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Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social do Bom Jesus/Ielusc
Primeira.Pauta70Distribuição Gratuita
Joinville.SCSetembro de 2008
O último serviço público
e a concorrência privada
Foto:PedroLeal
Resultado de avaliação deixa escolas municipais em
posição superior às estaduais. Secretário de Educação
de Joinville diz que a qualidade de ensino é a mesma
Página 5
Páginas 6 e 7
Foto:RosimeriBack
Foto:RosimeriBack
Página 3
Empresas lucram,
mas usuários não
são beneficiados
Página 4
Transporte
Criminalidade
aumenta, setor
privado lucra
Página 8
Segurança
Projeto ambiental
prevê mais nove
parques na cidade
Página 9
Lazer
À noite, são os
flanelinhas que
dominam as ruas
Página 11
Comportamento
Ideb reflete contraste entre
escolas públicas da cidade
Governo do Estado contrata organização social para
administrar Hospital Infantil: a obra que começou a
ser construída em 1997 tem prazo para funcionar
Organização Social assume
Hospital Materno Infantil
Setembro.200802 P.P
Editorial
Associação Educacional
Luterana Bom Jesus/Ielusc
Coordenação do Curso de
Comunicação Social -
Jornalismo
Prof. Dr. Samuel Pantoja Lima
Professor responsável
Juciano Lacerda - MTB 1177 JP/PB
Luis Fernando Assunção - MTB
7856/RS
Disciplina
Produção e Difusão em
Meios Impressos II
Edição 70
Setembro de 2008
Diagramação
Ariane Olsen, Cláudio Costa e Tiago
dos Santos
Coordenação de Produção
Rayana Borba
Edição de Textos
Ana Carolina Luz, Francine Hell-
mann e Jouber Castro
Fotografia e Edição de Imagens
Guilherme Cardoso, Patrícia Debor-
toli, Pedro Leal e Rosimeri Back
Impressão
Jornal A Notícia
Tiragem
2 mil exemplares
Contato com a redação
Curso de Comunicação Social -
Jornalismo.
Rua Princesa Isabel, 438, Centro.
Caixa Postal: 24 - 89201-270
Joinville/SC
Telefone
(47) 3026-8000
E-mail
primeirapauta.ielusc@gmail.com
Os artigos publicados não
refletem necessariamente a opinião
do Primeira Pauta.
Primeira.Pauta
Jornal Laboratório do Curso de
Comunicação Social
Jornalismo
Editorial
Esta primeira edição do Pri-
meira Pauta sob nossa batuta é
a coroação de uma caminhada
que, para a maioria de nós, co-
meçou no ano de 2006. Dias
belos aqueles primeiros, quan-
do começávamos a conhecer
aqueles que hoje são os nossos
colegas de redação. De lá para
cá afloraram talentos e diferen-
ças, uns ficaram pelo caminho,
e os que ficaram não acham
que foi fácil chegar até aqui.
Hoje, mais que uma turma,
somos uma equipe, entrosa-
da desde o início da produção
dessa edição 70, que de cara
é um especial. Escolhemos, em
tempo de campanha eleitoral,
abordar temas que influenciam
diretamente o eleitor joinvilen-
se na hora do voto.
Nosso desejo, com esse
Primeira Pauta “sob nova di-
reção”, é preservar o caráter
contestador e de compromisso
comunitário do jornal, louvan-
do atitudes que merecem elo-
gio, e denunciando práticas
que merecem repúdio. Nas 12
páginas que estão nas suas
mãos procuramos escrever o
que precisa ser dito e fotografar
o que precisa ser mostrado.
Mas também nos cabe rever
as prioridades e incrementar a
qualidade do Primeira Pauta.
Para isso, tomamos cuidado
com todas as etapas da ela-
boração das matérias, desde a
idéia da pauta até o fechamen-
to da edição. Nas páginas a
seguir, veja o fruto do trabalho
de uma redação comprometida
com a intenção primordial do
jornalismo. Nada de neutrali-
dade, imparcialidade ou isen-
ção: estamos falando de com-
prometimento social, e é com
essa visão que vamos trabalhar,
antes e depois do diploma.
Complexidade do público e do privado
José Eduardo Calcinoni
Difícil de conceituar, ou até
mesmo, diferenciar o “público”
do “privado”. Poderia sair pelas
ruas de qualquer cidade, olhar
a igreja, a praça, a prefeitura,
o posto de saúde, o hospital e
o centro histórico e nominá-los
como um ou outro. A questão
estaca no peito algo mais pro-
fundo. O surgimento de novos
espaços privados, semi-priva-
dos, semi-públicos, público-pri-
vado — shopping, espaços de
lazer de condomínios privados,
casa de recepções, espaços vir-
tuais, órgãos públicos com ad-
ministração privada — de certa
forma assumiram uma função
acolhedora da vida urbana. A
nova configuração possibilitou
novas interações sociais. Será
que de certa forma decretamos
a morte de alguns espaços pú-
blicos urbanos? A praça, aban-
donada, pode ser considerada
morta por alguns. Para outros, a
praça não morre, está ali. Pode
sofrer mutações, transformar-
se, assim como os conceitos
ocidentais que levamos dela, a
luta contra a lógica dominante
dos sistemas.
A confusão entre o público
e o privado remete a uma das
principais causas do caos ur-
bano. É uma mistura de fato-
res históricos com a tendência
neoliberal de privatização dos
espaços. A mistura das antigas
definições com a complexida-
de de teorizar as mudanças.
Uma longa corrente presa ao
pé. Os motivos pessoais sinte-
tizam o entendimento de que
são sempre mais importantes
que os coletivos, alimentando
uma espécie de barreira invisí-
vel, um narcisismo massivo. A
vida privada está sendo trazida
ao contexto público. Os espa-
ços públicos onde as pessoas
discutiam a gestão de assuntos
de interesses comuns se trans-
formaram em espaços publici-
tários. A paisagem pública pas-
sou a ser midiática. Os cidadãos
cumprem seu papel: consomem
informações.
Definir que tudo que não pú-
blico é privado ou que tudo que
não é privado é público é con-
vencional. Porém, real – talvez a
primeira definição que venha a
cabeça. Num mesmo ambiente,
dois ambientes. As entranhas
da discussão parecem estar em
delimitar as fronteiras. O pú-
blico remete a algo de contex-
to social, coletivo, espaço onde
ocorrem as relações políticas,
contrastando, o privado, com
sua particularidade-privada-de-
sigual. O shopping, por exem-
plo, com seu espaço público
onde as pessoas têm livre aces-
so, vende seus produtos e servi-
ços privados – todos podem es-
tar, nem todos podem consumir.
Na internet essa divisão parece
não existir. Ao mesmo tempo
que o indivíduo fica privado no
quarto, em seu computador, fica
exposto ao público, seja através
de comunidades, sites, blogs,
provocando uma comunicação
aberta, maleável. É através dela
também que aumentou o espa-
ço comercial, deixando muitas
dúvidas sobre seus processos
para a inclusão social.
A reformulação dos concei-
tos desses espaços, ou, um con-
ceito novo, deverá surgir como
necessidade para que sejam
subtraídas algumas perguntas
crônicas. A flecha da intensida-
de das transformações urbanas,
ao meu ver, criou esses espaços
contemporâneos, hoje também
resultado das tecnologias da in-
formação. Essas mudanças pa-
recem que remetem o desloca-
mento dos espaços aos sujeitos
humanos, e não mais dos sujei-
tos humanos aos espaços. Esse
mesmo sujeito humano, que
tinha vida privada, coloca em
xeque agora seu caráter priva-
do (sexo, família, preferências
pessoais), e não mais somente
sua performance pública. Pare-
ce ser absorvido pelo mercado
e não mais pelo estado, família
ou religião.
Setembro.200803 P.P
Cemitério
Alexandre Perger
Um número, nada mais. Uma
plaqueta azul de metal presa na
ponta de uma caixa de tijolos
envelhecida pelo tempo. Na
cabeceira, uma cruz com a tinta
desbotada, que nada marca: nem
nome, nem data de nascimento,
menos ainda a de falecimento.
As flores murchas indicam que
há tempos a família não o visita.
Para que possa fazer isso, é preciso
ter em mente o número gravado
na placa, ou ainda, lembrar a
localização do túmulo. Aos olhos
de quem passa pelas ruas calçadas
doCemitérioMunicipaldeJoinville,
ali está sepultado um anônimo.
De acordo com o coveiro, há
muitos nessa situação. Isso porque
várias famílias não têm dinheiro
para manter, na sepultura, a
identidade dos familiares. No
entanto, caminhando cerca de
cinqüenta passos, é possível ver
uma realidade completamente
distinta: flores vivas, a foto de
um casal, placas de mármore e
cobertura.
O Cemitério Municipal de
Joinville foi fundado em 1913
e, atualmente, abriga 50.293
túmulos. Porém, o local não é o
único de caráter público: há outros
nove espalhados pela cidade.
Todos são administrados pela
Fundema, órgão da prefeitura de
Joinville.
Quem desejar adquirir um lote
no Cemitério Municipal terá que
desembolsar R$ 1.369,50 pelo
individual, ou R$ 2.283,50 pelo
duplo. Tais valores correspondem
a três e cinco salários mínimos,
respectivamente. Segundo dados
do IBGE, até 2001 havia, em
Joinville, 114.239 pessoas sem
condições de comprar um lote no
principal cemitério da cidade, já
que possuem renda que alcança
apenas três salários mínimos.
Três empreiteiras são
responsáveis pela construção das
sepulturas. Os preços variam de
R$ 200 a mais de R$ 3 mil. Para
as famílias com renda mensal
de até dois salários mínimos, a
prefeitura cede terreno e túmulo
por cinco anos, período no qual a
família poderá pagar um lote. Até
o ano passado algumas pessoas
ainda eram enterradas no barro.
Essa prática era feita com aqueles
que não podiam pagar por um
terreno. Osny Fontam, presidente
da Fundema, afirma que o órgão
entendeu que isso era um atraso.
Mas não existem apenas cemitérios
públicos em Joinville. A iniciativa
privada e algumas comunidades
luteranas possuem seus próprios
campos santos. Em Pirabeiraba,
zonaruraldacidade,hátrêsigrejas
que mantêm cemitérios exclusivos
para seus membros, que pagam
uma mensalidade de, em média,
R$ 30. A família que arca com essa
despesa garante um terreno para
ser sepultado ou sepultar alguém.
Com esse dinheiro, a igreja paga
um funcionário que faz a limpeza
do local.
Já no cemitério da comunidade
da Estrada da Ilha são enterradas
pessoas de outras religiões, no
entanto, essas precisam comprar
o lote que custa cerca de quatro
salários mínimos. De acordo com
Nelson Schulz, presidente da
comunidade, não é caro manter
o local, pois o único investimento
é com o funcionário responsável
pela limpeza dos túmulos.
Não distante dali, um imenso
gramado, com árvores fazendo
sombra. O verde contrasta com o
negro do luto. As gotas de orvalho
que caem pela manhã se misturam
com as lágrimas deixadas por
aqueles que ficam apenas com a
saudade. Placas de metal tomam
o lugar dos túmulos de cimento
e mármore. Embaixo da grama,
cerca de 600 pessoas estão
sepultadas. Identificando cada
uma, são gravados em uma placa
o nome e as datas de nascimento
e falecimento. No Parque Jardim
das Flores, cemitério particular
localizado no bairro Cubatão,
é perceptível um glamour não
encontrado em outros cemitérios.
Mas todos os aparatos têm um
preço: para dar mais vida a um
local marcado pela morte, cada
pedaço de terra custa pouco mais
de R$ 5 mil.
Segurança dos mortos
O principal cemitério
de Joinville é o Municipal.
LocalizadonobairroAtiradores,
ao lado do centro, o local já foi
alvo de vandalismo e roubos.
Várias placas de metal foram
furtadas, e muitos túmulos,
depredados. Uma empresa
particular faz a segurança. Às
19 horas chega um guarda
que fecha os portões e inicia
as rondas: ele é o único
responsável pela vigilância de
cerca de um quilômetro de
extensão do cemitério. Durante
o dia, a guarita fica vazia.
Já o Parque Jardim das
Flores é pequeno e afastado do
centro da cidade. Quem quiser
violar algum túmulo terá muito
trabalho. Há, sobre o caixão,
algumas camadas de terra e
placas de cimento. Além disso,
olocalcontacomumsegurança
que faz a ronda durante a noite,
um cão e mais um homem que
mora no cemitério. Segundo
Carlos Michels, administrador
do local, não há registros de
crimes ocorridos no parque.
Os outros nove cemitérios de
Joinville são: Nossa Senhora de
Fátima, São Sebastião, Cristo
Rei, Cubatão, Pirabeiraba,
Dona Francisca, Canela,
Morro Cortado e Rio Bonito. A
proporção é de um cemitério
para cada 48 mil pessoas.
Anjos, cruzes e lápides dão forma ao pouco glamour de um cemitério marcado pelo tempo
Lembrança e anonimato
Foto:PedroLeal
Setembro.2008P.P 04
O transporte coletivo é um
direito do cidadão e um dever
do Estado. No Brasil, a Consti-
tuição Federal de 1988 define
que o serviço é essencial e que
os municípios devem operar
o setor diretamente, sob for-
ma de regime de concessão
ou permissão. Em Joinville, há
mais de 40 anos o poder Exe-
cutivo concede a duas empre-
sas, a cada 15 anos, o direito
de operar este serviço. Pas-
sando a administração para
a iniciativa privada, os bene-
fícios que visam melhorar o
transporte para a população
refletem automaticamente no
lucro das operadoras.
A Gidion e a Transtusa aten-
dem sozinhas uma população
de mais de 480 mil habitantes.
Ao longo destas quatro déca-
das adquiriram uma frota de
400 ônibus. Juntas, transpor-
tam diariamente 180 mil pas-
sageiros, cobrem 179 linhas,
realizam 243 mil viagens por
mês e, para isso, rodam cerca
de 1,9 milhões de quilômetros
no mesmo período.
A recente implantação dos
corredores exclusivos para
ônibus é um exemplo do pa-
radoxo que surge quando um
serviço público é operado pelo
setor privado. Implantados
para dar mais fluidez ao trân-
sito e diminuir o tempo médio
do trajeto, os corredores agili-
zam o trabalho das empresas
e geram economia com com-
bustível e pneus.
De acordo com o Instituto de
Pesquisa e Planejamento para
o Desenvolvimento Sustentá-
vel de Joinville (Ippuj), dos 180
mil passageiros transportados
diariamente pelas duas em-
presas, 30 mil pagam tarifas
sociais (estudantes, idosos, de-
ficientes físicos, entre outros).
Os demais, pagam tarifa inte-
gral. Segundo dados do Insti-
tuto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), o transporte
público é o terceiro maior gas-
to da família brasileira.
O gerente de mobilida-
de e acessibilidade do Ippuj,
Vladimir Constante, 36 anos,
afirma que o único incentivo
vindo da prefeitura para as
empresas é a redução do Im-
posto Sobre Serviços (ISS). O
ISS passou de 5%, para 2%.
