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Edição nº 28
Joinville, SC
11 de abril de 2003
Fome cresce em Joinville
Crescimento da pobreza gera 23 focos de fome na maior cidade de Santa Catarina
DESEMPREGO AGRAVA
A FOME EM JOINVILLE
Página 9
PESSOAS FOGEM
DA FOME E AGRIDEM
O MANGUE
Foto:AndressaPereira
Contraste: Enquanto alguns aprimoram conhecimento, outros lutam pela sobrevivência
Página 8
“FOME OCULTA”: ELA
ENGANA E DEBILITA
Página 12Páginas 10 e 11
PADRE FACCHINI
FALA DAS COZINHAS
COMUNITÁRIAS
Números
extra-oficiais da
Fundação Pauli
Madi demonstram
o avanço do
problema da fome
na maior cidade de
Santa Catarina. Hoje
existem 23 focos de fome em
Joinville, quase o dobro dos
doze focos existentes em 1995.
Os pontos mais críticos da
cidade estão situados na zona sul,
conforme levantamento da
Fundação Pauli-Madi.
Páginas 6 e 7
O aumento do desemprego no
Brasil tem tornado cada vez mais di-
fícil a alimentação da família brasilei-
ra. As agências de emprego ajudam
na busca do desempregado por uma
condição de vida mais digna.
Nem sempre o estômago cheio
representa uma boa alimentação. A
nutricionista Michelli Negerbom
fala da necessidade de uma alimen-
tação balanceada no combate a
fome.
Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social - Jornalismo - Turma 5º Fase A/2003
Joinville/SC, 11 de abril de 2003
Primeira Pauta2
Opinião
EDITORIAL EXPEDIENTE
Jornal Laboratório do
Curso de Comunicação
Social – Jornalismo – do
Instituto Superior e Cen-
tro Educacional Luterano
Bom Jesus/IELUSC.
Edição nº 28, 11 de abril
de 2003.
www.ielusc.br
Diretor Geral:
P. Dr. Tito L. Lermen
Diretor do Curso:
Edelberto Behs
Professor Responsável:
Samuel Pantoja Lima
DRT-SC 00383-JP
Juciano de S. Lacerda
DRT-PB 1.177
Editor:
Diego Luis Zucolotto
Editores de texto:
Camila Morales
Paula Rodrigues
Reportagens:
Cleide de Carvalho
Fábio da Silva
Patrícia de Azevedo
Marlon de Souza
Fernanda Ourique
Salvador Neto
Lenise Faraj
Manoel Schlindwein
Carolina Spricigo
Cris Serpa
Lilian Antunes
Michelle Bindemann
Naiara Fachini
Fabiane Pickusch
Jura Arruda
Vanessa Matos
Valter Bustos
Michele Camacho
Fotografia:
Letícia Corioletti
Andressa Pereira
Diagramação:
Jura Arruda
Contato com a redação:
Curso de Comunicação Soci-
al – Jornalismo. Rua: Alexan-
dre Dohler, 56, Centro, 89201-
260, Joinville – SC. Tel.: (47)
433-0155.
primeirapauta@ielusc.br
Uma cruzada contra a fome
Fome. Eis um assunto
difícil para discutir. Mas
aceitamos o desafio. Como
explorar melhor este tema,
tão comentado nos dias de
hoje? Para não generalizar-
mos o tópico escolhido, se-
ria necessário basear nossas
pesquisas no meio onde vi-
vemos: a cidade de Joinville.
Encontrar dados sobre a
fome não é tarefa fácil. Eles
não estão em livros. Foram
dias de trabalho cansativo.
Muitas vezes, estressante,
enfim, conseguimos!
Fazer um mapa da fome
em nossa cidade exige jogo
de cintura. A precariedade
ou falta de dados oficiais
dificulta bastante a tarefa.
Conhecer pessoas que se de-
dicam diariamente a realizar
trabalhos voluntários, por
exemplo, é algo comovente.
Ver o rosto de uma criança
saudável, bem nutrida, nos
enche de alegria. Mas a apa-
rência do flagelo da fome não
se mostra agradável aos nos-
sos olhos.
A população joinvilense
está cada vez mais atenta a
esta dificuldade que atinge
46% de nossa cidade. E nós?
Não vemos este problema?
Ou fingimos não vê-lo? Com-
bater este mal é praticar cida-
dania. A fome não escolhe
data e nem hora para chegar.
Bate na porta de nossa casa,
no olhar faminto de uma mãe
com três crianças pequenas,
e que clama por um simples
pedaço de pão. Esta realida-
de choca, mas acaba ignora-
da e incompreendida por mui-
tos. Joinville começa a abrir
os olhos para a gravidade des-
ta situação.
O momento em que vive-
mos é propício para discutir-
mos a fome. O programa
“Fome Zero” do Governo Fe-
deral surge como uma tenta-
tiva ao combate do problema.
Não convém debater aqui se
a solução é mesmo esta. Mas
as iniciativas que o “Fome
Zero” instiga em diversos can-
tos do país, já o credencia
como um projeto de grande
valia. Existem diversos pro-
gramas de combate a fome (e
não se restringem apenas a
ela) aqui em Joinville. Mas, in-
felizmente, permanecem anô-
nimos diante da falta de aju-
da e divulgação. Outros se
sobressaem. Como é o caso
das Cozinhas Comunitárias,
da Fundação Pauli-Madi.
Hoje são 23 espalhadas pela
cidade e, nos próximos meses,
estenúmerodevesubirpara28
e atender cerca de três mil pes-
soas em nosso município.
Ainda há espaço para
muito mais. Toda ajuda é
bem vinda quando o assun-
to é o bem-estar do próxi-
mo, seja ele uma criança ou
um idoso. Em tempos de
guerra como o que vivemos
atualmente, façamos nossa
batalha justa, contra a fome
em nossa cidade. Com um
pouco da ajuda de cada um,
a vitória nesta cruzada pela
vida, é certa.
Diego Luis Zucolotto
Editor
Manuel Bandeira
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os
d e t r i t o s .
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um
homem.
O bicho
Primeira Pauta
Joinville/SC, 11 de abril de 2003
3
Cleide de Carvalho e Fábio da Silva
Programa Fome Zero chega a Joinville
Comissão discute diretrizes para a implantação do programa
na cidade; a comunidade será chamada a participar
O maior projeto social do
governo de Luis Inácio Lula da
Silva (PT), o Fome Zero, já esta
sendo implantado em Joinville.
No dia 9 de dezembro de 2002,
aconteceu na câmara de verea-
dores, a apresentação do proje-
to “Fome Zero - Política de Se-
gurança Alimentar para o Bra-
sil”. Estavam presentes no even-
to, representantes de várias enti-
dades da cidade. Após a apre-
sentação das principais diretrizes
do programa de segurança ali-
mentar, foi nomeado um con-
selho para dar inicio ao proces-
so de implantação do projeto
em Joinville. O conselho é cons-
tituído pela Secretária do Bem
Estar Social (SBES), Clube de di-
rigentes lojistas Jovem, Igreja Ca-
tólica, Capela da Benção, Movi-
mento de Mulheres do Bairro
Boa Vista e assessores dos vere-
adores e deputados do PT de
Joinville.
O conselho traçou as primei-
ras linhas de implantação do
Fome Zero em Joinville com o
objetivo de possibilitar as enti-
dades participantes, agregar no-
vos parceiros e novas sugestões
ao projeto. E também pretende
marcar uma reunião ampliada
ainda no mês de março para dis-
cutir a proposta de um regimen-
to interno que organize as ações
da futura “Comissão Munici-
pal do Projeto Fome Zero de
Joinville”. Algumas sugestões já
têm o aval da maioria das enti-
dades participantes do projeto,
como a divisão da comissão
em subcomissões, para dar
maior agilidade nas atividades
e a necessidade de obter um es-
paço na cidade (galpão, gara-
gem, etc...) para centralizar as
doações e facilitar a logística de
distribuição.
A comissão irá realizar um
amplo trabalho de conscientiza-
ção com a comunidade joinvi-
lense para que haja uma unifica-
ção dos cadastros de pessoas ca-
rentes do município. Esta centra-
lização ficaria a cargo da SBES,
onde a segurança das informa-
ções tornaria o processo de do-
ações mais transparente. A pre-
feitura de Joinville será chamada
para debater a possibilidade de
uma contrapartida por parte do
governo municipal. A futura co-
missão pretende ampliar a parti-
cipação para outras entidades do
município, principalmente as mais
tradicionais como o Clube de
Dirigentes Lojistas (CDL), Asso-
ciação Comercial e Industrial de
Joinville (ACIJ), Associação
Joinvillense da pequena e média
empresa (Ajorpeme) e outras.
Estas primeiras sugestões es-
tão embasadas nas linhas gerais
de implantação do projeto
Fome Zero determinadas pelo
Ministério de Segurança Alimen-
tar. O projeto foi lançado em 16
de outubro de 2001, dia mundi-
al da alimentação, como uma ini-
ciativa de domínio público e
suprapartidário. A elaboração do
projeto de combate à fome no
Brasil teve a participação de va-
rias ONGS, movimentos sociais
e especialistas no tema em diver-
sos seminários e debates realiza-
dos ao longo do ano de 2001. A
idéia da segurança alimentar não
é promover o assistencialismo,
mas quebrar o círculo vicioso da
fome composto de um lado pelo
desemprego e concentração de
renda que geram a queda no con-
sumo de alimentos, e de outro
lado, pela renda reprimida no
campo e a falta de políticas agrí-
colas que causam o êxodo rural
e a queda na oferta de alimentos.
A política de segurança ali-
mentar deve estar associada a
estratégias de desenvolvimento
econômico, as cidades devem
estar atentas na elaboração de
seus planos plurianuais para pro-
jetos que possam gerar mais em-
pregos e absorver a mão de obra
excluída pelo mercado. O custo
da alimentação deve baixar e
Fome zero
A idéia da
segurança
alimentar não é
promover o
assistencialismo,
mas quebrar
o círculo vicioso
da fome
para isso a política de restauran-
tes populares, cozinhas comuni-
tárias, convênios com supermer-
cados e cooperativas de consu-
mo devem ser prioridades nos
planejamentos municipais. A con-
trapartida do governo federal
será dada no aumento da oferta
de alimentos básicos, apoio à
agricultura familiar, venda esco-
lar e combate a desnutrição ma-
terno-infantil.
Os municípios têm tarefa es-
pecial no combate a fome pela
proximidade do problema e
possibilidade de ações mais efi-
cientes. É facultada aos municí-
pios a criação de secretarias e/
ou órgãos específicos para a im-
plantação e gerência do projeto
levando em consideração a sua
realidade regional. Fazer um raio-
x do problema da fome na ci-
dade deve ser o primeiro passo
para ordenar os trabalhos de for-
ma a atingir a raiz do problema.
O governo federal pretende
redirecionar verbas do orçamen-
to da união para gastos sociais,
não permitir o remanejamento
dos gastos sociais para outros fins
e utilizar também recursos do
fundo de combate à pobreza
para financiar as ações do pro-
grama.
O projeto foi
lançado em 16
de outubro de
2001, dia mundial
da alimentação
Promover a parceria e a soli-
dariedade. Estas são as principais
metas da ADS - Agência de De-
senvolvimento Solidário. Criada
em dezembro de 1999, a ADS é
uma organização da CUT - Cen-
tral Única dos Trabalhadores -
que trabalha com a Economia
Solidária. Ela surgiu como uma
nova forma de organizar a pro-
dução e reprodução do traba-
lho, diferentemente do sistema
capitalista vigente. A Economia
Solidária busca promover o de-
senvolvimento do comércio a
preços justos, tentando fazer com
que os benefícios do desenvol-
vimento produtivo sejam repar-
tidos de forma justa entre os gru-
pos participantes.
A ADS, entretanto, trabalha
com a elaboração de políticas
públicas para o desenvolvimen-
to da economia solidária, asses-
sorando prefeituras e criando
ações voltadas para reformas
políticas, sociais e estruturais. Pos-
sui oito escritórios regionais es-
palhados pelo Brasil. Um desses
escritórios abrange os estados de
Santa Catarina e Paraná. Nessa
região, são realizados trabalhos
como o desenvolvimento da
maricultura em todo o litoral
catarinense, cooperativas de cré-
dito para pequenos produtores
na região da cidade de Chapecó
e o apoio ao trabalho de
reciclagem no Paraná.
Segundo o sr. Valmor João
Umbelino, assessor do escritório
da ADS da região, foi muito di-
fícil trabalhar com a maricultura
no estado. A pesca do marisco é
uma produção familiar e
artesanal que possui uma cultura
individualista e dependente de cli-
entes. Porém após dois anos de
trabalho que resultaram em
melhorias para todos os partici-
pantes, os maricultores identifi-
cam parceiros na ADS. Para a
região de Joinville, não há um
programa específico de Econo-
mia Solidária ainda. No entanto,
existem ações que apóiam e aju-
dam certos trabalhos cooperati-
vos existentes na região.
Quanto à questão da fome,
sindicatos, igrejas, bancários e
outras organizações pautaram o
programa Economia Solidária
dentro do programa de gover-
no “Fome Zero”. Para
Umbelino, todos sabem que não
adianta ficar somente distribuin-
do bônus e dinheiro. “Um dia
isto se acaba”, afirma. “São ne-
cessárias ações voltadas para re-
formas que modifiquem as es-
truturas políticas e sociais que já
existem”, complementa.
Agência de desenvolvimento propõe alternativas de comércio
Fernanda Ourique
Patrícia de Azevedo
“O nosso lixo é um luxo”
Padre Carlos desenvolve o projeto “Lixo é Luxo” no Jardim
Paraíso e acredita na conscientização da população
O projeto “Lixo é Luxo”
teve início em março de
2002, quando o padre
Carlos Alberto Pinto da Sil-
va resolve voltar para o Bra-
sil e assume a região pasto-
ral na Comunidade São Do-
mingos de Sávio, no bairro
Jardim Paraíso. Nesse proje-
to os moradores trabalham
voluntariamente fazendo a
coleta e a separação do lixo
tanto nas ruas como em suas
4 Primeira
Joinville/SC, 11 d
casas. Todo material coleta-
do é entregue para os mais
de dez catadores que resi-
dem no local. Do dinheiro
arrecadado na venda do
material, 50% é revertido
para a igreja.
Padre Carlos deu início
ao seu projeto fazendo um
diagnóstico do bairro, “an-
dava todo dia de bicicleta e
conversava com os morado-
res para descobrir suas ne-
cessidades. Assim fomos
mudando a imagem do bair-
ro”. Ele começou esta cam-
panha visando diferenciar
pobre e pobreza: “A gente
pode ser pobre, mas não
precisa viver na pobreza, a
exemplo de Jesus”.
O projeto ganhou o
nome de “Lixo é Luxo”,
pois segundo o padre, “se
tem muito lixo é sinal de que
tem muito desperdício”.
Para o missionário, o lixo só
permanecerá um problema
se não receber um tratamen-
to adequado.
A moradora Maria dos
Santos Aquino acredita no
trabalho do padre e conta
com orgulho: “fazemos um
mutirão de limpeza todo se-
gundo sábado do mês, as-
sim ajudamos o Paraíso fi-
car mais limpo”.
