O documento descreve a história do antigo Motoclube de Joinville, que hoje é conhecido como Loteamento Nossa Senhora da Paz. Ele passou por três fases: inicialmente foi uma pista de motociclismo por 40 anos, depois foi invadida e hoje é um bairro urbanizado. O texto detalha a fundação do Motoclube em 1945, seu auge com competições nacionais nas décadas de 60 e 70, sua decadência a partir dos anos 80 e a invasão da área por imigrantes paranaenses na década de 90, culminando
Edição nº 27_do_primeira_pauta,_o_jornal_laboratório_do_ielusc,_joinville
1. Primeira PautaJornal Laboratório do Curso de Comunicação Social - Jornalismo - Turma 6º Semestre/2002 Edição nº 27 - 15 de dezembro de 2002
Área invadida vira bairro urbanizado
Antiga pista de motociclismo é hoje o loteamento Nossa Senhora da Paz
O projeto da cozinha comu-
nitária atende diariamente cerca
de 80 crianças e 20 mães, de se-
gunda a sexta-feira. Os alimen-
tos são doados pela Fundação
Pauli-Madi Pró-Solidariedade
em parceria com pessoas físicas
e jurídicas. Cotidiano, 8.
Cozinha
Comunitária
Lugar que testemunhou a glória e a
decadência dos campeonatos de
motocross e motovelocidade, durante
quatro décadas, o antigo Motoclube
encontrou a redenção, há doze anos,
com a urbanização da área que rece-
beu nome de santa. Geral, 3.
MAIS EDUCAÇÃO
NO BAIRRO
A ampliação da rede pública na
periferia traria benefícios para mo-
radores do Jarivatuba e Motoclube.
Moradores esperam a construção
de uma nova escola para o próxi-
mo ano
Alimentação, lazer e educação são
oferecidos às crianças e mães do bair-
ro pela entidade, criada há dois anos,
que incentiva o trabalho voluntário e
ensina noções básicas de cidadania.
Cotidiano, 8.
FUNDAÇÃO ANÍBAL CUBAS
Fotos:KeltrynWendland
Vista panorâmica
do Motoclube
Criança atendida
pela Anibal Cubas
Diversão e
solidariedade
na cozinha
comunitária
Geral,4-5.
2. Joinville/SC, 15 de dezembro de 2002
Primeira Pauta2
Opinião
Caminho possívelEDITORIAL EXPEDIENTE
Jornal Laboratório do
Curso de Comunicação
Social – Jornalismo – do
Instituto Superior e Cen-
tro Educacional Luterano
Bom Jesus/IELUSC.
Edição noº 27, 15 de
dezembro de 2002.
www.ielusc.br
Diretor Geral:
Tito L. Lermen
Diretor do Curso:
Edelberto Behs
Professor Responsável:
Juciano Lacerda
DRT-PB 1.177
Editoras
Giovanna Hagedorn
Pereira e Shirlei Pater-
no
EDITORIAS
Geral
Juliana Bertolini,
Gabriela Nicolau, Igor
R. W. Schulenburg
Saúde
Samara Zucchetti e
Peterson Isidoro
Cotidiano
Kennedy Nunes, Mau-
rício Rodrigo de Olivei-
ra, Keltryn Wendland e
Ana Paula Bueno
Fotografia:
Keltryn Wendland
Diagramação:
Juciano Lacerda
Contato com a redação:
Curso de Comunicação
Social – Jornalismo. Rua:
Alexandre Dohler, 56,
Centro, 89201-260,
Joinville – SC. Tel.: (47)
433-0155.
E-mail:
primeirapauta@ielusc.br
Desafio conjunto
Por Shirlei Paterno
A proposta era a seguin-
te: escolher um bairro da
cidade e fazer um jornal que
apresentasse a realidade
deste bairro. Por votação, o
Motoclube foi escolhido.
Posteriormente, na Prefeitu-
ra, informaram-nos que o
Motoclube não é um bairro
e, sim, uma área de terra in-
vadida. Chama-se Urbani-
zação Nossa Senhora da
Paz e faz parte do bairro
Jarivatuba, em Joinville.
A história do início des-
sa urbanização é curiosa.
Em 1945, em terras doadas
por Emílio Stock, foi fun-
dado um clube por motoci-
clistas da cidade. Por qua-
renta anos ele existiu, mas
entrou em declínio no final
dos anos 80.
A partir daí, começa uma
nova etapa. De pista de cor-
rida, o local é invadido por
imigrantes vindos do
Paraná. E da noite para o
dia são montados barracos.
A Polícia é chamada, a Pre-
feitura é notificada, mas
nada acontece. Isto foi há
doze anos.
Agora, vivem cerca de
450 famílias e somente 10
lotes ainda são ocupados
pelos paranaenses. A Prefei-
tura fez loteamento, foram
recebidas verbas federais
para urbanizar áreas invadi-
das e, hoje, o local tem sa-
neamento básico. Dentre as
carências apontadas pelos
moradores, uma delas era a
falta de posto de saúde. En-
tretanto, há seis meses, o
Posto de Saúde do Jarivatu-
ba, na rua Monsenhor
Gercino, presta esse atendi-
mento. Já a solicitação de
um posto policial, embora
reivindicado, ainda está sem
solução. João Castilho, pre-
sidente do Conseg, diz que
a violência aumentou em
20% no bairro nos últimos
três anos. A principal causa
apontada é o tráfico de dro-
gas. A população teme re-
presálias e não denuncia.
Com relação à educação,
no local há apenas uma es-
cola municipal, o que obri-
ga os alunos a estudarem
em escolas de bairros pró-
ximos. Em contrapartida,
há o trabalho voluntário
executado pela entidade
Aníbal Cubas, que atua jun-
to à cozinha comunitária e
possibilita a estas crianças
e adolescentes noções de
cidadania. Além de ensinar
artes, trabalhos manuais
ajudarem no reforço esco-
lar, a entidade também
presta informações às mães.
Ressaltamos o trabalho da
cozinha comunitária, que
atende diariamente cerca de
80 crianças e 20 mães. As
mães fazem o almoço e de-
pois a limpeza do local. Os
alimentos são doados pela
Fundação Pauli-Madi Pró-
Solidariedade e também por
pessoas físicas e jurídicas.
