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Biblioteca Escolar
Para Além da Curva da Estrada
Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes
da curva.
De nada me serviria estar olhando para
outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde
estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não
noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para
além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá
chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só a estrada antes da curva, e antes
da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.
2
Agrupamento Clara de Resende
DeClara, nº 25 julho 2019
Editorial
Estamos a chegar ao fim de mais
um ano letivo, e entretanto,
preparamos já o próximo!
Em breve estaremos de férias,
mas não quis deixar de partilhar
convosco as últimas notícias,
artigos, textos que me foram
chegando e que encerram as
edições do DeClara 2018/2019.
Espero que gostem.
BOAS FÉRIAS!
Isabel Santos Pereira
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa
3
RESPOSTAS AOS DESAFIOS
DE JUNHO
DESAFIOS DE JULHO
DeClara, nº 25 julho 2019
Quando é que eles eclodiram dos seus ovos?
Solução:
dia 25 de fevereiro
Desafio 1
Desafio 2
Solução: 30
Desafio 1
Descobre as 7 diferenças
Desafio 2
Pinta conchinhas ou pedrinhas que
apanhaste na praia ou pinta os pauzinhos
dos gelados e traz em setembro para a tua
biblioteca.
Vamos fazer uma exposição com os vossos
trabalhos de férias.
4
Agrupamento Clara de Resende
DeClara, nº 25 julho 2019
5
Agrupamento Clara de Resende
DeClara, nº 25 julho 2019
Em pleno apogeu dos descobrimentos, parte uma armada do Cais do
Sodré, rumo à Índia, cheia de homens que procuram fortuna. Ficam em
terra, sozinhas e abandonadas, as mulheres. A ação gira em torno de uma
mulher (a Ama), hipócrita e leviana, que aproveita a ausência do marido,
que se encontrava rumo à Índia, para o enganar com os seus vários
amantes.
Esta divertida farsa critica alguns aspetos sociais de Portugal do século XVI,
tais como a infidelidade das esposas na ausência dos maridos que partiam
para a Índia.
Francisco Manta, 9.ºB
3º Ciclo: “Auto Da Índia”, de Gil Vicente
6
SUGESTÕES DO MÊS
LEITURA
DeClara, nº 25 julho 2019
2º Ciclo: “A família que não cabia dentro de casa” de Alexandre Honrado
Uma avó tão irrequieta que partiu uma perna a fazer esqui! Uma amiga com
o estranho nome de Galochas. Uma irmã chanfrada. Uma vizinha
choramingona e um taxista apaixonado por ela. Uma porteira que atrai as
pulgas e um fantasma que resolve visitar a sua viúva. Um primo que é tanso
e uma namorada ucraniana que fala uma língua que nem ele entende. Uma
cabeça de esfregão ralado e uma tia Tábem. Uns pais que arrulham como
pombinhos e uma casa mesmo a deitar por fora onde a família não cabe mas
não pára de entrar — Ufa! Não é nada fácil ser-se adolescente, chamar-se
Maria Ana (não, não é Mariana, quantas vezes será preciso dizer?!) e
sobretudo ter de observar os estranhos efeitos que o amor tem nas pessoas…
Biblioteca Escolar
Apesar do milagre da medicina que fez diminuir o tumor que a atacara há
alguns anos, Hazel nunca tinha conhecido outra situação que não a de doente
terminal, sendo o capítulo final da sua vida parte integrante do seu diagnóstico.
Mas com a chegada repentina ao Grupo de Apoio dos Miúdos com Cancro
provoca uma atraente reviravolta de seu nome Augustus Waters. A história de
Hazel vê-se agora prestes a ser completamente rescrita.
Biblioteca Escolar
Ensino Secundário: “A culpa é das estrelas” de Jonh Green
7
Agrupamento Clara de Resende
DeClara, nº 25 julho 2019
As secas do mês
Atenção: Estas anedotas são extremamente secas. Mesmo muito secas! As mais
secas que já alguma vez ouviste!
Num bar, o empregado vira-se para o cliente:
-Estou a ver que o seu copo está vazio. Quer outro?
-Mas para que é que eu havia de querer dois copos vazios?
-Mãe, de onde é que viemos?
-Nós descendemos de Adão e Eva.
-Mas o pai disse que nós descendemos dos macacos…
-Uma coisa é a família do teu pai, outra é a minha.
O que é que um pato faz com uma pata?
-Coxeia.
Francisco Manta Rodrigues, 9.ºB
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Agrupamento Clara de Resende
DeClara, nº 25 julho 2019
Informação inútil:
Desde 1983 que está definido que 1 metro é a distância linear que a luz
percorre no vácuo em 299792458 avos de segundo. Anteriormente, 1 metro
era definido por convenção, com base nas dimensões do planeta Terra, como
a distância equivalente à décima milionésima parte do quadrante de um
meridiano terrestre. A padronização do metro foi uma medida proposta pela
Academia Francesa de Ciências, por iniciativa da Assembleia Nacional
Constituinte.
Francisco Manta Rodrigues, 9.ºB
COM HUMOR…
9
Agrupamento Clara de Resende
DeClara, nº 25 julho 2019
IMAGEM DO MÊS
“Arma de Instrução em Massa”.
Artista argentino cria tanque de guerra munido da
arma mais poderosa: LIVROS!
