O documento analisa diversas versões do conto Branca de Neve, identificando possíveis origens históricas e analisando os significados psicológicos e sociais por trás dos símbolos presentes na narrativa. Há menção a versões folclóricas prévias ao registro dos Irmãos Grimm e discussão sobre a importância educacional dos contos de fadas, mas também a necessidade de cautela na abordagem de determinados temas para o público infantil.
As origens e versões do conto de fadas Branca de Neve
1.
2. “John Updike nos lembra que os contos
de fadas que lemos hoje para as
crianças tiveram suas origens numa
cultura em que histórias eram contadas
entre adultos: Elas eram a televisão e a
pornografia de seu tempo; a
subliteratura que iluminava a vida de
povos pré-literários” (Tatar, 2004, p. 9).
3. No início, os contos de fadas não eram
uma literatura para crianças. O início
dessa transformação teria dado-se com
Perrault , no século XVII, na França; com
os irmãos Grimm no século XVIII, na
Alemanha; com Andersen no século XIX,
na Dinamarca; e com Walt Disney no
século XX, na América.
4. “A literatura infantil tem perdido muito nos
últimos tempos quando simplifica os enredos
das histórias, subestimando a capacidade de
compreensão das crianças e tentando ocultar
temas “obscuros”, que não devem ocupar a
mente dos pequenos. Porém, a partir de Freud,
não se pode mais negar os conflitos que a
psique infantil tem que enfrentar. O conto de
fadas, assim como a brincadeira, é uma
poderosa válvula de escape para que a
criança possa enfrentar as dificuldades que
ela nem sabe nomear. Através do conto, a
criança dá um contorno para o seu conflito,
superando-o.”
5.
6. “Era uma vez uma rainha. Um dia, no meio do
inverno, quando flocos de neve grandes como
plumas caíam do céu, ela estava sentada a
costurar, junto de uma janela com uma moldura de
ébano. Enquanto costurava, olhou para a neve e
espetou o dedo com a agulha. Três gotas de sangue
caíram sobre a neve. O vermelho pareceu tão
bonito contra a neve branca que ela pensou: “Ah,
se eu tivesse um filhinho branco como a neve,
vermelho como o sangue e tão negro como a
madeira da moldura da janela.” Pouco tempo
depois, deu à luz uma menininha que era branca
como a neve, vermelha como o sangue e negra
como o ébano. Chamaram-na Branca de Neve. A
rainha morreu depois do nascimento da criança”.
7. Três gotas de sangue: Vermelho
(sexualidade), desejo de ter filho e tirar a
inocência. O vermelho (desejo sexual),
sobre o branco da neve (inocência).
A cor branca: A pele alva da menina,
figura a pureza e a inocência.
A cor vermelha: Remete as bochechas e a
boca da criança, cor essa que simboliza a
sensualidade, o prazer.
A cor preta: Representado pelos cabelos
de Branca de Neve, figuram o sofrimento,
mas também a coragem.
8. “Os contos de fadas preparam a
criança para aceitar aquilo que de
outro modo é um acontecimento
bastante perturbador: o sangramento
sexual, tal como ocorre na menstruação
e, posteriormente, na relação sexual,
quando o hímen é rompido”.
(Bettelheim, 2007, p.281).
9. O caçador, os anões e o rei (pai de Branca de
Neve): São as figuras masculinas que sempre
representam a proteção.
Maçã Envenenada: Representa o erotismo e o fim
da inocência e o começo da maturidade sexual
A madrasta: Representa a ambição, a inveja e a
vaidade.
O espelho mágico: O espelho representa a voz do
homem. Corso e Corso (2006), sobre o espelho,
interpretam: “A admiração do ser amado, de quem
normalmente exigimos que, como o espelho, diga
alto e claro o quanto nos aprecia, é o melhor
certificado de adequação a este olhar, pois significa
que alguém viu, gostou e desejou aquilo que somos”
10. A mulher vista como objeto:
“Então me ofereçam de presente, porque
não posso viver sem a visão de branca
de neve, e eu a honrarei e respeitarei
como se fosse meu tesouro mais valioso”
(GRIMM, 2005, p.40).
A preparação para o matrimônio
11. “desataram seu corpete, banharam-na
com água e vinho [...]”.
“O erotismo masculino é ativado pela
forma do corpo, pela beleza física, pelo
fascínio, pela capacidade de sedução”
(Alberoni, 1988, p.31).
O fato de uma mulher virginal morar
com sete homens.
12. “Canibalismo” cometido pala madrasta;
3 tentativas da madrasta de matar
Branca de Neve (fita, pente e maçã)
A forma como Branca de Neve acorda
após ter sido envenenada com a maçã.
Idade da Branca de Neve quando
encontra os anões.
O modo como a madrasta morre.
13. “Sapatos de ferro já haviam sido
aquecidos para ela sobre um fogo de
carvões. Foram levados com tenazes e
postos bem na sua frente. Ela teve de
calçar os sapatos de ferro
incandescentes e dançar com eles até
cair morta no chão.”
14. A mulher não tem competência de lutar
por si própria;
“[...] a ideia de que as mulheres só
podem ser salvas da miséria ou melhorar
de vida por meio da relação com um
homem. As meninas vão aprendendo,
então, a ter fantasias de salvamento,
em vez de desenvolver suas próprias
capacidades e talentos.” (LINS, 2013).
15. “A primeira coisa que deve ser dita é que,
provavelmente, a história da Branca de Neve
nasceu de uma princesa do século XVI,
chamada Margarete Von Waldeck, alemã. Ela
era uma moça famosa por sua beleza, e
possuía uma madrasta, Katharina von Hatzfeld.
