O documento discute os princípios e características do Simbolismo, movimento literário que surgiu na França no final do século XIX. Apresenta os principais autores simbolistas e analisa a obra de Baudelaire, poeta considerado precursor deste movimento que procurava expressar ideias através de símbolos e imagens em vez de descrições diretas.
2. Princípios do Simbolismo
◦ Rudimento de vínculo natural entre significante e significado.
◦ Psicanálise considera símbolos instrumento de defesa do consciente.
◦ Símbolos muito presentes na religião e na magia.
◦ Na literatura, metáforas, imagens, analogias, expressão figurativa de ideias e sentimentos.
◦ Simbolismo surge na França.
◦ Duas últimas décadas do século XIX.
◦ Belle époque, literatura de cafés e boulevards.
◦ Nova proposta estética, baseada em valores espirituais. Crise do complexo cultural positivista.
◦ “Vestir a ideia com uma forma sensível”.
◦ Gosto pelo mistério. Captar a realidade secreta do Universo.
3. Características
◦ Metáforas sinestéticas na observação da natureza.
◦ Recuperação de princípios da estética romântica.
◦ São considerados precursores: Swedenborg (ideológico); Hoffman, Poe e Baudelaire (literários).
◦ Soneto “Correspondance”, de Baudelaire, foi tomado como poema-manifesto.
◦ Principais nomes: Mallarmé, Verlaine, Rimbaud, Valéry, na França.
◦ Yeats, na Irlanda. D’Annunzio, na Itália.
◦ Antonio Nobre e Camilo Pessanha, em Portugal.
◦ Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimaraens, no Brasil.
4. Carpeaux
◦ 1886, Jean Moréas. Manifesto como ponto culminante.
◦ Simbolismo surge como reação ao Naturalismo e produz uma poesia nova.
◦ Musicalidade do verso.
◦ Preciosismo da expressão.
◦ Sincretismo religioso.
◦ Evasão da realidade comum.
◦ Arte pela arte.
◦ Conhecidos como poetas da decadência, posteriormente foram censurados nesse aspecto.
◦ Princípios do Simbolismo chocavam-se contra mentalidade do Liberalismo (antorracionalismo).
◦ Forte herança na história da Literatura; segundo Carpeaux, base de toda a poesia posterior.
5. Baudelaire
◦ Imagem de Baudelaire se transfigura no decorrer dos anos.
◦ Para alguns, um pós-romântico degenerado no conteúdo.
◦ Repudiado pelos parnasianos como exagerado e perverso.
◦ Assimilado e admirado pelos simbolistas.
◦ Poeta associado ao pecado, mas como condição terrestre da alma. Aspectos dantescos.
◦ Angústia do pecador, alma perdida no abismo romântico.
◦ Segundo Carpeaux, conteúdo romântico em forma clássica.
◦ Personalidade literária das mais complexas.
◦ Três imagens: romântico desesperado, boêmio perverso, pecador arrependido.
6. Baudelaire literário
◦ Apelo ao feio e ao patológico.
◦ Poesia consciente, substitui a religião perdida.
◦ Chegou a criar uma religião própria, um tipo de gnosticismo.
◦ Práticas satanistas e crença no diabo. Pessimismo infernal.
◦ Primeiro grande poeta da cidade moderna, capaz de transformar tudo em poesia, inclusive temas
considerados menos elevados.
◦ Libertador e ampliador da estética poética.
◦ Exclusão de elementos narrativos, didáticos e de eloquência; fundamentação da poesia moderna.
◦ Romantismo íntimo e de descoberta, incompatível com o romantismo grandiloquente ou sentimental.
◦ “Não deforma para assustar, mas está assustado”.
7. Assimilação
◦ Nega a idealização do amor, a bondade dos homens e a fé no progresso.
◦ Oposição sistemática gerou equívocos a seu respeito.
◦ Boêmio de sarcasmo mordaz e frieza sublime.
◦ Espelho puro de um mundo extramundano.
◦ Poeta da má consciência da burguesia e da decomposição prevista do próprio mundo.
◦ Reação ao utilitarismo e ao determinismo biológico e econômico.
◦ Decadência da mentalidade burguesa reforçou importância histórica de Baudelaire.
