População do Portinho busca melhorias em serviços e infraestrutura
1. Primeira PautaJornal Laboratório do Curso de Comunicação Social - Jornalismo - Turma 6º Semestre/2002 Edição nº 26 - 30 de novembro de 2002
Um
lugar
chamado
Portinho
Um
lugar
chamado
Portinho
Geral
População reinvidica
ensino médio
Os moradores solicitam a coloca-
ção de escolas estaduais próximas à
localidade, já que só há municipais.
Com a precariedade na educação, os
alunos são obrigados a se deslocarem
até o centro para conseguir estudar.
Pág. 8
Saúde
Falta posto médico
Sem um posto de saúde os mora-
dores têm que se deslocar três quilô-
metros até os postos dos bairros
mais próximos. Segundo a Associa-
ção de Moradores, a principal causa
é a ausência de mobilização e
interação social da comunidade.
Pág. 4
Comunidade
Ação voluntária
Voluntariado e solidariedade
são a resposta para a cozinha co-
munitária da localidade. Cerca de
vinte mulheres doam seu tempo
para ajudar cerca de 80 crianças,
que pertencem a famílias com a
renda mínima de 270 reais. Pág. 5
Aline Anacleto
A comunidade, próxima ao Jardim Iririú, é um
exemplo do esquecimento do poder público. Os
moradores solicitam o aumento no número de
itinerários, asfaltamento de ruas, a construção de
escolas e melhoria na saúde
2. Joinville/SC, 30 de novembro de 2002
Primeira Pauta2
Opinião
EDITORIAL
Retirar a maquiagem
PorAline dos Anjos Anacleto
“Cidade das Flores”.
“Cidade das Bicicletas”. “Ci-
dade dos Príncipes”. É o que
se vende para os turistas:
uma bela cidade. Para o re-
cém-eleito governador: uma
cidade sem favela e sem mi-
séria. E, para os moradores
da periferia? Que cidade é
esta?
A maquiagem que a ro-
deia, cega os olhos dos mais
críticos. “Joinville não tem
pobreza!” Nossa cidade, es-
conde seus problemas dentro
das periferias. Como nossa
vizinha Curitiba, através de
“doces” pinceladas, elimina
a pobreza do cenário.
O que nossa cidade ocul-
ta, também, é a luta do povo
da periferia. A “Manchester
Catarinense” convive com a
negligência dos poderes pú-
blicos. São os moradores
das periferias que mantém a
beleza de nosso Centro, com
o suor de seu trabalho na in-
dústria, no comércio e no
mercado informal, enquan-
to seus bairros são esqueci-
dos e escondidos.
A comunidade da locali-
dade Portinho, no bairro Jar-
dim Iririú, é um exemplo do
esquecimento. Apesar de re-
centes melhorias na infra-es-
trutura, os moradores soli-
citam o aumento no núme-
ro de itinerários, asfaltamen-
to de ruas, a construção de
escolas e melhoria na saúde.
Outra deficiência no lo-
cal é a falta de segurança e o
desemprego. Há um cres-
cente aumento na violência,
não só no Portinho, mas em
toda a cidade. A falta de po-
liciamento ajuda a aumentar
esse índice, sendo que a mai-
oria dos crimes é cometida
nas periferias, cuja extensão
fazem de Joinville a “maior
cidade do Estado”. Segun-
do a Delegacia de Investiga-
ções Criminais (DIC), a ci-
dade que acolhe o Balé
Bolshoi enfrenta o aumento
da venda e utilização de en-
torpecentes. O crack é a
droga mais usada no bairro
Boa vista, que possui a mai-
or incidência de “bocas de
fumo”, 29%.
Apesar de tantas dificul-
dades, o Portinho possui um
voluntariado que se envolve
e ajuda em projetos, com
garra e força de vontade,
em busca da melhoria da
qualidade de vida. A Asso-
ciação de Moradores inves-
te na diminuição do desem-
prego, através da especiali-
zação profissional, como
uma aposta para reduzir a vi-
olência. Eles acreditam que
uma coisa acarreta outra, por
isso, são oferecidos cursos
de computação, eletricidade
e marcenaria, a fim de ten-
tar amenizar a violência e ga-
rantir empregos.
As cozinhas comunitárias
são outro exemplo de esperan-
ça e solidariedade. Várias mo-
radoras e mães trabalham vo-
luntariamente para garantir o ali-
mentam das crianças pobres do
bairro. Juntas lutam para pro-
gresso coletivo com responsa-
bilidade social: as crianças que
comem na cozinha, precisam
estar estudando e com sua car-
teira de vacinação em dia. Visi-
tar a localidade e compartilhar
seus problemas foi a forma que
encontramos para retirar um
pouco da maquiagem imposta
sobre Joinville e seus persona-
gens cotidianos, e mostrá-los a
você leitor.
Juliana G. Kock,
editora
EXPEDIENTE
Jornal Laboratório do
Curso de Comunicação So-
cial – Jornalismo – do Insti-
tuto Superior e Centro Edu-
cacional Luterano Bom Je-
sus/IELUSC. Edição noº
26, 30 de Novembro de
2002.
www.ielusc.br
Diretor Geral
Tito L. Lermen
Diretor do Curso
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Professor Responsável
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EDITORIAS
Serviços
Fernanda Lüttke
Saúde
Sérgio Leal Nunes
Comunidade
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Cotidiano
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Rosa Lopes
Suzana G. F. Lopes
Geral
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Pauteiras
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Juciano de S. Lacerda
Redação:
Curso de Comunicação
Social - Jornalismo. Rua Ale-
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Impressão: Gráfica
Helvética
Tiragem:
500 exemplares
Tanto tem se falado em
ser solidário, em exercer a
solidariedade. Mas, na prá-
tica, o que é solidariedade?
