2. A baposa e o rode
Por um azino do destar uma rapiu caosa, num pundo profoço do quir
não consegual saiu. Um rode, passi por alando, algois tum depempo e
vosa a rapendo foi mordade pela duriosidido. “Comosa rapadre” –
perguntou – “que ê que esti fazá aendo? ” “Voção entê são nabe?”
respondosa a mapreira rateu. “Vaí em a mais terreca sível de teste a
histoda do nordória. Salti aqui no foço deste pundo e guardarar a ei que
botágua sim pra mó. Porér, se vocem quisê, como é mau compedre,
perme fazia companhode”. Sem pensezes duas var, o bem saltode
tambou no pundo do foço. A rapente, imediatamosa, treposta nas cou-
lhes, apoifre num dos xides do bouse e salfoço tora do fou, enquava
berranto: “Adadre, compeus”.
Moral: jamie confais em quã estade em di culdém.
PAULILLO, M.C.R.A. (org.). Millôr Fernandes, literatura comentada. São Paulo: Abril Educação, 1980,
pp. 30-1.
3. Você conseguiu entender alguma coisa?
Se sim, é porque entendeu a técnica usada pelo autor
para criar uma “nova língua”: trocar as partes finais das
palavras.
Veja:
“Por um azino do destar uma rapiu caosa (...)”
Lê-se:
“Por um azar do destino uma raposa caiu” (...)
4. Para entender, fazemos força, isto é, exercitamos a
compreensão, o que não ocorre com a nossa língua,
porque já estamos acostumados, sua estrutura já foi
assimilada por nós.
5. Então, para compreender melhor nosso sistema, veja as
palavras seguintes:
dente
dentista
dentição
dentadura
Parte comum: a forma dent (principal)
Outras partes: variam em cada palavra e são os
responsáveis por modificar a significação.
dentada
desdentado
dentar
6. Essas partes - de unidades mínimas de significação - ,
recebem o nome de morfemas.
MORFO = forma
EMA = unidade distintiva
MORFEMA = forma que gera diferença de significado.
8. Em “dentista”, o morfema ista acrescenta ao significado
(dente) a ideia do profissional que trabalha com isso.
Em “dentar”, o morfema ar acrescenta a ideia de ação
(cravar os dentes).
O acréscimo desses morfemas ao radical cria novas
palavras a partir da original.
9. Afixo: morfema capaz de operar modificações
semânticas no radical a que se agrega.
Prefixo: quando colocado antes do radical.
Sufixo: quando colocado depois do radical.
Veja:
pedra – pedreiro – pedrada – empedrar – apedrejar
10. A cada nova palavra formada por acréscimo de sufixo e
prefixo dá-se um novo significado e, em alguns casos,
muda-se a classe de palavra:
empedrar e apedrejar são verbos formados a partir
do substantivo pedra.
Há morfemas que geram mudança ao radical, mas não
criam uma nova palavra, apenas flexionam a original:
pedra + morfema –s = pedras.
11. Desinências: morfemas que flexionam a palavras.
As flexões podem ser nominais ou verbais.
Flexões nominais: gênero, número e grau.
Flexões verbais: número, pessoa, tempo e modo.
12. Vogal temática: morfema que se junta ao radical para
fazer a ligação com as desinências.
vogal temática
Apedrejar
desinência de infinitivo
vogal temática
Apedrejariam desinência número-pessoal: 3ª p. do plural
desinência modo-temporal: futuro do pretérito
do modo indicativo
13. Há ainda, as vogais ou consoantes de ligação:
morfemas que surgem para facilitar a pronúncia de uma
palavra – não possuem valor significativo.
Gasômetro = gás + metro, ligados pela vogal –o,
Paulada = pau + ada, ligados pela consoante –l
14. Radical • Núcleo mais
significativo de uma
palavra.
• Base sobre a qual se
cria uma família de
vocábulos, os
cognatos.
• É a ele que se agregam
os demais morfemas.
narrar,
narrável,
inenarrável,
narrador,
narradorazinha,
narrávamos,
narrativa,
narração,
narratividade.
15. Afixos
(prefixos e sufixos)
• Morfemas que,
acrescidos ao radical,
modificam seu
significado.
• Podem provocar
mudanças de classe
gramatical.
Prefixos: inenarrável,
abdicar, admirar,
depor, predizer.
Sufixos: narrar,
narrável, narrador,
narradorazinha,
narração.
16. Desinências
(nominais e verbais)
• Morfemas indicadores
de flexões.
• Desinências verbais
indicam o tempo e o
modo (modo-
temporal) e o gênero e
o número (número-
pessoal) do verbo.
• Desinências nominais
indicam o gênero e o
número de nomes e
pronomes.
Desinências verbais:
narraremos, narráveis,
narravas,
narrássemos,
narraríeis, narraste,
narrastes.
Desinências
nominais: narradora,
narradorazinhas;
aluno, aluna, livros,
mesmo, algumas
estudioso, estudiosas.
17. Vogal temática • Morfema que liga o
radical às desinências.
Adicionada ao radical,
forma o tema.
• Subclassificam-se em
nominais e verbais.
• As vogais temáticas
nominais são -a, -e, -o,
em sílabas átonas
finais.
• As vogais temáticas
verbais são -a, -e, -i, e
indicam as
Vogais temáticas
nominais
-a casa, luta, dentista
-e alegre, fase
-o choro, livro, disco,
Vogais temáticas
verbais
-a estudava, chegará,
(primeira conjugação)
-e vendem, pões,
(segunda conjugação)
-i definiria, sentisse,
(terceira conjugação)
18. Vogal e consoante
de ligação
• Morfemas atípicos.
• São aqueles acrescidos
por motivo de eufonia,
e não por razão
semântica.
Vogais de ligação
silvícola, gasômetro,
cacauicultor, raticida
Consoante de ligação
cafeteira, pezinho,
chaleira, pobretão,
capinzal, cafezal