◦ Poeta do tempo em que o liberalismo econômico e o determinismo científico da burguesia acabaram com a
autonomia do espírito.
8. Auerbach
◦ “Ele é autêntico, e concebe seus objetos de maneira grandiosas; sua poesia é de estilo elevado. Mas
mesmo entre aqueles cujas intenções eram semelhantes, ele é um caso extremo; distingue-se até
mesmo de Rimbaud por sua estagnação interior, sua falta de desenvolvimento. Ele foi o primeiro a
tratar como sublimes certos assuntos que pareciam por natureza inadequados a tal tratamento. O
spleen de nosso poema é desespero sem remédio, não se deixa reduzir a causas concretas ou aliviar
de alguma maneira. Uma pessoa vulgar poderia ridicularizá-lo; um moralista ou um médico
poderiam sugerir várias maneiras de curá-lo. Mas com Baudelaire seus esforços seriam inúteis. Ele
cantou em estilo elevado a ansiedade paralisante, o pânico diante do emaranhado sem esperança
de nossas vidas, o colapso total – um empreendimento altamente honroso, mas também uma
negação da vida” (p. 310-311).
9. Auerbach II
◦ Só nos resta concluir que todos os poemas de As flores do mal que lidam com
temas eróticos estão impregnados da mesa desarmonia estridente e dolorosa que
tentamos descrever – ou então são visões nas quais o poeta luta para conjurar o
torpor, o esquecimento, o absoluto au-delá. Quase em toda parte encontramos
degradação e humilhação. Não apenas o sujeito do desejo torna-se um escravo,
consciente mas sem vontade; também o objeto do desejo é deprovido de
humanidade e dignidade, insensível, tornado cruel por seu poder e pelo tédio,
estéril, destrutivo” (p. 320).
10. Auerbach III
◦O poder visionários de tais combinações exerceu uma
influência crucial na poesia posterior; parecem ser a mais
autêntica expressão tanto da anarquia interior da época
quanto de uma nova ordemainda encoberta que começava a
surgir. Num estilo inteiramente novo e consumado, este
poeta, cujo caráter e cuja vida foram tão singulares, expressou
a existência desnuda e concreta de toda uma época”(p. 330).
11. Benjamin
◦ Quanto maior é a participação do fator choque em cada uma das impressões, tanto mais constante
deve ser a presença do consciente no interesse em proteger contra os estímulos; quanto maior for
o êxito com que ele operar, tanto menos essas impressões serão incorporadas à experiência, e
tanto mais corresponderão ao conceito de vivência. Afinal, talvez seja possível ver o desempenho
característico da resistência ao choque na sua função de indicar ao acontecimento, às custas da
integridade de seu conteúdo, uma posição cronológica exata na consciência. Este seria o
desempenho máximo da reflexão, que faria do incidente uma vivência. Se não houvesse reflexão, o
sobressalto agradável ou (na maioria das vezes) desagradável produzir-se-ia invariavelmente,
sobressalto que, segundo Freud, sanciona a falha de resistência ao choque. Baudelaire fixou esta
constatação na imagem crua de um duelo, em que o artista, antes de ser vencido, lança um grito de
susto. Este duelo é o próprio processo da criação. Assim, Baudelaire inseriu a experiência do
choque no âmago de seu trabalho artístico” (p. 111).
12. Baudelaire
◦ A Modernidade é o transitório, o efêmero, o contingente, é a metade da arte,
sendo a outra metade o eterno e o imutável. Houve uma modernidade para cada
pintor antigo: a maior parte dos belos retratos que nos provêm das épocas
passadas está revestida de costumes da própria época. São perfeitamente
harmoniosos; assim, a indumentária, o penteado e mesmo o gesto, o olhar e o
sorriso (cada época tem seu porte, seu olhar e seu sorriso) formam um todo de
completa vitalidade. Não temos o direito de desprezar ou de prescindir desse
elemento transitório, fugidio, cujas metamorfoses são tão frequentes. Suprimindo-
os, caímos forçosamente no vazia de uma beleza abstrata e indefinível, como a da
única mulher antes do primeiro pecado” (p. 25-26).