1. AS PRINCIPAIS CLASSES DE
MEDICAMENTOS QUE AGEM SOBRE O
SISTEMA NERVOSO CENTRAL
Os psicofármacos são um recurso entre outros para o
tratamento em Saúde Mental, entretanto, o seu uso só faz
sentido quando dentro de um contexto de vínculo e de
escuta. É a partir do momento em que o usuário
compreende e se corresponsabiliza pelo uso da medicação
que passará a não somente demandar “troca de receitas”,
mas poderá se implicar um pouco diante das queixas que
traz.
2. PSICOFÁRMACOS
Para o profissional,
diante de alguém em
sofrimento, é
importante considerar
a perigosa ideia de que
o remédio possa
representar uma
solução rápida, uma
resposta para uma
angústia que sente
diante da impotência e
da vontade de extirpar
o problema.
3. PSICOFÁRMACOS
“Muita calma nessa
hora”. Uma escuta atenta
e mesmo adiar a
prescrição para o
próximo encontro podem
ser peças fundamentais
no vínculo que vai
sustentar a gestão
compartilhada do uso
daquela medicação. Uma
parceria que, desse
modo, já nascerá com
consistência.
4. PSICOFÁRMACOS
Levamos em consideração
as diferentes dimensões da
pessoa e de tudo o que se
atravessa na singularidade
da história de cada um e
que pode causar
sofrimento. Dessa forma,
precisamos ter claro a ideia
de que não estamos lidando
com “desequilíbrios
químicos” como causa do
sofrimento com o qual cada
profissional vai lidar.
5. Não podemos pensar
em cada droga como
“corrigindo um
problema de
neurotransmissão”,
mas como produzindo
estados diferentes dos
anteriores, com os
riscos e benefícios
intrínsecos a cada
decisão clínica que se
toma.
6. OS PRINCIPAIS FÁRMACOS SÃO:
Neurolépticos
Benzodiazepínicos
“Antidepressivos”
“Estabilizadores de humor”
7. NEUROLÉPTICOS
Os antipsicóticos ou neurolépticos tiveram um papel
bastante importante no processo de
desinstitucionalização e tornaram possíveis altas de
pacientes bastante graves que viveram nos manicômios
durante décadas.
8. Agem basicamente bloqueando a transmissão da
dopamina no cérebro, com efeitos motores (uma
espécie de “contenção química”), hormonais
(aumento da prolactina) e sobre o pensamento
(melhora de sintomas psicóticos ou pensamento
mais lento ou embotado).
Alguns dos neurolépticos apresentam formulação
injetável de depósito
9. PRINCIPAIS SINTOMAS-ALVO
Insônia: clorpromazina e levomepromazina – em
doses baixas podem ser boas escolhas, mas
raramente seriam as primeiras escolhas pela gama
de outros efeitos.
Tiques: o haloperidol em doses baixas tem boa
eficácia em quadros crônicos de tiques.
Como tranquilizador rápido nas situações de crise
grave: os neurolépticos são muito efetivos e
seguros no manejo das situações de agitação
grave. O haloperidol associado à prometazina pode
produzir sedação e contenção em cerca de 20
minutos.
10. EFEITOS INDESEJADOS
Os mais comuns envolvem “impregnação motora”
(efeitos extrapiramidais). Esses efeitos ocorrem porque,
explicando de maneira muito simplificada, o sistema de
“ajuste fino” da motricidade fica inibido, o que pode
causar contrações vigorosas e sustentadas. São
chamados efeitos extrapiramidais. É relativamente
comum a pessoa que está usando um neuroléptico
típico queixar-se de que “o pescoço entortou”, “os olhos
viraram pra cima” ou “os dentes trincaram”. O manejo
destas situações é bastante simples, sendo
fundamental tranquilizar familiares e o próprio usuário
de que a distonia não envolve risco de morte (apesar da
grave manifestação motora).
11. ALÉM DOS EFEITOS MOTORES, DEVE-SE
ESTAR ATENTO PARA:
Efeitos anticolinérgicos, que são bastante comuns: mucosas secas,
visão borrada, constipações, retenção urinária.
Ganho de peso: pode ser muito significativo, sendo necessário
monitorar dieta e o peso.
Efeitos cardíacos: clorpromazina e tioridazina podem apresentar
cardiotoxicidade.
Hipotensão postural: mais comum com os antipsicóticos de baixa
potência (clorpromazina, tioridazina, levomepromazina), exigindo
orientações para o risco de desmaios e quedas.
Efeitos endócrinos: aumento na secreção de prolactina, resultando
em galactorreia e amenorreia.
Efeitos sexuais: a anorgasmia e a redução da libido são muito
comuns e podem representar impasses importantes na continuidade
do uso. Nesses momentos um bom vínculo pode ser precioso na
negociação de medicações e dosagens.
Diminuição do limiar convulsivo para alguns antipsicóticos,
sobretudo os de baixa potência e para a clozapina.
15. BENZODIAZEPÍNICOS
Os benzodiazepínicos são os “campeões de audiência”
em termos de utilização no Brasil (e colocam o Brasil no
topo de ranking dos países que mais os consomem).
Ambiguamente, são motivo de revoltas e tabus no dia a
dia das unidades, com usuários implorando por
renovação de receitas e médicos contrariados em fazê-
lo. Enfrentar esta pandemia (dada a cronicidade das
altas taxas de uso) deve ser tomada como uma
responsabilidade compartilhada.
16. BENZODIAZEPÍNICOS
Os benzodiazepínicos conseguiram justamente se
popularizar por terem efeitos ansiolíticos com baixo
risco de morte, quando comparados aos barbitúricos.
Quando bem indicados, os benzodiazepínicos podem
se configurar como ferramentas úteis e confiáveis como
indutor de sono em situações de adaptação a estresse,
por exemplo.