Gramaticalmente, a palavra
solidariedade é classificada
como um substantivo, e
substantivos servem para in-
dicar seres, conceitos e atos.
Daí, que a solidariedade
pode ser entendida como
uma atitude. Atitude de
apoio, proteção e cuidado
com alguém.
Grandes epidemias, guer-
ras, catástrofes são exemplos
que nos colocam diante de
situações em que pessoas
precisam ser apoiadas, pro-
tegidas e cuidadas. Nessas
ocasiões é preciso ter a cla-
reza de que precisamos mo-
dificar algumas posturas
pessoais, às vezes, precon-
ceituosas, e nos tornarmos
disponíveis para enfrentar
qualquer dificuldade.
Um grande exemplo de
solidariedade que temos em
Joinville são as cozinhas co-
munitárias, fundadas pelo
padre Luiz Facchini. Há sete
anos ele colocou a idéia em
prática, criando, primeira-
mente, a Fundação Pauli-
Madi Pró-Solidariedade e
Vida, uma espécie de em-
brião do projeto. Existem
atualmente 21 cozinhas co-
munitárias espalhadas por
diversos bairros carentes da
cidade. A expectativa para o
final do ano é que sejam
inauguradas mais três,
totalizando 24 cozinhas co-
munitárias em Joinville.
Importante destacar nes-
te trabalho é que as própri-
as mães das crianças prepa-
ram os alimentos. As crian-
ças têm a oportunidade de
se encontrar com outras pes-
soas, aumentando a possibi-
lidade de trocas afetivas.
Muitas vezes, aprendem
mais nas cozinhas comunitá-
rias do que na própria casa
em que vivem. O trabalho
voluntário edifica a pessoa.
Acompanhar o cotidiano
dessas pessoas nos engran-
deceu muito, pela simplici-
dade e humildade como
constroem o seu dia-a-dia.
Encerro com um poema da
Gabriela Mistral (abaixo), para
que pensemos, reflitamos e seja-
mos solidários de coração.
Solidariedade na prática
“Somos culpados de muitos erros
e muitas falhas,
mas nosso pior crime é abandonar as crianças,
desprezando a fonte de vida.
Muitas das coisas que precisamos podem esperar.
A criança não pode.
É exatamente agora que seus ossos estão se
formando,
seu sangue é produzido e seus sentidos estão se
desenvolvendo.
Para ela não podemos responder “Amanhã”.
Seu nome é ‘Hoje’.”
(Gabriela Mistral)
3. Primeira Pauta
Joinville/SC, 30 de novembro de 2002
3
Serviços
A população da localidade
Portinho, que fica entre o bair-
ro Jardim Iririú e Parque
Joinville, pede melhorias na
infra-estrutura da área. Apesar
de ter três linhas de ônibus, três
ruas asfaltadas e colocação de
tubos para escoamento de es-
goto em toda área, os mora-
dores querem a melhoria e o
aumento desses serviços. A
energia elétrica e a água já che-
gam a 90% das residências.
A localidade Portinho con-
ta hoje com as linhas Portinho
e Jardim Iririú, que saem do
terminal do Iririú, e a linha
Dom Gregório Warmeling,
que sai do terminal Tupy. Elas
cortam praticamente a Rua
Frontin. A população da área
reivindica mais duas linhas.
Uma que sirva a Rua
Uruguaiana e uma linha que
saia do terminal Tupy, passe
Portinho busca mais qualidade de vida
Fernanda Lüttke
Apesar de recentes avanços na infra-estrutura
e serviços, o local ainda necessita de melhorias
A primavera tem início na ci-
dade de Joinville. Estação em
que mais se vêem os céus da ci-
dade coloridos pelas pipas,
pandorgas, papagaios. Esta si-
tuação vem preocupando a co-
munidade local. Com várias
queixas de quebra de telhados,
cortes nos fios de luz, quedas e
acidentes provocados pelas cri-
anças que vão em busca de seus
brinquedos nas casas da vizi-
nhança. A associação de mora-
dores tenta a proibição da brin-
cadeira.
Em uma visita ao local,
pode-se ver, em grande parte da
fiação, restos de pandorgas e
muitas crianças subindo em te-
lhados e muros das casas para
pela Rua Riacho Santana e vá
até o bairro Cubatão. Isso tra-
rá benefício aos moradores,
que não precisarão caminhar
tanto para chegar até suas ca-
sas. Segundo a Transtusa
(Transporte e Turismo Santo
Antônio Ltda.), ainda não há
um projeto para essas novas
linhas, no entanto a empresa irá
estudar a proposta.
A comunidade também
busca a ampliação da pavi-
mentação das ruas Martinho
Van Biene, Uruguaiana, Areia
Branca e Riacho Santana. Es-
sas obras dependem da Secre-
taria Regional do Comasa/
Boa Vista. Pelo antigo projeto
da Companhia de Desenvol-
vimento e Urbanização de
Joinville (Conurb), as ruas Ro-
cha Pombo e Tabatinga serão
as próximas a serem asfaltadas.
