O documento discute a dialética entre o clássico e o romântico na arte dos séculos XIX e XX. Apresenta o clássico como relacionado ao mundo antigo greco-romano e ao Renascimento, enquanto o romântico está ligado à arte cristã da Idade Média. Discorre sobre como essas visões influenciaram o neoclassicismo e o romantismo como alternativas na época do Iluminismo.
1. CLÁSSICO E ROMÂNTICO
ARGAN, GIULIO CARLO. A ARTE
MODERNA: DO ILUMINISMO AOS MOVIMENTOS CONTEMPORÂNEOS. SÃO PAULO: COMPANHIA
DAS LETRAS, 2004, CAP. 1, 11-20P.
História da Arte
Prof. Viviane Marques
2. Clássico e Romântico
A arte do sec. XIX e XX são frutos da dialética entre o clássico
e romântico.
Clássico diz respeito ao mundo antigo greco-romano, ao
renascimento e a cultura humanista do sec. XV e XVI, no mundo
mediterrâneo onde a relação entre o homem e a natureza é
clara e positiva.
Romântico, refere à arte cristã, no seu apogeu da idade
média ao românico e ao gótico do mundo nórdico, onde a
natureza é considerada uma força misteriosa e hóstil.
Em ambas as visões a arte é considera a revelação do
sagrado e tem necessariamente uma essência religiosa.
Nesta fase da metade do sec. XVIII a metade do sec. XIX,
inicia-se a teorização de períodos com um novo significado, a
de transpô-los da ordem dos fatos para a ordem das idéias
ou modelos.
3. Clássico e Romântico
É a partir desta época que tratados ou preceitísticas do
renascimento e do barroco são substiutídos, a um nível teórico
mais elevado, por uma filosofia da arte (estética).
Com a formação da estética, a atividade do artista não é
mais considerada como um meio de conhecimento do real, da
transcedência religiosa ou exortação moral.
O mundo e o homem entram em crise, a arte é dual, teoria
versus práxis e intelectualismo versus cientificismo.
A atividade artística torna-se uma experi~encia primária e
não mais derivada, sem outros fins além do seu próprio fazer-
se.
É assim que surge a oposição entre a certeza teórica do
clássico e a intencionalidade do romântico.
4. Clássico e Romântico
A arte agora é autônoma, seu problema passa a ser de
articulação com outras atividades, seu lugar e sua função no
quadro cultural e social.
È o mundo do Iluminismo, e a natureza não´é mais a ordem
revelada e imutável da criação, mas o ambiente da existência
humana; não é mais o modelo universal, mas o estímulo a que
cada um reage diferente; não é mais a fonte de todo o saber,
mas o objeto da pesquisa cognitiva.
O homem moderno modifica a realidade objetiva,
principalmente nas coisas concretas, como a arquitetura e a
decoração, dentro de uma nova noção e consciência.
A ideologia é da imagem formada pela mente com eu
gostaria que fosse tal realidade.
5. Clássico e Romântico
O neoclássico marca então a postura predominantemente
racional, ao passo que o romântico busca uma atitude
passional.
No mundo temos:
A poética inglesa do sublime e do horror e a poética alemã do Sturm
und Drang;
O neoclássico coincidindo com a Revolução Francesa e o Império
Napoleônico;
A reação romântica, na intolerância burguesa às restaurações
monárquicas, os movimentos de independência nacional e as primeiras
reinvidicações operárias entre 1820 e 1850.
Toda esta situação tem como conseqüência:
A visão romântica considerada pitoresca, onde a arte que não imita
nem representa, mas está em cossonância com o Iuminismo, opera sobre
a natureza, modificando-a, corrigindo-a, adaptando-a aos sentimentos
humanos e as oportunidades de vida social, istoé, colocando-a como
ambiente de vida.
6. Clássico e Romântico
A poética do sublime e do Sturm um Drang contra a poética do
pitoresco.
No pitoresco, a natureza é um ambiente variado, acolhedor, propício,
que favorece nos indivíduos o desenvolvimento dos sentimentos sociais.
O sublime é o ambiente misterioso e hóstil, que desenvolve na pessoa, o
sentimento de solidão e individualidade e da desesperada tragicidade
do existir.
È no sublime que se dá o proto-romantismo e os modelos são buscados
nas formas clássicas.
A arte clássica é dada como arquétipo da arte, os artistas não a
repetem academicamente, mas aspiram a sua perfeição com uma
tensão nitidamente romântica.
O neoclassicismo revela que a arte não nasce da natureza, mas da
própria arte e não somente implica um pensamento da arte, mas um
pensar por imagens não menos legítimo que o pensamento por puros
conceitos.
7. Clássico e Romântico
Neste processo, é a arte romântica que implica uma tomada
de posição frente à história da arte.
A arte greco-romana se identifica com o próprio conceito de
arte, são os exemplos supremos da civilização, mas não
prosseguem no presente e não ajudam a resolver seus
problemas. Mas é só com os impressionistas que a arte greco-
romana sairá definitivamente do horizonte da arte.
A arte antiga pode ser evocada e imitada, pode ser revivida
em sonhos, reanimada com a imaginação ou violentamente
recusada.
A busca pelo padrão clássico no neoclassicismo, mostra um
ideal que não é imóvel, mas que possui um sentido ético-
ideológico entre a liberdade e o dever.