Enfim, etapas de produ-
ção vencidas, concluímos
mais um desafio: a 27ª edi-
ção do Primeira Pauta. Mas
que não seria possível sem
as pessoas do bairro, que se
dispuseram a interromper sua
rotina e nos relatar seu dia-a-
dia. A eles, a nós, brindemos
este sucesso!
Giovanna Hagedorn
Pereira, editora
A desigualdade social no
Brasil é visível. A má distri-
buição de renda contribui
para o aumento da pobreza.
Enquanto uns tem tanto, ou-
tros enfrentam inúmeras difi-
culdades para conseguir o pão
de cada dia e, às vezes, nem
isso conseguem. A falta de
formação profissional – e nem
mesmo o primeiro grau com-
pleto – aumenta o desempre-
go e contribui com o índice
de criminalidade. As pessoas,
na falta de um emprego e na
ânsia de não ter com que ali-
mentar os seus filhos, acabam
entrando no mundo do crime.
Esses submundo da violên-
cia, seduz não só pais e filhos
desesperados por não terem o
que comer, mas leva muitos
ao vício para suprir as neces-
sidades de seus desejos insa-
tisfeitos. E estas vítimas aca-
bam, muitas vezes, com so-
nhos alheios.
Em um mundo com tan-
tas dificuldades e egoísmo,
onde cada vez se pensa mais
em si próprio, é possível en-
contrar pessoas e grupos que
se destacam por ajudar as de-
mais. São pessoas solidárias
que contribuem com a não
proliferação da pobreza.
Ajudar, educar, alimentar
e dar atenção é o que procu-
ram fazer essas pessoas que
zelam para que os outros te-
nham uma vida digna e sem
fome ou frio. Diversas vezes,
dividem o pouco que tem
com quem não tem nada para
alimentar a si ou aos seus fi-
lhos.
Pessoas dispostas a ajudar
existem muitas. Há também
aquelas que se dizem com
vontade de ajudar, mas que,
às vezes, o que fazem é abu-
sar da boa vontade dos demais
e explorar a necessidade
alheia para se beneficiar. Cam-
panhas que prometem acabar
com a fome e o frio dos mais
necessitados, encontramos
muitas. Os diversos tipos de
cozinhas comunitárias espa-
lhadas por todo o país são um
exemplo. Porém, não pode-
mos deixar de lembrar das
campanhas que incentivam a
doação de dinheiro, prome-
tendo a distribuição de cestas
básicas e amenização dos pro-
blemas dos mais necessitados,
mas que, na verdade, não pas-
sam de fachadas para “en-
cher” cada vez mais os bol-
sos dos beneficiados pela má
distribuição de renda.
“Solidariedade. É esta a mais importante palavra no que se
refere à luta pelos direitos humanos. Solidariedade que se traduz
em gestos concretos, sendo a prática muito mais importante que
belos discursos. Podemos ter bem acabados conceitos a respeito da
solidariedade, da justiça e da fraternidade. Mas precisamos mais
que isso: fazer com que os direitos humanos prevaleçam sobre a
injustiça inclui, também, o acolhimento, a partilha, a presença
ao lado dos que sofrem. Mas creio firmemente que o bem, a justi-
ça, a paz e a vida vencem o desrespeito, a morte, a tristeza. O
mal, felizmente, é exceção, não a regra, no mundo em que vive-
mos.”
Vicente Paulo da Silva (Vicentinho)
Fonte: http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/coment/Vicentinho.html
Solidariedade
3. Primeira Pauta
Joinville/SC, 15 de dezembro de 2002
3
Juliana Bertolini
Geral
Motoclube: 60 anos de transformações
O Loteamento Nossa Senhora da Paz, no bairro Jarivatuba, é dividido em 420 lotes
A história do local é marcada por três períodos distintos: o motociclismo, a invasão e o loteamento
Em sua história, o Motoclube
conheceu a glória e a decadên-
cia, dos disputados campeona-
tos de motociclismo às invasões
de propriedade. Construído so-
bre uma antiga pista de aviação,
o clube foi fundado por moto-
ciclistas em 1945. As atividades
se estenderam por quarenta anos
e entraram em declínio a partir
dos anos 80, quando a ocupa-
ção da área por imigrantes
paranaenses, no fim da década,
deu origem ao Loteamento
Nossa Senhora da Paz.
O terreno pertencente a fa-
mília Emílio Stock foi doado a
corredores amadores. A pista
para motos foi construída com
recursos dos fundadores, dos
colaboradores e com a ajuda de
um trator abandonado da Pre-
feitura. Lucílio Baumer, Ario
Olsen e Osvaldo Pinheiro foram
alguns dos fundadores do
Motoclube de Joinville. “Alguns
amigos, aficionados pelo espor-
te, praticavam motociclismo de
forma amadora, mas se envol-
veram a ponto de fundar um clu-
be. Começou como um hobbie e
resultou em competições profis-
sionais”, explica Lucílio Baumer
Filho, também motociclista. O
esporte começou a ser pratica-
do de forma amadora por vol-
ta de 1939 e, em 1945, foi ofici-
alizado com a fundação do
Motoclube.
Em 1946 acontece o primei-
ro campeonato. “A cada ano, a
atividade atraía mais pessoas,
envolvendo corredores de San-
ta Catarina, São Paulo e Paraná.
Também houve etapas do Cam-
peonato Brasileiro em cada um
desses Estados”, lembra Rolf
Güttschow, último presidente do
Clube. Nas décadas de 60 e 70,
eram realizadas de seis a dez cor-
ridas em Joinville, por ano. Lucílio
Baumer Filho afirma que
Joinville era o terceiro maior cen-
tro de competições na época e
tinha as melhores pistas do País.
Ele lembra o fato de Blumenau
também fundar uma pista em
decorrência do movimento em
torno do esporte. “As corridas
eram grandes eventos para a ci-
dade, tornando-se verdadeiras
festas para toda a população”,
diz Baumer Filho. Segundo ele,
as disputas se tornaram eventos
de nível nacional, pertencentes ao
Campeonato Brasileiro.
