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Saúde Animal
60 DBO fevereiro 2018
Tristeza à espreita nas
áreas de ILP do RS
Transição dos terneiros das áreas sem carrapato para pastagens com a
presença do parasita é um desafio para os produtores gaúchos
Renato Villela
renato.villela@revistadbo.com.br
C
olocar as vacas recém-paridas para pastejar nas
áreas agrícolas de ILP – Integração Lavoura –
Pecuária, tem se tornado uma medida arriscada
para criadores gaúchos, que estão perdendo seus ternei-
ros acometidos por TPB – Tristeza Parasitária Bovina.O
problema não está relacionado às pastagens de aveia e
azevém, que ocupam sazonalmente o espaço da soja ou
do arroz, mas ao retorno desses animais aos pastos for-
mados ou campos nativos, infestados de parasitas, após
o fim do pastejo. É que nas áreas de integração, por con-
ta da janela de cultura agrícola, quase não há carrapatos.
O que para as mães é uma mera transição, dentro do sis-
tema integrado, para as crias tem se revelado fatal. “Os
bezerros entram nas pastagens desprotegidos, uma vez
que não tiveram contato com carrapato nos primeiros
meses de vida e por isso não desenvolveram imunidade
ativa capaz de protegê-los contra os agentes patogêni-
cos da anaplasmose e babesiose”, conta Rovaina Doyle,
pesquisadora do IPVDF – Instituto de Pesquisas Veteri-
nárias Desidério Finamor, de Eldorado do Sul.
O veterinário Felipe Ribeiro Scherer, da Central NS
Consultoria Veterinária, de Júlio de Castilhos, conhece
de perto essa realidade. Scherer assessora dezenas de
propriedades localizadas no centro do Estado onde a
pecuária divide seu espaço com a agricultura. Como é
comum na região, que tem forte presença da agricultura,
em especial a soja, a estação de monta acontece num pe-
ríodo diferente em relação ao restante do País. As vacas
entram em reprodução de agosto a outubro e os bezerros
nascem de maio a julho, quando as pastagens de aveia
e azevém, ricas em proteína, já estão bem formadas na
soca da soja. “É a melhor época de comida, tanto em
qualidade quanto em qualidade, o que permite com que
as vacas comam bem e produzam mais leite para os seus
terneiros”, justifica o veterinário. Os números compro-
vam que a estratégia é bem-sucedida. Segundo Scherer,
não é raro encontrar bezerros ao pé da vaca, com sete
meses e prestes a desmamar pesando 250 kg.
A partir de outubro, no entanto, estas áreas retornam
à agricultura para o plantio subsequente da oleoginosa,
obrigando vacas e crias a fazerem o caminho de volta às
pastagens perenes. É aí que mora o perigo. Os terneiros,
ao contrário de suas mães, praticamente não tiveram
contato com o carrapato durante sua vida, uma vez que
as pastagens de inverno, onde estavam, ficam pratica-
mente “limpas”, já que a área anteriormente foi ocupada
pela cultura agrícola, quebrando o ciclo da praga. Essa
falta de “vivência” com o inimigo cobra seu preço mais
adiante, pois a imunidade passiva, aquela adquirida via
colostro na amamentação, tem duração limitada e per-
dura somente por três a quatro meses. À medida que
essa proteção se esvai o risco aumenta. Os terneiros
mais susceptíveis são acometidos pela Tristeza. Segun-
do o veterinário, é muito comum a doença se manifestar
em 20% a 30% dos lotes. A TPB, complexo de doenças
que inclui a anaplasmose e a babesiose, é a principal
causa de morte de bovinos no Rio Grande do Sul (veja
quadro na página ao lado).
O que fazer?