Com aproximadamente
vintemilhabitantes,oJardim
Paraíso é um dos bairros
Lixo
“Nós faremos
uma árvore de
garrafas (...) e
vamos colocar
lixeiras nos
pontos de
ônibus”
A reciclagem do lixo no combate à fome
Foto:LetíciaCorioletti
mais pobres de Joinville. Pa-
dre Carlos revela: “Foi e ain-
da é difícil conscientizar a
população. Ela não toma ini-
ciativa. Acha que é assim
mesmo e não faz nada para
mudar”.
Para ajudar nesse proces-
so de conscientização da
população, padre Carlos vai
além. “Nós faremos uma ár-
vore de garrafas plásticas na
entrada do bairro e vamos
colocar lixeiras nos pontos
de ônibus para ajudar, mo-
tivar e conscientizar a popu-
lação docal. Tudo isso com
material reciclado é claro”.
As mil crianças da
catequese também partici-
pam do projeto. Padre
Carlos explica: “É uma via
de mão dupla. Elas nos aju-
dam catando o lixo, e nós
ensinamos a elas o valor.
Lixotambémédinheiro,mas
nossa parte é mais de cons-
cientização. O trabalho fica
por conta deles, afinal, são
eles os maiores beneficia-
dos”.
“Se tem muito
lixo é sinal de
que tem muito
desperdício”
As mil crianças
da catequese
também
participam do
projeto
Receitas
Alternativas
A culinária alternativa é
uma das aliadas no comba-
te à fome oculta. A seguir
duas receitas cedidas pela
nutricionista Michelli
Negerbom que privilegiam
as sobras de alimentos. São
receitas saudáveis, baratas e
muito fáceis de preparar.
Assado de sobras
Ingredientes:
Sobras de purê de batata
5 ovos mexidos
1 colher (café) de sal
½ cebola pequena
Talos e folhas de verduras pi-
cadas
1 colher (sopa) de óleo
Modo de Preparo
Faça um refogado com talos
defolhas,cebola,óleoesaleacres-
cente os ovos mexidos. Reserve.
Unte uma forma com margarina.
Coloque uma camada de purê de
batata, outra com refogado e por
último, outra camada de purê.
Pincelecomgemadeovoeleveao
forno em banho-maria para dou-
rar.
Rendimento: 8 porções
Peso da porção: 100g
Valor calórico da porção:
115,4cal
Doce de
cascas de banana
Ingredientes:
5xícaras(chá)decascasdeba-
nana nanica bem lavadas e pica-
das
2 e ½ xícaras (chá) de açúcar
Modo de Preparo
Cozinhe as cascas, em pouca
água, até amolecerem. Retire do
fornoeescorra.Bataascascascom
um pouco de água no
liquidificador e passe por peneira
grossa. Junte o açúcar e leve no-
vamente ao fogo, mexendo sem-
pre, até desprender do fundo da
panela.
Rendimento: 12 porções
Peso da porção: 40 gramas
Valor calórico da porção:
135,4cal
5ra Pauta
de abril de 2003 Estatística
Prefeitura participa do Comitê Fome Zero mas ainda não tem dados sobre a fome
Poder Público não tem
informações sobre a fome
Marlon de Souza
A Secretaria de Bem-Es-
tar Social não tem dados ofi-
ciais sobre os focos de fome
de Joinville. O Comitê Fome
Zero municipal é composto
por representantes do gover-
no e da sociedade civil or-
ganizada. Segundo Iza
D‘Nardo, uma das represen-
tantes da Secretaria no Co-
mitê, “o levantamento de
onde estão as pessoas que
passam fome em Joinville é
complexo e a Secretaria não
tem funcionários nem está
informatizada para o traba-
lho”.
Por hipótese e averigua-
ção visual o poder público
mapeia os bairros onde são
entregues os alimentos arre-
cadados em campanhas ou
doados à Secretaria. A pre-
feitura da maior cidade do
estado está há oito anos sob
a mesma gestão, mas só ago-
ra, após o início da imple-
mentação do Programa
Fome Zero do governo fe-
deral, começa a organizar
pesquisa e cadastrar famílias
em situação de risco social
para diagnosticar a fome no
município.
Iza D’Nardo afirma ain-
da que várias organizações
não governamentais com-
põem o Comitê e atuam com
a segurança alimentar. Igre-
jas, Rotary Club, Fundação
Pauli Madi entre outras. To-
davia cada uma delas tem
um cadastro próprio e uma
visão particular sobre o pro-
blema. Em alguns pontos
contrapõem-se entre si. A
Fundação Pauli Madi, por
exemplo, prioriza crianças
em sua atuação; já a Paróquia
São Sebastião no bairro
A fome que não aparece nas estatísticas
O retrato dos famintos é mais grave do que consta nos documentos oficiais
O Instituto Brasileiro de Ge-
ografia e Estatística (IBGE) di-
vulgouoficialmente,em2000que
Joinville não tem favelas. O po-
der público municipal usa a in-
formação em seus discursos ofi-
ciais. No Parque Joinville, bairro
da zona leste da cidade, a reali-
dade se mostra diferente. Casas
construídas sobre palafitas em
cima do mangue. O local não
possui cozinhas comunitárias,
centenas de famílias desempre-
gadas sobrevivem com
subempregos cuja renda mensal
média é de 150 reais.
Nome sugestivo para quem
consegue viver em um lugar
como este, é um entre tantos,
Ronaldo de Deus. Enquanto
conversava, fazia seu almoço do
dia. A panela sobre o fogo do
velho fogão era alimentado com
lenha. O prato do dia: duas ba-
tatas e um chuchu. Almoxarife,
35 anos, concluiu o segundo
grau, desempregado há dois
anos. Paraconseguirdinheiro, tra-
balha informalmente, capinando
terrenos e ajudando de seus vizi-
nhos na coleta de papel. Braços
trêmulos, há três dias estava do-
ente, acreditava que era do estô-
mago. “Aqui agente não pode se
dá ao luxo de ficar doente, se não
trabalha não come”. Faz uma re-
feição diária, quando dá, três.
“A gente não é coitadinho, a
gente luta, comparando outras
pessoas daqui, eu sou privile-
giado”.
Logo à frente da casa de
Ronaldo de Deus, avançada
sobre o mangue através de
uma ponte improvisada, mora
a família de Gilson de Souza,
43 anos, e sua esposa portado-
ra de necessidades especiais
Jucélia Tomaz, 39 anos. Gilson
vende o papelão e o ferro que
cata pela rua. Parte do que ga-
nha, usa para comprar remé-
dio para Jucélia, que vive em
cadeira de rodas, o restante
compra comida. “A igreja aju-
da. Toda terça e quinta à noite
traz sopa e pão”.
São pessoas como estas que
compõem o mapa da fome de
Joinville. (MS)
Foto:MarlondeSouza
Em Joinville não há pesquisa nem cadastro de famílias em situação de risco social.
Por hipótese e
averiguação visual,
a Prefeitura mapeia
os focos de fome
em Joinville
Iririú, entrega cesta básica ou
sopa pronta a qualquer famí-
lia após constatar necessida-
de através de análise sócio-
econômica.
O Comitê Fome Zero
municipal cruza agora as in-
formações de todas as enti-
dades e realiza pesquisa para
ter critério e um mapa da
fome definido em Joinville,
e assim atacar o problema.
Joinville/SC, 11 de abril de 2003
Primeira Pauta6
Mapa
Dados confirmam triste reali
Em apenas sete anos os focos do problema
Salvador Neto
Antônio Aguiar, taxista.
Com certeza existe. Em toda cida-
de existe toda cidade tem favela,
e onde tem favela tem gente pas-
sando fome.
“Sim, claro. Primeiro
porque não existe
trabalho. Falta traba-
lho, falta comida e en-
tão existe fome. Acho
que há mais na perife-
ria”
Marcelo
Correia,
publicitário.
“Eu acho que sim. Há
desemprego... meu Deus,
por tantos motivos...
falta de grana, desem-
prego, diferenças sociais.
Mais no interior, perife-
ria, bairros afastados”. Norma
Vailati,
universitária
“Existe e muito. Porque
existe muito desempre-
go, muitas pessoas de-
sempregadas. Mais nos
bairros”.
“Acho que sim. Talvez por
má distribuição de renda,
falta de oportunidade.
Acho que é mais concen-
trado na periferia”.
Leoni M.
Goudard,
doméstica.
Marcelo
Bechker,
estudante.
? ??Você acha que
existe fome em
Joinville?
Os dados são extra-ofici-
ais, mas demonstram o avan-
ço do problema da fome
na maior cidade de San-
ta Catarina. Em 1995,
no início do proje-
to das cozinhas
comunitárias da
Fundação Pauli-Madi,
existiam doze focos de
fome nos bairros de Joinville.
Passados quase oito anos,
já existem vinte e três,
refletindo quase o
dobro de focos
registrados. O
presidente da
Fundação, padre
Luiz Facchini, revela
que já há previsão de mais
quatro cozinhas a serem ins-
taladas este ano. As cozinhas
comunitárias atendem 2600
crianças na faixa etária de
zero aos quatorze anos.
“Houve um crescimento
vertiginoso da pobreza, pela
desvalorização dos salários
e o aumento do fenômeno
do desemprego” afirma o
padre Facchini. A Fundação
presidida por ele serve uma
refeição no almoço de se-
gunda a sexta feira para as
crianças e mães gestantes em
dezoito bairros de Joinville.
A manutenção do projeto é
garantida principalmente
pela prefeitura, algumas em-
presas, e também por orga-
nizações religiosas do exte-
rior. Em apenas cinco anos,
o governo do município
ampliou em 200% a subven-
ção destinada ao projeto.
Os pontos mais críticos
de fome na cidade estão si-
tuados na zona sul (veja
mapa da fome), onde se en-
contram doze cozinhas
(52% do total), nos bairros
Jarivatuba, Paranaguamirim,
Boehmerwaldt, Santa
Catarina, Itinga, Fátima,
Petrópolis, Adhemar Garcia
e Loteamento São Benedito,
em Araquari (53% do total
dos bairros atingidos). Nes-
tas cozinhas são atendidas
1685 crianças, o equivalente
a 560 famílias aproximada-
mente.
A zona leste abriga seis
cozinhas nos bairros Aven-
tureiro, Boa Vista, Espinhei-
ros, Jardim Iririú e Conjunto
Zona Leste
525 crianças
Zona Norte
200 crianças
Zona Sul
1685 crianças
Zona Oeste
190 crianças
Focos de fome nos bairros
18 dos 39 bairros de Joinville possuem
focos de fome. Isso representa 46%
dos bairros.
A geografia da fome na cidade de Joinville*
460 famílias
(cerca de 1500
crianças)
recebem cestas
básicas para
complementar a
alimentação
Os pontos mais
críticos de fome
estão situados
na zona sul
Primeira Pauta
Joinville/SC, 11 de abril de 2003
7
Mapa
idade da fome em Joinville
quase dobraram na maior cidade do Estado
“Sim. Tem muitas pessoas passan-
do fome, pois existe muita pobre-
za, muitas pessoas humildes, que
não têm o que comer. Ganham um
salário e tem 3 ou 4 filhos, então
isso nem dá para comer o mês
inteiro”.
?
Terezinha Knopf, cozinheira.
“Tem sim. Principalmente nos
bairros mais carentes, por causa
do desemprego”.
Luciano da Silva, artesão.
“Bastante, por causa que
há muito desemprego. O
rico tem muito e o pobre
tem pouco e o rico não
ajuda, acho que é por aí
que começa. Muito de-
semprego e o pessoal não
dá chance de trabalho.
Tem que ter estudo; se
não tiver estudo não tem
emprego. É assim que
funciona”.
Sandra
Müller
da Silva, artesã.
Acho que sim. Quem chega em
Joinville vê que tem bastante
favela, principalmente perto da
BR-101.
Zadiel Muniz, representante comercial.
Dom Gregório Warmeling,
atendendo 525 crianças, se-
guida pela zona oeste com
três cozinhas (Nova Brasília,
Morro do Meio) e zona nor-
te com dois (Cubatão e Jar-
dim Paraíso), que atendem
respectivamente a 190 e 200
crianças diariamente.
Dos trinta e nove bairros
da cidade, dezoito convivem
com o problema da fome.
Quase a metade da cidade
(46%) é atingida por este
flagelo da sociedade moder-
na. Segundo o padre
Facchini, a região que mais
sofre com a fome é do
Paranaguamirim, onde se si-
tuam as localidades do Mor-
ro do Amaral, Estevão de
Matos, Jardim Edilene e
2003 - 231995 - 12
+
91,66%
Focos da fome
Em 8 anos, praticamente dobrou os
focos de fome em Joinville.
200%
Investimento público
Nos últimos 5 anos, o governo de
Joinville triplicou o investimento nesta
área.
1998
6 mil / mês
2003
18 mil / mês
Outros números
Hoje, 460 famílias
recebem cesta bá-
sica em todo o mu-
nicípio.
2.600 são atingi-
das pela fome, ou-
tras 4.100 sofrem
a fome oculta
“Deve ter. Na perife-
ria, no centro também.
Tem um monte de
mendigo por aí. A
fome é um problema
grave em todos os lu-
gares”.Gilmar Breis,
empresário
Aproximada-
mente 1.330
famílias são atin-
gidas pela fome
(incluindo-se a fome
oculta)
*Fonte:FundaçãoPauli-Madi
Loteamento Ana Júlia. No
Jardim Edilene está o maior
número de crianças atendi-
das: 308.
A zona leste está em se-
gundo lugar no mapa da
fome, seguida pela zona nor-
te, com os bairros Cubatão
(Vigorelli) e Jardim Paraíso,
onde 200 crianças são aten-
didas diariamente.
Mais um dado surpreen-
dente é o da fome “oculta”
ou “escondida”. O fenôme-
no acontece nas famílias de
operários que têm a maioria
de seus componentes de-
sempregados. Segundo a
Fundação Pauli-Madi, 460
famílias (1500 crianças) são
atendidas mensalmente com
cestas básicas para comple-
mentar a alimentação, além
das que são atendidas nas
cozinhas comunitárias. Exis-
tem comitês de solidarieda-
de compostos também de
voluntários, que se reúnem e
arrecadam mensalmente os
alimentos junto à comunida-
de. Entre as cozinhas comu-
nitárias e o atendimento pe-
los comitês de solidariedade,
cerca de 1330 famílias neces-
sitam de atenção especial na
maior cidade do estado.
O bairro que
mais sofre com
a fome é o
Paranaguamirim
? ?
Você acha que
existe fome em
Joinville?
Joinville/SC, 11 de abril de 2003
Primeira Pauta8
Desemprego
Números de pesquisa revelam a gravidade da crise na cidade
Desemprego é fator crítico
para o aumento da fome
Colocar comida todos
os dias na mesa tem se tor-
nado uma tarefa cada vez
mais difícil para os brasilei-
ros. As últimas pesquisas
divulgadas pelo DIEESE,
IBGE e Procon traçam um
panorama negativo na rela-
ção emprego-alimentação e
sinalizam agravamento des-
ta crise.
Alessandro Fabio do Pa-
trocínio, 22anos,estádesem-
pregado desde novembro
do ano passado. Seu último
emprego era temporário.
Trabalhava como operador
na linha de produção de uma
fabricante de geladeiras em
Joinville. O dinheiro do sa-
lário era utilizado para co-
brir as despesas da família.