“A campanha de isenção do
ICMS do óleo diesel deflagra-
da este ano pelas empresas de
transporte coletivo não surtiu
o efeito esperado, pois o go-
verno do estado vetou a lei”,
disse Vladimir. O argumento é
rebatido pelo estudante e inte-
grante do Movimento Passe Li-
vre (MPL) de Joinville, Marcos
Vilella. Para ele, a própria per-
missão de obtenção de lucro
que onera o usuário, já é um
grande incentivo. O estudante
argumenta que a implanta-
ção das catracas eletrônicas,
os descontos na compra de
novos veículos, o “Busdoor”
(propaganda no vidro traseiro
dos veículos) e até mesmo a
reciclagem da água utilizada
na limpeza geram aumento
nas receitas das operadoras,
e não repassados à popula-
ção. “Só quando são obri-
gados a gastar mais, re-
passam o aumento para a
tarifa”, avalia o estudante.
Até mesmo o gerente de
mobilidade do Ippuj, Vladmir,
é a favor da criação de uma
empresa municipal de trans-
porte coletivo. “Joinville tam-
bém deve começar a pensar
numa empresa municipal de
transportes, seguindo o exem-
plo de capitais como Curitiba
e Porto Alegre, onde as prefei-
turas mantêm frotas próprias.
Certamente o crescimento da
cidade exigirá isso”, sugere.
O MPL também defende a
municipalização do setor, pro-
pondo a um Conselho Muni-
cipal de Transporte Coletivo,
a eliminação dos aumentos
da passagem via decreto-lei
- passando a responsabili-
dade para os vereadores -,
o passe livre para estudantes
de todos os níveis, a extinção
da tarifa embarcada e cria-
ção do Fundo Municipal de
Transporte Coletivo.
Em Capinzal, no meio-oes-
te catarinense, o transporte é
municipalizado. A cidade tem
cerca de 12 mil habitantes e a
tarifa é de R$ 0,80. Segundo
especialistas, a passagem só
ultrapassaria R$ 2,00 caso as
empresas estivessem sob con-
trole privado, valor aproxima-
do ao de Joinville. Em Capinzal
também é concedido desconto
de 50% a estudantes, e idosos
a partir de 60 anos, embora a
Constituição preveja gratuida-
de somente a partir dos 65.
O último aumento da tarifa
em Joinville foi em dezembro
de 2007. As empresas pleite-
aram um reajuste dos custos
de outubro de 2005 – data
do aumento anterior - até ju-
nho de 2007. O pedido foi
de 11,97%, índice superior à
inflação que durante o mes-
mo período, oscilou em torno
de 4%. Com estes cálculos, a
passagem antecipada passa-
ria de R$ 1,95 para R$ 2,18
e a embarcada chegaria a R$
2,73. O Executivo aprovou
com ressalvas e o preço subiu
para R$ 2,05, nos terminais e
pontos de venda autorizados,
e R$ 2,50 dentro dos ônibus.
Para Victor Maia, 24 anos,
também integrante do MPL,
“a empresa calcula um va-
lor maior do que a prefeitura
pode aprovar, conseguindo
então, o aumento desejado”.
A Secretaria de Planejamen-
to da Prefeitura é quem avalia
o reajuste do preço do servi-
ço. Para pleitear aumentos, a
Gidion e a Transtusa encami-
nham uma planilha à secreta-
ria que analisa os itens no
qual incidem gastos como
combustível, peças, pneus
e salários dos funcionários.
Após ser aprovada pelos
técnicos, a planilha é entre-
gue ao prefeito que sancio-
na ou não o aumento.
Em Joinville, somente duas empresas de transporte público atendem mais de 480 mil habitantes
Lucro privado sobre rodas
Foto: Pedro Leal
Mesmo com lucros crescentes, empresas não reduzem o custo da tarifa
Linda Tomelin e Edson Azevedo
Transporte
Setembro.2008 P.P 08
Segurança
Enquanto a ação policial
torna-se ineficaz para resolver
todos os casos de assaltos e
furtos a residências, em Join-
ville cresce o número de famí-
lias que optam pela prevenção,
contratando segurança privada
e instalando vigilância eletrô-
nica. A cidade, considerada a
segunda mais segura do país
pela Revista Época, em 2005,
abriga seis delegacias e cerca
de 30 empresas especializadas
na área de segurança.
No primeiro semestre de
2008 foram registrados 35 as-
saltos a residências e 899 fur-
tos, isto é, roubo sem violência.
De janeiro a julho deste ano,
as incidências de roubo au-
mentaram 19%. O atendimen-
to pelo número 190 – telefone
emergencial da polícia militar –
recebe diariamente uma média
de quatro a cinco denúncias de
ocorrências, numa redução de
35% se comparado a 2007.
De acordo com o tenente
Daniel Rodrigues, a priorida-
de é sempre para ocorrências
onde há perigo de vida. Nes-
tes casos, o atendimento chega
ao local em apenas sete minu-
tos. Já em uma suspeita de ar-
rombamento, o socorro pode
demorar mais de 40. Quando
se trata de segurança priva-
da, os vigilantes das empresas
chegam ao local em um tempo
que varia de oito a dez minu-
tos, seja qual for a ocorrência.
O segmento de segurança
privada é reconhecido legal-
mente desde 1983, quando
entrou em vigor a Lei nº 7.102,
estabelecendo normas de tra-
balho para o setor. Em alguns
lugares ele passou a ser obri-
gatórie. Em estabelecimentos
financeiros, por exemplo, a
presença das empresas tercei-
rizadas é exigida pela própria
Secretaria de Segurança.
A coordenadora comercial
Rosane Benilaqua afirma que
só a empresa em que trabalha,
de segurança particular, moni-
tora mais de três mil residên-
cias. Para ela, o serviço presta-
do previne e inibe roubos, além
de diminuir eventuais prejuízos.
Ela acredita que apresentar so-
luções para os casos em que
os aparatos não surtem efeito
é função da polícia.
A necessidade de contratar
proteção privada vai além de
residências. Alguns espaços
públicos de Joinville também
procuram oferecer seguran-
ça para quem se encontra em
suas mediações. A Sociedade
Educacional de Santa Catari-
na (Sociesc) adotou recente-
mente um serviço de vigilân-
cia eletrônica mais atualizado:
câmeras de alta resolução
transmitem imagens para uma
central de segurança sem a
necessidade de fios, o que
possibilitou a instalação de
câmeras distantes 350 metros
da central de armazenamento
de imagens. O sistema funcio-
na 24 horas por dia e conser-
va as imagens digitalmente,
as quais também podem ser
vistas via internet.
Medidas drásticas não se
restringem apenas a locais
de grande circulação. As pla-
cas de “sorria você está sen-
do filmado” são cada vez mais
comuns, principalmente em
edifícios de alto padrão. Nil-
son Delai, responsável pela
construção do residencial Pri-
ma Torre, que contará com
12 apartamentos, revela que
somada as usuais medidas de
segurança eletrônica, o projeto
do edifício prevê a implanta-
ção de uma “gaiola” na gua-
rita. Isto é, antes do visitante
entrar no condomínio, é man-
tido preso por um sistema de
grades até que se identifique e
seja reconhecido.
O tenente Daniel Rodrigues
ainda alerta que, mesmo cer-
cando-se de todos esses cui-
dados, medidas básicas como
trancas nas portas e muros altos
não devem ser descartadas.
Segurança com as próprias mãos
Rafaela Mazzaro e Fabiane Borges
Quem não
paga, vigia
Para quem deseja proteger
o patrimônio, os gastos podem
ir de um alarme eletrônico
por R$ 500 à uma câmera de
vídeo digital com imagem de
alta definição por R$ 5.000.
O valor ainda pode variar
c o n f o r m e o t a m a n h o d a
propriedade. Os sistemas de
segurança são programados
a partir dos chamados pontos
vulneráveis, lugares onde os
ladrões podem entrar com
mais facilidade.
C o m o m u i t a s v e z e s a
captura policial não é bem
sucedida e a maioria dos
joinvilenses não dispõe de
recursos financeiros para
contratação de segurança
privada, a população cria
medidas como o “televizinho”.
Este sistema, que em Joinville
foi implantado pelos Conselhos
de Segurança Comunitários
(Consegs), surgiu como uma
forma de evitar tentativas de
roubos. Com ele, forma-se
uma rede de moradores que
vigiam as casas um dos outros,
protegendo-se mutuamente.
Setembro.200806 P.P
Saúde
Os joinvilenses conhece-
ram recentemente uma nova
relação entre as esferas pú-
blica e privada. No dia 1º de
setembro de 2008, a gestão
do Hospital Materno Infantil
Dr. Jeser Amarante Faria, uma
das obras mais aguardadas da
última década, foi repassada
à Organização Social Nossa
Senhora das Graças pelo go-
verno estadual. A contratação
da OS (instituição privada, sem
fins lucrativos, que se encarre-
ga de gerenciar um orgão pú-
blico) ocorreu para “agilizar a
compra, manutenção e contra-
tação de pessoal”. De acordo
com o contrato, a nova admi-
nistração tem nove meses para
implantar o funcionamento in-
tegral do complexo hospitalar,
recebendo até o final do ano
R$ 12 milhões pelos serviços
prestados. O Hospital Materno
Infantil, cuja estrutura começou
a ser erguida em 1997, funcio-
na parcialmente há dois anos.
Segundo a gerente regional
de saúde, Ana Maria Jansen,
o contrato assinado em 9 de
agosto (entre Estado e orga-
nização) estipula metas quan-
titativas e qualitativas para o
desenvolvimento das ativida-
des do sistema hospitalar, com
atendimento prioritário ao Sis-
tema Único de Saúde.
Com o desencargo da ges-
tão do hospital, o Estado de
Santa Catarina se responsa-
biliza por um repasse mensal
de valor não divulgado pela
Secretaria do Desenvolvimento
Regional de Joinville. Para o di-
retor executivo do HNSG, Edu-
ardo Blanski, esse valor inclui
custos com gestão, manuten-
ção e investimentos no HMI.
A administração será orien-
tada por um plano de trabalho
escalonado em nove meses, a
partir de setembro, sendo que
ao final de cada mês deve-
rá ser cumprida uma
etapa da im-
plantação
de servi-
ç o s
e especialidades. Até dezem-
bro desse ano devem ser ins-
talados os núcleos de pediatria
clínica, cirurgia, ortopedia, car-
diologia, neurologia, ultra-sons
e endoscopia. A OS assumiu a
responsabilidade de implantar
23 especialidades relacionadas
à pediatria e à herbiatria, além
de gineco-obstetrícia e anes-
tesiologia. Blanski afirma que
as atividades do hospital serão
focadas em medicina de média
e alta complexidade, voltadas
ao tratamento de pacientes de
zero a 18 anos. “O hospital
não prestará assistência básica
(realizada pelos postos de saú-
de) de natureza nenhuma”.
O HMI
d e -
verá contar com um quadro
de funcionários composto por
1.069 profissionais. Ao corpo
clínico da unidade serão in-
tegrados 249 médicos e o di-
retor executivo da unidade de
Joinville será o médico Ademar
Marcelo Soares.
Apesar de ceder funcionários
do Hospital Municipal São José,
o diretor executivo da Secretaria
Municipal de Saúde de Joinvil-
le, Armando Dias Pereira Junior,
não soube dar detalhes sobre a
postura da secretaria em rela-
ção ao repasse da administra-
ção para a OS. Armando desta-
cou que tanto o município como
o estado estão apenas “com-
prando um serviço”.
Esta não é a
primeira
v e z
Uma nova formaAriadna Straliotto e Felipe Silveira
Organização social tem nove meses
para fazer o hospital funcionar com
total capacidade
Foto: Rosimeri Back
Setembro.2008 P.P 07
Saúde
que o HNSG administrada uma
unidade de saúde pública. Em
2007, a organização curitibana
incorporou a gestão da Materni-
dade Mater Dei, também da ca-
pital paranaense, que pertencia
a uma associação filantrópica
que encerrou suas atividades.
O hospital atual
Nos primeiros 15 dias da nova
administração, o hospital passará
por uma avaliação de estrutura fí-
sica. Assim, nesta primeira etapa,
a rotina não deve sofrer altera-
ções. O serviço de pronto atendi-
mento continua não sendo ofereci-
do, e recebem tratamento apenas
os pacientes encaminhados pelo
Hospital Regional Hans Dieter Sch-
midt, quando o quadro clínico re-
quer internação.
Funcionários do Hospital Mu-
nicipal São José e do Regional
Hans Dieter Schmidt cedidos ao
HMI também continuam atenden-
do. Os profissionais do município
trabalham na Oncologia e na UTI,
enquanto os do Regional garan-
tem o funcionamento do Centro
de Internação Domiciliar.
Uma estratégia eleitoral
Há 19 anos surgiu a idéia de
um hospital infantil em Joinville. O
prefeito Luiz Gomes (PPB) chegou
a lançar, em 1989, uma pedra
fundamental nas dependências
do Hospital Regional Hans Dieter
Schmidt, mas como a intenção era
abranger toda região norte e nor-
deste de Santa Catarina, o projeto
foi encaminhado ao governo es-
tadual. O ano era 1990 e Vilson
Kleinübing (PFL) governava o es-
tado. O projeto, no entanto, ficou
engavetado durante a administra-
ção pefelista e começou a ser dis-
cutido somente em 1994 por um
grupo de pediatras que formavam
a Comissão Pró-Hospital Infantil.
Um ano depois, a primeira ação
efetiva foi realizada: o prefeito
Wittich Freitag (PMDB) comprou
um terreno no bairro América e
doou ao Estado para que fosse ini-
ciada a construção do complexo.
Apesar disso, o primeiro pedreiro
só apareceu no local em 1997.
Hoje, 2008, o prédio está pronto
e falta pouco para funcionar com
toda capacidade (nove meses de
acordo com o contrato assinado
em 9 de agosto). Neste longo pe-
ríodo a obra parou, recomeçou,
paralisou, acelerou e, depois de
muita articulação política e inter-
venção judicial, em
30 de agosto de
2006, o complexo
hospitalar foi inau-
gurado para fun-
cionar parcialmen-
te, sob a alcunha
de Hospital Mater-
no Infantil Dr. Jeser
Amarante Faria.
Paulo Afonso (PMDB) foi eleito
governador em 1994, ganhou o
terreno do prefeito correligionário
em 1995 e deu início às obras em
1997. A continuidade do proje-
to dependeria da reeleição. Mas
Esperidião Amin (PP) foi eleito em
1998, e como a situação financei-
ra do estado era bastante crítica,
a obra parou em 1999, sendo re-
tomada apenas em 2001, com a
promessa (tanto do governador
Amin quanto do secretário de
saúde Eni Voltolini) de ser con-
cluída até o final do mandato.
Não foi cumprida. Em 2003,
Luiz Henrique da Silveira assu-
me, pela primeira vez, a cadei-
ra do Palácio da Agronômica.
Durante o primeiro mandato da
administração LHS o Hospital Ma-
terno Infantil continuou inerte, até
ser inaugurado parcialmente às
vésperas das eleições de 2006. A
estratégia deu certo: LHS foi ree-
leito.