Já dizia Nelson Mandela: “A educação é a arma mais
poderosa que você pode usar para mudar o mundo”. Talvez
esta frase tenha inspirado o artista argentino Raul Lemesoff, o
responsável pela criação de uma arma que pode mudar a vida
de muitas pessoas: ele transformou um antigo carro Ford
Falcon, de 1979, em um tanque de guerra. Mas, ao invés de
disparar balas, o veículo dispara livros.
10
Agrupamento Clara de Resende
DeClara, nº 25 julho 2019
“MAQUETES ENTRE TAKES”
(Projeto desenvolvido no âmbito da disciplina de
História e Geografia de Portugal - 5.º Ano - Turma F)
Por Texto Coletivo - 5.ºF
Ao longo deste ano letivo, a turma F do 5.º ano desenvolveu um projeto muito
interessante no âmbito da disciplina de História e Geografia de Portugal, sob
orientação do Professor Abel Cruz.
Foi proposto aos alunos que elaborassem um trabalho de pesquisa sobre
monumentos históricos.
Cada aluno, individualmente ou em grupo, escolheu um monumento e trabalhou o
tema, com envolvimento da sua família.
Os alunos aprenderam factos importantes sobre os monumentos selecionados e
tiveram a oportunidade de perceber melhor como elaborar um trabalho de pesquisa,
seguindo os conselhos fornecidos no “Guia: Elaboração de um trabalho de pesquisa”.
A elaboração das maquetes foi realizada com a participação dos familiares, o que
resultou numa boa forma de aproximar alunos, pais e escola.
No 3º período os trabalhos foram expostos no átrio da escola.
Finalmente, tornando este projeto multidisciplinar, na disciplina de Português os
alunos elaboraram uma composição relacionada com o seu monumento.
Fica uma excelente recordação do 5º ano!
A turma 5ºF no final do ano letivo
11
Agrupamento Clara de Resende
DeClara, nº 25 julho 2019
Algumas imagens das Maquetes
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Agrupamento Clara de Resende
DeClara, nº 25 julho 2019
Algumas imagens das Maquetes
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DeClara, nº 25 junho 2019
A Aventura na Grande Pirâmide de Quéops
Eu e o meu amigo Rodrigo, quando éramos crianças, queríamos ir às pirâmides de Gizé, mas
principalmente à maior, a Quéops.
Os nossos pais não queriam ir.
Quando crescemos decidimos fazer a nossa viagem de sonho.
Fomos de avião e quando chegamos lá era tudo deserto. Não víamos mais nada, a não ser
dunas de areia.
Sem nada para nos guiar, fomos perguntar a umas pessoas que foram no nosso voo, onde é
que era a pirâmide Quéops. A senhora disse-nos que era para virar à direita depois de uma
duna e depois andar sempre em frente (que eram 5km) e aí a iriamos encontrar.
Então lá fomos. Depois de muito esforço e de muita resistência, finalmente conseguimos.
Rodrigo, empolgado, correu em direção a ela e eu fui atrás dele. Como já estávamos há
muito à espera disto, fomos logo para dentro da pirâmide. Lá dentro subimos muitas
escadas, até que encontramos uma porta que não estava aberta como as outras.
Curiosos, entrámos, e lá dentro estava uma caixa grande, onde deveria estar um faraó, um
esqueleto (que deveria ser a sua mulher morta) e também havia colares valiosos e joias, que
deveriam ser os seus pertences mais pessoais.
De repente, as portas fecharam-se e as paredes começaram a fechar-se também. Nós,
preocupadíssimos, tentámos empurrar as paredes mas não resultou.
O Rodrigo, preocupado, carregou sem querer com o pé num botão. Até que nós caímos em
cima de ouro e joias. Ficámos espantados, porque era uma sala gigante cheia disso. E, nessa
sala, havia uma porta que ia dar lá para fora. Então, saímos a correr e as pessoas ficaram a
olhar para nós, porque do lado de fora não se via essa porta.
Toda a gente, até nós pegamos num bocado de ouro e joias e fomo-nos embora.
Rita da Silva Marques
5.º F n.º 22)
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DeClara, nº 25 junho 2019
Final dos Concursos
Ortografia e Gramática e Speling and Grammar Contest
5º, 6º e 7ºanos
Dias 12 e 14 de Junho na Biblioteca da Escola
Decorreu nos dias 12 e 14 de junho, na Biblioteca da Escola, a final dos concursos de Ortografia e
Spelling Contest, no âmbito das atividades do PNL, dinamizado pelo Departamento de Línguas para os
5º, 6º e 7º ano de Escolaridade.
Todos os alunos receberam uns docinhos e os respetivos certificados de participação.
Os vencedores da final foram:
• Spelling and Grammar Contest - Carolina Laia 5ºE
• Ortografia e Gramática 5º - Filipe Castro Neves – 5ºD
• Ortografia e Gramática 6º - Leonor Gomes, 6ºF
• Ortografia e Gramática 7º - Sofia Outor, 7ºB
Parabéns aos vencedores e a todos os participantes!