“Fui piloto, mas também
atuei como colaborador, assim
como todos os outros que aju-
davam a organizar as corridas,
quando o processo ainda era
amador”, conta Baumer Filho.
Ele iniciou a carreira de motoci-
clista aos 16 anos e atuou por 23
anos, encerrando-a em 1987.
Abandonou o Clube em 1979,
mas continuaria como piloto nas
corridas de asfalto. Lucílio
Baumer, seu pai, foi um dos fun-
dadores do Motoclube e parti-
cipou das corridas de 1938 até
1952.
De acordo com Baumer Fi-
lho, a invasão de propriedade
aconteceu em 1985. “Em 1982
foi preciso cercar o terreno, pois
as primeiras pessoas se instalaram
ao redor do Clube”, afirma.
Rolf Güttschow diz que os
invasores ocuparam a periferia
do Motoclube aos poucos, mas
com o tempo, foi-se registran-
do o surgimento de barracos
dentro da pista. Segundo ele, os
proprietários do Motoclube re-
correram à Polícia e à Prefeitura,
mas não houve apoio ou inte-
resse das autoridades locais so-
bre o assunto. Rolf também lem-
bra que as atividades na pista já
haviam sido prejudicadas pela
Federação de Motociclismo de
Florianópolis. “A Federação ins-
tituiu que só poderia haver cor-
ridas com a autorização do ór-
gão, o que afetou as competições
em Joinville”, lamenta.
Em 1990, houve a invasão
por imigrantes do Paraná. A Pre-
feitura fez, então, o loteamento,
financiado pela Caixa Econômi-
ca Federal. Ivonete Vicente, pre-
sidente da Associação de Mora-
dores, comprou a posse dos in-
vasores e agora paga o financia-
mento feito pela Prefeitura.
Dados da Associação de
Moradores do Imigrante do
Jarivatuba mostram que somen-
te dez lotes ainda são ocupados
pelos paranaenses. A área inva-
dida é hoje o Loteamento Nos-
sa Senhora da Paz. O nome foi
escolhido pela comunidade, em
1993, por ser a Santa Padroeira
da Igreja Católica do bairro.
As condições de calçamento
e saneamento básico do
loteamento são boas e as obras
só foram possíveis com o inter-
médio da Prefeitura. Após o tér-
mino do calçamento, a Prefeitu-
ra se viu obrigada a providenci-
ar saneamento básico, luz e água
para os moradores do local.
Um dos problemas do
Loteamento Nossa Senhora da
Paz é o alto índice de desempre-
go. Segundo o levantamento da
Associação de Moradores, há
450 famílias no loteamento e cer-
ca de 50 casais estão desempre-
gados. Isso acontece porque a
maioria da comunidade é for-
mada por imigrantes do interi-
or, com pouca instrução e sem
especialização alguma.
Atualmente, há uma linha de
ônibus, que abrange também
loteamentos próximos, e os es-
tabelecimentos predominantes
no bairro são supermercados,
mercearias, panificadoras e ba-
res. São três supermercados para
o loteamento, duas panificado-
ras e três mercearias.
Um dos problemas do
Loteamento Nossa Senhora da
Paz é o alto índice de
desemprego. Segundo o
levantamento da Associação de
Moradores, há 50 casais
desempregados
KeltrynWendland
4. Geral
Gabriela Nicolau
Carência de escolas atinge bairros de J
Estudantes do Jarivatuba precisam deslocar-se
a bairros vizinhos diariamente para estudar
A carência de escolas em
determinados bairros da cidade
gera a superlotação em outras. O
bairro Jarivatuba, na zona sul é
um exemplo. O local abriga ape-
nas uma escola, com a maior
parte dos alunos indo estudar nos
bairros próximos. A Escola
Municipal Professor Saul
Sant’Anna de Oliveira Dias, re-
gistra 1.082 alunos matriculados,
dos quais 887 são do ensino fun-
damental e 195 freqüentam edu-
cação para jovens e adultos. O
que é insuficiente para suprir as
necessidades pedagógicas dos
moradores.
A saída para o problema é
buscar as escolas mais próximas
do bairro. Delas, quatro perten-
cem à rede municipal de ensino
e apenas uma à estadual. A Es-
cola de Educação Básica Profes-
sora Juraci Maria Brosig é
mantida pela 5ª Coordenadoria
Regional de Educação, órgão
responsável pela integração da
escola com o Governo Estadu-
al. Localizada no Paranaguami-
rim, ela atende crianças do
Jarivatuba e região.
O diretor da escola, Antonio
Matos, ressalta a importância da
ampliação da rede pública nos
bairros mais carentes da cidade.
Atualmente, 2.035 alunos estão
matriculados, e o número de
vagas está a cada ano mais es-
casso, fato que motivou a cons-
trução de uma nova escola, no
próximo ano, pela Secretaria
Estadual de Educação.
Apesar do número excessivo
de alunos matriculados e a região
onde a escola está inserida, são
poucos os registros de violência
ou a ação de marginais no local.
“Registramos apenas um caso
de violência entre alunos a cada
seis meses. Quanto ao uso de en-
torpecentes, se for preciso, en-
tramos em contato com a Polí-
cia Militar para fazer a vistoria
do local”, acrescenta o diretor.
Apoio dos pais
Para impedir a violência en-
tre alunos e anular a ação de
marginais, a Escola Municipal
João Costa, próxima ao
Jarivatuba, implantou há três
anos o programa “Pais Colabo-
radores”. A escola possui 1.215
alunos matriculados nos turnos
da manhã e da tarde, e mais 200
à noite. A maioria vem de bair-
ros vizinhos.
O programa recruta pais de
alunos que passaram a atuar
como colaboradores de seguran-
ça nos intervalos das aulas. Eles
controlam a entrada e saída de
pessoas estranhas e os muros de
proteção da instituição. O traba-
lho realizado entre os pais, escola
e com o auxílio da Polícia Militar
poderá ser implantado em toda
a rede municipal de ensino.