Controlar a Tristeza não é uma tarefa simples. As
“vacinas” do IPVDF – a denominação correta é “pre-
munição controlada” – contra a doença deixaram de ser
produzidas em 2011, depois que uma portaria do Minis-
tério da Agricultura exigiu readequações na planta do
laboratório. O projeto de modernização, no entanto, não
foi adiante pela falta de recursos, reflexo da situação de
penúria que se arrasta e castiga o setor público no Rio
Grande do Sul e que culminou até mesmo com a extin-
ção da centenária Fepagro – Fundação Estadual de Pes-
quisa Agropecuária, há dois anos (o IPDVF foi transfe-
Terneiros
que saem
da resteva
para áreas
infestadas de
carrapatos
correm mais
riscos
RenatoVillela
fevereiro 2018 DBO 61
rido para a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária
e Irrigação). “Queríamos voltar a produzir, pois é uma
herança científica do nosso laboratório, mas não temos
condições atualmente”, diz Rovaina Doyle. Outro mé-
todo de prevenção bastante conhecido é a premunição
clássica, que prevê a inoculação de sangue de bovinos
portadores crônicos de TPB em animais susceptíveis,
seguido de tratamento com quimioterápico quando se
estabelece a doença na fase aguda. Utilizada desde o
início do século passado para imunizar bovinos de áreas
livres de carrapatos e hemoparasitos a serem introduzi-
dos em regiões onde o agente causador da doença está
presente, a técnica requer o acompanhamento de um
profissional experiente para que seja bem-sucedida.
Diante dessas circunstâncias e graças também à
facilidade de aquisição de produtos veterinários e à
praticidade de aplicação, os produtores têm recorrido
à quimioprofilaxia para controlar a doença. A medida
consiste na administração de um antimicrobiano ou qui-
mioterápico em doses subterapêuticas, ou seja, abaixo
do recomendado para o tratamento da doença clínica.
O objetivo é combater parcialmente os hemoparasitos
na corrente sanguínea, de modo que sobrevivam numa
quantidade insuficiente para desencadear a doença clí-
nica, mas o bastante para estimular o desenvolvimento
da resposta imunológica protetora. Os fármacos mais
indicados atualmente são o dipropionato de imidocarbe
e diaceturato de diminazeno.
Existem muitas variáveis que podem prejudicar a
eficiência do protocolo quimioterápico, por isso o pro-
dutor deve estar atento. Um dos cuidados a serem to-
mados é permitir o carrapateamento dos animais para
que os parasitas possam inocular os patógenos. “Os
bovinos precisam ter contato com alta infestação por,
no mínimo, 15 dias após o início do protocolo”, diz a
pesquisadora. Outras medidas auxiliares são a nutrição
adequada e evitar longas viagens no período, para que
a resposta imunológica seja a melhor possível. Vale res-
saltar que os produtores e até mesmo técnicos têm dúvi-
das sobre o momento certo de aplicação do fármaco, do
número de aplicações e do intervalo entre elas. Não há
uma receita a ser seguida. “É tudo muito empírico”, diz
a pesquisadora. O recomendado é seguir os protocolos
prescritos por veterinários que prestam consultoria ou
por empresas de saúde animal. Existem vários disponí-
veis no mercado.
Controle do carrapato
Para o veterinário e consultor Octaviano Pereira
Neto, seguir um protocolo de quimioprofilaxia, seja ele
qual for, é uma importante medida preventiva, mas não
suficiente para controlar a doença. “Muitas vezes o pro-
dutor fica preocupado somente com a Tristeza e se es-
quece do carrapato”. Segundo Pereira, não por acaso, os
picos de TPB no Rio Grande do Sul acontecem a partir
de abril, período que corresponde à terceira geração de
carrapatos, quando a população do parasita atingiu um
patamar bastante elevado. “Isso significa que não hou-
ve controle no início da infestação”, diz. Se a presença
do parasita é fundamental para estimular o desenvolvi-
mento da resposta imune – dificuldade que está sendo
enfrentada no manejo das áreas de ILP – e a alta infes-
tação é um fator de risco para desencadear a doença,
a pergunta a ser respondida é: como resolver essa
equação?
