenças e na promoção da saúde junto com outros membros da equipe de atenção à saúde 27 . Sabemos que a imensa maioria dos farmacêuticos das farmácias e drogarias trabalha separadamente dos médicos e sente dificuldade em avaliar os dados do paciente ou contatar médicos sobre aspectos do tratamento. Por outro lado, os farmacêuticos são muito acessíveis aos pacientes (e vice-ver- sa) e geralmente sentem pouca dificuldade organizacional em conversar com esses pacientes. O intervalo de tempo entre as consultas médicas é raramente ditado pelo ritmo da farmacoterapia e os farmacêuticos costumam ver esses pacientes por várias vezes entre as consultas médicas. Assim, esses farmacêu- ticos encontram-se naturalmente em uma boa posição para monitorar o pro- gresso do tratamento farmacológico 28 . O conceito de farmácia clínica evoluiu e incorporou esses preceitos da prática centrada no paciente, dos cuidados farmacêuticos. A visão atual do “American College of Clinical Pharmacy (ACCP)” para a profissão, de acordo com seu plano estratégico para a prática farmacêutica em 2015, é que o farmacêutico será o profissional de saúde responsável pelo uso de forma ideal da farmacoterapia na prevenção e tratamento de doenças25,29 . Segundo a ACCP, “a prática da farmácia clínica abrange a filosofia da atenção farmacêutica ou dos cuidados farmacêuticos, dessa forma, combina uma orientação para o cuidado com conhecimentos especializados de terapêutica, experiência e ju-
  • 24. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS24 ízo clínico, com propósito de garantir resultados ideais para o paciente. Far- macêuticos clínicos cuidam de pacientes em todos os locais onde se pratica atenção à saúde. Estes possuem conhecimentos aprofundados sobre medi- camentos, integrados com uma compreensão fundamental das ciências bio- médicas, farmacêuticas, sócio-comportamentais e clínicas. A fim de atingir metas terapêuticas desejadas, o farmacêutico clínico aplica diretrizes basea- das em evidências, novos conhecimentos de ciências em evolução, tecnolo- gias emergentes, além de princípios legais, éticos, sociais, culturais, econômi- cos e profissionais”.25 Nota deve ser feita sobre a ausência na visão atual da ACCP de qualquer men- ção à dispensação como uma atividade ligada à área de farmácia clínica. Isso ocorre pelo entendimento (cada vez mais presente) de que o serviço de dispen- sação encontra-se ligado à área de distribuição de medicamentos (serviços não- -clínicos) e não propriamente dentro da atuação do farmacêutico clínico. Nos Estados Unidos é comum referir-se ao farmacêutico da dispensação como um “farmacêutico da distribuição”, em contraste ao “farmacêutico clínico” que atua diretamente no cuidado do paciente e em serviços clínicos. Em grande parte, isto vem de uma visão diferente dos farmacêuticos americanos sobre o que é “DISPENSING”. Este termo em inglês designa principalmente na atividade de receber o receituário, validá-lo, fracionar o medicamento conforme a receita, acondicionar e rotular o medicamento, deixando-o pronto para que seja entregue ao paciente. A orientação dada pelo farmacêutico juntamente com esta entrega é comumente chamada pelos nativos da língua inglesa de “COUNSELING”. Eventualmente, o paciente pode apresentar um pro- blema que precisa ser resolvido junto ao prescritor ou diretamente pelo farmacêutico. Nestes casos pode-se dizer que são realizadas “CLINICAL INTER- VENTIONS” juntamente com o “DISPENSING & COU- NSELING” do paciente. Estas intervenções clínicas visam a resolução de problemas relacionados aos medicamentos e podem ser inclusive remuneradas por seguros de saúde ou pelo próprio governo, como já ocorreu na Austrália30 . Assim, atividades clínicas podem ocorrer através da dispensação, mas esta é essencialmente um atividade ligada ao preparo do me- dicamento para ser entregue ao paciente e mais preocupada em não deixar que erros passem (na prescrição e na própria dispensação). Esta distinção clara no inglês, entre DISPENSING e COUNSELING, não ocorre na língua portuguesa, particularmente no Brasil, pois tornou-se senso comum dizer que a DISPENSAÇÃO inclui a ORIENTAÇÃO do paciente, isto é, teorica- mente, pode haver ACONSELHAMENTO sem DISPENSAÇÃO, mas não existe DISPENSAÇÃO sem ACONSELHAMENTO. Eu suponho que o fato dos medicamentos serem vendidos no Brasil em emba- lagens prontas, sem fracionamento efetivo acontecendo e sem necessidade de rotular de forma personalizada os medicamentos, fez com que essa mudança na interpretação do termo dispensação ocorresse com o passar dos anos. Por outro lado existe também uma clara demarcação de território da profissão. É preciso valorizar a dispensação até para aquilo que ela não é (às vezes algumas
  • 25. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS25 pessoas até exageram na importância da dispensação), pois aceitar a dispen- sação apenas por aquilo que ela realmente é poderia colocar em cheque mate a prática (e o emprego) de milhares de profissionais. Abalei suas convicções de farmacêutico(a) com essas afir- mações? Se a resposta for sim, está na hora de você rever seus conceitos, pois todos nós deveríamos pensar naquilo que é melhor para o paciente e moldar a prática a isso. E não ficar tentando convencer o mundo da importância de uma prática criada em sua origem para preservar a corporação. Mas uma ressalva. O Conselho Federal de Farmácia no Brasil, no entanto, con- siderando a realidade da profissão e a legislação nacional, mantém a dispensa- ção como uma das atribuições clínicas estratégicos do farmacêutico clínico 31. Essa, a meu ver, é uma decisão acertada para nosso momento histórico. Mas nada disso elimina um ponto fraco. Onde estão os ensaios clínicos randomizados mos- trando que a dispensação produz benefícios clí- nicos palpáveis aos pacientes em comparação à entrega simples de medicamentos? Eu ainda espero por estes estudos. Os farmacêuticos e os mé- dicos precisam trabalhar juntos Duas profissões milenares, que já foram uma só e se sepa- raram em algum ponto da história. Ambas tão ligadas aos medicamentos e à terapêutica. Médico <-> Medicamento. Farmacêutico <-> Fármaco. Pare para pensar no poder das palavras. Que tema delicado. Se você é médico e está lendo este livro, fique tranquilo, pois os farmacêuticos não fazem diagnóstico de doenças e não irão prescrever me- dicamentos tarjados a partir desses diagnósticos. Mas é caro para a profissão farmacêutica poder avançar em seu papel clínico, recomendando, quando julgar necessário, medicamentos que são isentos de receita médica. Está na lei. São tratamentos sintomáticos, que dispensam diagnóstico prévio. Isso precisa ficar claro. No caso de pacientes crônicos e diagnosticados, os farmacêuticos podem auxiliar no acompanhamento e ajustes na terapia, para benefício do paciente e de toda equipe, mas sempre com a anuência e encaminhando o paciente ao médico que prescreveu o tratamento. Na verdade, o farmacêutico pode ser seu melhor parceiro. Nós podemos lhe ajudar com seus pacientes!
  • 26. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS26 Se você é farmacêutico, esteja atento. Diagnóstico de doenças e prescrição de medicamentos tarjados é exercício ilegal da medicina. Seu papel é outro. E para fazer modificações em receitas, mudar doses, etc. é obrigatório que você esteja em pleno acordo com o médico prescritor, em situações excepcionais, como em clínicas, hospitais ou ambulatórios, onde haja trabalho conjunto e protocolos comuns. Na farmácia, seu papel é proporcionar uso seguro dos medicamentos. Você pode prescrever, sim, medicamentos de venda livre, orientações não far- macológicas e encaminhamentos a outros profissionais. Guarde que prescrever vai além de medicamentos, é aconselhar por escrito! Diversos documentos publicados con- juntamente por sociedades médicas e farmacêuticas tratam da clara divisão de responsabilidades entre essas profis- sões. Falarei apenas do mais importante. A Associação Médica Mundial, durante sua 51ª Assembleia Geral em Israel, em outubro de 1999, publicou documento sobre as relações profissionais entre mé- dicos e farmacêuticos na terapia com medicamentos32 . É a “Declaração de Tel Aviv”.
