Nutrição Enteral e parenteral para enfermagem .pdf
Controle sanitário em biotério para garantir qualidade de pesquisa
1. ANDRÉ LUÍS FERNANDES DOS SANTOS
Curso de EspecializaçãoemProdução e Sanidade Animal em Biotério-
FMVZ-USP
Programa de Controle Sanitário-
Biotério do Centro de Pesquisa sobre o Genoma Humano
e Célula-tronco
São Paulo-2014
2. 1) A relevância de um programa de controle sanitário (PCS)
Saúde é o resultado do equilíbrio entre um ser vivo, seu meio ambiente e os
diversos agentes que possam produzir doenças. O estado de saúde de um ser vivo
envolve as condições de bem-estar físico, mental ou psicológico e social.
A saúde dos animais de laboratório afetam, diretamente, os resultados de uma
pesquisa. Por isso um programa de controle sanitário (PGS), que zele pela higidez
destes animais é fundamental para a confiabilidade dos resultados obtidos e, portanto,
termos uma pesquisa de qualidade.
Os PGS devem utilizar de técnicas diagnósticas e robustas, capazes de detectar
possíveis contaminantes; além destas características técnicas o programa deve ter um
custo razoável. São elaborados para otimizar a detecção dos agentes infecciosos mais
prevalentes, em relação aos agentes raros e de pouco impacto na saúde dos animais.
Além de ensaios para agentes específicos, a saúde geral dos animais também é
avaliada quase que continuamente por meio da observação diária, por bioteristas e
pesquisadores, por meio de avaliação de dados experimentais dos animais e por
amostragem microbiológica do ambiente.
2) A microbiota residente
Microrganismos que estabelecem uma residência num organismo vivo, mas que
em situações normais não produzem doença ou qualquer prejuízo aparente (por
exemplo, perda de peso ou no desempenho reprodutivo), constituem a chamada
microbiota residente do indivíduo. É importante ressaltar que os animais possuem
espécies de microorganismos comuns em sua microbiota. Por isso há necessidade de um
perfeito conhecimento direcionado para o modelo animal a ser trabalhado.
3) O estado de saúde dos animais
A exteriorização do estado de saúde ocorre no comportamento dos indivíduos de
uma colônia, quando isolados ou em grupos. Por isso é necessário conhecer o
comportamento das diferentes espécies de animais utilizados em experimentação
(comumente camundongos, ratos e coelhos), para ser possível uma avalição diária da
colônia. Em geral esses animais apresentam comportamente social bem definido, o que
facilita o reconhecimento de animais comm comportamento atípico.
3. Os métodos de exame clínico usuais para avaliar as condições de saúde de um
animal ou de grupos de animais em biotério são: inspeção, palpação e auscultação. A
inspeção é o método mais utilizado e oferece dados importantes sobre o estado de saúde
dos animais. A atuação da equipe do biotério (técnicos, Biológos e Médicos
Veterinários) com os animais constitui um dos principais fatores para o sucesso dos
exames laboratoriais, pois ele se encarregará de visualizar, avaliar e encaminhar ao
laboratório de controle todos os animais que apresentem alguma anormalidade, fazendo
constar os dados do animal (idade, sexo, comportamento, entre outros dados).
Alguns fatores interferem diretamente na saúde dos animais de laboratório e são
citados abaixo:
Alojamento: uma elevada densidade populacional facilita a propagação
de ecto e endoparasitas, bem como de infecções respiratórias e cutâneas
(fungos, abscessos), pois há um aumento da temperatura e umidade no
microambiente;
Operador: é um dos principais carreadores de contaminação para uma
área de criação, por isso há necessidadede uma perfeita conscientização
quanto às normas de higienização inerentes a sua área de atuação;
Ambiente: deverá ser desinfectado frequentemente com soluções que
tenham poder bactericida, fungicida e esporocida comprovados;
Trânsito de pessoal: deve ser restrito aos técnicos que trabalham nas
dependências da área de criação para evitar contaminações externas;
Ração: é um potencial veículo de contaminação para os animais, pois
pode conter bactérias e fungos, sendo por isso trocada constantemente. A
carência vitamínica e mineral propicia o aparecimento de doenças.
Devemos observar o prazo de validade e realizar análise
bromatológica/microbiológica periodicamente;
Água: deve ser trocada constantemente, pois quando o animal ingere
água há a lavagem da parte bucal (refluxo), que contamina a água do
bebedouro.