HMI e Ministério Público
Seis dias após a inauguração
parcial, o procurador da Repúbli-
ca Davy Lincoln Rocha, do Minité-
rio Público Federal, visitou a obra
e constatou a falta do Alvará da
Vigilância Sanitária. Ele cobrou a
conclusão da construção e amea-
çou fechar o complexo hospitalar,
encaminhando uma ação cautelar
à Justiça Estadual. Para o procu-
rador, o HMI não tinha condições
mínimas de funcionamento.
Em 2007, outra denúncia. A
pediatra Lusinete Henrique Soares
procurou o Ministério Público de
Santa Catarina no dia 30 de maio
de 2007 pedindo a implantação
completa de serviços no HMI. O
promotor Celso Antônio Ballista
Jr., do MP-SC, analisou o pedido
e conversou
com diversos
médicos que
também solici-
tavam melho-
rias. À época,
um grupo de
neurocirurgi-
ões havia se
recusado a
fazer operações pediátricas, pois
as crianças que estavam sendo
transferidas ao HMI corriam risco
de morte. O promotor visitou o lo-
cal e constatou que havia urgência
em fazer o hospital funcionar ple-
namente, já que a estrutura estava
pronta, mas ociosa.
O promotor entrou com uma
ação civil pública
no dia 5 de no-
vembrode2007,
noJuizadodaIn-
fân-
cia e da
Juventude,
na Comarca
de Joinville. Em 20
de fevereiro de 2008,
a juíza Regina Aparecida So-
ares Ferreira concedeu a liminar
que obrigava o estado de Santa
Catarina a cumprir dez exigên-
cias (ativação de várias unidades,
aquisição de equipamentos, con-
tratação de funcionários etc.) em
90 dias. Caso contrário, o estado
deveria pagar uma multa diária de
mil reais por item não regulariza-
do. O governo recorreu no dia 13
de maio e, desde então, a liminar
está congelada pelo Tribunal de
Justiça de Santa Catarina. O pro-
cesso continua em andamento na
comarca joinvilense.
Em 22 de dezembro de 2007,
o governo do estado lançou o edi-
tal de licitação para as organiza-
ções interessadas em administrar
o HMI , sendo a Organização
Social Nossa Senhora das Graças
(HNSG) escolhida em 5 de maio
de 2008. Na chuvosa manhã de
9 de agosto de 2008, às 10 horas,
foi assinado o contrato de gestão
entre a organização e governo do
Estado, no hall do HMI. Do lado
de fora do prédio, dois militantes
de um partido político seguravam
uma bandeira preta (com cerca
de três metros de largura por 1,5
metro de altura) como forma de
“protesto contra a privatização
dos serviços públicos”. A lei que
respalda o contrato de gestão de
órgãos públicos por organizações
do terceiro setor em Santa Catari-
na foi assinada pelo governador
LHS durante o primeiro manda-
to. Com a melancólica vigilância
da sociedade, representada pelos
dois militantes, a novela do hospi-
tal infantil chegava ao fim.
a de privatização
O hospital começou
a ser construído
em1997 e passou
pelos governos Paulo
Afonso, Esperidião
Amin e LHS
LHS comemora durante a
assinatura do contrato de
gestão no dia 9 de agosto
Foto Cedida por SDR-Joinville
Setembro.2008P.P 05
Educação
O Índice de Desenvolvimen-
to da Educação Básica (Ideb) foi
alto para as escolas da rede mu-
nicipal de Joinville. O levantamen-
to feito pelo Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Idep) é uma forma
de avaliar a qualidade de ensino
nas escolas de toda a rede públi-
ca brasileira. Da primeira a quarta
série do ensino fundamental, o ín-
dice joinvilense chegou a um dos
melhores do Brasil: 5,5. As séries
mais avançadas (quinta a oitava)
receberam 4,8. Na rede estadual
as notas ficaram cerca de um pon-
to abaixo da média municipal: 4,8
de primeira a quarta série e 4,1 de
quinta a oitava.
Para o secretário de educação
de Joinville, Sylvio Sniecikovski, os
comentários sobre a qualidade in-
ferior das escolas estaduais em re-
lação às municipais são frutos da
construção histórica. De acordo
com ele, tanto no estado quanto no
município os professores são quali-
ficados e as propostas pedagógi-
cas, semelhantes. O que difere é
o fato de o governo estadual estar
fisicamente distante da cidade. “Há
vários aspectos que influenciam na
qualidade de uma instituição de
ensino”, explica. Dentre eles, des-
tacam-se a participação dos pais,
a motivação dos professores e a
infra-estrutura dos colégios.
Com base nos resultados divul-
gados, a secretaria de educação
da cidade começa a fazer prospec-
ções para os próximos anos. Para
isso, o órgão está desenvolvendo
uma série de diretrizes visando me-
lhorar a nota obtida.
Para o Gered, responsável pela
educação no estado, o índice usa-
do para medir o nível das escolas
públicas não pode ser analisado
isoladamente. “O índice é apenas
parte de um processo educacional
muito mais complexo”, argumenta
a supervisora de educação básica
e profissional Evelise Martins. Ela
ressalta que as notas dadas para
as escolas até a quarta série em
Santa Catarina compuseram uma
das melhores médias do país.
Notas semelhantes
Portões abertos na Escola Mu-
nicipal Professor Avelino Marcan-
te. O acesso à secretaria é obs-
truído apenas por crianças afoitas
para entrar em sala. A escola teve
boa classificação no Ideb: 5,9 de
primeira a quarta série, e 5,2 de
quinta a oitava. Rosangela Zanela,
diretora adjunta da escola, acredita
que a qualidade das escolas muni-
cipais é superior às estaduais por-
que o governo está perto delas. “A
contratação de professores é bem
mais rápida e o quadro de profis-
sionais é estável”, argumenta.
Já a diretora Ana Hamedt, da
Escola Estadual Plácido Olímpio de
Oliveira, diz que os recursos pro-
venientes do estado são suficientes
para arcar com as despesas. “Não
são salas informatizadas e uma es-
cola bonita que farão com que os
alunos aprendam mais”, afirma.
No Ideb, a instituição não foi mal:
4,6 foi a nota alcançada para o
ensino fundamental.
Diferenças no município
A Escola Municipal Pedro Ivo
Campos, do bairro Costa e Silva, é
exemplo de modernidade. Móveis
de qualidade, paredes com tex-
tura e cadeiras estofadas na sala
dos professores denotam o ar bem
cuidado do local. A biblioteca are-
jada e colorida, é também bem
organizada. Somado a ela, está a
praça de leitura, com cobertura e
jardim. Sem esquecer do auditório
com datashow. Tamanha infra-es-
trutura provém de recursos da APP
(Associação de Pais e Professores)
da escola. De acordo com Anelise
Poffo, diretora do Pedro Ivo, essas
conquistas são resultados do enga-
jamento da comunidade.
Apoio da comunidade
As reformas na escola Pedro Ivo
começaram quando os pais passa-
ram a custear o projeto de amplia-
ção. No entanto, a conclusão ficou
a cargo da prefeitura. Na ocasião,
houve a promessa de um ginásio
coberto, o qual foi concluído há
cinco anos.
Atualmente, os recursos finan-
ceiros são alcançados de várias
formas, como gincanas nas quais
os alunos recolhem materiais re-
cicláveis. As rifas também são de
fundamental importância na cap-
tação de recursos. “Nós sabemos
que muitas famílias não podem
colaborar. Mas elas nos procu-
ram, e ajudam como podem”,
explica Anelise. Somada a essas
alternativas, está a contribuição
espontânea, isto é, uma mensa-
lidade paga por 30% das famí-
lias de alunos matriculados. Já o
FNDE (Fundo Nacional de Desen-
volvimento da Educação) repassa,
anualmente, apenas R$ 6.800.
A infra-estrutura pode agradar,
mas a média da escola alcança-
da no Ideb não satisfaz a diretora:
“Precisamos superar nossas me-
tas, temos que aproveitar as boas
condições oferecidas aos alunos”.
Apesar disso, Anelise atribui o re-
sultado de 6,2 nas séries iniciais e
5,6 nas finais à pouca rotativida-
de do corpo docente. As melho-
rias já estão sendo buscadas por
meio de aulas de reforço. Ainda
é oferecido, no horário oposto ao
de aulas, grupos de dança, conta-
ção de histórias, fanfarra e aulas
de vôlei, tênis de mesa e basque-
te.
Infra-estrutura deficiente
	
No bairro Jardim Paraíso, a re-
alidade de ensino é diferente. A
Escola Municipal Professora Rosa
Maria Berezoski, que possui mais
de mil alunos, foi reformada há
cinco anos. A diretora Sinésia de
Medeiros conta que, mesmo com
as mudanças, o pátio continua a
alagar com as chuvas. “Estamos
aguardando recursos para concluir
a drenagem”, afirma.
A biblioteca é bem cuidada,
mas ainda armazena livros em ar-
mários de ferro antigos. A sala de
atividades complementares apre-
senta espaço limitado, e duas ár-
vores plantadas no pátio compõem
a paisagem local. O espaço espor-
tivo conta com duas quadras: uma
de areia e um ginásio. No entanto,
a primeira não tem escoamento da
água, e a segunda carece de ilumi-
nação.
Sinésia lamenta a dificuldade
de angariar recursos. Segundo
ela, os pais não colaboram por-
que acreditam que tudo deve ser
cedido pela prefeitura. “A salvação
são as parcerias”, explica. Uma
loja de materiais de construção
da vizinhança mantém uma conta
na qual a escola retira o necessá-
rio para reformas, e depois faz o
acerto. Sem recursos financeiros, a
escola conta apenas com o dinhei-
ro anual do FNDE e parcerias com
empresas da região que oferecem
cursos profissionalizantes para os
alunos.
A média da escola no Ideb foi
de 4,1, uma das mais baixas do
município. “Não estamos confor-
mados, pois trabalhamos para ter-
mos alunos nota 10”, desabafa.
Burocracia impede repasse de verba
A diferença na infra-estrutura
dessas duas escolas da mesma
rede de ensino é conseqüência da
realidade social em que cada uma
está inserida. Além do FNDE, outro
recurso de repasse de verbas para
as instituições era o Fundeb (Fundo
de Manutenção e Desenvolvimen-
to da Educação Básica), bloqueado
pelo Tribunal de Contas do Estado
por ser considerado inconstitucional
em Joinville.
De acordo com Dulce da Silva,
do serviço de apoio de planeja-
mento da Secretaria Municipal da
Educação, qualquer reforma ne-
cessária na escola é preciso ser co-
municada à Secretaria, que aciona
o departamento de obras da pre-
feitura. Este, por sua vez, analisa o
pedido da escola e garante a real
necessidade da obra. Em casos
menores, como vidros quebrados,
é preciso ter recursos próprios, pois
a prefeitura não mantém pequenos
ajustes. Se a escola não tem recur-
sos, como no caso do Jardim Para-
íso, deixa quebrado.
As diferentes
faces do ensino
em Joinville
Na escola Pedro Ivo Campos, uma das apostas de modernidade é a infra-estrutura e o acervo da biblioteca
Camila Prochnow e Juliano Reinert
Foto:RosimeriBack
Setembro.2008 P.P 09
Meio milhão de habitantes.
Maior centro gerador de em-
pregos do estado. PIB anual de
mais de R$ 9 bilhões. Com 44
bairros, Joinville só tem três par-
ques e 53 praças. Numa conta
rápida, há 1,2 praça por bairro,
e um parque para cada 166 mil
habitantes. Só na zona urbana,
Joinville conta com 287 m² de
área verde por habitante, valor
bem acima dos 16 m² aconse-
lhados pela Organização Mun-
dial da Saúde. Com uma área
verde desse tamanho, tem es-
paço de sobra para novos par-
ques. A reivindicação é popular:
um levantamento do Instituto de
Pesquisa e Planejamento Urba-
no de Joinville (Ippuj) com 22
mil joinvilenses revelou que o la-
zer é a terceira prioridade dos ci-
dadãos, perdendo apenas para
a saúde e educação.
O parque Zoobotânico, no
Morro do Boa Vista, que recebe
8 mil visitas por semana, é o lu-
gar mais conhecido. São 40 mil
m m² em meio à Mata Atlântica,
com mais de 200 animais de 23
espécies. Foi construído no início
da década de 90 numa área de
camping, já por conta de reivin-
dicações da população.
Ao que parece, o Zoobotâni-
co deve ganhar companhia na
lista de parques de Joinville. O
Projeto Linha Verde, coordenado
pelo Ippuj, pretende criar nove
novos pontos de entretenimen-
to na cidade. Segundo a técnica
da Unidade de Gerenciamento
do programa, a engenheira ci-
vil Juliana Tiburtius, “o objetivo é
criar áreas de lazer que apóiem
o desenvolvimento sustentável”.
O Linha Verde, criado em 2004
e aprovado este ano, será custe-
ado com recursos do Fundo Fi-
nanceiro para o Desenvolvimen-
to da Bacia do Prata (Fonplata).
O valor total do financiamento é
da ordem de US$ 14,7 milhões.
O parque mais caro do pro-
jeto é o do Morro do Boa Vista
(US$ 2,5 milhões). O projeto
promete, nos cerca de 390 hec-
tares da área, infra-estrutura
para recreação, revitalizando o
Mirante, criando trilhas e uma
vila temática e pavimentando
acessos. O complexo Porta do
Mar, na Lagoa do Saguaçu.
Também é ambicioso: prevê
monumento em forma de arco,
deck, quiosques, trapiche e mi-
rante.SegundoJuliana,oParque
da Cidade será o primeiro a ter
obras, em setembro. Localizado
no Bucarein, também será um
espaço de recreação, com qua-
dras, mirante e playground.
José Carlos Pereira, 40 anos,
morador do Morro do Meio,
acha que o primeiro parque não
trará benefícios para sua famí-
lia. José Carlos gastaria R$16
só com transporte cada vez que
quisesse levar a família ao Par-
que da Cidade – seu orçamento
mensal é de R$ 800. Ele acredita
que a prefeitura deveria investir
primeiro em projetos menores,
espalhados por toda a cidade.
Segundo ele, o bairro tinha um
parque e uma quadra de espor-
tes, que acabaram abandona-
dos. Usando o exemplo do Mor-
ro do Meio, o torneiro mecânico
acredita que, além da constru-
ção de áreas de lazer, o ideal
seria uma campanha de cons-
cientização pela preservação do
patrimônio conquistado.
Os demais parques serão
construídos em regiões como o
Morro do Amaral e o Jardim Iri-
riú, com quadras poliesportivas,
trilhas e playground. Ainda não
há previsão de obras.