  • 27. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS27 Declaração de Tel Aviv. Responsabilidades do médico e do farmacêutico com relação à far- macoterapia, segundo a Associação Médica Mundial RESPONSABILIDADES DO MÉDICO: RESPONSABILIDADES DO FARMACÊUTICO: Diagnóstico de enfermidades, com base na formação do médico e seus conhecimentos como especialista, e aceite da responsabilidade somente do diagnóstico. Assegurar a obtenção, armazenamento e distribuição segura de medicamentos (dentro das regulamentações pertinentes). Avaliação da necessidade de uma terapia medicinal e a prescrição das terapêuticas pertinentes (na consulta com os pacientes, farmacêuticos e ou- tros profissionais dasaúde, quando seja apropriado). Repasse de informações aos pacientes, que pode incluir o nome do medicamento, sua ação, interações potenciais e efeitos secundários, como também o uso e arma- zenamento corretos. Repasse de informações aos pacientes sobre diagnóstico, indicações e objeti- vos do tratamento, como também ação, benefícios, riscos e efeitos secundários potenciais da terapia medicamentosa. Seguimento da prescrição para identificar interações, reações alérgicas, contrain- dicações e duplicações terapêuticas. As preocupações devem discutidas com o médico. Controle e avaliação da resposta da te- rapia medicinal, progresso dos objetivos terapêuticos, e quando seja necessária, revisão do plano terapêutico (quando seja apropriado, em colaboração com os farmacêuticos e outros profissionais de saúde). A solicitação do paciente, discussão dos problemas relacionados com medicamen- tos ou preocupações com respeito aos medicamentos prescritos. Fornecimento e divisão da informação Assessoramento aos pacientes, quando em relação à terapia medicinal com outros provedores de atenção médica. corresponda, sobre a seleção e utilização dos medicamentos não prescritos e o ma- nejo dos sintomas ou mal-estares menores (aceitando a responsabilidade do dito as- sessoramento). Quando a automedicação não é apropriada, pedir aos pacientes que consultem a seus médicos para tratamen- to e diagnóstico. Manutenção dos registros adequados para cada paciente, segundo a necessi- dade de uma terapia e de acordo com a legislação (legislação médica). Informar as reações adversas aos medica- mentos, às autoridades de saúde, quando necessário. Manutenção de um alto nível de conhecimentos sobre a terapia me- dicinal, através da educação médica continuada. Repasse e repartição de informação geral e específica relacionada com os medica- mentos, e assessorar ao público e prove- dores de atenção médica. Assegurar a obtenção, armazenamento e distribuição segura de medicamentos, que deve ministrar o médico. Manter um alto nível de conhecimentos sobre a terapia de medicamentos, atra- vés de um desenvolvimento profissional continuado. Seguimento da prescrição para identificar as interações, reações alérgicas, contrain- dicações e duplicações terapêuticas. Informar as reações adversas aos medicamentos às autoridades de saúde, quando necessário.
  • 28. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS28 Enquanto isso no Brasil... Ainda impera uma distância oceânica que a medicina, enquanto corporação, faz questão de manter em relação às demais profissões da saúde. O argumento ge- ral é simples, “nenhuma profissão da saúde chega aos pés da medicina no que diz respeito a conhecimento e capacidade de cuidado do paciente. São todos profissionais subalternos”. Felizmente no dia-a-dia, a maioria dos profissionais médicos (principalmente os melhores) tem outra atitude e há entidades que são oásis no deserto, como a Medicina de Família e Comunidade. Um exército de profissionais médicos que faz uma outra saúde, bem diferente do excesso de especialidade de muitas escolas. Então é uma questão de tempo e de justiça. Faz parte do amadurecimento do país, do seu povo, da sua política, do próprio conceito do que é cuidado em saú- de, uma maior aproximação entre as profissões. Na prática isso é visto pelos movimentos das atribuições de cada profissão. Olhe ao seu redor e veja como está se transformando a en- fermagem, a nutrição, a fisioterapia, a psicologia, a educa- ção física. Uma transformação em comum: mais clínica, maior autonomia e mais proximidade do paciente. Agora voltemos um pouco ao mundo da farmácia. No Brasil, hoje a farmácia clínica é vista como uma área de atuação, como são as análises clínicas ou a indústria. Os profissionais que atuam nesta área, quando detentores de títu- lo de especialista, são chamados farmacêuticos clínicos. A área no Brasil que compreende a Assistência Farmacêutica é ainda mais ampla, pois inclui todos os serviços farmacêuticos, clínicos e não-clínicos. Por serviços farmacêuticos não-clínicos entendem-se aqueles relacionados, p.ex., à cadeia logística do me- dicamento, particularmente atividades de programação, aquisição e distribuição de medicamentos. Pelo Conselho Federal de Farmácia, em 2013 foi publicada a resolução no 585, que trata das atribuições clínicas do farmacêutico31 , e a resolução no 586, que re- gulamenta a prescrição farmacêutica19 . É nestas resoluções que o CFF estabele- ce as bases profissionais para os novos serviços farmacêuticos em farmácias, definindo a consulta farmacêutica, o consultório farmacêutico e os diversos pro- cedimentos que o farmacêutico pode realizar junto ao paciente. O Conselho Federal de Farmácia defende uma visão ampla e integrada de farmá- cia clínica, abrangendo serviços farmacêuticos voltados ao paciente, à família e comunidade. No âmbito ambulatorial e comunitário, esses serviços incluem a dispensação, o manejo de problemas autolimitados, a educação em saúde, a conciliação de medicamentos, a revisão da farmacoterapia, o rastreamento em saúde, o acompanhamento farmacoterapêutico e a gestão das doenças ou condições de saúde do paciente. Em 2014, foi publicada a Lei no 13.021, que nós podemos considerar como a lei do ato farmacêutico. Essa lei é um marco histórico, pois redefine a farmácia no Brasil, como sendo um estabelecimento de prestação de serviços, destinada a prestar assistência farmacêutica, assistência à saúde e orientação individual e coletiva. O farmacêutico passa, a partir dela, a ter a responsabilidade de prover
  • 29. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS29 cuidados clínicos aos pacientes. Esta lei permite, ainda, que as farmácias dispo- nham de vacinas para atendimento à população, ampliando o papel do estabele- cimento no sistema de saúde e junto à população. A lei no 5.991 de 1973, que regulamenta o comércio de medicamentos, continua a valer após a Lei no 13.021/14. Mas um ponto importante é que foi resolvida a questão da obrigação da presença do farmacêutico para que a farmácia possa funcionar. Apesar da polêmica envolvendo a aplicação da lei junto a micro e pequenas empresas, a 13.021 é a que vale atualmente, quando se trata da res- ponsabilidade técnica. Cabe destacar também outras resoluções do CFF que fundamentam o trabalho clínico do farmacêutico. Entre elas a resolução no 574 de 2013, que define a com- petência do farmacêutico na aplicação de vacinas e a resolução no 546 de 2011, que trata da indicação farmacêutica de plantas medicinais e fitoterápicos. Somando essas à RDC no 44 da ANVISA, de 2009, que regulamenta boas práti- cas em farmácias e drogarias, e às demais normas sanitárias que por ventura venham a substitui-la, temos as bases legais que precisam ser seguidas quando se trata de oferecer serviços clínicos farmacêuticos em farmácias e drogarias. Também em 2014, o Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Assistência Farmacêutica, iniciou um projeto ambicioso, para a implantação de consultórios far- macêuticos nas unidades de saúde e a rediscussão de toda assistência farmacêutica nas redes de atenção à saúde. Série de Cadernos do Ministério da Saúde: “Cuidado Farmcêutico na Atenção Básica” Os resultados do Projeto Piloto na cidade de Curitiba foram publicados em uma série de Cadernos, intitulados “Cuidado Farmacêutico na Atenção Básica” 15,22,33,34 . Os resultados impressionaram pelo volume, mesmo para mim que esti- ve no time executivo do projeto. Foram mais de 2.000 consultas farmacêuticas registradas no prontuário em 1 ano e uma verdadeira revolução na mentalidade (mindset) dos farmacêuticos e da secretaria de saúde. Toda problemática envolvendo o mau uso dos medicamentos e que tipo de re- desenho precisava ser feita para a assistência farmacêutica tornou-se “objeto de domínio público”. Foi lindo. Essa experiência ganhou apoio de vários entidades, como o CONAS e o CONA- SEMS, e tem sido a nova base para o avanço do papel dos farmacêuticos no SUS em diversos estados e municípios.