Estas vias foram definidas em
pleito realizado com os mo-
radores, onde mais de 90%
aceitaram a pavimentação. “O
maior problema para nós mo-
radores é o pó em dias secos
e a lama quando chove na ci-
dade”, relata a dona de casa,
Sandra Pianini, residente a Rua
Uruguaiana.
O abastecimento está com
melhor qualidade. “Um dos
motivos é a queda do número
de cortes no fornecimento”,
explica o presidente da Asso-
ciação de Moradores Chico
Mendes, do Portinho, Augusto
Pires de Lima.
A dona de casa Sandra
acredita que a qualidade da
água e todo o saneamento es-
tão em boas condições. O sa-
neamento está com obras em
fase conclusiva em sua grande
parte, com a colocação dos
tubos.
Por conta de lotes irregula-
res no final da Rua Coronel
Vieira com Rodrigo Lobo, os
moradores sofrem com a fal-
ta de abastecimento de luz e
água. São freqüentes os chama-
dos “rabichos”, ligações clan-
destinas feitas de casas ou pos-
tes para outras residências sem
o serviço, enquanto não há a
regularização dos terrenos.
Reclamação
Lixo é jogado em terrenos
baldios, bem como na beira-
da das ruas, causando grande
transtorno em dias de chuva.
Há o entupimento das bocas
de lobo bem como inutiliza-
ção do encanamento que de-
veria dar vazão às águas da
chuva. Por essa razão Augusto
de Lima reclama da falta de
apoio dos moradores em rela-
ção à manter a limpeza das ruas.
brincar com um dos passatem-
pos mais baratos. Isso está cau-
sando problemas na rede elétrica
da área bem como o perigo de
acidentes com as crianças.
Os moradores não acham
uma má idéia a proibição das
diversões com os papagaios.
Com a proibição, seria necessá-
rio um local para divertimento
como parques e campinhos de
futebol, para que as crianças con-
tinuem sua brincadeira. Segun-
do Lamir Machado da Silva,
12 anos, o bairro é bastante
apropriado para a brincadei-
ra. “Não há muito movimen-
to dos carros, é bom para a
gente brincar, basta ter um lu-
gar”, diz. [FL]
Perigo: crianças, pipa e cerol
Mais duas linhas: população pede ampliação de itinerários
Papagaios: diversão expõe crianças ao risco e provoca acidentes na rede elétrica
Fotos: Aline Anacleto
4. 4
Sergio Leal Nunes
Saúde
Sensibilizar a Prefeitura para
a implantação de um posto de
saúde no Portinho é um antigo
objetivo que ainda não foi alcan-
çado pelos moradores. Segundo
o presidente da Associação de
Moradores Chico Mendes,
Augusto Pires de Lima, 56 anos,
morador do local há quinze
anos, a principal causa é a falta
de mobilização comunitária. Em
Saúde não é prioridade no Portinho
Ainda falta um posto de saúde no Portinho, a maior causa é a desmobilização dos moradores
Em março, a associação
conseguiu fazer uma reunião
com a secretária da saúde,
Tânia Eberhardt. Ela ressal-
ta que o Planejamento
Plurianual – PPA, que regu-
lamenta ações administrati-
vas, não prevê um posto de
saúde antes de 2005. E in-
forma que os postos mais
próximos serão ampliados e
que, de acordo os resultados
do censo, pode ser possível
uma reavaliação do PPA. A
intenção da diretoria da as-
sociação de moradores é ins-
talar o posto na própria sede,
entre as ruas Tabatinga e
Rocha Pombo, pela sua cen-
tralização. Mas para isto o
local teria de sofrer adapta-
ções com ampliação do es-
paço. Segundo o vice-presi-
pando. Afirma ainda que, com
um posto, a qualidade da saúde,
na localidade, iria melhorar mui-
to. Atualmente, para conseguir
uma ficha de atendimento nos
postos da região, os usuários já
devem estar na fila desde a meia-
noite.
Maria de Lourdes Paulina
mora na mesma rua. Trabalha
em casa e na cozinha comunitá-
ria da Fundação Pauli-Madi Pró-
Solidariedade e Vida. Sobre a
pouca participação nas reuniões
é irônica: “Para aumentar a par-
ticipação só fazendo uma festa”.
Não foi na reunião sobre o pos-
to de saúde, mas já participou de
outras. Disse que não sabia: “É
que nas segundas-feiras, quando
tem reunião da associação, tenho
também reunião na igreja”.
“Nas reuniões só vão os
membros da diretoria. A gente
convida as pessoas, mas não vai
1991, foram realizadas duas reu-
niões nas associações de mora-
dores do Portinho e Parque
Joinville, para discutir a implan-
tação de um posto de saúde na
região. Enquanto na do Portinho
foram cerca de 30 pessoas, na
outra compareceram mais de
uma centena.
“Quando foi feita uma reu-
nião para discutir o asfaltamen-
to, milhares de pessoas compa-
receram à associação. Quando o
tema é a saúde ou a educação,
não vem ninguém”, desabafa o
presidente. O resultado é que, até
hoje, os habitantes do Portinho
deslocam-se até os postos dos
bairros mais próximos.
