SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 5
Baixar para ler offline
8
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 17, MAIO 2003
Recebido em 19/8/02, aceito em 27/3/03
L
L
Agentes desinfetantes alternativos para o tratamento de água
É
fato notório, reconhecido pela
Organização Mundial da Saúde
(OMS), que o fornecimento de
água em quantidade suficiente e de boa
qualidade é uma das medidas prio-
ritárias para a saúde de uma comuni-
dade. O homem necessita de água de
qualidade adequada e em quantidade
suficiente para as várias atividades que
desenvolve;nãosóparaatenderàssuas
necessidades físicas, mas também para
o seu desenvolvimento econômico.
A água destinada ao consumo hu-
mano deve preencher condições míni-
mas para que possa ser ingerida ou
utilizada para fins higiênicos, o que se
consegue através dos processos usa-
dos em estações de tratamento. É ne-
cessário realizar o controle da qualida-
de da água para que se possa asse-
gurar a saúde da população, pois a
água é considerada como um veículo
de muitas doenças. É importante
relembrar que são muitos os prejuízos
econômicos que podem advir da má
qualidade da água de consumo. O
controle da qualidade é uma atividade
de caráter dinâmico e que deve ser
exercida, tanto no meio urbano quanto
Sérgio M. Sanches, Carlos Henrique Tomich de Paula da Silva e Eny Maria Vieira
A água destinada ao consumo humano deve preencher condições mínimas para que possa ser ingerida
ou utilizada para fins higiênicos. No Brasil, a desinfecção da água para consumo é usualmente realizada com
a adição de cloro, nas formas de gás cloro e hipoclorito de sódio. Estudos recentes demonstraram que a
desinfecção da água com cloro pode trazer certos inconvenientes, como a formação de trihalometanos, que
são substâncias cancerígenas. Neste artigo, discute-se o uso de agentes desinfetantes alternativos para
tentar minimizar a formação de trihalometanos.
trihalometanos, desinfecção da água, agentes desinfetantes alternativos
no rural. Em outras palavras, o controle
de qualidade da água deve ser consi-
derado em todas as etapas do serviço
de abastecimento,
desde o manancial, a
captação, o recalque, a
adução, o tratamento e
a distribuição, termi-
nando na torneira.
A desinfecção da
águaéumprocessoem
que se utiliza um agen-
te, químico ou não, e no
qual se tem por objetivo
a eliminação de microrganismos pato-
gênicos presentes na mesma, incluindo
bactérias, protozoários e vírus, além de
algas. No Brasil, a desinfecção da água
para o consumo humano é usualmente
realizadacomaadiçãodecloroativonas
formas de gás cloro e hipoclorito de
sódio, apresentando como vantagens o
baixo custo e o fácil manuseio.
Utilização do cloro
A desinfecção pode ser o principal
ou único objetivo da cloração quando a
água a ser tratada não recebeu qual-
quer forma de poluição. No entanto, no
caso de águas de qualidade inferior, co-
mo o são as poluídas, a cloração pode
ser empregada com um objetivo adicio-
nal, aproveitando a
ação oxidante do
cloro.
Na água, o cloro
age de duas formas
principais: a) como
desinfetante, des-
truindo ou inativando
os microorganismos
patogênicos, algas e
bactérias de vida li-
vre; e b) como oxidante de compostos
orgânicos e inorgânicos presentes.
Quando o cloro é adicionado a uma
água isenta de impurezas, ocorre a se-
guinte reação:
Cl2
(g) + 2H2
O(l)
HClO(aq) + H3
O+
(aq) + Cl–
(aq)
Dependendo do pH da água, o áci-
do hipocloroso (HClO) se ioniza, for-
mando o íon hipoclorito (ClO–
), segun-
do a reação a seguir:
HClO(aq) + H2
O(l)
H3
O+
(aq) + ClO–
(aq)
Estudos realizados demonstraram
que, para valores de pH superiores a
6, a quantidade de HClO é menor e a
A água destinada ao
consumo humano deve
preencher condições
mínimas para que possa ser
ingerida ou utilizada para
fins higiênicos, o que se
consegue através dos
processos de uma estação
de tratamento
A seção “Atualidades em Química” procura apresentar assuntos que mostrem como a Química é uma ciência viva, seja
com relação a novas descobertas, seja no que diz respeito à sempre necessária revisão de conceitos. Neste número a seção
apresenta dois artigos
ATUALIDADES EM QUÍMICA
9
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 17, MAIO 2003Agentes desinfetantes alternativos para o tratamento de água
do íon ClO–
é maior. O pH das águas
naturais encontra-se normalmente na
faixa em que há presença tanto do
ácido hipocloroso quanto do íon hipo-
clorito. Por exemplo,
para um pH igual a 8,
tem-se cerca de 22%
de HClO e 78% de
ClO–
. Ambos os com-
postos possuem ação
desinfetante e oxi-
dante; porém, o ácido
hipocloroso é mais efi-
ciente do que o íon
hipoclorito na des-
truição dos micror-
ganismos em geral.
O íon ClO–
tam-
bém pode estar em
equilíbrio com os íons
H3
O+
(o que depende do pH) e, por-
tanto, uma parcela do cloro disponível
tende a reagir com a água para formar
o ácido hipocloroso, o íon hipoclorito
e o ácido clorídrico. Os íons hidrônio
formados reagem com as hidroxilas
presentes na água, influindo dessa
forma no pH, o qual, por sua vez, altera
a ionização do ácido hipocloroso.
A cloração de águas contendo ma-
téria orgânica natural (MON) favorece a
formação de trihalometanos (THMs) e
outros subprodutos da desinfecção
(SPDs). Levando-se em conta a possí-
vel presença de íons brometo na água
em tratamento, a reação de formação
de THMs pode ser assim representada:
HOCl(aq) + MON(aq) + Br–
(aq) →
THMs(aq) + outros SPDs(aq)
Alguns trihalometanos, tais como o
clorofórmio, têm sido identificados co-
mo substâncias cancerígenas, segun-
do dados do Instituto Nacional de Cân-
cer dos EUA. De acordo com as nor-
mas e o padrão de potabilidade da água
para o consumo humano vigentes no
Brasil,aconcentraçãomáximapermitida
de trihalometanos é de 100 µg L-1
.
Os trihalometanos são assim deno-
minados por apresentarem em sua es-
trutura molecular um átomo de carbo-
no, um de hidrogênio e três de halogê-
nios. Dentre os trihalometanos, quatro
ganharam destaque nas águas trata-
das, devido à sua ocorrência em con-
centrações mais significativas: clorofór-
mio (CHCl3
), diclorobromometano
(CHBrCl2
), dibromoclorometano
(CHBr2
Cl) e bromofórmio (CHBr3
). O tri-
halometano que se apresenta em
maiores concentrações é o clorofór-
mio, mas existem ex-
ceções. Quando o teor
de brometos na água
do manancial é consi-
derável, eles são oxi-
dados pelo hipoclorito
a hipobromitos, e ain-
da há a reação deste
último com os precur-
sores para formar os
trihalometanos bro-
mados. A Figura 1
apresenta a estrutura
molecular dos princi-
pais trihalometanos
formados durante o
tratamento de água de abastecimento
público.
Tratamento de água para remoção
dos THMs
Os processos mais utilizados para
a remoção dos THMs são a aeração e
o uso do carvão ativo em pó. O pro-
cesso de aeração, entretanto, não é efi-
caz na retirada dos precursores. Por
serem voláteis, os THMs tendem a eva-
porar-se quando a água clorada é ar-
mazenada por algum tempo. Se a água
é armazenada a temperatura ambiente
em recipientes abertos, por exemplo
por um período de três dias, ocorre a
volatilização completa dos trihalome-
tanos. A ressalva que se faz a este pro-
cesso é em relação ao seu caráter prá-
tico, que deixa muito a desejar, pois fa-
vorece a recontaminação da água.
Além disso, o uso de aeradores é des-
cartado, em função do custo e da ma-
nutenção dos equipamentos necessá-
rios para uma aeração mecânica.
Na remoção dos trihalometanos
através de carvão ativo em pó, obser-
vou-se que a eficiência varia de pobre
a muito boa, dependendo da fração de
matéria orgânica natural existente na
água. Uma segunda estratégia no con-
trole de trihalometanos é a remoção
dos compostos precursores (matéria
orgânica) antes de sua reação com o
cloro, impedindo assim a formação de
trihalometanos.
Uso de desinfetantes alternativos
Atualmente, tem havido um cres-
cente interesse pelo uso de desinfetan-
tes alternativos que minimizam a for-
mação de trihalometanos. Entre eles
estão o ozônio (O3
), o permanganato
de potássio (KMnO4
) e o dióxido de
cloro (ClO2
), entre outros.
Dióxido de cloro
A primeira aplicação de dióxido de
cloro como desinfetante e oxidante
ocorreu em 1944, na estação de trata-
mento de água da cidade de Cataratas
do Niágara (EUA). A aplicação do
dióxido de cloro para o tratamento de
água de abastecimento tornou-se pos-
sível devido à disponibilidade comer-
cial do clorito de sódio, a partir do qual
todo o dióxido de cloro para tratamento
de água normalmente é produzido. Em
estações de tratamento, o dióxido de
cloro é gerado a partir de soluções de
clorito de sódio (NaClO2
), segundo as
reações a seguir:
2NaClO2
(aq) + Cl2
(g)
2ClO2
(aq) + 2NaCl(aq)
2NaClO2
(aq)+ HOCl(aq)
2ClO2
(aq) + NaCl(aq) + NaOH(aq)
5NaClO2
(aq)+ 4HCl(aq)
4ClO2