  • 30. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS30 Na mesma linha, o Conselho Federal de Farmácia mantém uma bem sucedida série de publicações sobre experiências exitosas de farmacêuticos no SUS, tanto no âmbito logís- tico como assistencial. http://www.cff.org.br/experiencias_exitosas.php Todo esse avanço político e regulatório tem colocado o farmacêutico em evi- dência na mídia, como raras vezes esteve. Infelizmente, isso também provocou reações por parte de algumas entidades médicas que, em uma posição unica- mente corporativa, e distante da própria recomendação da Associação Médica Mundial, tem combatido para que não haja nenhum avanço nas atribuições e responsabilidades clínicas dos farmacêuticos no Brasil. Movimento esse espe- rado, e que certamente trará evolução para toda discussão sobre o sistema de saúde brasileiro e o papel das profissões regulamentadas na saúde. Avozdoconsumidor:oque elespensamdofarmacêutico? A farmácia pode (aliás, deve) desempenhar um papel mais rele- vante na vida do brasileiro quando o assunto é prevenção e manu- tenção da saúde. Quem faz a afirmação são os próprios cidadãos, cuja opinião foi corroborada por uma ampla pesquisa do Ibope, realizada em 2015 a pedido da Abrafarma, e cujos principais resultados publicados na Revista Excelência (Número 5, Dez 2015) reproduzimos parcialmente a seguir. O principal objetivo do levantamento foi identificar a percepção do brasileiro a respeito da assistência farmacêutica nas farmácias e também sobre a impor- tância do papel do farmacêutico. O estudo consultou 2.002 pessoas em 143 municípios. Foi realizada também uma análise qualitativa com grupos focais de homens e mulheres representando diferentes faixas etárias e de renda.
  • 31. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS31 De acordo com os resultados, novos serviços farmacêuticos serão muito bem recebidos pela população. • Para 53% dos entrevistados, a farmácia seria um local ideal para esclarecer dúvidas e se aconselhar sobre os medicamentos que estão utilizando; • 51% realizariam exames preventivos para várias doenças; • 48% aceitariam receber um programa de tratamento e acompanhamento para parar de fumar. “A farmácia proporciona uma experiência muito positiva para parcela significativa dos entrevistados”, analisa Már- cia Cavallari Nunes, CEO do Ibope Inteligência. * Em relação ao uso de vários medicamentos, 48% dos entrevistados pediriam ajuda do farmacêutico sobre a melhor forma de organizar todo o tratamento, atitude que é explicada por alguns entrevistados ao dizerem que esse auxílio é importante para aqueles que tomam muitos remédios e não conhecem seus efeitos. Para eles, o farmacêutico, nesse cenário, poderia tirar essas dúvidas. • Um total de 46% ainda aceitaria receber materiais educativos e relatórios de acompanhamento e • 43% têm interesse em tomar vacinas na farmácia. • O acompanhamento e avaliação do tratamento junto com o farmacêutico seriam adotados por 41% dos entrevistados, a fim de saber se os medi- camentos estão produzindo o efeito esperado ou causando algum efeito colateral; • 36% aceitariam receber um programa de tratamento e acompanhamento para emagrecimento e gerenciamento do peso; e • 34% procurariam aconselhamento e tratamento para sintomas e mal-esta- res de baixa gravidade. Embora a proposta de incremento da assistência farmacêutica tenha sido bem recebida, mais da metade dos entrevistados afirmou não ter nenhum envolvi- mento cotidiano com o farmacêutico. Apenas 42% falam com o farmacêutico na maioria das vezes que vão à farmácia, apesar de 45% acreditarem que esse professional está sempre acessível. “A distância deste profissional para o consumi- dor é abismal. Precisamos mudar esse pano- rama e parar de relegá-lo à função de entregar caixinhas de medicamentos. Mais do que valo- rizá-lo, vamos contribuir para desafogar o sis- tema público de saúde e assegurar a milhões de brasileiros um acompanhamento mais dig- no”, endossa Sérgio Mena Barreto, presidente executivo da Abrafarma, que foi a entidade que encomendou o estudo ao IBOPE.
  • 32. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS32 Os serviços farmacêuticos em farmácias e drogarias Existem diversos serviços que foram testados em farmá- cias de vários países, e que mostram benefícios para o paciente e a sociedade, quando oferecidos por farmacêuti- cos clínicos bem treinados. No Brasil, o Conselho Federal de Farmácia pôs em marcha um documento de referência sobre este tema, que traz luz a uma série de conceitos e práticas. Vamos aos exemplos sobre os principais serviços desse documento.
  • 33. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS33 Rastreamento em saúde É o serviço voltado a pessoas assintomáticas, com objetivo de detectar riscos e alterações de saúde que podem sugerir uma doença. Um exemplo é a avaliação da glicemia capilar e do risco de diabetes, que pode revelar um paciente com diabetes mellitus que não sabia que tinha a doença. É im- portante frisar que o rastreamento não confirma o diagnós- tico. O paciente precisa ser encaminhado ao médico para avaliação e confirmação. Nos Estados Unidos, redes de farmácias e também empresas de varejo convencional inves- tem em grandes feiras de saúde, focadas na oferta de testes de saúde e detecção rápida de doenças. Exemplos incluem medida da pressão arterial, testes de glicemia, painel lipídico, densitometrias rápidas para osteoporose, bioimpedância, testes de HIV, entre outros. A Walgreens, por exemplo, por mais de 5 anos vem organizando eventos para testes rápidos de HIV/AIDS, em parceria com grupos comunitários e ONGs. Segundo Jim Cohn, assessor de imprensa da empresa, “Essas feiras já ajudaram mais de 27.000 pessoas a conhecer seu resultado de HIV. Em 2015, por exemplo, nós trabalhamos com mais de 215 se- cretarias públicas de saúde e organizações civis locais e realizamos eventos em mais de 150 cidades americanas” 35 . Capa da revista DrugStoreNews, importante veículo do varejo farmacêutico Norte Ame- ricano. No número de fevereiro de 2016 reportagens especiais sobre rastreamento em farmácia. http://www.drugstorenews.com/sites/drugstorenews.com/files/Web_HealthEvents_0.pdf
  • 34. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS34 Manejo de problemas de saúde autolimitados É o serviço clínico mais típico que um farmacêutico pode oferecer na farmácia. Trata-se de fazer uma consulta, geralmente por demanda do paciente, que traz uma queixa, sinais e sintomas que poderiam ser tratados na farmácia. O farmacêutico pode, nesses casos, recomendar, prescrever medicamentos que não exigem receita médica, bem como medidas não farmacológicas. E encami- nhar o paciente ao médico nos casos mais graves. Inclusive este serviço é uma forma eficaz de promover a automedicação responsável. No Reino Unido, países como a Inglaterra, Escócia e Irlanda tem promovido contratos entre o sistema público de saúde e os farmacêuticos, para tratamen- to de transtornos menores (minor ailments scheme) nas farmácias. O objetivo é desafogar a atenção primária de demandas que podem ser resolvidas pelo farmacêutico, liberando a agenda do médico para pacientes mais graves. O farmacêutico, nestes casos, tem autonomia para recomendar tratamentos e o medicamento é coberto pelo sistema público se o paciente estiver no perfil ele- gível. Existem protocolos para guiar a conduta dos profissionais. Na imagem, vê-se a propaganda de uma farmácia do condado de Staffordshire na Inglaterra promovendo este tipo de esquema. Publicidade de uma farmácia inglesa para o programa chamado “Pharmacy First” http://www.easonpharmacy.co.uk/services/pharmacy-first-winter-pressures-minor-ailments-scheme/