Escolas que atendem o bairro
Escola Bairr
Escola Municipal Profª Ada Sant’Anna da Silveira Para
Escola Municipal Amador Aguiar Adh
Escola Municipal Geraldo Wetzel Fátim
Escola Municipal João Costa João
Escola Municipal Saul Sant’ Anna de Oliveira Dias Jariv
Escola de Educ. Básica Profª Juraci Maria Brosig Para
Dados fornecidos pela Secretaria de Educação e Cultura e pe
A busca pela qualificação
profissional impulsionada por
um mercado de trabalho cada
vez mais competitivo abriu es-
paço para diferentes realidades.
Joinville, a maior cidade do
Estado, contabiliza 440 mil ha-
bitantes, dos quais 10 mil são
analfabetos e outros vivem em
condições sub humanas. Aque-
le que, por um momento, teve
oportunidade de estudar, mas
deparou-se com a necessida-
de de procurar um emprego
para sustentar a família ou se
desmotivou pela distância e
Projetos priorizam a freqüência
às aulas e exercício da não violência
custo para ir à escola.
A aparência estruturada de
Joinville esconde bairros peri-
féricos com falta de escolas e
transporte gratuito para os es-
tudantes. Marcos Silva, de 21
anos, morador do bairro
Itinga, parou de estudar na 4ª
Série para ajudar nas despesas
de casa. O jovem retornou aos
estudos há três anos. “Voltei
para a escola porque sei que
não chegaria a lugar algum”,
desabafa.
A necessidade de trabalhar
afasta diariamente, jovens e cri-
anças das salas de aula. Algu-
mas, por residirem longe das
escolas desistem de estudar
sem concluir o 1º grau. Este é
o caso da jovem Vanessa dos
Santos Schlez, de 17 anos. Ape-
sar do sonho de ser uma
advogada, ela largou os estu-
dos quando estava na 6ª série.
Seus pais foram morar distan-
te de onde estudava e também
precisava trabalhar. “Eu quero
voltar a estudar, mas no mo-
mento não tenho condições.
Preciso ajudar minha família”,
declara. [GN]
0s bairros como Jardim Pa-
raíso e Espinheiros precisaram
da ajuda de policiais militares
para impedir a ação de margi-
nais que provocavam brigas com
alunos na saída da escola. Além
de arrombamentos, destruição
de equipamentos e ameaças aos
diretores e professores.
Para acabar com tais ocor-
rências foi criado o “Previda”, o
Programa de Prevenção, Educa-
ção e Vida, com o apoio do
Conselho Municipal de Entorpe-
centes, Lions Clube, Secretaria de
Educação e Cultura entre outros.
De acordo com a coordenado-
ra do Serviço de Orientação às
Combate a violência
nas escolas
Escolas, Rita de Cássia Alves,
quando a escola necessita de
apoio, é atendida pelos
monitores.
O curso para os monitores,
que são educadores na ativa e
aposentados ou mesmo polici-
ais civis, militares e federais, tem
duração de dois dias. Aborda
temas sobre relacionamento en-
tre casais, amigos e família, além
de cultura e cidadania, drogas e
violência. Rita explica outros ca-
sos que são atendidos: “Muitas
vezes a criança não vem alimen-
tada, há violência doméstica ou
por ficarem soltos se misturam
com marginais”. [GN]
O analfabetismo atinge apro-
ximadamente 10 mil joinvilenses.
De acordo com o Secretário da
Educação e Cultura do municí-
pio, Sylvio Sniecikovski, desde
que iniciou o mutirão da alfabe-
tização há 3 anos, mais de 2 mil
pessoas aprenderam a ler e es-
crever. “É difícil localizar as pes-
soas analfabetas, geralmente elas
tem acima de 45 anos e sentem
Mutirão contra analfabetismo
vergonha em se declarar”, expli-
ca o secretário.
Os voluntários que partici-
pam do mutirão não precisam
ser professores. Eles recebem
treinamento da Secretaria de
Educação, através do programa
de Educação para Jovens e adul-
tos. As aulas são realizadas três
dias por semana, durante três
meses. [GN]
4 Primeira
Joinville/SC, 15 de
5. Igor R. W. Schlenburg
Geral
Joinville
Jarivatuba
ro Alunos
anaguamirim 2.193
hemar Garcia 1.681
ma 1.158
o Costa 1.415
vatuba 1.082
anaguamirim 2.035
ela 5ª CREA/SC
Para fiscalizar a freqüên-
cia do aluno às aulas foi cria-
do o Programa Estadual de
Combate a Evasão Escolar, o
“Apóia”. A professora Santina
Volpato Beltrame coordena o
programaemJoinville,empar-
ceria com diversos órgãos.
Entre eles, o Conselho Tute-
lar, que é acionado a partir da
terceira falta consecutiva do
aluno. A família da criança é
visitada e, se necessário, ela é
encaminhada a uma equipe
multidisciplinar que inclui
fonoaudiólogo, terapeuta e
psicopedagogo.
Entre os casos mais co-
muns de evasão está a mudan-
ça da família para outro bair-
ro ou cidade, sem a devida
transferênciadoaluno.“Alguns
são filhos de pais separados e
passam um mês em cada casa,
outros desistem de estudar
para ajudar nas despesas do
lar ou por uma gravidez pre-
coce. Porém, existem os casos
em que o próprio aluno não
tem interesse pelos estudos”,
explica Santina. [GN]
Ausência
de alunos
preocupa
Comunidade avalia
dificuldades e conquistas
A urbanização existe há 12 anos e é alvo depolíticosem épocadecampanha
Com atividades no galpão da
Igreja Nossa Senhora da Paz, a
Associação de Moradores do
Imigrante do Jarivatuba enfren-
ta dificuldades. “A Igreja impõe
certas condições que dificultam
tudo”, explica a presidente,
Ivonete Vicente, de 42 anos. Há
três anos no cargo, ela afirma que
este impasse não é o bastante
para parar com as atividades:
“Não convém ficarmos acusan-
do, por isso vamos em frente.
Atuamos em conjunto para o
desenvolvimento do bairro”.
Com pouco mais de doze
anos de existência, o bairro re-
vela organização. Com cerca de
420 lotes e média de duas famí-
lias por terreno, os moradores
contam com ônibus, posto de
saúde e cozinha comunitária. Na
opinião do pedreiro João Lima
Bittencourt, 57 anos, o
loteamento evoluiu nos últimos
anos: “A invasão ao Morro da
Formiga aconteceu na mesma
época, mas ficou parado. Nos-
so bairro já cresceu”.