A exemplo dos protocolos quimioprofiláti-
cos, não há uma única resposta. O veterinário
Felipe Scherer, por exemplo, aposta no contro-
le do carrapato com endectocidas de curta ação,
aplicados nos terneiros de agosto a novembro,
no início da infestação. “É uma forma de controlar
o carrapato ao mesmo tempo em que se permite uma
população mínima do parasita para induzir a imunida-
de nos animais”. Seu colega Octaviano Pereira, por sua
vez, opta por carrapaticidas à base de Fluazuron para
tratar animais a serem levados de áreas sem carrapatos
para pastagens com a presença do parasita. O veterinário
explica que, ao contrário dos demais produtos de ação
neurotóxica, que matam imediatamente o carrapato, o
Fluazuron é um inibidor de crescimento, impedindo que
o parasita atinja a fase adulta, o que ocorre por volta do
14o dia de vida. “Até esse período, na fase de ninfa, o
parasita causa menos dano ao animal, mas inocula os
patógenos que sensibilizarão o sistema imune”. O pro-
duto é aplicado no dia em que os animais chegam na
nova pastagem. A quimioprofilaxia é adotada se a doen-
ça atingir de 15% a 20% do lote. “Nesse caso adotamos
a metafilaxia (tratamento massal), porque certamente a
doença está se espalhando. Em vez de esperar para tratar
os animais na medida em que adoencem, tratamos todos
de uma só vez”, diz. n
Não temos
condições
de produzir a
vacina”,
Rovaina Doyle,
do IPVDF.
Doença é a que mais mata
Números oficiais (casos notificados) dão conta de que a TPB
é responsável pela morte de 10.000 animais todos os anos no Rio
Grande do Sul. Um estudo da UFRGS – Universidade Federal do Rio
Grande do Sul em parceria com a Farsul – Federação de Agricultura
do Rio Grande do Sul, no entanto, mostrou que a estatística está bas-
tante subestimada. Em 2014, ano em que foi feito o trabalho junto a
produtores, o registro de mortes ultrapassou 100 mil. Não bastasse a
configuração do rebanho gaúcho, formado em quase sua totalidade
de animais taurinos, portanto mais susceptíveis aos males causados
pelo Rhipicephalus (Boophilus) microplus, o Rio Grande do Sul en-
frenta um sério problema de resistência. Resultados de biocarrapati-
cidograma (teste de produtos carrapacitidas) realizados pelo IPVDF
mostram que apenas 11% das amostras enviadas para o laboratório
nos últimos dois anos mostraram-se sensíveis aos seis princípios
ativos (mais uma combinação) disponíveis no mercado gaúcho. Pior:
28% das amostras são resistentes a cinco ou mais categorias. “Ou
seja, essas propriedades não têm como fazer o tratamento correto
do carrapato da forma como preconizamos, com a alternância dos
princípios ativos nas três gerações que temos no Estado”, alerta Ro-
vaina Doyle, do IPVDF.

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Controle da Tristeza Parasitária Bovina em áreas de ILP no RS

  • 1. Saúde Animal 60 DBO fevereiro 2018 Tristeza à espreita nas áreas de ILP do RS Transição dos terneiros das áreas sem carrapato para pastagens com a presença do parasita é um desafio para os produtores gaúchos Renato Villela renato.villela@revistadbo.com.br C olocar as vacas recém-paridas para pastejar nas áreas agrícolas de ILP – Integração Lavoura – Pecuária, tem se tornado uma medida arriscada para criadores gaúchos, que estão perdendo seus ternei- ros acometidos por TPB – Tristeza Parasitária Bovina.O problema não está relacionado às pastagens de aveia e azevém, que ocupam sazonalmente o espaço da soja ou do arroz, mas ao retorno desses animais aos pastos for- mados ou campos nativos, infestados de parasitas, após o fim do pastejo. É que nas áreas de integração, por con- ta da janela de cultura agrícola, quase não há carrapatos. O que para as mães é uma mera transição, dentro do sis- tema integrado, para as crias tem se revelado fatal. “Os bezerros entram nas pastagens desprotegidos, uma vez que não tiveram contato com carrapato nos primeiros meses de vida e por isso não desenvolveram imunidade ativa capaz de protegê-los contra os agentes patogêni- cos da anaplasmose e babesiose”, conta Rovaina Doyle, pesquisadora do IPVDF – Instituto de Pesquisas Veteri- nárias Desidério Finamor, de Eldorado do Sul. O veterinário Felipe Ribeiro Scherer, da Central NS Consultoria Veterinária, de Júlio de Castilhos, conhece de perto essa realidade. Scherer assessora dezenas