  • 35. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS35 Educação em saúde É um termo amplo, que abrange todas as ações que visam aumentar o conhecimento e a capacidade dos pacientes de tomar melhores decisões em saúde. Inclui o aconse- lhamento do paciente sobre os medicamentos e as cam- panhas de saúde que podem ser feitas nas farmácias. Possuem uma eficácia bem estabelecida no aumento do letramento em saúde e da adesão ao tratamento, podendo em alguns casos ter grande impacto sobre desfechos clíni- cos. É como ocorre na asma, em que a educação em saúde já provou produzir me- lhora do controle da doença e redução de hospitalizações36 . Evidências como essas levam ao surgimento de programas de educação para pacientes, que envolvem diretamente os farmacêuticos e as farmácias. É o caso da Inland Pharmacy, da cidade de Hemet, na Califórnia (EUA). Ela participa desde 2013 de um programa de pagamento por performance (pay- -for-performance) no plano de saúde Empire Health Plan (IEHP), que inclui entre suas métricas para pagamento de serviços indicadores para asma, como “ausência de utilização de medicamentos de resgate entre os pacientes” e “controle sub-ótimo da doença”. Em outras palavras, a farmácia recebe paga- mentos de medicamentos e serviços conforme os resultados que alcançam nos pacientes. Esse sistema de auditoria e pagamento levou a farmácia a criar programas de educa- ção em saúde e acompanha- mento de pacientes. Como diz Bruno Tching [foto], farmacêutico PharmD: “Nós ligamos e nos encontramos com nossos pacientes regularmente, para ter certeza de que está indo tudo bem com o tratamento deles, que eles não tem efeitos colaterais e que estão sendo aderentes à terapia”. Na foto abaixo, Dr. Tching conduz o aconselhamento com uma paciente sobre o uso correto de dispositivos inalatórios. Fonte: http://pharmacytoday.org/article/S1042-0991(16)00353-4/fulltext
  • 36. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS36 A transição do paciente do hospital de volta para sua casa é um momento deli- cado. Veja alguns números sobre problemas que podem ocorrer: • Perto de 1 a cada 5 idosos são re-hospitalizados nos 30 dias após a alta. • Mais da metade desses internamentos é evitável e 66% são relacionados a problemas com os medicamentos. • Pacientes idosos recebem alta com uma média de 10 medicamentos dife- rentes prescritos. • Faltam informações sobre os medicamentos no resumo de alta em até 40% das vezes. • Menos de 10% dos pacientes que receberam alta são totalmente aderentes ao seu tratamento37 . Nos Estados Unidos estes números tem geralmente mudanças. Alguns hospi- tais tem sido penalizados, recebendo multas, caso seus pacientes sejam read- mitidos em 30 dias após alta. Em 2013, o governo Americano aplicou perto de 280 milhões de dólares em multas. Conciliação de medicamentos Na prática ambulatorial, é um serviço pensado para pacientes que receberam alta hospitalar recente. Muitas vezes o paciente se confunde com prescri- ções de vários médicos diferentes e não sabe quais medicamentos deve continuar a tomar depois que sai do hospital. Conciliar significa checar todas as prescrições e detectar discrepâncias que precisam ser resolvidas. O produto deste serviço é uma lista conciliada dos medicamentos que o paciente deve seguir utilizando. Apesar de historicamente a alta ter sido uma questão unicamente hospitalar, isso tem mudado e o papel das farmácias tem sido levantado. Os farmacêu- ticos podem funcionar como elos de ligação entre esses pontos de atenção à saúde, garantindo a continuidade do cuidado37 . Ainda existem barreiras, como por exemplo, o acesso das farmácias a informa- ções completas sobre os medicamentos dos pacientes utilizadas no hospital e o modelo remuneração do serviço. Mas esta é uma tendência para os serviços farmacêuticos na comunidade38 .
  • 37. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS37 Revisão da farmacoterapia Na verdade existem diferentes tipos de revisão da farmacoterapia ou revisão da medicação. Nas farmácias, o serviço mais prestado é uma espécie de checkup dos medicamentos. O farmacêutico pede ao paciente que leve os medicamentos para a farmácia e faz, durante a consulta, uma revisão detalhada com ele sobre cada tratamento. Tira dúvidas, resolve problemas, orienta o paciente e promove adesão ao tratamento. Também pode fazer recomenda- ções de mudanças ao médico e encaminhar o paciente. O produto deste serviço costuma ser uma lista precisa dos medicamentos que o paciente deve seguir utilizando. Esta revisão melhora a adesão ao tratamento, resolve problemas da terapêutica e previne consultas e hospitalizações não previstas. Um tipo de serviço de revisão da medicação que ficou famoso esta todo mundo é o Medicines Use Review (MUR), patrocinado pelo NHS inglês. Os farmacêuticos que passam por um curso e são qualificados para MUR, podem realizar até 400 consultas deste tipo por ano, e a farmácia recebe 27 libras por cada atendimento registrado. A recomendação é que cada paciente passe por uma consulta como essa com seu farmacêutico pelo menos 1 vez ao ano39 . Fonte: http://www.lloydspharmacy.com/en/info/medicines-check-up que permite que os pacientes terem uma consulta privada com o farmacêutico sobre seus medicamentos. Segundo Kelly Winstanley, brasileira e farmacêutica da Lloyds: “A consulta de MUR dura 10-15 minutos e nós nos guiamos por sete per- guntas muito simples: 1. Como está indo seu tratamento com medicamentos? 2. Como você utiliza cada um de seus medicamentos? 3. Está tendo algum problema ou preocupação com relação a eles? 4. Você acha que seus medicamentos estão funcionando? 5. Você acha que está tendo algum efeito colateral ou inesperado? 6. Você já esqueceu de tomar alguma dose? Quando foi a última vez? 7. Teria algo mais que você gostaria de saber sobre seus medicamentos? Como exemplo, temos a Lloyds Pharmacy, uma rede de farmácias da Inglater- ra com mais de 1.600 lojas, que dispensa 150 milhões de prescrições por ano. Um de seus serviços é o MEDICINES CHECK UP SERVICE, um serviço de MUR
  • 38. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS38 Acompanhamento farma- coterapêutico Uma iniciativa significativa de implantação do acompanhamento farmacotera- pêutico como um serviço das farmácias, é o Projeto conSIGUE, do Consejo Gene- ral de Colegios Oficiales de Farmacéuticos e o Grupo de Investigación en Atención Farmacéutica de la Universidad de Granada, na Espanha40 . O projeto já alcançou, segundo números de fevereiro de 2016, mais de 800 pa- cientes em 135 farmácias. O acompanhamento é feito em idosos polimedica- dos e mostrou reduzir 56% os problemas de saúde não controlados, em 49% o número de pacientes referindo consultas de urgência e em 55% as admissões hospitalares41 . “já temos a evidência de que os farmacêuticos, mediante este serviço, podem contribuir para a melhoria da saúde dos cidadãos e da eficiência do sistema. A profissão está preparada e agora devemos convencer aos gestores para que contem com o farmacêutico, querem melhorar o sistema de saúde”, afirmou Jesús Aguilar, presidente do CGF41 . O objetivo do projeto, portanto, é demostrar a eficácia do serviço, a fim de conse- guir remuneração junto ao Ministério de Saúde Espanhol para que os farmacêu- ticos prestem este serviço de forma extensiva nas farmácias. Fonte: http://www.portalfarma.com/Profesionales/consejoinforma/Paginas/conSIGUE-Implan- tacion-2016.aspx A acompanhamento se inicia por uma consulta de re- visão clínica da farmacoterapia, com um olhar mais voltado aos resultados do tratamento. Em segui- da o farmacêutico trabalha com o paciente em um plano de cuidado e organiza consultas de retorno. Diferentemente dos serviços anteriores, o acompanha- mento farmacoterapêutico permite um relacionamento mais longo e longitudinal entre o paciente e o farma- cêutico. Alguns métodos que tratam do acompanha- mento, como o Dáder (Espanha)42 e o Pharmacothera- py Workup (EUA)43 , são bastante conhecidos no Brasil.
