REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 - Artigo_Bioterra_V24_...
Estudo da casca de Hura crepitans
1. REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228
Volume 17 - Número 2 - 2º Semestre 2017
Estudo fitoquímico, físico-químico e ensaio toxicológico das cascas do
Hura crepitans
Sarah Karoline de Oliveira Almeida1
, Sheylla Susan Moreira da Silva Almeida2*
RESUMO
Hura crepitans pertence à família Euphorbiaceae. Sua casca é descrita como anti-inflamatório e
cicatrizante. A metodologia utilizada para a determinação dos metabólitos secundários foi descrita
por pela Farmacopéia Brasileira e Macêdo. A análise de toxicidade frente à Artemia salina L.
seguiu a metodologia de Araujo e Lobo. A análise fitoquímica do extrato bruto etanólico das cascas
detectou saponinas, que apresenta a cicatrização de feridas e atividade anti-inflamatória; alcaloides,
que atua como anti-hipertensivos, antitumorais, estimulantes do SNC e açúcares redutores. Os
parâmetros físico-químicos de resíduos por incineração e umidade foram realizadas de acordo com
Instituto Adolf Lutz e Farmacopéia Brasileira. H. crepitans mostrau um resultado de umidade de
12,75 ± 0,12%, mostrando que o material está protegido do ataque por microorganismos e ação
enzimática. A determinação de cinzas totais correspondeu a 6,93% encontrando-se dentro dos
padrões farmacognóstica. O ensaio de toxicidade em relação à A. salina é considerada uma das
ferramentas mais utilizadas para a avaliação preliminar de toxicidade. Este bioensaio foram testadas
em triplicado, utilizando sete concentrações de extrato diferentes (1, 10, 100, 250, 500, 1000 e 1250
µg/mL). A análise resultou em CL 50> 1µg/mL corroborando a descrição da planta venenosa.
Palavras-chave: Hura crepitans. Metabólitos secundários. Artemia salina. Físico-Química.
ABSTRACT
Hura crepitans belongs to Euphorbiaceae Family. The barks is describe like anti-inflammatory and
healing. To determinate the secondary metabolites was described by Farmacopéia Brasileira and
Macêdo. The toxicological analysis to Artemia salina L. followed according Araújo and Lobo. The
phytochemical analysis of the ethanolic crude extract of the barks detected saponins, that presents
wound healing and anti-inflammatory activity; alkaloid, that presents a wide acts as
antihypertensive, anti-cancer, CNS and reducing sugars. The physicochemical parameters of waste
by incineration and humidity were realized according Institute Adolf Lutz and Brazilian
Pharmacopoeia. H. crepitans showed a result in 12.75% ± 0.12, showing that the material is
protected from attack by microorganisms and enzymatic action. The determination of total ash
corresponded to 6.93% lying within the pharmacognostical standards. The toxicity test in relation to
A. salina is considered one of the most used tools for preliminary evaluation of toxicity. This
bioassay were tested in triplicate using seven different concentrations (1, 10, 100, 250, 500, 1000 e
1250 µg/mL). The analysis resulted in CL 50 > 1 µg/mL corroborating the description of poisonous
plant.
Keywords: Hura crepitans. Secondary metabolites. Artemia salina. Physical Chemistry.
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2. INTRODUÇÃO
Atualmente, há uma forte tendência à
busca de novos agentes terapêuticos,
especialmente aqueles de plantas, porque eles
têm uma grande variedade de substâncias
bioativas com potencial antimicrobiano e tem
sido usada para tratar doenças de diversas
origens, incluindo a origem
infecciosa viral. Uma das famílias de plantas
mais estudada é Euphorbiaceae, que inclui
8.000 espécies, muitas das quais têm sido úteis
para o tratamento de várias doenças, pois
vários estudos têm-se centrado na avaliação
dos seus efeitos, demonstrando o seu potencial
antitumoral, antiviral, antibacteriana e
antioxidante (TABORDA, 2007).
As plantas pertencentes à família
Euphorbiaceae possuem hábito bastante
variado, desde ervas, subarbustos, árvores, até
trepadeiras, algumas vezes suculentas, com
folhas inteiras ou partidas, em geral com
estípulas, latescentes ou não. Muitas espécies
da família Euphorbiaceae são tóxicas e vêm
causando muitos casos de intoxicações em
humanos em várias partes do mundo
(OLIVEIRA et al., 2007).
A espécie Hura crepitans é
característica da Amazônia, pertencente a esta
família, é popularmente conhecido como
assacú ou árvore-do-diabo (LORENZI, 2008).
