Este documento discute a ética das virtudes segundo Aristóteles. Aristóteles acreditava que a felicidade era o objetivo da vida e que as virtudes eram o caminho para alcançá-la, formando o homem em sua ação. O documento também discute outros filósofos e suas perspectivas sobre virtude.
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A ÉTICA DAS VIRTUDES
Paulo Luccas
paulo.luccas@consultoriafocus.com.br
Resumo
Aristóteles reconhece na felicidade o objetivo da vida, e na virtude o caminho
para alcançá-la. São as virtudes que formam o homem na sua ação atualizando
sua potencialidade natural. A Ética das Virtudes se mostra assim, como um
caminho privilegiado para a realização pessoal.
Uma definição clássica do homem é a de que ele é um ser que esquece. Não por
uma deficiência da faculdade da memória, mas pela submissão às pressões externas do
meio e internas das paixões. Superar esta submissão parece exigir mais do que técnica,
mais do que ciência racionalista, exige pensar, filosofar.
A ciência quer decompor o todo em partes, o organismo em
órgãos, o obscuro em conhecido. Ela não procura conhecer os
valores e as possibilidades ideais das coisas, nem o seu significado
total e final; contenta-se em mostrar a sua realidade e sua
operação atuais, reduz resolutamente o seu foco, concentrando-o
na natureza e no processo das coisas tais como são. (...) A ciência
nos dá o conhecimento, mas só a filosofia pode nos dar a
sabedoria. (DURANT, 2000, p. 26-27).
O homem só é pleno em unidade. Não pode ser ele feliz no trabalho
desprezando sua saúde física ou o seu ambiente familiar. Existem princípios que regem
sua formação e sua conduta os quais se não forem respeitados põem a perder tudo o
que constrói. O homem precisa conduzir-se de acordo com o bem elevado, com
sabedoria, com ética. E como é um ser que esquece, precisa ouvir para poder refletir e
escolher o melhor bem.
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Aristóteles é um desses a quem se deve ouvir. Como discípulo de Platão herda
também a maiêutica de Sócrates, o método de questionar, de fazer pensar. Como seus
mestres, ama a filosofia e através dela busca a felicidade. Reconhece que o objetivo da
vida não é a bondade pela bondade, mas a felicidade. Em busca desta felicidade
desenvolve o caminho das virtudes, ou da excelência, entendendo-a como o justo meio
entre duas tendências. Este justo meio não é uma média matemática, mas algo que só
se revela à razão madura e flexível.
A excelência é uma arte obtida com o treinamento e o hábito: não
agimos corretamente porque temos virtude ou excelência, mas a
temos porque agimos corretamente; essas virtudes se formam no
homem enquanto ele vai agindo, nós somos aquilo que fazemos
repetidas vezes. A excelência, então, não é um ato, mas um
hábito: o bem do homem é a alma trabalhar no caminho da
excelência uma vida inteira. (DURANT, 2000, p. 91).
O pensamento grego tem claro que as paixões não representam vícios em si,
mas constituem a matéria prima tanto para as virtudes como para os vícios. Isto
reforça o pensamento socrático de entender a virtude como conhecimento, ou platônico
de reconhecer a virtude como uma ação harmoniosa.
Também importante é a noção que Aristóteles tem do ser ao considerá-lo não
apenas por aquilo que já existe, mas também por aquilo que pode vir a ser, a
virtualidade, a potência. A passagem da potência ao ato é o que irá constituir segundo
Aristóteles, o movimento. Todo movimento constitui a atualização da potência de um
ser que somente ocorre pela atuação de um ser já em ato. Cada ser atualiza suas
virtualidades devido à ação de outro ser que, possuindo-as em ato, funciona como
motor daquela transformação. Entende em sua construção lógica que não pode o mais
vir do menos, ou o superior do inferior. Em conseqüência defende a existência de uma
unidade harmoniosa a reger todo o universo hierarquizando suas ações.