  • 39. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS39 Gestão da condição de saúde Também é chamado de gestão da doença. Neste serviço, o pro- fissional atende e acompanha o paciente, mas focado em uma doença específica, como o diabetes, a hipertensão ou a hiperli- pidemia. Diferente do acompanhamento farmacoterapêutico em que a avaliação é mais global e generalista. O serviço de gestão da doença é importante porque pode melhorar a capacidade do paciente em cuidar melhor da sua condição, num enfoque para o autocuidado apoiado. O processo do ‘coaching’ do paciente é fundamental neste trabalho. Existem evidências bastante sóli- das de que esse serviço melhora o controle de várias doenças crônicas44 . As populações tradicionais que recebem este serviço são aquelas com doen- ças de alta prevalência e alto custo, como asma, diabetes, insuficiência cardía- ca, DPOC e doença coronariana. Nos Estados Unidos, o mercado entorno deste serviço movimentou $30 bilhões em 2013 e existem mais de 160 empresas especializadas que oferecem programas de gestão de doenças45 . Naquele país, há uma forte tendência da oferta desse tipo de serviços em far- mácias. Esse movimento é impulsionado pelo sucesso das Clínicas de Varejo que vem sendo criadas nas grandes redes e do possível pagamento por esses serviços por parte das operadoras de planos de saúde e do Medicare45 . Fonte: http://www.walgreens.com/topic/pharmacy/healthcare-clinic.jsp Um ponto importante neste caso é o trabalho multiprofissional. Clínicas de varejo são formadas por médicos e enfermeiras que, em conjunto com o far- macêutico dessas farmácias, podem oferecer excelentes serviços de gestão de doenças. É o que acontece, por exemplo, na Healthcare Clinic da Walgre- ens, que em seu website divulga serviços de acompanhamento e exames para DRGE, asma, bronquite crônica, diabetes, enfisema, hipertensão arterial, hiper- colesterolemia, depressão, osteoartrite, osteoporose e distúrbios da tireoide.
  • 40. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS40 Recentemente, a Colaboração Cochrane publicou uma revisão sistemática com estudos feitos em países em desenvolvimen- to, incluindo o Brasil 46 . Os principais efeitos obtidos do cuida- do farmacêutico ambulatorial em relação aos cuidados usuais são mostrados no gráfico ao lado. As conclusões dos autores foram as seguintes: “Os serviços farmacêuticos orientados aos pacientes podem melhorar resulta- dos clínicos como o gerenciamento da hiperglicemia em diabéticos, gerencia- mento dos níveis de pressão arterial e colesterol, e pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes com condições crônicas como o diabetes, hipertensão e asma. Os serviços do farmacêutico po- dem reduzir a utilização dos serviços de saúde, tais como visitas aos médicos de família e as taxas de hospitalização” Por fim, vale lembrar que todos esses serviços tem uma coisa em comum. Eles acontecem em uma consulta farmacêutica. Por isso é fundamental ter um espaço privado na farmácia, seja um consultório ou sala de serviços farmacêuticos. E também um plano bem elaborado de marketing e remuneração dos serviços, essenciais para a sustentabilidade ao longo do tempo. Falaremos mais desses pontos adiante. Evidências.
  • 41. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS41 Um pouco mais sobre dispensação de medicamentos O modelo tradicional de prática farmacêutica nos últimos setenta anos tem sido centrado no forneci- mento de medicamentos industrializados, associado à informação sobre sua utilização para o paciente. Este modelo tem na dispensação sua atividade pri- mordial e é predominante no Brasil até os dias de hoje. Dentro do processo geral de uso de medicamentos, a dispensação é o último contato possível do paciente com um profissional de saúde antes de iniciar o trata- mento. Então a razão de ser da dispensação está em analisar a prescrição, corrigir eventuais problemas, e garantir que o paciente sabe como fazer aquele tra- tamento. Para analisar bem uma prescrição é preciso um bom conhecimento clínico, além de conhecimen- to sobre legislação. E para orientar bem um paciente, além do conhecimento clínico, são necessárias boas habilidades de comunicação 21 . Para muitos pacientes, ainda, a dispensação pode ser a única oportunidade de atendimento por um profissional da saúde, por exemplo, na automedica- ção. Nesse caso, o farmacêutico pode participar di- retamente da escolha do medicamento, e orientar o paciente sobre o melhor manejo daqueles sintomas. Isso vai exigir também habilidades no campo da se- miologia e da terapêutica. De fato, a dispensação é um dos poucos atos privativos do farmacêutico. Isso está no Decreto no 85.878, de 1981, sobre o exercício da profissão. A lei no 13.021, de 2014, reforçou este ato, mas expandiu em seu artigo 13, as obrigações do far- macêutico junto ao paciente, levando a profissão definitivamente por um caminho mais clínico, que somente a dispensação de medicamentos jamais poderia levar. Por isso, vamos distinguir dois perfis bem diferentes de profissionais. Vamos cha- má-los de o “farmacêutico dispensador” e o “farmacêutico clínico”. O farmacêutico da dispensação cuida do produto. Da distribuição dos medicamentos, da burocracia envol- vendo as prescrições, do SNGPC, do balcão de modo geral. E tem menos contato com os pacientes, por- que gasta uma boa parte do seu tempo cuidando, di- gamos, dos bastidores da farmácia. O principal valor que este profissional entrega à sociedade é a infor- mação e a garantia da qualidade dos produtos que ele dispensa. Ele precisa ter bons conhecimentos e habilidades clínicas, mas acaba aplicando pouco essas competências. E com o tempo, se não tomar cuidado, ele vai “perdendo a mão” da clínica. Um dos motivos disso, é que a remuneração desse farma- cêutico advém, essencialmente, da margem de lucro da venda dos medicamentos, e não da prestação de serviços. Novamente, o produto está no centro de tudo nesse caso. Já o farmacêutico clínico que atua na comunidade trabalha mais diretamente na prestação de servi- ços ao paciente. Ele atende dentro de uma sala de atendimento, ou consultório, e cumpre uma série de atividades, como exames rápidos de rastreamento, vacinação, aconselhamento ao paciente, revisão da medicação, acompanhamento e monitorização de pacientes crônicos, etc. O principal valor que este far- macêutico entrega à sociedade é a solução de pro- blemas de saúde, a solução de problemas da farma- coterapia. E a remuneração deste profissional pode advir da prestação de serviços, pagos diretamente pelo paciente, ou por terceiros pagadores, como o governo ou planos de saúde.
  • 42. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS42
  • 43. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS43 Éimportante que o farmacêutico perceba clara- mente esses dois papéis (dispensador e clínico) e avalie em que perfil se encaixa melhor. Com o tempo, é esperado que essas carreiras sigam caminhos distintos nos planos de cargos e salá- rios das grandes empresas. Nos dias de hoje, no entanto, percebe-se um movimento do mercado de trabalho no sentido de contratar profissionais que atendam aos dois perfis. Pessoas que sejam capazes de cuidar da dispensação de medica- mentos, e tudo que ela envolve, e também de inovar, provendo serviços clínicos de alto nível que reposicionem a farmácia junto à comunida- de. Para as boas empresas, trata-se de um perfil de profissional desejado e difícil de encontrar.