As professoras responsáveis:
Ana Paula Velasquez (Coordenadora do PNL)
Amélia Reis
Ângela Viegas
Fernanda Moura
Luísa Santos
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Agrupamento Clara de Resende
DeClara, nº 25 julho 2019
VISITA DO 7ºA À EXPOSIÇÃO I´M YOUR MIRROR
No passado dia 13 de junho 2019 os alunos da turma do 7ºA, acompanhados pela Diretora
de turma e professora de português Susana Silva e pela professora de Geografia Isabel
Pereira deslocaram-se a pé até Serralves para visitar a exposição I´M YOUR MIRROR da
artista Joana Vasconcelos.
A exposição incluía mais de 35 obras, realizadas de 1997 até à atualidade, cobrindo um
período de pouco mais de duas décadas e reunindo algumas das obras mais conhecidas e
emblemáticas da artista:
CAMA VALIUM (1998)
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Agrupamento Clara de Resende
DeClara, nº 25 julho 2019
VISITA DO 7ºA À EXPOSIÇÃO I´M YOUR MIRROR (cont.)
URINÓIS REVESTIDOS A CROCHÉ
Os alunos ouviram atentamente as explicações dadas pela guia,
responderam a perguntas e fizeram várias questões e observações
pertinentes.
LILICOPTÈRE (2012)
CORAÇÃO INDEPENDENTE VERMELHO (2005)
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Agrupamento Clara de Resende
DeClara, nº 25 julho 2019
VISITA DO 7ºA À EXPOSIÇÃO I´M YOUR MIRROR (cont.)
BURKA (2002)
Uma visita muito interessante! Para o ano haverá mais…
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Agrupamento Clara de Resende
DeClara, nº 25 julho 2019
Seleção E.V .
Tema: Estruturas Artificiais
Unidade Temática: Engenharia
Professora: Maria Cristina Silva
Isabel Pais
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Agrupamento Clara de Resende
DeClara, nº 25 julho 2019
Leonor Themudo
Joaquim Santos
Cont….
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Agrupamento Clara de Resende
DeClara, nº 25 julho 2019
Notícias de Timor Leste…
A nossa querida professora de História Teresa Moreira, atualmemte a lecionar
em Timor Leste, quis partilhar connosco as imagens de um trabalho feito por 2
alunos do CAFE de Suai, Timor – Leste, sobre um tema que lhes diz muito: “ As
Casas Sagradas e os seus objetos”, com um pequeno texto escrito em português
de Timor-Leste.
Continua…
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DeClara, nº 25 julho 2019
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DeClara, nº 25 julho 2019
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Agrupamento Clara de Resende
DeClara, nº 25 julho 2019
No passado dia 14 de junho os professores da escola Clara de Resende
reuniram-se pelas 18h e 30m, depois de um dia em cheio de trabalho e ainda
com imensas tarefas pela frente, para a sua Sunset. Um alegre convívio ao
por do sol que permitiu relaxar, repor energias, partilhar várias iguarias,
estreitar laços e afugentar fantasmas…
Uma equipa fantástica!
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Agrupamento Clara de Resende
DeClara, nº 25 julho 2019
Um lanche partilhado…
Que bom aspeto!
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Agrupamento Clara de Resende
DeClara, nº 25 julho 2019
E muita alegria…
Os professores adoraram e esperam repetir!
Aqui fica o registo, para mais tarde recordar….
26
É BOM SABER ...
DeClara, nº 25 julho 2019
Momentos marcantes na evolução da peça mais emblemática em cada
verão!
Na década de 1820, quando as mulheres queriam nadar, usavam
roupas volumosas que cobriam completamente o corpo. Na
década de 1870, as mulheres começaram a usar "roupas de
banho" mais leves, embora continuassem a utilizar mangas
volumosas.
No final do século 19, os homens começaram a
utilizar o que hoje chamamos de "macacões",
enquanto que, as mulheres optaram por “roupas
de banho” que combinavam com meias, chapéus
e chinelos.
Em 1900 começam a fazer-se atividades como o mergulho. Assim, as mulheres decidiram usar
“roupas de banho” mais leves para bronzearem mais facilmente.
Em 1920, os homens ainda utilizavam longos "macacões", mas o estilo e os cortes do material
sofreram alterações.
Nos anos de 1940, os fatos de banho evoluíram mais uma vez e tornaram-se justos. Em julho de
1946, o designer francês Louis Reard apresentou a sua coleção de biquínis num showroom de
Paris. O nascimento do biquíni causou ondas de choque na sociedade.
Nos anos 60, os biquínis dominaram a moda na praia em todo o mundo. Quanto aos homens, os
“calções de surf” tornara-se obrigatórios. Nos anos 60, Rudi Gernreich criou o monokini.
Nos anos 90 a série “Baywatch: Marés Vivas" fez com que
os fatos de banho começassem a ser mais desportivos.
Nos anos 2000 a moda masculina atualizou-se e os calções de
banho transformaram-se numa espécie de bermudas,
inspirados no estilo dos utilizados para fazer skate.
27
DeClara, nº 25 julho 2019
Ano de comemorações do 100.º
aniversário de Sophia
Primeira Biografia de Sophia de Mello
Breyner Andresen
No ano de comemorações do 100.º aniversário, o
Observador fez a pré-publicação de “Sophia”,
revelando excertos de diferentes capítulos, ou seja,
recuperando momentos distintos da vida da poeta, do
nascimento, em 1919, à morte, em 2004.
