SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 1
Baixar para ler offline
64 Anuário DBO 2018
A
pós amargar, pela primeira vez
na história, queda no faturamen-
to (1%) em 2016 _ descontado o
IPCA (Índice de Preços ao Consumi-
dor Amplo) de 6,26% _, a indústria ve-
terinária no Brasil espera avançar este
ano, com cifras entre R$ 4,5 bilhões e
R$ 5 bilhões, em números ainda pre-
liminares. A se confirmar a previsão
do Sindicato Nacional da Indústria de
Produtos para Saúde Animal (Sindan),
o resultado pode representar cresci-
mento de até 7% no faturamento, que
é a média histórica do setor, a ser de-
duzido da inflação _ o IPCA no ano
passado foi de 2,95%. Segundo Emílio
Salani, vice-presidente da entidade, a
melhora do cenário deve ser creditada
especialmente ao segmento de rumi-
nantes, que contribui com 50% a 55%
do faturamento total da indústria e que
no ano passado cresceu cerca de 5%.
Além da participação dos antiparasi-
tários, que histo-
ricamente repre-
sentam a maior
fatia do bolo, Sa-
lani destaca os
terapêuticos e a
participação da
linha de produ-
tos voltados à re-
produção animal.
“Os protocolos de inseminação artifi-
cial são relativamente novos em nosso
portfólio, mas seu uso é cada vez maior
nas fazendas.”
A expectativa de crescimento na re-
ceita é um alento para o mercado ve-
terinário, que viu em 2017 o governo
anunciar, por meio do Plano Estratégi-
co de Erradicação e Prevenção da Fe-
bre Aftosa (Pnefa), a retirada total da
vacinação no País até 2023. Por ano,
são comercializados 330 milhões de
doses de vacina antiaftosa, o que mo-
vimenta de R$ 400 milhões a R$ 420
milhões, segundo a indústria. Esse
montante representa de 12% a 13% do
mercado de ruminantes e de 6% a 8%
do total. Para Salani, as empresas do
setor saberão lidar com a mudança.
“Não morreremos sem a vacina”, avisa.
Apesar de minimizar o efeito da me-
dida, o fato é que gigantes multinacio-
nais do setor investiram pesado nesse
filão recentemente. Em julho do ano
passado, a MSD Saúde Animal, braço
veterinário da farmacêutica america-
na Merck, concluiu a aquisição do con-
trole acionário da Vallée, que detinha
60% do mercado de vacina antiaftosa,
num acordo avaliado em US$ 400 mi-
lhões. No fim de maio de 2017, a alemã
Boehringer Ingelheim, que entrou para
valer no setor veterinário com a aqui-
sição da Merial, inaugurou uma fábri-
ca em Paulínia, interior paulista, para
produzir de 130 milhões a 140 milhões
de doses da vacina antiaftosa por ano.
Cenário em 2018 _ O mercado da in-
dústria veterinária viveu em calma-
ria em 2017, principalmente quando
comparado ao ano anterior, quando
foi sacudido
por importan-
tes aquisições.
A destacar, a
compra da fá-
brica da Zoe-
tis, em Guaru-
lhos, SP, pela
União Quími-
ca, laboratório
de capital 100% nacional. Segundo es-
timativa de mercado, o ativo está ava-
liado em mais de R$ 500 milhões. É
preciso mencionar ainda a americana
Eli Lilly, que colocou à venda a Elanco,
o braço de saúde animal da farmacêu-
tica. Na opinião de Salani, que classi-
fica a indústria veterinária atual como
“extremamente concentrada”, novas fu-
sões deverão ocorrer em 2018. “Acredi-
to que alguns laboratórios terão que se
fundir, inovar em seus produtos, bus-
car novas tecnologias para ter con-
dições de concorrer com os grandes
players do mercado.” O executivo está
otimista para este ano. “As exportações
de carne têm boas perspectivas. Com a
inflação sob controle e a retomada da
economia, o desemprego tende a cair.
Retomada do crescimento
Com mais dinheiro nas mãos do con-
sumidor, a demanda por carnes deve
aumentar, o que melhora o preço para
o produtor, que por sua vez investe
mais em saúde animal, lembrando que
os medicamentos veterinários repre-
sentam apenas 3% do custo de produ-
ção da cadeia bovina.”
Nova vacina só em 2019 _ Protago-
nista de um imbróglio que provocou a
interrupção da venda de carne in na-
tura para os Estados Unidos _ embar-
go que persiste até hoje _, em razão
dos nódulos presentes nas carcaças,
a vacina contra a febre aftosa sofre-
rá mudanças, tanto em sua compo-
sição quanto na dose recomendada.
Das modificações previstas, acerta-
das entre entidades do setor e Minis-
tério da Agricultura, a retirada do vírus
C, que representa de 2% a 3% do cus-
to de produção, segundo o Sindan, já
foi sacramentada para as vacinas que
chegarão ao mercado em maio, na pri-
meira etapa da campanha. A redução
no volume da dose, de 5 para 2 milili-
tros, porém, deve ficar para 2019, se-
gundo anunciou o ministério, o que
desagradou a entidades que reivindi-
caram a mudança. “Estamos extrema-
mente decepcionados com a lentidão
da modernização da vacina antiaftosa
e vamos cobrar a revisão desse prazo”,
informa Sebastião Guedes, presidente
da ­Câmara Setorial de Carne Bovina.
Para Emílio Salani, do Sindan, o pra-
zo mais estendido se deve à IN (Instru-
ção Normativa) 50/2008, que estabele-
ce as regras para teste e liberação das
vacinas. “Não é apenas reduzir o volu-
me, mas dar garantias de que uma dose
menor terá a mesma eficácia e segu-
rança. As vacinas são produzidas pela
indústria e testadas pelo Ministério da
Agricultura, o que demanda mais tem-
po”, justifica. A respeito da saponina,
componente da vacina apontado como
vilão das reações vacinais e causadora
dos abscessos, Salani diz que a retirada,
que será voluntária, ocorrerá também a
partir de 2019.  n
Por Renato VillelaIndústria Veterinária
Saúde Animal
Depois de retração inédita, setor fecha 2017 com aumento de receita.
O País comercializa por ano
330 milhões de doses de vacina
contra aftosa, com faturamento
de até R$ 420 milhões.