Da mesma forma pensa
Emiliana da Silva, 42 anos, tesou-
reira da Associação. Ela diz que
apesar das conquistas atuais,
muito se deve à administração
anterior: “Eles ajudaram a trazer
o esgoto e o calçamento justa-
mente por se tratar de um lugar
invadido. Uma pena o Milton
não ter continuado com a gen-
te”. Segundo ela, o ex-presiden-
te, Milton Meyer, 45 anos, teve
problemas familiares e precisou
se mudar. A atual presidente
cumpre seu segundo mandato.
Na época da saída de Meyer,
não houve chapa concorrente.
Nem só de conquistas viveu
a urbanização. No ano da inva-
são, um dos líderes, Manoel, o
Neco, foi assassinado. Ele foi o
primeiro presidente da associa-
ção, porém sem registro lavra-
do em Cartório. Segundo a atu-
al presidente, “a morte de Neco,
foi o resultado de problemas bu-
rocráticos, além de brigas sobre
posse de terrenos, rabichos de luz
e a entrada de novas pessoas na
comissão”.
Pressão política
Por se tratar de uma comu-
nidade em formação, o
Jarivatuba é alvo constante de
visita de políticos. Nivaldo
Nazareno, motorista de 41 anos,
morador do bairro há três, afir-
ma que nestas eleições vários can-
didatos ofereceram alimentos e
materiais de construção. “Eles
vinham aqui na maior cara de
pau, em pleno domingo. Teve
gente que aceitou”, diz. Ainda
segundo o motorista, alguns can-
didatos chegaram a gravar ima-
gens com crianças.
A presidente Ivonete confir-
mou a história, mas tentou dei-
xar claro que a Associação não
toma partido: “Tentamos deixar
as portas abertas para todos, se-
não, depois, eles vêm e tentam
impor as coisas, cobrar. Aqui não
funciona assim”. Ela afirma ain-
da que não vai permitir que os
políticos se aproximem para ex-
plorar a imagem das crianças.
Essas atitudes, segundo a presi-
dente, demonstram a falta de
caráter de muitos “profissionais”
da política de Joinville.
Projetos e integração
Uma vez por ano os mora-
dores do Jarivatuba tem even-
tos de integração organizados
geralmente pela Associação de
Moradores, como jantares com
as famílias.
A Igreja Sara Nossa Terra é a
responsável pelo principal pro-
jeto social desenvolvido atual-
mente no bairro. A secretária
Luciana de Fátima Bento, 19
anos, contou que haverá um re-
forço na área social: “A igreja está
preparando uma casa onde, a
princípio, irá funcionar uma es-
cola de alfabetização para adul-
tos, consultório médico, e espa-
ço para voluntários”. Ela consi-
dera a iniciativa muito importante.
“Falta tudo, menos voluntários
para ajudar a nossa gente”, relata.
Ivonete Vicente: deixamos a porta aberta para todos
No ano da invasão, um dos
líderes, Manoel, o Neco, foi
assassinado. Ele foi o primeiro
presidente da associação
KeltrynWendland
5ra Pauta
dezembro de 2002
6. Joinville/SC, 15 de dezembro de 2002
Primeira Pauta
Samara A Zucchetti
Saúde
Saúde perto de casa
O Posto de Saúde do
Jarivatuba localizado na Rua
Monsenhor Gercino, presta ser-
viços a 11 associações e comu-
nidades e funciona há seis meses.
A urbanização Nossa Senhora da
Paz (Motoclube) é uma delas.
Para receberem atendimento, os
moradores do local precisavam
ir aos hospitais do centro ou até
o posto de saúde do Fátima, que
fica distante aproximadamente
1,5km. A espera para conseguir
uma consulta levava cerca de 6h.
A empregada doméstica
Zenilda Bento, 37 anos, mora-
dora do Motoclube há cinco,
conta que precisava sair de casa
às 4h da manhã para ser atendi-
da no posto do Fátima. “Tinha
muita gente e o posto ficava lon-
ge da minha casa, agora ficou
mais fácil”, conta.
A presidente da Associação
de Moradores, Ivonete Vicente,
acredita que a conquista de um
posto de saúde mais próximo se
deve à organização das comuni-
dades da região. “As associações
do Motoclube, do Rio Velho e
do Jarivatuba se uniram e reivin-
dicaram à secretária de Saúde do
município um posto que aten-
Posto do Jarivatuba atende 5 mil pessoas por mês
desse as necessidades dessas co-
munidades”, comenta. Segundo
ela, o novo posto é excelente, o
único atendimento mais difícil é
em relação ao serviço odonto-
lógico.
A coordenadora do posto
do Jarivatuba, Jusmara do Rocio
Maciel da Hora, afirma que o
atendimento de consultas
odontológicas é prioritário em
gestantes, crianças de 0 a 6
anos e em idade escolar de 1a
a
4a
série. Para os adultos, o aten-
dimento ocorre através de um
sorteio a cada dois meses na So-
ciedade Ponte Preta. É necessá-
rio a pessoa freqüentar três pa-
lestras de saúde e higiene bucal
para ser beneficiada.
A marcação de consultas
médicas depende da especialida-
de que o paciente procura, entre
ginecologia, pediatria e clínica
geral. “A função do posto não é
atender emergências, o tratamen-
to que oferecemos é o acompa-
nhamento do paciente e a preven-
ção de futuras doenças”, esclare-
ce a coordenadora.
O posto também oferece tra-
tamento de saúde mental com
psicólogos, psiquiatras e
terapeuta ocupacional. Há pro-
cedimentos básicos em enferma-
gem como curativos, vacinas,
teste do pezinho, exames de co-
leta para laboratório e pré-natal.
Existe acompanhamento de
nutricionista e programas da saú-
de da mulher. As doenças detec-
tadas pelos médicos no posto
são: hipertensão, diabetes e de-
pressão. O desemprego, a po-
breza e a falta de educação são
as principais causas dessas doen-
ças, antes tidas como “males” das
classes média e alta.