Parque Local Orçamento (US$)
Porta do Mar Lagoa do Saguaçu 576.596,23
Parque da Cidade Bucarein 1.832.208,56
Parque do Morro do Boa Vista Morro do Boa Vista 2.480.347,84
Parque Kaesemodel Fátima 337.844,82
Parque das Nascentes Nascentes do Rio Cachoeira 134.444,27
Parque das Águas Cidadela Cultural Antarctica 137.044,15
Parque Morro do Finder Morro do Iririú 172.115,25
Parque Caieira Paranaguamirim 42.959,23
Parque do Morro do Amaral Morro do Amaral 595.503,44
Atenção! Nove parques à vista
Projeto do Ippuj promete dar novas opções de lazer ao povo joinvilense
Daniela de Tofol e Tatiane Martins
Recreativasepraças:únicasopções
Enquanto os parques não
vêm, o que dá para fazer é se
divertir de outro jeito. Os cen-
tros privados de lazer são uma
opção: complexos de entrete-
nimento com grandes áreas,
quadras de saibro, de areia, de
grama, além de academias e
restaurantes, e custo para usu-
fruir. O Grêmio Whirlpool, por
exemplo, tem 90 mil m² e fica
aberto diariamente ao público.
Segundo André Fabiano, funcio-
nário do Grêmio, a academia e
as locações de quadra não têm
custos para os funcionários da
empresa, apenas para terceiros.
“O aluguel é de graça se meta-
de do time for de funcionários”,
afirma. A recreativa se sustenta
com a mensalidade dos fun-
cionários: “A empresa desconta
0,2% do salário do trabalhador
para manter o grêmio”.
As praças ganharam nova
importância com os aparelhos
das Academias da Melhor Ida-
de (AMIs), projeto desenvolvido
pela Fundação de Esporte, Lazer
e Eventos de Joinville (Felej) em
parceria com a Unimed. São
dez academias funcionando em
praças públicas da cidade, que
visam incentivar à prática de ati-
vidade física, principalmente às
pessoas com mais de 50 anos.
Com dez aparelhos de gi-
nástica e acompanhamento de
professores de educação física,
enfermeiros e psicólogos, as
academias fazem sucesso nos
bairros em que estão instaladas.
A novidade empolgou o público
do bairro Nova Brasília, cuja AMI
foi inaugurada em abril. Matilde
Marques, 51 anos, começou se
exercitar de duas a três vezes por
semana, e conta que se sente
mais disposta para o trabalho.
“Todos os bairros deveriam ter
uma academia”, sugere. A ven-
dedora Maria Feliciana Carles-
so, 41 anos, também aprovou
o projeto. Acompanhada das
amigas, ela freqüenta o local
três vezes por semana, das 7h
às 8h da manhã. Ela conta sa-
tisfeita que não tem mais dores
nas costas, e que o auxílio dos
profissionais de educação física
a ajudou a escolher os melhores
aparelhos para sua prática.
A coordenadora do proje-
to, Edna Viana, ressalta que
a comunidade precisa ajudar
na preservação dos aparelhos,
que ficam em locais abertos.
A primeira etapa encerrou-se
em agosto, com a inaugura-
ção da décima academia, na
Praça do Calceteiro, no bairro
Boa Vista. Edna prevê que a
parceria com a Unimed deve
render mais dez AMIs.
Foto: Patrícia Debortoli
Por enquanto, Parque Zoobotânico ainda é o único espaço de lazer público em meio à natureza
Lazer
Setembro.2008 P.P 10
Cultura
Joinville nunca ofereceu tantos
atrativos culturais como hoje. No
entanto, as opções disponíveis
apenas atendem a um público
restrito, ao invés de satisfazer a
provável diversidade de gostos
existentes.
O teatro teve sucessos recentes
como as peças Migrantes, S.O.S.
Uma Mulher Só e O Primo da Ca-
lifórnia. A qualidade dos trabalhos
é atestada nacionalmente. O 33º
Festival Nacional de Teatro, por
exemplo, agraciou Ilaine Melo, do
Grupo Dionisos Teatro de Joinvil-
le, com o prêmio de melhor atriz
pela peça Babaiaga. Anualmente,
acontece o Cena, festival promo-
vido pela Fundação Cultural de
Joinville em parceria com a Asso-
ciação Joinvilense de Teatro, que
esse ano teve sua quinta edição.
Fora dos shoppings centers, a
oferta de cinema prima pela quali-
dade, mas peca na quantidade. O
Clube de Cinema, do Bom Jesus/
Ielusc,realizasessõesaossábados,
e tal qual os Ciclos de Cinema, da
Cidadela Cultural, e o Salve o Ci-
nema!, da Univille, os filmes são
escolhidos por tema. Porém, os
três projetos amargam baixa par-
ticipação popular. O que mais se
destaca é o Ciclos, por conta dos
folders que pairam sobre os bal-
cões da prefeitura e de eventos
concebidos pela Fundação Cultu-
ral. Entretanto, Humberto Jacobs,
coordenador do projeto, não es-
pera crescimento no número de
espectadores. “As obras veiculadas
não tem caráter comercial, capaz
de atrair um público tão grande”.
O Salve o Cinema! e o Clube
de Cinema realizam, após a exi-
bição, discussões e análises dos
filmes. Mas, por demandarem
prévio conhecimento cinemato-
gráfico, acabam por restringir ain-
da mais o público participante.
Já as exposições de quadros,
painéis, esculturas e
fotografias não tem
cotidiano melhor. O
vigilante Gilberto Cris-
tóvão de Souza obser-
va que, “geralmente,
quem entra numa des-
sas exposições, vai por curiosida-
de, porque, na verdade, está indo
em direção ao teatro”. A estudante
de direito Mônica Corrêa concor-
da: “Fui a uma quando ia assistir
(à peça) O Primo da Califórnia”.
E reclama da organização: “Não
havia ninguém para me explicar
aquelas telas”.
Já a música em Join-
ville tem um cami-
nho mais pedregoso
para trilhar. Quase
não existem festivais
ao ar-livre. O últi-
mo, promovido pela
rádio Atlântida FM, foi há quatro
meses. Hoje, os únicos palcos que
recebem bandas locais são os dos
bares, com a cobrança do couver.
Afinal, o que está faltando?
As cortinas de veludo do Te-
atro Juarez Machado costumam
se abrir só quando há apoio. Os
filmes exibidos no Cine Arco-Íris,
no shopping Cidade das Flores,
são escolhidos pelos programa-
dores de Porto Alegre. A Itapema
FM apenas promove eventos pa-
trocinados por empresários. O
público desembolsa cerca de R$
50 para assistir aos espetáculos.
Então, o que falta para Joinville?
“Apoio”, responde Regina Lucia
Meinert, coordenadora do Teatro
Juarez Machado.
Mais do que idealizar um es-
paço com mais de mil lugares,
acústica e iluminação perfeitas
e um palco onde caibam cená-
rios adequados, o grande desa-
fio de quem produz espetáculos
na cidade é conseguir patrocí-
nio. Cristiano Caetano, gerente
comercial da Itapema FM, acha
que deveria existir em Joinville
um teatro como o da Scar, de Ja-
raguá do Sul. “Deixamos de re-
alizar aqui o Ballet Jazz de Mon-
treal porque não tínhamos um
palco do tamanho ideal”, conta.
O Teatro Juarez Machado é
o espaço utilizado para a maio-
ria dos eventos promovidos pela
rádio, além do Harmonia Lyra,
Teatro da Scar e das boates
“Moom Art n´ Music” e “Bierô
Music Hall”. Para Caetano, há
carência de um local com me-
lhor infra-estrutura.
Infelizmente, o palco do es-
paço mais bem estruturado da
cidade tem restrições. Com ca-
pacidade para 500 espectado-
res, o Juarez Machado deixa de
realizar bons espetáculos em
função da capacidade de pú-
blico e do tamanho do palco.
De acordo com a coordenado-
ra Regina Lucia Meinert, alguns
atores só passam das coxias se
na platéia estiverem 800 espec-
tadores.
O teatro oferece apenas a so-
norização básica. Por ser o “úni-
co” teatro da cidade, a disponi-
bilidade de datas é aberta quase
um ano antes da ocorrência dos
espetáculos. A Casa da Cultura
e o Ballet Bolshoi têm preferên-
cia na escolha dos dias de apre-
sentação, já que fazem parte da
Fundação Cultural.
Embora seja um espaço públi-
co, as locações ajudam na ma-
nutenção e melhoria do espaço.
Para incentivar a produção de
grupos locais, a administração
cobra taxa mínima de utilização,
que está custando R$ 159,58 ou
cinco por cento do que for re-
cebido na bilheteria. Para gru-
pos externos, são pedidos duas
taxas ou a bilheteria. Eventos
não-artísticos pagam mais caro.
“Cobramos mais porque não é
bem isso que queremos para o
Teatro”, afirma.
O público de teatro em Join-
ville tem crescido. No entanto,
segundo a coordenadora, ain-
da falta formar a platéia. “Você
ainda vê muita gente comendo e
bebendo dentro das salas”, diz.
O cinema do shopping Cida-
de das Flores tem ido na contra-
mão do que é estritamente co-
mercial e, desde o ano passado,
exibe algumas obras de cine-
arte: filmes premiados no Oscar
que não vão parar nas telonas
do concorrente.
Do que é arrecadado na bi-
lheteria, 50 por cento fica com
a Arco-Íris Cinemas e os outros
50 vão para a companhia do
filme. A empresa paga R$ 11
mil por cada sala alugada no
Cidade das Flores. “O Cinema
não é mantido pelos filmes há
muito tempo e um dos motivos é
a pirataria”, explica Raquel Ben-
to, gerente do cinema.
Galpão da Ajote, na Cidadela, é palco principal do teatro alternativo de Joinville
Arte pouca, para poucos
Lorena Trindade e Charles França
Discussões
afastam o
público leigo
do circuito
alternativo
Foto: Patrícia Debortoli
Setembro.2008 P.P 11
Comportamento
Eles são os donos do pedaço
Às 22 horas, duas moças es-
tacionam o carro na rua Per-
nambuco, na região sul de Join-
ville. Enquanto caminham até o
botequim Ministro, em plena
segunda-feira, têm o papo in-
terrompido por um assovio. Elas
sabiam, no entanto, que não
era um assovio de admiração,
mas sim, o som que viria acom-
panhado de uma frase já fami-
liar. “Pode deixar que eu dou
uma olhadinha no carro”, diz
Célio Dick, 40 anos, se dirigindo
à elas, que o responderam com
olhar indiferente.
Essa cena se repete com fre-
qüência nas imediações das
ruas mais movimentadas da
noitada joinvilense. À luz do
dia, as vagas disponíveis nes-
ses locais não são controladas
por nenhum tipo de órgão fis-
calizador. À noite, porém, a ex-
tensão necessária para abrigar
um carro não sai mais de graça.
Célio, o personagem do pará-
grafo acima, começou a cuidar
de carros no estacionamento do
Centreventos há três anos. Mas
conta que “lá a polícia impli-
cava demais”. Com a abertura
do Ministro, em janeiro, decidiu
mudar de ponto, já que o movi-
mento na rua até então pacata
havia crescido.
Vestido com um colete ver-
de-limão, Célio faz disso uma
profissão: ele pode ser encon-
trado naquela região todos os
dias da semana. “Ajudo o clien-
te a estacionar e cuido do veí-
culo, mas ninguém é obrigado
a pagar”, fala, ao explicar que
as contribuições variam entre
R$ 0,40 e R$ 3.
Ao atravessar a rua Ministro
Calógeras e seguir até a Braço
do Norte, famosa Rua do Papai
Noel, conhece-se uma história
parecida. Ali, Rosaldo Miguel da
Luz é o responsável pelo ponto
todas as segundas-feiras. Aos
44 anos, o jeito introspectivo
parece atrapalhar o flanelinha
na hora de fazer a cobrança dos
clientes. Diferentemente de Cé-
lio, Rosaldo vê o trabalho ape-
nas como um incremento na
renda mensal, composta pelos
salários que recebe na prefeitu-
ra e em um restaurante para o
qual realiza entregas. “Não co-
bro taxa fixa, até mesmo porque
a rua não é um estacionamen-
to fechado”, justifica. Ele afirma
que algumas regras já foram
combinadas entre os colegas
das redondezas. A principal é
que um não invada o “espaço”
do outro. Faz apenas dois meses
que Rosaldo vigia carros, mas já
demonstra estar bem familiari-
zado com os macetes do ofício.
Quem resolve estacionar o
carro em uma dessas ruas não
se sente incomodado com a pre-
sença de pessoas como Célio e
Rosaldo. Segundo o gerente de
trânsito Samuel Gomes, não há
queixas dessa natureza nos ar-
quivos da Conurb. A fiscaliza-
ção do trabalho dos flanelinhas
é competência dos policiais
militares, e, aos olhos dos arti-
gos 158 e 170 do Código Pe-
nal, é caracterizado como crime
de estelionato e extorsão. Essa
espécie de economia informal
praticada pelos guardadores de
carros à noite contrasta com o
monitoramento legal feito pela
empresa Cartão Joinville, du-
rante o dia. De segunda a sába-
do, 87 fiscais cuidam das 1.640
vagas espalhadas pelo centro.
“Prezamos pela democrati-
zação do espaço público nesses
locais”, diz Samuel, ao explicar
o porquê dessa privatização ser
necessária. É que, durante o dia,
há muita procura para pouca
oferta. Em Joinville, com pouco
mais de 600 mil habitantes, já
circulam 240 mil veículos.
A democratização, nesse
sentido, está ligada à noção de
rotatividade. Há cinco anos e
meio foi aberto um edital para
empresas que quisessem assu-
mir a administração do espaço
nas ruas. A proposta eleita foi
a da Cartão Joinville, que fun-
ciona como uma organização
privada prestando serviços ao
governo municipal. As princi-
pais vias foram divididas em
áreas amarela, azul e branca,
que permitem, respectivamen-
te, uma, duas e quatro horas
de permanência do veículo no
local. “Muitas vezes, os monito-
res acabam cuidando dos car-
ros. Sempre que vêem alguém
suspeito, alertam os guardas,
ou acionam a polícia”, comenta
Claudia Dreher, gerente admi-
nistrativa da Cartão Joinville, ao
falar sobre as diferenças entre o
trabalho legalizado da empre-
sa versus a prática informal dos
flanelinhas.
Eva Croll
Rosaldo Miguel cuida de carros em uma das ruas centrais de Joinville há apenas dois meses, mas já sabe direitinho os “macetes” do ofício
Foto:GuilhermeCardoso
Agosto.2008 P.P 12
OsetorprivadoemJoinville
Chegada dos colonizadores. A intenção da Sociedade Colonizadora é
garantir lucros “exportando” a carga humana a uma colônia de alemães.
O Império incentiva a imigração para substituir a mão-de-obra escrava e
ocupar os vazios demográficos.
A Direção da Colônia administra o local. Apesar de ser uma empresa privada, tinha
interesses públicos ao mesmo tempo. Mandava construir vendas e distribui ferra-
mentas e objetos para os colonos. Surge o primeiro armazém, de Gustav Mueller.
As pequenas indústrias destinam-se ao consumo interno.
A maioria das escolas são privadas. Há 14 escolas e apenas
três administradas pelo governo.
A Direção da Colônia, empresa privada, instala o primeiro hospital público de
Joinville, sob orientação do médico Wigand Engellke.
A classe alta organiza comércio e indústria locais, por meio de exportações de madei-
ra, couro, sapatos, móveis e cigarros. A vila é dependente de São Francisco do Sul.