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Balanço

Apresentação Reunião Pública Dezembro 2008
Apresentação Reunião Pública Dezembro 2008Apresentação Reunião Pública Dezembro 2008
Apresentação Reunião Pública Dezembro 2008
Profarma
 
Profarma Apimec3 T09
Profarma Apimec3 T09Profarma Apimec3 T09
Profarma Apimec3 T09
Profarma
 
Apresentação APIMEC 1T08
Apresentação APIMEC 1T08Apresentação APIMEC 1T08
Apresentação APIMEC 1T08
Profarma
 
Artigo equina 5 mai jun-2006
Artigo equina 5 mai jun-2006Artigo equina 5 mai jun-2006
Artigo equina 5 mai jun-2006
Roberto Arruda
 
Apimec 1T14
Apimec 1T14Apimec 1T14
Apimec 1T14
Profarma
 

Semelhante a Balanço (20)

Forum inovacao saudeanimal
Forum inovacao saudeanimalForum inovacao saudeanimal
Forum inovacao saudeanimal
 
Agricultura ignora crise e cresce 11% em um ano
Agricultura ignora crise e cresce 11% em um anoAgricultura ignora crise e cresce 11% em um ano
Agricultura ignora crise e cresce 11% em um ano
 
Apresentação Reunião Pública Dezembro 2008
Apresentação Reunião Pública Dezembro 2008Apresentação Reunião Pública Dezembro 2008
Apresentação Reunião Pública Dezembro 2008
 
Profarma Apimec3 T09
Profarma Apimec3 T09Profarma Apimec3 T09
Profarma Apimec3 T09
 
Do recorde produção 1.1.15
Do recorde produção 1.1.15Do recorde produção 1.1.15
Do recorde produção 1.1.15
 
Indústria deverá-crescer
Indústria deverá-crescerIndústria deverá-crescer
Indústria deverá-crescer
 
Clipping cnc 19062018
Clipping cnc 19062018Clipping cnc 19062018
Clipping cnc 19062018
 
Ministério vai expandir complexo industrial da saúde.
Ministério vai expandir complexo industrial da saúde.Ministério vai expandir complexo industrial da saúde.
Ministério vai expandir complexo industrial da saúde.
 
Apresentação APIMEC 1T08
Apresentação APIMEC 1T08Apresentação APIMEC 1T08
Apresentação APIMEC 1T08
 
Defensivos e Fertilizantes 2019
Defensivos e Fertilizantes 2019Defensivos e Fertilizantes 2019
Defensivos e Fertilizantes 2019
 
EBMQUINTTO Data Report - Mercado Saude - Junho/2021
EBMQUINTTO Data Report - Mercado Saude - Junho/2021EBMQUINTTO Data Report - Mercado Saude - Junho/2021
EBMQUINTTO Data Report - Mercado Saude - Junho/2021
 
Artigo equina 5 mai jun-2006
Artigo equina 5 mai jun-2006Artigo equina 5 mai jun-2006
Artigo equina 5 mai jun-2006
 