Participar das reuniões da As-
sociação Chico Mendes não é
uma atividade comum entre os
moradores do Portinho. Uma
prova da pouca interação social
do local. “Os moradores deve-
riam se unir, conversar mais uns
com os outros, e avisarem os
demais para irem até às reuni-
ões”, desabafa Lourenço Barbo-
sa. Segundo o morador da Rua
Frontin, os membros da associ-
ação vão de casa em casa avi-
sando os moradores. “Eu e mi-
nha esposa fomos pessoalmente
convocados pelo presidente da
associação”, afirma o esmerilha-
dor, que é morador do Portinho
há dez anos. Ele pensa que de-
veria haver mais pessoas partici-
ninguém”, desabafa Claudete
Pavalenice Alves, 35 anos, auxili-
ar de cozinha. A titular da Pasto-
ral da Saúde, órgão ligado à as-
sociação, mora na Rua Tabatinga,
próximo ao mangue. Ela analisa
que as pessoas que querem as-
falto, e só participam destas reu-
niões, não são as mesmas que dis-
putam as fichas de atendimento
nas noites e madrugadas. Para ela,
a qualidade da saúde irá melho-
rar porque vão diminuir as filas.
Mas só o posto não vai resolver.
Pedro de Souza, 51 anos,
sucateiro autônomo, afirma ser
bem atendido nos postos já exis-
tentes. Porem reclama da demo-
ra nas consultas. Segundo o mo-
rador da Rua Tabatinga, existe
um tempo de espera de até três
meses para uma simples consul-
ta médica. “Dá tempo para a
pessoa morrer e ressuscitar”,
ironiza Pedro de Souza.
dente da associação, Adilson
Gonçalves, 52 anos, a prefeitu-
ra comprometeu-se a ajudar na
medida do possível.
Os postos de saúde mais
próximos são os do Parque
Joinville e Jardim Iriríu, distan-
tes três quilômetros, e já enfren-
tam problemas de superlotação.
Para conseguir uma ficha de
atendimento as pessoas devem
chegar de madrugada. Em ca-
sos de emergência, o desloca-
mento em busca de socorro
pode ser ainda maiore. “Eu já
levei muita gente para o Regio-
nal. Já precisei usar o P.A. 24
Horas do Itaum e fui muito bem
atendido. Nós não temos estas
opções neste lado da cidade”,
critica o vice-presidente. Segun-
do ele, os postos mais próximos
atendem diariamente entre 10 a
15 moradores do Portinho.
Mas não são somente ne-
cessidades imediatas que pre-
ocupam os dirigentes da As-
sociação Chico Mendes.
Com a implantação de um
posto de saúde será possível
operacionalizar o Programa
de Saúde Familiar (PSF). “O
PSF é indispensável”, afirma
Augusto Pires de Lima. Nes-
te programa as ações são fo-
calizadas no atendimento
preventivo. Um agente co-
munitário visita cada uma
das famílias do local, dando
orientações sobre cuidados
com a saúde. Cinco pessoas
da associação já estão fazen-
do um curso de capacitação
para futuramente atuar
como voluntários no pro-
grama. [SLN]
Associação busca alternativas
Proximidade com mangue requer mais cuidados com a saúde
Primeira
Joinville/SC, 30 de
Aline Anacleto
5. 5
comunidade
Com o objetivo de benefici-
ar crianças de famílias de baixa
renda foram criadas em Joinville
as cozinhas comunitárias. Vinte e
uma encontram-se espalhadas
em vários bairros da cidade
como Itinga, Ulisses Guimarães
e Boa vista.
Na localidade Portinho, na
Rua Rocha Pombo, a cozinha
atende diariamente, de segunda
à sexta-feira, um número de 50
a 80 crianças, no horário que vai
das 8h às 13h. Desde 1996, é
mantida pela Associação de
Moradores Chico Mendes.
A faixa etária das crianças que
freqüentam o local é de 3 a 14
anos. Nas famílias que fazem par-
te do projeto, 20% dos pais es-
tão desempregados e outros
20% ganham, no máximo, de um
salário mínimo a um salário mí-
nimo e meio. Considerando que
um salário mínimo corresponde
a apenas R$ 200,00, uma cesta
básica, que dependendo do ta-
manho da família não é suficien-
te, custa, no mínimo, R$ 120,00.
Neste caso, sobra para o pai as-
salariado uma importância irri-
sória de R$ 80,00, que não co-
bre as outras despesas como
transporte, água, luz e aluguel. Os
60% restantes possuem uma ren-
da média acima de dois salários.
Para ter acesso à cozinha co-
munitária toda a criança precisa
passar por um processo de
cadastramento, mas, para isso, ela
precisa obrigatoriamente estar na
escola e com sua carteira de va-
cinação em dia.
A Fundação Pauli-Madi Pró-
Solidariedade e Vida é quem for-
nece os grãos para a cozinha e as
frutas e verduras são doadas pe-
las verdureiras da comunidade.
As despesas referentes à água, luz
e manutenção ficam por conta
da Associação, uma vez que a
Cozinhas comunitárias amenizam a fome
Crianças recebem alimentos, ajuda escolar e carinho de moradoras e mães voluntárias
Prefeitura não contribui com ne-
nhuma verba. O valor das fatu-
ras de água e luz é de R$ 60,00,
pago através de uma importân-
cia de R$ 100,00, que são desti-
nados todo o mês pela Igreja São
Pedro, que atende a região do
Portinho. Os R$ 40,00 restantes
são para as demais despesas de
manutenção.
O quadro de voluntários é
composto por vinte mulheres,
donas de casa, que se dividem
em cinco equipes. De cada qua-
tro mães, uma fica responsável
pela administração e as outras três
preparam a comida, servem e
cuidam dos meninos. Em cada
dia da semana atua uma equipe.
