1) O Brasil está elaborando um Plano Nacional de Ação sobre Resistência Bacteriana para monitorar o uso de antimicrobianos na produção animal e promover seu uso responsável.
2) Há debates sobre os riscos do uso de promotores de crescimento na produção animal e sua possível associação com o aumento da resistência bacteriana nos seres humanos.
3) Consumidores têm pressionado grandes empresas alimentícias a reduzirem o uso de antimicrobianos como promotores de crescimento nos Estados Unidos.
Resistência a antimicrobianos preocupa Ministério da Saúde, Mapa e Anvisa
1. Saúde Animal
68 DBO março 2017
Renato Villela
O
s antibióticos usados como promotores de cresci-
mento na produção animal foram alçados nova-
mente à ordem do dia. Está em fase de elaboração
o Plano Nacional de Ação sobre Resistência Bacteriana,
compromisso assumido pelo Brasil com a OMS (Organi-
zação Mundial da Saúde). Capitaneado pelo Ministério da
Saúde juntamente com o Mapa – Ministério da Agricultu-
ra, Pecuária eAbastecimento eAnvisa –Agência Nacional
de Vigilância Sanitária, o documento deve, dentre outros
objetivos, implementar o monitoramento da resistência
bacteriana e do uso de antimicrobianos na produção ani-
mal, bem como promover seu uso responsável.Aproposta
está alinhada ao Plano deAção Global – GAP(sigla em in-
glês) sobre o tema, aprovado em maio de 2015 pela OMS
com a participação da FAO (Organização das Nações Uni-
das para Alimentação e Agricultura) e OIE (Organização
Mundial de Saúde Animal). O plano brasileiro deverá
ser entregue na reunião anual da OMS, que acontece
em maio, em Genebra, Suíça.
As propostas que estão sendo elaboradas pe-
los países membros do organismo internacional
são, de alguma forma, uma resposta a represen-
tantes da sociedade civil, para quem o aumento da
resistência a alguns antibióticos pode estar associa-
doàingestãoinvoluntáriadestesprodutos,pormeiodo
consumo de carnes. “Há muitos anos, vem-se dando gran-
de destaque à questão do uso de agente antimicrobianos em
animais e de seus possíveis impactos sobre a saúde huma-
na, em especial quanto à possibilidade de transferência da
resistência”, afirma Suzana Bresslau, coordenadora de Pro-
gramas Especiais do Mapa – Ministério daAgricultura, Pe-
cuária e Abastecimento. O surgimento de superbactérias
está normalmente associado aos hospitais, mas nada impe-
de que cepas resistentes se desenvolvam numa granja ou
num confinamento, razão pela qual a cadeia produtiva da
carne está sendo solicitada a participar dos debates.Alguns
antibióticos usados na medicina humana são compartilha-
dos na medicina veterinária. De fato, a resistência bacteria-
na existe em todos os locais em que se usam antibióticos.
“Por isso mesmo, o GAP preconiza o conceito de ‘Saúde
Única’, cuja meta é mitigar a ocorrência da resistência anti-
microbiana e garantir o sucesso nos tratamentos de doenças
infecciosas sejam elas humanas ou animais”, afirma.
Pressão dos consumidores
Antimicrobianos representam uma importante ferra-
menta para a melhoria da saúde e bem-estar dos animais,
além de proporcionar um aumento da produtividade de
carne e de leite nos sistemas de produção (veja box). A ri-
gor, a discussão sobre o uso de melhoradores de desem-
penho nunca saiu de cena, mas o debate voltou com força
depois da elaboração do plano global pela OMS. Basica-
mente, os países ou blocos têm adotado posturas bastante
distintas sobre a questão. A União Europeia, por exemplo,
adota o que se chama de “Princípio de Precaução”, o que
significa dizer que suas decisões – proibição ou liberação –
não são balizadas necessariamente em comprovações cien-
tíficas, mas em eventuais riscos que o uso de determinado
medicamento pode trazer. Por esta razão o bloco proíbe o
uso de antimicrobianos como aditivos ou quaisquer outros
melhoradores de desempenho, como os beta-agonistas. É
bom lembrar que não existe risco zero; risco é a probabili-
dade de algum acontecimento.
