A obesidade é determinada pelo balanço energético positivo e é regulada por diversos fatores fisiológicos, comportamentais e ambientais. Muitas substâncias estão envolvidas na regulação do apetite e controle do peso, incluindo a leptina, insulina, peptídeos intestinais, neuropeptídeos hipotalâmicos e hormônios liberados após as refeições. A interação complexa destes fatores demonstra porque o comportamento alimentar e manutenção do peso são processos desafiadores.
Conferência SC 24 | Estratégias omnicanal: transformando a logística em exper...
A obesidade
1. A obesidade, como sabemos, é uma doença multifatorial determinada, basicamente, pelo
balanço energético positivo.
O comportamento alimentar é controlado pelas sensações de
fome, apetite e saciedade e estas são decorrentes da interação
de diversos fatores tais como hábito, disponibilidade de
alimentos, fatores sociais e culturais, ritmo circadiano e da
interação de diversos sinais fisiológicos de regulação.
A descrição das inúmeras substâncias envolvidas na regulação
do apetite e no controle do peso, a identificação dos centros
envolvidos e as evidências de suas inter-relações, demonstram
a complexidade do comportamento alimentar e da homeostase
energética.
A leptina e a insulina são hormônios secretados em proporção à
massa adiposa e atuam, perifericamente, estimulando o
catabolismo.
No sistema nervoso central, a insulina e a leptina interagem
com receptores hipotalâmicos favorecendo a saciedade. Indivíduos obesos têm maiores
concentrações séricas destes hormônios e apresentam resistência à sua ação.
A leptina parece atuar ainda na homeostase energética. Observou-se que, com um balanço
energético positivo, tem-se discreto aumento dos níveis de leptina, independentemente de
alterações prévias no tecido adiposo. Essa alteração parece ser responsável por um aumento
do consumo de oxigênio tissular e por um aumento da termogênese. Estudos experimentais
demonstraram que a insulina tem uma função essencial para também aumentar o gasto
energético e regular a ação da leptina.
Os peptídeos intestinais, combinados a outros sinais, podem estimular (grelina e orexina) ou
inibir (colecistoquinina e oximodulina) a ingestão alimentar. Todos atuam nos centros
hipotalâmicos, que é o grande responsável pelo comportamento alimentar.
No hipotálamo há dois grandes grupos de neuropeptídeos, os orexígenos (NPY e AgRP) e os
anorexígenos (MSH e CART).
Evidências demonstram que a saciedade prandial é atribuída predominantemente à ação da
Colecistocinina (CCK), que é liberada pelo trato gastrointestinal em resposta à presença de
gordura e proteína.
Juntamente com a distensão abdominal, a CCK é a maior responsável pela inibição da
ingestão alimentar em curto prazo. Parece que a ação da CCK é potencializada pela distensão,
indicando um sinergismo entre seus receptores (além dos receptores de outros moduladores) e
os mecanoceptores do trato gastrointestinal.
Outro inibidor da ingestão alimentar é o peptídeo YY, ou PYY.
Esse peptídeo é expresso pelas células da mucosa intestinal e sugere-se que a regulação é
neural, já que seus níveis plasmáticos aumentam quase que imediatamente após a ingestão
alimentar.
Obesos apresentam menor elevação dos níveis de PYY pós prandial, especialmente em
refeições noturnas, levando a uma maior ingestão calórica.
A oxintomodulina (OXM) foi recentemente identificada como um supressor da ingestão
alimentar.
2. Esse peptídeo é secretado na porção distal do intestino e
parece agir diretamente nos centros hipotalâmicos para diminuir
o apetite, diminuir a ingestão calórica e diminuir os níveis
séricos de grelina. A OXM atua principalmente em
condiçõesespeciais, tais como após cirurgia bariátrica.
A grelina é um dos mais importantes sinalizadores para o início
da ingestão alimentar. Sua concentração mantém-se alta nos
períodos de jejum e nos períodos que antecedem as refeições,
caindo imediatamente após a alimentação, o que também
sugere um controle neural.
Esse peptídeo também está envolvido na secreção do hormônio
de crescimento (GH) e no depósito de gordura .
A ação no controle do apetite e dos depósitos energéticos
depende da ação hipotalâmica e do estímulo para secreção do
neuropeptídeo Y e do peptídeo agouti (AgRP).
As orexinas A e B, como a grelina, são secretadas pelo trato
gastrointestinal e elevam-se nos períodos de jejum. Atuam
estimulando receptores vagais e reduzindo a descarga de CCK.
Em humanos, doses fisiológicas de grelina e orexinas estimulam o apetite enquanto que a
leptina, o PYY e a OXM, inibem.
Para regulação da ingestão de alimentos e de armazenamento de energia, uma série de
fatores neuronais, intestinais, endócrinos e adipocitários atuam e interagem, e a identificação
de todos os centros envolvidos e as evidências de suas inter-relações demonstram a
complexidade do comportamento alimentar e da homeostase energética.
Essa elucidação pode facilitar o tratamento da obesidade, além de estimular pesquisas para
novas medicações que poderiam ser mais efetivas para o controle desta epidemia.