“Sophia de Mello Breyner Andresen”, de Isabel Nery
(A Esfera dos Livros)
A mãe desatenta, a preocupação doentia com as
doenças e o divórcio de Francisco.
Os primeiros anos na casa de família, o casamento e
os filhos. A poesia, a política, o reconhecimento e a
morte. O Observador faz a pré-publicação de "Sophia
de Mello Breyner Andresen" de Isabel Nery.• O
nascimento
• A vida na casa Andresen
• A Granja da Casa Branca e dos primeiros poemas
• Tareco e Xixa, o início
• As mãos horrorosas dos fascistas
• O divórcio litigioso e o beijo da paz que faltou
• Sophia, o mito
Na introdução do livro, Isabel Nery explica que
escreveu a primeira biografia de Sophia de Mello
Breyner Andresen “através de muitas entrevistas, mas
também da consulta de arquivos em Portugal, na
Dinamarca e na Alemanha, além de dezenas de livros,
páginas de jornais, artigos científicos, teses, filmes e
documentários”. É a primeira biografia porque, como
Eduardo Lourenço terá dito à autora, “o estatuto
social [de Sophia] não era de grande proximidade”.
O objetivo desta biografia, explica Isabel Nery, é o de
deixar em papel a vida de uma das figuras mais
importantes da cultura e da história portuguesas do
século XX. Ao mesmo tempo, é viajar pela evolução do
país, de um Portugal que recebeu imigrantes, que viu
mudar as suas cidades, que se transfigurou à medida
das vontades políticas e que teve sempre espelho
maior na literatura, aqui especificamente na poesia.
O nascimento
Tal como a morte, o nascimento não se adia, nem se
atrapalha com momentos históricos mais ou menos
atribulados. Simplesmente acontece. E a Sophia
aconteceu-lhe às 11 horas e 20 minutos do dia 6 de
novembro de 1919, em casa dos pais, na Rua António
Cardoso, nº 170, no Porto.
Nesse mesmo 6 de novembro de 1919, Tomás de
Mello Breyner deixa Lisboa às 8 e meia para apanhar
o comboio rápido – que levava oito horas a chegar –
até ao Porto. É na estação de São Bento, onde aporta
às 4 horas da tarde, que recebe a notícia do
nascimento: «Soube que a minha rica filha Maria
Amélia tinha tido uma rapariga, às 11h. De manhã e
com toda a felicidade.»
À hora a que Sophia nasceu, o avô Tomás viajava no
comboio de Lisboa para o Porto e o pai preparava-se
para erguer perante a matilha dos seus cães de caça a
primeira filha. Sem mais delongas, e apesar do frio
agreste de um novembro no Norte do país, João
Henrique Andresen entendeu urgente levar a recém-
nascida ao alpendre para a apresentar ao universo.
Talvez um momento premonitório da relação quase
mística que a poeta viria a acalentar com a natureza,
uma constante na sua obra e um traço marcante da
sua personalidade.
Apesar do frio agreste de um novembro no Norte do
país, João Henrique Andresen entendeu urgente levar
a recém-nascida ao alpendre para a apresentar ao
universo. Talvez um momento premonitório da
relação quase mística que a poeta viria a acalentar
com a natureza.
28
DeClara, nº 24 julho 2019
Agasalhado por mantas, o novo ente inalou o ar
inaugural a partir do topo da escadaria de pedra,
enquanto o terceiro Andresen em Portugal o
anunciava à matilha com que perseguia as presas a
abater, a mesma que, dali a trinta anos, o veria morrer
durante uma caçada. Diz-se que os cães ganiram à
presença da neófita. Mas o resgate veio pronto, que
travar conhecimento com o mundo num dia de
inverno, quando nem ainda se tinham descoberto os
milagres da penicilina, era ato de loucura punível com
risco de morte.
Para a embalar no novo mundo, que tanto lhe daria o
prazer e a inquietude de observar, Sophia tinha à sua
espera o berço de madeira nórdica, escura, maciça,
com um metro por 40 centímetros. O sono inicial seria
suportado por pequenas rodas douradas e encimado
por uma fina cabeça de cegonha. No bico, pontiagudo
e longo, sustentava-se o véu branco que protegia a
bisneta do comerciante dinamarquês. A peça,
mandada fazer por João Henrique no Norte da
Europa, especialmente para receber Sophia,
embalaria os pequenos Andresen nascidos em solo
nacional, e continuaria a ser usada por várias
gerações.
Logo a 11 de novembro o jornal A Monarquia tornava
público o acontecimento: «Deu, na sua casa do Porto,
à luz uma menina a sra. D. Maria de Mello Breyner
Andresen, esposa do sr. João Andresen. Mãe e filha
encontram-se bem.»
Era um bairro de família. Os primos saltavam os muros
para irem a casa uns dos outros, assustando os
animais no galinheiro ou acariciando os cães de caça
de João Andresen, guardados nos canis. Todos juntos
chegavam para enfurecer o jardineiro Martinho e a
percetora Clara Branca das Neves, que tomava conta
das crianças com mão pesada.
Embora extremamente atento à vida política (de tal
forma que os seus diários são hoje considerados
registos históricos), a ocasião era bom pretexto para
Tomás de Mello Breyner fazer um interregno nas –
justificadas – apoquentações com a situação do país.
