O documento discute como as neurociências contribuem para o entendimento e tratamento de doenças mentais. Apresenta como fatores biológicos e ambientais interagem para influenciar o cérebro e o desenvolvimento de transtornos. Também mostra evidências de que a psicoterapia pode alterar a atividade cerebral e como estressores na vida podem modificar a expressão de genes através de mecanismos epigenéticos.
2. Neurociência e doença
mental: Contribuições
para o entendimento e
para o tratamento
Prof. Dr. Caio Maximino
IESB/Unifesspa
Coordenador - NeuroLiga
3. Contribuições das neurociências para
a psicopatologia
• Tensão entre aproximações psicossociais
e aproximações biológicas na saúde
mental
– A tensão é uma forma da falácia do
espantalho: Foco em elementos éticos e na
terapêutica
– A sociologia da medicina, mais do que as
explicações biológicas per se, determinam
uma certa aversão às explicações
4. Cérebro e funções mentais
• As alterações dessas funções após
lesões cerebrais são o campo de estudo
da neurologia e da neuropsicologia
• A psicopatologia tende a se focar no papel
da função cerebral no desenvolvimento da
personalidade, “considerando como
diferentes tipos de personalidade guiadas
biologicamente podem ser mais
vulneráveis ao desenvolvimento de certos
5. Modelo “clássico”
• Derivado da neurologia
• Toda doença mental resulta de uma lesão
ou alteração funcional de algum tipo
• Visão ingênua da genética e do papel da
plasticidade
6. Influências psicossociais sobre
estrutura e função do encéfalo
• A interação entre encéfalo e ambiente é
de mão dupla, e o efeito do ambiente
sobre o cérebro é relevante para os
tratamentos psicológicos
• “As intervenções psicoterapêuticas atuam
no tecido neural, produzindo alterações no
padrão de comunicação sináptica de
forma semelhante aos efeitos produzidos
por drogas psicotrópicas. Dessa forma, o
CALLEGARO, M. M.; LANDEIRA-FERNANDEZ, J. “Pesquisas em neurociência e suas implicações na prática
psicoterápica”, In: CORDIOLI, A. V. (Org.), Psicoterapias abordagens atuais, p. 851-872, 3ª ed. Porto Alegre: ArtMed,
2008
7. Efeito da psicoterapia sobre o
funcionamento do SNC
• TOC, terapia comportamental: Redução
da atividade do núcleo caudado do
hemisfério direito (PET, rCBF)
• Fobia específica a aranhas, TCC:
Redução da atividade do giro
parahipocampal e do dlPFC direito;
aumento da atividade do vlPFC direito;
redução da atividade da ínsula e do córtex
cingulado anterior direito
CALLEGARO, M. M.; LANDEIRA-FERNANDEZ, J. “Pesquisas em neurociência e suas implicações na prática
psicoterápica”, In: CORDIOLI, A. V. (Org.), Psicoterapias abordagens atuais, p. 851-872, 3ª ed. Porto Alegre: ArtMed,
2008
8. Efeito da psicoterapia sobre o
funcionamento do SNC
• Transtorno bipolar, terapia psicodinâmica:
Aumento da atividade do PFC
• Transtorno depressivo maior, terapia
interpessoal: Redução da atividade do
PFC; aumento da atividade do lobo
temporal
• Esquizofrenia, terapia de grupo: Aumento
da atividade do PFC esquerdo
CALLEGARO, M. M.; LANDEIRA-FERNANDEZ, J. “Pesquisas em neurociência e suas implicações na prática
psicoterápica”, In: CORDIOLI, A. V. (Org.), Psicoterapias abordagens atuais, p. 851-872, 3ª ed. Porto Alegre: ArtMed,
2008
9. Interações entre fatores psicossociais e
sistemas de neurotransmissores
• Insel et al. (1988): macacos rhesus
criados em ambientes com diferentes
esquemas de acesso a brinquedos e
alimentos
– Um grupo tinha acesso livre, o outro só tinha
acesso quando o outro grupo escolhia
– Controlabilidade
– Animais com controle sobre o ambiente
apresentam reações de agressividade após
injeção de agonista inverso do sítio BZD;
animais sem controle apresentam reações de
10. Modificações pós-traducionais da
estrutura da cromatina
• No núcleo da célula, o DNA está
fortemente condensado em cromatina,
associado a oito histonas:
– duas cópias de H2A, H2B, H3 e H4
– Histona H1, de ligação
• Cada histona possui uma porção N-
terminal que é capaz de passar por
múltiplas modificações, incluindo
acetilação, fosforilação, e metilação
11. Modificações na metilação
associadas a apego
• Weaver et al. (2004): Ratos adultos
criados por mães que exibiam altos níveis
de limpeza das crias apresentavam baixos
níveis de metilação do DNA associado
com o gene GR (receptor glicocorticóide)
no hipocampo, maior expressão do gene,
e mais resiliência a estressores, enquanto
o contrário era verdadeiro em relação a
animais criados por mães que não
limpavam suas crias
12. Modificações na metilação associadas
ao ambiente pré-natal
• Mueller & Balle (2008): Camundongos
machos adultos estressados in utero
apresentam alterações na expressão dos
genes Crh e GR, metilação reduzida do
gene Crh no hipotálamo e na amígdala,
aumento nas respostas endócrinas a
estressores, e um fenótipo tipo-
depressão.
• Vucetic et al. (2010): Dieta de alto
13. Evidências clínicas
• Mill et al. (2008): Alterações na metilação
de genes relacionados à
neurotransmissão GABAérgica e à função
do fator neurotrófico derivado do cérebro
(BDNF) em tecido cortical de pacientes
esquizofrênicos
• Koenen et al. (2011): Associação entre a
metilação do SLC6A4 e o número de
eventos traumáticos em pacientes com
14. O modelo de diátese-estresse
• Vulnerabilidade específica (diátese) –
tendências herdadas para a expressão de
certos caracteres ou comportamentos,
cada qual ativado sob certas condições de
estresse
• Quando o tipo “correto” de evento de vida
ocorre, como um determinado tipo de
estressor, o transtorno pode se
desenvolver
18. Conclusões
• Os circuitos específicos que estão
envolvidos nos transtornos mentais são
sistemas complexos identificados por vias
de neurotransmissores que inervam várias
regiões; entretanto, fatores psicológicos e
sociais influenciam fortemente esses
circuitos.
• As “experiências psicológicas precoces
afetam o desenvolvimento do sistema