Surgem as primeiras indústrias têxteis e metalúrgicas. Houve crescimento acelerado
baseado no sucesso de empresas privadas. O mate é o principal produto de expor-
tação, cujo comércio deu origem às primeiras fortunas locais luso-brasileira, o que
gerou tensão com a elite germânica. A cidade já contava com associações culturais,
escola, igrejas, hospital, loja maçônica e corpo de bombeiros. Surgem acordos finan-
ceiros entre Sociedade Colonizadora e Governo.
Surgem bondes puxados por burros, primeiro meio de transporte coletivo do perímetro
urbano. Os sócios eram Gustavo Grossembacher, Adolf Trinks, Luiz Ritzmann e Ber-
nhard Olsen. Gustavo Vogelsanger inicia empresa privada de transporte coletivo com
ônibus, anos mais tarde.
Albano Schimidt funda a Tupy. A empresa é responsável pelo progresso eco-
nômico da cidade, e influencia serviços públicos.
A Rede Municipal de Ensino tem 130 estabelecimentos, que aten-
dem 61 mil alunos. Cerca de 100 escolas são privadas e educam
aproximadamente 15 mil pessoas.
A empresa Águas de Joinville, privada, administra a rede de água.
O serviço antes era feito pela Casan, empresa pública.
Primeira empresa privada da cidade é a indústria de cerâ-
mica, com o mestre Heinrich Lepper, que fabrica peças de
barro de uso da colônia.
1851
1852
Empresa colonizadora constrói pontes. Além das pontes, o Governo Imperial financia
igrejas, paga honorários de um padre, um pastor e um professor, custeia a construção
de uma estrada com o planalto. LéonceAubé inicia as obras da estrada Dona Francisca,
com 156 quilômetros, que custaram ao Governo Imperial 600 contos de réis, motivando
conflitos entre Colônia e Governo.
1852
1857 a 1880
1858
1869
1880
1911
1938
Hoje
As empresas Gidion e Transtusa, privadas, são responsáveis
pelo transporte público. A Gidion atua desde 1952 e a Transtusa
desde 1963. Atualmente a passagem de ônibus custa R$2,05 e é
uma das mais caras do país.
Hoje
Hoje
Texto de Carolina Wanzuita

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Contraste entre cemitérios públicos e privados em Joinville

  • 1. Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social do Bom Jesus/Ielusc Primeira.Pauta70Distribuição Gratuita Joinville.SCSetembro de 2008 O último serviço público e a concorrência privada Foto:PedroLeal Resultado de avaliação deixa escolas municipais em posição superior às estaduais. Secretário de Educação de Joinville diz que a qualidade de ensino é a mesma Página 5 Páginas 6 e 7 Foto:RosimeriBack Foto:RosimeriBack Página 3 Empresas lucram, mas usuários não são beneficiados Página 4 Transporte Criminalidade aumenta, setor privado lucra Página 8 Segurança Projeto ambiental prevê mais nove parques na cidade Página 9 Lazer À noite, são os flanelinhas que dominam as ruas Página 11 Comportamento Ideb reflete contraste entre escolas públicas da cidade Governo do Estado contrata organização social para administrar Hospital Infantil: a obra que começou a ser construída em 1997 tem prazo para funcionar Organização Social assume Hospital Materno Infantil
  • 2. Setembro.200802 P.P Editorial Associação Educacional Luterana Bom Jesus/Ielusc Coordenação do Curso de Comunicação Social - Jornalismo Prof. Dr. Samuel Pantoja Lima Professor responsável Juciano Lacerda - MTB 1177 JP/PB Luis Fernando Assunção - MTB 7856/RS Disciplina Produção e Difusão em Meios Impressos II Edição 70 Setembro de 2008 Diagramação Ariane Olsen, Cláudio Costa e Tiago dos Santos Coordenação de Produção Rayana Borba Edição de Textos Ana Carolina Luz, Francine Hell- mann e Jouber Castro Fotografia e Edição de Imagens Guilherme Cardoso, Patrícia Debor- toli, Pedro Leal e Rosimeri Back Impressão Jornal A Notícia Tiragem 2 mil exemplares Contato com a redação Curso de Comunicação Social - Jornalismo. Rua Princesa Isabel, 438, Centro. Caixa Postal: 24 - 89201-270 Joinville/SC Telefone (47) 3026-8000 E-mail primeirapauta.ielusc@gmail.com Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do Primeira Pauta. Primeira.Pauta Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social Jornalismo Editorial Esta primeira edição do Pri- meira Pauta sob nossa batuta é a coroação de uma caminhada que, para a maioria de nós, co- meçou no ano de 2006. Dias belos aqueles primeiros, quan- do começávamos a conhecer aqueles que hoje são os nossos colegas de redação. De lá para cá afloraram talentos e diferen- ças, uns ficaram pelo caminho, e os que ficaram não acham que foi fácil chegar até aqui. Hoje, mais que uma turma, somos uma equipe, entrosa- da desde o início da produção dessa edição 70, que de cara é um especial. Escolhemos, em tempo de campanha eleitoral, abordar temas que influenciam diretamente o eleitor joinvilen- se na hora do voto. Nosso desejo, com esse Primeira Pauta “sob nova di- reção”, é preservar o caráter contestador e de compromisso comunitário do jornal, louvan- do atitudes que merecem elo- gio, e denunciando práticas que merecem repúdio. Nas 12 páginas que estão nas suas mãos procuramos escrever o que precisa ser dito e fotografar o que precisa ser mostrado. Mas também nos cabe rever as prioridades e incrementar a qualidade do Primeira Pauta. Para isso, tomamos cuidado com todas as etapas da ela- boração das matérias, desde a idéia da pauta até o fechamen- to da edição. Nas páginas a seguir, veja o fruto do trabalho de uma redação comprometida com a intenção primordial do jornalismo. Nada de neutrali- dade, imparcialidade ou isen- ção: estamos falando de com- prometimento social, e é com essa visão que vamos trabalhar, antes e depois do diploma. Complexidade do público e do privado José Eduardo Calcinoni Difícil de conceituar, ou até mesmo, diferenciar o “público” do “privado”. Poderia sair pelas ruas de qualquer cidade, olhar a igreja, a praça, a prefeitura, o posto de saúde, o hospital e o centro histórico e nominá-los como um ou outro. A questão estaca no peito algo mais pro- fundo. O surgimento de novos espaços privados, semi-priva- dos, semi-públicos, público-pri- vado — shopping, espaços de lazer de condomínios privados, casa de recepções, espaços vir- tuais, órgãos públicos com ad- ministração privada — de certa forma assumiram uma função acolhedora da vida urbana. A nova configuração possibilitou novas interações sociais. Será que de certa forma decretamos a morte de alguns espaços pú- blicos urbanos? A praça, aban- donada, pode ser considerada morta por alguns. Para outros, a praça não morre, está ali. Pode sofrer mutações, transformar- se, assim como os conceitos ocidentais que levamos dela, a luta contra a lógica dominante dos sistemas. A confusão entre o público e o privado remete a uma das principais causas do caos ur- bano. É uma mistura de fato- res históricos com a tendência neoliberal de privatização dos espaços. A mistura das antigas definições com a complexida- de de teorizar as mudanças. Uma longa corrente presa ao pé. Os motivos pessoais sinte- tizam o entendimento de que são sempre mais importantes que os coletivos, alimentando uma espécie de barreira invisí- vel, um narcisismo massivo. A vida privada está sendo trazida ao contexto público. Os espa- ços públicos onde as pessoas discutiam a gestão de assuntos de interesses comuns se trans- formaram em espaços publici- tários. A paisagem pública pas- sou a ser midiática. Os cidadãos cumprem seu papel: consomem informações. Definir que tudo que não pú- blico é privado ou que tudo que não é privado é público é con- vencional. Porém, real – talvez a primeira definição que venha a cabeça. Num mesmo ambiente, dois ambientes. As entranhas da discussão parecem estar em delimitar as fronteiras. O pú- blico remete a algo de contex- to social, coletivo, espaço onde ocorrem as relações políticas, contrastando, o privado, com sua particularidade-privada-de- sigual. O shopping, por exem- plo, com seu espaço público onde as pessoas têm livre aces- so, vende seus produtos e servi- ços privados – todos podem es- tar, nem todos podem consumir. Na internet essa divisão parece não existir. Ao mesmo tempo que o indivíduo fica privado no quarto, em seu computador, fica exposto ao público, seja através de comunidades, sites, blogs, provocando uma comunicação aberta, maleável. É através dela também que aumentou o espa- ço comercial, deixando muitas dúvidas sobre seus processos para a inclusão social. A reformulação dos concei- tos desses espaços, ou, um con- ceito novo, deverá surgir como necessidade para que sejam subtraídas algumas perguntas crônicas. A flecha da intensida- de das transformações urbanas, ao meu ver, criou esses espaços contemporâneos, hoje também resultado das tecnologias da in- formação. Essas mudanças pa- recem que remetem o desloca- mento dos espaços aos sujeitos humanos, e não mais dos sujei- tos humanos aos espaços. Esse mesmo sujeito humano, que tinha vida privada, coloca em xeque agora seu caráter priva- do (sexo, família, preferências pessoais), e não mais somente sua performance pública. Pare- ce ser absorvido pelo mercado e não mais pelo estado, família ou religião.
  • 3. Setembro.200803 P.P Cemitério Alexandre Perger Um número, nada mais. Uma plaqueta azul de metal presa na ponta de uma caixa de tijolos envelhecida pelo tempo. Na cabeceira, uma cruz com a tinta desbotada, que nada marca: nem nome, nem data de nascimento, menos ainda a de falecimento. As flores murchas indicam que há tempos a família não o visita. Para que possa fazer isso, é preciso ter em mente o número gravado na placa, ou ainda, lembrar a localização do túmulo. Aos olhos de quem passa pelas ruas calçadas doCemitérioMunicipaldeJoinville, ali está sepultado um anônimo. De acordo com o coveiro, há muitos nessa situação. Isso porque várias famílias não têm dinheiro para manter, na sepultura, a identidade dos familiares. No entanto, caminhando cerca de cinqüenta passos, é possível ver uma realidade completamente distinta: flores vivas, a foto de um casal, placas de mármore e cobertura. O Cemitério Municipal de Joinville foi fundado em 1913 e, atualmente, abriga 50.293 túmulos. Porém, o local não é o único de caráter público: há outros nove espalhados pela cidade. Todos são administrados pela Fundema, órgão da prefeitura de Joinville. Quem desejar adquirir um lote no Cemitério Municipal terá que desembolsar R$ 1.369,50 pelo individual, ou R$ 2.283,50 pelo duplo. Tais valores correspondem a três e cinco salários mínimos, respectivamente. Segundo dados do IBGE, até 2001 havia, em Joinville, 114.239 pessoas sem condições de comprar um lote no principal cemitério da cidade, já que possuem renda que alcança apenas três salários mínimos. Três empreiteiras são responsáveis pela construção das sepulturas. Os preços variam de R$ 200 a mais de R$ 3 mil. Para as famílias com renda mensal de até dois salários mínimos, a prefeitura cede terreno e túmulo por cinco anos, período no qual a família poderá pagar um lote. Até o ano passado algumas pessoas ainda eram enterradas no barro. Essa prática era feita com aqueles que não podiam pagar por um terreno. Osny Fontam, presidente da Fundema, afirma que o órgão entendeu que isso era um atraso. Mas não existem apenas cemitérios públicos em Joinville. A iniciativa privada e algumas comunidades luteranas possuem seus próprios campos santos. Em Pirabeiraba, zonaruraldacidade,hátrêsigrejas que mantêm cemitérios exclusivos para seus membros, que pagam uma mensalidade de, em média, R$ 30. A família que arca com essa despesa garante um terreno para ser sepultado ou sepultar alguém. Com esse dinheiro, a igreja paga um funcionário que faz a limpeza do local. Já no cemitério da comunidade da Estrada da Ilha são enterradas pessoas de outras religiões, no entanto, essas precisam comprar o lote que custa cerca de quatro salários mínimos. De acordo com Nelson Schulz, presidente da comunidade, não é caro manter o local, pois o único investimento é com o funcionário responsável pela limpeza dos túmulos. Não distante dali, um imenso gramado, com árvores fazendo sombra. O verde contrasta com o negro do luto. As gotas de orvalho que caem pela manhã se misturam com as lágrimas deixadas por aqueles que ficam apenas com a saudade. Placas de metal tomam o lugar dos túmulos de cimento e mármore. Embaixo da grama, cerca de 600 pessoas estão sepultadas. Identificando cada uma, são gravados em uma placa o nome e as datas de nascimento e falecimento. No Parque Jardim das Flores, cemitério particular localizado no bairro Cubatão, é perceptível um glamour não encontrado em outros cemitérios. Mas todos os aparatos têm um preço: para dar mais vida a um local marcado pela morte, cada pedaço de terra custa pouco mais de R$ 5 mil. Segurança dos mortos O principal cemitério de Joinville é o Municipal. LocalizadonobairroAtiradores, ao lado do centro, o local já foi alvo de vandalismo e roubos. Várias placas de metal foram furtadas, e muitos túmulos, depredados. Uma empresa particular faz a segurança. Às 19 horas chega um guarda que fecha os portões e inicia as rondas: ele é o único responsável pela vigilância de cerca de um quilômetro de extensão do cemitério. Durante o dia, a guarita fica vazia. Já o Parque Jardim das Flores é pequeno e afastado do centro da cidade. Quem quiser violar algum túmulo terá muito trabalho. Há, sobre o caixão, algumas camadas de terra e placas de cimento. Além disso, olocalcontacomumsegurança que faz a ronda durante a noite, um cão e mais um homem que mora no cemitério. Segundo Carlos Michels, administrador do local, não há registros de crimes ocorridos no parque. Os outros nove cemitérios de Joinville são: Nossa Senhora de Fátima, São Sebastião, Cristo Rei, Cubatão, Pirabeiraba, Dona Francisca, Canela, Morro Cortado e Rio Bonito. A proporção é de um cemitério para cada 48 mil pessoas. Anjos, cruzes e lápides dão forma ao pouco glamour de um cemitério marcado pelo tempo Lembrança e anonimato Foto:PedroLeal