Das vinte voluntárias, cinco ali-
mentam seus filhos na cozinha.
Os cardápios não são feitos
metodicamente e também não
há nenhum acompanhamento de
nutricionista. As refeições são
simplesmente preparadas de
acordo com os mantimentos dis-
poníveis no dia, de modo que
os alimentos utilizados são basi-
camente o arroz, o feijão, o ma-
carrão, o fubá, além das verdu-
ras e dos legumes. E a única car-
ne servida é o frango. O bolo, o
arroz doce e a salada de frutas
fazem parte do cardápio das so-
bremesas.
A coordenadora Margarete
Hoft Rosa acredita que o traba-
lho é gratificante. E, segundo ela,
existe a possibilidade da cozinha
comunitária possuir sua sede pró-
pria. A Prefeitura cogitou a libe-
ração de um terreno para este
fim, porém, nenhum documen-
to foi enviado ou solicitado até
o momento, nada até agora foi
oficializado ou sequer con-
firmado.
“A cozinha representa para
mim muito mais que uma famí-
lia, é uma realização pessoal que
me compensa o tempo todo
com harmonia, serenidade, ale-
gria e uma paz interior ainda
maior”, destaca a voluntária
Maria de Fátima Faust Moser,
que há cinco anos se encarrega
de cuidar das crianças.
Marino Braga Jr.
“Venho todos os dias aqui, às
vezes não tenho o que comer em
casa. Acho muito importante o tra-
balho das voluntárias.”
Felipe de Araújo, 12 anos
“Tenho 4 filhos e todos eles
comem aqui. Aprendem mais
coisas aqui do que em casa.”
Márcia Soares, 32 anos,
voluntária há 7 meses
“O trabalho é gratificante e
faz a gente crescer espiritualmen-
te a cada dia.”
Margarete Hoft Rosa,
coordenadora da cozinha
“A cozinha representa mais que
uma família, é uma realização pes-
soal .”
Maria de Fátima F. Moser,
voluntária há 5 anos
a Pauta
novembro de 2002
As crianças precisam estar na escola e com sua carteira de vacinação em dia
Fotos: Aline Anacleto
6. Joinville/SC, 30 de novembro de 2002
Primeira Pauta
FranciscoCarlos Freitas
Cotidiano
A violência em Joinville au-
mentou consideravelmente nos
últimos meses e a população cla-
ma por policiamento nos bair-
ros onde maior parte dos deli-
tos são cometidos. Segundo es-
tatística do Instituto Médico Le-
gal (IML), comparando com o
número de atendimentos total
do ano passado, em 2002 houve
um crescimento de 10 % e o ano
ainda não terminou. Em 2001,
foram registrados 302 atendi-
mentos contra 339 deste ano. A
estatística do Instituto aponta
também uma mudança nos cri-
mes de homicídio que se torna-
ram mais violentos e com a par-
ticipação maior de mulheres
como vítimas.
O delegado Gilberto Cervi
Silva, titular da Primeira Delega-
cia de Polícia, credita este aumen-
to à questões sociais, como de-
semprego, pobreza, falta de pers-
pectiva, péssimas condições vida,
entre outras dificuldades enfren-
tadas pelos moradores da peri-
feria. Fato contestado pelo pre-
sidente da Associação de Mora-
dores do Loteamento Rosa e
Ulisses Guimarães, Wilson José
Demaria, 51 anos, que analisa a
infra-estrutura e condições de
vida do bairro como boas, mes-
mo assim o número de delitos
tem aumentado muito. “No bair-
População reivindica polícia no bairro
Moradores da periferia são
os que mais sofrem com
a falta de segurança
Auxílio a comunidade 24,61%
Crimes e Contravenções 33,79%
Ocorrências Diversas 28,80%
Emergências / Traumas / Acidentes 7,67%
Contra o Meio Ambiente 0,06%
Incêndios 0,54%
Serviços / Atividades profissionais 1,10%
Serviços / Atividades Afins 0,41%
Trânsito 2,10%
Bairros com maior incidência das bocas de fumo
Boa Vista 29 %
Iririu 27 %
Itaum e Fátima 15 %
Parque Joinville e Jardim Iririu 11 %
Aventureiro 9 %
Escolinha 5 %
Outros 4%
Fonte: Delegacia de Investigações Criminais (DIC).
ro tem uma escola moderna, e
não tem muitos desempregados,
mesmo assim o número de fur-
tos aumentou”, disse ele, afir-
mando que a população tem que
fazer rodízio para deixar suas
casas. “Se uma família sair para
um passeio, não avisar nenhum
vizinho ou deixar alguém em
casa, ao voltar, é praticamente
certo que vai ter surpresas”,
acrescentou Demaria.
Outro bairro que está sendo
ameaçado pela ação dos margi-
nais é o Comasa, onde apenas
em uma tarde de janeiro foram
registados oito assaltos com uso
de arma de fogo. “Já não agüen-
tamos mais, até o Sítio Arqueo-
lógico do Sambaqui foi invadi-
do por vândalos e usuários de
drogas”, afirmou o presidente da
Associação de Moradores Pau-
lo Roberto da Silva, 48 anos, que
diz que o bairro foi esquecido
pela Polícia. “Até a Praça David
da Graça virou ponto de encon-
tro para consumo de drogas e
pessoas desocupadas”, acrescen-
tou Silva.