Porém, para não faltar comi-
da na mesa, está comprome-
tendo seu futuro. “Se ganho
300, 400 reais, não tenho
como entrar num curso téc-
nico que custa quase o mes-
mo preço”. Todos os em-
pregos anteriores que
Alessandro conseguiu foram
através de agências de em-
prego.
Uma alternativa para os
desempregados é recorrer às
agências de recrutamento.
Elas servem de ponte entre
a empresa e o empregado,
ou seja, de um lado oferecem
mão-de-obra para atender as
necessidades do emprega-
dor. De outro, apresentam
oportunidades de trabalho
para a população.
Numa agência de
Joinville, com filiais em nove
estados e um banco de da-
dos com mais de 400 mil
currículos, a procura é gran-
de. Aproximadamente 250
pessoas por dia passam pelo
balcão da agência, onde são
cadastradas num sistema
informatizado e são orienta-
das sobre as condições do
mercado.
Para o gerente de relaci-
onamento Jonas Kruger, a
falta de experiência e
capacitação comprometem:
“num extremo temos uma
enorme quantidade de de-
sempregados, de outro te-
mos uma carência de mão-
de-obra especializada”. Esse
Lenise Faraj e
Manoel Schlindwein
é o principal motivo que le-
vam as agências de empre-
go a procurarem recursos
com publicações de anúnci-
os com oferta de empregos
em jornais, rádio e televisão.
A agência emprega apro-
ximadamente 500 profissio-
nais por mês. O que repre-
senta que, a cada dez pesso-
as interessadas, apenas uma
consegue emprego. O au-
mento do número de vagas
seria uma solução para dimi-
nuir o desemprego. De acor-
do com a última pesquisa do
IBGE(InstitutoBrasileirode
Geografia e Estatística) so-
bre emprego no país, foi o
que ocorreu - embora de for-
ma pouco significativa. O
número de vagas em janeiro
de 2003 aumentou 0,3% em
relação a dezembro de 2002
e 1% em relação ao mesmo
mês do ano anterior. A pes-
quisa também destacou o
estado de Santa Catarina,
onde ocorreu omaioraumen-
todonúmerodevagas,5,7%.
Outro elemento para aná-
lise da relação entre desem-
prego e a fome é o custo da
cesta básica. Seu preço au-
mentou em todas as
dezesseis capitais
pesquisadas em fevereiro
pelo Procon (Fundação de
Proteção e Defesa do Con-
sumidor). Em Florianópolis
o aumento foi de 3,23% em
relação ao mês anterior. O
custo da cesta representou
80,1% do salário mínimo,
descontadas as despesas
com a previdência social.
Na falta de emprego, uma
opção encontrada para
driblar a fome é o trabalho
informal. José do Nascimen-
to vende picolé nos dias de
sol há três anos no centro de
Joinville. “Quando chove
vendo algodão doce”, expli-
ca. Seus dois filhos, menores
de idade, o ajudam no ser-
viço Sua esposa é costurei-
ra. Esta é a forma que encon-
traram para pagarem o alu-
guel da casa e outras contas.
Foto:AndressaPereira
Agências de empregos são alternativa para desempregado.
“Num extremo te-
mos uma enorme
quantidade de de-
sempregados, de
outro temos carên-
cia de mão-de-
obra especializada”
Primeira Pauta
Joinville/SC, 11 de abril de 2003
9
Meio ambiente
Fome gera invasão em áreas
de presevação ambiental
Vítimas da fome invadem mangues e áreas de risco.
O desemprego, falta de
educação, moradia, dinheiro,
qualificação profissional são
alguns dos problemas sociais
com os quais a população de
Joinville convive diariamente.
Entretanto, a fome é um dos
fatores de maior preocupa-
ção, pois faz com que as pes-
soas busquem para morar,
áreas de preservação perma-
nente, como o mangue, ou
áreas de risco, ocasionando
assim, a destruição do meio
ambiente.
Segundo o engenheiro
agrônomo Nelson Wendel, “a
fome gera um círculo de mi-
séria, ignorância e degradação
ambiental”. Ele explica que a
pessoa faminta tem sua preo-
cupação voltada à sobrevi-
vência imediata, e nesse mo-
mento, não tem condições de
refletir sobre a preservação do
meio ambiente. Da mesma
forma, não avaliará a conve-
niência de explorar o
ecossistema até a exaustão se
houver qualquer coisa que
possa coletar para comer ou
vender.
O mangue é importante
para o ecossistema e as áreas
de risco são perigosas. Mas a
falta de informação e a falta
de condições financeiras fa-
zem com que as pessoas mais
pobres se arrisquem morando
nesses lugares. Além disso, a
ocupação dessas áreas traz
sérias conseqüências para o
meio ambiente. Exemplos dis-
so são os deslizamentos de
morros e a destruição dos
manguezais.
A assistente social Aurea
Regina Del Re, da Secretaria
do Bem Estar Social, afirma
que aproximadamente 90%
das pessoas que passam fome
em Joinville vêm do Paraná,
onde deixam a agricultura
para procurar uma vida me-
lhor. Conforme a diretora do
Centro de Direitos Humanos
de Joinville, Irma Kniess, a
maior parte dos moradores do
mangue são ex-funcionários
de grandes empresas da cida-
de que perderam tudo após
ficarem desempregados.
De acordo com as infor-
mações de Nelson Wendel, se
quisermos ter um futuro de-
sejável para a humanidade,
precisamos fazer uma transi-
ção. Nessa, o crescimento –
apenas um aumento da ativi-
dade econômica, muitas ve-
zes sem trazer reais benefíci-
os para a sociedade – deve-
ria ser substituído por desen-
volvimento, uma evolução
harmônica de toda a econo-
mia, com qualidade e eleva-
ção do padrão de vida, in-
cluindo a preservação da
natureza.
Preservação
Marlene Czekalski, assis-
tente social da Secretaria de
Habitação, afirma que não
existe nenhum projeto espe-
cífico para a retirada dos mo-
radores das áreas de preserva-
ção ambiental ou de risco. En-
tretanto, as pessoas que pro-
curam a secretaria são cadas-
tradas e encaixadas em um
dos programas de habitação
existentes.
Em parceria com a Caixa
Econômica Federal, a secre-
taria trabalha com um progra-
ma de subsídio habitacional
para pessoas com renda men-
sal inferior a R$ 200,00. A ini-
ciativa oferece uma casa em
alvenaria de aproximadamen-
te 27 m², com possibilidade
de ser aumentada. Um inves-
timento da Caixa de R$
4.500,00 por família, que po-
derá ser pago em quinze anos
com prestações de R$ 55,00
mensais.
A princípio, serão
construídas quarenta e nove
casas no bairro Jardim Iririú.
Para se inscrever no progra-
ma, o candidato não pode ter
imóvel próprio, deve ter famí-
lia constituída e residir a pelo
menos três anos em Joinville.
Os funcionários autônomos
ou sem carteira assinada, de-
vem ter uma declaração de
renda de seu empregador. Em
Carolina Spricigo
Foto:LetíciaCorioletti
Degradação do meio ambiente em Joinville
fevereiro deste ano, foi feita
a seleção dos inscritos e en-
caminhados para a CEF onde
terão seu cadastro avaliado.
Programa Girassol
Aurea Regina informa que
as pessoas carentes recebem
cestas básicas e acompanha-
mento familiar das assistentes
sociais da secretaria todo mês.
“O problema é que o atendi-
mento é apenas emergencial
e muitos se acomodam com a
situação”, diz ela. Questiona-
da sobre a existência de algu-
ma iniciativa de geração de
renda para os carentes, ela fala
do Programa Girassol, criado
em 1997 pelo Atendimento
Emergencial – Plantão – da
Secretaria do Bem Estar So-
cial.
O programa oferece um
curso onde as pessoas neces-
sitadas aprendem a fazer ces-
tos de jornal. Cumprindo al-
guns deveres, como não ter
falta ou falta justificada, ga-
nham uma cesta básica men-
sal e o vale transporte para
comparecerem às aulas. Se-
gundo Aurea Regina, os alu-
nos recebem acompanha-
mento de psicólogos, assis-
tentes sociais e trocam ex-
periências. Ao final do cur-
so, ela avalia que há uma
considerável melhora da
auto-estima e da estrutura
familiar dessas pessoas, além
de prepará-las para uma vida
financeira independente. O
curso tem duração de qua-
tro meses.
Joinville/SC, 11 de abril de 2003
Primeira Pauta10
Entrevista
Padre na guerra contra a fome
O Padre Luiz Facchini luta há anos pela civilização solidária
Ao completar vinte e cinco
anos de sacerdócio, o padre Luiz
Facchini criou a Fundação Pauli-
Madi Pró-Solidariedade e Vida, no
ano de 1994 em Joinville. Com
o objetivo de melhorar a quali-
dade de vida dos joinvilenses, a
Fundação Pauli-Madi possui atu-
almente três grandes projetos:
Cozinhas Comunitárias, Projeto Ci-
dadão do Futuro e Projeto Regime de
Abrigo.
Ascozinhascomunitáriassur-
giram para atender crianças de
famílias carentes.PadreFacchini,
com ajuda de 500 voluntários e
colaboradores, atende cerca de
2.600 crianças distribuídas em
vinte e quatro cozinhas que es-
tão localizadas nas periferias da
cidade, onde fornecem diaria-
mente um almoço e reforço es-
colar.
A viabilidade deste projeto
acabou por despertar a curiosi-
dade do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva que, ao visitar
Joinville, fez questão de conhe-
cer as cozinhas. O presidente
mencionou a possibilidade de
incluir este projeto aos outros
que fazem parte do programa
Fome Zero.
Nessa entrevista, o padre fala
sobre o seu trabalho na busca de
uma sociedade que el chama de
“civilização da solidariedade”.
Primeira Pauta: Esta luta
social é um sonho do padre
Facchini ou do cidadão Luiz
Facchini?
Padre Facchini: (Risos) Eu
acho que é uma característica de
Jesus Cristo e para sermos fiel à
Ele dando segmento à sua pro-
posta, ao seu projeto, temos que
ter uma junção, uma aliança ple-
na entre fé e vida. Portanto entre
fé e o social, eu não posso agra-
dar a Deus se eu dobro meu jo-
elho diante Dele se não tiver ou-
tro joelho já encebadinho para
correr rumo ao próximo sofri-
do, rumo a uma população que
está excluída e lutar com ela por
uma melhor situação de vida.
Então tem que se tornar aos
poucos uma característica de to-
dos os cristãos que quiserem ser
fiéis no segmento ao chamado
de Jesus.
PP: O programa Fome
Zero vai criar uma nova cons-
ciência política social?
PF: Bem, nós acreditamos
que o Fome Zero é o princípio
de uma mudança maior. É o que
nós sonhamos e tentamos fazer
aconteceraquiemJoinville,quan-
do há oito anos atrás começa-
mos com este programa das
cozinhas comunitárias. Visto as
possibilidades que o país possui,
e ao mesmo tempo a riqueza de
um povo, onde existem diversas
culturas numa harmonia plena.
Então acreditamos que
estamos lançando uma mudan-
ça não só em nível nacional, mas
emnívelmundial.Nósqueremos
que se globalize o mais rápido
possível a civilização da solidari-
edade. Estamos percebendo.
Basta um olhar mais profundo e
atento para sentir que esta civili-
zação aí, regida pelos valores
neoliberais capitalistas, é
autofágica, auto destrutiva, agri-
de a pessoa, o ecossistema e a
própria vida humana sobre o
planeta. Queremos e temos es-
perança que o projeto Fome
Zero não só acabe com a fome
dos indivíduos que estão excluí-
dos de uma mesa ou de um prato
de comida digno, mas que tam-
bém gere esta consciência de que
todos podemos ser solidários e
que a civilização da solidarieda-
de pode salvar a vida sobre o
planeta.
PP: Quais são suas expec-
tativas após a visita do presi-
dente da República Luiz
Inácio Lula da Silva a uma
cozinha comunitária?
PF: O próprio presidente
disse que é um projeto que ser-
ve de modelo para o país inteiro
dado a seriedade. Além de ser
viável, de baixo custo e de gran-
de alcance. Não é só o fato de
acabar com a fome e proporci-
onar um prato de comida dig-
no, mas é o despertar da solida-
riedade no coração de muitas
pessoas.PresidenteLulaconside-
ra uma esperança pra nação este
projeto. Ele se comprometeu a
enviar o mais breve possível o
ministro da Segurança Alimen-
tar Nacional,José Graziano, para
conhecer pessoalmente e aplicá-
lo em todo o país. A visita de
Lula em nossas cozinhas deu a
certeza que o governo federal
valoriza esta iniciativa. E de ou-
tro lado, todas as pessoas que
colaboram, que vestem a cami-
sa da solidariedade. É uma for-
ma do presidente mostrar sua
gratidão, porque sozinho não
faço nada.
PP: É possível que ações
como as cozinhas comunitá-
rias possam crescer dentro da
sociedade independente da
Igreja Católica?
PF: Acho que a solidarieda-
de não tem cor, nem credo e
nem raça, a solidariedade é um
direito de ser. Tanto que nas nos-
sas cozinhas comunitárias temos
crianças de diversas igrejas e os
voluntários que nos ajudam não
sãosomentecatólicos. Nestesen-
tido, todo cidadão que tem cons-
ciência da dignidade humana,
deve ajudar. E se todas as igrejas
que se dizem cristãs tiverem o
mínimo de consciência do que é
ser cristão de verdade, então to-
dos temos não só o direito mas
também o dever de vestir a ca-
misa da solidariedade.
PP: O que gera a fome?
PF: A fome tem diversas
origens, e neste sentido estamos
nos propondo não só a comba-
ter a falta de comida, mas tam-
bém as raízes da miséria. Temos
que lutar por uma política de
geração de emprego e de renda
em que toda pessoa tenha direi-
to ao trabalho. Isto dignifica o
homem e a mulher. Então temos
que atacar as raízes da fome e
uma delas é a concentração de
terras nas mãos de poucos, fa-
zendo com que as periferias das
cidades cresçam. Sendo assim, a
terra tem que ser melhor repar-
tida para ser produtiva. Outra
raiz da pobreza é a falta de uma
política séria de distribuição de
renda. Nós temos políticos que
são remunerados de uma forma
vergonhosa. Às vezes as pessoas
queexercemcargospolíticosnão
entendem nada de política, en-
tendem da sua ganância, mas não
da sua missão. São analfabetos
neste sentido. Temos concentra-
ção de riqueza nas mãos de pou-
cos. E isto agrava mais a miséria.
Por exemplo, a dita maior po-
tência do mundo, os Estados
Unidos, desrespeitam as leis in-
ternacionais e agridem de uma
forma brutal o ecossistema.
PP: Quais são os projetos
da fundação Pauli-Madi para
este ano?
PF: O nosso projeto é zerar
a fome. O que será uma vitória
para toda a cidade, para todas
as pessoas físicas e jurídicas que
colaboraram. E talvez poder di-
Cris Serpa / Lilian Antunes
Foto:NaiaraFachini
Padre Facchini acompanha o almoço das crianças.