Afinal, tratava-se do nascimento da descendente que
tanta «ternura» lhe fazia, primeira filha da sua
querida Mary.
Emocionado, e inquieto por conhecer a quarta neta, o
médico vai direto para casa de Maria Amélia. «Eram
cinco horas quando beijei a querida filha e a querida
neta. Às 7 apareceu o médico parteiro, Dr. Alberto
Gonçalves, que é simpático e pareceu sabedor.» É
também pelo avô que ficamos a saber quem foram as
primeiras pessoas a conhecer a futura poeta: a bisavó
Frau Lehman, a avó D. Joana Andresen e várias tias.
Nos dias que se seguem, a bebé terá cólicas, como
todos os recém-nascidos, e a mãe febre, como a maior
parte das mulheres, com a subida do leite.
Rapidamente recupera e quatro dias depois do parto
Maria Amélia come já com vontade a sua costeleta.
Rendido ao amor pela mais nova Mello Breyner –
«Estive muito tempo com a rica neta ao colo. Querida
e que amor ela é! Que ternura me faz!» –, o avô
Tomás aproveita os dias passados no Porto para
convidar Alfredo Viana, grande amigo dos Andresen,
para padrinho de Sophia.
Mas não só: dava consultas a quem o procurasse em
casa da filha, assistia aos atendimentos dos colegas de
Dermatologia no Hospital de Santo António, no Porto,
e visitava presas da Cadeia da Relação, sem deixar de
notar os problemas de higiene do estabelecimento
prisional. Três dias antes do batizado, o avô Mello
Breyner e o coronel de Artilharia António Bernardo
Ferreira são testemunhas no registo civil, na
Restauração, de que a recém-nascida «se ficou
chamando Sophia».
O batismo, católico, apesar da educação protestante
do pai, aconteceu num dia lindo, mas frio, em que os
termómetros registavam zero graus, às três da tarde
de 16 de novembro. Como madrinha, a avó materna,
Sophia Burnay de Mello Breyner, e como padrinho
Alfredo Viana, amigo do pai, João Henrique Andresen.
A vida na casa Andresen
A rua onde cresceu era essencialmente habitada por
Andresens. No número 170 Sophia e os pais, na casa
geminada Olga Andresen, um pouco à frente a pintora
naturalista Teodora Andresen. Quando, mais tarde, se
inaugurou o elétrico, o pavimento resumiu-se ao
espaço entre os dois carris, por isso o trajeto principal
continuou a ser de terra. Todas as noites vinha um
funcionário acender as lâmpadas da António Cardoso,
uma por uma.
Era um bairro de família. Os primos saltavam os muros
para irem a casa uns dos outros, assustando os
animais no galinheiro ou acariciando os cães de caça
de João Andresen, guardados nos canis. Todos juntos
chegavam para enfurecer o jardineiro Martinho e a
precetora Clara Branca das Neves, que tomava conta
das crianças com mão pesada.
29
DeClara, nº 25 julho 2019
Um dia, toda a rua acorreu ao som dos gritos da
criada, depois de uma tromba de água preta lhe ter
caído pela chaminé da cozinha quando o pai de
Sophia resolveu tentar apagar um fogo disparando
tiros de caçadeira. O plano, arrojado e algo
fracassado, era libertar a fuligem e com ela extinguir
as chamas.
Ao contrário de Sophia, Ruben A., o primo que nasceu
apenas seis meses depois da poeta, em maio de 1920,
viveu vários anos na Casa Andresen. O edifício
imponente, os jardins e os mundos que deles
brotavam não só o inspiraram, como justificaram
muitas das páginas dos seus diários, publicados na
década de 1960 e hoje edições difíceis de encontrar.
Neles, o escritor demora-se na descrição da quinta
que «começava ao fim da subida que vem de Vilar,
dando como marco a casa dos Jennings;
transformava‐se em planalto acompanhando a
margem direita do Douro e indo morrer na descida da
Quinta e da Rua do Campo Alegre que vai calmamente
desembocar na Igreja de Lordelo do Ouro». Do outro
lado, o clube dos ingleses, campos de râguebi,
críquete e ténis. Em frente da propriedade, a «rua em
forma de corda bamba, com árvores frondosas de
ambos os lados e lá ao fundo, a linha do elétrico que
nos levava para a cidade ou para a Foz, conforme
íamos a trabalho ou ver o mar».
Mais do que uma habitação, o palacete, como lhe
chamavam as padeiras, foi mandado construir no
século XVIII por João da Silva Monteiro, que não
chegou a habitá-lo. O avô de Sophia ordena profundas
remodelações, «decerto com dinheiros vindos do
Brasil», antes de se tornar o segundo e último
proprietário da enorme quinta, onde não faltava o
court de ténis, um dos espaços preferidos para
receber convidados e fechar negócios.
[…]
Se o avô de Sophia transformou a Casa Andresen num
edifício icónico, é a avó Joana Henriqueta Lehman,
que havia recebido formação artística na Alemanha,
onde crescera, apaixonada por flores e jardins à
inglesa, a desenhar o roseiral e a empenhar‐se em
trazer para a quinta novidades botânicas de toda a
Europa: túlipas da Holanda, junquilhos e lírios de
Inglaterra, japoneiras, avencas e até morangos, que
chegam a merecer fama. Ou espargos, servidos nos
jantares que o casal tanto gostava de dar.