  • 4. Setembro.2008P.P 04 O transporte coletivo é um direito do cidadão e um dever do Estado. No Brasil, a Consti- tuição Federal de 1988 define que o serviço é essencial e que os municípios devem operar o setor diretamente, sob for- ma de regime de concessão ou permissão. Em Joinville, há mais de 40 anos o poder Exe- cutivo concede a duas empre- sas, a cada 15 anos, o direito de operar este serviço. Pas- sando a administração para a iniciativa privada, os bene- fícios que visam melhorar o transporte para a população refletem automaticamente no lucro das operadoras. A Gidion e a Transtusa aten- dem sozinhas uma população de mais de 480 mil habitantes. Ao longo destas quatro déca- das adquiriram uma frota de 400 ônibus. Juntas, transpor- tam diariamente 180 mil pas- sageiros, cobrem 179 linhas, realizam 243 mil viagens por mês e, para isso, rodam cerca de 1,9 milhões de quilômetros no mesmo período. A recente implantação dos corredores exclusivos para ônibus é um exemplo do pa- radoxo que surge quando um serviço público é operado pelo setor privado. Implantados para dar mais fluidez ao trân- sito e diminuir o tempo médio do trajeto, os corredores agili- zam o trabalho das empresas e geram economia com com- bustível e pneus. De acordo com o Instituto de Pesquisa e Planejamento para o Desenvolvimento Sustentá- vel de Joinville (Ippuj), dos 180 mil passageiros transportados diariamente pelas duas em- presas, 30 mil pagam tarifas sociais (estudantes, idosos, de- ficientes físicos, entre outros). Os demais, pagam tarifa inte- gral. Segundo dados do Insti- tuto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o transporte público é o terceiro maior gas- to da família brasileira. O gerente de mobilida- de e acessibilidade do Ippuj, Vladimir Constante, 36 anos, afirma que o único incentivo vindo da prefeitura para as empresas é a redução do Im- posto Sobre Serviços (ISS). O ISS passou de 5%, para 2%. “A campanha de isenção do ICMS do óleo diesel deflagra- da este ano pelas empresas de transporte coletivo não surtiu o efeito esperado, pois o go- verno do estado vetou a lei”, disse Vladimir. O argumento é rebatido pelo estudante e inte- grante do Movimento Passe Li- vre (MPL) de Joinville, Marcos Vilella. Para ele, a própria per- missão de obtenção de lucro que onera o usuário, já é um grande incentivo. O estudante argumenta que a implanta- ção das catracas eletrônicas, os descontos na compra de novos veículos, o “Busdoor” (propaganda no vidro traseiro dos veículos) e até mesmo a reciclagem da água utilizada na limpeza geram aumento nas receitas das operadoras, e não repassados à popula- ção. “Só quando são obri- gados a gastar mais, re- passam o aumento para a tarifa”, avalia o estudante. Até mesmo o gerente de mobilidade do Ippuj, Vladmir, é a favor da criação de uma empresa municipal de trans- porte coletivo. “Joinville tam- bém deve começar a pensar numa empresa municipal de transportes, seguindo o exem- plo de capitais como Curitiba e Porto Alegre, onde as prefei- turas mantêm frotas próprias. Certamente o crescimento da cidade exigirá isso”, sugere. O MPL também defende a municipalização do setor, pro- pondo a um Conselho Muni- cipal de Transporte Coletivo, a eliminação dos aumentos da passagem via decreto-lei - passando a responsabili- dade para os vereadores -, o passe livre para estudantes de todos os níveis, a extinção da tarifa embarcada e cria- ção do Fundo Municipal de Transporte Coletivo. Em Capinzal, no meio-oes- te catarinense, o transporte é municipalizado. A cidade tem cerca de 12 mil habitantes e a tarifa é de R$ 0,80. Segundo especialistas, a passagem só ultrapassaria R$ 2,00 caso as empresas estivessem sob con- trole privado, valor aproxima- do ao de Joinville. Em Capinzal também é concedido desconto de 50% a estudantes, e idosos a partir de 60 anos, embora a Constituição preveja gratuida- de somente a partir dos 65. O último aumento da tarifa em Joinville foi em dezembro de 2007. As empresas pleite- aram um reajuste dos custos de outubro de 2005 – data do aumento anterior - até ju- nho de 2007. O pedido foi de 11,97%, índice superior à inflação que durante o mes- mo período, oscilou em torno de 4%. Com estes cálculos, a passagem antecipada passa- ria de R$ 1,95 para R$ 2,18 e a embarcada chegaria a R$ 2,73. O Executivo aprovou com ressalvas e o preço subiu para R$ 2,05, nos terminais e pontos de venda autorizados, e R$ 2,50 dentro dos ônibus. Para Victor Maia, 24 anos, também integrante do MPL, “a empresa calcula um va- lor maior do que a prefeitura pode aprovar, conseguindo então, o aumento desejado”. A Secretaria de Planejamen- to da Prefeitura é quem avalia o reajuste do preço do servi- ço. Para pleitear aumentos, a Gidion e a Transtusa encami- nham uma planilha à secreta- ria que analisa os itens no qual incidem gastos como combustível, peças, pneus e salários dos funcionários. Após ser aprovada pelos técnicos, a planilha é entre- gue ao prefeito que sancio- na ou não o aumento. Em Joinville, somente duas empresas de transporte público atendem mais de 480 mil habitantes Lucro privado sobre rodas Foto: Pedro Leal Mesmo com lucros crescentes, empresas não reduzem o custo da tarifa Linda Tomelin e Edson Azevedo Transporte
  • 5. Setembro.2008 P.P 08 Segurança Enquanto a ação policial torna-se ineficaz para resolver todos os casos de assaltos e furtos a residências, em Join- ville cresce o número de famí- lias que optam pela prevenção, contratando segurança privada e instalando vigilância eletrô- nica. A cidade, considerada a segunda mais segura do país pela Revista Época, em 2005, abriga seis delegacias e cerca de 30 empresas especializadas na área de segurança. No primeiro semestre de 2008 foram registrados 35 as- saltos a residências e 899 fur- tos, isto é, roubo sem violência. De janeiro a julho deste ano, as incidências de roubo au- mentaram 19%. O atendimen- to pelo número 190 – telefone emergencial da polícia militar – recebe diariamente uma média de quatro a cinco denúncias de ocorrências, numa redução de 35% se comparado a 2007. De acordo com o tenente Daniel Rodrigues, a priorida- de é sempre para ocorrências onde há perigo de vida. Nes- tes casos, o atendimento chega ao local em apenas sete minu- tos. Já em uma suspeita de ar- rombamento, o socorro pode demorar mais de 40. Quando se trata de segurança priva- da, os vigilantes das empresas chegam ao local em um tempo que varia de oito a dez minu- tos, seja qual for a ocorrência. O segmento de segurança privada é reconhecido legal- mente desde 1983, quando entrou em vigor a Lei nº 7.102, estabelecendo normas de tra- balho para o setor. Em alguns lugares ele passou a ser obri- gatórie. Em estabelecimentos financeiros, por exemplo, a presença das empresas tercei- rizadas é exigida pela própria Secretaria de Segurança. A coordenadora comercial Rosane Benilaqua afirma que só a empresa em que trabalha, de segurança particular, moni- tora mais de três mil residên- cias. Para ela, o serviço presta- do previne e inibe roubos, além de diminuir eventuais prejuízos. Ela acredita que apresentar so- luções para os casos em que os aparatos não surtem efeito é função da polícia. A necessidade de contratar proteção privada vai além de residências. Alguns espaços públicos de Joinville também procuram oferecer seguran- ça para quem se encontra em suas mediações. A Sociedade Educacional de Santa Catari- na (Sociesc) adotou recente- mente um serviço de vigilân- cia eletrônica mais atualizado: câmeras de alta resolução transmitem imagens para uma central de segurança sem a necessidade de fios, o que possibilitou a instalação de câmeras distantes 350 metros da central de armazenamento de imagens. O sistema funcio- na 24 horas por dia e conser- va as imagens digitalmente, as quais também podem ser vistas via internet. Medidas drásticas não se restringem apenas a locais de grande circulação. As pla- cas de “sorria você está sen- do filmado” são cada vez mais comuns, principalmente em edifícios de alto padrão. Nil- son Delai, responsável pela construção do residencial Pri- ma Torre, que contará com 12 apartamentos, revela que somada as usuais medidas de segurança eletrônica, o projeto do edifício prevê a implanta- ção de uma “gaiola” na gua- rita. Isto é, antes do visitante entrar no condomínio, é man- tido preso por um sistema de grades até que se identifique e seja reconhecido. O tenente Daniel Rodrigues ainda alerta que, mesmo cer- cando-se de todos esses cui- dados, medidas básicas como trancas nas portas e muros altos não devem ser descartadas. Segurança com as próprias mãos Rafaela Mazzaro e Fabiane Borges Quem não paga, vigia Para quem deseja proteger o patrimônio, os gastos podem ir de um alarme eletrônico por R$ 500 à uma câmera de vídeo digital com imagem de alta definição por R$ 5.000. O valor ainda pode variar c o n f o r m e o t a m a n h o d a propriedade. Os sistemas de segurança são programados a partir dos chamados pontos vulneráveis, lugares onde os ladrões podem entrar com mais facilidade. C o m o m u i t a s v e z e s a captura policial não é bem sucedida e a maioria dos joinvilenses não dispõe de recursos financeiros para contratação de segurança privada, a população cria medidas como o “televizinho”. Este sistema, que em Joinville foi implantado pelos Conselhos de Segurança Comunitários (Consegs), surgiu como uma forma de evitar tentativas de roubos. Com ele, forma-se uma rede de moradores que vigiam as casas um dos outros, protegendo-se mutuamente.
  • 6. Setembro.200806 P.P Saúde Os joinvilenses conhece- ram recentemente uma nova relação entre as esferas pú- blica e privada. No dia 1º de setembro de 2008, a gestão do Hospital Materno Infantil Dr. Jeser Amarante Faria, uma das obras mais aguardadas da última década, foi repassada à Organização Social Nossa Senhora das Graças pelo go- verno estadual. A contratação da OS (instituição privada, sem fins lucrativos, que se encarre- ga de gerenciar um orgão pú- blico) ocorreu para “agilizar a compra, manutenção e contra- tação de pessoal”. De acordo com o contrato, a nova admi- nistração tem nove meses para implantar o funcionamento in- tegral do complexo hospitalar, recebendo até o final do ano R$ 12 milhões pelos serviços prestados. O Hospital Materno Infantil, cuja estrutura começou a ser erguida em 1997, funcio- na parcialmente há dois anos. Segundo a gerente regional de saúde, Ana Maria Jansen, o contrato assinado em 9 de agosto (entre Estado e orga- nização) estipula metas quan- titativas e qualitativas para o desenvolvimento das ativida- des do sistema hospitalar, com atendimento prioritário ao Sis- tema Único de Saúde. Com o desencargo da ges- tão do hospital, o Estado de Santa Catarina se responsa- biliza por um repasse mensal de valor não divulgado pela Secretaria do Desenvolvimento Regional de Joinville. Para o di- retor executivo do HNSG, Edu- ardo Blanski, esse valor inclui custos com gestão, manuten- ção e investimentos no HMI. A administração será orien- tada por um plano de trabalho escalonado em nove meses, a partir de setembro, sendo que ao final de cada mês deve- rá ser cumprida uma etapa da im- plantação de servi- ç o s e especialidades. Até dezem- bro desse ano devem ser ins- talados os núcleos de pediatria clínica, cirurgia, ortopedia, car- diologia, neurologia, ultra-sons e endoscopia. A OS assumiu a responsabilidade de implantar 23 especialidades relacionadas à pediatria e à herbiatria, além de gineco-obstetrícia e anes- tesiologia. Blanski afirma que as atividades do hospital serão focadas em medicina de média e alta complexidade, voltadas ao tratamento de pacientes de zero a 18 anos. “O hospital não prestará assistência básica (realizada pelos postos de saú- de) de natureza nenhuma”. O HMI d e - verá contar com um quadro de funcionários composto por 1.069 profissionais. Ao corpo clínico da unidade serão in- tegrados 249 médicos e o di- retor executivo da unidade de Joinville será o médico Ademar Marcelo Soares. Apesar de ceder funcionários do Hospital Municipal São José, o diretor executivo da Secretaria Municipal de Saúde de Joinvil- le, Armando Dias Pereira Junior, não soube dar detalhes sobre a postura da secretaria em rela- ção ao repasse da administra- ção para a OS. Armando desta- cou que tanto o município como o estado estão apenas “com- prando um serviço”. Esta não é a primeira v e z Uma nova formaAriadna Straliotto e Felipe Silveira Organização social tem nove meses para fazer o hospital funcionar com total capacidade Foto: Rosimeri Back
  • 7. Setembro.2008 P.P 07 Saúde que o HNSG administrada uma unidade de saúde pública. Em 2007, a organização curitibana incorporou a gestão da Materni- dade Mater Dei, também da ca- pital paranaense, que pertencia a uma associação filantrópica que encerrou suas atividades. O hospital atual Nos primeiros 15 dias da nova administração, o hospital passará por uma avaliação de estrutura fí- sica. Assim, nesta primeira etapa, a rotina não deve sofrer altera- ções. O serviço de pronto atendi- mento continua não sendo ofereci- do, e recebem tratamento apenas os pacientes encaminhados pelo Hospital Regional Hans Dieter Sch- midt, quando o quadro clínico re- quer internação. Funcionários do Hospital Mu- nicipal São José e do Regional Hans Dieter Schmidt cedidos ao HMI também continuam atenden- do. Os profissionais do município trabalham na Oncologia e na UTI, enquanto os do Regional garan- tem o funcionamento do Centro de Internação Domiciliar. Uma estratégia eleitoral Há 19 anos surgiu a idéia de um hospital infantil em Joinville. O prefeito Luiz Gomes (PPB) chegou a lançar, em 1989, uma pedra fundamental nas dependências do Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, mas como a intenção era abranger toda região norte e nor- deste de Santa Catarina, o projeto foi encaminhado ao governo es- tadual. O ano era 1990 e Vilson Kleinübing (PFL) governava o es- tado. O projeto, no entanto, ficou engavetado durante a administra- ção pefelista e começou a ser dis- cutido somente em 1994 por um grupo de pediatras que formavam a Comissão Pró-Hospital Infantil. Um ano depois, a primeira ação efetiva foi realizada: o prefeito Wittich Freitag (PMDB) comprou um terreno no bairro América e doou ao Estado para que fosse ini- ciada a construção do complexo. Apesar disso, o primeiro pedreiro só apareceu no local em 1997. Hoje, 2008, o prédio está pronto e falta pouco para funcionar com toda capacidade (nove meses de acordo com o contrato assinado em 9 de agosto). Neste longo pe- ríodo a obra parou, recomeçou, paralisou, acelerou e, depois de muita articulação política e inter- venção judicial, em 30 de agosto de 2006, o complexo hospitalar foi inau- gurado para fun- cionar parcialmen- te, sob a alcunha de Hospital Mater- no Infantil Dr. Jeser Amarante Faria. Paulo Afonso (PMDB) foi eleito governador em 1994, ganhou o terreno do prefeito correligionário em 1995 e deu início às obras em 1997. A continuidade do proje- to dependeria da reeleição. Mas Esperidião Amin (PP) foi eleito em 1998, e como a situação financei- ra do estado era bastante crítica, a obra parou em 1999, sendo re- tomada apenas em 2001, com a promessa (tanto do governador Amin quanto do secretário de saúde Eni Voltolini) de ser con- cluída até o final do mandato. Não foi cumprida. Em 2003, Luiz Henrique da Silveira assu- me, pela primeira vez, a cadei- ra do Palácio da