Primeira Pauta
Joinville/SC, 11 de abril de 2003
11
Cozinhas
Michelle Bindemann / Fabiane Pickusch
zer que entre as grandes cidades,
Joinville foi a primeira a
combatê-la. Então uma das nos-
sas pretensões e que ao mesmo
tempo é um dever cristão é che-
garmos rapidamente a essa vi-
tória porque a fome tem pressa.
Outra perspectiva nossa é am-
pliar o projeto Cidadão do Fu-
turo, que até o momento está
sendo realizado só aqui na fun-
dação em torno dos adolescen-
tes. Assim como para as crian-
ças, as cozinhas comunitárias se
tornam uma proibição delas pas-
sarem fome; o projeto Cidadão
do Futuro é uma forma de tirar
os adolescentes da rua. Eles vêm
aqui na fundação onde encon-
tram uma professora de espor-
tes, teatro, informática, um agrô-
nomo voluntário que ensina a
plantar a horta. Esse é nosso de-
sejo que está se cumprido atra-
vés do protocolo que assinamos
com o Ministério dos Despor-
tos do Brasil, com a Fundação
Catarinense de Desportos, com
o governo Estadual e com o
próprio prefeito e a Fundação
Municipal de Desportos. Para
levar este projeto, ou pelo me-
nos uma parte dele, que é o es-
porte, para todas as fundações.
Eu acho que houve um com-
prometimento sensível da parte
do governo Federal, Estadual e
Municipal, e nós nos alegramos
por essa sensibilidade nova que
hoje está surgindo e se manifes-
tando em favor de um outro
Brasil. Temos que reinventar o
Brasil, e olharmos para outros
quinhentosanos,poisosquepas-
Você tem fome de quê?
saram foram de muita escravi-
dão, exclusão social, muita dor,
fome, desemprego, falta de con-
dições de saúde e de moradia.
Nós acreditamos e sonhamos
com um outro Brasil, com ou-
trosquinhentosanos. Onde, com
o poder estabelecido, junto com
o governo Federal, Estadual e
Municipal, todos nós brasilei-
ros seremos chamados a so-
A realidade regional em relação
à fome e a criminalidade
“Severino, retirante, pois
não sei o que lhe conte;
sempre que cruzo este rio
costumo tomar a ponte;
quanto ao vazio
do estômago,
se cruza quando se come.
Sei que a miséria é mar
largo, não é como
qualquer poço:
Mas sei que para cruzá-la
vale bem qualquer
esforço”
(João Cabral de Melo Neto
– Morte e vida Severina)
A fome e a criminalidade estão
relacionadas com a pobreza e má dis-
tribuição de renda. A alta taxa de pes-
soas desempregadas, as desestrutu-
rações familiares e escolares são fato-
res importantes que contribuem para
o crescimento do crime nos centros
urbanos. Crianças carentes de comi-
da, afeto e jovens lançados no merca-
do de trabalho, são agredidos que,
mais cedo ou mais tarde, viram o
agressor. A repressão e as prisões
superlotadas são os meios utilizados
contra as causas da fome e da miséria.
Para o delegado Marco Aurélio
Marcucci,da2a
DelegaciaRegionalde
Joinville, a questão da fome “não
tem uma relação direta com o mun-
do do crime”. Segundo ele, o núme-
ro de pessoas que entram no crime
para saciá-la é quase que inexistente:
“O grande problema está no tráfico
de drogas.”.
Já para a socióloga Valdete D.
Niehues a criminalidade está, sem
dúvidas, diretamente ligada à fome.
“A miséria, no que se inclui a fome,
desencadeia em uma série de ques-
tões que levam a busca da sobrevi-
vência. Como podemos exigir uma
conduta moral das pessoas que não
tem as condições básicas como ali-
mento e abrigo? A sociedade ao ex-
cluir está contribuindo para isso”.
O sujeito apresentando estado de
extrema necessidade de se alimentar,
acaba furtando algo alheio para que
ele ou outras pessoas não morram
ou venham a sofrer lesão fisiológica
decorrente da fraqueza por falta de
alimento. Cometendo então, o furto.
Este ato designa-se furto famélico ou
necessitado. Segundo o delegado
Nilson Masson, da 1ª Delegacia de
Polícia, “o único procedimento que
pode livrar o individuo da pena, é
comprovando que cometeu o furto
por encontrar-se em estado de com-
pleta penúria”.
De forma que a mera alegação de
obstáculos de ordem financeira,
como, por exemplo, o desemprego,
não é suficiente para que a causa seja
excludente. “Imagine se todos os de-
sempregados começassem a roubar”,
comenta o delegado Marco Aurélio
da 2a
Delegacia Regional de Joinville.
Conseg
O Conselho Comunitário de Se-
gurança (Conseg) é um projeto go-
vernamental que abrange todo o es-
tado de Santa Catarina. Em Joinville,
há 13 conselhos atuantes em toda a
cidade. A função do conselho é reu-
nir a comunidade, assim como enti-
dades policiais para analisar as ques-
tões da segurança. Em seguida, to-
mar providências em relação aos pro-
blemas encontrados nos bairros.
Realizando trabalhos na área so-
cial, o Conseg do bairro Boa Vista de
Joinville, criou a Casa da Cidadania e
fez parcerias com a Fundição Tupye
com a empresa de recursos humanos
RH Brasil., que oferecem aos jovens
da comunidade, cursos profissiona-
lizantes como informática, mecânica
de bicicleta, carpinteiro, pedreiro en-
tre outros.
Os cursos são ministrados nas
dependências da própria Tupy e tam-
bém da Sociesc. De acordo Vicente
Aparecido Rodrigues, presidente do
Conseg do bairro Boa Vista,, “a par-
ceria já proporcionou a muitos ado-
lescentes que passaram pelos cursos
a entrada no mercado de trabalho”.
Tráfico
Entrar para o tráfico é a forma
que pessoas em condições de vida
precárias encontram para dar outro
rumo a vida que levam. “A quanti-
dade de pessoas envolvidas em casos
ligados com a droga é o que aumenta
de forma incontrolável. A maioria das
pessoas que entram para o tráfico de
drogas são adolescentes que não ti-
veram uma boa base familiar e esco-
lar”, informa o delegado Nilson
Masson.
A socióloga Valdete D. Niehues
diz que, “o tráfico de drogas é um
mercado paralelo para a sobrevivên-
cia. É como uma empresa, onde tem
os donos da rede da empresa e o pro-
letariado que são os desempregados,
estes buscam sobrevivência e levam
o tráfico como um trabalho”.
A desestruturação familiar e es-
colar são causas fundamentais para o
crescimento da criminalidade. A es-
cola está perdendo seu real sentido,
como formadora moral, gerando se-
res humanos sensibilizados em bus-
ca do desenvolvimento da inteligên-
cia. Segundo Valmor Zeferino, inte-
grante do Conselho Comunitário de
Segurança, Conseg do Bairro
Petrópolis, a maior preocupação do
grupo está na educação infantil. Para
ele, hoje, é o grande problema da
questão da criminalidade enfrentado
em Joinville. As escolas infantis, só
cuidam das crianças sem o intuito de
educar. Muitas dessas escolinhas, sem
preparo algum, contribuem para que
as crianças cresçam sem orientação.
Isso sem falar nos investimentos da
áreaeducacionalinfantilqueépratica-
mente nula. Zeferino acredita no po-
der do conselho de segurança e afir-
ma: “Já obtivemos bons resultados
no bairro. Realizamos reuniões men-
salmente para discutir os problemas
enfrentados pelo bairro para que
melhorias sejam feitas”.
Ëilógicoexigirumcomportamen-
to civilizado aos órfãos da dignidade
humana.Nafaltadafamília,ascrianças
crescemsemreferenciaismorais.
Exclusãosocial,violência,desem-
prego, uso de drogas, falta de segu-
rançapúblicasãoelementosquecom-
põem cada vez mais a sociedade em
que vivemos. A fome não é somen-
te física.
mar, a dar nossa parcela de
contribuição, reinventando en-
tão esse país novo, este novo
Brasil para todos.
PP: Os planos das cozi-
nhascomunitáriassãoperma-
nentes?
PF: Os planos na sua forma
de proposta alimentar no mo-
mento, são permanentes, o fei-
jão, o frango, o arroz e o macar-
rão não podem faltar. E sempre
que pudermos, um pouco de
legumes e algumas verduras.
Nós pensamos que as cozinhas
comunitárias não devem ter uma
vida longa, elas devem ter uma
vida mais curta possível para que
logo surja uma política de gera-
ção de emprego e de renda. E
também a possibilidade de to-
“... se morrer de
fome é a maior mi-
séria humana, dei-
xar alguém morrer
de fome é a maior
miséria espiritual...”
dos os pais de família, os jovens
que já podem trabalhar, ter uma
oportunidade de trabalho, uma
oportunidade de emprego com
um salário justo e com isso não
precisarem mais de uma cozinha
coletiva, mas terem o seu pró-
prio sustento com liberdade, dig-
nidade e cidadania.
PP: Que mensagem o se-
nhor deixaria ao povo brasi-
leiro?
PF: A esperança de que é
possíveldiasmelhores.Aosmeus
irmãos padres e pastores, res-
ponsáveis pela propagação da
proposta de Jesus, eu digo que
se morrer de fome é a maior
miséria humana, deixar alguém
morrer de fome é a maior misé-
ria espiritual.
Joinville/SC, 11 de abril de 2003
Primeira Pauta12
Nutrição
Elair Rank, voluntária do Projeto Cozinhas Comunitárias
pretende mapear casos de subnutrição
Antes de criar a Fundação
Pauli Madi e coordenar o proje-
to Cozinhas Comunitárias, o Pa-
dre Luiz Facchini servia um
“sopão” à população carente da
comunidade da zona sul de
Joinville. Era o início de um tra-
balho que ganhou corpo e o
voluntariado de dezenas de pes-
soas. A nutricionista Elair Rank é
a mais nova voluntária deste pro-
jeto que deixou de ser “sopão”
para combater também com
fundamentos teóricos a
subnutrição em Joinville.
Elair ainda não teve tempo
para verificar a situação nutrici-
FOME OCULTA
O vazio da barriga cheia
Nutricionistadestacaaimportânciadaalimentação
balanceadanocombateàdesnutrição
O termo fome sugere estôma-
go vazio e remete a pessoas sem
o mínimo necessário para viver
com saúde. Porém, será que po-
demos afirmar que “estômago
cheio” é sinônimo de saúde? Se-
gundo a nutricionista Michelli
Negerbom “há diferença entre
uma barriga cheia e uma barriga
bem nutrida”.
A barriga cheia pode estar
farta de qualquer tipo de alimen-
to, desde um saboroso lanche
acompanhado de uma maravi-
lhosa porção de batatas fritas e
um gigantesco refrigerante, até
umsingelopratodepirãod’água.
Já a barriga bem nutrida poderá
até não passar a sensação de que
vocêvai‘explodir’masestarácom
a quantidade de vitaminas, nutri-
entes, carboidratos, gorduras e
lipídiosnecessáriosparaumavida
saudável.
A fome oculta, ou seja, a fal-
ta de alimentos nutritivos pode
ser saciada com pratos bastante
simples e baratos, como um doce
de casca de bananas ou quem
sabe um assado das sobras do
jantar, como sugere Michelli
Negerbom. Esta é uma alterna-
tiva ao comum prato ‘requenta-
do’.
O que leva as pessoas a re-
quentar em vez de ‘recriar’ um
prato? Simplesmente a falta de
conhecimento. Não é comum
saber como se faz um doce das
cascas da banana ou como sa-
boroso assado com as sobras de
uma refeição. Essa falta de co-
nhecimento leva as pessoas a
acreditarem que tudo o que so-
bra é ‘resto’, e lugar de resto é
no lixo!
Atualmente, vive-se num
mundo sedentário onde não é
necessário fazer grande esforço
nem mesmo para ir ao supermer-
cado. Basta clicar em algum ícone
na tela de seu computador, e
pronto! Alguém bate à porta
com as suas compras. Como se
isto não bastasse, os exercícios
físicos parecem coisa do passa-
do. Se o objetivo é emagrecer,
pode-se muito bem fazer uma
cirurgia e retirar um pedaço do
estômago e depois uma plástica
para eliminar a flacidez. Enfim,
médicos e tecnologia estão aí
para alimentar o sedentarismo.
A saúde pode sobreviver sem
a tecnologia e os caros tratamen-
tos médicos. Para isso é preciso
apenas saber que se alimentar
bem não é apenas encher a bar-
riga, mas equilibrar os nutrien-
tes necessários para o organismo.
onal das crianças atendidas pelo
projeto, mas já percebeu a difi-
culdade de poder contar com
frutas e verduras diariamente.
“São produtos que perecem fa-
cilmente, por isso não podemos
estocar”. A mudança vai ser len-
ta, porque o dinheiro é pouco,
diz a nutricionista que acrescen-
tou almôndegas, quibe, ovos fri-
tos, bolinhos de arroz e polenta
para enriquecer o cardápio. “An-
tes o cardápio era restrito a arroz,
feijão, massa e frango”, enfatiza.
Elair visita o projeto uma vez
por semana. E já trabalha na ela-
boração de um plano de ações
Projeto Cozinhas Comunitárias
agora conta com nutricionista
Vanessa MatosJura Arruda
para analisar a real condição das
crianças. “Nós vamos analisar
idade, peso e altura, e a partir daí,
elaborar cardápios especiais para
as crianças subnutridas”. A pre-
ocupação da nova voluntária é
com relação aos menores de 5
anos. Segundo ela, as crianças até
essa idade sofrem mais com a
desnutrição. A deficiência na ali-
mentação vai gerar problemas de
memória e raciocínio mais tar-
de. “É um trabalho demorado,
mas pretendo fazê-lo com de-
dicação e dar uma atenção espe-
cial aos casos mais críticos”, fi-
naliza a nutricionista.
Fome pode ser combatida com alimentos pouco nutritivos, mas subnutrição não
Matar a fome não garante vida saudável
Durante sua campanha para
presidente, em 2002, Luiz Inácio
Lula da Silva discursou sobre a
existência de 40 milhões de fa-
mintos no Brasil. O então presi-
dente, Fernando Henrique Car-
doso, em entrevista à TV BBC
de Londres contestou: “Há ca-
sos raros de fome no Brasil. O
que há é subnutrição”. Você sabe
qual é a diferença?
Para o jornalista Bernardo
Kucinski uma coisa é conseqü-
ência da outra. Segundo ele, não
é possível haver desnutrição sem
haver fome. “A desnutrição é um
dos principais efeitos da fome, e
de uma fome crônica. É preciso
passar fome durante meses, anos,
para se tornar um subnutrido”
diz o jornalista.
Entretanto, ao olharmos sob
outro ângulo, mais técnico, per-
ceberemos que a fome pode ser
combatida e mesmo assim, a
subnutrição pode não ser evita-
da. É o que argumenta Elair
Rank, nutricionista voluntária do
Projeto Cozinhas Comunitárias
da Fundação Pauli Madi, de
Joinville. Elair afirma: “Se você
está com fome e come pão, a
fome passa, mas você não fica
bem nutrido, porque não comple-
tou a necessidade de nutrientes”.
Eliminar a sensação de fome
com alimentos pouco nutritivos
pode gerar o que é conhecido
como Fome Oculta. Isso acon-
tece com freqüência, até mesmo
entre as classes mais altas. No
Nordeste, onde, em muitos ca-
sos a alimentação básica não pas-
sa de uma mistura de farinha e
água, a situação é mais grave.