Os Estados Unidos, por sua vez, tratam a questão de
modo diferente, assim como as autoridades brasileiras.
“Em lugar do ‘Princípio de Precaução’, o Brasil favore-
ce o desenvolvimento de estudos mais aprofundados sobre
o tema e toma suas decisões baseadas em análises de ris-
co embasadas na ciência, conforme preconizado pelo Co-
dex Alimentarius, OIE, FAO e OMS”, afirma Suzana. Ou
seja, se cientificamente se mostra que existe um risco, en-
tão, uma atitude deve ser tomada. De acordo com a coorde-
nadora, a posição brasileira nos diferentes organismos in-
ternacionais tem sido cautelosa no que refere a estabelecer
orientações sobre o tema sem base científica sólida.
Mais recentemente, um novo agente começou a inte-
ragir nessa delicada trama. É o consumidor, que se mostra
cada vez mais participante. Sua voz, amplificada pelas re-
des sociais, tem sido cada vez mais considerada nas deci-
sões. Um bom exemplo são os norte-americanos, que mi-
raram o uso dos antibióticos como aditivos e começaram
a exercer pressão sobre as grandes redes que comerciali-
Resistência a
antimicrobianos
preocupa
Ministério da Saúde, Mapa e anvisa monitoram
uso de promotores de crescimento
O uso de
aditivos, na
dose certa e
feito de acordo
com a bula,
não acarreta
problemas.”
João Palermo
Neto, professor
da USP.
arte: edson alves
2. março 2017 DBO 69
zam produtos de origem animal. A primeira que se mos-
trou sensível ao apelo foi o McDonald`s, que anunciou que
não venderia mais nos Estados Unidos, a partir deste ano,
produtos com carne de frango que tenham utilizado antibi-
óticos de uso humano como aditivo na ração. Num efeito
cascata, Tyson Foods e Pilgrim`s Pride, também, anuncia-
ram a retirada gradual desses medicamentos. Contrariando
sua postura histórica sobre assuntos do gênero, o último
governo do presidente Barack Obama, que sempre se no-
tabilizou por estar atento à opinião pública, cedeu à pres-
são dos consumidores e convocou a indústria veterinária
para mais uma vez discutir a questão. O resultado desta
última conversa entrou em vigor no dia primeiro de janei-
ro. As empresas que fabricam antimicrobianos aprovados
para uso em ração estão retirando voluntariamente as indi-
cações de “melhoria de desempenho” da rotulagem.As in-
dicações de uso preventivo e terapêutico, no entanto, con-
tinuam a constar na rotulagem desses produtos, mas agora
com a exigência de receituário e supervisão veterinária.
Uso responsável
Mas afinal, há motivo para alarde? Resíduos de antimi-
crobianos em alimentos de origem animal podem selecio-
nar microrganismos resistentes no trato digestivo do con-
sumidor do produto? Para João Palermo Neto, professor
da FMVZ – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootec-
nia da USP, e especialista em farmacologia, respeitando o
período de carência, a resposta é não. Vale ressaltar que o
período de carência é estabelecido a partir de padrões de
segurança – Limites Máximos de Resíduos (LMRs) – fixa-
dos por agências regulatórias mundiais, como o CodexAli-
mentarius, do qual o Brasil é signatário. São considerados
diversos aspectos relativos ao tempo de aplicação da molé-
cula e suas condições de utilização na espécie a que se des-
tina o produto antimicrobiano, inclusive possíveis ações
sobre a microbiota do trato digestivo humano, fatos que
garantem que o uso dos antimicrobianos, dentro de suas
respectivas bulas e indicações, confere segurança ao con-
sumidor no que diz respeito à ingestão de leite, carne ou te-
cidos. No entanto, salienta, o uso dos aditivos em produção
animal pode sim desenvolver resistência às bactérias no lo-
cal de criação, se eles forem empregados de forma errada.