Todos os benzodiazepínicos agem de maneira idêntica:
eles ativam o sistema Gaba, que é um sistema inibitório
da função neuronal. Daí seus efeitos sedativos,
relaxantes musculares e mesmo anticonvulsivantes.
Inclusive, é interessante esclarecer que muitos
benzodiazepínicos aparecem como “anticonvulsivantes”
na bula, o que pode assustar algumas pessoas mais
“precavidas” e que gostam de ler a bula.
17. PRINCIPAIS SINTOMAS-ALVO
Os benzodiazepínicos diferem basicamente em termos de meia vida,
tempo de absorção e via de eliminação. Por exemplo: alguns têm
rápido início de ação e tempo de ação mais curto para insônia inicial
(perfil indutor do sono). Outros têm tempo de ação intermediário
para pessoas que dormem bem, mas acordam no meio ou no final
da noite. Outros, ainda, têm a duração do efeito prolongada para
auxílio no tratamento de quadros ansiosos (perfil ansiolítico).
Como dito, seu sintoma-alvo principal é a ansiedade, seja por
reação aguda ao estresse, em crises psicóticas ou em quadros
“primários” de transtorno de ansiedade. Por seu efeito sedativo e
relaxante, também são muito utilizados para insônia. Também
podem ser úteis na síndrome de abstinência tanto de álcool quanto
de cocaína ou crack. Os riscos dos benzodiazepínicos, além da
dependência, estão relacionados à sedação secundária (acidentes)
e à depressão respiratória quando utilizados em associação com
outras drogas sedativas
18.
19. “ANTIDEPRESSIVOS”
São medicações de uso relativamente simples e
seguro, sobretudo nos episódios depressivos em
pacientes neuróticos, sempre observando se há
alterações importantes e persistentes do humor ou
sentimento vitais, que não responderam à outra
abordagem, e com prejuízos significativos para a
vida do usuário.
Apesar de não produzir fenômenos biológicos de
tolerância e dependência, seu significado para a
pessoa que usa pode aprisioná-lo na posição de
“doente” ou “deprimido”, com consequências
nocivas para sua vida e para suas relações com a
equipe de Saúde do seu território.
20. TRICÍCLICOS (ADT)
São os “antidepressivos” mais antigos, bastante
eficazes, porém menos tolerados sobretudo pelos
efeitos anticolinérgicos (boca seca, constipação),
sedativos e tonturas. Um dado importante: para a
imipramina e a amitriptilina, os efeitos
antidepressivos só são observados em doses
acima de 100mg/dia, podendo a dose máxima girar
em torno de 200-250mg/dia, considerando o risco
cardiovascular.
21. INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DA
SEROTONINA (ISRS)
São os “antidepressivos” mais recentes, com o
destaque para a fluoxetina. São substâncias mais
“limpas”, ou seja, agem sobre poucos sistemas de
neurotransmissão, basicamente inibindo
seletivamente a recaptação da serotonina.
Representaram uma grande explosão de
prescrição.
Agem sobre a serotonina, entretanto, paira ainda
um tensionamento sobre qual o real papel da
serotonina nos sintomas depressivos. Este acaba
sendo um discurso ainda bastante divulgado e
repetido: “depressão é causada por falta de
serotonina no cérebro”. O efeito placebo não pode
ser desconsiderado no uso dessas medicações.
22. PRINCIPAIS SINTOMAS-ALVO
Sintomas depressivos (“tristeza profunda” com alteração do apetite/sono,
desinteresse pelo ambiente, sensação de menos valia etc.).
Sintomas de pânico: é muito importante escutar com calma esta queixa:
inúmeras e diferentes queixas chegam à Atenção Básica como sendo “pânico”,
desde situações claramente reativas a eventos traumáticos, passando por
sintomas psicóticos até fobia social. Os sintomas de pânico que respondem aos
antidepressivos são aqueles episódios intermitentes de sensação iminente de
morte, sem precipitador evidente, de duração de alguns minutos a poucas horas
com intensa manifestação somática.
Sintomas obsessivos-compulsivos: a presença de ideias intrusivas (“a porta não
esta fechada, preciso voltar pra fechar”, “a mão está contaminada, preciso lavar
de novo”, entre outros) associada a rituais (“precisa fechar a porta 4, 8, 12 ou 16
vezes”) respondem a doses normalmente mais altas de “antidepressivos”, p. ex.
60-80mg/dia de fluoxetina, raramente com resposta plenamente satisfatória.
Sintomas de fobia social: dificuldade de estar entre outras pessoas, com
manifestações somáticas, que não se caracteriza como um traço de
personalidade (ou seja, os sintomas de fobia social, quando iniciaram, indicaram
uma ruptura em relação ao funcionamento anterior).
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24. EFEITOS INDESEJADOS MAIS COMUNS:
Inibidores Seletivos da Recaptação da Serotonina (ISRS)
Ansiedade, agitação, cefaleia, insônia (mais frequente) ou
sonolência. Em algumas pessoas pode provocar sintomas de
irritabilidade – atentar para não considerar como resposta parcial
e aumentar a dose do ISRS.
Anorexia é bastante comum.
Sexuais: anorgasmia, retardo da ejaculação, tornam o uso um
importante impasse na manutenção da medicação em homens.
Inibição do citocromo P-450, interagindo na metabolização de
outras drogas.
Outros: erupções cutâneas, acne, alopecia.
Algumas dicas:
A maioria dos antidepressivos usualmente envolve uma única
tomada diária.
Se há risco de tentativa de suicídio, o fornecimento de
antidepressivos (principalmente tricíclicos) deve ser feito em
pequenas quantidades ou ficar em posse de um cuidador.