Essa mistura incha no estômago
e a pessoa sente-se satisfeita, mas
o organismo não recebe as vita-
minas e minerais necessários.
Daí conclui-se que Fernando
Henrique Cardoso não errou ao
dizer que há menos casos de
fome e mais de subnutrição no
país; porém, sua dialética não foi
suficiente para encobrir outro
problema: Se não há tantos fa-
mintos, há a má alimentação de
milhões de brasileiros.
Kucinski chama a declaração
de FHC de falácia. Para ele, hou-
ve uma tentativa de encobrir a
realidade. O jornalista Cláudio
Cerri e a assessora do ministro
José Graziano, Ana Cláudia San-
tos, relembram o caso do livro
Geografia da Fome lançado pelo
médico e geógrafo Josué de Cas-
tro em 1946. “Ele sofreu pres-
sões para que o título fosse subs-
tituído por outro mais ameno
(...) Não aceitou, e Geografia da
Fome tornou-se um marco no es-
tudo da pobreza brasileira e uma
denúncia referencial de suas cau-
sas estruturais”.
À parte os eufemismos de
discursos, é preponderante que
a subnutrição seja combatida
com tanto entusiasmo quanto a
fome. Neste ponto, a Fundação
Pauli Madi deu um importante
passo ao lançar mão do traba-
lho da nutricionista Elair Rank, e
assim poder equilibrar o cardá-
pio para proporcionar mais do
que pratos cheios, refeições nu-
tritivas. (JA)
Dicas de uma boa alimentação
Determinar horários para cada refeição.
Diminuir o volume e aumentar o número de refeições, no mínimo três
e no máximo seis refeições ao dia.
Substituir alimentos fritos e empanados por alimentos grelhados, assa-
dos e cozidos.
Aumentar o consumo de frutas e verduras nas refeições.
Não pule as refeições, isso poderá fazê-lo comer muito na próxima
refeição.
Consumir, no mínimo, dois litros de água ou suco por dia, o que equi-
vale a oito copos de requeijão entre as refeições.
Utilize o sal com moderação.
Prefira doces mais nutritivos como bolos, compotas de frutas em vez
de doces artificiais, balas, gomas de mascar e chocolates.
Procure comer alimentos ricos em fibras (arroz integral, cereais, aveia,
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Fome cresce em Joinville com 23 focos identificados

  • 1. Edição nº 28 Joinville, SC 11 de abril de 2003 Fome cresce em Joinville Crescimento da pobreza gera 23 focos de fome na maior cidade de Santa Catarina DESEMPREGO AGRAVA A FOME EM JOINVILLE Página 9 PESSOAS FOGEM DA FOME E AGRIDEM O MANGUE Foto:AndressaPereira Contraste: Enquanto alguns aprimoram conhecimento, outros lutam pela sobrevivência Página 8 “FOME OCULTA”: ELA ENGANA E DEBILITA Página 12Páginas 10 e 11 PADRE FACCHINI FALA DAS COZINHAS COMUNITÁRIAS Números extra-oficiais da Fundação Pauli Madi demonstram o avanço do problema da fome na maior cidade de Santa Catarina. Hoje existem 23 focos de fome em Joinville, quase o dobro dos doze focos existentes em 1995. Os pontos mais críticos da cidade estão situados na zona sul, conforme levantamento da Fundação Pauli-Madi. Páginas 6 e 7 O aumento do desemprego no Brasil tem tornado cada vez mais di- fícil a alimentação da família brasilei- ra. As agências de emprego ajudam na busca do desempregado por uma condição de vida mais digna. Nem sempre o estômago cheio representa uma boa alimentação. A nutricionista Michelli Negerbom fala da necessidade de uma alimen- tação balanceada no combate a fome. Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social - Jornalismo - Turma 5º Fase A/2003
  • 2. Joinville/SC, 11 de abril de 2003 Primeira Pauta2 Opinião EDITORIAL EXPEDIENTE Jornal Laboratório do Curso de Comunicação Social – Jornalismo – do Instituto Superior e Cen- tro Educacional Luterano Bom Jesus/IELUSC. Edição nº 28, 11 de abril de 2003. www.ielusc.br Diretor Geral: P. Dr. Tito L. Lermen Diretor do Curso: Edelberto Behs Professor Responsável: Samuel Pantoja Lima DRT-SC 00383-JP Juciano de S. Lacerda DRT-PB 1.177 Editor: Diego Luis Zucolotto Editores de texto: Camila Morales Paula Rodrigues Reportagens: Cleide de Carvalho Fábio da Silva Patrícia de Azevedo Marlon de Souza Fernanda Ourique Salvador Neto Lenise Faraj Manoel Schlindwein Carolina Spricigo Cris Serpa Lilian Antunes Michelle Bindemann Naiara Fachini Fabiane Pickusch Jura Arruda Vanessa Matos Valter Bustos Michele Camacho Fotografia: Letícia Corioletti Andressa Pereira Diagramação: Jura Arruda Contato com a redação: Curso de Comunicação Soci- al – Jornalismo. Rua: Alexan- dre Dohler, 56, Centro, 89201- 260, Joinville – SC. Tel.: (47) 433-0155. primeirapauta@ielusc.br Uma cruzada contra a fome Fome. Eis um assunto difícil para discutir. Mas aceitamos o desafio. Como explorar melhor este tema, tão comentado nos dias de hoje? Para não generalizar- mos o tópico escolhido, se- ria necessário basear nossas pesquisas no meio onde vi- vemos: a cidade de Joinville. Encontrar dados sobre a fome não é tarefa fácil. Eles não estão em livros. Foram dias de trabalho cansativo. Muitas vezes, estressante, enfim, conseguimos! Fazer um mapa da fome em nossa cidade exige jogo de cintura. A precariedade ou falta de dados oficiais dificulta bastante a tarefa. Conhecer pessoas que se de- dicam diariamente a realizar trabalhos voluntários, por exemplo, é algo comovente. Ver o rosto de uma criança saudável, bem nutrida, nos enche de alegria. Mas a apa- rência do flagelo da fome não se mostra agradável aos nos- sos olhos. A população joinvilense está cada vez mais atenta a esta dificuldade que atinge 46% de nossa cidade. E nós? Não vemos este problema? Ou fingimos não vê-lo? Com- bater este mal é praticar cida- dania. A fome não escolhe data e nem hora para chegar. Bate na porta de nossa casa, no olhar faminto de uma mãe com três crianças pequenas, e que clama por um simples pedaço de pão. Esta realida- de choca, mas acaba ignora- da e incompreendida por mui- tos. Joinville começa a abrir os olhos para a gravidade des- ta situação. O momento em que vive- mos é propício para discutir- mos a fome. O programa “Fome Zero” do Governo Fe- deral surge como uma tenta- tiva ao combate do problema. Não convém debater aqui se a solução é mesmo esta. Mas as iniciativas que o “Fome Zero” instiga em diversos can- tos do país, já o credencia como um projeto de grande valia. Existem diversos pro- gramas de combate a fome (e não se restringem apenas a ela) aqui em Joinville. Mas, in- felizmente, permanecem anô- nimos diante da falta de aju- da e divulgação. Outros se sobressaem. Como é o caso das Cozinhas Comunitárias, da Fundação Pauli-Madi. Hoje são 23 espalhadas pela cidade e, nos próximos meses, estenúmerodevesubirpara28 e atender cerca de três mil pes- soas em nosso município. Ainda há espaço para muito mais. Toda ajuda é bem vinda quando o assun- to é o bem-estar do próxi- mo, seja ele uma criança ou um idoso. Em tempos de guerra como o que vivemos atualmente, façamos nossa batalha justa, contra a fome em nossa cidade. Com um pouco da ajuda de cada um, a vitória nesta cruzada pela vida, é certa. Diego Luis Zucolotto Editor Manuel Bandeira Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os d e t r i t o s . Quando achava alguma coisa, Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão, Não era um gato, Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. O bicho
  • 3. Primeira Pauta Joinville/SC, 11 de abril de 2003 3 Cleide de Carvalho e Fábio da Silva Programa Fome Zero chega a Joinville Comissão discute diretrizes para a implantação do programa na cidade; a comunidade será chamada a participar O maior projeto social do governo de Luis Inácio Lula da Silva (PT), o Fome Zero, já esta sendo implantado em Joinville. No dia 9 de dezembro de 2002, aconteceu na câmara de verea- dores, a apresentação do proje- to “Fome Zero - Política de Se- gurança Alimentar para o Bra- sil”. Estavam presentes no even- to, representantes de várias enti- dades da cidade. Após a apre- sentação das principais diretrizes do programa de segurança ali- mentar, foi nomeado um con- selho para dar inicio ao proces- so de implantação do projeto em Joinville. O conselho é cons- tituído pela Secretária do Bem Estar Social (SBES), Clube de di- rigentes lojistas Jovem, Igreja Ca- tólica, Capela da Benção, Movi- mento de Mulheres do Bairro Boa Vista e assessores dos vere- adores e deputados do PT de Joinville. O conselho traçou as primei- ras linhas de implantação do Fome Zero em Joinville com o objetivo de possibilitar as enti- dades participantes, agregar no- vos parceiros e novas sugestões ao projeto. E também pretende marcar uma reunião ampliada ainda no mês de março para dis- cutir a proposta de um regimen- to interno que organize as ações da futura “Comissão Munici- pal do Projeto Fome Zero de Joinville”. Algumas sugestões já têm o aval da maioria das enti- dades participantes do projeto, como a divisão da comissão em subcomissões, para dar maior agilidade nas atividades e a necessidade de obter um es- paço na cidade (galpão, gara- gem, etc...) para centralizar as doações e facilitar a logística de distribuição. A comissão irá realizar um amplo trabalho de conscientiza- ção com a comunidade joinvi- lense para que haja uma unifica- ção dos cadastros de pessoas ca- rentes do município. Esta centra- lização ficaria a cargo da SBES, onde a segurança das informa- ções tornaria o processo de do- ações mais transparente. A pre- feitura de Joinville será chamada para debater a possibilidade de uma contrapartida por parte do governo municipal. A futura co- missão pretende ampliar a parti- cipação para outras entidades do município, principalmente as mais tradicionais como o Clube de Dirigentes Lojistas (CDL), Asso- ciação Comercial e Industrial de Joinville (ACIJ), Associação Joinvillense da pequena e média empresa (Ajorpeme) e outras. Estas primeiras sugestões es- tão embasadas nas linhas gerais de implantação do projeto Fome Zero determinadas pelo Ministério de Segurança Alimen- tar. O projeto foi lançado em 16 de outubro de 2001, dia mundi- al da alimentação, como uma ini- ciativa de domínio público e suprapartidário. A elaboração do projeto de combate à fome no Brasil teve a participação de va- rias ONGS, movimentos sociais e especialistas no tema em diver- sos seminários e debates realiza- dos ao longo do ano de 2001. A idéia da segurança alimentar não é promover o assistencialismo, mas quebrar o círculo vicioso da fome composto de um lado pelo desemprego e concentração de renda que geram a queda no con- sumo de alimentos, e de outro lado, pela renda reprimida no campo e a falta de políticas agrí- colas que causam o êxodo rural e a queda na oferta de alimentos. A política de segurança ali- mentar deve estar associada a estratégias de desenvolvimento econômico, as cidades devem estar atentas na elaboração de seus planos plurianuais para pro- jetos que possam gerar mais em- pregos e absorver a mão de obra excluída pelo mercado. O custo da alimentação deve baixar e Fome zero A idéia da segurança alimentar não é promover o assistencialismo, mas quebrar o círculo vicioso da fome para isso a política de restauran- tes populares, cozinhas comuni- tárias, convênios com supermer- cados e cooperativas de consu- mo devem ser prioridades nos planejamentos municipais. A con- trapartida do governo federal será dada no aumento da oferta de alimentos básicos, apoio à agricultura familiar, venda esco- lar e combate a desnutrição ma- terno-infantil. Os municípios têm tarefa es- pecial no combate a fome pela proximidade do problema e possibilidade de ações mais efi- cientes. É facultada aos municí- pios a criação de secretarias e/ ou órgãos específicos para a im- plantação e gerência do projeto levando em consideração a sua realidade regional. Fazer um raio- x do problema da fome na ci- dade deve ser o primeiro passo para ordenar os trabalhos de for- ma a atingir a raiz do problema. O governo federal pretende redirecionar verbas do orçamen- to da união para gastos sociais, não permitir o remanejamento dos gastos sociais para outros fins e utilizar também recursos do fundo de combate à pobreza para financiar as ações do pro- grama. O projeto foi lançado em 16 de outubro de 2001, dia mundial da alimentação Promover a parceria e a soli- dariedade. Estas são as principais metas da ADS - Agência de De- senvolvimento Solidário. Criada em dezembro de 1999, a ADS é uma organização da CUT - Cen- tral Única dos Trabalhadores - que trabalha com a Economia Solidária. Ela surgiu como uma nova forma de organizar a pro- dução e reprodução do traba- lho, diferentemente do sistema capitalista vigente. A Economia Solidária busca promover o de- senvolvimento do comércio a preços justos, tentando fazer com que os benefícios do desenvol- vimento produtivo sejam repar- tidos de forma justa entre os gru- pos participantes. A ADS, entretanto, trabalha com a elaboração de políticas públicas para o desenvolvimen- to da economia solidária, asses- sorando prefeituras e criando ações voltadas para reformas políticas, sociais e estruturais. Pos- sui oito escritórios regionais es- palhados pelo Brasil. Um desses escritórios abrange os estados de Santa Catarina e Paraná. Nessa região, são realizados trabalhos como o desenvolvimento da maricultura em todo o litoral catarinense, cooperativas de cré- dito para pequenos produtores na região da cidade de Chapecó e o apoio ao trabalho de reciclagem no Paraná. Segundo o sr. Valmor João Umbelino, assessor do escritório da ADS da região, foi muito di- fícil trabalhar com a maricultura no estado. A pesca do marisco é uma produção familiar e artesanal que possui uma cultura individualista e dependente de cli- entes. Porém após dois anos de trabalho que resultaram em melhorias para todos os partici- pantes, os maricultores identifi- cam parceiros na ADS. Para a região de Joinville, não há um programa específico de Econo- mia Solidária ainda. No entanto, existem ações que apóiam e aju- dam certos trabalhos cooperati- vos existentes na região. Quanto à questão da fome, sindicatos, igrejas, bancários e outras organizações pautaram o programa Economia Solidária dentro do programa de gover- no “Fome Zero”. Para Umbelino, todos sabem que não adianta ficar somente distribuin- do bônus e dinheiro. “Um dia isto se acaba”, afirma. “São ne- cessárias ações voltadas para re- formas que modifiquem as es- truturas políticas e sociais que já existem”, complementa. Agência de desenvolvimento propõe alternativas de comércio Fernanda Ourique