Deve se buscar no clássico, o valor absoluto e universal, que
transcende e anula as tradições e as escolas nacionais.
8. Clássico e Romântico
Esta busca pelo universalismo na arte, visa encontrar nas
nações a sua história. O sentimento do seu povo, as razões de
uma autonomia própria e numa raiz ideal comum que era o
cristianismo, o conteúdo para a coexistência civil.
O romantismo por sua vez, é a alternativa dialética com o
neoclássico, opondo a sua racionalidade e prenunciando a
religiosidade intrínseca da arte.
O fim do clássico é o início do romântico ou moderno e mesmo
da civilização contemporânea.
A transformação da tecnologia, a transformação da
organização da produção econômica e da ordem social, a
transformação das estruturas e da finalidade da arte são o
ápice na virada contemporânea.
9. Clássico e Romântico
A arte era vista como o ápice da produção artesanal, e com a
passagem da tecnologia do artesanato para a tecnologia
industrial começa a crise da arte.
Os artistas tornam se intelectuais em tensão com a classe
dirigente a que pertenciam, repudiam a burguesia,
desprezam seu conformismo e negocismo, e principalmente sua
mediocridade cultural.
No plano tecnológico, há um rápido desenvolvimento do
sistema industrial, o que gera à mudanças contínuas e quase
ansiosas das tendências artísticas que não querem ficar para
trás, das poéticas ou correntes que disputam o sucesso e que
são permeadas por uma ânsia de reformismo e modernismo.
O belo não é mais objetivo é sim subjetivo.
10. Clássico e Romântico
Existe o belo romântico do pitoresco, que é subjetivo,
característico e mutável.
O belo clássico do sublime, que é objetivo, universal e imutável.
A natureza agora é apreendida com o intelecto, percebida
pelos sentidos e o homem a modifica com o agir.
È o mundo da realidade interiorizada que tem na mente todos
os seus possíveis desenvolvimentos mesmo de ordem moral.
É no pensamento Iluminista que nasce a tecnologia moderna,
que não obedece à natureza, mas a transforma.
O pitoresco é uma qualidade que repercute na natureza pelo
gosto dos pintores e especialmente dos pintores barrocos.
11. Clássico e Romântico
O pintor e tratadista Alexander Golzens esclarece:
A natureza é uma fonte de estímulos a que correspondem sensações que
o artista esclarece e transmite;
As sensações visuais se apresentam como manchas mais claras, mais
escuras, variegadamente coloridas, e não num esquema geométrico da
perspectiva clássica;
O dado sensorial é naturalmente comum a todos, mas o artista elabora
com sua técnica mental e manual, e assim orienta a experiência que as
pessoas tem do mundo, ensinando a coordenar as sensações e emoções
e também atendendo com o paisagismo à função educativa que o
iluminismo setecentista atribuía aos artistas;
O ensino não consiste em decifrar manchas imprecisas em relação ao
objeto que correspondem, o que destruiria a sensação primária, mas em
esclarecer o significado e o valor da sensação tal como é, tendo em
vista uma experiência não-nocional ou particularista do real;
12. Clássico e Romântico
O valor que os artista buscam é a variedade, a variedade das
aparências que dá um sentido à naturesza tal com a variedade dos
casos humanos dá à vida;
Não se busca mais o universal do belo, mas o particular do
característico;
O característico não se capta com a contemplação, e sim com a argúcia
ou a presteza da mente, que permite associar ou combinar idéias-
imagens mesmo muito diversas e distantes.
Está visão é a poética do pitoresco, que medeia a passagem
da sensação ao sentimento, do físico ao moral que o artista-
educador é guia dos contemporâneos.
O mudo se divide entre o cientificismo objetivista e o
subjetivismo romântico.
A natureza passa a ser não apenas a fon te de sentimento, ela
induz também a pensar, na insignificante pequenez do ser
humano frente à imensidão da natureza e suas forças.
13. Clássico e Romântico
Educar a natureza é não destruir sua espontaneidade é a
busca do artista no que chamamos jardinagem.
O mundo agora se apresenta não mais como o agradável
local de variedades, mas como assustador fixidez de valores,
não mais como lugar de sociabilidade ilimitada, mas como
ponto de angústia da solidão sem esperança.
Assim o mundo e o homem se divide na poética do pitoresco e
do sublime.
No sublime, o homem visionário, angustiado, onde as cores são
às vezes foscas e às vezes pálidas, o desenho tem traços
marcados e fortes, os gestos são excessivos e as bocas
gritantes com olhos arregalados, a figura é fechada num
invisível esquema geométrico que aprisiona e anula seus
esforços, a inspiração é Michelângelo.
14. Clássico e Romântico
No pitoresco, as tonalidades são quentes e luminosas, os traços
são vivazes e se opõem ao relevo e à irregularidade ou
mesmo ao caráter das coisas, o repertório é variado, árvore,
troncos caídos, manchas de gramas, poças de água, nuvens
móveis no céu, choupanas de camponeses, animais no pasto e
pequenas figuras, sempre fazendo referência exata ao lugar,
sua inspiração são os pintores holandeses.
Mas o grande problema deste período foi a relação do
indivíduo com a coletividade.
Com a sociedade industrial nascente, a arte moderna também
é procura, entre indivíduo e coletividade, na busca de uma
solução que não anule o uno no múltiplo, nem a liberdade na
necessidade.