4. A recuperação do séc. XII
• A produção agrícola melhora, a mortalidade diminui
e, consequentemente, a população aumenta. Há uma
grande estabilidade climática, associada à paz em
geral, uma vez que fora retirado o cerco à Europa. As
cidades ressurgem e com elas a Burguesia afirma o seu
poder. As igrejas tornam-se espaços alegres, onde a
população se reúne para conviver.
• Contrastando com a fase negra que se vivera na Europa românica, a arte gótica
desenvolve-se num período de reabertura das rotas comerciais e de triunfo do
movimento das cruzadas.
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5. Novas práticas financeiras
• A introdução dos sistemas de crédito ficou a dever-se a alguns fatores:
• o risco e dificuldade do transporte de espécies monetárias;
• a insuficiência de moeda metálica.
• Instrumentos de crédito utilizados:
• Letra de feira;
• Letra de câmbio;
• Cheque.
• A diversidade das espécies monetárias em circulação fez surgir a classe dos
banqueiros ou cambistas, atividade que permitia um grande enriquecimento.
6. Novas práticas financeiras
• Com o desenvolvimento comercial, surge a necessidade de obter mais fundos
para custear as expedições. Assim, surgem novas formas de associação, de onde
se destacam:
• Comendas – o sócio investidor financiava em 100% o negócio, recebendo
75% dos lucros finais.
• Companhias – normalmente com capitais de membros de uma mesma
família, que investia em todas as atividades: comerciais, industriais e
bancárias).
• Guildas – associações de mercadores de uma cidade.
• Hansas – associações de cidades mercantis.
7. Mercados
Periodicidade – diária, semanal,
quinzenal ou mensal;
Frequentados pela população que
residia nas proximidades onde se
realizava;
Compra/venda de produtos para
consumo imediato.
Feiras
Realizavam-se uma ou mais vezes
por ano e duravam alguns dias;
Compra/venda de produtos
diversificados e com diferentes
origens;
Frequentadas pela população da
região, de locais distantes e até do
estrangeiro, com segurança
garantida (Paz de Feira);
Criadas por reis e senhores através
da carta de feira. Por vezes, eram
isentas de pagamentos – Feiras
Francas.
9. Novas solidariedades
• No século XIII, a cidade é um lugar de prosperidade.
• Atraídos pelo sonho de riqueza, muitos camponeses abandonam o campo e
instalam-se nos arrabaldes das cidades.
• Porém, muitos experimentam a miséria, ampliada pelo sentimento de solidão,
por falta das redes tradicionais de apoio (família, vizinhos, paróquia).
• Surgem novas estruturas de apoio e redes de solidariedade: as ordens
mendicantes e as confrarias.
• As ordens mendicantes eram movimentos de renovação surgidos dentro da
Igreja Católica, enquanto que as confrarias eram associações de entreajuda que
agrupavam os homens por ofícios assegurando-lhes apoio financeiro e moral
em todas as dificuldades.
10. Confrarias e associações
• Confrarias eram associações de socorros
mútuos de carácter religioso, organizadas
sob um santo protector. Dedicavam-se à
caridade como meio de reduzir a pobreza
urbana. Cada confraria tinha os seus
estatutos, que os membros eram obrigavam
a cumprir. Existiam ainda as Irmandades,
que eram associações religiosas de leigos,
que se reuniam para promover o culto a um
santo normalmente se encontravam
associadas às confrarias religiosas.
11. Corporações• Associação de cariz socioprofissional que
reunia, nas cidade, os trabalhadores de um
mesmo ofício ou mester.
• São marcadas pela hierarquia (mestres,
oficiais e aprendizes).
• Mais conhecidas por artes ou guildas ou, em
Portugal, mesteirais, as corporações
possuíam estatutos próprios que
regulamentavam os preços, os salários e a
qualidade da produção.
• Geralmente, a cada corporação associava-se
uma confraria religiosa que prestava
assistência aos seus membros.
12. Centros de sociabilidade
• O bairro, as ruas, em que os vizinhos se conheciam e auxiliavam.
• A igreja: dominou o ensino e contribuiu para a mudança de comportamentos
com a instituição das suas festividades e procissões.
• A taberna, o albergue, a estalagem…
• As cortes dos nobres (espaço fechado e particular).
• As salas de reunião burguesas e de acordo com a atividade exercida.
• A praça pública, lugar da cultura popular, onde se realizavam as festas, as feiras,
os teatros…
14. As primeiras escolas
• No quadro da cidade romana, cada comunidade cristã organiza-se tendo à sua
cabeça um bispo eleito pelos fiéis. Foi nestas cidades que surgiram as Escolas
Paroquiais.