  • 4. Patrícia de Azevedo “O nosso lixo é um luxo” Padre Carlos desenvolve o projeto “Lixo é Luxo” no Jardim Paraíso e acredita na conscientização da população O projeto “Lixo é Luxo” teve início em março de 2002, quando o padre Carlos Alberto Pinto da Sil- va resolve voltar para o Bra- sil e assume a região pasto- ral na Comunidade São Do- mingos de Sávio, no bairro Jardim Paraíso. Nesse proje- to os moradores trabalham voluntariamente fazendo a coleta e a separação do lixo tanto nas ruas como em suas 4 Primeira Joinville/SC, 11 d casas. Todo material coleta- do é entregue para os mais de dez catadores que resi- dem no local. Do dinheiro arrecadado na venda do material, 50% é revertido para a igreja. Padre Carlos deu início ao seu projeto fazendo um diagnóstico do bairro, “an- dava todo dia de bicicleta e conversava com os morado- res para descobrir suas ne- cessidades. Assim fomos mudando a imagem do bair- ro”. Ele começou esta cam- panha visando diferenciar pobre e pobreza: “A gente pode ser pobre, mas não precisa viver na pobreza, a exemplo de Jesus”. O projeto ganhou o nome de “Lixo é Luxo”, pois segundo o padre, “se tem muito lixo é sinal de que tem muito desperdício”. Para o missionário, o lixo só permanecerá um problema se não receber um tratamen- to adequado. A moradora Maria dos Santos Aquino acredita no trabalho do padre e conta com orgulho: “fazemos um mutirão de limpeza todo se- gundo sábado do mês, as- sim ajudamos o Paraíso fi- car mais limpo”. Com aproximadamente vintemilhabitantes,oJardim Paraíso é um dos bairros Lixo “Nós faremos uma árvore de garrafas (...) e vamos colocar lixeiras nos pontos de ônibus” A reciclagem do lixo no combate à fome Foto:LetíciaCorioletti mais pobres de Joinville. Pa- dre Carlos revela: “Foi e ain- da é difícil conscientizar a população. Ela não toma ini- ciativa. Acha que é assim mesmo e não faz nada para mudar”. Para ajudar nesse proces- so de conscientização da população, padre Carlos vai além. “Nós faremos uma ár- vore de garrafas plásticas na entrada do bairro e vamos colocar lixeiras nos pontos de ônibus para ajudar, mo- tivar e conscientizar a popu- lação docal. Tudo isso com material reciclado é claro”. As mil crianças da catequese também partici- pam do projeto. Padre Carlos explica: “É uma via de mão dupla. Elas nos aju- dam catando o lixo, e nós ensinamos a elas o valor. Lixotambémédinheiro,mas nossa parte é mais de cons- cientização. O trabalho fica por conta deles, afinal, são eles os maiores beneficia- dos”. “Se tem muito lixo é sinal de que tem muito desperdício” As mil crianças da catequese também participam do projeto Receitas Alternativas A culinária alternativa é uma das aliadas no comba- te à fome oculta. A seguir duas receitas cedidas pela nutricionista Michelli Negerbom que privilegiam as sobras de alimentos. São receitas saudáveis, baratas e muito fáceis de preparar. Assado de sobras Ingredientes: Sobras de purê de batata 5 ovos mexidos 1 colher (café) de sal ½ cebola pequena Talos e folhas de verduras pi- cadas 1 colher (sopa) de óleo Modo de Preparo Faça um refogado com talos defolhas,cebola,óleoesaleacres- cente os ovos mexidos. Reserve. Unte uma forma com margarina. Coloque uma camada de purê de batata, outra com refogado e por último, outra camada de purê. Pincelecomgemadeovoeleveao forno em banho-maria para dou- rar. Rendimento: 8 porções Peso da porção: 100g Valor calórico da porção: 115,4cal Doce de cascas de banana Ingredientes: 5xícaras(chá)decascasdeba- nana nanica bem lavadas e pica- das 2 e ½ xícaras (chá) de açúcar Modo de Preparo Cozinhe as cascas, em pouca água, até amolecerem. Retire do fornoeescorra.Bataascascascom um pouco de água no liquidificador e passe por peneira grossa. Junte o açúcar e leve no- vamente ao fogo, mexendo sem- pre, até desprender do fundo da panela. Rendimento: 12 porções Peso da porção: 40 gramas Valor calórico da porção: 135,4cal
  • 5. 5ra Pauta de abril de 2003 Estatística Prefeitura participa do Comitê Fome Zero mas ainda não tem dados sobre a fome Poder Público não tem informações sobre a fome Marlon de Souza A Secretaria de Bem-Es- tar Social não tem dados ofi- ciais sobre os focos de fome de Joinville. O Comitê Fome Zero municipal é composto por representantes do gover- no e da sociedade civil or- ganizada. Segundo Iza D‘Nardo, uma das represen- tantes da Secretaria no Co- mitê, “o levantamento de onde estão as pessoas que passam fome em Joinville é complexo e a Secretaria não tem funcionários nem está informatizada para o traba- lho”. Por hipótese e averigua- ção visual o poder público mapeia os bairros onde são entregues os alimentos arre- cadados em campanhas ou doados à Secretaria. A pre- feitura da maior cidade do estado está há oito anos sob a mesma gestão, mas só ago- ra, após o início da imple- mentação do Programa Fome Zero do governo fe- deral, começa a organizar pesquisa e cadastrar famílias em situação de risco social para diagnosticar a fome no município. Iza D’Nardo afirma ain- da que várias organizações não governamentais com- põem o Comitê e atuam com a segurança alimentar. Igre- jas, Rotary Club, Fundação Pauli Madi entre outras. To- davia cada uma delas tem um cadastro próprio e uma visão particular sobre o pro- blema. Em alguns pontos contrapõem-se entre si. A Fundação Pauli Madi, por exemplo, prioriza crianças em sua atuação; já a Paróquia São Sebastião no bairro A fome que não aparece nas estatísticas O retrato dos famintos é mais grave do que consta nos documentos oficiais O Instituto Brasileiro de Ge- ografia e Estatística (IBGE) di- vulgouoficialmente,em2000que Joinville não tem favelas. O po- der público municipal usa a in- formação em seus discursos ofi- ciais. No Parque Joinville, bairro da zona leste da cidade, a reali- dade se mostra diferente. Casas construídas sobre palafitas em cima do mangue. O local não possui cozinhas comunitárias, centenas de famílias desempre- gadas sobrevivem com subempregos cuja renda mensal média é de 150 reais. Nome sugestivo para quem consegue viver em um lugar como este, é um entre tantos, Ronaldo de Deus. Enquanto conversava, fazia seu almoço do dia. A panela sobre o fogo do velho fogão era alimentado com lenha. O prato do dia: duas ba- tatas e um chuchu. Almoxarife, 35 anos, concluiu o segundo grau, desempregado há dois anos. Paraconseguirdinheiro, tra- balha informalmente, capinando terrenos e ajudando de seus vizi- nhos na coleta de papel. Braços trêmulos, há três dias estava do- ente, acreditava que era do estô- mago. “Aqui agente não pode se dá ao luxo de ficar doente, se não trabalha não come”. Faz uma re- feição diária, quando dá, três. “A gente não é coitadinho, a gente luta, comparando outras pessoas daqui, eu sou privile- giado”. Logo à frente da casa de Ronaldo de Deus, avançada sobre o mangue através de uma ponte improvisada, mora a família de Gilson de Souza, 43 anos, e sua esposa portado- ra de necessidades especiais Jucélia Tomaz, 39 anos. Gilson vende o papelão e o ferro que cata pela rua. Parte do que ga- nha, usa para comprar remé- dio para Jucélia, que vive em cadeira de rodas, o restante compra comida. “A igreja aju- da. Toda terça e quinta à noite traz sopa e pão”. São pessoas como estas que compõem o mapa da fome de Joinville. (MS) Foto:MarlondeSouza Em Joinville não há pesquisa nem cadastro de famílias em situação de risco social. Por hipótese e averiguação visual, a Prefeitura mapeia os focos de fome em Joinville Iririú, entrega cesta básica ou sopa pronta a qualquer famí- lia após constatar necessida- de através de análise sócio- econômica. O Comitê Fome Zero municipal cruza agora as in- formações de todas as enti- dades e realiza pesquisa para ter critério e um mapa da fome definido em Joinville, e assim atacar o problema.
  • 6. Joinville/SC, 11 de abril de 2003 Primeira Pauta6 Mapa Dados confirmam triste reali Em apenas sete anos os focos do problema Salvador Neto Antônio Aguiar, taxista. Com certeza existe. Em toda cida- de existe toda cidade tem favela, e onde tem favela tem gente pas- sando fome. “Sim, claro. Primeiro porque não existe trabalho. Falta traba- lho, falta comida e en- tão existe fome. Acho que há mais na perife- ria” Marcelo Correia, publicitário. “Eu acho que sim. Há desemprego... meu Deus, por tantos motivos... falta de grana, desem- prego, diferenças sociais. Mais no interior, perife- ria, bairros afastados”. Norma Vailati, universitária “Existe e muito. Porque existe muito desempre- go, muitas pessoas de- sempregadas. Mais nos bairros”. “Acho que sim. Talvez por má distribuição de renda, falta de oportunidade. Acho que é mais concen- trado na periferia”. Leoni M. Goudard, doméstica. Marcelo Bechker, estudante. ? ??Você acha que existe fome em Joinville? Os dados são extra-ofici- ais, mas demonstram o avan- ço do problema da fome na maior cidade de San- ta Catarina. Em 1995, no início do proje- to das cozinhas comunitárias da Fundação Pauli-Madi, existiam doze focos de fome nos bairros de Joinville. Passados quase oito anos, já existem vinte e três, refletindo quase o dobro de focos registrados. O presidente da Fundação, padre Luiz Facchini, revela que já há previsão de mais quatro cozinhas a serem ins- taladas este ano. As cozinhas comunitárias atendem 2600 crianças na faixa etária de zero aos quatorze anos. “Houve um crescimento vertiginoso da pobreza, pela desvalorização dos salários e o aumento do fenômeno do desemprego” afirma o padre Facchini. A Fundação presidida por ele serve uma refeição no almoço de se- gunda a sexta feira para as crianças e mães gestantes em dezoito bairros de Joinville. A manutenção do projeto é garantida principalmente pela prefeitura, algumas em- presas, e também por orga- nizações religiosas do exte- rior. Em apenas cinco anos, o governo do município ampliou em 200% a subven- ção destinada ao projeto. Os pontos mais críticos de fome na cidade estão si- tuados na zona sul (veja mapa da fome), onde se en- contram doze cozinhas (52% do total), nos bairros Jarivatuba, Paranaguamirim, Boehmerwaldt, Santa Catarina, Itinga, Fátima, Petrópolis, Adhemar Garcia e Loteamento São Benedito, em Araquari (53% do total dos bairros atingidos). Nes- tas cozinhas são atendidas 1685 crianças, o equivalente a 560 famílias aproximada- mente. A zona leste abriga seis cozinhas nos bairros Aven- tureiro, Boa Vista, Espinhei- ros, Jardim Iririú e Conjunto Zona Leste 525 crianças Zona Norte 200 crianças Zona Sul 1685 crianças Zona Oeste 190 crianças Focos de fome nos bairros 18 dos 39 bairros de Joinville possuem focos de fome. Isso representa 46% dos bairros. A geografia da fome na cidade de Joinville* 460 famílias (cerca de 1500 crianças) recebem cestas básicas para complementar a alimentação Os pontos mais críticos de fome estão situados na zona sul
  • 7. Primeira Pauta Joinville/SC, 11 de abril de 2003 7 Mapa idade da fome em Joinville quase dobraram na maior cidade do Estado “Sim. Tem muitas pessoas passan- do fome, pois existe muita pobre- za, muitas pessoas humildes, que não têm o que comer. Ganham um salário e tem 3 ou 4 filhos, então isso nem dá para comer o mês inteiro”. ? Terezinha Knopf, cozinheira. “Tem sim. Principalmente nos bairros mais carentes, por causa do desemprego”. Luciano da Silva, artesão. “Bastante, por causa que há muito desemprego. O rico tem muito e o pobre tem pouco e o rico não ajuda, acho que é por aí que começa. Muito de- semprego e o pessoal não dá chance de trabalho. Tem que ter estudo; se não tiver estudo não tem emprego. É assim que funciona”. Sandra Müller da Silva, artesã. Acho que sim. Quem chega em Joinville vê que tem bastante favela, principalmente perto da BR-101. Zadiel Muniz, representante comercial. Dom Gregório Warmeling, atendendo 525 crianças, se- guida pela zona oeste com três cozinhas (Nova Brasília, Morro do Meio) e zona nor- te com dois (Cubatão e Jar- dim Paraíso), que atendem respectivamente a 190 e 200 crianças diariamente. Dos trinta e nove bairros da cidade, dezoito convivem com o problema da fome. Quase a metade da cidade (46%) é atingida por este flagelo da sociedade moder- na. Segundo o padre Facchini, a região que mais sofre com a fome é do Paranaguamirim, onde se si- tuam as localidades do Mor- ro do Amaral, Estevão de Matos, Jardim Edilene e 2003 - 231995 - 12 + 91,66% Focos da fome Em 8 anos, praticamente dobrou os focos de fome em Joinville. 200% Investimento público Nos últimos 5 anos, o governo de Joinville triplicou o investimento nesta área. 1998 6 mil / mês 2003 18 mil / mês Outros números Hoje, 460 famílias recebem cesta bá- sica em todo o mu- nicípio. 2.600 são atingi- das pela fome, ou- tras 4.100 sofrem a fome oculta “Deve ter. Na perife- ria, no centro também. Tem um monte de mendigo por aí. A fome é um problema grave em todos os lu- gares”.Gilmar Breis, empresário Aproximada- mente 1.330 famílias são atin- gidas pela fome (incluindo-se a fome oculta) *Fonte:FundaçãoPauli-Madi Loteamento Ana Júlia. No Jardim Edilene está o maior número de crianças atendi- das: 308. A zona leste está em se- gundo lugar no mapa da fome, seguida pela zona nor- te, com os bairros Cubatão (Vigorelli) e Jardim Paraíso, onde 200 crianças são aten- didas diariamente. Mais um dado surpreen- dente é o da fome “oculta” ou “escondida”. O fenôme- no acontece nas famílias de operários que têm a maioria de seus componentes de- sempregados. Segundo a Fundação Pauli-Madi, 460 famílias (1500 crianças) são atendidas mensalmente com cestas básicas para comple- mentar a alimentação, além das que são atendidas nas cozinhas comunitárias. Exis- tem comitês de solidarieda- de compostos também de voluntários, que se reúnem e arrecadam mensalmente os alimentos junto à comunida- de. Entre as cozinhas comu- nitárias e o atendimento pe- los comitês de solidariedade, cerca de 1330 famílias neces- sitam de atenção especial na maior cidade do estado. O bairro que mais sofre com a fome é o Paranaguamirim ? ? Você acha que existe fome em Joinville?