Nas palavras de Ruben A., a mata, o souto de
castanheiros, os altos muros de camélias, os milheirais
em vários andares e as rosas encarnado escuro, que
Sophia colhia quase todos os dias em casa da avó,
fizeram deste o jardim mais impressionante acima do
Mondego.
A mata, o souto de castanheiros, os altos muros de
camélias, os milheirais em vários andares e as rosas
encarnado escuro, que Sophia colhia quase todos os
dias em casa da avó, fizeram deste o jardim mais
impressionante acima do Mondego.
O apogeu da Quinta do Campo Alegre correspondeu
ao enriquecimento da família; a venda da
propriedade, ao seu declínio. Para muitos dos
familiares, a culpa da ruína foi do segundo marido da
avó Lehman, viúva aos 36 anos. De tal maneira odiado
pelas crianças, Severiano José da Silva ficou conhecido
por Belzebu, e terá contribuído para a falência dos
Andresen. No entanto, a crise do comércio da
borracha, que se tinha tornado um dos principais
negócios da família, dona de frotas de navios na
Amazónia, terá também contribuído para o delapidar
da fortuna iniciada por Jan Hinrich Andresen.
O mundo mágico do Campo Alegre não era
perturbado pela instabilidade política do país, que
teimava em não sarar. Durante a infância de Sophia,
os governos caem a um ritmo pouco mais do que
mensal e as ditaduras tornam-se a mancha
prevalecente em boa parte da Europa. Primeiro o
fascismo italiano, em 1922, depois o Estado Novo
português em 1926, para longos 48 anos de vida que
Sophia ajudará a extinguir.
A Granja da Casa Branca e dos primeiros
poemas
A pequena Andresen vai inaugurar o Colégio Sagrado
Coração de Jesus, no número 1354 da Avenida da
Boavista, onde gostou «imensíssimo» de estudar e foi
das melhores da escola. Via-se a si própria como uma
boa aluna, embora inibida e, sobretudo, distraída.
Corriqueiro era apontarem-lhe cadernos que não
estavam em dia e fardas sem o aprumo para que
foram concebidas, além de golas perdidas.
No Sagrado Coração, a futura poeta foi a criança que
talvez nunca devêssemos deixar de ser. Chegava
muitas vezes atrasada – traço que se manteve toda a
vida –, descia pelo corrimão e fazia asneiras que lhe
valiam alcunhas. Um dia, numa brincadeira de
garotas, mete a cabeça debaixo da torneira e sai da
casa de banho com o cabelo a pingar. De então em
diante passa a ser conhecida por Bocage, poeta que
aparecia numa foto do livro de leitura em figura
similar.
[…]
30
DeClara, nº 25 julho 2019
A transmissão oral dos versos, mesmo antes de saber
ler, levaria Sophia a afirmar ter crescido a acreditar
que a poesia tinha existência própria, depois de um
primeiro contacto com as palavras de Antero de
Quental e de Camões que o avô Tomás de Mello
Breyner lhe ensinava. E que a pequena Sophia não
compreendia ainda, mas reconhecia.
Chegava muitas vezes atrasada – traço que se
manteve toda a vida –, descia pelo corrimão e fazia
asneiras que lhe valiam alcunhas. Um dia, numa
brincadeira de garotas, mete a cabeça debaixo da
torneira e sai da casa de banho com o cabelo a pingar.
De então em diante passa a ser conhecida por Bocage,
poeta que aparecia numa foto do livro de leitura em
figura similar.
Embora tivesse a preocupação de evitar a
discriminação dos outros netos relativamente a
Sophia, o avô Tomás, que recebia a visita da neta em
Lisboa e ia sempre vê-la ao Porto por altura do
aniversário, em novembro, também não conseguia
deixar de registar as especificidades da pequena.
«Admirável na maneira como recita.» Um
«assombro.» Depois de anotar no seu diário como
Sophia tinha passado no exame da escola com
distinção, Mello Breyner volta a espantar-se com a
queda da criança para as letras: «Quando há dias
estive no Porto vi-a decorar um soneto de Antero de
Quental depois de o ouvir apenas três vezes. Que
encanto de pequena!» Com apenas dez anos, Sophia
passeava-se com uma edição de Os Lusíadas na
algibeira e já fazia furor perante as visitas, que
ficavam «de boca aberta» quando a ouviam recitar.
É, portanto, desde muito pequena que Sophia começa
a treinar a sua arte de dizer (mesmo antes de
escrever) poesia.
Durante o ano, a família Andresen vivia paredes-meias
entre a Rua António Cardoso e a Quinta Grande. Nas
férias, rumava à Granja.
Na infância e juventude de Sophia, o mundo à parte
que era a Casa Andresen e o Campo Alegre mudava-se
para o outro mundo à parte que era a Granja, para
muitos a praia mais aristocrática do país.