• As primeiras remontam ao século II. Limitavam-se à formação de sacerdotes,
sendo o ensino fornecido por qualquer padre encarregado de uma paróquia,
que recebia em sua própria casa os jovens alunos.
• À medida que a nova religião se desenvolve, passa-se das casas privadas às
primeiras igrejas.
• O ensino reduz-se aos salmos, às lições das Escrituras, seguindo uma educação
estritamente cristã.
15. Escolas Monásticas
• É nos mosteiros espalhados pela Europa, longe do rebuliço das novas cidades
emergentes na Europa, que surgem as Escolas Monásticas, em regime de
internato e, inicialmente, para a formação de futuros monges.
• Mais tarde abrem-se as escolas externas com o propósito da formação de leigos
cultos.
• O programa de ensino, de início, muito elementar: aprender a ler, escrever,
conhecer a bíblia (se possível de cor), canto e um pouco de aritmética.
• Com o tempo, vai-se enriquecendo de forma
a incluir o ensino do latim, gramática, retórica e
dialéctica.
16. Escolas Urbanas
• Nas cidades, começam a surgir escolas que
funcionam numa dependência da habitação
do bispo.
• Estas visavam, em especial, a formação do
clero secular e também de leigos instruídos
que eram preparados para defender a
doutrina da Igreja na vida civil.
• As Escolas Catedrais (escolas urbanas), saídas das antigas escolas episcopais,
tornaram-se mais prestigiadas que as escolas dos mosteiros.
• Instituídas no século XI por determinação do Concilio de Roma (1079), passam, a
partir do século XII (Concilio de Latrão, 1179), a ser mantidas através da criação
de benefícios para a remuneração dos mestres. Pág. 183
17. A escolástica
• A progressiva tendência para a laicização e secularização
das populações, leva a Igreja a tentar acompanhar o
ritmo da época, introduzindo a escolástica como uma
nova dinâmica da religião.
• Consistia na especulação teológica e filosófica guiada
pelo pensamento aristotélico que conduzia à indagação
e à sistematização das verdades reveladas, estimulando a
crítica, a especulação e a dialética.
• O seu princípio consistia em conciliar a fé cristã e a razão aristotélica.
• Teve o seu expoente máximo em S. Tomás de Aquino (Summa Theologica), que
sistematizava todo o pensamento cristão desde as suas origens, para tentar criar
uma doutrina lógica e coerente que suportasse o pensamento religioso. A
sensação e a dúvida passam a ter primazia.
18. Estudos Gerais
• Provavelmente, a primeira universidade europeia terá surgido
na cidade italiana de Salerno, cujo centro de estudos
remonta ao século XI.
• Além desta, antes de 1250, formaram-se no Ocidente a primeira geração de
universidades medievais. São habitualmente chamadas espontâneas porque
nascem do desenvolvimento de escolas preexistentes.
• Originalmente, estas instituições eram chamadas de studium generale, (Estudos
gerais) juntando mestres e discípulos dedicados ao ensino superior. Porém, com a
agitação cultural e urbana da Baixa Idade Média, logo se passou a fazer referência
ao estudo universal do saber, ao conjunto das ciências, sendo o nome studium
generale substituído por universitas.
19. Universidades
• As universidades eram estabelecimentos do
ensino superior que agregavam várias
faculdades e que se organizavam numa
estrutura mais rígida e complexa.
• Ao longo dos séculos XIII e XIV, as
universidades expandiram-se pela Europa
Ocidental, especializando-se em diferentes
saberes: Teologia, Direito, Medicina.
• As universidades de Bolonha e de Paris estão
entre as mais antigas. Outros exemplos são a
Universidade de Oxford e a de Montpellier.
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20. • Mais tarde, é a vez da constituição de universidades por iniciativa papal ou real.
Exemplo desta última é a Universidade de Coimbra, fundada em 1290.
• No século XIII, a universidade é o centro de formação dos quadros do
funcionalismo público, necessários à centralização do poder pelos monarcas.
21. • As universidades foram responsáveis pela transformação das cidades em ativos
focos de inovação: estudantes de toda a parte deslocavam-se às cidades
universitárias no intuito de aprender a gramática, a oratória, a matemática... Em
consequência da presença da universidades, a cidade tornou-se o local por
excelência da liberdade de ação, pois os estatutos das universidades protegiam
os seus alunos, concedendo-lhes alguma autonomia nos regulamentos e
defendendo-os, por exemplo, da prisão por dívidas.