  • 8. Joinville/SC, 11 de abril de 2003 Primeira Pauta8 Desemprego Números de pesquisa revelam a gravidade da crise na cidade Desemprego é fator crítico para o aumento da fome Colocar comida todos os dias na mesa tem se tor- nado uma tarefa cada vez mais difícil para os brasilei- ros. As últimas pesquisas divulgadas pelo DIEESE, IBGE e Procon traçam um panorama negativo na rela- ção emprego-alimentação e sinalizam agravamento des- ta crise. Alessandro Fabio do Pa- trocínio, 22anos,estádesem- pregado desde novembro do ano passado. Seu último emprego era temporário. Trabalhava como operador na linha de produção de uma fabricante de geladeiras em Joinville. O dinheiro do sa- lário era utilizado para co- brir as despesas da família. Porém, para não faltar comi- da na mesa, está comprome- tendo seu futuro. “Se ganho 300, 400 reais, não tenho como entrar num curso téc- nico que custa quase o mes- mo preço”. Todos os em- pregos anteriores que Alessandro conseguiu foram através de agências de em- prego. Uma alternativa para os desempregados é recorrer às agências de recrutamento. Elas servem de ponte entre a empresa e o empregado, ou seja, de um lado oferecem mão-de-obra para atender as necessidades do emprega- dor. De outro, apresentam oportunidades de trabalho para a população. Numa agência de Joinville, com filiais em nove estados e um banco de da- dos com mais de 400 mil currículos, a procura é gran- de. Aproximadamente 250 pessoas por dia passam pelo balcão da agência, onde são cadastradas num sistema informatizado e são orienta- das sobre as condições do mercado. Para o gerente de relaci- onamento Jonas Kruger, a falta de experiência e capacitação comprometem: “num extremo temos uma enorme quantidade de de- sempregados, de outro te- mos uma carência de mão- de-obra especializada”. Esse Lenise Faraj e Manoel Schlindwein é o principal motivo que le- vam as agências de empre- go a procurarem recursos com publicações de anúnci- os com oferta de empregos em jornais, rádio e televisão. A agência emprega apro- ximadamente 500 profissio- nais por mês. O que repre- senta que, a cada dez pesso- as interessadas, apenas uma consegue emprego. O au- mento do número de vagas seria uma solução para dimi- nuir o desemprego. De acor- do com a última pesquisa do IBGE(InstitutoBrasileirode Geografia e Estatística) so- bre emprego no país, foi o que ocorreu - embora de for- ma pouco significativa. O número de vagas em janeiro de 2003 aumentou 0,3% em relação a dezembro de 2002 e 1% em relação ao mesmo mês do ano anterior. A pes- quisa também destacou o estado de Santa Catarina, onde ocorreu omaioraumen- todonúmerodevagas,5,7%. Outro elemento para aná- lise da relação entre desem- prego e a fome é o custo da cesta básica. Seu preço au- mentou em todas as dezesseis capitais pesquisadas em fevereiro pelo Procon (Fundação de Proteção e Defesa do Con- sumidor). Em Florianópolis o aumento foi de 3,23% em relação ao mês anterior. O custo da cesta representou 80,1% do salário mínimo, descontadas as despesas com a previdência social. Na falta de emprego, uma opção encontrada para driblar a fome é o trabalho informal. José do Nascimen- to vende picolé nos dias de sol há três anos no centro de Joinville. “Quando chove vendo algodão doce”, expli- ca. Seus dois filhos, menores de idade, o ajudam no ser- viço Sua esposa é costurei- ra. Esta é a forma que encon- traram para pagarem o alu- guel da casa e outras contas. Foto:AndressaPereira Agências de empregos são alternativa para desempregado. “Num extremo te- mos uma enorme quantidade de de- sempregados, de outro temos carên- cia de mão-de- obra especializada”
  • 9. Primeira Pauta Joinville/SC, 11 de abril de 2003 9 Meio ambiente Fome gera invasão em áreas de presevação ambiental Vítimas da fome invadem mangues e áreas de risco. O desemprego, falta de educação, moradia, dinheiro, qualificação profissional são alguns dos problemas sociais com os quais a população de Joinville convive diariamente. Entretanto, a fome é um dos fatores de maior preocupa- ção, pois faz com que as pes- soas busquem para morar, áreas de preservação perma- nente, como o mangue, ou áreas de risco, ocasionando assim, a destruição do meio ambiente. Segundo o engenheiro agrônomo Nelson Wendel, “a fome gera um círculo de mi- séria, ignorância e degradação ambiental”. Ele explica que a pessoa faminta tem sua preo- cupação voltada à sobrevi- vência imediata, e nesse mo- mento, não tem condições de refletir sobre a preservação do meio ambiente. Da mesma forma, não avaliará a conve- niência de explorar o ecossistema até a exaustão se houver qualquer coisa que possa coletar para comer ou vender. O mangue é importante para o ecossistema e as áreas de risco são perigosas. Mas a falta de informação e a falta de condições financeiras fa- zem com que as pessoas mais pobres se arrisquem morando nesses lugares. Além disso, a ocupação dessas áreas traz sérias conseqüências para o meio ambiente. Exemplos dis- so são os deslizamentos de morros e a destruição dos manguezais. A assistente social Aurea Regina Del Re, da Secretaria do Bem Estar Social, afirma que aproximadamente 90% das pessoas que passam fome em Joinville vêm do Paraná, onde deixam a agricultura para procurar uma vida me- lhor. Conforme a diretora do Centro de Direitos Humanos de Joinville, Irma Kniess, a maior parte dos moradores do mangue são ex-funcionários de grandes empresas da cida- de que perderam tudo após ficarem desempregados. De acordo com as infor- mações de Nelson Wendel, se quisermos ter um futuro de- sejável para a humanidade, precisamos fazer uma transi- ção. Nessa, o crescimento – apenas um aumento da ativi- dade econômica, muitas ve- zes sem trazer reais benefíci- os para a sociedade – deve- ria ser substituído por desen- volvimento, uma evolução harmônica de toda a econo- mia, com qualidade e eleva- ção do padrão de vida, in- cluindo a preservação da natureza. Preservação Marlene Czekalski, assis- tente social da Secretaria de Habitação, afirma que não existe nenhum projeto espe- cífico para a retirada dos mo- radores das áreas de preserva- ção ambiental ou de risco. En- tretanto, as pessoas que pro- curam a secretaria são cadas- tradas e encaixadas em um dos programas de habitação existentes. Em parceria com a Caixa Econômica Federal, a secre- taria trabalha com um progra- ma de subsídio habitacional para pessoas com renda men- sal inferior a R$ 200,00. A ini- ciativa oferece uma casa em alvenaria de aproximadamen- te 27 m², com possibilidade de ser aumentada. Um inves- timento da Caixa de R$ 4.500,00 por família, que po- derá ser pago em quinze anos com prestações de R$ 55,00 mensais. A princípio, serão construídas quarenta e nove casas no bairro Jardim Iririú. Para se inscrever no progra- ma, o candidato não pode ter imóvel próprio, deve ter famí- lia constituída e residir a pelo menos três anos em Joinville. Os funcionários autônomos ou sem carteira assinada, de- vem ter uma declaração de renda de seu empregador. Em Carolina Spricigo Foto:LetíciaCorioletti Degradação do meio ambiente em Joinville fevereiro deste ano, foi feita a seleção dos inscritos e en- caminhados para a CEF onde terão seu cadastro avaliado. Programa Girassol Aurea Regina informa que as pessoas carentes recebem cestas básicas e acompanha- mento familiar das assistentes sociais da secretaria todo mês. “O problema é que o atendi- mento é apenas emergencial e muitos se acomodam com a situação”, diz ela. Questiona- da sobre a existência de algu- ma iniciativa de geração de renda para os carentes, ela fala do Programa Girassol, criado em 1997 pelo Atendimento Emergencial – Plantão – da Secretaria do Bem Estar So- cial. O programa oferece um curso onde as pessoas neces- sitadas aprendem a fazer ces- tos de jornal. Cumprindo al- guns deveres, como não ter falta ou falta justificada, ga- nham uma cesta básica men- sal e o vale transporte para comparecerem às aulas. Se- gundo Aurea Regina, os alu- nos recebem acompanha- mento de psicólogos, assis- tentes sociais e trocam ex- periências. Ao final do cur- so, ela avalia que há uma considerável melhora da auto-estima e da estrutura familiar dessas pessoas, além de prepará-las para uma vida financeira independente. O curso tem duração de qua- tro meses.
  • 10. Joinville/SC, 11 de abril de 2003 Primeira Pauta10 Entrevista Padre na guerra contra a fome O Padre Luiz Facchini luta há anos pela civilização solidária Ao completar vinte e cinco anos de sacerdócio, o padre Luiz Facchini criou a Fundação Pauli- Madi Pró-Solidariedade e Vida, no ano de 1994 em Joinville. Com o objetivo de melhorar a quali- dade de vida dos joinvilenses, a Fundação Pauli-Madi possui atu- almente três grandes projetos: Cozinhas Comunitárias, Projeto Ci- dadão do Futuro e Projeto Regime de Abrigo. Ascozinhascomunitáriassur- giram para atender crianças de famílias carentes.PadreFacchini, com ajuda de 500 voluntários e colaboradores, atende cerca de 2.600 crianças distribuídas em vinte e quatro cozinhas que es- tão localizadas nas periferias da cidade, onde fornecem diaria- mente um almoço e reforço es- colar. A viabilidade deste projeto acabou por despertar a curiosi- dade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, ao visitar Joinville, fez questão de conhe- cer as cozinhas. O presidente mencionou a possibilidade de incluir este projeto aos outros que fazem parte do programa Fome Zero. Nessa entrevista, o padre fala sobre o seu trabalho na busca de uma sociedade que el chama de “civilização da solidariedade”. Primeira Pauta: Esta luta social é um sonho do padre Facchini ou do cidadão Luiz Facchini? Padre Facchini: (Risos) Eu acho que é uma característica de Jesus Cristo e para sermos fiel à Ele dando segmento à sua pro- posta, ao seu projeto, temos que ter uma junção, uma aliança ple- na entre fé e vida. Portanto entre fé e o social, eu não posso agra- dar a Deus se eu dobro meu jo- elho diante Dele se não tiver ou- tro joelho já encebadinho para correr rumo ao próximo sofri- do, rumo a uma população que está excluída e lutar com ela por uma melhor situação de vida. Então tem que se tornar aos poucos uma característica de to- dos os cristãos que quiserem ser fiéis no segmento ao chamado de Jesus. PP: O programa Fome Zero vai criar uma nova cons- ciência política social? PF: Bem, nós acreditamos que o Fome Zero é o princípio de uma mudança maior. É o que nós sonhamos e tentamos fazer aconteceraquiemJoinville,quan- do há oito anos atrás começa- mos com este programa das cozinhas comunitárias. Visto as possibilidades que o país possui, e ao mesmo tempo a riqueza de um povo, onde existem diversas culturas numa harmonia plena. Então acreditamos que estamos lançando uma mudan- ça não só em nível nacional, mas emnívelmundial.Nósqueremos que se globalize o mais rápido possível a civilização da solidari- edade. Estamos percebendo. Basta um olhar mais profundo e atento para sentir que esta civili- zação aí, regida pelos valores neoliberais capitalistas, é autofágica, auto destrutiva, agri- de a pessoa, o ecossistema e a própria vida humana sobre o planeta. Queremos e temos es- perança que o projeto Fome Zero não só acabe com a fome dos indivíduos que estão excluí- dos de uma mesa ou de um prato de comida digno, mas que tam- bém gere esta consciência de que todos podemos ser solidários e que a civilização da solidarieda- de pode salvar a vida sobre o planeta. PP: Quais são suas expec- tativas após a visita do presi- dente da República Luiz Inácio Lula da Silva a uma cozinha comunitária? PF: O próprio presidente disse que é um projeto que ser- ve de modelo para o país inteiro dado a seriedade. Além de ser viável, de baixo custo e de gran- de alcance. Não é só o fato de acabar com a fome e proporci- onar um prato de comida dig- no, mas é o despertar da solida- riedade no coração de muitas pessoas.PresidenteLulaconside- ra uma esperança pra nação este projeto. Ele se comprometeu a enviar o mais breve possível o ministro da Segurança Alimen- tar Nacional,José Graziano, para conhecer pessoalmente e aplicá- lo em todo o país. A visita de Lula em nossas cozinhas deu a certeza que o governo federal valoriza esta iniciativa. E de ou- tro lado, todas as pessoas que colaboram, que vestem a cami- sa da solidariedade. É uma for- ma do presidente mostrar sua gratidão, porque sozinho não faço nada. PP: É possível que ações como as cozinhas comunitá- rias possam crescer dentro da sociedade independente da Igreja Católica? PF: Acho que a solidarieda- de não tem cor, nem credo e nem raça, a solidariedade é um direito de ser. Tanto que nas nos- sas cozinhas comunitárias temos crianças de diversas igrejas e os voluntários que nos ajudam não sãosomentecatólicos. Nestesen- tido, todo cidadão que tem cons- ciência da dignidade humana, deve ajudar. E se todas as igrejas que se dizem cristãs tiverem o mínimo de consciência do que é ser cristão de verdade, então to- dos temos não só o direito mas também o dever de vestir a ca- misa da solidariedade. PP: O que gera a fome? PF: A fome tem diversas origens, e neste sentido estamos nos propondo não só a comba- ter a falta de comida, mas tam- bém as raízes da miséria. Temos que lutar por uma política de geração de emprego e de renda em que toda pessoa tenha direi- to ao trabalho. Isto dignifica o homem e a mulher. Então temos que atacar as raízes da fome e uma delas é a concentração de terras nas mãos de poucos, fa- zendo com que as periferias das cidades cresçam. Sendo assim, a terra tem que ser melhor repar- tida para ser produtiva. Outra raiz da pobreza é a falta de uma política séria de distribuição de renda. Nós temos políticos que são remunerados de uma forma vergonhosa. Às vezes as pessoas queexercemcargospolíticosnão entendem nada de política, en- tendem da sua ganância, mas não da sua missão. São analfabetos neste sentido. Temos concentra- ção de riqueza nas mãos de pou- cos. E isto agrava mais a miséria. Por exemplo, a dita maior po- tência do mundo, os Estados Unidos, desrespeitam as leis in- ternacionais e agridem de uma forma brutal o ecossistema. PP: Quais são os projetos da fundação Pauli-Madi para este ano? PF: O nosso projeto é zerar a fome. O que será uma vitória para toda a cidade, para todas as pessoas físicas e jurídicas que colaboraram. E talvez poder di- Cris Serpa / Lilian Antunes Foto:NaiaraFachini Padre Facchini acompanha o almoço das crianças.