  • 44. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS44 A Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) vem desenvolvendo desde 2013 um modelo de serviços farmacêuticos que possa ser aplicados pelas farmácias de suas associadas em todo país. Esse modelo busca aproximar a visão proporcionada pelos exem- plos de farmácias dos Estados Unidos, Canadá e Inglaterra, os conceitos técnicos e empresa- riais aplicados no Brasil e uma proposta de valor que possa ser facilmente compreendida pela população usuária dos serviços. O Modelo Abrafarma para os Serviços Farmacêuticos
  • 45. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS45 Esse processo deu origem ao Projeto “Assistência Farmacêutica Avançada”. Sua primeira etapa consistiu em um amplo levantamento no ano de 2013 so- bre o perfil do farmacêutico e os serviços e práticas desenvolvidas pelas redes de farmácia. Os resultados mostraram uma oferta pequena de serviços, com grande potencial de profissionalização e expansão 18 . A partir desse estudo, fo- ram propostos os 8 serviços farmacêuticos a serem implantados pelas empre- sas13,47–53 . Esses serviços são “frentes de trabalho”, são “bandeiras”. Sua inspiração provem das boas experiências, que mostram que o foco na prevenção e detecção precoce de doenças, educação em saúde, gestão de condições crônicas e promoção da adesão terapêutica trazem bons resultados, tanto para o paciente, como para o profissional e a farmácia. Em todos esses serviços, o objetivo não é substituir a consulta médica ou a realização de exames adicionais, mas dar suporte e orientação aos pacientes, além de compartilhar informações com o médico e demais profissionais da saú- de, tornando os farmacêuticos e as farmácias atores relevantes na dinâmica do cuidado dos pacientes. As farmácias encerram o potencial de contribuir de forma definitiva para a me- lhoria do sistema de saúde e produzir uma verdadeira revolução na maneira como se promove saúde no Brasil. Vamos conhecer agora com mais detalhes, cada um dos oito serviços farmacêuticos promovidos pela Abrafarma.
  • 46. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS46 HIPERTEN- SÃO EM DIA É o serviço farmacêutico para as pessoas que se en- contram sob risco de desen- volver hipertensão arterial e aquelas já diagnosticadas, que utilizam medicamentos para controle da doença. O objetivo é colaborar com a equipe de saúde e com o paciente para detecção rápida, orientação e encaminhamento de pessoas com pressão arterial elevada, para diagnóstico médico e tratamen- to apropriado. Além disso, o programa visa auxiliar pacientes em tratamento com medicamentos anti-hipertensivos, para que atinjam um melhor controle da pressão arterial, bem como de outros fatores de risco cardiovascular concomi- tantes47 . Em um ambiente confortável e privativo da farmácia, os pacientes são atendi- dos pelo farmacêutico, que realiza uma avaliação global do controle pressórico e dos fatores de risco cardiovascular do paciente. Os pacientes são então orien- tados de forma personalizada e recebem um relatório detalhado dos resultados desta avaliação, que pode ser compartilhado com o médico. Após esta avaliação, pacientes sob tratamento anti-hipertensivo podem aderir a um programa de acompanhamento, durante o qual são feitas avaliações pe- riódicas e orientação continuada sobre adesão ao tratamento, uso correto dos medicamentos e mudanças no estilo de vida. Estes encontros podem ser desde mensais, bimestrais, ou até semestrais, dependendo da necessidade de cada paciente. Os atendimentos de retorno também podem coincidir com a aquisição mensal de medicamentos na farmácia. Quais são os benefícios para os pacientes? Diversos estudos mostram que a participação do farmacêutico na educação dos pacientes e na gestão da farmacoterapia melhora o controle da pressão arterial e a adesão dos pacientes ao tratamento. Uma revisão sistemática com meta-análise publicada em 2010 pela Colabora- ção Cochrane demonstrou um aumento na proporção de pacientes controlados sob cuidados do farmacêutico e uma redução média na pressão sistólica na or- dem de 6 mmHg (IC95% -8.8 a -3.83 mmHg) e na pressão diastólica de 3 mmHg (IC95% -4.57 a -1.67) 54 . Para que se tenha uma ideia do benefício cardiovascular que isso representa, estudo publicado no Lancet, envolvendo mais de 1 milhão de adultos mostrou que para cada redução de 2 mmHg na pressão sistólica, há uma redução de 7% no risco de Doença Arterial Coronariana (DAC) e de 10% no risco de morte por acidente cerebrovascular (derrame) 55 .
  • 47. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS47 MAIS ADESÃO AO TRATAMENTO PARA HIPERTENSÃO COM OS FARMACÊUTICOS DA FARMA PONTE Com tradição no mercado farmacêutico e o compro- misso de vender mais ba- rato todos os dias, a Farma Ponte (www.farmaponte. com.br) nasceu na cidade de Sorocaba em 1980 e hoje se consolida entre as grandes empresas do segmento no estado de São Paulo. Com 126 lojas, atende o varejo farmacêutico no interior, capital e litoral paulista, sendo seu alcance distribuído por mais de 41 cidades atendendo mais de 12 milhões de clientes por ano. Os grandes diferenciais da rede está na força do seu cartão fidelida- de, que proporciona uma série de benefícios exclusivos aos seus clientes, e também na localização das lojas, que estão nas melhores ruas e avenidas das cidades, bem como em shoppings, terminais de ônibus, e estações de metrô. A Farma Ponte oferece uma ampla linha de medicamentos, grande varieda- de de perfumaria, diversos produtos de ortopedia e uma moderna linha de dermocosméticos e perfumes nacionais e importados. Outra força da Rede está em sua equipe formada por mais de 1800 colaboradores que passam por inúmeras horas de treinamento e aperfeiçoamento, o que os levam a es- tarem atualizados e preparados para atender as necessidades dos clientes. Em 2012 a Rede Farma Ponte lançou o Clinic Saúde Farma Ponte, um ser- viço oferecido aos clientes do cartão fidelidade, em que os Farmacêuticos fazem o acompanhamento dos clientes que possuem hipertensão, diabe- tes e fornecem também um programa para perda de peso. No ano de 2015, as unidades que possuem o serviço atenderam a mais de 10.000 clien- tes. Segundo Ricardo Leite, coordenador farmacêutico e executivo da Rede, “Observamos que os pacientes sob acompanha- mento frequentaram mais vezes a farmácia (au- mento no tráfego) e gastaram em média 30% a mais que os outros clientes (aumento no ticket médio). Isso é importante para nós, pois garante a sustentabilidade do serviço”. Em 2016, a Farma Ponte incrementou seus serviços com o programa de aderên- cia ao tratamento, que consiste em cadastrar os clientes que fazem tratamento com medicamentos de uso continuo e organizar uma agenda de follow-up por telefone, fazendo a orientação e acompanhamento do paciente e convidando-o a participar dos programas de atendimento pessoal no Clinic Saúde Farma Ponte. ESTUDO DE CASO
  • 48. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS48 A Farmácia Santa Lúcia (http://www.santaluciaonli- ne.com.br/) atua no Espírito Santo há 40 anos, sendo refe- rência no Estado. Presente nas suas principais cidades, atualmente conta com 24 unidades. Tendo como forte característica ser uma empresa inovadora, a Santa Lúcia im- plantou em 2016 sua primeira unidade da Clínica Bem Estar, um novo modelo de cuidado à saúde, com serviços especializados de Atenção Farmacêutica. O objetivo é facilitar o acesso do paciente ao cuidado de sua saúde, prestar ser- viço de acompanhamento de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, utilizando o farmacêutico como mais um agente na promoção efetiva da saúde da comunidade. Com isso, o profissional farmacêutico é valorizado e a farmá- cia, resgatada como estabelecimento de saúde, conquistando a fidelização dos seus clientes e abrindo nova oportunidade de gerar lucro. De acordo com Rosa- ne Itaborai, farmacêutica e diretora financeira da empresa, “a Clínica é um espaço exclusivo e privativo dentro da loja, onde o farmacêuti- co presta seu atendimento, realiza a anamnese e coloca todas as informações em um software desenvolvido pela Santa Lúcia, sendo este o prontuário do paciente que poderá ser acessado por qualquer Clínica da rede. Isso vai pos- sibilitar a integração dos dados e melhor resultado e facilidade para o cliente. O Farmacêutico irá avaliar a farmacoterapia, promover a farmacovigilância, de forma que otimize os benefícios de reestabelecimento da saúde, fazendo as intervenções necessárias e encaminhando o paciente para reavaliação médi- ca.” Na Clínica, são prestados os serviços de acompanhamento do diabético, acom- panhamento do hipertenso, programa perda de peso, revisão da medicação, autocuidado, além de aferição da pressão, medição de glicose, perfuração de lóbulo e aplicação de injetáveis. ESTUDO DE CASO ACOMPANHAMENTO DE PACIENTES CRÔNICOS NAS FARMÁ- CIAS SANTA LUCIA