23. A cultura medieval
Clero Povo
Cultura religiosa e erudita
Nobreza
Cultura
monástica
Cultura cortesã Cultura popular
Cultura de transmissão
oral
Difundida de pais para filhosDifundida nas escolas
monacais e catedralícias
para futuros clérigos
Difundida por jograis e
trovadores
Cultura palaciana e de
corte
Saber ligado à Bíblia e a obras
de autores gregos, latinos,
árabes e judeus
Saber ligado à poesia
trovadoresca, romances de
cavalaria, crónicas e livros de
linhagem
Saber ligado à tradição e
costumes: provérbios,
contos, cantigas,
festividades religiosas
24. O ideal de cavalaria
• Enquanto nas cidades proliferavam as escolas catedrais e as universidades e
nos conventos nasciam as livrarias (bibliotecas), nas cortes do rei e dos grandes
senhores a cultura erudita (acessível apenas aos estratos dominantes da
sociedade) desenvolveu-se sob o espírito cavalheiresco, segundo o qual o
cavaleiro, sempre de estirpe nobre, almejava tornar-se perfeito.
• O cavaleiro ideal devia ter as seguintes qualidades:
-a honra;
-a coragem;
-a lealdade;
-a virtude;
-a piedade;
-o ideal de cruzada.
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25. O amor cortês
• Tal como existia um ideal de cavalaria,
também as relações entre nobres e damas,
nas cortes, obedeciam a um ideal de amor,
pautado pelo refinamento e pela
espiritualidade.
• Era um código de comportamento amoroso
em que os cavaleiros demonstravam que o
valor pessoal não se fundamentava apenas
no sangue ou nas proezas militares, mas
podia ser identificado no comportamento
social: a cortesia.
• Para conquistar a sua amada, o cavaleiro nobre deveria ser virtuoso, paciente,
elegante no vestir, bem-humorado, respeitoso perante as mulheres, enquanto a
dama, bela e púdica, deveria alimentar o seu amor com gestos comedidos.
26. A literatura
• Na literatura, o ideal de cavalaria eram os
Romances e o ideal do amor cortês: a poesia
trovadoresca.
• Os senhores feudais contratavam recitadores,
cantores e músicos para divertir a corte.
• As cantigas eram compostas, quase sempre, por
nobres que se denominavam trovadores, porque
praticavam a arte de trovar.
• O trovador deveria expressar seus elogios a uma
mulher da nobreza, demonstrando subordinação às
damas da corte, que deveriam ser tratadas com
cortesia.
27. Cantiga de amor
• As cantigas de amor desenvolviam o tema
do sofrimento pelo amor não correspondido
e eram divulgados de forma oral.
• Neste tipo de cantiga, o trovador destaca
todas as qualidades da mulher amada,
colocando-se numa posição inferior (de
vassalo) a ela.
• O tema mais comum é o amor não
correspondido.
• As cantigas de amor reproduzem o sistema hierárquico na época do feudalismo,
pois o trovador espera receber um benefício em troca de seus “serviços” (as
trovas, o amor dispensado, sofrimento pelo amor não correspondido).
28. • Este tipo de cantiga teve as suas origens na Península Ibérica.
• Nela, o eu-lírico é uma mulher, mas o autor era masculino, devido à sociedade
feudal e o restrito acesso ao conhecimento da época.
• A mulher canta o seu amor pelo amigo (amigo =
namorado), muitas vezes em ambiente natural, e
muitas vezes, também em diálogo com a sua mãe ou
as suas amigas.
• O sujeito poético é, não apenas mulher, mas a
donzela, isto é, uma rapariga solteira, pertencente aos
estratos médios do povo.
• O poeta serve-se assim deste artifício para exprimir os seus sentimentos pela
boca da rapariga.
Cantiga de amigo
29. • Tipo de poesia satírica. Nas cantigas de escárnio
a crítica é feita de forma encoberta, sem que o
objecto de crítica seja claramente identificado.
Nas cantigas de maldizer a vítima da crítica é
claramente identificada.
Cantiga de escárnio e maldizer
• Estes poemas satíricos têm um grande valor documental, visto que nos
revelam qual a reacção das pessoas face a determinados acontecimentos e
situações.
• Estas cantigas permitem perceber melhor a sociedade da época e aceder a
informações que outros documentos, mais impessoais, não revelam.
30. O culto da memória
• As famílias nobres relembravam e evocavam mortos e antepassados das suas
ascendências para trazer ao presente os feitos valorosos das suas linhagens.
• Contudo, não bastava a oralidade e o registo em túmulos para não se perderem
as lembranças. Os senhores fizeram, então, escrever as suas memórias.
• Nasceu, portanto, uma literatura genealógica que se difundiu largamente entre
a nobreza europeia dos séculos XIII e XIV.
• Em Portugal, este género literário foi muito cultivado, dando origem aos livros
de linhagem ou nobiliários. A mais interessante das obras deste género é o 3º
Livro das Linhagens, de D. Pedro, mistura de lendas e narrativas fantásticas
com personagens reais, fortemente impregnado do espírito da cavalaria.
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32. • A reanimação dos antigos burgos favoreceu o aparecimento de novas cidades.
