Delimitação da letra na análise semiótica de canções
1. A delimitação das letras nas
análises semióticas de
canções
Carlos Vinicius Veneziani dos Santos
2. Apresentação do trabalho de doutorado
Linha geral de pesquisa
Tema
Seleção das canções
Principais conclusões
Questões trazidas pela banca
Questões a desenvolver
3. Princípios da semiótica da canção
Letra, música e fala
Relação entre esses elementos é o que dá sentido à canção
Canção popular difere da ópera e de outras linguagens musicais
Modelos de compatibilidade entre letra e melodia
Figuras de locução na canção
7. Canção e fonograma
Canção é o recorte entoativo e melódico de uma letra produzindo sentido
(virtual).
Esse recorte só é possível dentro de um arranjo.
A canção é sempre, portanto, letra, música e arranjo (atualizada).
Cada atualização de uma canção registrada por meios de gravação é um
fonograma.
8. Exemplos
“Chão de estrelas” - Silvio Caldas / Mutantes
“Despejo na favela” - Adoniran / Edson Cordeiro
“Sabiá” - Chico / MPB4
“My way” - Elvis / Sex Pistols
9. Análise do fonograma
Fonograma é um texto, portanto possui uma delimitação física, e é um todo de
sentido (Fiorin).
Cada elemento do fonograma produz sentido para o todo.
Portanto, analisar fonogramas é analisar as canções em sua realização
concreta.
Análise do fonograma é mais detalhista, mais ampla, mas não perde de vista a
canção virtual.
10. Enunciadores do fonograma
Enunciador é uma instância pressuposta pelo enunciado.
Se algo é cantado, há obviamente um cantor (intérprete).
Mas ele não é o único responsável pela existência da canção.
Há ainda o compositor, os vocalistas de apoio, os instrumentistas, o
arranjador, o editor, o produtor.
“Quero ver você feliz” - Paulo Sérgio.
11. Componente linguístico do fonograma
As canções têm como característica a presença da voz e do plano verbal.
Tudo o que está no fonograma tem de ser levado em conta na produção do
sentido.
Dessa forma, todos os elementos do plano verbal devem fazer parte, por esse
raciocínio, da letra da canção naquele fonograma específico.
Nem sempre o plano verbal é melodizado musicalmente.
“A vida do viajante” - Gonzaguinha e Gonzagão
12. Partes faladas das canções
Recursos do plano da expressão: altura, intensidade, duração, timbre,
densidade.
Recursos são mais ou menos explorados conforme intenções expressivas dos
enunciadores.
Em geral, cancionistas produzem canções com maior ou menor
figurativização.
13. Falas inseridas
Em muitas canções, são adicionados segmentos falados de conteúdo.
Esses segmentos complementam o sentido da letra cantada.
Há falas que são tão eficientes como complementação que acabam se
tornando parte indissociável dos conteúdos.
“Gita” - Raul Seixas / “Aquele abraço” - Gilberto Gil / “O calhambeque” - Roberto
Carlos
14. Falas calculadas/sampleadas
Não é verdade que uma fala não melodizada na canção esteja totalmente
isenta dos parâmetros de musicalização.
A fala, muitas vezes, precisa “encaixar” no tempo da melodia, para gerar a
continuidade de sentido.
“A dois passos do paraíso” - Blitz
15. Falas declamadas
As falas declamadas, além da duração condizente com a estrutura do arranjo,
precisam ser realizadas em um ritmo determinado.
A declamação é diferente da entoação coloquial não empostada.
Declamação tende a respeitar o recorte em versos, próprio para leitura.
“Amor, I love you” - Marisa Monte
“Eu sei que vou te amar” - Vinicius de Moraes, Toquinho, Maria Creusa
16. Canto sem precisão melódica, mas com
ritmo
No rap, o cantor não está fazendo uso da fala coloquial natural. Ninguém fala
da forma como ele canta.
O rapper muitas vezes não explora melodicamente os parâmetros de altura em
seu canto, mas ele está cantando, sem dúvida.
Dentro de muitos raps, há partes faladas, distintas das cantadas.
“Retrato de um playboy” - Gabriel, o Pensador
17. Canto sem letra em língua de sugestões
Alguma letras de canção são escritas ou redigidas em línguas ou códigos que
não permitem ao ouvinte identificar o conteúdo ao qual elas remetem.
O grupo islandês Sigur Rós compõe canções em Vonlenska, um dialeto próprio,
baseado no islandês, no qual as palavras não possuem conteúdo denotativo,
assemelhando-se a entoações vocalizadas de sugestões sonoras.
Álbum () - Sigur Rós
18. Afinal, como delimitar a letra da canção?
Hipóteses de trabalho:
1)Todo componente linguístico dentro do fonograma deve ser considerado
como letra da canção para aquele fonograma.
“Tu és o MDC da minha vida” - Raul Seixas
19. Afinal, como delimitar a letra da canção?
2) A letra da canção não pode ser definida pelo encarte do portador de texto.
“Tropicália” - Caetano Veloso
3) A letra da canção não pode ser segmentada da mesma forma que um
poema, em sua transcrição.
“Cabeça” - Walter Franco
20. Afinal, como delimitar a letra da canção?
4) A letra da canção não depende da gramaticalidade ou pertinência de sentido
no plano verbal.
“Sigur Rós” - Varud
5) A letra da canção pode receber acréscimos do intérprete, do público, do
editor.
“Pintura íntima” - Kid Abelha / “Anjo” - 509E
21. Afinal, como delimitar a letra da canção?
6) A letra da canção precisa ser transcrita e recuperada pelo analista do
fonograma.
7) A letra da canção depende da história de assimilação da canção, ou seja, da
comparação de muitos fonogramas.
8) A letra da canção pode ser atualizada historicamente.
“No rancho fundo”