(aq) + 5NaCl(aq) + 2H2
O(l)
Pode ocorrer a formação do íon clo-
rato (ClO3
–
) como subproduto indese-
jável, através da seguinte reação de
competição:
Figura 1: Fórmulas estruturais dos quatro trihalometamos que ocorrem em concentrações
mais significativas nas águas tratadas.
A cloração de águas
contendo matéria orgânica
favorece a formação de
trihalometanos (THMs),
assim denominados por
apresentarem em sua
estrutura molecular um
átomo de carbono, um de
hidrogênio e três de
halogênios. Alguns THMs,
tais como o clorofórmio,
têm sido identificados
como substâncias
cancerígenas
10
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 17, MAIO 2003Agentes desinfetantes alternativos para o tratamento de água
NaClO2
(aq)+ Cl2
(g) + OH–
(aq)
NaClO3
(aq) + HCl(aq) + Cl–
(aq)
Há, portanto, dois métodos comer-
cialmente disponíveis para a geração
de dióxido de cloro a partir do cloro e
clorito de sódio: o sistema cloro aquo-
so/clorito de sódio e o sistema cloro
gasoso/clorito de sódio.
O uso do dióxido de cloro é restrito,
em função dos problemas de estoca-
gem e manuseio e por exigir capacita-
ção técnica para sua utilização, em de-
corrência de seu efeito explosivo, o que
leva à sua produção no próprio local
de uso. Estudos realizados demons-
traram que o dióxido de cloro apresen-
ta vantagens quando comparado aos
demais compostos clorados. Ele pos-
sui maior estabilidade em soluções
aquosas, hidrolisa compostos fenó-
licos (diminuindo a possibilidade de sa-
bores e odores) e reage em menor
intensidade com a matéria orgânica,
apesar de ser cerca de 2,5 vezes mais
oxidante do que o gás cloro.
O dióxido de cloro é um desinfe-
tante eficiente e, com baixos valores
de tempo de contato, é efetivo para o
controle de sabor e odor e para a oxi-
dação de ferro e manganês, não sen-
do exercida demanda adicional desse
composto se a água bruta contiver
amônia. O dióxido de cloro não produz
quantidades significativas de subpro-
dutos da desinfecção (ácidos haloacé-
ticos, halocetonas e haloaldeídos), ex-
ceto a formação de íons clorito e clorato
em determinadas faixas de pH, pois
cerca de 50% a 70% do dióxido de clo-
ro consumido é reduzido a clorito.
As principais desvantagens de sua
utilização são:
• a desinfecção com dióxido de clo-
ro produz subprodutos, como cloritos
e cloratos, cujos padrões de potabili-
dade brasileiros são 0,2 mg L-1
;
• altos custos são associados ao
monitoramento de cloritos e cloratos;
• a luz solar decompõe o dióxido
de cloro;
• pode produzir odores repulsivos
em alguns sistemas.
Permanganato de potássio
O permanganato de potássio é um
oxidante eficiente para o controle de
sabor e odor da água de consumo e
para a oxidação de uma grande varie-
dade de compostos orgânicos e inor-
gânicos, principalmente de Fe e Mn,
especialmente quan-
do esses metais en-
contram-se comple-
xados com a matéria
orgânica natural. Ele
também é utilizado no
controle de algas em
decantadores. O per-
manganato de potás-
sio é altamente reativo
sob condições encon-
tradas nas estações
de tratamento de
água. Em condições
ácidas, suas reações
parciais são (potenciais padrões x
EPH):
MnO4
–
(aq) + 4H+
(aq) + 3e–
MnO2
(s) + 2H2
O(l) E0
= 1,68 V
MnO4
–
(aq)+ 8H+
(aq) + 5e–
Mn2+
(aq)+ 4H2
O(l) E0
= 1,51 V
Em condições alcalinas, a reação
parcial é:
MnO4
–
(aq)+ 2H2
O(l) + 3e–
MnO2
(s)+ 4OH–
(aq) E0
= 0,60 V
As taxas de reação de oxidação dos
constituintes encontrados em águas
naturais são relativamente rápidas e
dependem da temperatura, do pH e da
dosagem.
Este reagente pode inativar várias
bactérias e vírus; entretanto, não é em-
pregado como desinfetante primário
ou secundário quando aplicado em do-
ses comumente utilizadas em trata-
mento de água. Altas doses têm ele-
vados custos; além disso, resíduos de
KMnO4
deixam a água rosada. Não há
estudos sobre a formação de subpro-
dutos com esse método de tratamento.
Ozônio
O ozônio foi utilizado pela primeira
vez no tratamento de água em 1893,
na Holanda, não tendo sido muito utili-
zado no Brasil. O ozônio é uma forma
alotrópica do oxigênio, apresenta odor
peculiar e irritante, é muito volátil e pou-
co solúvel em água, sendo pouco está-
vel. O ozônio é um potente oxidante,
capaz de oxidar compostos orgânicos
e inorgânicos na água, os quais exer-
cerão uma demanda do oxidante an-
tes de ocorrer a desinfecção. Por se
tratar de um gás instá-
vel, a sua produção
tem de ser feita no pró-
prio local de aplica-
ção. A técnica mais
comumente emprega-
da na geração de ozô-
nio é a descarga em
plasma frio ou descar-
ga corona, na qual o
ozônio é formado pela
decomposição do oxi-
gênio molecular e pos-
terior combinação de
um átomo de oxigênio
radicalar com uma molécula de oxi-
gênio, como apresentam as reações a
seguir:
O2
O• + O•
O• + O2
→ O3
O ozônio decompõe-se na água,
espontaneamente, por meio de meca-
nismos complexos que envolvem a
geração de radicais livres hidroxilas
(•OH). Os dois mecanismos de reação
do ozônio na água são:
• oxidação direta dos compostos
pelo ozônio, em valores de pH neutros
ou ácidos;
• oxidação dos compostos pelos
radicais livres hidroxilas produzidos du-
rante a decomposição do ozônio, em
valores de pH básicos.
O ozônio se decompõe com rapi-
dez, principalmente em temperaturas
relativamente elevadas. Na sua aplica-
ção, perde-se cerca de 10% por vola-
tilização. As principais vantagens do
uso do ozônio são:
• reduz sabor, odor e cor;
• é um poderoso oxidante, com
atuação rápida sobre a matéria orgâ-
nica;
• tem ação rápida sobre bactérias;
• não apresenta riscos à saúde hu-
mana em casos de doses excessivas,
já que o seu tempo de meia-vida é de
apenas alguns minutos;
• destrói fenóis, detergentes e pig-
mentos;
• tem rápida ação desinfetante,
sendo suficiente um tempo de contato
de 5 a 10 minutos;
O dióxido de cloro
apresenta vantagens
quando comparado aos
demais compostos
clorados. Ele possui maior
estabilidade em soluções
aquosas, hidrolisa
compostos fenólicos
(diminuindo a possibilidade
de sabores e odores) e
reage em menor
intensidade com a matéria
orgânica
11
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 17, MAIO 2003Agentes desinfetantes alternativos para o tratamento de água
• seu uso pode ser combinado com
a pós-cloração para eliminar proble-
mas organolépticos decorrentes da
existência de material orgânico produ-
tor de gosto e odor.
Como empecilhos ao uso mais in-
tenso do ozônio, prin-
cipalmente no Brasil,
citam-se:
• é um gás veneno-
so, de odor irritante,
sem cor perceptível,
tendo como concentra-
ção máxima permissí-
vel na atmosfera
0,1 mg m-3
, necessitan-
do de mão-de-obra es-
pecializada para sua
manipulação;
• não existem técni-
cas analíticas suficientemente especí-
ficas ou sensíveis para o controle de
seus resíduos de forma imediata e efi-
ciente após sua aplicação;
• os custos operacionais, nos quais
estão incluídos energia elétrica, insta-
lação e operação, são altos, em torno
de 10 a 15 vezes os do uso de cloro.
Ozônio/peróxido de hidrogênio
No processo ozônio/peróxido de hi-
drogênio, há um acréscimo na concen-
tração de •OH em relação ao processo
de ozonização, aumentando o potencial
de oxidação e desinfecção. Nesse pro-
cesso, a eficiência de oxidação é au-
mentada pela conversão de moléculas
de ozônio em radicais hidroxila e pelo
aprimoramento de transferência do ozô-
nio da fase gasosa para a líquida, au-
mentando as taxas da reação em geral.
Ambas as reações do ozônio ocor-
rerão e competirão pelo substrato. Por-
tanto, a principal diferença é que a ozo-
nização depende em alto grau da oxi-
dação direta da matéria orgânica pelo
ozônio, enquanto o peroxônio depende
principalmente da oxidação do radical
hidroxila.
Os potenciais de redução do ozônio
e dos radicais hidroxilas são apresen-
tados nas reações a seguir (potenciais
padrões x EPH):
•OH(aq) + e–
OH–
(aq) E0
= 2,8 V
O3
(aq) + 2H+
(aq) + 2e–
O2
(aq)+H2
O(l) E0
= 2,07 V
O3
(aq) + H2
O(aq) + 2e–
O2
(aq) + 2OH–
(aq) E0
= 1,24 V
O valor do tempo de contato para
o processo com peroxônio não pode
ser medido, apesar do alto poder de-
sinfetante, pois não
se tem certeza da ge-
ração de resíduo na
rede.
Cloraminas
Uma outra classe
de desinfetantes al-
ternativos é a das clo-
raminas, obtidas a
partir da reação do
cloro residual com a
amônia. Podem-se
formar três tipos de
cloraminas, a partir das reações se-
qüenciais ilustradas a seguir.
Monocloramina:
NH4
+
(aq) + HOCl(aq)
NH2
Cl(aq) + H2
O(l) + H+
(aq)
Dicloramina:
NH2
Cl(aq) + HOCl(aq)
NHCl2
(aq) + H2
O(l)
Tricloramina:
NHCl2
(aq)+ HOCl(aq)
NCl3
(aq) + H2
O(l)
A formação dos três tipos de clora-
minas é dependente da relação cloro/
nitrogênio, do pH, da temperatura e do
tempo de reação, sendo que a dimi-
nuição do pH e o aumento da relação
cloro/nitrogênio favorece a formação
de produtos mais clorados. Em pH 8,5,