“Nossa oferta é maior que a
procura, atendemos aqui no pos-
to do Jarivatuba em torno de
cinco mil pessoas por mês”, in-
forma Jusmara. Para ela é difícil
detectar os números de doenças
e de pacientes de cada bairro,
pois o sistema de informática foi
instalado há pouco tempo. “In-
felizmente não sei dizer quantas
pessoas do Motoclube atende-
mos, o que percebo é que todos
os bairros desta área estavam ca-
rentes e precisavam de um posto
de saúde. Nosso principal objeti-
vo é trabalhar a saúde com estas
comunidades que estavam aban-
donadas anteriormente”, revela.
Acabar com as filas nos pos-
tos de saúde e definir a
contratação de cerca de 30 mé-
dicos para atuar nas nove Regi-
onais de Saúde instaladas no
município. Essas são as priorida-
des da Secretaria de Saúde de
Joinville para os primeiros me-
ses de 2003. Uma pesquisa que
será divulgada nos próximos dias
aponta que 70% da população é
atendida pelo Sistema Único de
Saúde (SUS) e cerca de 60% das
pessoas procuram os pronto-
socorros dos três hospitais de
forma precipitada, por desco-
nhecerem a existência dos PS em
seus bairros, onde poderiam ser
atendidas nos próprios postos.
Além do bairro Jarivatuba,
outras oito localidades contam
com um amplo centro médico,
com várias especilidades. As re-
gionais de saúde funcionam ain-
da nos bairros Pirabeiraba, Cos-
ta e Silva, Vila Nova, Aventurei-
ro, Boa Vista, Fátima, Floresta e
Bucarein e dispõem de gineco-
logistas, psiquiatras, psicólogas e
terapeutas ocupacionais. “O nos-
so desafio é contratar mais mé-
dicos e levá-los aos postos mais
Secretaria quer diminuir filas
distantes, onde registramos filas
de espera”, afirmou a secretária
Tânia Eberhardt.
Dos 48 postos instalados na
área urbana e rural de Joinville,
20 oferecem o Programa de Saú-
de Familiar, atualmente com 30
equipes especializadas. Fora as
regionais de saúde, os postos
contam com um clínico geral e
pediatra. Funcionam de segun-
da a sexta-feira, 12 horas por dia.
A secretária participou do levan-
tamento nos hospitais do muni-
cípio para identificar o proble-
ma da superlotação dos pron-
to-socorros. “Muitos casos que
aparecem nos hospitais, poderi-
am ser resolvidos nos postos de
saúde”, destacou.
Com a pesquisa, Tânia
Eberhardt pretende acabar com
as discussões entre os diretores
dos hospitais, que incluem a pró-
pria Secretaria, sobre as transfe-
rências de pacientes e o proble-
ma de superlotação. “Hoje, uma
das poucas coisas que me inco-
modam na saúde de Joinville são
as filas verificadas nos postos.
No restante, estamos dando
conta do recado”, acredita.
Pesquisa aponta que 70% da população é atendida pelo SUS
Peterson Izidoro
6
O Posto
de Saúde
do Jarivatuba
presta serviço
a 11 associações
de moradores
e comunidades
Fotos: Giovanna Hagedorn
Pereira
7. Primeira Pauta
Joinville/SC, 15 de dezembro de 2002
Kennedy Nunes
Cotidiano
Motoclubeéurbanizado
Local invadido recebeu investimento da Prefeitura
para infra-estrutura e vizinhos reclamam benefício
De área invadida a loteamento,
o Motoclube tem a melhor infra-
estrutura do bairro Jarivatuba. As
ruas pavimentadas e o saneamen-
to básico foram conseguidos atra-
vés de uma verba específica para
reurbanização de áreas invadidas.
Já os vizinhos das ruas que dão
acesso ao local não entendem por
que a Prefeitura não ampliou o
benefício para eles que moram em
terrenos legalizados.
Em 1997, a Prefeitura de
Joinville conseguiu uma verba jun-
toàCaixaEconômicaFederal para
urbanizar o local. No loteamento
não existem valas a céu aberto e
bocas de lobos asseguram a va-
zão de águas fluviais. “Graças a
Deus que não temos mais valetas
abertas como era antes”, come-
mora a dona de casa Maria de
Fátima Souza, 39, uma das pri-
meiras moradoras do local. Ela
lembra que as casas foram mon-
tadas num final de semana. Não
existia nenhuma exigência para a
implantação dos barracos e, por
isso, com a urbanização, muitas
residências tiveram que ser mu-
dadas de local por que as ruas es-
tavam sendo feitas.
Enquanto os moradores do
morro comemoram, os que vivem
há anos nas ruas que dão acesso
ao local estão indignados. “Moro
a 52 anos neste local e nunca a
Prefeitura fez nada por nós. Não
temos tubos nas valetas e muito
menos pavimentação”, reclama o
aposentado Isidoro Fagundes,
morador da Rua São Bento do
Sul. Segundo a assessoria da Pre-
feitura, as reclamações foram tan-
tas na época em que foi inaugura-
da a região, que o prefeito man-
dou asfaltar algumas ruas de aces-
so. “O povo não entende até hoje
que o recurso foi enviado para ar-
rumar as áreas que estavam inva-
didas. Não era possível fazer nada
com a verba em outras áreas”,
conta o vereador João Gaspar
(PMDB), o secretário regional na
época.
No bairro Jarivatuba, há áre-
as piores. No loteamento Karina,
além de valas abertas, existe o
problema de enchentes.No verão,
com as cheias, os moradores per-
dem a maior parte dos móveis. A
Prefeitura informa que vários ser-
viços estão sendo executados, a
fimdediminuir as inundações.Em
relação à falta de tubulação, há da-
dos que em Joinville mais de 800
quilômetros são de valas abertas.
“Seriam necessários mais de 800
mil tubos para fechar tudo. Isso é
impossível”, lamenta o secretário
de infra-estrutura, Manoel Men-
donça. Segundo ele, a prioridade
agora é para as ruas que estão sen-
do pavimentadas. “Nossa produ-
ção mensal é de oito mil tubos por
mês. É só fazer as contas e ver
que é impossível realizar isso em
poucos anos”, avalia Mendonça.