Sensor Varejo, edição 07
Sensor Varejo, edição 07Sensor Varejo, edição 07
Sensor Varejo, edição 07
 
Em questão 10001
Em questão 10001Em questão 10001
Em questão 10001
 
Dbo vacinacao pdf
Dbo vacinacao pdfDbo vacinacao pdf
Dbo vacinacao pdf
 
Ministro da Saúde Alexandre Padilha lança pacote de R$ 8 bi para setor de saúde
Ministro da Saúde Alexandre Padilha lança pacote de R$ 8 bi para setor de saúdeMinistro da Saúde Alexandre Padilha lança pacote de R$ 8 bi para setor de saúde
Ministro da Saúde Alexandre Padilha lança pacote de R$ 8 bi para setor de saúde
 
Apimec 1T14
Apimec 1T14Apimec 1T14
Apimec 1T14
 
1601907611 anfarmag panorama_setorial_2020
1601907611 anfarmag panorama_setorial_20201601907611 anfarmag panorama_setorial_2020
1601907611 anfarmag panorama_setorial_2020
 
Informativo Wolf 07
Informativo Wolf 07Informativo Wolf 07
Informativo Wolf 07
 
Fenasucro & Acrocana
Fenasucro & AcrocanaFenasucro & Acrocana
Fenasucro & Acrocana
 

Mais de Renato Villela

Mais de Renato Villela (20)

Controle certeiro f2
Controle certeiro f2Controle certeiro f2
Controle certeiro f2
 
Mulheres agronegocio
Mulheres agronegocio Mulheres agronegocio
Mulheres agronegocio
 
Controle certeiro f1
Controle certeiro f1Controle certeiro f1
Controle certeiro f1
 
Professor iveraldo
Professor iveraldoProfessor iveraldo
Professor iveraldo
 
Coccidiose
CoccidioseCoccidiose
Coccidiose
 
Rotacionado
RotacionadoRotacionado
Rotacionado
 
Energia eletrica bombeamento
Energia eletrica bombeamentoEnergia eletrica bombeamento
Energia eletrica bombeamento
 
Cure o umbigo
Cure o umbigoCure o umbigo
Cure o umbigo
 
Muito alem da ilp
Muito alem da ilpMuito alem da ilp
Muito alem da ilp
 
Pg 34
Pg 34Pg 34
Pg 34
 
Tristeza
TristezaTristeza
Tristeza
 
Cigarrinha
CigarrinhaCigarrinha
Cigarrinha
 
Bvd linkedin
Bvd linkedinBvd linkedin
Bvd linkedin
 
Bvd linkedin
Bvd linkedinBvd linkedin
Bvd linkedin
 
Especial confinamento cerca elétrica
Especial confinamento cerca elétricaEspecial confinamento cerca elétrica
Especial confinamento cerca elétrica
 
Higiene para evitar abscessos
Higiene para evitar abscessosHigiene para evitar abscessos
Higiene para evitar abscessos
 
Mosca dos chifres
Mosca dos chifresMosca dos chifres
Mosca dos chifres
 
Machos ou femeas
Machos ou femeasMachos ou femeas
Machos ou femeas
 
Machos ou femeas
Machos ou femeasMachos ou femeas
Machos ou femeas
 
Cocho limpo em minutos
Cocho limpo em minutosCocho limpo em minutos
Cocho limpo em minutos
 