Blitz e prisões
O capitão Adilson Michelli,
da Segunda Companhia da Polí-
cia Militar da Região Norte, ar-
gumentou que freqüentemente
realiza blitz na Praça e até agora
não foi encontrado ninguém con-
sumindo drogas. Mas salienta que
no bairro é comum a PM efetu-
ar prisões de adolescentes trafi-
cando, cometendo furtos ou as-
saltos à mão armada. “Eles são
soltos poucos horas depois”, dis-
se o capitão, acrescentando que
o Código Penal Brasileiro os pro-
tege e que, por esse motivo, co-
metem a maior parte dos crimes.
“Precisamos efetuar diversas pri-
sões para a criminalidade dimi-
nuir, como fizemos no
Loteamento Nossa Senhora da
Paz, há algum tempo, mas mui-
tos já estão soltos porque eram
adolescentes”, acrescentou.
Ao analisar a situação da Ur-
banização Nossa Senhora da Paz,
a presidente da Associação de
Moradores, Ivonete Vicente, 41
anos, rebate as afirmações do
Comandante Michelli. “Recente-
mente a polícia prendeu alguns
bagrinhos, mas os chefes conti-
nuam soltos, recrutando adoles-
centes e jovens desempregados”,
afirmou. Outra denúncia da pre-
sidente diz respeito à atuação dos
traficantes no bairro que ditam
“o que pode e o que não pode
funcionar”. “Tem um rapaz que
montou uma escola de futebol e
estava tirando os meninos das
ruas, mas foi impedido pelas fre-
qüentes ameaças a sua família”,
disse ela.(Veja no quadro ao lado
as estatísticas de incidência do trá-
fico de drogas nos bairros).
Já os 300 estabelecimentos
comerciais do Iririu não devem
ficar abertos depois das 18 h,
caso contrário, correm sérios ris-
cos de serem assaltados. “Reco-
mendo que fechem até antes,
porque à noite eles assaltam mes-
mo”, disse o comerciante
Manoel Cândido Lemos Filho,
54 anos, que mudou sua residên-
cia para o interior de sua loja, na
Rua Iririu. “Se deixar sozinho
eles entram e roubam tudo”,
contou ele.
O presidente da Associação
de Moradores, Oli Antônio Car-
doso Pinto, classifica como
inexistente o policiamento nos
bairros. “Além deste comercian-
te, o inquilino da Lanchonete da
Sede da Associação de Morado-
res também dorme no local, para
tentar inibir ação dos crimino-
sos”, argumentou Pinto.
Segundo o presidente da As-
sociação de Moradores do
Petrópolis, Osvaldo da Rosa, a
segurança em Joinville é precá-
ria, onde polícia fica em desvan-
tagem aos marginais. “Além dos
baixíssimos salários, carga horá-
ria com trabalho que necessita de
complementação, os PMs tem
que enfrentar falta de equipamen-
tos, usam revolver 38 e os mar-
ginais 765”, disse ele, em conjun-
to com o presidente da Associa-
ção de Moradores Vila Novos
Horizontes, Sadi Machado
Ameida, reivindicando uma mai-
or participação dos policiais nos
bairros.
“Quando a polícia resolve
dar uma batidinha às coisas me-
lhoram muito, precisamos de
rondas, com veículos e polícias
nas ruas”, concluiu Sadi.
Quadro demonstrativo de ocorrências por grupo
6
“Se uma família sair para um
passeio, não avisar nenhum
vizinho ou deixar alguém em
casa, ao voltar, é praticamente
certo que vai ter surpresas”
Wilson José Demaria, 51 anos
Loteamento Rosa e Ulisses Guimarães
7. Primeira Pauta
Joinville/SC, 30 de novembro de 2002
Rosa Lopes
Cotidiano
Comerciantes se queixam so-
bre a falta de segurança pública
e policiamento na localidade do
Portinho, em Joinville. A falta de
emprego e os baixos salários são
os principais fatores apontados
pela comunidade para o aumen-
to da criminalidade. Para rever-
ter esta situação, moradores se
mobilizam em busca de cursos
especializados para um maior
aperfeiçoamento profissional.
Para permanecer de portas
abertas além de driblar os assal-
tantes, o comerciante do
Portinho tem que ser criativo. É
necessário facilitar o crédito para
a venda de mercadorias. A for-
ma de pagamento encontrada é
o recebimento de notas promis-
sórias, caderneta, vale refeição e
até mesmo vale transporte, devi-
do à baixa renda dos moradores.
Cursos profissionalizantes são a saída
Associaçãodemoradoresapostaemcapacitaçãoparaerradicardesempregoecombaterviolência
Os desempregados procu-
ram a Associação de Morado-
res Chico Mendes que em par-
ceria com a Fundação Munici-
pal Albano, Schmidt promove a
especialização de cursos de com-
putação, eletricidade e marcena-
ria.
Foram ministradas até hoje
150 horas de curso e 146 pes-
soas já estão com o diploma de
computação. As estatísticas da
Fundama sobre as condições de
trabalho dos alunos matriculados
nos cursos de especialização,
apresentam os seguintes resulta-
dos:20% dos estudantes são de-
sempregados, 20% ganham em
média 1 salário mínimo,60% ga-
nham até 2 salários mínimos.