Animais: cada espécie animal deve ser criada em sala própria, com
tratadores específicos, para evitar a disseminação de microorganismos,
por vezes presentes em várias espécies.
Em relação aos sistemas orgânicos há algumas características de normalidade.
4. Os pelos possuem aspecto homogêneo (sem falhas), brilhantes/sedosos e sua
inserção é firme, não se soltando com facilidade. A pele é elástica, de cor rósea ou da
característica da espécie ou linhagem e não apresenta lesões.
As mucosas são úmidas, brilhantes e rosadas; características semelhantes tem os
olhos do animal, que são vivazes.
O aparelho auditivo é sensível aos estímulos sonoros de intensidade variável,
conforme a espécie/linhagem estudada.
Em relação ao aparelho digestório o animal apresenta boca e dentições normais,
lábios íntegros e úmidos, esôfago, estômago, intestinos, fígado e pâncreas são
alterações, como abscessos e úlceras.
No que tange ao aparelho genito-urinário machos e fêmeas devem apresentar
genitália úmida, sem presença de corrimento.
A frequência respiratória deve ser a característica para a espécie. A ausência de
ruídos respiratórios, espirros, tosse e secreção nasal caracterizam um sistema
respiratório sem alterações.
O sistema circulatório apresenta-se sem alterações se a frequência cardíaca do
animal estiver dentro dos parâmetros de normalidade, mucosas normocoradas, ausência
de edema, sobretudo nas extremidades.
O cérebro, cerebelo, medula, gânglios e nervos sem alterações histopatológicas
caracterizam um sistema nervoso hígido.
4) Agentes infecciosos incluídos em um PCS
Em tese cada centro de pesquisa deveria monitorar os agentes infecciosos que
possam influenciar nos resultados das pesquisas realizadas em suas instalações e cuja
detecção resultaria em uma série de medidas para a exclusão do agente infeccioso.
Porém isto não é factível, pois é necessário um controle sanitário padrão, ou seja, alguns
agentes devem ser monitorados por todos os biotérios, já que pode haver trânsito de
animais entre instituições.
É recomendação um monitoramento de todos os vírus, por serem parasitas
intracelulares obrigatórios e poder, pela razão anteriormente citada, alterar a função da
célula infectada, bem como ativar os mecanismos imunológicos do hospedeiro.
Bactérias e fungos são preocupação quando invadem os tecidos e/ou produzem toxinas.
Nos parasitas há uma distinção entre os metazoários e protozoários, já que os
5. metazoários constituem um grupo para monitoramento obrigatório; em relação aos
protozoários este monitoramento poderá ser mandatório ou não.
Na Europa, a Federação das Associações Européias de Ciências de Animais de
Laboratório (FELASA) emitiu as recomendações para o monitoramento da saúde de
roedores e coelhos. Estas recomendações são geralmente semelhante às praticadas na
América do Norte, e incluem sugestões de agentes a serem monitorados e frequência
dos ensaios. Embora estas recomendações não possuam valor legal, elas constituem
uma referência e podem ser modificadas dependendo da necessidade da instituição.
5) Seleção de ensaios para os PCS
A sorologia ou ELISA são o esteio dos PCS. Os anticorpos são muito
específicos e um resultado positivo é muito preditivo. É importante que um anticorpo
produzido pelo animal, em resposta a um agente infeccioso, que ele persista durante
toda a vida do animal, pois de uma única amostra será possível rastrear uma exposição a
numerosos agentes infecciosos, independente do tecido infectado. A sorologia também
possui baixo custo, possibilitando o teste de muitas amostras a um baixo custo
Técnicas de detecção direta, como cultura e PCR, também são altamente
específicas para detectar infecções passadas e recentes, sem a necessidade da produção
de anticorpos pelo animal. Por estas características as técnicas de detecção direta são
adequadas para rastrear infecções em animais imunodeficientes ou em quarentena, pois
animais em quarentena podem não ter tido tempo de produzir anticorpos. Com a PCR é
possível monitorar agentes que persistem nos tecidos e diretamente os vírus. Outras
técnicas de detecção direta também são usadas para infecções onde ensaios sorológicos
adequados não estão disponíveis com, por exemplo, para muitas bactérias, helmintoss e
protozoários entéricos.
6) Animais sentinelas e residentes
Tanto animais sentinelas como residentes podem ser utilizados para
monitoramento do estado sanitário de um biotério; a combinação de sentinelas e
residentes também pode ser utilizada.