Balanço

  • 1. 64 Anuário DBO 2018 A pós amargar, pela primeira vez na história, queda no faturamen- to (1%) em 2016 _ descontado o IPCA (Índice de Preços ao Consumi- dor Amplo) de 6,26% _, a indústria ve- terinária no Brasil espera avançar este ano, com cifras entre R$ 4,5 bilhões e R$ 5 bilhões, em números ainda pre- liminares. A se confirmar a previsão do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), o resultado pode representar cresci- mento de até 7% no faturamento, que é a média histórica do setor, a ser de- duzido da inflação _ o IPCA no ano passado foi de 2,95%. Segundo Emílio Salani, vice-presidente da entidade, a melhora do cenário deve ser creditada especialmente ao segmento de rumi- nantes, que contribui com 50% a 55% do faturamento total da indústria e que no ano passado cresceu cerca de 5%. Além da participação dos antiparasi- tários, que histo- ricamente repre- sentam a maior fatia do bolo, Sa- lani destaca os terapêuticos e a participação da linha de produ- tos voltados à re- produção animal. “Os protocolos de inseminação artifi- cial são relativamente novos em nosso portfólio, mas seu uso é cada vez maior nas fazendas.” A expectativa de crescimento na re- ceita é um alento para o mercado ve- terinário, que viu em 2017 o governo anunciar, por meio do Plano Estratégi- co de Erradicação e Prevenção da Fe- bre Aftosa (Pnefa), a retirada total da vacinação no País até 2023. Por ano, são comercializados 330 milhões de doses de vacina antiaftosa, o que mo- vimenta de R$ 400 milhões a R$ 420 milhões, segundo a indústria. Esse montante representa de 12% a 13% do mercado de ruminantes e de 6% a 8% do total. Para Salani, as empresas do setor saberão lidar com a mudança. “Não morreremos sem a vacina”, avisa. Apesar de minimizar o efeito da me- dida, o fato é que gigantes multinacio- nais do setor investiram pesado nesse filão recentemente. Em julho do ano passado, a MSD Saúde Animal, braço veterinário da farmacêutica america- na Merck, concluiu a aquisição do con- trole acionário da Vallée, que detinha 60% do mercado de vacina antiaftosa, num acordo avaliado em US$ 400 mi- lhões. No fim de maio de 2017, a alemã Boehringer Ingelheim, que entrou para valer no setor veterinário com a aqui- sição da Merial, inaugurou uma fábri- ca em Paulínia, interior paulista, para produzir de 130 milhões a 140 milhões de doses da vacina antiaftosa por ano. Cenário em 2018 _ O mercado da in- dústria veterinária viveu em calma- ria em 2017, principalmente quando comparado ao ano anterior, quando foi sacudido por importan- tes aquisições. A destacar, a compra da fá- brica da Zoe- tis, em Guaru- lhos, SP, pela União Quími- ca, laboratório de capital 100% nacional. Segundo es- timativa de mercado, o ativo está ava- liado em mais de R$ 500 milhões. É preciso mencionar ainda a americana Eli Lilly, que colocou à venda a Elanco, o braço de saúde animal da farmacêu- tica. Na opinião de Salani, que classi- fica a indústria veterinária atual como “extremamente concentrada”, novas fu- sões deverão ocorrer em 2018. “Acredi- to que alguns laboratórios terão que se fundir, inovar em seus produtos, bus- car novas tecnologias para ter con- dições de concorrer com os grandes players do mercado.” O executivo está otimista para este ano. “As exportações de carne têm boas perspectivas. Com a inflação sob controle e a retomada da economia, o desemprego tende a cair. Retomada do crescimento Com mais dinheiro nas mãos do con- sumidor, a demanda por carnes deve aumentar, o que melhora o preço para o produtor, que por sua vez investe mais em saúde animal, lembrando que os medicamentos veterinários repre- sentam apenas 3% do custo de produ- ção da cadeia bovina.” Nova vacina só em 2019 _ Protago- nista de um imbróglio que provocou a interrupção da venda de carne in na- tura para os Estados Unidos _ embar- go que persiste até hoje _, em razão dos nódulos presentes nas carcaças, a vacina contra a febre aftosa sofre- rá mudanças, tanto em sua compo- sição quanto na dose recomendada. Das modificações previstas, acerta- das entre entidades do setor e Minis- tério da Agricultura, a retirada do vírus C, que representa de 2% a 3% do cus- to de produção, segundo o Sindan, já foi sacramentada para as vacinas que chegarão ao mercado em maio, na pri- meira etapa da campanha. A redução no volume da dose, de 5 para 2 milili- tros, porém, deve ficar para 2019, se- gundo anunciou o ministério, o que desagradou a entidades que reivindi- caram a mudança. “Estamos extrema- mente decepcionados com a lentidão da modernização da vacina antiaftosa e vamos cobrar a revisão desse prazo”, informa Sebastião Guedes, presidente da ­Câmara Setorial de Carne Bovina. Para Emílio Salani, do Sindan, o pra- zo mais estendido se deve à IN (Instru- ção Normativa) 50/2008, que estabele- ce as regras para teste e liberação das vacinas. “Não é apenas reduzir o volu- me, mas dar garantias de que uma dose menor terá a mesma eficácia e segu- rança. As vacinas são produzidas pela indústria e testadas pelo Ministério da Agricultura, o que demanda mais tem- po”, justifica. A respeito da saponina, componente da vacina apontado como vilão das reações vacinais e causadora dos abscessos, Salani diz que a retirada, que será voluntária, ocorrerá também a partir de 2019. n Por Renato VillelaIndústria Veterinária Saúde Animal Depois de retração inédita, setor fecha 2017 com aumento de receita. O País comercializa por ano 330 milhões de doses de vacina contra aftosa, com faturamento de até R$ 420 milhões.