Agronômica. Durante o primeiro mandato da administração LHS o Hospital Ma- terno Infantil continuou inerte, até ser inaugurado parcialmente às vésperas das eleições de 2006. A estratégia deu certo: LHS foi ree- leito. HMI e Ministério Público Seis dias após a inauguração parcial, o procurador da Repúbli- ca Davy Lincoln Rocha, do Minité- rio Público Federal, visitou a obra e constatou a falta do Alvará da Vigilância Sanitária. Ele cobrou a conclusão da construção e amea- çou fechar o complexo hospitalar, encaminhando uma ação cautelar à Justiça Estadual. Para o procu- rador, o HMI não tinha condições mínimas de funcionamento. Em 2007, outra denúncia. A pediatra Lusinete Henrique Soares procurou o Ministério Público de Santa Catarina no dia 30 de maio de 2007 pedindo a implantação completa de serviços no HMI. O promotor Celso Antônio Ballista Jr., do MP-SC, analisou o pedido e conversou com diversos médicos que também solici- tavam melho- rias. À época, um grupo de neurocirurgi- ões havia se recusado a fazer operações pediátricas, pois as crianças que estavam sendo transferidas ao HMI corriam risco de morte. O promotor visitou o lo- cal e constatou que havia urgência em fazer o hospital funcionar ple- namente, já que a estrutura estava pronta, mas ociosa. O promotor entrou com uma ação civil pública no dia 5 de no- vembrode2007, noJuizadodaIn- fân- cia e da Juventude, na Comarca de Joinville. Em 20 de fevereiro de 2008, a juíza Regina Aparecida So- ares Ferreira concedeu a liminar que obrigava o estado de Santa Catarina a cumprir dez exigên- cias (ativação de várias unidades, aquisição de equipamentos, con- tratação de funcionários etc.) em 90 dias. Caso contrário, o estado deveria pagar uma multa diária de mil reais por item não regulariza- do. O governo recorreu no dia 13 de maio e, desde então, a liminar está congelada pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina. O pro- cesso continua em andamento na comarca joinvilense. Em 22 de dezembro de 2007, o governo do estado lançou o edi- tal de licitação para as organiza- ções interessadas em administrar o HMI , sendo a Organização Social Nossa Senhora das Graças (HNSG) escolhida em 5 de maio de 2008. Na chuvosa manhã de 9 de agosto de 2008, às 10 horas, foi assinado o contrato de gestão entre a organização e governo do Estado, no hall do HMI. Do lado de fora do prédio, dois militantes de um partido político seguravam uma bandeira preta (com cerca de três metros de largura por 1,5 metro de altura) como forma de “protesto contra a privatização dos serviços públicos”. A lei que respalda o contrato de gestão de órgãos públicos por organizações do terceiro setor em Santa Catari- na foi assinada pelo governador LHS durante o primeiro manda- to. Com a melancólica vigilância da sociedade, representada pelos dois militantes, a novela do hospi- tal infantil chegava ao fim. a de privatização O hospital começou a ser construído em1997 e passou pelos governos Paulo Afonso, Esperidião Amin e LHS LHS comemora durante a assinatura do contrato de gestão no dia 9 de agosto Foto Cedida por SDR-Joinville
  • 8. Setembro.2008P.P 05 Educação O Índice de Desenvolvimen- to da Educação Básica (Ideb) foi alto para as escolas da rede mu- nicipal de Joinville. O levantamen- to feito pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Idep) é uma forma de avaliar a qualidade de ensino nas escolas de toda a rede públi- ca brasileira. Da primeira a quarta série do ensino fundamental, o ín- dice joinvilense chegou a um dos melhores do Brasil: 5,5. As séries mais avançadas (quinta a oitava) receberam 4,8. Na rede estadual as notas ficaram cerca de um pon- to abaixo da média municipal: 4,8 de primeira a quarta série e 4,1 de quinta a oitava. Para o secretário de educação de Joinville, Sylvio Sniecikovski, os comentários sobre a qualidade in- ferior das escolas estaduais em re- lação às municipais são frutos da construção histórica. De acordo com ele, tanto no estado quanto no município os professores são quali- ficados e as propostas pedagógi- cas, semelhantes. O que difere é o fato de o governo estadual estar fisicamente distante da cidade. “Há vários aspectos que influenciam na qualidade de uma instituição de ensino”, explica. Dentre eles, des- tacam-se a participação dos pais, a motivação dos professores e a infra-estrutura dos colégios. Com base nos resultados divul- gados, a secretaria de educação da cidade começa a fazer prospec- ções para os próximos anos. Para isso, o órgão está desenvolvendo uma série de diretrizes visando me- lhorar a nota obtida. Para o Gered, responsável pela educação no estado, o índice usa- do para medir o nível das escolas públicas não pode ser analisado isoladamente. “O índice é apenas parte de um processo educacional muito mais complexo”, argumenta a supervisora de educação básica e profissional Evelise Martins. Ela ressalta que as notas dadas para as escolas até a quarta série em Santa Catarina compuseram uma das melhores médias do país. Notas semelhantes Portões abertos na Escola Mu- nicipal Professor Avelino Marcan- te. O acesso à secretaria é obs- truído apenas por crianças afoitas para entrar em sala. A escola teve boa classificação no Ideb: 5,9 de primeira a quarta série, e 5,2 de quinta a oitava. Rosangela Zanela, diretora adjunta da escola, acredita que a qualidade das escolas muni- cipais é superior às estaduais por- que o governo está perto delas. “A contratação de professores é bem mais rápida e o quadro de profis- sionais é estável”, argumenta. Já a diretora Ana Hamedt, da Escola Estadual Plácido Olímpio de Oliveira, diz que os recursos pro- venientes do estado são suficientes para arcar com as despesas. “Não são salas informatizadas e uma es- cola bonita que farão com que os alunos aprendam mais”, afirma. No Ideb, a instituição não foi mal: 4,6 foi a nota alcançada para o ensino fundamental. Diferenças no município A Escola Municipal Pedro Ivo Campos, do bairro Costa e Silva, é exemplo de modernidade. Móveis de qualidade, paredes com tex- tura e cadeiras estofadas na sala dos professores denotam o ar bem cuidado do local. A biblioteca are- jada e colorida, é também bem organizada. Somado a ela, está a praça de leitura, com cobertura e jardim. Sem esquecer do auditório com datashow. Tamanha infra-es- trutura provém de recursos da APP (Associação de Pais e Professores) da escola. De acordo com Anelise Poffo, diretora do Pedro Ivo, essas conquistas são resultados do enga- jamento da comunidade. Apoio da comunidade As reformas na escola Pedro Ivo começaram quando os pais passa- ram a custear o projeto de amplia- ção. No entanto, a conclusão ficou a cargo da prefeitura. Na ocasião, houve a promessa de um ginásio coberto, o qual foi concluído há cinco anos. Atualmente, os recursos finan- ceiros são alcançados de várias formas, como gincanas nas quais os alunos recolhem materiais re- cicláveis. As rifas também são de fundamental importância na cap- tação de recursos. “Nós sabemos que muitas famílias não podem colaborar. Mas elas nos procu- ram, e ajudam como podem”, explica Anelise. Somada a essas alternativas, está a contribuição espontânea, isto é, uma mensa- lidade paga por 30% das famí- lias de alunos matriculados. Já o FNDE (Fundo Nacional de Desen- volvimento da Educação) repassa, anualmente, apenas R$ 6.800. A infra-estrutura pode agradar, mas a média da escola alcança- da no Ideb não satisfaz a diretora: “Precisamos superar nossas me- tas, temos que aproveitar as boas condições oferecidas aos alunos”. Apesar disso, Anelise atribui o re- sultado de 6,2 nas séries iniciais e 5,6 nas finais à pouca rotativida- de do corpo docente. As melho- rias já estão sendo buscadas por meio de aulas de reforço. Ainda é oferecido, no horário oposto ao de aulas, grupos de dança, conta- ção de histórias, fanfarra e aulas de vôlei, tênis de mesa e basque- te. Infra-estrutura deficiente No bairro Jardim Paraíso, a re- alidade de ensino é diferente. A Escola Municipal Professora Rosa Maria Berezoski, que possui mais de mil alunos, foi reformada há cinco anos. A diretora Sinésia de Medeiros conta que, mesmo com as mudanças, o pátio continua a alagar com as chuvas. “Estamos aguardando recursos para concluir a drenagem”, afirma. A biblioteca é bem cuidada, mas ainda armazena livros em ar- mários de ferro antigos. A sala de atividades complementares apre- senta espaço limitado, e duas ár- vores plantadas no pátio compõem a paisagem local. O espaço espor- tivo conta com duas quadras: uma de areia e um ginásio. No entanto, a primeira não tem escoamento da água, e a segunda carece de ilumi- nação. Sinésia lamenta a dificuldade de angariar recursos. Segundo ela, os pais não colaboram por- que acreditam que tudo deve ser cedido pela prefeitura. “A salvação são as parcerias”, explica. Uma loja de materiais de construção da vizinhança mantém uma conta na qual a escola retira o necessá- rio para reformas, e depois faz o acerto. Sem recursos financeiros, a escola conta apenas com o dinhei- ro anual do FNDE e parcerias com empresas da região que oferecem cursos profissionalizantes para os alunos. A média da escola no Ideb foi de 4,1, uma das mais baixas do município. “Não estamos confor- mados, pois trabalhamos para ter- mos alunos nota 10”, desabafa. Burocracia impede repasse de verba A diferença na infra-estrutura dessas duas escolas da mesma rede de ensino é conseqüência da realidade social em que cada uma está inserida. Além do FNDE, outro recurso de repasse de verbas para as instituições era o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimen- to da Educação Básica), bloqueado pelo Tribunal de Contas do Estado por ser considerado inconstitucional em Joinville. De acordo com Dulce da Silva, do serviço de apoio de planeja- mento da Secretaria Municipal da Educação, qualquer reforma ne- cessária na escola é preciso ser co- municada à Secretaria, que aciona o departamento de obras da pre- feitura. Este, por sua vez, analisa o pedido da escola e garante a real necessidade da obra. Em casos menores, como vidros quebrados, é preciso ter recursos próprios, pois a prefeitura não mantém pequenos ajustes. Se a escola não tem recur- sos, como no caso do Jardim Para- íso, deixa quebrado. As diferentes faces do ensino em Joinville Na escola Pedro Ivo Campos, uma das apostas de modernidade é a infra-estrutura e o acervo da biblioteca Camila Prochnow e Juliano Reinert Foto:RosimeriBack
  • 9. Setembro.2008 P.P 09 Meio milhão de habitantes. Maior centro gerador de em- pregos do estado. PIB anual de mais de R$ 9 bilhões. Com 44 bairros, Joinville só tem três par- ques e 53 praças. Numa conta rápida, há 1,2 praça por bairro, e um parque para cada 166 mil habitantes. Só na zona urbana, Joinville conta com 287 m² de área verde por habitante, valor bem acima dos 16 m² aconse- lhados pela Organização Mun- dial da Saúde. Com uma área verde desse tamanho, tem es- paço de sobra para novos par- ques. A reivindicação é popular: um levantamento do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urba- no de Joinville (Ippuj) com 22 mil joinvilenses revelou que o la- zer é a terceira prioridade dos ci- dadãos, perdendo apenas para a saúde e educação. O parque Zoobotânico, no Morro do Boa Vista, que recebe 8 mil visitas por semana, é o lu- gar mais conhecido. São 40 mil m m² em meio à Mata Atlântica, com mais de 200 animais de 23 espécies. Foi construído no início da década de 90 numa área de camping, já por conta de reivin- dicações da população. Ao que parece, o Zoobotâni- co deve ganhar companhia na lista de parques de Joinville. O Projeto Linha Verde, coordenado pelo Ippuj, pretende criar nove novos pontos de entretenimen- to na cidade. Segundo a técnica da Unidade de Gerenciamento do programa, a engenheira ci- vil Juliana Tiburtius, “o objetivo é criar áreas de lazer que apóiem o desenvolvimento sustentável”. O Linha Verde, criado em 2004 e aprovado este ano, será custe- ado com recursos do Fundo Fi- nanceiro para o Desenvolvimen- to da Bacia do Prata (Fonplata). O valor total do financiamento é da ordem de US$ 14,7 milhões. O parque mais caro do pro- jeto é o do Morro do Boa Vista (US$ 2,5 milhões). O projeto promete, nos cerca de 390 hec- tares da área, infra-estrutura para recreação, revitalizando o Mirante, criando trilhas e uma vila temática e pavimentando acessos. O complexo Porta do Mar, na Lagoa do Saguaçu. Também é ambicioso: prevê monumento em forma de arco, deck, quiosques, trapiche e mi- rante.SegundoJuliana,oParque da Cidade será o primeiro a ter obras, em setembro. Localizado no Bucarein, também será um espaço de recreação, com qua- dras, mirante e playground. José Carlos Pereira, 40 anos, morador do Morro do Meio, acha que o primeiro parque não trará benefícios para sua famí- lia. José Carlos gastaria R$16 só com transporte cada vez que quisesse levar a família ao Par- que da Cidade – seu orçamento mensal é de R$ 800. Ele acredita que a prefeitura deveria investir primeiro em projetos menores, espalhados por toda a cidade. Segundo ele, o bairro tinha um parque e uma quadra de espor- tes, que acabaram abandona- dos. Usando o exemplo do Mor- ro do Meio, o torneiro mecânico acredita que, além da constru- ção de áreas de lazer, o ideal seria uma campanha de cons- cientização pela preservação do patrimônio conquistado. Os demais parques serão construídos em regiões como o Morro do Amaral e o Jardim Iri- riú, com quadras poliesportivas, trilhas e playground. Ainda não há previsão de obras. Parque Local Orçamento (US$) Porta do Mar Lagoa do Saguaçu 576.596,23 Parque da Cidade Bucarein 1.832.208,56 Parque do Morro do Boa Vista Morro do Boa Vista 2.480.347,84 Parque Kaesemodel Fátima 337.844,82 Parque das Nascentes Nascentes do Rio Cachoeira 134.444,27 Parque das Águas Cidadela Cultural Antarctica 137.044,15 Parque Morro do Finder Morro do Iririú 172.115,25 Parque Caieira Paranaguamirim 42.959,23 Parque do Morro do Amaral Morro do Amaral 595.503,44 Atenção! Nove parques à vista Projeto do Ippuj promete dar novas opções de lazer ao povo joinvilense Daniela de Tofol e Tatiane Martins Recreativasepraças:únicasopções Enquanto os parques não vêm, o que dá para fazer é se divertir de outro jeito. Os cen- tros privados de lazer são uma opção: complexos de entrete- nimento com grandes áreas, quadras de saibro, de areia, de grama, além de academias e restaurantes, e custo para usu- fruir. O Grêmio Whirlpool, por exemplo, tem 90 mil m² e fica aberto diariamente ao público. Segundo André Fabiano, funcio- nário do Grêmio, a academia e as locações de quadra não têm custos para os funcionários da empresa, apenas para terceiros. “O aluguel é de graça se meta- de do time for de funcionários”, afirma. A recreativa se sustenta com a mensalidade dos fun- cionários: “A empresa desconta 0,2% do salário do trabalhador para manter o grêmio”. As praças ganharam nova importância com os aparelhos das Academias da Melhor Ida- de (AMIs), projeto desenvolvido pela Fundação de Esporte, Lazer e Eventos de Joinville (Felej) em parceria com a Unimed. São dez academias funcionando em praças públicas da cidade, que visam incentivar à prática de ati- vidade física, principalmente às pessoas com mais de 50 anos. Com dez aparelhos de gi- nástica e acompanhamento de professores de educação física, enfermeiros e psicólogos, as academias fazem sucesso nos bairros em que estão instaladas. A novidade empolgou o público do bairro Nova Brasília, cuja AMI foi inaugurada em abril. Matilde Marques, 51 anos, começou se exercitar de duas a três vezes por semana, e conta que se sente mais disposta para o trabalho. “Todos os bairros deveriam ter uma academia”, sugere. A ven- dedora Maria Feliciana Carles- so, 41 anos, também aprovou o projeto. Acompanhada das amigas, ela freqüenta o local três vezes por semana, das 7h às 8h da manhã. Ela conta sa- tisfeita que não tem mais dores nas costas, e que o auxílio dos profissionais de educação física a ajudou a escolher os melhores aparelhos para sua prática. A coordenadora do proje- to, Edna Viana, ressalta que a comunidade precisa ajudar na preservação dos aparelhos, que ficam em locais abertos. A primeira etapa encerrou-se em agosto, com a inaugura- ção da décima academia, na Praça do Calceteiro, no bairro Boa Vista. Edna prevê que a parceria com a Unimed deve render mais dez AMIs. Foto: Patrícia Debortoli Por enquanto, Parque Zoobotânico ainda é o único espaço de lazer público em meio à natureza Lazer