O professor considera os antimicrobianos usados como
aditivos na ração uma ferramenta importante para aumen-
tar a produção animal e considera difícil prescindir de seu
uso pelas seguintes razões: as características do clima tro-
picalbrasileiroquefavorecemodesenvolvimentodeinfec-
ções e parasitoses, a queda de produtividade pelo aumento
da mortalidade, do tempo de produção e da uniformidade
dos planteis e, paradoxalmente, pelo aumento da contami-
Uso de
promotores de
crescimento
melhora
desempenho
animal
Como agem os antimicrobianos
Os antimicrobianos, termo amplo que inclui, além
dos antibióticos, desinfetantes e antissépticos, são bas-
tante empregados como promotores de crescimento na
suinocultura e avicultura, onde são considerados es-
senciais para garantir a produtividade. Na bovinocultura
sua introdução se deu na década de 1970, mas somente
nos últimos anos, com o aperfeiçoamento da nutrição,
ganharam mais espaço nas dietas, em especial no co-
cho de animais confinados. Diferentemente da medici-
na humana, onde têm somente finalidade terapêutica,
os antimicrobianos desempenham quatro funções na
produção animal: tratamento preventivo, terapêutico,
metafilático e como promotores de crescimento. “Os
antimicrobianos estabilizam a microbiota do intestino,
preservando as bactérias benéficas e combatendo as
ruins, mantendo a integridade do trato gastrointestinal”,
afirma o professor João Palermo, da USP.
O efeito dessa ação é manter a integridade da mu-
cosa intestinal e permitir, deste modo, melhor absorção
dos nutrientes, o que não acontece se ela estiver lesada
como, por exemplo, apresentando edema (inchaço) ou
inflamação causadas pelas bactérias “ruins” da micro-
biota. Como resultado, os animais tratados com aditi-
vos ganham mais peso, consomem menos ração para a
mesma produção e o plantel tem mais uniformidade, ra-
zão pela qual Palermo, que é especialista em farmacolo-
gia, prefere o termo “aditivo zootécnico” a “melhorador
de desempenho”. No caso dos ruminantes, os antimi-
crobianos também atuam sobre as bactérias “boas” do
rúmen, responsáveis por produzir os chamados AGVs
(Ácidos Graxos Voláteis). Dentre esses destaca-se o Áci-
do propiônico, único que, uma vez absorvido é capaz
de produzir glicose, precursora na formação da lactose
(leite) e de aminoácidos que se transformam em proteína
(carne). “Vários estudos mostram que alguns antimicro-
bianos aumentam a produção de ácido propiônico e sua
quantidade no líquido ruminal, o que promove melhora
na produção de carne e leite”, afirma.
3. Saúde Animal
nação da carcaça dos animais por bactérias, visto que os
intestinos dos animais que não recebem os aditivos são,
geralmente , mas fáceis de serem rompidos durante o pro-
cessamento da carne. “Sem os aditivos, a carne certamente
ficaria mais cara para o consumidor, porque a taxa de con-
versão alimentar (ração em carne) seria menor”.
Aliás, comprova-se este fato facilmente, uma vez
que produtos ditos “naturais” ou “orgânicos” são
de modo geral mais caros que os outros. O que
falta, na visão de Palermo, são campanhas edu-
cativas que orientem o produtor sobre como usar
corretamente os antimicrobianos. “É preciso fazer
cursos e treinamentos, elaborar folhetos técnicos e
promover dias de campo. O uso de aditivos na dose
certa e feito de acordo com a bula, não acarreta proble-
mas”. Para o professor, o advento de receituário veteriná-
rio obrigatório para os medicamentos, a exemplo do que
se deu nos Estados Unidos, pode até ser uma medida inte-
ressante, mas de nada vale se quem de fato administrar o
produto aos animais, na maioria das vezes o produtor rural,
não o fizer da maneira correta. “Investir em educação para
o uso responsável dos antimicrobianos, no meu entender,
é muito mais importante do que qualquer outra medida”.
Aditivos mantidos
Atualmente estão autorizadas pelo Mapa doze antimi-
crobianos com indicação de melhoradores de desempe-
nho. São eles: avilamicina, bacitracina metileno disalici-
lato, bacitracina de zinco, enramicina, flavocina, haquinol,
lasalocida, lincomicina, monensina, salinomicina, tiamu-
lina, tilosina e virginiamicina. Alguns são de uso compar-
tilhado com a medicina humana. De acordo com Suzana
Bresslau, do Mapa, nenhuma dessas moléculas é alvo de
revisão neste momento, pois foram todas analisadas quan-
to a seus aspectos toxicológicos e de resistência, muito re-
centemente. De fato, o MAPA faz um monitoramento pe-
riódico destas substâncias para acompanhar o avanço da
literatura científica sobre o tema.
