Este estudo avaliou a atividade citotóxica e antimicrobiana do extrato etanólico da periderme de Sclerolobium paniculatum. A triagem fitoquímica revelou a presença de compostos fenólicos, taninos e alcaloides. O extrato não apresentou toxicidade contra Artemia salina. Foi observada atividade antimicrobiana contra Staphylococcus aureus, Escherichia coli e Klebsiella pneunomiae.
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Estudo fitoquímico e atividade de S. paniculatum
1. REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228
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Volume 15 - Número 2 - 2º Semestre 2015
ESTUDO FITOQUÍMICO, ATIVIDADE MICROBIOLÓGICA E CITOTÓXICA EM
Artemia salina DA PERIDERME DE Sclerolobium paniculatum VOGEL
(CAESALPINIOIDEAE)
Gian Braian Silva Furtado1; Sheylla Susan Moreira da Silva de Almeida2
RESUMO
Esta pesquisa objetivou avaliar a citotoxidade, atividade antibacteriana e composição
farmacognóstica dos extratos etanólicos da periderme de Sclerolobium paniculatum. Realizou-se a
triagem fitoquímica, foram realizadas reações testes, dos quais oito foram positivos: ácidos orgânicos,
fenóis/taninos, açúcares redutores, alcaloides, saponinas espumídicas, saponinas hemolíticas,
depsídeos/depsidonas e antraquinonas; e os negativos para: flavonoides, resinas,
esteroides/triterpenoides e polissacarídeos. O ensaio de letalidade com Artemia salina L. foi realizado
e apresentou nenhuma morte, sugerindo nenhuma toxidade. Para o estudo antimicrobiano por difusão
em discos, foram utilizadas cepas de bactérias Gram positiva: Staphylococcus aureus (ATCC25923)
e Gram negativas: Escherichia coli (ATCC25922) Klebsiella pneunomiae (ATCC13883), no qual
foram submetidas aos antibióticos e ao extrato diluído, nas seguintes concentrações: 25, 50 e
100mg/mL. A espécie S. paniculatum apresentou atividade contra em todas as cepas, considerando
as seguintes concentrações inibitórias a partir de: 50mg/mL para S. aureus; 25 mg/mL para E. coli e
100 mg/mL para K. pneunomiae que pode estar relacionada pela presença de fenóis, taninos e
alcaloides, devido a ação antimicrobiana.
Palavras-chave: Fitoquímica, atividade microbiológica, ação citotóxica, periderme, Sclerolobium
paniculatum.
PHYTOCHEMICAL STUDY, CYTOTOXIC ACTIVITY AND MICROBIOLOGICAL IN
Artemia salina PERIDERM OF THE Sclerolobium paniculatum VOGEL
(CAESALPINIOIDEAE)
ABSTRACT
This research aimed to evaluate the cytotoxicity, antibacterial activity and pharmacognostic
composition of ethanol extracts of the periderm Sclerolobium paniculatum. Held the phytochemical
screening, reaction tests were performed, eight of which were positive: organic acids,
phenols/tannins, reducing sugars, alkaloids, sparkling saponins, haemolytic saponins,
depsides/depsidones and anthraquinones; and negative to: flavonoids, resins, steroids/triterpenoids
and polysaccharides. The lethality assay with Artemia salina L. was performed and showed no death,
suggesting no toxicity. To study antimicrobial for the disc diffusion, strains of bacteria were used
Gram positive: Staphylococcus aureus (ATCC25923) e Gram negative: Escherichia coli
(ATCC25922) Klebsiella pneunomiae (ATCC13883), in which underwent antibiotic and the extract
diluted, the following concentrations: 50 mg / mL for S. aureus; 25 mg/mL for E. coli and 100 mg/mL
for K. pneunomiae which may be related to the presence of phenols, tannins and alkaloids, due to
antimicrobial action.
Keywords: Phytochemical, microbiological activity, cytotoxic activity, periderm, Sclerolobium
paniculatum.