  • 10. Setembro.2008 P.P 10 Cultura Joinville nunca ofereceu tantos atrativos culturais como hoje. No entanto, as opções disponíveis apenas atendem a um público restrito, ao invés de satisfazer a provável diversidade de gostos existentes. O teatro teve sucessos recentes como as peças Migrantes, S.O.S. Uma Mulher Só e O Primo da Ca- lifórnia. A qualidade dos trabalhos é atestada nacionalmente. O 33º Festival Nacional de Teatro, por exemplo, agraciou Ilaine Melo, do Grupo Dionisos Teatro de Joinvil- le, com o prêmio de melhor atriz pela peça Babaiaga. Anualmente, acontece o Cena, festival promo- vido pela Fundação Cultural de Joinville em parceria com a Asso- ciação Joinvilense de Teatro, que esse ano teve sua quinta edição. Fora dos shoppings centers, a oferta de cinema prima pela quali- dade, mas peca na quantidade. O Clube de Cinema, do Bom Jesus/ Ielusc,realizasessõesaossábados, e tal qual os Ciclos de Cinema, da Cidadela Cultural, e o Salve o Ci- nema!, da Univille, os filmes são escolhidos por tema. Porém, os três projetos amargam baixa par- ticipação popular. O que mais se destaca é o Ciclos, por conta dos folders que pairam sobre os bal- cões da prefeitura e de eventos concebidos pela Fundação Cultu- ral. Entretanto, Humberto Jacobs, coordenador do projeto, não es- pera crescimento no número de espectadores. “As obras veiculadas não tem caráter comercial, capaz de atrair um público tão grande”. O Salve o Cinema! e o Clube de Cinema realizam, após a exi- bição, discussões e análises dos filmes. Mas, por demandarem prévio conhecimento cinemato- gráfico, acabam por restringir ain- da mais o público participante. Já as exposições de quadros, painéis, esculturas e fotografias não tem cotidiano melhor. O vigilante Gilberto Cris- tóvão de Souza obser- va que, “geralmente, quem entra numa des- sas exposições, vai por curiosida- de, porque, na verdade, está indo em direção ao teatro”. A estudante de direito Mônica Corrêa concor- da: “Fui a uma quando ia assistir (à peça) O Primo da Califórnia”. E reclama da organização: “Não havia ninguém para me explicar aquelas telas”. Já a música em Join- ville tem um cami- nho mais pedregoso para trilhar. Quase não existem festivais ao ar-livre. O últi- mo, promovido pela rádio Atlântida FM, foi há quatro meses. Hoje, os únicos palcos que recebem bandas locais são os dos bares, com a cobrança do couver. Afinal, o que está faltando? As cortinas de veludo do Te- atro Juarez Machado costumam se abrir só quando há apoio. Os filmes exibidos no Cine Arco-Íris, no shopping Cidade das Flores, são escolhidos pelos programa- dores de Porto Alegre. A Itapema FM apenas promove eventos pa- trocinados por empresários. O público desembolsa cerca de R$ 50 para assistir aos espetáculos. Então, o que falta para Joinville? “Apoio”, responde Regina Lucia Meinert, coordenadora do Teatro Juarez Machado. Mais do que idealizar um es- paço com mais de mil lugares, acústica e iluminação perfeitas e um palco onde caibam cená- rios adequados, o grande desa- fio de quem produz espetáculos na cidade é conseguir patrocí- nio. Cristiano Caetano, gerente comercial da Itapema FM, acha que deveria existir em Joinville um teatro como o da Scar, de Ja- raguá do Sul. “Deixamos de re- alizar aqui o Ballet Jazz de Mon- treal porque não tínhamos um palco do tamanho ideal”, conta. O Teatro Juarez Machado é o espaço utilizado para a maio- ria dos eventos promovidos pela rádio, além do Harmonia Lyra, Teatro da Scar e das boates “Moom Art n´ Music” e “Bierô Music Hall”. Para Caetano, há carência de um local com me- lhor infra-estrutura. Infelizmente, o palco do es- paço mais bem estruturado da cidade tem restrições. Com ca- pacidade para 500 espectado- res, o Juarez Machado deixa de realizar bons espetáculos em função da capacidade de pú- blico e do tamanho do palco. De acordo com a coordenado- ra Regina Lucia Meinert, alguns atores só passam das coxias se na platéia estiverem 800 espec- tadores. O teatro oferece apenas a so- norização básica. Por ser o “úni- co” teatro da cidade, a disponi- bilidade de datas é aberta quase um ano antes da ocorrência dos espetáculos. A Casa da Cultura e o Ballet Bolshoi têm preferên- cia na escolha dos dias de apre- sentação, já que fazem parte da Fundação Cultural. Embora seja um espaço públi- co, as locações ajudam na ma- nutenção e melhoria do espaço. Para incentivar a produção de grupos locais, a administração cobra taxa mínima de utilização, que está custando R$ 159,58 ou cinco por cento do que for re- cebido na bilheteria. Para gru- pos externos, são pedidos duas taxas ou a bilheteria. Eventos não-artísticos pagam mais caro. “Cobramos mais porque não é bem isso que queremos para o Teatro”, afirma. O público de teatro em Join- ville tem crescido. No entanto, segundo a coordenadora, ain- da falta formar a platéia. “Você ainda vê muita gente comendo e bebendo dentro das salas”, diz. O cinema do shopping Cida- de das Flores tem ido na contra- mão do que é estritamente co- mercial e, desde o ano passado, exibe algumas obras de cine- arte: filmes premiados no Oscar que não vão parar nas telonas do concorrente. Do que é arrecadado na bi- lheteria, 50 por cento fica com a Arco-Íris Cinemas e os outros 50 vão para a companhia do filme. A empresa paga R$ 11 mil por cada sala alugada no Cidade das Flores. “O Cinema não é mantido pelos filmes há muito tempo e um dos motivos é a pirataria”, explica Raquel Ben- to, gerente do cinema. Galpão da Ajote, na Cidadela, é palco principal do teatro alternativo de Joinville Arte pouca, para poucos Lorena Trindade e Charles França Discussões afastam o público leigo do circuito alternativo Foto: Patrícia Debortoli
  • 11. Setembro.2008 P.P 11 Comportamento Eles são os donos do pedaço Às 22 horas, duas moças es- tacionam o carro na rua Per- nambuco, na região sul de Join- ville. Enquanto caminham até o botequim Ministro, em plena segunda-feira, têm o papo in- terrompido por um assovio. Elas sabiam, no entanto, que não era um assovio de admiração, mas sim, o som que viria acom- panhado de uma frase já fami- liar. “Pode deixar que eu dou uma olhadinha no carro”, diz Célio Dick, 40 anos, se dirigindo à elas, que o responderam com olhar indiferente. Essa cena se repete com fre- qüência nas imediações das ruas mais movimentadas da noitada joinvilense. À luz do dia, as vagas disponíveis nes- ses locais não são controladas por nenhum tipo de órgão fis- calizador. À noite, porém, a ex- tensão necessária para abrigar um carro não sai mais de graça. Célio, o personagem do pará- grafo acima, começou a cuidar de carros no estacionamento do Centreventos há três anos. Mas conta que “lá a polícia impli- cava demais”. Com a abertura do Ministro, em janeiro, decidiu mudar de ponto, já que o movi- mento na rua até então pacata havia crescido. Vestido com um colete ver- de-limão, Célio faz disso uma profissão: ele pode ser encon- trado naquela região todos os dias da semana. “Ajudo o clien- te a estacionar e cuido do veí- culo, mas ninguém é obrigado a pagar”, fala, ao explicar que as contribuições variam entre R$ 0,40 e R$ 3. Ao atravessar a rua Ministro Calógeras e seguir até a Braço do Norte, famosa Rua do Papai Noel, conhece-se uma história parecida. Ali, Rosaldo Miguel da Luz é o responsável pelo ponto todas as segundas-feiras. Aos 44 anos, o jeito introspectivo parece atrapalhar o flanelinha na hora de fazer a cobrança dos clientes. Diferentemente de Cé- lio, Rosaldo vê o trabalho ape- nas como um incremento na renda mensal, composta pelos salários que recebe na prefeitu- ra e em um restaurante para o qual realiza entregas. “Não co- bro taxa fixa, até mesmo porque a rua não é um estacionamen- to fechado”, justifica. Ele afirma que algumas regras já foram combinadas entre os colegas das redondezas. A principal é que um não invada o “espaço” do outro. Faz apenas dois meses que Rosaldo vigia carros, mas já demonstra estar bem familiari- zado com os macetes do ofício. Quem resolve estacionar o carro em uma dessas ruas não se sente incomodado com a pre- sença de pessoas como Célio e Rosaldo. Segundo o gerente de trânsito Samuel Gomes, não há queixas dessa natureza nos ar- quivos da Conurb. A fiscaliza- ção do trabalho dos flanelinhas é competência dos policiais militares, e, aos olhos dos arti- gos 158 e 170 do Código Pe- nal, é caracterizado como crime de estelionato e extorsão. Essa espécie de economia informal praticada pelos guardadores de carros à noite contrasta com o monitoramento legal feito pela empresa Cartão Joinville, du- rante o dia. De segunda a sába- do, 87 fiscais cuidam das 1.640 vagas espalhadas pelo centro. “Prezamos pela democrati- zação do espaço público nesses locais”, diz Samuel, ao explicar o porquê dessa privatização ser necessária. É que, durante o dia, há muita procura para pouca oferta. Em Joinville, com pouco mais de 600 mil habitantes, já circulam 240 mil veículos. A democratização, nesse sentido, está ligada à noção de rotatividade. Há cinco anos e meio foi aberto um edital para empresas que quisessem assu- mir a administração do espaço nas ruas. A proposta eleita foi a da Cartão Joinville, que fun- ciona como uma organização privada prestando serviços ao governo municipal. As princi- pais vias foram divididas em áreas amarela, azul e branca, que permitem, respectivamen- te, uma, duas e quatro horas de permanência do veículo no local. “Muitas vezes, os monito- res acabam cuidando dos car- ros. Sempre que vêem alguém suspeito, alertam os guardas, ou acionam a polícia”, comenta Claudia Dreher, gerente admi- nistrativa da Cartão Joinville, ao falar sobre as diferenças entre o trabalho legalizado da empre- sa versus a prática informal dos flanelinhas. Eva Croll Rosaldo Miguel cuida de carros em uma das ruas centrais de Joinville há apenas dois meses, mas já sabe direitinho os “macetes” do ofício Foto:GuilhermeCardoso
  • 12. Agosto.2008 P.P 12 OsetorprivadoemJoinville Chegada dos colonizadores. A intenção da Sociedade Colonizadora é garantir lucros “exportando” a carga humana a uma colônia de alemães. O Império incentiva a imigração para substituir a mão-de-obra escrava e ocupar os vazios demográficos. A Direção da Colônia administra o local. Apesar de ser uma empresa privada, tinha interesses públicos ao mesmo tempo. Mandava construir vendas e distribui ferra- mentas e objetos para os colonos. Surge o primeiro armazém, de Gustav Mueller. As pequenas indústrias destinam-se ao consumo interno. A maioria das escolas são privadas. Há 14 escolas e apenas três administradas pelo governo. A Direção da Colônia, empresa privada, instala o primeiro hospital público de Joinville, sob orientação do médico Wigand Engellke. A classe alta organiza comércio e indústria locais, por meio de exportações de madei- ra, couro, sapatos, móveis e cigarros. A vila é dependente de São Francisco do Sul. Surgem as primeiras indústrias têxteis e metalúrgicas. Houve crescimento acelerado baseado no sucesso de empresas privadas. O mate é o principal produto de expor- tação, cujo comércio deu origem às primeiras fortunas locais luso-brasileira, o que gerou tensão com a elite germânica. A cidade já contava com associações culturais, escola, igrejas, hospital, loja maçônica e corpo de bombeiros. Surgem acordos finan- ceiros entre Sociedade Colonizadora e Governo. Surgem bondes puxados por burros, primeiro meio de transporte coletivo do perímetro urbano. Os sócios eram Gustavo Grossembacher, Adolf Trinks, Luiz Ritzmann e Ber- nhard Olsen. Gustavo Vogelsanger inicia empresa privada de transporte coletivo com ônibus, anos mais tarde. Albano Schimidt funda a Tupy. A empresa é responsável pelo progresso eco- nômico da cidade, e influencia serviços públicos. A Rede Municipal de Ensino tem 130 estabelecimentos, que aten- dem 61 mil alunos. Cerca de 100 escolas são privadas e educam aproximadamente 15 mil pessoas. A empresa Águas de Joinville, privada, administra a rede de água. O serviço antes era feito pela Casan, empresa pública. Primeira empresa privada da cidade é a indústria de cerâ- mica, com o mestre Heinrich Lepper, que fabrica peças de barro de uso da colônia. 1851 1852 Empresa colonizadora constrói pontes. Além das pontes, o Governo Imperial financia igrejas, paga honorários de um padre, um pastor e um professor, custeia a construção de uma estrada com o planalto. LéonceAubé inicia as obras da estrada Dona Francisca, com 156 quilômetros, que custaram ao Governo Imperial 600 contos de réis, motivando conflitos entre Colônia e Governo. 1852 1857 a 1880 1858 1869 1880 1911 1938 Hoje As empresas Gidion e Transtusa, privadas, são responsáveis pelo transporte público. A Gidion atua desde 1952 e a Transtusa desde 1963. Atualmente a passagem de ônibus custa R$2,05 e é uma das mais caras do país. Hoje Hoje Texto de Carolina Wanzuita