Ele sabe que segundo o Mi-
nistério da Saúde, para cada real
investido em saneamento, quase
quatro são economizados na saú-
de, porém, culpa o orçamento que
não reserva suporte para este in-
vestimento.
Para o presidente da Associa-
ção de Moradores do Jarivatuba
A área vizinha ao loteamento continua sem saneamento
1, Jair de Lima Martins, a solução
do problema está na parceria. “Se
cada morador comprar os tubos
poderemos resolver a situação
bem mais rápido”,destaca Jair. Ele
defende que a Prefeitura deveria
abrir uma linha de crédito para que
o munícipe compre os tubos e os
parcele.
Versão oficial
O Poder Executivo explica
que agora há um novo plano de
pavimentação, em que o morador
entra com 49% da obra e a Pre-
feitura com 51%. “Com isso, te-
remos a possibilidade de colocar
mais saneamento nos bairros den-
tro do que a Lei de Responsabili-
dade Fiscal possibilita”, afirma o
prefeito Marco Tebaldi.
Segundo ele, a lei dificultou os in-
vestimentos neste ano, pois as
contas tiveram que ser zeradas.
“Se depender somente da prefei-
tura levaremos muitos anos para
resolver o problema. Temos que
fazer parceria, pois afinal de con-
tas o morador ganha em qualida-
de de vida e lucra na valorização
do imóvel”, justifica Tebaldi.
O prefeito tem o mesmo pen-
samento do presidente da associ-
ação, mas, segundo os moradores,
hoje em dia há grandes dificulda-
des financeiras. “Já é difícil sobre-
viver com o salário que a gente
ganha, imagina dar mais dinheiro
para a prefeitura, além do IPTU”,
fala o aposentado Josefino
Albuquerque morador da Rua
Fluminense, que tem uma valeta
em frente a sua casa.
A violência teve um aumen-
to de 20% nos últimos três anos
no bairro Jarivatuba. Uma das
principais causas é o tráfico de
drogas. A avaliação é de João
Castilho, presidente do Conseg
(Conselho de Segurança). Se-
gundoCastilho,existem45pon-
tos de venda de entorpecentes.
A população não denuncia com
medo de represálias.
A presidente da Associação
dos Moradores do Imigrante,
região do Motoclube, Ivonete
Vicente, acredita que onde há
desemprego e pobreza, há to-
dos os tipos de miséria. “Eu de-
duzo que a violência é a miséria
humana, e leva as pessoas a co-
meterem delitos sem ter consci-
ência de que aquilo é grave”, afir-
ma. Segundo Ivonete, além do trá-
fico de drogas, há incidências de
homicídios. “Em menos de um
ano houve dois assassinatos aqui
na rua. Eram pessoas jovens. O
último tinha 23 anos. Foi morto
por briga por ponto de drogas”,
revela. Os dados da polícia con-
tradizem os dos moradores. “O
número de homicídios não chega
nem a 1%”, revela o tenente Ri-
beiro, do 8o
Batalhão de Polícia.
Os moradores reclamam da
falta de um posto policial. “Já hou-
ve várias reivindicações, mas não
obtivemos resposta. Dependemos
do 5o
DP (Delegacia de Polícia) e
do posto policial do Ademar
Garcia para darmos queixa”, la-
menta Irineu Inácio,presidente da
Associação dos Moradores do
Jarivatuba. “Quando há denúnci-
as, a presença de policiais aumen-
ta”, justifica.
O comerciante Pedro
Rodrigues foi uma das vítimas da
violência no bairro. Em setembro
do ano passado, viu o irmão Val-
dir Rodrigues da Fonseca, de 27
anos, ser assassinado em frente a
sua casa. Dias antes, Valdir denun-
ciou o roubo de um teclado e por
isso acabou morto. Os assassinos
estavam envolvidos com drogas.
Dois deles estão presos e aguar-
dam julgamento, e os outros dois
estão foragidos.
A escrivã do 5o
DP, Ivone
Frâncio, aponta como causas prin-
cipais da violência, o desemprego
e a falta de incentivo à educação.
A ociosidade faz com que os jo-
vens fiquem parados nas esquinas
e acabem se envolvendo com dro-
gas e álcool. “Se houvesse mais
investimentos em educação, não
precisaria haver mais policia-
mento”, comenta Ivone.
Nas estatísticas da delegacia,
o furto em residências é o cam-
peão dos crimes cometidos no
bairro, representando 25% dos
delitos.Furtosemestabelecimen-
tos comerciais e veículos vêm
em seguida. A incidência de cri-
anças envolvidas em crimes
também tem crescido.
Para o cabo Francisco Pe-
reira, morador do bairro há três
anos, a criminalidade no bairro
gera medo nas pessoas. “Com
toda essa violência, os morado-
res acabam mudando suas roti-
nas e ficando com receio de sair
de casa”, afirma.
Criminalidade cresce no Jarivatuba
Mauricio Rodrigo de Oliveira
KeltrynWendland
7
8. Joinville/SC, 15 de dezembro de 2002
Primeira Pauta8
Ana Paula Bueno
Cotidiano
Aníbal Cubas apóia
projeto para crianças
A entidade complementa o aprendizado através
do lazer e proporciona um futuro mais criativo
Alimentação, lazer e educação
é o que oferece a entidade Aníbal
Cubas, apoiando o trabalho da
Cozinha Comunitária do
Motoclube para mães e crianças
do bairro. A busca de solução para
a fome levou as mães a se unirem
no trabalho voluntário. Elas cozi-
nham para seus filhos e realizam
atividades extras para contribuir
com a renda familiar.
Criada há dois anos, a socie-
dade Aníbal Cubas foi fundada
por Maria Lucia Cubas em home-
nagem ao seu filho, falecido em
26 de dezembro de 1997. O ob-
jetivo, na ocasião, foi dar continui-
dade ao trabalho individual que
Aníbal havia iniciado para ajudar
amigos carentes.
A fundação tem cinco colabo-
radoras, Maria Lucia Cubas, Mar-
lene Garcia, Vera Lucia Cubas,
Inês Terezinha Ferreira e Sandra
dos Santos Zermiane. A escolha
da Cozinha Comunitária do
Motoclube, aconteceu depois que
Maria Lucia viu o apelo da coor-
denadora Ivonete Vicente, num
programa de televisão. Ela queria
a contribuição de qualquer pessoa
que pudesse doar leite para as
“suas” crianças.