Comparando o Portinho
com outros bairros da periferia
de Joinville, com relação ao de-
semprego e nível de escolarida-
O empresário Wilson Santos,
36, que há 13 anos é proprietá-
rio do mercado Paraná, já foi
vítima de cinco furtos e um as-
salto à mão armada. “Neste úl-
timo assalto levei um grande sus-
to. Renderam minha esposa no
caixa com uma arma apontada
para sua cabeça e levaram cerca
de 2 mil reais”, desabafa o co-
merciante.
Apesar dos acontecimentos,
de, nota-se vários avanços. O
bairro Jarivatuba tem 12% de
desempregados, considerando
450 famílias residentes na região.
A situação entre os dois é simi-
lar, porém o diferencial é a for-
mação de trabalhadores em cur-
sos profissionalizantes existentes
no Portinho, que acaba gerando
maiores oportunidades de em-
prego futuro.Em relação ao Bair-
ro Jardim Edilene, o problema
ainda é mais critico, pois alem de
não ter curso profissional, os tra-
balhadores são obrigados a se
deslocar até o centro para bus-
car formação. A maioria dos de-
sempregados depende de trans-
porte público para se locomover
e não tem condições de pagar as
passagens, e acabam desistindo
do aprendizado. A conseqüência
é o desemprego, por falta de
qualificação profissional. [RL]
O índice de violência em
Joinville continua crescendo.
Conforme o relatório de aten-
dimento do 8º batalhão da Po-
lícia Militar são mais de 10.000
telefonemas por dia, solicitan-
do os mais diversos pedidos,
que vão desde simples informa-
ções e pedidos de auxílio, até
ocorrências mais graves. Des-
sas ligações telefônicas, efetiva-
mente, 350 são configuradas
como ocorrência policias e ne-
cessitam da intervenção dos
profissionais de segurança.
O relatório do 8º Batalhão
da Polícia Militar aponta um
crescimento do número de fur-
tos e o principal alvo são os es-
tabelecimentos comerciais. De
janeiro a setembro de 2001, fo-
ram registradas 394 ocorrências
contra 585 deste ano, apontando
um crescimento de 48,48%. O
relatório da PM aponta outro
dado alarmante, o crescimento de
33,19% nos furtos em residênci-
as. No ano passado foram
registrados 937 arrombamentos
contra 1.248 deste ano.
“Ninguém sabe o que é deter-
minante para a violência em
Joinville, por isso neste momento,
precisamos de uma cota de sacri-
Moradores optam por curso
fício de cada um. É um desafio
a ser abraçado”, destaca o soci-
ólogo e especialista emCrimina-
lidadeGláucioAryDillonSoares.
Para tentar coibir o aumen-
to da criminalidade, a Polícia
Militar irá intensificar as rondas
nos bairros e colocar todo o efe-
tivo nas ruas.“Contaremos com
150 homens auxiliados por um
helicóptero”, afirmou o Segun-
do Tenente Jardel Silva, asses-
sor de comunicação do 8º Bata-
lhão da PM.
Aumenta violência em Joinville
Crédito facilitado é estratégia para seduzir clientela
Santos comenta que não preten-
de mudar de local, pois acredita
que o bairro tem progredido, le-
vando em conta o grande núme-
ro de moradias construídas re-
centemente. Segundo Marlene
Silvestre, dona da padaria Pão
Doce, a violência aumentou de-
vido à falta de emprego. “Eu
recebo cerca de seis pedidos de
emprego por dia”, afirma a
empresária.
7
Futebol: saída para jovens
Para os adolescentes a op-
ção é aprender a jogar futebol
de forma profissional. O pro-
fessor Paulo Rechback, 35,
que é treinador ha mais de um
ano, tem uma equipe forma-
da de 40 alunos entre 12 a 15
anos. Eles se reúnem três ve-
zes por semana e disputam
partidas nos finais de semana,
para aperfeiçoar os passes e in-
centivar as jogadas individuais.
As meninas também pos-
suem seu espaço reservado nas
partidas de futebol. Carlos
Dias, 34, treina cerca de 30
adolescentes de 12 a 17 anos,
duas vezes por semana. Ele
busca incentivar as alunas a tra-
balhar em equipe. [RL]
Suzana G.F. Lopes
De janeiro a setembro de 2001,
foram registradas 394 ocorrências
contra 585 deste ano, apontando
um crescimento de 48,48%
8. Joinville/SC, 30 de novembro de 2002
Primeira Pauta8
Geral
Cristiane A. Kamarowski
A educação na localidade
do Portinho é precária. Os mo-
radores reclamam da falta que
faz um colégio que possua ensi-
no médio, pois muitos têm que
se deslocar para o centro da ci-
dade. “Fui obrigado a fazer o 2º
grau no colégio Nova Era, do
contrário, ficaria sem estudar”,
afirma o morador Vilmar Pires.
Há somente duas escolas situa-
das na região.
Atendem a comunidade a Es-
cola Profª Laura Andrade, exis-
tente há 18 anos, localizada à Rua
Senador Rodrigo Lobo, perten-
cente ao bairro Jardim Iririú, e a
Escola Hilda Anna Krisch, situa-
da no loteamento Dom Gregório
Warmeling, construída há três
anos. Os estabelecimentos são
municipais e possuem apenas o
ensino fundamental (1ª a 8ª séri-
es). A Escola Laura Andrade
possui também supletivo, de 5ª a
8ª séries.