  • 11. Primeira Pauta Joinville/SC, 11 de abril de 2003 11 Cozinhas Michelle Bindemann / Fabiane Pickusch zer que entre as grandes cidades, Joinville foi a primeira a combatê-la. Então uma das nos- sas pretensões e que ao mesmo tempo é um dever cristão é che- garmos rapidamente a essa vi- tória porque a fome tem pressa. Outra perspectiva nossa é am- pliar o projeto Cidadão do Fu- turo, que até o momento está sendo realizado só aqui na fun- dação em torno dos adolescen- tes. Assim como para as crian- ças, as cozinhas comunitárias se tornam uma proibição delas pas- sarem fome; o projeto Cidadão do Futuro é uma forma de tirar os adolescentes da rua. Eles vêm aqui na fundação onde encon- tram uma professora de espor- tes, teatro, informática, um agrô- nomo voluntário que ensina a plantar a horta. Esse é nosso de- sejo que está se cumprido atra- vés do protocolo que assinamos com o Ministério dos Despor- tos do Brasil, com a Fundação Catarinense de Desportos, com o governo Estadual e com o próprio prefeito e a Fundação Municipal de Desportos. Para levar este projeto, ou pelo me- nos uma parte dele, que é o es- porte, para todas as fundações. Eu acho que houve um com- prometimento sensível da parte do governo Federal, Estadual e Municipal, e nós nos alegramos por essa sensibilidade nova que hoje está surgindo e se manifes- tando em favor de um outro Brasil. Temos que reinventar o Brasil, e olharmos para outros quinhentosanos,poisosquepas- Você tem fome de quê? saram foram de muita escravi- dão, exclusão social, muita dor, fome, desemprego, falta de con- dições de saúde e de moradia. Nós acreditamos e sonhamos com um outro Brasil, com ou- trosquinhentosanos. Onde, com o poder estabelecido, junto com o governo Federal, Estadual e Municipal, todos nós brasilei- ros seremos chamados a so- A realidade regional em relação à fome e a criminalidade “Severino, retirante, pois não sei o que lhe conte; sempre que cruzo este rio costumo tomar a ponte; quanto ao vazio do estômago, se cruza quando se come. Sei que a miséria é mar largo, não é como qualquer poço: Mas sei que para cruzá-la vale bem qualquer esforço” (João Cabral de Melo Neto – Morte e vida Severina) A fome e a criminalidade estão relacionadas com a pobreza e má dis- tribuição de renda. A alta taxa de pes- soas desempregadas, as desestrutu- rações familiares e escolares são fato- res importantes que contribuem para o crescimento do crime nos centros urbanos. Crianças carentes de comi- da, afeto e jovens lançados no merca- do de trabalho, são agredidos que, mais cedo ou mais tarde, viram o agressor. A repressão e as prisões superlotadas são os meios utilizados contra as causas da fome e da miséria. Para o delegado Marco Aurélio Marcucci,da2a DelegaciaRegionalde Joinville, a questão da fome “não tem uma relação direta com o mun- do do crime”. Segundo ele, o núme- ro de pessoas que entram no crime para saciá-la é quase que inexistente: “O grande problema está no tráfico de drogas.”. Já para a socióloga Valdete D. Niehues a criminalidade está, sem dúvidas, diretamente ligada à fome. “A miséria, no que se inclui a fome, desencadeia em uma série de ques- tões que levam a busca da sobrevi- vência. Como podemos exigir uma conduta moral das pessoas que não tem as condições básicas como ali- mento e abrigo? A sociedade ao ex- cluir está contribuindo para isso”. O sujeito apresentando estado de extrema necessidade de se alimentar, acaba furtando algo alheio para que ele ou outras pessoas não morram ou venham a sofrer lesão fisiológica decorrente da fraqueza por falta de alimento. Cometendo então, o furto. Este ato designa-se furto famélico ou necessitado. Segundo o delegado Nilson Masson, da 1ª Delegacia de Polícia, “o único procedimento que pode livrar o individuo da pena, é comprovando que cometeu o furto por encontrar-se em estado de com- pleta penúria”. De forma que a mera alegação de obstáculos de ordem financeira, como, por exemplo, o desemprego, não é suficiente para que a causa seja excludente. “Imagine se todos os de- sempregados começassem a roubar”, comenta o delegado Marco Aurélio da 2a Delegacia Regional de Joinville. Conseg O Conselho Comunitário de Se- gurança (Conseg) é um projeto go- vernamental que abrange todo o es- tado de Santa Catarina. Em Joinville, há 13 conselhos atuantes em toda a cidade. A função do conselho é reu- nir a comunidade, assim como enti- dades policiais para analisar as ques- tões da segurança. Em seguida, to- mar providências em relação aos pro- blemas encontrados nos bairros. Realizando trabalhos na área so- cial, o Conseg do bairro Boa Vista de Joinville, criou a Casa da Cidadania e fez parcerias com a Fundição Tupye com a empresa de recursos humanos RH Brasil., que oferecem aos jovens da comunidade, cursos profissiona- lizantes como informática, mecânica de bicicleta, carpinteiro, pedreiro en- tre outros. Os cursos são ministrados nas dependências da própria Tupy e tam- bém da Sociesc. De acordo Vicente Aparecido Rodrigues, presidente do Conseg do bairro Boa Vista,, “a par- ceria já proporcionou a muitos ado- lescentes que passaram pelos cursos a entrada no mercado de trabalho”. Tráfico Entrar para o tráfico é a forma que pessoas em condições de vida precárias encontram para dar outro rumo a vida que levam. “A quanti- dade de pessoas envolvidas em casos ligados com a droga é o que aumenta de forma incontrolável. A maioria das pessoas que entram para o tráfico de drogas são adolescentes que não ti- veram uma boa base familiar e esco- lar”, informa o delegado Nilson Masson. A socióloga Valdete D. Niehues diz que, “o tráfico de drogas é um mercado paralelo para a sobrevivên- cia. É como uma empresa, onde tem os donos da rede da empresa e o pro- letariado que são os desempregados, estes buscam sobrevivência e levam o tráfico como um trabalho”. A desestruturação familiar e es- colar são causas fundamentais para o crescimento da criminalidade. A es- cola está perdendo seu real sentido, como formadora moral, gerando se- res humanos sensibilizados em bus- ca do desenvolvimento da inteligên- cia. Segundo Valmor Zeferino, inte- grante do Conselho Comunitário de Segurança, Conseg do Bairro Petrópolis, a maior preocupação do grupo está na educação infantil. Para ele, hoje, é o grande problema da questão da criminalidade enfrentado em Joinville. As escolas infantis, só cuidam das crianças sem o intuito de educar. Muitas dessas escolinhas, sem preparo algum, contribuem para que as crianças cresçam sem orientação. Isso sem falar nos investimentos da áreaeducacionalinfantilqueépratica- mente nula. Zeferino acredita no po- der do conselho de segurança e afir- ma: “Já obtivemos bons resultados no bairro. Realizamos reuniões men- salmente para discutir os problemas enfrentados pelo bairro para que melhorias sejam feitas”. Ëilógicoexigirumcomportamen- to civilizado aos órfãos da dignidade humana.Nafaltadafamília,ascrianças crescemsemreferenciaismorais. Exclusãosocial,violência,desem- prego, uso de drogas, falta de segu- rançapúblicasãoelementosquecom- põem cada vez mais a sociedade em que vivemos. A fome não é somen- te física. mar, a dar nossa parcela de contribuição, reinventando en- tão esse país novo, este novo Brasil para todos. PP: Os planos das cozi- nhascomunitáriassãoperma- nentes? PF: Os planos na sua forma de proposta alimentar no mo- mento, são permanentes, o fei- jão, o frango, o arroz e o macar- rão não podem faltar. E sempre que pudermos, um pouco de legumes e algumas verduras. Nós pensamos que as cozinhas comunitárias não devem ter uma vida longa, elas devem ter uma vida mais curta possível para que logo surja uma política de gera- ção de emprego e de renda. E também a possibilidade de to- “... se morrer de fome é a maior mi- séria humana, dei- xar alguém morrer de fome é a maior miséria espiritual...” dos os pais de família, os jovens que já podem trabalhar, ter uma oportunidade de trabalho, uma oportunidade de emprego com um salário justo e com isso não precisarem mais de uma cozinha coletiva, mas terem o seu pró- prio sustento com liberdade, dig- nidade e cidadania. PP: Que mensagem o se- nhor deixaria ao povo brasi- leiro? PF: A esperança de que é possíveldiasmelhores.Aosmeus irmãos padres e pastores, res- ponsáveis pela propagação da proposta de Jesus, eu digo que se morrer de fome é a maior miséria humana, deixar alguém morrer de fome é a maior misé- ria espiritual.
  • 12. Joinville/SC, 11 de abril de 2003 Primeira Pauta12 Nutrição Elair Rank, voluntária do Projeto Cozinhas Comunitárias pretende mapear casos de subnutrição Antes de criar a Fundação Pauli Madi e coordenar o proje- to Cozinhas Comunitárias, o Pa- dre Luiz Facchini servia um “sopão” à população carente da comunidade da zona sul de Joinville. Era o início de um tra- balho que ganhou corpo e o voluntariado de dezenas de pes- soas. A nutricionista Elair Rank é a mais nova voluntária deste pro- jeto que deixou de ser “sopão” para combater também com fundamentos teóricos a subnutrição em Joinville. Elair ainda não teve tempo para verificar a situação nutrici- FOME OCULTA O vazio da barriga cheia Nutricionistadestacaaimportânciadaalimentação balanceadanocombateàdesnutrição O termo fome sugere estôma- go vazio e remete a pessoas sem o mínimo necessário para viver com saúde. Porém, será que po- demos afirmar que “estômago cheio” é sinônimo de saúde? Se- gundo a nutricionista Michelli Negerbom “há diferença entre uma barriga cheia e uma barriga bem nutrida”. A barriga cheia pode estar farta de qualquer tipo de alimen- to, desde um saboroso lanche acompanhado de uma maravi- lhosa porção de batatas fritas e um gigantesco refrigerante, até umsingelopratodepirãod’água. Já a barriga bem nutrida poderá até não passar a sensação de que vocêvai‘explodir’masestarácom a quantidade de vitaminas, nutri- entes, carboidratos, gorduras e lipídiosnecessáriosparaumavida saudável. A fome oculta, ou seja, a fal- ta de alimentos nutritivos pode ser saciada com pratos bastante simples e baratos, como um doce de casca de bananas ou quem sabe um assado das sobras do jantar, como sugere Michelli Negerbom. Esta é uma alterna- tiva ao comum prato ‘requenta- do’. O que leva as pessoas a re- quentar em vez de ‘recriar’ um prato? Simplesmente a falta de conhecimento. Não é comum saber como se faz um doce das cascas da banana ou como sa- boroso assado com as sobras de uma refeição. Essa falta de co- nhecimento leva as pessoas a acreditarem que tudo o que so- bra é ‘resto’, e lugar de resto é no lixo! Atualmente, vive-se num mundo sedentário onde não é necessário fazer grande esforço nem mesmo para ir ao supermer- cado. Basta clicar em algum ícone na tela de seu computador, e pronto! Alguém bate à porta com as suas compras. Como se isto não bastasse, os exercícios físicos parecem coisa do passa- do. Se o objetivo é emagrecer, pode-se muito bem fazer uma cirurgia e retirar um pedaço do estômago e depois uma plástica para eliminar a flacidez. Enfim, médicos e tecnologia estão aí para alimentar o sedentarismo. A saúde pode sobreviver sem a tecnologia e os caros tratamen- tos médicos. Para isso é preciso apenas saber que se alimentar bem não é apenas encher a bar- riga, mas equilibrar os nutrien- tes necessários para o organismo. onal das crianças atendidas pelo projeto, mas já percebeu a difi- culdade de poder contar com frutas e verduras diariamente. “São produtos que perecem fa- cilmente, por isso não podemos estocar”. A mudança vai ser len- ta, porque o dinheiro é pouco, diz a nutricionista que acrescen- tou almôndegas, quibe, ovos fri- tos, bolinhos de arroz e polenta para enriquecer o cardápio. “An- tes o cardápio era restrito a arroz, feijão, massa e frango”, enfatiza. Elair visita o projeto uma vez por semana. E já trabalha na ela- boração de um plano de ações Projeto Cozinhas Comunitárias agora conta com nutricionista Vanessa MatosJura Arruda para analisar a real condição das crianças. “Nós vamos analisar idade, peso e altura, e a partir daí, elaborar cardápios especiais para as crianças subnutridas”. A pre- ocupação da nova voluntária é com relação aos menores de 5 anos. Segundo ela, as crianças até essa idade sofrem mais com a desnutrição. A deficiência na ali- mentação vai gerar problemas de memória e raciocínio mais tar- de. “É um trabalho demorado, mas pretendo fazê-lo com de- dicação e dar uma atenção espe- cial aos casos mais críticos”, fi- naliza a nutricionista. Fome pode ser combatida com alimentos pouco nutritivos, mas subnutrição não Matar a fome não garante vida saudável Durante sua campanha para presidente, em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva discursou sobre a existência de 40 milhões de fa- mintos no Brasil. O então presi- dente, Fernando Henrique Car- doso, em entrevista à TV BBC de Londres contestou: “Há ca- sos raros de fome no Brasil. O que há é subnutrição”. Você sabe qual é a diferença? Para o jornalista Bernardo Kucinski uma coisa é conseqü- ência da outra. Segundo ele, não é possível haver desnutrição sem haver fome. “A desnutrição é um dos principais efeitos da fome, e de uma fome crônica. É preciso passar fome durante meses, anos, para se tornar um subnutrido” diz o jornalista. Entretanto, ao olharmos sob outro ângulo, mais técnico, per- ceberemos que a fome pode ser combatida e mesmo assim, a subnutrição pode não ser evita- da. É o que argumenta Elair Rank, nutricionista voluntária do Projeto Cozinhas Comunitárias da Fundação Pauli Madi, de Joinville. Elair afirma: “Se você está com fome e come pão, a fome passa, mas você não fica bem nutrido, porque não comple- tou a necessidade de nutrientes”. Eliminar a sensação de fome com alimentos pouco nutritivos pode gerar o que é conhecido como Fome Oculta. Isso acon- tece com freqüência, até mesmo entre as classes mais altas. No Nordeste, onde, em muitos ca- sos a alimentação básica não pas- sa de uma mistura de farinha e água, a situação é mais grave. Essa mistura incha no estômago e a pessoa sente-se satisfeita, mas o organismo não recebe as vita- minas e minerais necessários. Daí conclui-se que Fernando Henrique Cardoso não errou ao dizer que há menos casos de fome e mais de subnutrição no país; porém, sua dialética não foi suficiente para encobrir outro problema: Se não há tantos fa- mintos, há a má alimentação de milhões de brasileiros. Kucinski chama a declaração de FHC de falácia. Para ele, hou- ve uma tentativa de encobrir a realidade. O jornalista Cláudio Cerri e a assessora do ministro José Graziano, Ana Cláudia San- tos, relembram o caso do livro Geografia da Fome lançado pelo médico e geógrafo Josué de Cas- tro em 1946. “Ele sofreu pres- sões para que o título fosse subs- tituído por outro mais ameno (...) Não aceitou, e Geografia da Fome tornou-se um marco no es- tudo da pobreza brasileira e uma denúncia referencial de suas cau- sas estruturais”. À parte os eufemismos de discursos, é preponderante que a subnutrição seja combatida com tanto entusiasmo quanto a fome. Neste ponto, a Fundação Pauli Madi deu um importante passo ao lançar mão do traba- lho da nutricionista Elair Rank, e assim poder equilibrar o cardá- pio para proporcionar mais do que pratos cheios, refeições nu- tritivas. (JA) Dicas de uma boa alimentação Determinar horários para cada refeição. Diminuir o volume e aumentar o número de refeições, no mínimo três e no máximo seis refeições ao dia. Substituir alimentos fritos e empanados por alimentos grelhados, assa- dos e cozidos. Aumentar o consumo de frutas e verduras nas refeições. Não pule as refeições, isso poderá fazê-lo comer muito na próxima refeição. Consumir, no mínimo, dois litros de água ou suco por dia, o que equi- vale a oito copos de requeijão entre as refeições. Utilize o sal com moderação. Prefira doces mais nutritivos como bolos, compotas de frutas em vez de doces artificiais, balas, gomas de mascar e chocolates. Procure comer alimentos ricos em fibras (arroz integral, cereais, aveia, pão integral etc). Mantenha-se fisicamente ativo.