1. Diário de Campo
Pinho, Filipe Ferreira de; Molon, Susana Inês. OS
BASTIDORES DO DIÁRIO DE CAMPO: UM
INSTRUMENTO DE PESQUISA QUALITATIVA.
Souza, Ana Paula Gestoso de, et al. A escrita de
diários na formação docente.
2. Na perspectiva de Lewgoy e Arruda (2004, p. 123-
124), o diário possibilita “o exercício acadêmico na
busca da identidade profissional” já que através de
sua prática é feito um exercício de “reflexão da ação
profissional cotidiana, revendo seus limites e
desafios”. Desse modo, os autores defendem que o
diário de campo é um instrumento que apresenta
tanto um “caráter descritivo-analítico”, como
também um caráter “investigativo e de sínteses cada
vez mais provisórias e reflexivas”, ou seja, trata-se de
“uma fonte inesgotável de construção,
desconstrução e reconstrução do conhecimento
profissional e do agir através de registros
quantitativos e qualitativos”.
3. • De acordo com Falkembach (s.d.) o diário de
campo representa uma forma de registro de
observações, comentários e reflexões para uso
individual do profissional, pesquisadores e
alunos.
• O diário é uma ferramenta eficaz para quem
quer compreender sua prática, refletir,
organizar, mudar e torná-la coerente com suas
idéias. O objetivo do diário é guardar uma
memória, para si mesmo ou para os outros, de
um pensamento que se forma ao cotidiano na
sucessão das observações e das reflexões.
4. Conforme Triviños (1987) o diário de campo
é uma forma de complementação das
informações sobre o cenário onde a pesquisa
se desenvolve e onde estão envolvidos os
sujeitos. Este autor ainda sugere a utilização
de um esquema de cores no diário de campo,
a fim de discriminar as informações
descritivas das informações analítico-
reflexivas e auxiliar o diarista ou pesquisador
a visualizar o conjunto de informações que
vêm sendo registradas.
5. É importante salientarmos que a escrita de um diário é
sempre um trabalho que registra fragmentos,
peculiaridades e a singularidade de um momento, não
sendo possível que em um único relato estejam
presentes todos os aspectos implicados em uma
determinada situação. Sempre haverá o viés do
pesquisador, o registro daquilo que lhe chamou mais
atenção, impregnado da forma singular com que esse
pesquisador faz o seu registro, das palavras que
escolheu para fazê-lo e do sentido que pretendeu
expressar. Serão dignos de registro, para o
pesquisador, aqueles aspectos que o sensibilizaram e
o fizeram captar a “essência” do momento no qual ele
próprio está inserido e faz parte.
6. • Para Hess (2006a) há um espaço temporal entre o
momento da escrita e o momento da leitura, o que,
por sua vez, cria um distanciamento importante para a
reflexão crítica do pesquisador referente ao que foi
registrado. Esse espaço temporal permite a avaliação e
o posicionamento do pesquisador quanto às suas
próprias ideias e observações registradas em seu diário
de pesquisa, o que pode ser um método bastante rico
de perceber as mudanças, muitas vezes sutis, que a
própria pesquisa vai operando no pesquisador,
fazendo-o refletir sobre detalhes que antes não lhe
eram perceptíveis.
7. Longe de ser imparcial, o diário de pesquisa
é um instrumento carregado da
subjetividade de seu(seus) autor(es), o que
acaba transformando-o em um
instrumento muito rico para posterior
análise. Dessa forma, o diário permite a
objetivação da subjetividade do
pesquisador e a subjetivação do registro de
suas impressões particulares, suas crenças.
8. A escolha do tipo de escrita que será desenvolvida
ao longo do trabalho com diário de campo, tem a
ver com a maneira de escrever do pesquisador e
como este se sente perante a escrita. É possível
escrever um relato em forma discursiva, através
de um texto homogêneo na forma, ou através de
tópicos, sendo cada tópico um aspecto
importante do que está sendo observado. Fica a
critério do pesquisador a forma de escrita que
mais se encaixa com a sua maneira de olhar e
julgar o que está sendo observado.
9. • O pesquisador deve ter em mente que ele é
livre para registrar tudo que convenha à
pesquisa e, de certa forma, tudo que lhe
convenha, já que tudo que é registrado em
diário passa, obrigatoriamente, pelo
julgamento de quem o escreve. Portanto, é
sempre válida a utilização de todas as
ferramentas possíveis de registro dentro do
diário de campo, deixando sempre a cargo do
pesquisador utilizá-las ou não.
10. Zabalza (1994) reflete que, como o diário "vai
estabelecendo a sequência dos fatos a partir da
proximidade dos próprios fatos" (p. 96), é
longitudinal e histórico, o que permite observar a
evolução dos acontecimentos; a forma como eles
ocorrem; os condicionantes que estão intrínsecos; as
mudanças que perpassam esses acontecimentos,
etc. Além disso, a sequência linear temporal com que
os fatos são relatados evita a homogeneidade de
perspectiva sobre os acontecimentos, isto é, o
professor escreve os acontecimentos em
determinado dia e não retorna a escrever até um
próximo momento.
11. Outro estudo que podemos destacar é Souza e Cordeiro
(2007), que enfatizam que a escrita de diário exige
tempo para parar e refletir. Isso gerará dúvidas que
afetam e são afetadas pela prática docente. Para esses
autores (2007, p. 46), a "produção e socialização das
escritas de si e os processos de formação de professores
e leitores se modelam entre as experiências que
marcam as histórias de vida de cada sujeito e seus
singulares percursos de formação e autoformação". [...]
O registro em diário possibilita o "redescobrir caminhos
percorridos, cenários e fatos vivenciados por uma
determinada pessoa em diferentes tempos e espaços,
encaminhando-a a uma reflexão sobre a própria
atuação" (SOUZA; CORDEIRO, 2007, p. 46).
12. Alves (2004) também afirma que a elaboração de
diários possibilita o desenvolvimento pessoal e
profissional do docente e permite a investigação
dos dilemas deste.
O diário é um instrumento de investigação que nos
permite aceder à intimidade dos sujeitos, dos
professores em concreto, e, simultaneamente, nos
viabiliza o encontro com as suas tensões, as suas
perplexidades, contando-se, entre estas, as
bipolaridades dilemáticas, a que a profissão nos vai
relegando, mas que, reflexivamente, poderemos
ultrapassar pelas nossas singulares, mas também
mútuas confissões (ALVES, 2004, p. 238).