2. 9
INTRODUÇÃO
Sclerolobium paniculatum Vogel
pertence à família Leguminosae-
Caesalpinioideae (LORENZI, 2008), perenifólia
com 8 a 30 m de alturade altura na idade adulta
(RIZZINI, 1976;). Conhecida popularmente
como taxi-branco-da-terra-firme, madeira de
boa reputação para produção de lenha e de
carvão vegetal, sendo também recomendada
para produção de álcool e coque (PAULA,
1980). O uso medicinal pela decocção de sua
casca é relatado pela população para tratamento
de feridas (OLIVEIRA, 2006). Por isso, fez-se
uma pesquisa preliminar da casca deste vegetal,
determinando de forma qualitativa os
metabólicos secundários, por meio de uma
triagem fitoquímica, que é de extrema
importância para descoberta de novos agentes
com atividade farmacológica. A análise
citotóxica com Artemia salina, método
experimental alternativo, simples e barato, para
a determinação da atividade biológica de
compostos ou extratos naturais, toxinas
contaminantes do meio ambiente (MAYER et
al., 1982); e como também atividade
antimicrobiana do extrato bruto etanólico da
periderme do Sclerolobium paniculatum Vogel,
faz-se necessário, devido ao surgimento de
novos agentes antimicrobianos se faz necessária
devido ao surgimento de microrganismos
resistentes e de infecções oportunistas fatais,
associadas a AIDS, quimioterapia
antineoplásica e transplantes (PENNA et al.,
2001). Desta forma, tais pesquisas contribuem,
significativamente, no desenvolvimento do
campo da saúde em nível mundial, encontrando
substâncias mais eficazes e menos tóxicas na
corrida contra a resistência e o surgimento de
microrganismos patogênicos (LEITÃO et al.,
2006; BARBOSA-FILHO et al., 2007).
MATERIAL E MÉTODOS
Coleta e identificação do material vegetal
Foram coletadas cascas de S.
paniculatum, encontradas no município de
Pedra Branca do Amapari-AP, setembro de
2011. A planta foi identificada pelo Profa. Dra.
Wegliane Campelo da Silva Aparício, do
Laboratório de Botânica da Universidade
Federal do Estado do Amapá (UNIFAP), onde
uma exsicata foi depositada no Herbário cujo
voucher 438.
Preparação e caracterização dos extratos
As partes da periderme do vegetal foram
inicialmente secas em uma estufa de ar não
circulante, e fragmentada mecanicamente em
um moinho de facas. Os fragmentos (120 g)
foram submetidos a um processo de extração
etanólica a ar quente sob refluxo, 45 min. a 45º,
sendo este processo repetido 3 vezes. Em
seguida, os materiais foram filtrados e os
extratos etanólicos obtidos concentrados em
evaporador rotatório, sob pressão reduzida,
obtendo-se assim, aproximadamente 12,2g o
Extrato Bruto de Etanólico da periderme S.
paniculatum (EBEPS) (SIMÕES 2007;
FARMACOPEIA BRASILEIRA, 2010;).
Avaliação da atividade citotóxica
A atividade citotóxica dos extratos foi
avaliada através do teste de letalidade contra A.
salina Leach, de acordo com o método proposto
por McLaughlin e Rogers, (1998) e por Mayer
et al. (1982). Cerca de 25mg de cistos de A.
salina L., provenientes do Laboratório de
Farmacognosia e Fitoquímica, sob refrigeração
a 50C. Inicialmente, foram preparados 500mL de
solução de sal marinho. Foram encubados em
um recipiente que possui dois compartimentos
separados por uma parede vazada no centro,
contendo água do mar artificial à temperatura de
20 a 300C. Fez-se o uso de uma bomba de
aquário para saturar de oxigênio o meio salino,
além do uso de uma lâmpada de 40 watts
(lâmpada incandescente) incidindo em apenas
um dos compartimentos para onde migrarão os
náuplios, obtidos com a eclosão dos cistos, após
24 horas de incubação. Os ensaios foram
realizados em triplicata, buscando-se a
determinação da relação dose-resposta. Houve
um grupo controle, apenas com a solução marina
artificial, e os grupos teste: água do mar artificial
com EBEPS nas concentrações de 1000, 750,
500, 300, 100, 30, 10, 3 e 1 μg/mL. A solução
mãe foi feita com 20mg do extrato. Em cada
tubo foi colocados dez larvas de A. salina L.,
incluindo o controle, sendo completado até o
volume final de 1mL com solução marinha
artificial e solução mãe a cada concentração.