“O Mapa já proibiu o uso de diversas substâncias an-
timicrobianas usadas com a finalidade de melhorar o de-
sempenho, após avaliação técnico-científica”, informa a
coordenadora (veja tabela abaixo). O caso mais recente
aconteceu no final do ano passado, quando a colistina, um
dos antibióticos mais usados na suinocultura e na avicultu-
ra, foi proibido. Estudos recentes sobre esta molécula indi-
caram potencial risco de transferência da resistência desen-
volvida por bactérias a este antimicrobiano. Além disso, a
colistina foi classificada como “antimicrobiano criticamen-
te importante” para a saúde humana pela OMS e pela OIE.
Essa classificação significa que o uso da molécula deve
ser colocado como uma espécie de “reserva estratégica”.
“Se um primeiro ou segundo antibiótico de escolha não
funcionaparadebelarumainfecção,tem-sequelançarmão
de outra opção para o tratamento, por isso a definição de
‘criticamente importante’”, explica João Palermo, da USP.
Uso de
virginiamicina é
seguro”
Cristopher
White, da Phibro
70 DBO março 2017
Antimicrobianos proibidos como
aditivo e respectiva legislação.
Aditivo Legislação
Avoparcina* Of. Circ. DFPA nº 047/1998
Arsenicais e antimoniais Portaria nº 31, 29/01/2002
Cloranfenicol e nitrofuranos IN nº 09, 27/06/2003
Olaquindox IN nº 11, 24/11/2004
Carbadox IN nº 35, 14/11/2005
Violeta Genciana IN nº 34, 13/09/2007
Anfenicóis, tetraciclinas,
betalactâmicos (benzilpenicilâmicos
e cefalosporinas), quinolonas e
sulfonamidas sistêmicas*
IN nº 26, 9/07/2009
(revoga portaria nº
193/1998)
Espiramicina e eritromicina* IN nº 14, 17/05/2012
Colistina* IN nº 45, 22/11/2016
* Proibições relacionadas ao possível impacto no desenvolvimento da resistência aos
antimicrobianos. Fonte: Mapa
4. O professor diz que a colistina não era de uso comum por
ser tóxica para o ser humano, o que a colocaria na berlin-
da, mas passou a ser uma alternativa terapêutica válida por
causa do aumento de resistência de bactérias a outros anti-
microbianos usados em humanos. “Embora seja um antibi-
ótico extremamente tóxico para o ser humano, mostrou-se
importante para o tratamento alternativo de pessoas, em es-
pecial para aquelas que estão em UTI. A proibição do uso
da colistina como aditivo foi feita para preservar o uso em
medicina humana”. Palermo não vê motivos de preocupa-
ção para uma eventual remoção de antimicrobianos usados
na bovinocultura, como a monensina e a virginiamicina.
“A monensina pertence ao grupo farmacológico dos ionó-
foros, que não são utilizados na medicina humana Além
disso, não há qualquer relato de resistência antimicrobiana
para o grupo dos antibióticos ionóforos”.