Esta árvore de grande porte é descrita
como tóxica devido ao seu látex apresentar
toxialbuminas, causando reações alérgicas,
conjuntivite, dor no sistema digestório,
queimação na boca e faringe (BANG, 2004).
No entanto, o uso de sua casca é referido como
antiinflamatório odontológico e cicatrizante
(VIEIRA, 2014).
Os metabólitos secundários compõem
uma rica e diversa classe de compostos que se
destinam a dar propriedades ou atividades
funcionais de uma dada planta. Porém, a
qualidade da matéria vegetal não garante por si
só a eficácia e segurança do produto final, pois
a análise fotoquímica rege-se de testes
qualitativos para detecção de classes de
metabolitos, dessa forma a análise físico-
química associada com a farmacológica,
garante em parte a eficácia por meio de
ensaios pré-clínicos e clínicos dos efeitos
preconizados (SIMÕES et al., 2003). Fatores
como sazonalidade, ritmo circadiano e
desenvolvimento podem influenciar no
conteúdo de metabólitos secundários. A época
em que a droga é coletada é um dos fatores de
maior importância, visto que a quantidade e, às
vezes, até mesmo a natureza dos constituintes
ativos, não é constante durante o ano. Estudos
demonstram que composição de metabólitos
pode variar apreciavelmente durante o ciclo
dia/noite (NETO et al., 2006).
O teste de toxicidade contra a Artemia
salina é considerado uma das ferramentas mais
utilizadas para avaliação preliminar de
toxicidade (AMARANTE et al., 2011).
Determina a Concentração Letal 50% em um
meio salino de componentes ativos e extrato.
Sendo assim, objetivo desta pesquisa foi
avaliar o perfil fitoquímico, físico-químico da
espécie vegetal e a toxicidade do extrato bruto
etanólico do Hura crepitans frente às larvas de
Artemia salina L.
MATERIAL E MÉTODOS
Coleta e identificação do material vegetal
O material vegetal foi coletado no Pólo
da Fazendinha, distrito da cidade de Macapá,
no mês de maio do ano de 2012.
Obtenção dos extratos
As cascas do Hura crepitans foram
inicialmente secas em estufa de circulação de
ar, em seguida, trituradas em moinho de facas.
Os fragmentos foram submetidas a um
processo de extração etanólica a quente sob
refluxo, 45 min. a 45ºC, repetindo 3 vezes o
processo com o mesmo material. O material
foi filtrado e o extrato etanólico obtido foi
concentrado em rotaevaporador sob pressão
reduzida obtendo-se assim, o extrato bruto
etanólico.
Análises físico-químicas
Os parâmetros físico-químicos
realizados nesta pesquisa foram: Resíduos por
Incineração (Cinzas) e Umidade. E realizados
segundo normas no Instituto Adolf Lutz
(2008) e Farmacopéia Brasileira (2010).
Estudo fitoquímico e preparo da amostra
para teste toxicológico
A realização do screening fitoquímico
do extrato bruto obtido seguiu a metodologia
descrita por Farmacopeia Brasileira (2010) e
Macêdo (2005), para ácidos orgânicos,
açúcares redutores, saponinas espumídicas,
flavonoides, alcaloides, polissacarídeos, fenóis
3. e taninos, esteroides e triterpenoides, e
depsídeos e depsidonas .
A análise de toxicidade frente à
Artemia salina L. seguiu a metodologia de
Araujo et al. (2010) e Lobo et al. (2010) com
algumas modificações. Primeiramente, foram
preparadas 250 mL da solução sal marinho
sintético (35,5 g/L) para incubação de 25 mg
de cistos de A. salina, no qual foram expostas
a luz artificial em período de 24 h para eclosão
das lavas (náupios), em seguida os náupios
foram separados e colocados em ambiente
escuro por período de 24h. A solução mãe foi
preparada contendo 62,5 mg do extrato bruto
das cascas do caule, adicionados 28 mL da
solução de sal marinho sintético e 2 mL de
dimetilsufóxido (DMSO) para facilitar a
solubilização do mesmo.
Após um período de 24h houve
obtenção dos metanáupios, onde foram
selecionados e divididos 7 grupos com 10
indivíduos em cada tubo de ensaio, e cada
grupo foi adicionada com alíquota retirada da
solução mãe (3000µL a 100 µL) no qual o
volume completado para 5 mL com a solução
de sal marinho sintético, na qual as soluções
finais apresentaram as seguintes concentrações
variando de 1250 µg/mL a 1 µg/mL, dessa
forma os grupos foram designados de acordo
com sua respectiva concentração e os testes
foram realizados em triplicatas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A triagem fitoquímica preliminar do
extrato etanólico das cascas do Hura crepitans
indicou a presença dos seguintes metabólitos
secundários: açúcares redutores, saponinas e
alcalóides. Os resultados podem ser
visualizados na Tabela 1.