Terra de veraneio de duques, duquesas e
empresários, a quinta albergava patrícios como os
Burnay ou os Cálem, e escritores como Eça de Queirós
ou Ramalho Ortigão. Depois de receber a visita do rei
D. Luís I, em 1869, é a famosa figura da Geração de 70
que tece os mais rasgados elogios ao clube de férias
nascido graças à veia empreendedora de Frutuoso
Ayres, decidido a transformar a quinta que fora de
frades agostinianos em «estancia de repouso ou
regalo». Em 1876, Ortigão dedica sete páginas do
livro As praias de Portugal ao areal eleito por boa
parte da elite portuguesa da época, numa altura em
que só os muito endinheirados faziam férias junto ao
mar. «A Granja é uma povoação diamante, uma
estação bijou, uma praia de algibeira. Ao chegar tem a
gente vontade de a examinar ao microscópio; ao
partir apetece levá-la na mala, entre as camisas, como
um sachet.»
Tareco e Xixa, o início
Sophia abandona o curso [estava inscrita nas cadeiras
de cadeiras de Curso Elementar de Grego, Língua e
Literatura Latina, História de Portugal, História da
Antiguidade Oriental e História da Antiguidade
Clássica], ao que tudo indica sem chegar a concluir
qualquer cadeira, logo no ano seguinte ao ingresso,
em 1938. Não sendo obrigatório apresentar nenhum
documento para desistir da licenciatura, importa
notar que o último documento sobre Sophia no
processo do aluno, arquivado na Universidade de
Lisboa, data de 25 de novembro de 1938, indicando
que nada mais houve a registar depois dessa data.
Longe dos estudos na capital, tinha agora
oportunidade de viver apenas entre ela própria e a
palavra. A poesia já a rondava desde criança, instalada
sob a forma de projeto de vida. Busca. Salvação.
«Comecei a escrever aos 12 anos. Depois aos 14
escrevi mais. Entre os 16 e os 23 escrevi mais do que
em todo o resto da minha vida», dirá em entrevista a
José Carlos Vasconcelos.
Sete anos depois de abandonar a universidade lança o
primeiro livro, Poesia, até hoje considerado obra
essencial da autora. Fez-se uma edição de 300
exemplares,19 patrocinada pelo pai, que, mais tarde,
se confessará espantado ao receber os cheques da
editora compensando a despesa. Reaver o
investimento não estava nos planos de quem ouvia da
mulher: «Se ela é poeta, a culpa é tua.»
Sete anos depois de abandonar a universidade lança o
primeiro livro, Poesia, até hoje considerado obra
essencial da autora. Fez-se uma edição de 300
exemplares, patrocinada pelo pai, que, mais tarde, se
confessará espantado ao receber os cheques da
editora compensando a despesa. Reaver o
investimento não estava nos planos de quem ouvia da
mulher: «Se ela é poeta, a culpa é tua.»
Porém, o apoio revelar-se-ia premonitório. A filha,
que parecia viver nas nuvens, ao ponto de os pais
discutirem sobre a responsabilidade dolosa da
31
DeClara, nº 25 julho 2019
inclinação para tal arte, tinha encontrado como
materializar o voo dos seus pensamentos.
Sobre a edição de estreia, Poesia, a mãe, Maria de
Mello Breyner Andresen, escreve-lhe uma carta.
Ainda a habituar-se à ideia de ter uma filha poeta, dá-
lhe os parabéns pelo novíssimo exemplar «tão lindo»,
que não só leu e releu, como dormiu «com o livrinho
debaixo do travesseiro». Na missiva que lhe deixa
acrescenta ainda que a estreia literária comoveu os
avós e os tios, que lhe dão os parabéns. E despede-se:
«Da sua mãe do coração.»
A poesia será também pretexto para a vivência do
amor. Depois de se conhecerem na Granja, e
namorarem em Lisboa, onde ambos estudavam, a
relação apaixonada com a palavra que já partilhavam
leva Francisco Sousa Tavares a escrever a primeira
recensão à obra da poeta.
Uma crítica do futuro marido e pai dos cinco filhos
que podia ser ela mesma um ensaio sobre esse dom
do verbo que só uns raros bafeja: «Nunca se definiu,
nem definirá poesia. A poesia é, vive ou paira, existe
ou não existe. E acompanha a vida. É talvez um
acréscimo de vida como toda a arte. Uma maneira
íntima de adivinhar as coisas, de fundir o ritmo do
mundo com o ritmo da nossa alma, numa pura e
estranha intuição da verdade.»
Tal como Sophia, também Francisco via nesse modo
de escrita e na ética uma ligação simbiótica. «Todo o
mundo é poético quando visto em verdade. Todas as
coisas são maravilhosas quando as compreendemos. E
a poesia limita-se afinal a iluminar a verdade, a beleza
secreta que há em tudo aquilo que existe.»
Seriam ainda precisas quase duas décadas para a
ditadura cair, mas Sophia nunca mais deixaria de lutar
pela mudança – pela liberdade. O Centro Nacional de
Cultura (CNC), criado por um grupo de jovens
católicos em 1945, é presidido pelo marido, Francisco
Sousa Tavares, desde 1957, tornando-se uma sede de
oposição ao regime.