  • 49. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS49 COLESTEROL EM DIA É o serviço oferecido pelo far- macêutico nas farmácias e dro- garias, a pacientes com suspei- ta ou diagnóstico confirmado de hiperlipidemias e doenças ateroscleróticas. Esse serviço visa colaborar para de- tecção rápida, orientação e encaminhamento de pessoas com alterações dos níveis de lipídeos sanguíneos, para diagnóstico médico e tratamento apropriado. Além disso, o programa auxilia os pacientes a compreenderem melhor sua con- dição clínica e tratamento, estimulando o autocuidado apoiado e o alcance de resultados terapêuticos ótimos48 . Os pacientes são atendidos pelo farmacêutico, que realiza uma avaliação global dos fatores de risco cardiovasculares do paciente, e efetua testes rápidos para determinação dos níveis de lipídeos séricos (colesterol total, HDL-C, LDL-C, trigli- cerídeos). Os pacientes são então orientados de forma personalizada e recebem um relatório detalhado dos resultados desta avaliação, que pode ser comparti- lhado com o médico e outros profissionais de saúde. Após esta avaliação, pacientes podem aderir a um programa de acompanhamento, durante o qual é mantido um diário, são feitas avaliações periódicas, e orientação continuada sobre adesão ao tratamento, uso correto dos medicamentos e mudan- ças no estilo de vida. Estes encontros podem ser desde mensais até semestrais, dependendo da necessidade de cada paciente. Os atendimentos de retorno tam- bém podem coincidir com a aquisição mensal de medicamentos na farmácia. Quais são os benefícios para os pacientes? As doenças cardiovasculares isquêmicas representam, ainda hoje, a principal causa de morte nos países de média e alta rendas, segundo a Organização Mun- dial da Saúde. Apenas em 2012, foram registradas mais de 17 de milhões de mortes relacionadas a essas doenças em todo mundo 56 . O colesterol elevado é considerado o principal fator de risco modificável da doença aterosclerótica e de suas manifestações clínicas, como acidente vascular cerebral (AVC) e infarto agudo do miocárdio (IAM) 57 . Ensaios clínicos de terapias de redução do coleste- rol demonstraram benefícios consistentes em curto prazo para pacientes com doença arterial coronariana estabelecida e em longo prazo para aqueles com hipercolesterolemia 58–63 . Serviços farmacêuticos clínicos podem contribuir significativa- mente para o controle dos níveis de lipídeos sanguíneos e para redução de desfechos cardiovasculares 64–67 . Como exemplo, revisão sistemática publicada no periódico Pharmacotherapy em 2012, indicou que pacientes que receberam cuidado farmacêutico apresen- taram níveis de colesterol total significativamente menores, e maiores chances de alcançar controle lipídico adequado, particularmente com redução nos níveis de LDL-C 66 .
  • 50. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS50 ESTUDO DE CASO A Drogaria Venâncio é origi- nal do Rio de Janeiro (RJ), foi fundada em 1979, na Tiju- ca, e conta atualmente com mais de 30 lojas. Ocupa a dé- cima posição no ranking da Abrafarma em 2016. Pensando ainda mais na saúde e bem-estar de seus clientes, a Drogaria Venancio criou o Programa +Saúde, que consiste em oferecer um conjunto de serviços farmacêuticos, para tornar mais fácil o cuidado da saúde de toda a família. Realizamos em média, 3.000 atendimentos por mês, desde fevereiro de 2016, para pessoas que fazem uso de medicamentos contínuos e que buscam por melhor qualidade de vida. Em 14 lojas da rede, estrategicamente localizadas em diferentes bairros da cida- de do Rio de Janeiro, o cliente tem acesso a serviços como: Painel lipídico, colesterol total, aplicação de injetáveis, aferição de pressão arterial, medição de glice- mia e de parâmetros fisiológicos, análise da composição corporal e colocação de brinco. Os serviços são realizados por farmacêuticos(as) capa- citados(as) e dentro de um ambiente adequado para o atendimento, com privacidade e conforto. O cliente também pode receber orientação e acompanha- mento do seu tratamento. Se houver necessidade, pode- rá ser indicada a visita ao profissional médico, visto que o Programa + Saúde não possui o objetivo de diagnóstico. Os serviços oferecidos não substituem a visita ao espe- cialista e o receituário médico prescrito. Ainda em 2016, a Drogaria Venancio estima a expansão do projeto para mais lojas da rede. AVALIAÇÕES DE SAÚDE E TESTE DE COLESTEROL NAS FAR- MÁCIAS DA REDE VENÂNCIO
  • 51. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS51 DIABETES EM DIA É o serviço oferecido nas far- mácias e drogarias, a pacientes com suspeita ou diagnóstico confirmado de diabetes melli- tus. Esse serviço visa colaborar para detec- ção rápida, orientação e encaminha- mento de pessoas com alterações dos níveis glicêmicos, para diagnóstico mé- dico e tratamento apropriado. Além disso, o programa é destinado a promover a educação dos pacientes sobre sua condição clínica e tratamento, dando suporte ao autocuidado e monitorando resultados terapêuticos49 . Os pacientes com diabetes são atendidos pelo farmacêutico, que realiza uma avaliação da glicemia, da utilização de medicamentos, adesão ao tratamento e episódios de hipoglicemia, além de conhecer a história da doença, complicações e comorbidades. Os pacientes são então orientados de forma personalizada so- bre seu tratamento e metas terapêuticas, e recebem um relatório detalhado dos resultados da avaliação feita na farmácia, que pode ser compartilhado com o médico e outros profissionais de saúde. Após esta avaliação, pacientes sob tratamento, farmacológico ou não-farmaco- lógico, podem aderir a um programa de acompanhamento, durante o qual são feitas avaliações periódicas e orientação continuada sobre adesão ao tratamen- to, uso correto dos medicamentos e mudanças no estilo de vida. Quais são os benefícios para os pacientes? A prevalência do diabetes em todo mundo dobrou nos últimos 40 anos, e vem aumentando a cada ano em todos os países 68 . Estimativas indicam que o diabe- tes afeta aproximadamente 382 milhões de pessoas em todo o mundo. Destas, 175 milhões não têm conhecimento da existência de sua doença, e mais de 80% dos pacientes vivem em países de baixa e média renda. No Brasil, estudos indicaram uma prevalência de DM na população adulta variando de 7% a 17%, aumentando conforme a faixa etária 69,70 . Dezenas de ensaios clínicos demonstram benefícios dos serviços farmacêuticos sobre os resultados de saúde em pacientes diabé- ticos. Estudos de revisão sistemática e meta-análises mostraram que a intervenção farmacêutica produz reduções adicionais na A1c entre 0,5% e 1,0% em comparação ao cuidado usual recebido pelos pacientes71 . Em termos comparativos, esta redução na A1c equivale à mesma eficácia de vá- rios medicamentos antidiabéticos que estão no mercado, entre eles os inibidores da DPP-IV, o que significa que a intervenção do farmacêutico pode somar eficá- cia substancial ao tratamento. Outros benefícios para os pacientes diabéticos in- cluem a melhoria no controle pressórico, no IMC, no colesterol total e no HDL-C 71 .