Tabela 1: Análise fitoquímica preliminar no extrato
bruto etanólico das cascas de Hura crepitans
Classe de Metabolito Resultado
Saponinas +
Ácidos Orgânicos -
Açúcares Redutores +
Polissacarídeos -
Taninos -
Flavonoides -
Alcaloides +
Purinas -
Esteroides e Triterpenoides -
Depsídios e Depsidonas -
As saponinas apresentam no sistema
imunológico processo de cicatrização e ação
antiinflamatória (RODRIGUES, 2010).
Também são tradicionalmente usadas como
expectorantes e diuréticos, todavia os
mecanismos ainda não são totalmente
conhecidos e outro emprego é ajudando no
aumento da absorção de medicamentos e
resposta imunológica (CASTEJON, 2011).
Os alcaloides possuem ampla atividade
biológica: atua como repelente de herbívoros,
anti-hipertensivo, antitumorais, estimulante do
SNC, tratamento do mal de Alzheimer dentre
muitos outros (SIMÕES et al., 2010). E estão
entre os produtos naturais citotóxicos usados
no tratamento de neoplasias. O qual tem ação
sobre a inibição do fuso mitótico, ligando-se a
proteínas microtubulares e assim
interrompendo divisão celular da metáfase
(ALMEIDA, 2005).
Os açúcares redutores apresentam
importância, mencionada na literatura, para
indústria alimentícia, não apresentando
relevância na atividade farmacológica.
Segundo Simões et al., 2003 apud
Hubinger et al., 2009 o limite máximo
recomendado de umidade para drogas vegetais
é de 14%. Assim, o Hura crepitans apresentou
resultado inferior ao considerado satisfatório,
pois seu pó resultou em 12,75% 0,12.
Demonstrando que o material apresenta
proteção contra ataques por microorganismos
e ações enzimáticas que modificam
propriedades naturais.
A determinação do teor de cinzas totais
de um vegetal constitui um ensaio de pureza
para verificar impurezas inorgânicas não-
voláteis (SOUZA, 2003). E os resíduos por
incineração (cinzas) da espécie correspondeu a
6,93%, encontrando-se dentro dos padrões
farmacognóstico, apresentando
comportamento de materiais inorgânicos não
voláteis. Os resultados das análises físico-
químicas encontram-se descritas na Tabela 2.
Tabela 2: Caracterização físico-química das cascas do
caule de Hura crepitans
Parâmetros Resultados
Umidade (% m/m) 12,75%
Cinzas (% m/m) 6,93%,
O teste preliminar de toxicidade contra
Artemia salina é determina a Concentração
4. Letal 50% em um meio salino de componentes
ativos e deis destas apresentaram alta
toxicidade. A análise resultou em CL50 > 1
µg/mL corroborando a descrição de planta
venenosa. A presença de saponinas pode estar
relacionada com essa atividade, pois o
comportamento anfifílico e a capacidade e
formar complexos com esteroides, proteínas e
fosfolipídeos de membranas determinam
alteração de sua permeabilidade e causando
sua destruição (SIMÕES, 2010).
CONCLUSÃO
Os resultados são significativos, visto
que na análise fitoquímica o Hura crepitans
apresentou dois metabólitos secundários
importantes: saponinas e alcaloides.
Necessitando de testes farmacológicos mais
aprofundados, pois estes metabólitos podem
tornar o Hura crepitans um possível agente
antitumoral e antiinflamatório.
O bioensaio toxicólogico constatou que
o material vegetal é tóxico, no entanto em
concentrações < 1 µg/Ml o extrato não é letal.
O que possibilita a utilização do composto
como possível fármaco. E os testes físico-
químicos preliminares caracterizam a matéria
prima de alta qualidade farmacológica.
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_____________________________________
1
Acadêmica do Curso de Farmácia.
Departamento de Ciências da Saúde. Curso de
Farmácia. Laboratório de Farmacognosia e
Fitoquímica – Universidade Federal do Amapá
– Rodovia Juscelino Kubistchek, KM-02.
Jardim Marco Zero – 68.902-280 – Macapá-
AP, Brasil.
2
Doutora em Química de Produtos Naturais.
Departamento de Ciências da Saúde. Curso de
Farmácia. Laboratório de Farmacognosia e
Fitoquímica – Universidade Federal do Amapá
– Rodovia Juscelino Kubistchek, KM-02.
Jardim Marco Zero – 68.902-280 – Macapá-
AP, Brasil. E-mail:
sheyllasusan@yahoo.com.br
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