a monocloramina encontra-se em
maior quantidade. Em pH 4,4, virtual-
mente toda cloramina se encontra na
forma de tricloramina, cuja presença é
responsável, em parte, pelo odor e
gosto desagradáveis na água. Na faixa
de pH 4,5 a 9,0, monocloramina e
dicloramina coexistem em proporções
variadas. Por exemplo, entre pH 4,5 e
5,5, existe quase que somente diclo-
ramina. Essas quantidades de mono,
di e tricloramina são relevantes, já que
apresentam entre si diferente poder de
desinfecção: a dicloramina tem maior
efeito bactericida, seguida da mono-
cloramina; a tricloramina apresenta
praticamente nenhum efeito desinfe-
tante.
Para a aplicação das cloraminas
como desinfetantes primários em uma
estação de tratamento de água, o amô-
nio e o cloro são adicionados à água
simultaneamente ou em sucessões
próximas.
As cloraminas são uma boa escolha
como desinfetantes secundários, de-
vido às seguintes vantagens:
• são menos reativas com a matéria
orgânica do que o cloro, minimizando
a formação de trihalometanos e ácidos
haloacéticos;
• são de fácil obtenção e baixo cus-
to;
• minimizam o surgimento de pro-
blemas de gosto e odor.
Algumas das suas desvantagens
são:
• têm menor poder de desinfecção
que o cloro, o ozônio e o dióxido de
cloro, e o tempo de contato para con-
trole bacteriológico deve ser muito lon-
go;
• não oxidam ferro, manganês e
sulfito;
• devem ser produzidas in situ.
Conclusões
Qualquer que seja o desinfetante
alternativo, deve-se garantir que:
a) seja efetivo na inativação de bac-
térias, vírus e protozoários, entre outros
organismos patogênicos;
b) sua aplicação seja confiável e
feita por meio de equipamentos sim-
ples, tendo em vista o grau de desen-
volvimento socioeconômico da comu-
nidade;
c) não produza qualquer composto
secundário que cause risco à saúde
pública;
d) apresente atributos similares ao
do cloro, tais como fornecer resíduos
persistentes na água;
e) tenha sua concentração facil-
mente medida, não acarrete sabor e
odor, e seja disponível no mercado a
custos razoáveis.
No Brasil, não se tem feito uso de
agentes desinfetantes alternativos tais
como ozônio, dióxido de cloro, per-
manganato de potássio e peroxônios,
sendo que estes vêm sendo utilizados
somente em universidades, para fins
de pesquisa.
As cloraminas são uma boa
escolha como desinfetantes
secundários, pois são
menos reativas com a
matéria orgânica do que o
cloro (minimizando a
formação de
trihalometanos e ácidos
haloacéticos),são de fácil
obtenção e baixo custo, e
minimizam o surgimento de
problemas de gosto e odor
12
QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 17, MAIO 2003Agentes desinfetantes alternativos para o tratamento de água
Abstract: Alternative Disinfectants for Drinking Water Treatment – Water for human consumption must meet minimum requirements in order to be ingested or used for hygienic purposes. In Brazil the
disinfection of drinking water is usually done by the addition of chlorine, in the forms of chlorine gas and sodium hypochlorite. Recent studies demonstrated that the disinfection of water with chlorine can
bring certain inconveniences, as the formation of trihalomethanes, which are carcinogenic substances. In this paper, the use of alternative disinfectants is discussed in order to minimize the formation of
trihalomethanes.
Keywords: trihalomethanes, water disinfection, alternative disinfectants
Para saber mais
DANIEL, L.A. Processos de desinfec-
ção e desinfetantes alternativos na pro-
dução de água potável. Rio de Janeiro:
RIMa, ABES-PROSAB, 2001. p. 27.
DI BERNARDO, L. Métodos e técnicas
de tratamento de água. Rio de Janeiro:
ABES, 1993. v. 2.
DI BERNARDO, L. Algas e suas influ-
ências na qualidade de águas e nas tec-
nologias de tratamento. Rio de Janeiro:
ABES, 1995.
MACÊDO, J.A.B. Determinação de
trihalometanos em águas de abasteci-
mento público e de indústria de ali-
mentos. Viçosa, Universidade Federal de
Viçosa (tese de doutorado), 1997.
USEPA - U.S. ENVIROMENTAL PRO-
TECTTION AGENCY. Alternative disinfec-
tants and oxidants guidance manual.
Washington, 1999.
Não tem havido investimento em
desinfetantes alternativos ao uso do
cloro, por este apresentar o mais baixo
custo, mantendo ainda alguma efici-
ência. A utilização de tal agente aumen-
ta os riscos à saúde pública, principal-
mente quando a água apresenta uma
coloração muito escura, o que geral-
mente é devido a uma grande quanti-
dade de matéria orgânica (substâncias
húmicas). O controle tem sido realiza-
do principalmente através de dosagem
da quantidade de trihalometanos for-
mados na água.
Em países desenvolvidos, tais co-
mo França, Alemanha e Estados Uni-
dos, tais agentes alternativos já vêm
sendo empregados no tratamento de
água pública. Futuramente, os desin-
fetantes não clorados deverão ser cres-
centemente utilizados, de forma com-
binada e até substitutiva ao cloro, de
acordo com o desenvolvimento socio-
econômico da comunidade e com os
custos envolvidos no tratamento de
água.
Sérgio M. Sanches (smsanches@iqsc.sc.usp.br), quí-
mico, formado pela Universidade Federal de Uberlân-
dia, mestre em Química Analítica pela USP, é aluno de
doutorado em Ciências da Engenharia Ambiental, na
USP, em São Carlos - SP. Carlos Henrique Tomich de
Paula da Silva (tomich@if.sc.usp.br), químico pela Uni-
camp, mestre pelo Instituto Militar de Engenharia,
doutor pela USP, faz atualmente pós-doutorado no
Instituto de Física de São Carlos da USP. Eny Maria
Vieira (eny@iqsc.sc.usp.br), química formada pela
Universidade de Alfenas, mestre e doutora em Química
Analítica pela USP, é docente do Instituto de Química
de São Carlos da USP.
Elemento 110: Darmstádtio?
A descoberta do ele-
mento 110 (vide Química
Nova na Escola, n. 5 , p.
12, 1997) foi confirmada
por um grupo de trabalho
conjunto da IUPAC (União Internacional
de Química Pura e Aplicada) e da IUPAP
(União Internacional de Física Pura e
Aplicada), em 2001 (vide Química Nova
na Escola, n. 14 , p. 45, 2001). Agora os
descobridores do elemento, pesquisa-
dores do GSI - Centro de Pesquisas
sobre Íons Pesados, em Darmstadt,
Alemanha, propuseram nome e símbolo
para esse elemento: darmstádtio e Ds.
Esta proposta está de acordo com a tra-
dição de elementos serem nomeados
com base no nome do local em que fo-
ram descobertos. A aceitação dessa
proposta está sendo recomendada ao
Conselho da IUPAC pela sua Divisão de
Química Inorgânica. O conselho deverá
analisar a proposta durante a 42ª
Assembléia Geral da IUPAC, prevista
para ocorrer de 9 a 17 de agosto de
2003, em Ottawa, Canadá.
Para mais informações, vide: http:/
/www.iupac.org/publications/ci/2003/
2503/pr1_corish.html.
Revista Enseñanza de las Ciencias
Publicada desde
1983, a revista
Enseñanza de las
Ciencias (http://
blues.uab.es/rev-ens-ciencias) é ponto
de referência entre os profissionais do
campo do ensino de Matemática e das
Ciências Experimentais, na Espanha e
na Iberoamérica.
Publicada pelo Instituto de Ciências
da Educação da Universidade Autô-
noma de Barcelona (UAB) e pela Pró-
Reitoria de Pesquisa da Universidade de
Valência (UV), tem como objetivos:
• No campo do ensino de Ciências,
aprofundar-se na base teórica dos estu-
dos e pesquisas publicados, propician-
do reflexões fundamentadas sobre a si-
tuação e perspectivas das diferentes li-
nhasdeinvestigaçãoprioritáriasnaatua-
lidade, e fomentar trabalhos interpre-
tativos que permitam o avanço na com-
preensão de problemas significativos
relacionados à aprendizagem científica.
• Promover estudos que atendam às
necessidades do professorado de Ciên-
cias/Matemática e que aprofundem-se
no impacto sobre diferentes práticas
educativas, em sala de aula ou em con-
Notas
Ds
110
textos informais. Assim, dar prioridade
à publicação de estudos, relacionados
ao ensino e à aprendizagem de conteú-
dos científicos e matemáticos, que ana-
lisem a gestão da aula (trabalhos em
grupos pequenos ou grandes, coope-
ração e trabalho individual, etc.), o grau
de envolvimento do estudante na apren-
dizagem, sua autonomia ou dependên-
cia, a atenção à diversidade de interes-
ses e níveis dos alunos de um grupo/
classe, o preparo e aplicação de ativi-
dades de diferentes tipos, a correção de
erros no processo de aprendizagem etc.
• Incentivar análises críticas sobre os
trabalhos em desenvolvimento na atuali-
dade.
A revista, cuja editoria é compartilha-
da por docentes da UAB e da UV (lidera-
dos por Neus Sanmartí e Carmen Azcá-
rate, da UAB), dispõe tanto de assina-
turas em papel (com acesso via Internet)
ou só para acesso via Internet (com re-
cebimento de um CD, ao final do ano).
Cabe destacar que os números pu-
blicados no período 1998-2001 estão
disponíveis para acesso gratuito no en-
dereço http://www.bib.uab.es/pub/
ensenanzadelasciencias.
(RCRF)