de propriedades localizadas no centro do Estado onde a pecuária divide seu espaço com a agricultura. Como é comum na região, que tem forte presença da agricultura, em especial a soja, a estação de monta acontece num pe- ríodo diferente em relação ao restante do País. As vacas entram em reprodução de agosto a outubro e os bezerros nascem de maio a julho, quando as pastagens de aveia e azevém, ricas em proteína, já estão bem formadas na soca da soja. “É a melhor época de comida, tanto em qualidade quanto em qualidade, o que permite com que as vacas comam bem e produzam mais leite para os seus terneiros”, justifica o veterinário. Os números compro- vam que a estratégia é bem-sucedida. Segundo Scherer, não é raro encontrar bezerros ao pé da vaca, com sete meses e prestes a desmamar pesando 250 kg. A partir de outubro, no entanto, estas áreas retornam à agricultura para o plantio subsequente da oleoginosa, obrigando vacas e crias a fazerem o caminho de volta às pastagens perenes. É aí que mora o perigo. Os terneiros, ao contrário de suas mães, praticamente não tiveram contato com o carrapato durante sua vida, uma vez que as pastagens de inverno, onde estavam, ficam pratica- mente “limpas”, já que a área anteriormente foi ocupada pela cultura agrícola, quebrando o ciclo da praga. Essa falta de “vivência” com o inimigo cobra seu preço mais adiante, pois a imunidade passiva, aquela adquirida via colostro na amamentação, tem duração limitada e per- dura somente por três a quatro meses. À medida que essa proteção se esvai o risco aumenta. Os terneiros mais susceptíveis são acometidos pela Tristeza. Segun- do o veterinário, é muito comum a doença se manifestar em 20% a 30% dos lotes. A TPB, complexo de doenças que inclui a anaplasmose e a babesiose, é a principal causa de morte de bovinos no Rio Grande do Sul (veja quadro na página ao lado). O que fazer? Controlar a Tristeza não é uma tarefa simples. As “vacinas” do IPVDF – a denominação correta é “pre- munição controlada” – contra a doença deixaram de ser produzidas em 2011, depois que uma portaria do Minis- tério da Agricultura exigiu readequações na planta do laboratório. O projeto de modernização, no entanto, não foi adiante pela falta de recursos, reflexo da situação de penúria que se arrasta e castiga o setor público no Rio Grande do Sul e que culminou até mesmo com a extin- ção da centenária Fepagro – Fundação Estadual de Pes- quisa Agropecuária, há dois anos (o IPDVF foi transfe- Terneiros que saem da resteva para áreas infestadas de carrapatos correm mais riscos RenatoVillela
  • 2. fevereiro 2018 DBO 61 rido para a Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Irrigação). “Queríamos voltar a produzir, pois é uma herança científica do nosso laboratório, mas não temos condições atualmente”, diz Rovaina Doyle. Outro mé- todo de prevenção bastante conhecido é a premunição clássica, que prevê a inoculação de sangue de bovinos portadores crônicos de TPB em animais susceptíveis, seguido de tratamento com quimioterápico quando se estabelece a doença na fase aguda. Utilizada desde o início do século passado para imunizar bovinos de áreas livres de carrapatos e hemoparasitos a serem introduzi- dos em regiões onde o agente causador da doença está presente, a técnica requer o acompanhamento de um profissional experiente para que seja bem-sucedida. Diante dessas circunstâncias e graças também à facilidade de aquisição de produtos veterinários e à praticidade de aplicação, os produtores têm recorrido à quimioprofilaxia para controlar a doença. A medida consiste na administração de um antimicrobiano ou qui- mioterápico em doses subterapêuticas, ou seja, abaixo do recomendado para o tratamento da doença clínica. O objetivo é combater parcialmente os hemoparasitos na corrente sanguínea, de modo que sobrevivam numa quantidade insuficiente para desencadear a doença clí- nica, mas o bastante para estimular o desenvolvimento da resposta imunológica protetora. Os fármacos mais indicados atualmente são o dipropionato de imidocarbe e diaceturato de diminazeno. Existem muitas variáveis que podem prejudicar a eficiência do protocolo quimioterápico, por isso o pro- dutor deve estar atento. Um dos cuidados a serem to- mados é permitir o carrapateamento dos animais para que os parasitas possam inocular