3. 10
Após 24 horas sobre o efeito do meio e sob
incidência de luz, foram contabilizados os
números de mortos e vivos e calculada a
concentração letal média (CL50), determinada
pelo método estatístico de Probits (PARRA et
al., 2001; MCLAUGHLIN; ROGERS, 1998)
Prospecção fitoquímica
Os extratos brutos foram submetidos a
uma série de reações de caracterização
fitoquímica para detecção da presença de
metabólitos secundários como compostos
fenólicos e taninos (reação de precipitação com
cloreto férrico), caracterização de flavonoides
(solução etanólica com limalha de magnésio e
ácido clorídrico fumegante), determinação de
alcaloides (reação com Mayer, Dragendorff,
Bouchardt e Bertrand), caracterização de
antraquinonas (reação com solução de benzeno
e hidróxido de amônio); determinação de
saponinas espumídicas por agitação
(determinação do índice de espuma), e
hemolíticas por hemólise de sangue bovino com
anti-coagulante; identificação de ácidos
orgânicos (reação com reativo pascová);
açúcares redutores identificados pelo reativo de
Fehling A e B; polissacarídeos determinados
pelo Lugol; esteroides e triterpenoides (reação
com solução de clorofórmio, anidrido acético e
ácido sulfúrico); depsídios e depsidonas (reação
com solução de éter dietílico, metanol e cloreto
férrico); resinas ( material botânico em banho-maria,
depois dissolvido em etanol), segundo
metodologia descrita por Simões (2007) e pela
Farmacopeia, (2010).
Amostras bacterianas
Foi utilizado no presente trabalho cepas
de bactérias Gram positiva: Staphylococcus
aureus (ATCC25923) e Gram negativas:
Escherichia coli (ATCC25922) Klebsiella
pneunomiae (ATCC13883), oriundas do
Laboratório Central do Amapá (LACEN-AP).
Determinação da atividade antimicrobiana
O teste de difusão em disco é aceito pelo
Food and Drug Administration (FDA) e
estabelecido como padrão pelo National
Committe for Clinical Laboratory Standards
(NCCLS) (BARRY; THORNSBERRY, 1991).
O teste de difusão em disco sugerido por
Voravunthikunchai et al. (2004), porém com
algumas alterações. A metodologia consiste em
determinar de forma qualitativa dos extratos
etanólicos e aquosos de plantas medicinais que
produziam zonas de inibição utilizando o
método de difusão em ágar em colocar os discos
sobre o meio de cultura sólido, 1 μL de cada
cultura de bactérias foi colocado em Mueller
Hinton Agar (MHA), previamente inoculado em
placas de Petri de carga microbiana 108 UFC
(Unidade Formadora de Colônia)/mL para
bactérias, (CHATTOPADHYAY et al., 2002;
KARAMAN et al., 2003). A disposição dos
discos deve ser tal que sua distância até a lateral
da placa seja maior que 15 mm e de modo a não
sobrepor as zonas de inibição. O pH do meio de
cultura deve estar entre 7,2 e 7,4, e a
profundidade recomendada é de
aproximadamente 4 mm (BARRY;
THORNSBERRY, 1991). Os discos de papel de
filtro de 6 mm de diâmetro foram embebidos por
três concentrações: 25, 50 e 100mg/mL do
extrato bruto etanólico da periderme de S.
paniculatum em solução metanólica. Utilizou-se
como controle positivo: Cefotaxina (CTX30),
Ceftazidina (CAZ30), Ceftriaxona (CRO30),
Norfloxacina (NOR10), e Levofloxacina
(LVX05). Após incubação por 24 h a 35 ºC
observou-se as zonas de inibição.
RESULTADOS
A triagem fitoquímica preliminar do
extrato etanólico da periderme de Sclerolobium
paniculatum L. revelou a presença de compostos
fenólicos; taninos; alcaloides; saponinas
espumídicas e hemolíticas; ácidos orgânicos;
açúcares redutores; antraquinonas onde os
resultados encontra-se na Tabela.1.
4. 11
Tabela 1. Resultados das análises fitoquímicas
Metabólicos EBEPS
Ácidos orgânicos +++
Áçúcares redutores +++
Alcalóides +++
Antraquinonas ++
Bases Quarternária 0
Cumarina 0
Depsídeos/Depsidonas +
Fenóis +++
Flavonoides S
Esteroides -
Heterosídeo Cardíaco 0
Polissacarídeos -
Resinas -
Saponina Espumídicas +++
Saponinas Hemolíticas +++
Triterpernoides -
Taninos +++
PARÂMETROS: ausente (-), não realizado (0), fraco (+),
médio (++), forte (+++), Suspeita (S).