Há uma mudança na mentalidade e os mosteiros perdem importância a favor
das cidades e universidades.
• As cidades encontravam-se delimitadas por uma cinta protetora: a muralha.
• O espaço urbano era irregular, uma vez que resultava de sucessivos acrescentos.
• A cidade dispunha de um centro onde se
localizava um edifício religioso (a Catedral) e
uma praça onde se agrupavam os edifícios
administrativos e o mercado. Daqui
partiam as ruas mais importantes. As outras,
secundárias, ligavam as ruas principais (as
destinadas ao tráfego, comércio e festejos da
cidade) entre si, de uma forma labiríntica e
mesmo tortuosa (sistema radioconcêntrico).
33. • As cidades serviam propósitos militares e comerciais. Nesse sentido
organizavam-se em volta da praça de comércio, da câmara (que se torna o
símbolo do poder, caracterizada por uma torre quadrada) e da Catedral.
• Nos bairros centrais da cidade habitavam os mais ricos e importantes, ao passo
que os pobres viviam em zonas mais afastadas da cidade.
• A cidade era ainda composta pelos arrabaldes e pelo termo. Os primeiros eram
os bairros fora das muralhas, destinados aqueles que a cidade marginalizava
(como os árabes - mourarias). O termo era o conjunto dos campos agrícolas que
rodeavam a cidade e que a abasteciam, em troca de certos privilégios:
• a proteção em caso de guerra,
• a isenção de portagens à entrada da cidade,
• a isenção ou redução fiscal nas mercadorias
vendidas na cidade.
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35. • Dante nasceu em 1265, em Florença. Rodeou-se de amigos cultos, poetas,
músicos, pintores (Giotto) e filósofos, que muito contribuíram para a sua
formação.
• Apaixonado por Beatriz Portinari, dedica-lhe quase toda a sua poesia.
• Após a morte da sua amada e a partir de 1295, Dante passa a intervir ativamente
na vida política da cidade.
• Em 1300, foi eleito como um dos seis Principais da Cidade. Mais tarde, por
motivos políticos, foi condenado ao desterro. Refugiou-se em Verona, depois
em Pádua, Casentino, Paris (onde estudou filosofia e teologia), talvez Oxford,
Pisae finalmente, em 1317, instalou-se em Ravena, onde morreu.
• A sua obra de destaque foi a “Divina Comédia” em língua vulgar, o italiano,
cultivando o dolce stil nuovo.
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36. • Estruturada em: introdução e três partes ou canzone (percursos pelo Inferno,
Purgatório e Paraíso e que correspondem a três passos – instrução, edificação e
purificação). Ao todo, são cem cantos, publicados pela primeira vez em 1472.
• Dante reflete, nesta obra, o pensamento e a crítica filosóficas, teológicas,
literárias e socioeconómica da sua época.
• A Divina Comédia constitui uma obra única e genial que apresenta:
• conceção engenhosa;
• rigor e ordenação estrutural;
• linguagem clara, delicada, exigente e depurada;
• pormenor descritivo e beleza de detalhe;
• forte crítica social, política e religiosa;
• uso da fantasia para descrever imagens visuais e auditivas, especialmente no
Inferno, o qual se vai diluindo para, finalmente, ser substituído pela
contemplação divina, perante a visão do Paraíso.
38. • A Peste Negra de 1348 foi a epidemia que mais profundamente atingiu a
Europa.
• Trazida do Oriente através dos barcos do comércio, o seu portador parece ter
sido a pulga do rato preto, originário da Ásia.
• Os infetados, ao fim de dois ou três dias, morriam devido à progressão rápida
da doença, que atravessou todo o continente europeu provocando o
desaparecimento de 1/3 da população (outros autores referem o valor de ½).
• Provocou alterações a nível económico, social e político:
• elevada mortalidade (cerca de um 1/3 da população europeia dizimada),
• desequilíbrio das cidades,
• diminuição da mão de obra, do comércio e da política.
• Houve uma grande transferência de populações das cidades para as zonas
rurais, procurando cultivar a sua própria comida de forma a sobreviver.
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39. • As consequências da Peste Negra sobre a mentalidade e a criação artística
foram muitas:
• incremento das manifestações de piedade coletiva, de que são exemplo os
flagelantes e as peregrinações;
• massacre de grupos marginais, tornados «bodes-expiatórios» e acusados de
serem responsáveis pelo surto epidémico (os judeus e os leprosos);
• reforço das doações à Igreja para efeitos assistenciais, para criação de
hospitais e de albergarias;
• representação da figura da morte, em esculturas e pinturas, como aviso da
sua constante ameaça sobre os vivos;
• representação dos defuntos sob a imagem da decomposição do corpo, como
advertência para a fragilidade da vida.