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Questões revisão - Prova
Questões revisão - ProvaQuestões revisão - Prova
Questões revisão - ProvaRodrigo Sampaio
 
Qualidade da água
Qualidade da águaQualidade da água
Qualidade da águaLimnos Ufsc
 
CINÉTICA QUIMICA REVISÃO
CINÉTICA QUIMICA REVISÃOCINÉTICA QUIMICA REVISÃO
CINÉTICA QUIMICA REVISÃOFábio Oisiovici
 
Relatorio de Química Analítica II - Determinação da Acidez total do Vinagre
Relatorio de Química Analítica II - Determinação da Acidez total do VinagreRelatorio de Química Analítica II - Determinação da Acidez total do Vinagre
Relatorio de Química Analítica II - Determinação da Acidez total do VinagreDhion Meyg Fernandes
 
Avaliação da acidez e alcanilidade da água
Avaliação da acidez e alcanilidade da águaAvaliação da acidez e alcanilidade da água
Avaliação da acidez e alcanilidade da águaSafia Naser
 
Exercícios de Ciências da Natureza do ENEM de 98 a 2001.
Exercícios de Ciências da Natureza do ENEM de 98 a 2001.Exercícios de Ciências da Natureza do ENEM de 98 a 2001.
Exercícios de Ciências da Natureza do ENEM de 98 a 2001.Mara Farias
 
RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA: PREPARO DE SOLUÇÃO
RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA: PREPARO DE SOLUÇÃORELATÓRIO DE AULA PRÁTICA: PREPARO DE SOLUÇÃO
RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA: PREPARO DE SOLUÇÃOEzequias Guimaraes
 
Trabalhosegundosanossegundobi2012
Trabalhosegundosanossegundobi2012Trabalhosegundosanossegundobi2012
Trabalhosegundosanossegundobi2012Emiliano Alvarez
 
1994 uso de cloro e formacao de compostos toxicos
1994  uso de cloro e formacao de compostos toxicos1994  uso de cloro e formacao de compostos toxicos
1994 uso de cloro e formacao de compostos toxicoswagmiranda02
 
Cinética química questoes
Cinética química questoesCinética química questoes
Cinética química questoesRodrigo Sampaio
 
Analise de efluentes
Analise de efluentesAnalise de efluentes
Analise de efluentesJupira Silva
 
Experimento de química; Ácidos e Bases. 1 ano
Experimento de química; Ácidos e Bases. 1 anoExperimento de química; Ácidos e Bases. 1 ano
Experimento de química; Ácidos e Bases. 1 anoAbraão Matos
 

Mais procurados (20)

Parâmetros Físico-Químicos-Biológicos de Águas Residuais
Parâmetros Físico-Químicos-Biológicos de Águas ResiduaisParâmetros Físico-Químicos-Biológicos de Águas Residuais
Parâmetros Físico-Químicos-Biológicos de Águas Residuais
 
Aula 01 inicial - apresentação e introdução
Aula 01   inicial - apresentação e introduçãoAula 01   inicial - apresentação e introdução
Aula 01 inicial - apresentação e introdução
 
Questões revisão - Prova
Questões revisão - ProvaQuestões revisão - Prova
Questões revisão - Prova
 
Listadeslocamento
ListadeslocamentoListadeslocamento
Listadeslocamento
 
Soluções
SoluçõesSoluções
Soluções
 
Qualidade da água
Qualidade da águaQualidade da água
Qualidade da água
 
CINÉTICA QUIMICA REVISÃO
CINÉTICA QUIMICA REVISÃOCINÉTICA QUIMICA REVISÃO
CINÉTICA QUIMICA REVISÃO
 
Revisão Química - enem 2009
Revisão Química - enem 2009Revisão Química - enem 2009
Revisão Química - enem 2009
 
Relatorio de Química Analítica II - Determinação da Acidez total do Vinagre
Relatorio de Química Analítica II - Determinação da Acidez total do VinagreRelatorio de Química Analítica II - Determinação da Acidez total do Vinagre
Relatorio de Química Analítica II - Determinação da Acidez total do Vinagre
 
Avaliação da acidez e alcanilidade da água
Avaliação da acidez e alcanilidade da águaAvaliação da acidez e alcanilidade da água
Avaliação da acidez e alcanilidade da água
 
Exercícios de Ciências da Natureza do ENEM de 98 a 2001.
Exercícios de Ciências da Natureza do ENEM de 98 a 2001.Exercícios de Ciências da Natureza do ENEM de 98 a 2001.
Exercícios de Ciências da Natureza do ENEM de 98 a 2001.
 
RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA: PREPARO DE SOLUÇÃO
RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA: PREPARO DE SOLUÇÃORELATÓRIO DE AULA PRÁTICA: PREPARO DE SOLUÇÃO
RELATÓRIO DE AULA PRÁTICA: PREPARO DE SOLUÇÃO
 
Lista 2 recuperacao
Lista 2   recuperacaoLista 2   recuperacao
Lista 2 recuperacao
 
Trabalhosegundosanossegundobi2012
Trabalhosegundosanossegundobi2012Trabalhosegundosanossegundobi2012
Trabalhosegundosanossegundobi2012
 
Revisão simulado 3º ano a
Revisão simulado 3º ano aRevisão simulado 3º ano a
Revisão simulado 3º ano a
 
1994 uso de cloro e formacao de compostos toxicos
1994  uso de cloro e formacao de compostos toxicos1994  uso de cloro e formacao de compostos toxicos
1994 uso de cloro e formacao de compostos toxicos
 
Cinética química questoes
Cinética química questoesCinética química questoes
Cinética química questoes
 
Atividade complementar de modelos moleculares
Atividade complementar de modelos molecularesAtividade complementar de modelos moleculares
Atividade complementar de modelos moleculares
 
Analise de efluentes
Analise de efluentesAnalise de efluentes
Analise de efluentes
 
Experimento de química; Ácidos e Bases. 1 ano
Experimento de química; Ácidos e Bases. 1 anoExperimento de química; Ácidos e Bases. 1 ano
Experimento de química; Ácidos e Bases. 1 ano
 

Semelhante a Agentes alternativos para desinfecção de água

TRIHALOMETANOS: SEUS EFEITOS ADVERSOS A SAÚDE E MEIO AMBIENTE
TRIHALOMETANOS: SEUS EFEITOS ADVERSOS A SAÚDE E MEIO AMBIENTETRIHALOMETANOS: SEUS EFEITOS ADVERSOS A SAÚDE E MEIO AMBIENTE
TRIHALOMETANOS: SEUS EFEITOS ADVERSOS A SAÚDE E MEIO AMBIENTEVictor Matheus Alves
 
AULA-4-Agatha.pdf
AULA-4-Agatha.pdfAULA-4-Agatha.pdf
AULA-4-Agatha.pdfUillian4
 
1994 uso de cloro e formacao de compostos toxicos
1994  uso de cloro e formacao de compostos toxicos1994  uso de cloro e formacao de compostos toxicos
1994 uso de cloro e formacao de compostos toxicoswagmiranda02
 
As estações de tratamento de água.ppt
As estações de tratamento de água.pptAs estações de tratamento de água.ppt
As estações de tratamento de água.pptssuser46216d
 
Poluiçao da agua
Poluiçao da aguaPoluiçao da agua
Poluiçao da aguaverinha7
 
Poluiçao da agua
Poluiçao da aguaPoluiçao da agua
Poluiçao da aguaverinha7
 

Semelhante a Agentes alternativos para desinfecção de água (11)

TRIHALOMETANOS: SEUS EFEITOS ADVERSOS A SAÚDE E MEIO AMBIENTE
TRIHALOMETANOS: SEUS EFEITOS ADVERSOS A SAÚDE E MEIO AMBIENTETRIHALOMETANOS: SEUS EFEITOS ADVERSOS A SAÚDE E MEIO AMBIENTE
TRIHALOMETANOS: SEUS EFEITOS ADVERSOS A SAÚDE E MEIO AMBIENTE
 
AULA-4-Agatha.pdf
AULA-4-Agatha.pdfAULA-4-Agatha.pdf
AULA-4-Agatha.pdf
 
AULA-4-exemplo da agua potavel .pdf
AULA-4-exemplo da agua potavel .pdfAULA-4-exemplo da agua potavel .pdf
AULA-4-exemplo da agua potavel .pdf
 
Taa 8
Taa 8Taa 8
Taa 8
 
1994 uso de cloro e formacao de compostos toxicos
1994  uso de cloro e formacao de compostos toxicos1994  uso de cloro e formacao de compostos toxicos
1994 uso de cloro e formacao de compostos toxicos
 
Dica vunesp 2014
Dica vunesp 2014Dica vunesp 2014
Dica vunesp 2014
 
Relatórios tratamento de água
Relatórios tratamento de águaRelatórios tratamento de água
Relatórios tratamento de água
 
As estações de tratamento de água.ppt
As estações de tratamento de água.pptAs estações de tratamento de água.ppt
As estações de tratamento de água.ppt
 