Concebe, então, todo o universo como regido pela finalidade e
torna os vários movimentos (atualizações das virtualidades de
diferentes naturezas) interdependentes, sem fundi-los, todavia, na
continuidade de um único fluxo universal. Haveria uma ação
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encadeada e hierarquizada dos vários motores, o mais atualizado
movimentando o menos atualizado. (ARISTÓTELES, 1996, p. 20).
Neste encadeamento de motores mais atualizados haveria um primeiro motor, o
que daria origem aos demais, ato puro, a quem Aristóteles chama de Deus. É a causa
final de todos os seres, incorpóreo e auto-contemplativo. Estas relações metafísicas:
matéria-forma, potência-ato, comandam a explicação aristotélica do homem,
correspondendo ao objetivo primordial da investigação ética o de descobrir a causa
verdadeira da existência humana. Num universo regido pela finalidade, a causa é a
procura do bem ou da felicidade que a alma alcança apenas quando exerce as
atividades que lhe permitam a plena realização.
O pensamento grego a respeito de virtude, potência e realização, não são
exclusivos na filosofia humana. Outras culturas desenvolvem esta percepção e
pensamento.
Na filosofia chinesa, a palavra que designa virtude (Te, em chinês)
é por vezes traduzida como potência. Trata-se de uma imagem
adequada, pois uma virtude é uma forma de poder. É o potencial
de uma pessoa. É aquilo que permite que nos tornemos quem de
fato somos. Mas quem somos depende dos papéis que
desempenhamos na vida, e as maiores virtudes são as que nos
ajudam ao longo do caminho (Tão, em chinês). (SOLOMON, 2000,
p. 111).
Para Josef Pieper (2001, p. 15): “A virtude é em termos gerais a elevação do ser
na pessoa humana. (...) É o máximo a que pode aspirar o homem, ou seja, a realização
das possibilidades humanas no aspecto natural e sobrenatural. O homem virtuoso é
aquele que realiza o bem obedecendo às suas inclinações mais íntimas.” A concepção
de Pieper destaca em referência a Tomás de Aquino a inclinação do homem ao bem
elevado, a sua última potência, e a capacidade de realizá-la.
Para Abbagnano (2000, p.1003), o termo virtude “designa uma capacidade
qualquer ou excelência, seja qual for a coisa ou o ser a que pertença.” Enquanto
capacidade de realizar uma tarefa é um conceito platônico, e como hábito ou disposição
racional constante para realizar algo é um conceito aristotélico, sendo este o mais
difundido na ética clássica.
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Para Tanquerey (1996, p. 531), “virtude são hábitos bons, adquiridos pela
freqüente repetição de atos, que fazem mais fácil a prática do bem honesto.” No
conceito de Tanquerey, a influência aristotélica é patente. É a prática de atos bons que
leva à virtude, e esta prática livremente desejada proporciona facilidade de atuação, ou
seja, há um efeito positivo que estimula a se buscar mais, a se fazer melhor. Não pode,
portanto, limitar-se a um ato isolado, um vencimento momentâneo, que por mais
elevado e heróico que seja, não cria a disposição constante, marca própria da virtude.
Seja pela capacidade platônica de Pieper, ou pela prática aristotélica de
Tanquerey, a virtude apresenta-se como um bem que deve ser buscado pelo
esclarecimento racional e imposto pelo querer decidido do homem na atualização de si
mesmo, onde suas faculdades mais elevadas da inteligência e vontade atuam em
sintonia para realizar o seu próprio bem.
A aquisição desses hábitos bons é uma decisão que propõe a luta por uma vida,
e por isso é importante conhecer quais dessas virtudes são fundamentais para
sustentar o desenvolvimento humano.
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
DURANT, W. A história da filosofia. São Paulo: Nova Cultural, 2000.
PIEPER, J. Las virtudes fundamentales. 7. ed. Madri: Rialp, 2001.
SOLOMON, R. C. A melhor maneira de fazer negócios. São Paulo: Negócio, 2000
TANQUEREY, A. Compendio de teologia ascética e mística. 2. ed. Madri: Palabra,
1996.