Para o estudo antimicrobiano, verificou-se
atividade contra todas as cepas, considerando
as seguintes concentrações inibitórias a partir
de: 50mg/mL para S. aureus; 25 mg/mL para E.
coli e 100 mg/mL para K. pneunomiae.
Quanto o teste de letalidade frente à A.
salina L., verificou-se nenhum óbito dos
crustáceos nas diferentes concentrações das
frações testadas, como também os do controle,
sugerindo nenhuma toxidade para a
concentração menor/igual a 1000 μg/mL. Não se
obteve a CL50.
DISCUSSÃO
A ausência de citoxicidade do extrato no
teste de letalidade contra Artemia salina é um
indicador de que a planta pode ser bem tolerada
frente ao sistema biológico. Entretanto, estudos
mais detalhados para a avaliação da toxicidade
dos extratos bioativos, empregando-se outros
modelos (in vitro e in vivo), se fazem
necessários.
Quanto ao estudo fitoquímico, deve-se
fazer algumas observações. Há suspeita da
existência de flavonoides no vegetal, por isso,
faz-se necessário o uso da cromatografia. Antes
da identificação de esteroides/triterpenoides,
fez-se primeiro a determinação de resinas, como
este último foi ausente, foi sugerido à ausência
também dos mesmos na forma livre, pois a
composição molecular das resinas é baseada
principalmente em terpenóides e compostos
fenólicos (LANGENHEIM, 1990), hipótese
confirmada com o teste, apesar de presentes na
constituição das saponinas (SIMÕES, 2007).
Devido à presença forte de fenóis, suspeitou-se
da presença de antraquinona, pois ela pode ser
considerada produto da oxidação de fenóis
(CARVALHO; ALMANÇA 2003).
As drogas antimicrobianas podem
funcionar de cinco modos: inibição da síntese de
parede celular, inibição da síntese de proteínas,
inibição da síntese de ácidos nucleicos, dano à
membrana plasmática ou inibição da síntese de
metabólicos essenciais (Tortora et al., 2012). Os
agentes antimicrobianos naturais são uma
alternativa atrativa para oferecer produtos
saudáveis e seguros.
A atividade antimicrobiana do vegetal
está relacionada a presença de fenóis: por
causarem lesão nas membranas plasmáticas
lipídicas, o que resulta no vazamento do
conteúdo celular; taninos: pela inibição de
enzimas; saponinas: pela ação sobre as
membranas celulares, alterando a
permeabilidade ou a destruição da mesma
(Tortora et al, 2012; Simões 2007). Este último,
também pode estar relacionado à atividade da
resposta imune, e no desenvolvimento de
vacinas, ambas as propriedades,
imunoadjuvante e hemolítica, exercem
atividades antagônicas, contudo, as informações
sobre as relações estrutura-atividade são
relativamente escassas e, às vezes, conflitantes
(Kaiser, 2009).
Os alcalóides, que possuem ampla gama
atividades biológicas investigadas, como
amebicida, anticolinérgico, anti-hipertensivos e
entre outros. Ácidos orgânicos podem estar
relacinados a população microbita no trato
digestivo de animais, favorencendo na engorda
do animal (Freitas, 2006). A boa produção de
álcool da madeira deste vegetal se deve pela
presença de açúcares redutores (Paula, 1980).
Devido a grande quantidade de
metabólicos secundários presentes no
Sclerolobium paniculatum V., faz-se necessário
fazer uma investigação quantitativa para se
determinar os metabólicos mais predominantes
no vegetal, isola-los e submete-los a estudos in
vivo e in vitro, proporcionando a esta espécie
uma fonte promissora na busca de novos
fármacos.
5. 12
AGRADECIMENTOS
Programa de Educação Tutorial (PET),
Universidade Federal do Amapá (UNIFAP),
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA).
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6. 13
______________________________________
1-Graduando do Curso de Farmácia.
Laboratório de Farmacognosia e Fitoquímica.
Departamento de Ciências da Saúde. Curso de
Farmácia. Universidade Federal do Amapá –
Rodovia Juscelino Kubistchek, KM-02. Jardim
Marco Zero – 68.902-280 – Macapá-AP, Brasil.
2-Doutora em Química de Produtos Naturais.
Laboratório de Farmacognosia e Fitoquímica.
Departamento de Ciências da Saúde. Curso de
Farmácia. Universidade Federal do Amapá –
Rodovia Juscelino Kubistchek, KM-02. Jardim
Marco Zero – 68.902-280 – Macapá-AP, Brasil.