tratamento chorume
tratamento chorumetratamento chorume
tratamento chorume
 
Poluiçao da agua
Poluiçao da aguaPoluiçao da agua
Poluiçao da agua
 
Poluiçao da agua
Poluiçao da aguaPoluiçao da agua
Poluiçao da agua
 

Agentes alternativos para desinfecção de água

  • 1. 8 QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 17, MAIO 2003 Recebido em 19/8/02, aceito em 27/3/03 L L Agentes desinfetantes alternativos para o tratamento de água É fato notório, reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que o fornecimento de água em quantidade suficiente e de boa qualidade é uma das medidas prio- ritárias para a saúde de uma comuni- dade. O homem necessita de água de qualidade adequada e em quantidade suficiente para as várias atividades que desenvolve;nãosóparaatenderàssuas necessidades físicas, mas também para o seu desenvolvimento econômico. A água destinada ao consumo hu- mano deve preencher condições míni- mas para que possa ser ingerida ou utilizada para fins higiênicos, o que se consegue através dos processos usa- dos em estações de tratamento. É ne- cessário realizar o controle da qualida- de da água para que se possa asse- gurar a saúde da população, pois a água é considerada como um veículo de muitas doenças. É importante relembrar que são muitos os prejuízos econômicos que podem advir da má qualidade da água de consumo. O controle da qualidade é uma atividade de caráter dinâmico e que deve ser exercida, tanto no meio urbano quanto Sérgio M. Sanches, Carlos Henrique Tomich de Paula da Silva e Eny Maria Vieira A água destinada ao consumo humano deve preencher condições mínimas para que possa ser ingerida ou utilizada para fins higiênicos. No Brasil, a desinfecção da água para consumo é usualmente realizada com a adição de cloro, nas formas de gás cloro e hipoclorito de sódio. Estudos recentes demonstraram que a desinfecção da água com cloro pode trazer certos inconvenientes, como a formação de trihalometanos, que são substâncias cancerígenas. Neste artigo, discute-se o uso de agentes desinfetantes alternativos para tentar minimizar a formação de trihalometanos. trihalometanos, desinfecção da água, agentes desinfetantes alternativos no rural. Em outras palavras, o controle de qualidade da água deve ser consi- derado em todas as etapas do serviço de abastecimento, desde o manancial, a captação, o recalque, a adução, o tratamento e a distribuição, termi- nando na torneira. A desinfecção da águaéumprocessoem que se utiliza um agen- te, químico ou não, e no qual se tem por objetivo a eliminação de microrganismos pato- gênicos presentes na mesma, incluindo bactérias, protozoários e vírus, além de algas. No Brasil, a desinfecção da água para o consumo humano é usualmente realizadacomaadiçãodecloroativonas formas de gás cloro e hipoclorito de sódio, apresentando como vantagens o baixo custo e o fácil manuseio. Utilização do cloro A desinfecção pode ser o principal ou único objetivo da cloração quando a água a ser tratada não recebeu qual- quer forma de poluição. No entanto, no caso de águas de qualidade inferior, co- mo o são as poluídas, a cloração pode ser empregada com um objetivo adicio- nal, aproveitando a ação oxidante do cloro. Na água, o cloro age de duas formas principais: a) como desinfetante, des- truindo ou inativando os microorganismos patogênicos, algas e bactérias de vida li- vre; e b) como oxidante de compostos orgânicos e inorgânicos presentes. Quando o cloro é adicionado a uma água isenta de impurezas, ocorre a se- guinte reação: Cl2 (g) + 2H2 O(l) HClO(aq) + H3 O+ (aq) + Cl– (aq) Dependendo do pH da água, o áci- do hipocloroso (HClO) se ioniza, for- mando o íon hipoclorito (ClO– ), segun- do a reação a seguir: HClO(aq) + H2 O(l) H3 O+ (aq) + ClO– (aq) Estudos realizados demonstraram que, para valores de pH superiores a 6, a quantidade de HClO é menor e a A água destinada ao consumo humano deve preencher condições mínimas para que possa ser ingerida ou utilizada para fins higiênicos, o que se consegue através dos processos de uma estação de tratamento A seção “Atualidades em Química” procura apresentar assuntos que mostrem como a Química é uma ciência viva, seja com relação a novas descobertas, seja no que diz respeito à sempre necessária revisão de conceitos. Neste número a seção apresenta dois artigos ATUALIDADES EM QUÍMICA
  • 2. 9 QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 17, MAIO 2003Agentes desinfetantes alternativos para o tratamento de água do íon ClO– é maior. O pH das águas naturais encontra-se normalmente na faixa em que há presença tanto do ácido hipocloroso quanto do íon hipo- clorito. Por exemplo, para um pH igual a 8, tem-se cerca de 22% de HClO e 78% de ClO– . Ambos os com- postos possuem ação desinfetante e oxi- dante; porém, o ácido hipocloroso é mais efi- ciente do que o íon hipoclorito na des- truição dos micror- ganismos em geral. O íon ClO– tam- bém pode estar em equilíbrio com os íons H3 O+ (o que depende do pH) e, por- tanto, uma parcela do cloro disponível tende a reagir com a água para formar o ácido hipocloroso, o íon hipoclorito e o ácido clorídrico. Os íons hidrônio formados reagem com as hidroxilas presentes na água, influindo dessa forma no pH, o qual, por sua vez, altera a ionização do ácido hipocloroso. A cloração de águas contendo ma- téria orgânica natural (MON) favorece a formação de trihalometanos (THMs) e outros subprodutos da desinfecção (SPDs). Levando-se em conta a possí- vel presença de íons brometo na água em tratamento, a reação de formação de THMs pode ser assim representada: HOCl(aq) + MON(aq) + Br– (aq) → THMs(aq) + outros SPDs(aq) Alguns trihalometanos, tais como o clorofórmio, têm sido identificados co- mo substâncias cancerígenas, segun- do dados do Instituto Nacional de Cân- cer dos EUA. De acordo com as nor- mas e o padrão de potabilidade da água para o consumo humano vigentes no Brasil,aconcentraçãomáximapermitida de trihalometanos é de 100 µg L-1 . Os trihalometanos são assim deno- minados por apresentarem em sua es- trutura molecular um átomo de carbo- no, um de hidrogênio e três de halogê- nios. Dentre os trihalometanos, quatro ganharam destaque nas águas trata- das, devido à sua ocorrência em con- centrações mais significativas: clorofór- mio (CHCl3 ), diclorobromometano (CHBrCl2 ), dibromoclorometano (CHBr2 Cl) e bromofórmio (CHBr3 ). O tri- halometano que se apresenta em maiores concentrações é o clorofór- mio, mas existem ex- ceções. Quando o teor de brometos na água do manancial é consi- derável, eles são oxi- dados pelo hipoclorito a hipobromitos, e ain- da há a reação deste último com os precur- sores para formar os trihalometanos bro- mados. A Figura 1 apresenta a estrutura molecular dos princi- pais trihalometanos formados durante o tratamento de água de abastecimento público. Tratamento de água para remoção dos THMs Os processos mais utilizados para a remoção dos THMs são a aeração e o uso do carvão ativo em pó. O pro- cesso de aeração, entretanto, não é efi- caz na retirada dos precursores. Por serem voláteis, os THMs tendem a eva- porar-se quando a água clorada é ar- mazenada por algum tempo. Se a água é armazenada a temperatura ambiente em recipientes abertos, por exemplo por um período de três dias, ocorre a volatilização completa dos trihalome- tanos. A ressalva que se faz a este pro- cesso é em relação ao seu caráter prá- tico, que deixa muito a desejar, pois fa- vorece a recontaminação da água. Além disso, o uso de aeradores é des- cartado, em função do custo e da ma- nutenção dos equipamentos necessá- rios para uma aeração mecânica. Na remoção dos trihalometanos através de carvão ativo em pó, obser- vou-se que a eficiência varia de pobre a muito boa, dependendo da fração de matéria orgânica natural existente na água. Uma segunda estratégia no con- trole de trihalometanos é a remoção dos compostos precursores (matéria orgânica) antes de sua reação com o cloro, impedindo assim a formação de trihalometanos. Uso de desinfetantes alternativos Atualmente, tem havido um cres- cente interesse pelo uso de desinfetan- tes alternativos que minimizam a for- mação de trihalometanos. Entre eles estão o ozônio (O3 ), o permanganato de potássio (KMnO4 ) e o dióxido de cloro (ClO2 ), entre outros. Dióxido de cloro A primeira aplicação de dióxido de cloro como desinfetante e oxidante ocorreu em 1944, na estação de trata- mento de água da cidade de Cataratas do Niágara (EUA). A aplicação do dióxido de cloro para o tratamento de água de abastecimento tornou-se pos- sível devido à disponibilidade comer- cial do clorito de sódio, a partir do qual todo o dióxido de cloro para tratamento de água normalmente é produzido. Em estações de tratamento, o dióxido de cloro é gerado a partir de soluções de clorito de sódio (NaClO2 ), segundo as reações a seguir: 2NaClO2 (aq) + Cl2 (g) 2ClO2 (aq) + 2NaCl(aq) 2NaClO2 (aq)+ HOCl(aq) 2ClO2 (aq) + NaCl(aq) + NaOH(aq) 5NaClO2 (aq)+ 4HCl(aq) 4ClO2 (aq) + 5NaCl(aq) + 2H2 O(l) Pode ocorrer a formação do íon clo- rato (ClO3 – ) como subproduto indese- jável, através da seguinte reação de competição: Figura 1: Fórmulas estruturais dos quatro trihalometamos que ocorrem em concentrações mais significativas nas águas tratadas. A cloração de águas contendo matéria orgânica favorece a formação de trihalometanos (THMs), assim denominados por apresentarem em sua estrutura molecular um átomo de carbono, um de hidrogênio e três de halogênios. Alguns THMs, tais como o clorofórmio, têm sido identificados como substâncias cancerígenas
