1. A Doença de Fabry
Aluno: Rafael Melo Santos de Serpa Brandão
Ponto Focal: Teresina - Piauí
A Doença de Fabry (DF) é uma doença
proveniente de um erro inato do metabolismo dos
glicoesfingolipídeos (Lipídeos contendo pelo menos
um resíduo monossacarídeo e/ou um esfingóide ou
uma ceramida), produzido por mutações do gene que
codifica a enzima lisossômica α-galactosidase A (α - Dr. J. Fabry e Dr. W. Anderson
desccreveram a doença de
GAL). A herança da DF é ligada ao cromossomo X, Fabry em 1898.
afetando com isso mais homens do que mulheres e geralmente cada família afetada pela
doença possui uma mutação própria. Esta mutação gera a redução ou ausência da
atividade dessa enzima e leva ao acúmulo progressivo de glicoesfingolipídeos
(principalmente globotriasilceramida - Gb3) no plasma e nos lisossomos das células
endoteliais de diversos órgãos, principalmente pele, rins, coração, olhos e cérebro,
resultando no aparecimento dos sintomas da doença.1
A DF acomete todas as raças. Estima-se a ocorrência de um caso a cada
40.000 homens ou um a cada 117.000 nascidos vivos, representando, assim, a segunda
alteração mais frequente por acúmulo lisossômico nos humanos. É possível que a
incidência esteja subestimada devido a existência das variantes intermediárias da doença,
como também casos diagnosticados após a morte do indivíduo e aqueles diagnosticados
no contexto de um familiar afetado.1
Os sintomas e sinais clínicos iniciais da DF são diversos e sutis, o que
muitas vezes dificulta ou retarda seu diagnóstico. Os homozigotos (termo da genética para
indicar que os alelos presentes em um locus genéticos são idênticos) geralmente
apresentam a forma clássica da doença com perda total da função enzimática. O início dos
sintomas ocorre na infância ou na adolescência, com parestesias crônicas (são sensações
cutâneas subjetivas; ex., frio, calor, formigamento, pressão, etc.) e episódios de dor
abdominal (chamadas crises do Fabry), intolerância ao calor, diminuição ou ausência de
suor, problemas na pele e córnea.
2. Entre a terceira e a quarta década de vida ocorre aumento desses sintomas
e aparecem os relacionados ao comprometimento sistêmico progressivo (alterações
cardíacas, renais e cerebrais). Na ausência de história familiar da doença, o diagnóstico
geralmente é feito tardiamente, quando já se desenvolveu dano visceral irreversível. A
apresentação clínica da doença nas mulheres é muito variável, e pode ir do estado
assintomático a quadro tão grave quanto ao que ocorre em homens.1
Dentre os sinais e sintomas da doença, a dor neuropática e acidente
vascular cerebral (AVC) são características neurológicas da doença de Fabry. A
neuropatia é um sintoma precoce o sintoma neurorógico mais frequentes. Eles levam à
redução da qualidade de vida, à limitações no trabalho e atividades diárias devido à uma
deficiência física, intolerância ao calor, tontura e possível dor neuropática pós-AVC.2 O
AVC é 20 vezes mais frequente nestes pacientes quando comparado a população geral.3
É comum ter lesões assintomáticas no exame de ressonancia magnética do sistema
nervoso central. Usualmente estão localizadas na substância branca e representam fator
de risco para as complicações vasculares desses pacientes.4
Devido à presença de vários sintomas ao mesmo tempo, o diagnostico da
Doença de Fabry torna-se dificultado, porém técnicas moleculares vem sendo utilizadas
na tentativa de solucionar este problema, sendo que a mais utilizada é o sequenciamento
automático para verificar a presença de mutação no gene da alfa- galactosidade A, visto
que a doença é caracterizada por uma mutação específica (mutação familiar).
Referências Bibliográficas
1. Boggio, P., M. E. Abad, et al. Doença de Fabry. v.84, p.367-76. 2009.
2. Wang, R. Y., A. Lelis, et al. Heterozygous Fabry women are not just carriers, but have
a significant burden of disease and impaired quality of life. Genetics in Medicine, v.9,
n.1, p.34. 2007.
3. Grysiewicz, R. A., K. Thomas, et al. Epidemiology of ischemic and hemorrhagic
stroke: incidence, prevalence, mortality, and risk factors. Neurol Clin, v.26, n.4, Nov,
p.871-95, vii. 2008.
4. Moore, D. F., G. Altarescu, et al. White matter lesions in Fabry disease occur in 'prior'
selectively hypometabolic and hyperperfused brain regions. Brain Res Bull, v.62, n.3,
Dec 30, p.231-40. 2003.