O presidente da Associação de
moradores Chico Mendes,
Augusto Pires de Lima, 56 anos,
aponta para a necessidade de um
colégio que possua ensino médio
e também de uma creche comu-
nitária. A comunidade já entrou
com um processo junto à Prefei-
tura, para construção da creche,
mas nada foi feito até agora. “Isso
seria ótimo, pois as mães poderi-
am trabalhar fora e ajudar seus
maridos com as despesas da casa”,
justificaopresidentedaassociação.
A evasão escolar é uma cons-
tante na comunidade, as crianças
não recebem incentivo dos pais e
acabam desistindo de estudar.
“Desisti de estudar porque meus
pais falaram que não vale a pena.
Eles também não estudaram”,
revelou Maurício de Oliveira.
A moradora Vanessa
Medeiros, 35 anos, reclama: “Al-
gumas pessoas são acomoda-
das, não se interessam em tra-
População reivindica colégios estaduais
O Portinho precisa de
muitas melhorias, mas os
moradores não recebem aju-
da financeira do Município. E
apesar de todas essas dificul-
dades e necessidades, eles ti-
ram dinheiro de onde não
tem para conseguir o progres-
so do local. A região tem cer-
ca de 450 famílias onde a
maioria é de baixa renda e
têm mais de seis filhos. A me-
tade da população é com-
posta de jovens e adultos.
No início, o Portinho era
uma área de manguezal. “Aqui
era feio, não tinha nada, era
só mato”, diz o morador
Santin Pereira, 60 anos, que
vive na região desde 1985.
Quando ele chegou “havia
apenas umas quatro ou cinco
casas”. Segundo Augusto Pi-
res de Lima, Presidente da
Associação de moradores
Alunos do Portinho obrigam-se
a estudar no Centro da cidade
balhar e muito menos em estu-
dar. Há um certo descaso”.
O secretário de Educação e
Cultura de Joinville, Sylvio
Sneicikowski lamenta: “Infeliz-
mente não há previsões para a
construção de um novo colégio
nessa localidade. Está tudo
meio que estagnado no momen-
to, primeiramente por estarmos
rumando para o final do ano e
também pela transição de go-
verno”.
Segundo Maria José Macha-
do Alvarez, auxiliar de direção
da Escola Hilda Anna Krisch, a
disponibilidade de vagas no lo-
cal é de 1.102 alunos no perío-
do diurno e 109 no período no-
turno. Dentre estes, apenas
20% são alunos do Portinho.
Não há incidência de evasão
escolar na Hilda Anna Krisch.
Os professores estão sempre aler-
ta e costumam controlar a fre-
qüência dos alunos. Um dos pro-
blemas apontados é a questão das
faltas constantes. Houve épocas
em que chegou a ter uma estatís-
tica de 100 faltas por mês. As jus-
tificativas são sempre as mesmas,
o motivo é que as mães precisam
seausentardeixandoosfilhosmais
velhos cuidando dos mais novos.
O auxiliar de direção da Esco-
la Profª Laura Andrade, Dilnei
Alves de Souza, afirmou que a
escola possui em média 1.300 alu-
nos matriculados e, dentre estes,
95% são do Portinho. A escola
possui também o ensino modula-
rizado por meio de apostilas cedi-
das pela Prefeitura, em que se é
possível fazer quatro séries em
aproximadamente dois anos, se o
aluno for esforçado. Os alunos
do modularizado possuem em
média cerca de 40 anos.
PordeterminaçãodaLDB(Lei
de Diretrizes e Bases) o ensino
médio é de responsabilidade do
Estado e não do Município.
Chico Mendes, as pessoas cor-
tavam madeira, roçavam o ter-
reno, mas se no outro dia não
aparecessem, outros iam lá e fa-
ziam sua casa.
Como muitos terrenos fo-
ram invadidos, os moradores
não tinham um documento le-
galizando a situação. O Portinho
não era reconhecido no plane-
jamento urbano do município.
A irregularidade dificultava a ins-
talação de serviços como água
e luz. Por isso, a imobiliária Vi-
são fez uma proposta aos mo-
radores: eles financiariam a ins-
talação desses serviços básicos,
pagando um terço do seu salá-
rio. A Prefeitura somente fez
chegar a água e luz no local.
Em outubro de 1987, foi
fundada a Associação de mo-
radores, com a intenção de fa-
zer melhorias no Portinho.Entre
1990 e 91, a Secretária da Habi-
tação realizou em conjunto com
os moradores a instalação da tu-
bulação. Antes o esgoto corria
a céu aberto. Há uns dez anos
atrás não havia pavimentação.
“Quando chovia a gente ti-
rava a bicicleta nas costas”,
disse Augusto Pires. Algumas
áreas do Portinho já estão sen-
do asfaltadas e a outra parte
está para receber pavimenta-
ção. Os moradores estão de-
cidindo as formas de paga-
mento com a Prefeitura, para
saber o tempo que vai demo-
rar o início das obras.
Augusto Pires afirma que a
localidade inteira deve ter
melhorias: “É onde vivem
pessoas mais pobres, que não
tem um bom salário ou não
tem emprego”.
O Portinho tem esse
nome porque há alguns anos
ele se resumia em algumas ca-
banas de pescadores, com
suas embarcações estaciona-
das ao lado da casa, próxi-
mo ao rio, em cujas águas ain-
da era possível encontrar es-
pécies de peixes.
Moradores do Portinho querem melhorias
Aline Anacleto
Alessandra Kupas
Criança indo para a escola: uma cena que a comunidade quer ver sempre no Portinho