  • 3. 10 QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 17, MAIO 2003Agentes desinfetantes alternativos para o tratamento de água NaClO2 (aq)+ Cl2 (g) + OH– (aq) NaClO3 (aq) + HCl(aq) + Cl– (aq) Há, portanto, dois métodos comer- cialmente disponíveis para a geração de dióxido de cloro a partir do cloro e clorito de sódio: o sistema cloro aquo- so/clorito de sódio e o sistema cloro gasoso/clorito de sódio. O uso do dióxido de cloro é restrito, em função dos problemas de estoca- gem e manuseio e por exigir capacita- ção técnica para sua utilização, em de- corrência de seu efeito explosivo, o que leva à sua produção no próprio local de uso. Estudos realizados demons- traram que o dióxido de cloro apresen- ta vantagens quando comparado aos demais compostos clorados. Ele pos- sui maior estabilidade em soluções aquosas, hidrolisa compostos fenó- licos (diminuindo a possibilidade de sa- bores e odores) e reage em menor intensidade com a matéria orgânica, apesar de ser cerca de 2,5 vezes mais oxidante do que o gás cloro. O dióxido de cloro é um desinfe- tante eficiente e, com baixos valores de tempo de contato, é efetivo para o controle de sabor e odor e para a oxi- dação de ferro e manganês, não sen- do exercida demanda adicional desse composto se a água bruta contiver amônia. O dióxido de cloro não produz quantidades significativas de subpro- dutos da desinfecção (ácidos haloacé- ticos, halocetonas e haloaldeídos), ex- ceto a formação de íons clorito e clorato em determinadas faixas de pH, pois cerca de 50% a 70% do dióxido de clo- ro consumido é reduzido a clorito. As principais desvantagens de sua utilização são: • a desinfecção com dióxido de clo- ro produz subprodutos, como cloritos e cloratos, cujos padrões de potabili- dade brasileiros são 0,2 mg L-1 ; • altos custos são associados ao monitoramento de cloritos e cloratos; • a luz solar decompõe o dióxido de cloro; • pode produzir odores repulsivos em alguns sistemas. Permanganato de potássio O permanganato de potássio é um oxidante eficiente para o controle de sabor e odor da água de consumo e para a oxidação de uma grande varie- dade de compostos orgânicos e inor- gânicos, principalmente de Fe e Mn, especialmente quan- do esses metais en- contram-se comple- xados com a matéria orgânica natural. Ele também é utilizado no controle de algas em decantadores. O per- manganato de potás- sio é altamente reativo sob condições encon- tradas nas estações de tratamento de água. Em condições ácidas, suas reações parciais são (potenciais padrões x EPH): MnO4 – (aq) + 4H+ (aq) + 3e– MnO2 (s) + 2H2 O(l) E0 = 1,68 V MnO4 – (aq)+ 8H+ (aq) + 5e– Mn2+ (aq)+ 4H2 O(l) E0 = 1,51 V Em condições alcalinas, a reação parcial é: MnO4 – (aq)+ 2H2 O(l) + 3e– MnO2 (s)+ 4OH– (aq) E0 = 0,60 V As taxas de reação de oxidação dos constituintes encontrados em águas naturais são relativamente rápidas e dependem da temperatura, do pH e da dosagem. Este reagente pode inativar várias bactérias e vírus; entretanto, não é em- pregado como desinfetante primário ou secundário quando aplicado em do- ses comumente utilizadas em trata- mento de água. Altas doses têm ele- vados custos; além disso, resíduos de KMnO4 deixam a água rosada. Não há estudos sobre a formação de subpro- dutos com esse método de tratamento. Ozônio O ozônio foi utilizado pela primeira vez no tratamento de água em 1893, na Holanda, não tendo sido muito utili- zado no Brasil. O ozônio é uma forma alotrópica do oxigênio, apresenta odor peculiar e irritante, é muito volátil e pou- co solúvel em água, sendo pouco está- vel. O ozônio é um potente oxidante, capaz de oxidar compostos orgânicos e inorgânicos na água, os quais exer- cerão uma demanda do oxidante an- tes de ocorrer a desinfecção. Por se tratar de um gás instá- vel, a sua produção tem de ser feita no pró- prio local de aplica- ção. A técnica mais comumente emprega- da na geração de ozô- nio é a descarga em plasma frio ou descar- ga corona, na qual o ozônio é formado pela decomposição do oxi- gênio molecular e pos- terior combinação de um átomo de oxigênio radicalar com uma molécula de oxi- gênio, como apresentam as reações a seguir: O2 O• + O• O• + O2 → O3 O ozônio decompõe-se na água, espontaneamente, por meio de meca- nismos complexos que envolvem a geração de radicais livres hidroxilas (•OH). Os dois mecanismos de reação do ozônio na água são: • oxidação direta dos compostos pelo ozônio, em valores de pH neutros ou ácidos; • oxidação dos compostos pelos radicais livres hidroxilas produzidos du- rante a decomposição do ozônio, em valores de pH básicos. O ozônio se decompõe com rapi- dez, principalmente em temperaturas relativamente elevadas. Na sua aplica- ção, perde-se cerca de 10% por vola- tilização. As principais vantagens do uso do ozônio são: • reduz sabor, odor e cor; • é um poderoso oxidante, com atuação rápida sobre a matéria orgâ- nica; • tem ação rápida sobre bactérias; • não apresenta riscos à saúde hu- mana em casos de doses excessivas, já que o seu tempo de meia-vida é de apenas alguns minutos; • destrói fenóis, detergentes e pig- mentos; • tem rápida ação desinfetante, sendo suficiente um tempo de contato de 5 a 10 minutos; O dióxido de cloro apresenta vantagens quando comparado aos demais compostos clorados. Ele possui maior estabilidade em soluções aquosas, hidrolisa compostos fenólicos (diminuindo a possibilidade de sabores e odores) e reage em menor intensidade com a matéria orgânica
  • 4. 11 QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 17, MAIO 2003Agentes desinfetantes alternativos para o tratamento de água • seu uso pode ser combinado com a pós-cloração para eliminar proble- mas organolépticos decorrentes da existência de material orgânico produ- tor de gosto e odor. Como empecilhos ao uso mais in- tenso do ozônio, prin- cipalmente no Brasil, citam-se: • é um gás veneno- so, de odor irritante, sem cor perceptível, tendo como concentra- ção máxima permissí- vel na atmosfera 0,1 mg m-3 , necessitan- do de mão-de-obra es- pecializada para sua manipulação; • não existem técni- cas analíticas suficientemente especí- ficas ou sensíveis para o controle de seus resíduos de forma imediata e efi- ciente após sua aplicação; • os custos operacionais, nos quais estão incluídos energia elétrica, insta- lação e operação, são altos, em torno de 10 a 15 vezes os do uso de cloro. Ozônio/peróxido de hidrogênio No processo ozônio/peróxido de hi- drogênio, há um acréscimo na concen- tração de •OH em relação ao processo de ozonização, aumentando o potencial de oxidação e desinfecção. Nesse pro- cesso, a eficiência de oxidação é au- mentada pela conversão de moléculas de ozônio em radicais hidroxila e pelo aprimoramento de transferência do ozô- nio da fase gasosa para a líquida, au- mentando as taxas da reação em geral. Ambas as reações do ozônio ocor- rerão e competirão pelo substrato. Por- tanto, a principal diferença é que a ozo- nização depende em alto grau da oxi- dação direta da matéria orgânica pelo ozônio, enquanto o peroxônio depende principalmente da oxidação do radical hidroxila. Os potenciais de redução do ozônio e dos radicais hidroxilas são apresen- tados nas reações a seguir (potenciais padrões x EPH): •OH(aq) + e– OH– (aq) E0 = 2,8 V O3 (aq) + 2H+ (aq) + 2e– O2 (aq)+H2 O(l) E0 = 2,07 V O3 (aq) + H2 O(aq) + 2e– O2 (aq) + 2OH– (aq) E0 = 1,24 V O valor do tempo de contato para o processo com peroxônio não pode ser medido, apesar do alto poder de- sinfetante, pois não se tem certeza da ge- ração de resíduo na rede. Cloraminas Uma outra classe de desinfetantes al- ternativos é a das clo- raminas, obtidas a partir da reação do cloro residual com a amônia. Podem-se formar três tipos de cloraminas, a partir das reações se- qüenciais ilustradas a seguir. Monocloramina: NH4 + (aq) + HOCl(aq) NH2 Cl(aq) + H2 O(l) + H+ (aq) Dicloramina: NH2 Cl(aq) + HOCl(aq) NHCl2 (aq) + H2 O(l) Tricloramina: NHCl2 (aq)+ HOCl(aq) NCl3 (aq) + H2 O(l) A formação dos três tipos de clora- minas é dependente da relação cloro/ nitrogênio, do pH, da temperatura e do tempo de reação, sendo que a dimi- nuição