os patógenos. “Os bovinos precisam ter contato com alta infestação por, no mínimo, 15 dias após o início do protocolo”, diz a pesquisadora. Outras medidas auxiliares são a nutrição adequada e evitar longas viagens no período, para que a resposta imunológica seja a melhor possível. Vale res- saltar que os produtores e até mesmo técnicos têm dúvi- das sobre o momento certo de aplicação do fármaco, do número de aplicações e do intervalo entre elas. Não há uma receita a ser seguida. “É tudo muito empírico”, diz a pesquisadora. O recomendado é seguir os protocolos prescritos por veterinários que prestam consultoria ou por empresas de saúde animal. Existem vários disponí- veis no mercado. Controle do carrapato Para o veterinário e consultor Octaviano Pereira Neto, seguir um protocolo de quimioprofilaxia, seja ele qual for, é uma importante medida preventiva, mas não suficiente para controlar a doença. “Muitas vezes o pro- dutor fica preocupado somente com a Tristeza e se es- quece do carrapato”. Segundo Pereira, não por acaso, os picos de TPB no Rio Grande do Sul acontecem a partir de abril, período que corresponde à terceira geração de carrapatos, quando a população do parasita atingiu um patamar bastante elevado. “Isso significa que não hou- ve controle no início da infestação”, diz. Se a presença do parasita é fundamental para estimular o desenvolvi- mento da resposta imune – dificuldade que está sendo enfrentada no manejo das áreas de ILP – e a alta infes- tação é um fator de risco para desencadear a doença, a pergunta a ser respondida é: como resolver essa equação? A exemplo dos protocolos quimioprofiláti- cos, não há uma única resposta. O veterinário Felipe Scherer, por exemplo, aposta no contro- le do carrapato com endectocidas de curta ação, aplicados nos terneiros de agosto a novembro, no início da infestação. “É uma forma de controlar o carrapato ao mesmo tempo em que se permite uma população mínima do parasita para induzir a imunida- de nos animais”. Seu colega Octaviano Pereira, por sua vez, opta por carrapaticidas à base de Fluazuron para tratar animais a serem levados de áreas sem carrapatos para pastagens com a presença do parasita. O veterinário explica que, ao contrário dos demais produtos de ação neurotóxica, que matam imediatamente o carrapato, o Fluazuron é um inibidor de crescimento, impedindo que o parasita atinja a fase adulta, o que ocorre por volta do 14o dia de vida. “Até esse período, na fase de ninfa, o parasita causa menos dano ao animal, mas inocula os patógenos que sensibilizarão o sistema imune”. O pro- duto é aplicado no dia em que os animais chegam na nova pastagem. A quimioprofilaxia é adotada se a doen- ça atingir de 15% a 20% do lote. “Nesse caso adotamos a metafilaxia (tratamento massal), porque certamente a doença está se espalhando. Em vez de esperar para tratar os animais na medida em que adoencem, tratamos todos de uma só vez”, diz. n Não temos condições de produzir a vacina”, Rovaina Doyle, do IPVDF. Doença é a que mais mata Números oficiais (casos notificados) dão conta de que a TPB é responsável pela morte de 10.000 animais todos os anos no Rio Grande do Sul. Um estudo da UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul em parceria com a Farsul – Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul, no entanto, mostrou que a estatística está bas- tante subestimada. Em 2014, ano em que foi feito o trabalho junto a produtores, o registro de mortes ultrapassou 100 mil. Não bastasse a configuração do rebanho gaúcho, formado em quase sua totalidade de animais taurinos, portanto mais susceptíveis aos males causados pelo Rhipicephalus (Boophilus) microplus, o Rio Grande do Sul en- frenta um sério problema de resistência. Resultados de biocarrapati- cidograma (teste de produtos carrapacitidas) realizados pelo IPVDF mostram que apenas 11% das amostras enviadas para o laboratório nos últimos dois anos mostraram-se sensíveis aos seis princípios ativos (mais uma combinação) disponíveis no mercado gaúcho. Pior: 28% das amostras são resistentes a cinco ou mais categorias. “Ou seja, essas propriedades não têm como fazer o tratamento correto do carrapato da forma como preconizamos, com a alternância dos princípios ativos nas três gerações que temos no Estado”, alerta Ro- vaina Doyle, do IPVDF.