A presidente da Aníbal Cubas
conta que o primeiro trabalho re-
alizado pela entidade foi o natal
de 2000. Amigos e integrantes da
família arrecadaram cerca de R$
800, 00 e compraram guloseimas
e brinquedos. Fizeram uma festa
para as crianças com a presença
do Papai Noel. A partir daquele
dia, Maria Lucia decidiu que o seu
trabalho voluntário não termina-
ria ali.“Quero ensinar aquelas cri-
anças que o mundo não é só aque-
le espaço onde vivem, e que po-
dem ter as mesmas chances que
outras pessoas”, acredita. Ela tam-
bém diz que foi esse trabalho que
lhe deu forças para suportar a
perda tão inesperada do filho.
Hoje, o papel da entidade jun-
to às crianças cadastradas na co-
zinha é proporcionar o lazer,
conscientizá-las e educá-las para
que tenham uma boa formação.
As crianças fazem trabalhos com
argila, pintura e desenho, recebem
palestras e cursos de profissionais
e estudantes sobre drogas, educa-
ção sexual e higiene. Elisangela
Fátima Bento Bertoltti, 11 anos,
diz o que já aprendeu com o tra-
balho da Aníbal Cubas: “Eles que-
rem melhorar o meu comporta-
mento, pra quando eu crescer, ter
um futuro melhor e mais criativo”.
Um trabalho paralelo é reali-
zado com as mães das crianças.
No Clube de Mães, elas recebem
orientações sobre métodos
contraceptivos, dro-
gas e sobre a higie-
ne pessoal e do lar.
Aprendem também
a bordar, fazer tape-
tes, colchas e toa-
lhas. O material
para as confecções
é doado por fábri-
cas de fios. Maria
Lucia está negocian-
do junto à Prefeitu-
ra um espaço no
calçadão para que essas peças pos-
sam ser vendidas.
As mães podem comer na co-
zinha, desde que ajudem na lim-
peza das instalações e na prepara-
ção dos alimentos. Ao iniciar o tra-
balho da fundação junto à cozi-
nha, a fundadora observou um
certo desinteresse e acomodação.
Hoje as mulheres sabem que pre-
cisam colaborar. Eliane Fernandes,
24 anos, é uma das voluntárias da
cozinha e considera o trabalho
necessário para sua família: “Eu
preciso da ajuda deles”. E acres-
centa: “Lutam pra conseguir algo
que é pra nós e não pra eles”.
Todo trabalho que a Aníbal
Cubas realiza acontece na própria
cozinha, por não possuírem ain-
da sede própria. Porém, a entida-
de vai ganhar da Prefeitura três
terrenos onde serão construídas
uma quadra poliesportiva e salas
de aula. Contará também com
uma biblioteca, uma creche e um
refeitório. Parte do dinheiro para
a construção foi arrecadado.Falta
apenas a liberação dos terrenos
para o início das obras.
O espaço será ocupado pelas
crianças para que tenham uma
atividade durante o período em
que não estão na escola e dar tran-
qüilidade às mães que trabalham
fora e não têm onde deixar os fi-
lhos. Há dois anos, a cozinha foi
reformada com a ajuda da enti-
dade, de empresas e amigos cola-
boradores e de um voluntário da
comunidade que fez a instalação
elétrica. AobracustouR$4.500,00.
Maria Lucia acredita não sabe se
terá o apoio de toda a comunida-
de para a construção da sede. A
entidade contactou estudantes de
educação física da Univille e, em
conversa informal, ficou pré-defi-
nido que estagiarão no local.
O alimento é preparado pelos voluntárias da cozinha
Cozinha Comunitária
mobiliza voluntários
O projeto “Cozinhas Comuni-
tárias” é uma proposta que orga-
nizaaçõesdecombateàfome,pro-
porcionando almoço diário a mais
de 1.700 crianças carentes em
Joinville. Criado em 1995 pelo pa-
dre Luiz Facchini, através da Fun-
dação Pauli-Madi Pró-Solidarieda-
de e Vida, já totaliza a instalação
de 21 cozinhas nos bairros mais
carentes da cidade.
A Cozinha Nossa Senhora da
Paz foi criado em 1999. Das 150
crianças cadastradas, almoçam
diariamente cerca de 80 crianças
e 20 mães. São as próprias mães
que se organizam na preparação
do almoço e na limpeza do local.
Para as refeições servidas de se-
gunda à sexta-feira, alimentos
como arroz, trigo, farinha, açúcar,
feijão e frango são fornecidos pela
Fundação. Frutas, leite e verdu-
ras vêm da parceria com pessoas
físicas e jurídicas, que garantem
ainda, materiais de limpeza, rou-
pas e outras doações.
O trabalho começa às 8h30,
quando é servido o café da ma-
nhã para a equipe responsável
pelo almoço do dia. A maior par-
te do grupo de mães já participou
de cursos de Panificação e
Reaproveitamento Culinário, que,
além de formar, pode contribuir
para reinseri-las no mercado de
trabalho.
Na hora do almoço, as orações
do “Pai Nosso” e “Ave Maria”
unem, em torno das grandes me-
sas, pessoas de diferentes credos,
mas que têm em comum a fome
e a necessidade de solidariedade
humana.
O projeto garante alimentação
para famílias inteiras como a de
Marinalva dos Santos, de 30 anos,
e mãe de sete filhos. Natural do
Mato Grosso do Sul, Naná, veio
para Joinville ainda na adolescên-
cia. Aos 30 anos, viúva há quatro
meses, ela depende das refeições
da cozinha e do auxílio bolsa-es-
cola, proveniente dos cinco filhos
que estudam.
A ação de voluntários em pro-
jetos como das Cozinhas Comu-
nitárias altera o processo de ex-
clusão social. A mobilização da
comunidade local, da associação
de moradores, entidades civis,
públicas e religiosas desencadeia
um verdadeiro mutirão de solida-
riedade.
Keltryn Wendland
Incentivo ao companheirismo
Fotos:KeltrynWendland