do pH e o aumento da relação cloro/nitrogênio favorece a formação de produtos mais clorados. Em pH 8,5, a monocloramina encontra-se em maior quantidade. Em pH 4,4, virtual- mente toda cloramina se encontra na forma de tricloramina, cuja presença é responsável, em parte, pelo odor e gosto desagradáveis na água. Na faixa de pH 4,5 a 9,0, monocloramina e dicloramina coexistem em proporções variadas. Por exemplo, entre pH 4,5 e 5,5, existe quase que somente diclo- ramina. Essas quantidades de mono, di e tricloramina são relevantes, já que apresentam entre si diferente poder de desinfecção: a dicloramina tem maior efeito bactericida, seguida da mono- cloramina; a tricloramina apresenta praticamente nenhum efeito desinfe- tante. Para a aplicação das cloraminas como desinfetantes primários em uma estação de tratamento de água, o amô- nio e o cloro são adicionados à água simultaneamente ou em sucessões próximas. As cloraminas são uma boa escolha como desinfetantes secundários, de- vido às seguintes vantagens: • são menos reativas com a matéria orgânica do que o cloro, minimizando a formação de trihalometanos e ácidos haloacéticos; • são de fácil obtenção e baixo cus- to; • minimizam o surgimento de pro- blemas de gosto e odor. Algumas das suas desvantagens são: • têm menor poder de desinfecção que o cloro, o ozônio e o dióxido de cloro, e o tempo de contato para con- trole bacteriológico deve ser muito lon- go; • não oxidam ferro, manganês e sulfito; • devem ser produzidas in situ. Conclusões Qualquer que seja o desinfetante alternativo, deve-se garantir que: a) seja efetivo na inativação de bac- térias, vírus e protozoários, entre outros organismos patogênicos; b) sua aplicação seja confiável e feita por meio de equipamentos sim- ples, tendo em vista o grau de desen- volvimento socioeconômico da comu- nidade; c) não produza qualquer composto secundário que cause risco à saúde pública; d) apresente atributos similares ao do cloro, tais como fornecer resíduos persistentes na água; e) tenha sua concentração facil- mente medida, não acarrete sabor e odor, e seja disponível no mercado a custos razoáveis. No Brasil, não se tem feito uso de agentes desinfetantes alternativos tais como ozônio, dióxido de cloro, per- manganato de potássio e peroxônios, sendo que estes vêm sendo utilizados somente em universidades, para fins de pesquisa. As cloraminas são uma boa escolha como desinfetantes secundários, pois são menos reativas com a matéria orgânica do que o cloro (minimizando a formação de trihalometanos e ácidos haloacéticos),são de fácil obtenção e baixo custo, e minimizam o surgimento de problemas de gosto e odor
  • 5. 12 QUÍMICA NOVA NA ESCOLA N° 17, MAIO 2003Agentes desinfetantes alternativos para o tratamento de água Abstract: Alternative Disinfectants for Drinking Water Treatment – Water for human consumption must meet minimum requirements in order to be ingested or used for hygienic purposes. In Brazil the disinfection of drinking water is usually done by the addition of chlorine, in the forms of chlorine gas and sodium hypochlorite. Recent studies demonstrated that the disinfection of water with chlorine can bring certain inconveniences, as the formation of trihalomethanes, which are carcinogenic substances. In this paper, the use of alternative disinfectants is discussed in order to minimize the formation of trihalomethanes. Keywords: trihalomethanes, water disinfection, alternative disinfectants Para saber mais DANIEL, L.A. Processos de desinfec- ção e desinfetantes alternativos na pro- dução de água potável. Rio de Janeiro: RIMa, ABES-PROSAB, 2001. p. 27. DI BERNARDO, L. Métodos e técnicas de tratamento de água. Rio de Janeiro: ABES, 1993. v. 2. DI BERNARDO, L. Algas e suas influ- ências na qualidade de águas e nas tec- nologias de tratamento. Rio de Janeiro: ABES, 1995. MACÊDO, J.A.B. Determinação de trihalometanos em águas de abasteci- mento público e de indústria de ali- mentos. Viçosa, Universidade Federal de Viçosa (tese de doutorado), 1997. USEPA - U.S. ENVIROMENTAL PRO- TECTTION AGENCY. Alternative disinfec- tants and oxidants guidance manual. Washington, 1999. Não tem havido investimento em desinfetantes alternativos ao uso do cloro, por este apresentar o mais baixo custo, mantendo ainda alguma efici- ência. A utilização de tal agente aumen- ta os riscos à saúde pública, principal- mente quando a água apresenta uma coloração muito escura, o que geral- mente é devido a uma grande quanti- dade de matéria orgânica (substâncias húmicas). O controle tem sido realiza- do principalmente através de dosagem da quantidade de trihalometanos for- mados na água. Em países desenvolvidos, tais co- mo França, Alemanha e Estados Uni- dos, tais agentes alternativos já vêm sendo empregados no tratamento de água pública. Futuramente, os desin- fetantes não clorados deverão ser cres- centemente utilizados, de forma com- binada e até substitutiva ao cloro, de acordo com o desenvolvimento socio- econômico da comunidade e com os custos envolvidos no tratamento de água. Sérgio M. Sanches (smsanches@iqsc.sc.usp.br), quí- mico, formado pela Universidade Federal de Uberlân- dia, mestre em Química Analítica pela USP, é aluno de doutorado em Ciências da Engenharia Ambiental, na USP, em São Carlos - SP. Carlos Henrique Tomich de Paula da Silva (tomich@if.sc.usp.br), químico pela Uni- camp, mestre pelo Instituto Militar de Engenharia, doutor pela USP, faz atualmente pós-doutorado no Instituto de Física de São Carlos da USP. Eny Maria Vieira (eny@iqsc.sc.usp.br), química formada pela Universidade de Alfenas, mestre e doutora em Química Analítica pela USP, é docente do Instituto de Química de São Carlos da USP. Elemento 110: Darmstádtio? A descoberta do ele- mento 110 (vide Química Nova na Escola, n. 5 , p. 12, 1997) foi confirmada por um grupo de trabalho conjunto da IUPAC (União Internacional de Química Pura e Aplicada) e da IUPAP (União Internacional de Física Pura e Aplicada), em 2001 (vide Química Nova na Escola, n. 14 , p. 45, 2001). Agora os descobridores do elemento, pesquisa- dores do GSI - Centro de Pesquisas sobre Íons Pesados, em Darmstadt, Alemanha, propuseram nome e símbolo para esse elemento: darmstádtio e Ds. Esta proposta está de acordo com a tra- dição de elementos serem nomeados com base no nome do local em que fo- ram descobertos. A aceitação dessa proposta está sendo recomendada ao Conselho da IUPAC pela sua Divisão de Química Inorgânica. O conselho deverá analisar a proposta durante a 42ª Assembléia Geral da IUPAC, prevista para ocorrer de 9 a 17 de agosto de 2003, em Ottawa, Canadá. Para mais informações, vide: http:/ /www.iupac.org/publications/ci/2003/ 2503/pr1_corish.html. Revista Enseñanza de las Ciencias Publicada desde 1983, a revista Enseñanza de las Ciencias (http:// blues.uab.es/rev-ens-ciencias) é ponto de referência entre os profissionais do campo do ensino de Matemática e das Ciências Experimentais, na Espanha e na Iberoamérica. Publicada pelo Instituto de Ciências da Educação da Universidade Autô- noma de Barcelona (UAB) e pela Pró- Reitoria de Pesquisa da Universidade de Valência (UV), tem como objetivos: • No campo do ensino de Ciências, aprofundar-se na base teórica dos estu- dos e pesquisas publicados, propician- do reflexões fundamentadas sobre a si- tuação e perspectivas das diferentes li- nhasdeinvestigaçãoprioritáriasnaatua- lidade, e fomentar trabalhos interpre- tativos que permitam o avanço na com- preensão de problemas significativos relacionados à aprendizagem científica. • Promover estudos que atendam às necessidades do professorado de Ciên- cias/Matemática e que aprofundem-se no impacto sobre diferentes práticas educativas, em sala de aula ou em con- Notas Ds 110 textos informais. Assim, dar prioridade à publicação de estudos, relacionados ao ensino e à aprendizagem de conteú- dos científicos e matemáticos, que ana- lisem a gestão da aula (trabalhos em grupos pequenos ou grandes, coope- ração e trabalho individual, etc.), o grau de envolvimento do estudante na apren- dizagem, sua autonomia ou dependên- cia, a atenção à diversidade de interes- ses e níveis dos alunos de um grupo/ classe, o preparo e aplicação de ativi- dades de diferentes tipos, a correção de erros no processo de aprendizagem etc. • Incentivar análises críticas sobre os trabalhos em desenvolvimento na atuali- dade. A revista, cuja editoria é compartilha- da por docentes da UAB e da UV (lidera- dos por Neus Sanmartí e Carmen Azcá- rate, da UAB), dispõe tanto de assina- turas em papel (com acesso via Internet) ou só para acesso via Internet (com re- cebimento de um CD, ao final do ano). Cabe destacar que os números pu- blicados no período 1998-2001 estão disponíveis para acesso gratuito no en- dereço http://www.bib.uab.es/pub/ ensenanzadelasciencias. (RCRF)