O mercado veterinário brasileiro espera crescer até 7% em 2018 após queda de 1% em 2016, impulsionado principalmente pelo segmento de ruminantes. A vacina contra febre aftosa sofrerá mudanças em sua composição e dose a partir de 2019 para atender novas normas e garantir segurança e eficácia. Grandes empresas multinacionais investiram recentemente no setor da vacina antiaftosa, que representa até 13% do mercado de ruminantes.
1. 64 Anuário DBO 2018
A
pós amargar, pela primeira vez
na história, queda no faturamen-
to (1%) em 2016 _ descontado o
IPCA (Índice de Preços ao Consumi-
dor Amplo) de 6,26% _, a indústria ve-
terinária no Brasil espera avançar este
ano, com cifras entre R$ 4,5 bilhões e
R$ 5 bilhões, em números ainda pre-
liminares. A se confirmar a previsão
do Sindicato Nacional da Indústria de
Produtos para Saúde Animal (Sindan),
o resultado pode representar cresci-
mento de até 7% no faturamento, que
é a média histórica do setor, a ser de-
duzido da inflação _ o IPCA no ano
passado foi de 2,95%. Segundo Emílio
Salani, vice-presidente da entidade, a
melhora do cenário deve ser creditada
especialmente ao segmento de rumi-
nantes, que contribui com 50% a 55%
do faturamento total da indústria e que
no ano passado cresceu cerca de 5%.
Além da participação dos antiparasi-
tários, que histo-
ricamente repre-
sentam a maior
fatia do bolo, Sa-
lani destaca os
terapêuticos e a
participação da
linha de produ-
tos voltados à re-
produção animal.
“Os protocolos de inseminação artifi-
cial são relativamente novos em nosso
portfólio, mas seu uso é cada vez maior
nas fazendas.”
A expectativa de crescimento na re-
ceita é um alento para o mercado ve-
terinário, que viu em 2017 o governo
anunciar, por meio do Plano Estratégi-
co de Erradicação e Prevenção da Fe-
bre Aftosa (Pnefa), a retirada total da
vacinação no País até 2023. Por ano,
são comercializados 330 milhões de
doses de vacina antiaftosa, o que mo-
vimenta de R$ 400 milhões a R$ 420
milhões, segundo a indústria. Esse
montante representa de 12% a 13% do
mercado de ruminantes e de 6% a 8%
do total. Para Salani, as empresas do
setor saberão lidar com a mudança.
“Não morreremos sem a vacina”, avisa.
Apesar de minimizar o efeito da me-
dida, o fato é que gigantes multinacio-
nais do setor investiram pesado nesse
filão recentemente. Em julho do ano
passado, a MSD Saúde Animal, braço
veterinário da farmacêutica america-
na Merck, concluiu a aquisição do con-
trole acionário da Vallée, que detinha
60% do mercado de vacina antiaftosa,
num acordo avaliado em US$ 400 mi-
lhões. No fim de maio de 2017, a alemã
Boehringer Ingelheim, que entrou para
valer no setor veterinário com a aqui-
sição da Merial, inaugurou uma fábri-
ca em Paulínia, interior paulista, para
produzir de 130 milhões a 140 milhões
de doses da vacina antiaftosa por ano.
Cenário em 2018 _ O mercado da in-
dústria veterinária viveu em calma-
ria em 2017, principalmente quando
comparado ao ano anterior, quando
foi sacudido
por importan-
tes aquisições.
A destacar, a
compra da fá-
brica da Zoe-
tis, em Guaru-
lhos, SP, pela
União Quími-
ca, laboratório
de capital 100% nacional. Segundo es-
timativa de mercado, o ativo está ava-
liado em mais de R$ 500 milhões. É
preciso mencionar ainda a americana
Eli Lilly, que colocou à venda a Elanco,
o braço de saúde animal da farmacêu-
tica. Na opinião de Salani, que classi-
fica a indústria veterinária atual como
“extremamente concentrada”, novas fu-
sões deverão ocorrer em 2018. “Acredi-
to que alguns laboratórios terão que se
fundir, inovar em seus produtos, bus-
car novas tecnologias para ter con-
dições de concorrer com os grandes
players do mercado.” O executivo está
otimista para este ano. “As exportações
de carne têm boas perspectivas. Com a
inflação sob controle e a retomada da
economia, o desemprego tende a cair.
Retomada do crescimento
Com mais dinheiro nas mãos do con-
sumidor, a demanda por carnes deve
aumentar, o que melhora o preço para
o produtor, que por sua vez investe
mais em saúde animal, lembrando que
os medicamentos veterinários repre-
sentam apenas 3% do custo de produ-
ção da cadeia bovina.”
Nova vacina só em 2019 _ Protago-
nista de um imbróglio que provocou a
interrupção da venda de carne in na-
tura para os Estados Unidos _ embar-
go que persiste até hoje _, em razão
dos nódulos presentes nas carcaças,
a vacina contra a febre aftosa sofre-
rá mudanças, tanto em sua compo-
sição quanto na dose recomendada.
Das modificações previstas, acerta-
das entre entidades do setor e Minis-
tério da Agricultura, a retirada do vírus
C, que representa de 2% a 3% do cus-
to de produção, segundo o Sindan, já
foi sacramentada para as vacinas que
chegarão ao mercado em maio, na pri-
meira etapa da campanha. A redução
no volume da dose, de 5 para 2 milili-
tros, porém, deve ficar para 2019, se-
gundo anunciou o ministério, o que
desagradou a entidades que reivindi-
caram a mudança. “Estamos extrema-
mente decepcionados com a lentidão
da modernização da vacina antiaftosa
e vamos cobrar a revisão desse prazo”,
informa Sebastião Guedes, presidente
da Câmara Setorial de Carne Bovina.
Para Emílio Salani, do Sindan, o pra-
zo mais estendido se deve à IN (Instru-
ção Normativa) 50/2008, que estabele-
ce as regras para teste e liberação das
vacinas. “Não é apenas reduzir o volu-
me, mas dar garantias de que uma dose
menor terá a mesma eficácia e segu-
rança. As vacinas são produzidas pela
indústria e testadas pelo Ministério da
Agricultura, o que demanda mais tem-
po”, justifica. A respeito da saponina,
componente da vacina apontado como
vilão das reações vacinais e causadora
dos abscessos, Salani diz que a retirada,
que será voluntária, ocorrerá também a
partir de 2019. n
Por Renato VillelaIndústria Veterinária
Saúde Animal
Depois de retração inédita, setor fecha 2017 com aumento de receita.
O País comercializa por ano
330 milhões de doses de vacina
contra aftosa, com faturamento
de até R$ 420 milhões.