A virginiamicina, por sua vez, é um antibiótico do
grupo farmacológico das estreptograminas de uso com-
partilhado. De acordo com Christopher White, responsá-
vel por assuntos regulatórios na Phibro, empresa que pro-
duz a molécula, havia um medicamento deste grupo para
uso na medicina humana, mas este uso foi descontinuado
em 2006 e sua licença não foi renovada. Atualmente, se-
gundo a Anvisa, não existe no Brasil nenhum antibiótico
desse grupo registrado para uso humano. “A virginiami-
cina já passou por duas avaliações de risco no Mapa, e os
especialistas consultados na ocasião mostraram que seu
uso é seguro”, afirma White. O professor João Palermo,
que participou das avaliações, corrobora. “Não foi detec-
tada qualquer preocupação quanto à resistência de bacté-
rias para esta molécula”. O Ministério da Agricultura, por
sua vez, se mostra favorável ao uso dos antimicrobianos
na produção animal, ao mesmo tempo em que está atento
a quaisquer riscos que eles possam ter para a medicação
de humanos. “O posicionamento brasileiro é de que o uso
de aditivos melhoradores de desempenho seja permitido,
desde que baseado na avaliação técnico-científica do im-
pacto que cada substância antimicrobiana autorizada para
essa finalidade possa ter sobre a saúde pública”, afirma
Suzana Bresslau. n
D
iferenciar o que é fato do que é mera desinfor-
mação é uma tarefa constante quando o assunto
é antibióticos. Para o professor João Palermo,
da USP, está mais do que na hora de desconstruir alguns
mitos que orbitaram os antimicrobianos. Um deles é a
crença de que os antibióticos são capazes de induzir a
resistência em bactérias, como se pudessem modificar
seu DNA. Ele explica que como os antibióticos são ori-
ginados por microrganismos encontrados no ambiente, a
resistência a estas substâncias sempre foi uma ocorrên-
cia normal na natureza. “O que existe é uma pressão de
seleção. O antibiótico mata as bactérias mais sensíveis,
enquanto aquelas mais resistentes sobrevivem. É um
conceito darwiniano”. Para o professor, essa condição
reforça a necessidade de que tratamentos terapêuticos (de
poucos animais) ou metafiláticos (de muitos animais si-
multaneamente) sejam seguidos à risca, tanto no que diz
respeito ao tempo quanto à dosagem, que devem obede-
cer às orientações do fabricante e aprovadas pelo MAPA.
“Se uma bactéria consegue sobreviver, dará origem a
uma linhagem que não é mais afetada pelo tratamento. O
que vale para a medicina humana vale para a veterinária”.
Outro acontecimento que pode se manifestar na natu-
reza é o que se chama de “resistência cruzada”. Palermo
explica que, para agir, o antimicrobiano precisa se ligar a
um receptor de sua membrana. Sem qualquer interferência
externa, a bactéria pode naturalmente modificar a configu-
ração desse receptor, impedindo que o antimicrobiano se
“encaixe” para destruí-la. “É como uma chave para abrir
a porta. Se mexer um pouco nas ranhuras da fechadura,
a chave não vira mais. Ou seja, a bactéria torna-se resis-
tente. Ações semelhantes ocorrem, também, para os ou-
tros mecanismos de ação dos antibióticos nas bactérias”.
Mas o problema da resistência preocupa. Reportagem
publicada no site norte-americano “Beef Magazine” (cow-
-calfweekly@enews.beefmagazine.com), em 17 de feve-
reiro, atribui à FAO estimativa feita no final de 2016 dan-
do conta de que cerca de 700.000 pessoas morrem por ano
por infecções causadas por resistência antimicrobiana.
A mesma reportagem cita estimativa de um dos par-
ticipantes do simpósio sobre uso de antibióticos, promo-
vido pelo Instituto Nacional de Agricultura Animal dos
EUA. Nate Smith, diretor do Departamento de Saúde do
Estado de Arkansas, afirmou que entre 30 e 50% dos an-
tibióticos prescritos nos hospitais ou são inapropriados ou
desnecessários, o que daria a dimensão do problema da
resistência a esses medicamentos. No mesmo evento, se-
gundo a “Beef”, um executivo da Cargill – uma das maio-
res produtoras mundiais de rações para animais – infor-
mou que a empresa teria suprimido 20% do fornecimento
de medicamentos de classe compartilhada (de uso veteri-
nário e humano) em oito confinamentos norte-americanos
em 2016, já se antecipando às possíveis reações de consu-
midores ao problema.
Um relatório recente do Banco Mundial foi mais
alarmante: afirma que a resistência de micro-organismos
a antibióticos tem o potencial de causar um estrago tão
grande na economia mundial semelhante à crise finan-
ceira de 2008. Esse relatório, com previsões econômicas
para o período 2017-2050, aponta queda no PIB mundial
variando de 1,1% a 3,8%, de acordo com cenários de
baixo e alto impacto do problema. Isso seria decorrente
de uma queda na produção de gado que variaria de 2,6%
a 7,5% ao ano, por volta de 2050. n
Resistência bacteriana não é novidade
março 2017 DBO 71