O futuro Rei da Espanha, Felipe II, decidiu
então se casar com Margarete, mas antes de
conseguir sequer pensar no assunto,
Margarete morreu envenenada. Entretanto,
tirem seus cavalinhos da chuva: não, não foi a
madrasta quem assassinou Margarete. Não se
sabe bem ao certo como Margarete foi
envenenada”.
16. “ O relacionamento entre a moça e sua
madrasta não era dos melhores e quando
a adolescente foi exilada para Bruxelas,
aos 16 anos, ela se apaixonou por um
jovem príncipe, que mais tarde se tornaria
o Rei Felipe II da Espanha. Para evitar que
ela se tornasse rainha, o governo espanhol
e madrasta do príncipe teriam tramado o
seu assassinato. Ela morreu envenenada
aos 21 anos de idade, em 1554. Ou seja,
antes dos primeiros registros conhecidos da
história de Branca de Neve.”
17. “ Uma pesquisa sugere que a história seria baseada
na vida da nobre Maria Sophia Margaretha
Catharina von Erthal, nascida em 1729 no castelo de
Lohr, na Alemanha, que hoje abriga o Museu
Spessart. Sua mãe morreu durante um parto e seu
pai casou-se com outra mulher dois anos depois. A
moça e a madrasta tinham um péssimo
relacionamento e ela foi criada numa área da
Bavaria próxima às minas de cobre, nas quais
crianças trabalhavam – vítimas das péssimas
condições, tinham seu desenvolvimento físico
prejudicado e eram chamadas de anãs. Acredita-se
que sua rota de fuga tenha sido de 35 quilômetros
por meio da cadeia de montanhas de Spessart, uma
das maiores áreas de floresta da Alemanha.”
18. Super Mario: Princess Snow White (2008)
Branca de Neve e os Três Patetas (1961)
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25. No folclore escocês, tem-se a história de uma rainha que pergunta
a uma truta em um poço se ela é a mulher mais bela que existe. A
resposta sempre foi positiva, até que sua filha atinge a idade
adulta. O peixe, então, diz que a garota tornou-se a mais bonita
entre todas e a rainha, doente de inveja, exige do rei o assassinato
da menina.
Na Armênia, um conto popular também fala de uma mãe
preocupada com a beleza, mas ela conversa com a lua. Na versão
grega, é o sol que faz o papel do espelho mágico.
Na Rússia, há um poema, publicado em 1833, de uma princesa
morta e seus sete cavaleiros.
Em uma versão albanesa de 1864, a princesa vive com 40 dragões
(ao invés de anões) e tem o sono causado por um anel.
Provavelmente, o registro mais antigo do conto tenha sido
realizado pelo italiano Giambattista Basile, no século 17, o que
sugere que a aventura da personagem já era narrada durante a
Idade Média. No livro “IlPentamerone”, Basile conta a história de “A
Jovem Escrava”, que traz diversos pontos em comum com a lenda
de “Branca de Neve”.
26. Branca de Neve e as 7 versões:
www.youtube.com/watch?v=Z0Np19wE
7Qg
27. Os contos de fadas são essenciais para leitores mirins, e devem
compor o acervo de livros das crianças, pois, além de divertir,
ajuda as crianças em seus problemas, ensinam a enfrentar seus
medos, tornam-nas mais criativas em propor soluções. Ao fazer uma
análise mais detalhada do conto da Branca de Neve, vimos que
diversos são os aspectos de violência, de sexualidade e de
obscuridade, contudo, a criança até uma determinada idade não
enxerga isso nos contos, descobrindo apenas se contarmos para
elas. Logo, aos contadores de histórias (pais, bibliotecários,
professores, etc), ao contarem histórias para crianças devem ter
cautela nas partes que costuma dar ênfase e o porque disso. Os
contos para as crianças devem ter esse objetivo de ajudá-las e
vencer seus obstáculos e saírem-se vitoriosas, e de também ensinar
bons valores, tais como amizade, honestidade e companheirismo,
contudo, não apenas falar, os pais e educadores devem também
(e principalmente) ouvir a criança: de qual história ela gostou, qual
não gostou, porque disso, qual parte lhe chamou mais a atenção,
entre outros, fazendo-as desenvolver suas capacidades de
percepção e crítica.
28. Uma análise mais detalhada será feita depois de certa idade, é
preciso saber respeitar o desenvolvimento de cada um, de acordo
com sua capacidade cognitiva, faixa etária e experiências de
vida.
Vimos que há diversas versões da Branca de Neve, tanto para livros
e poemas quanto para filmes e séries, sendo que os filmes mais
modernos tratam a mulher com um ser astuto, independente, forte,
e não alguém frágil que precisa de proteção masculina o tempo
todo, isso é um aspecto importante, e importante também que as
crianças e jovens tenham contato com essas versões, e não
apenas com as mais antigas, tipo a da Disney, contudo, não se
deve nunca censurar um livro ou filme por tratar ou deixar de tratar
de certas questões, como já dito, a criança fará associações com
o tempo, enquanto isso, é preciso que ela tenha um contato rico e
variado com a literatura e com o cinema. Contudo, ao escolher
livros para as crianças, deve-se evitar livros muito curtos, com frases
muito breves, com muitas repetições e termos no diminutivo. Deve-
se, ao contrário, estimular e dar valor a capacidade de senso
crítico das crianças, escolhendo versões com linguagem mais rica e
detalhada.
29. BRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: Gostosuras e Bobices. São Paulo: Scipione, 2002
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Rocco, 1988.
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