  • 52. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS52 ESTUDO DE CASO ACOLHIMENTO E MELHOR CONTROLE DO DIABETES NA CLINICA FARMA DA PAGUE MENOS Em 1981 foi aberta a primei- ra Farmácia Pague Menos (http://portal.paguemenos. com.br/)emFortaleza,capital doCeará.Baseadanaspalavras“Inovação”,“Conveniência”e“Cidadania”,hojeaRede possuimaisde800lojas,presentesemcentenasdecidadesemtodoBrasil.Éatercei- ramaiorrededefarmáciasnorankingdaAbrafarma,atráscomentedaRaiaDrogasil e Pacheco São Paulo. A empresa emprega perto de 3.000 farmacêuticos e desde o ano 2000 mantém um serviço telefônico farmacêutico 24h chamado SAC Farma. Em 2014, a Pague Menos foi pioneira ao lançar um formato diferente de salas de serviços farmacêuti- cos. As Clinic Farma são espaços, dentro das Far- mácias, exclusivamente para prestação de serviços farmacêuticos, como acompanhamento do trata- mento prescrito pelo médico, revisão da medicação, esclarecimento de dúvidas, acompanhamento para clientes com diabetes, hipertensão, risco cardiovas- cular, asma e obesidade, entre outras ações. O atendimento é gratuito, acontece individualmente em uma sala privativa, está aberto ao público em geral. Já são mais de 300 farmácias estruturadas e a meta será chegar à cobertura total da rede com os serviços farmacêuticos. A Rede tem feito esta implantação contan- do com o modelo e manuais de procedimentos disponibilizados pela Abrafarma. “O objetivo do Clinic Farma é possibilitar um melhor resultado do tratamento prescrito pelos médicos, garantindo mais qualidade de vida ao paciente e contribuindo com a saúde pública brasilei- ra”, explica Cristiane Feijó, coordenadora farmacêutica da Rede. Segundo material de divulgação da rede, “o papel do farmacêutico é garantir a adesão, continuidade, orientação e acompanhamento do tratamento prescrito”. Por enquanto, a empresa mantém a gratuidade dos serviços. Trata-se de um grande investimento de marketing, parcialmente custeado por parcerias com fornecedores, como de equipamentos e tiras de glicemia. A empresa não reve- la planos, mas nada impede que os serviços passem a ser cobrados no futuro. Os números impressionam. Desde 2014, já foram mais de 42.000 pacientes aten- didos,comcrescimentoaceleradomêsamês.Entreosprocedimentosrealizados, foram mais de 19 mil testes de glicemia e praticamente 2.000 consultas de acom- panhamento do diabetes. A rede pretende apresentar em breve seus resultados em termos de intervenções farmacêuticas e melhorias na saúde dos pacientes.
  • 53. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS53 REVISÃO DA MEDICAÇÃO Este serviço é oferecido nas farmácias e drogarias princi- palmente a pacientes polime- dicados, ou seja, aqueles que utilizam mais do que 5 medica- mentos contínuos. O serviço consiste em uma consulta com o farmacêutico, na qual o paciente traz todos os seus medicamentos, in- cluindo aqueles prescritos, utilizados por automedicação, fitoterápicos, suple- mentos, entre outros. O objetivo do farmacêutico é melhorar a adesão do pa- ciente a farmacoterapia, considerada um dos maiores problemas associados às condições crônicas. O paciente, por meio de uma conversa franca, é estimulado a participar como sujeito de seu tratamento, compreender melhor sua condição e medicamentos, e se responsabilizar pelo seguimento futuro. O farmacêutico também avalia possíveis interações medicamentosas e reações adversas aos medicamentos, além de auxiliar o paciente a reduzir os custos com seu trata- mento, quando possível13 . Os pacientes são atendidos pelo farmacêutico e orientados de forma persona- lizada sobre cada um de seus medicamentos. Eles recebem ao final uma lista completa e atualizada de seus medicamentos, que pode ser compartilhado com o médico e outros profissionais de saúde. Nos casos em que farmacêutico e pa- ciente julgarem necessário, podem ser marcadas consultas de retorno e acom- panhamento, a fim de avaliar os resultados de possíveis mudanças produzidas no tratamento. Quais são os benefícios para os pacientes? Os medicamentos representam a forma mais comum de intervenção terapêuti- ca, quatro a cada cinco pessoas com mais de 75 anos utilizam pelo menos um medicamento e 36% estão em uso contínuo de quatro ou mais medicamentos 72 . No entanto, sabe-se que até 50% dos medicamentos não são administrados como deveriam, devido a problemas de adesão do paciente, e que muitos medi- camentos de uso comum podem levar a eventos adversos. As reações adversas, por exemplo, estão relacionadas a 5-17% das internações hospitalares 73 . A revisão de medicação é reconhecida como um dos pilares da gestão de medicamentos, evitando problemas de saúde relacio- nados à farmacoterapia e gastos desnecessários. O envolvimen- to do paciente nas decisões relativas ao seu tratamento é uma parte fundamental para melhorar desfechos clínicos, econômi- cos e humanísticos 74 . Como exemplo, uma revisão sistemática recente, publicada no British Journal of Clinical Pharmacology, indicou que a revisão farmacêutica da medicação está associada a melhora na adesão, no controle de condições clínicas, como hiper- tensão e dislipidemia e nas taxas de hospitalizações75 .
  • 54. FARMÁCIA CLÍNICA E A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS FARMACÊUTICOS54 A PanVel surgiu da fusão das empresas Panitz e Velgos em 1973, nas- cendo como a maior rede de farmácias do sul do Brasil. Hoje parte do grupo DIMED, a rede possui uma história de pioneirismo, que inclui o lançamento de produtos marca própria ainda na década de 80 e uma das primeiras lojas virtuais do país, em 1998. Atualmente a rede pos- sui mais de 300 filiais e ocupa a 4a posição no ranking geral da Abrafarma. A rede oferece procedimentos como medida da pressão arterial e teste de glicemia há muitos anos, mas a partir de 2014 decidiu investir no desen- volvimento de novos serviços e em uma renovada infraestrutura de traba- lho em suas lojas. Nasceu o serviço ATENÇÃO FARMACÊUTICA PANVEL, inicialmente em algumas farmácias piloto, com planos de expansão para to- das as novas filiais. Para Leonor Moura, coordenadora farmacêutica da rede, “A valorização do trabalho dos farmacêuticos não advém ape- nas do fato de estarmos cobrando pelos serviços e procedi- mentos farmacêuticos. A verdadeira valorização vem desse reconhecimento por parte dos clientes, que trazem presentes, elogiam e são os maiores defensores dos nossos serviços”. O serviço de atenção farmacêutica in- clui as consultas do programa sempre bem, voltadas ao acompanhamento de pacientes crônicos, o programa primeiro tratamento, para auxiliar pessoas que começam a usar seus medicamentos e a revisão da medicação. Neste último a rede descreve os benefícios aos seus clientes: “Nossos farmacêuticos vão conversar com você sobre todos os me- dicamentos que você utiliza, para lhe ajudar a organizar os medicamentos que você possui em casa, descartar os vencidos, identificar as indicações, orien- tar sobre a conservação e a melhor forma de utilização, evitando interações com outros produtos e alimentos, reações adversas e efeitos indesejáveis.” “Com certeza a nossa população tem carência e eles querem, mesmo que mu- tas vezes não tenham consciência disso. É preciso educar sobre esses ser- viços que o farmacêutico pode oferecer. Eu vejo que isso é o futuro daquela farmácia e daquele profissional que irão se diferenciar. Eu me sinto muito feliz de podermos estar oferecendo estes serviço na minha rede”. Conclui Leonor. REVISÃO DA MEDICAÇÃO NAS NOVAS FARMÁCIAS DA REDE PANVEL ESTUDO DE CASO