6.1) Animais residentes
6. Os animais residentes são aqueles pertencentes ao grupo que está sendo
monitorado. O uso deste tipo de animal em um PCS envolve algumas premissas. Uma
delas é que os animais selecionados para o monitoramento foram devidamente expostos
a qualquer dos agentes causador de infecções. A exposição pode ser realizada durante o
manejo dos animais, usando-se gaiolas abertas (apenas com a grade) ou por meio da
transferência de fômites, como a cama suja dos animais. Amostras de animais residentes
que estão alojados em gaiolas com ventilação individual, sem exposição adicional à
cama suja, por exemplo, pode gerar resultados negativos, pois uma porcentagem
pequena das gaiolas pode estar contaminada.
Animais selecionados para monitoramento sorológico devem ser
imunocompetentes, ou seja, produzir anticorpos para infecções virais ou bacterianas. A
imunocompetência pode ser difícil de determinar ou é desconhecida em animais
geneticamente modificados. Existem inúmeros relatos de respostas imunes incompletas
em camundongos geneticamente modificados, onde julgava-se que os mesmos eram
imunocompetentes. Em contraste, o uso de sentinelas imunodeficientes pode aumentar a
sensibilidade da vigilância, a depender de detecção direta de agentes infecciosos, tais
como PCR, bacteriologia ou de parasitologia, porque os animais imunodeficientes
podem manter infecções ativas por longos períodos, se não indefinidamente.
Selecionar a idade dos animais residentes é mais problemático do que seleção da
idade dos animais sentinela. Geralmente os animais mais velhos em uma população são
os mais propensos a encontrarmos um agente infeccioso, pelos métodos indiretos
(soroconversão). Por outro lado, os animais imunocompetentes são capazes de eliminar,
parcialmente ou totalmente, muitas infecções parasitárias e virais. Portanto, animais
idosos são menos propensos a testar positivo por métodos diretos. Em geral, a partir de
colónias de reprodução endemically infectadas, os animais 4-5 semanas de idade são a
escolha ideal para o rastreio de protozoários entérico. Para complicar ainda mais o
quadro é que os animais mais do que alguns meses de idade são menos suscetíveis a
parvovírus.
6.2) Animais sentinela
Animais sentinelas são aqueles escolhidos em uma população (residente ou
externa) e que são indiretamente expostos a agentes infecciosos (a exposição destes
animais a cama suja dos animais da colônia é a prática mais comum). O uso de
7. sentinelas de contato direto é muito importante, especialmente em situações críticas
como a quarentena. O uso da cama é o padrão para a vigilância dos animais criados em
gaiolas ventiladas individualmente ou quando os animais a serem monitorados são
imunodeficientes enão existem residentes residentes imunocompetentes disponíveis.
Apesar de muito usado, os animais sentinelas expostos à cama suja de um
grande número de gaiolas, há algumas desvantagens neste método. Primeiro, há sempre
um risco de segurança biológica quando da introdução de animais a partir de uma fonte
externa, mas este risco pode ser minimizado através da utilização de fontes animais
cuidadosamente selecionados. O biotério pode optar por criar seus próprios animais-
sentinela, mas isso geralmente não é recomendado, devido a questões de biossegurança.
Se os animais sentinela são criados na unidade, eles devem ser monitorados em
com maior frequencia, talvez mensal, pois eles são uma fonte potencial de infecção para
toda a instalação. Independentemente da fonte do sentinela, a exposição do sentinela é
geralmente indireta, tipicamente via cama suja dos animais principais. Vários agentes,
atualmente prevalecentes, são difíceis de transmitir aos sentinelas desta forma.
Os sentinelas devem ser imunocompetentes, para que eles sejam sujeitos
adequados para sorologia, e devem ter um sistema imunológico maduro quando
amostrados. Animais como o camundongo CD-1 são bons sentinelas, porque são
imucompetenes e baratos. Algumas linhagens puras apresentam resistência parcial ou
total a determinados agentes e devem ser evitados (C57BL/6 a cepas de MPV; SJL para
cepas respiratórias do vírus da hepatite do camundongo [MHV]).
Sentinelas devem ser introduzidos na colônia em 3-5 semanas de idade e ser do
sexo feminino, para diminuir brigas e diminuir a possibilidade de contaminação
genética dos animais residentes. Animais sentinela também deve ser comprovadamente
livre de todos os agentes infecciosos que seriam de interesse na área que eles são
escolhidos para monitorar.