Sophia de Mello Breyner surge a Sousa Tavares como
aquele autor raro que é simplesmente poesia, que diz
humildemente o que sentiu quando um dia lhe
aconteceu a vida. «Alguém que não quis fazer versos;
mas que precisou de dizer as visões maravilhosas que
trazia, o entendimento misterioso do universo que
nela cantava num ritmo intenso.» O futuro marido
recorre a uma das palavras preferidas da poeta para
descrever a sua escrita «duma pureza inexcedível»,
sem teorias, nem gestos inúteis. «É uma intenção,
uma revelação de beleza. Sofia Andresen escreveu o
seu mundo e o mundo que lhe entrou pelos olhos
extasiados, tudo fundido naquele ritmo de música e
dança, de harmonia clara que é para ela uma
exigência e um estilo.»
As mãos horrorosas dos fascistas
Apesar da popularidade das histórias para crianças,
sistematicamente reimpressas nos últimos 60 anos,
algumas a somar dezenas de edições, Sophia
identificou-se sempre como essencialmente poeta.
Não porque escrevia versos, mas porque queria
assumir a responsabilidade de estar no mundo. A obra
que vai acrescentar à sua poesia o carimbo do
ativismo político é Mar Novo. Se imaginarmos possível
indicar num calendário a data de entrada de Sophia
na oposição ao regime ditatorial, seria 1958, ano da
publicação desse livro. De então em diante, a poeta
assume a rutura. Sem retorno.
O contexto político, com greves, contestações e
conspirações, geralmente pouco eficazes, mas
debilitantes do regime, era já promotor de reacção,
quando um acontecimento familiar alimenta em
Sophia uma consciência acrescida das injustiças e
arbitrariedades da ditadura.
O contexto político, com greves, contestações e
conspirações, geralmente pouco eficazes, mas
debilitantes do regime, era já promotor de reacção,
quando um acontecimento familiar alimenta em
Sophia uma consciência acrescida das injustiças e
arbitrariedades da ditadura. Em 1956, o irmão João
Andresen ganha o concurso para a construção de um
monumento ao Infante D. Henrique, com construção
prevista para Sagres, a que o arquiteto chamou «Mar
Novo». No entanto, em dezembro, Salazar recusa o
resultado, como tinha feito já várias vezes com
anteriores propostas de outros artistas, e comunica
que o Conselho de Ministros havia decidido não
construir a obra. Em vez disso, seria edificada em
Lisboa uma reprodução, definitiva e em pedra, da
escultura inicialmente prevista para ser exibida
apenas durante a Exposição do Mundo Português, em
1940, o Padrão dos Descobrimentos.
Que Sophia tenha, dois anos depois (em 1958), dado
ao seu livro de poesia o mesmo nome não será
coincidência. Chocada com a injustiça da decisão que
afeta o irmão, e que considera política, deposita no
livro um ato de revolta e insurreição. O caso tem sido
até, por vezes, associado à morte prematura do
arquiteto, aos 46 anos. Mas o enfarte agudo só
acontece em junho de 1967, nove anos depois do
episódio com «Mar Novo».
32
DeClara, nº 25 julho 2019
Este é o tempo
Da selva mais obscura
Até o ar azul se tornou grades
E a luz do sol se tornou impura
Esta é a noite densa de chacais
Pesada de amargura
Este é o tempo em que os homens renunciam
O próprio título é atualmente visto por alguns
estudiosos como significativamente provocador.
Sendo o mar o desígnio histórico dos portugueses,
acrescentar-lhe a palavra «novo» em tempo de
ditadura trazia implícita a urgência de mudança de
regime.
A melhor prova do ponto de viragem que este livro
vem trazer às intenções da escrita está nos próprios
poemas aí publicados, como «Porque» (vide pág. 157)
claramente antirregime, havendo mesmo quem veja
na publicação o verdadeiro momento de iniciação à
poesia de Sophia. O momento em que se compromete
mais com o tema da responsabilidade ética.
Seriam ainda precisas quase duas décadas para a
ditadura cair, mas Sophia nunca mais deixaria de lutar
pela mudança – pela liberdade. O Centro Nacional de
Cultura (CNC), criado por um grupo de jovens
católicos em 1945, é presidido pelo marido, Francisco
Sousa Tavares, desde 1957, tornando-se uma sede de
oposição ao regime. No ano seguinte, o chamado
«general sem medo» apresenta-se às eleições
presidenciais e o casal apoia essa candidatura de
Humberto Delgado, adversário do ditador. Quando
questionado por um jornalista, a 10 de maio de 1958,
sobre o que aconteceria a António Oliveira Salazar se
ganhasse as eleições à presidência da República,
Delgado garantiu: «Obviamente, demito-o».
Mãe distraída, talvez mesmo desatenta, Sophia
deixava as ralações mundanas com vestuários e
refeições para as criadas, encarregadas de levar as
crianças à escola para que pudesse dormir até tarde.
De tal forma que era comum ouvir Luísa, a empregada
minhota de sempre, alardear com ironia a falta que
fazia à família: «Se não fosse eu, nesta casa comiam-
se versos.»
A afronta não passaria despercebida aos vigilantes do
regime. Mas Delgado mantém o papel de
oposicionista. Em 1959, os apoiantes do militar de
Torres Novas tentam derrubar o regime com uma
investida que ficou conhecida como Golpe da Sé,
frustrada a 11 de março, levando muitos dos
apoiantes à prisão. Entre os detidos estavam o poeta
Jorge de Sena, grande amigo de Sophia, e o marido,
Francisco Sousa Tavares.
A quase eleição de Humberto Delgado e o número
crescente de movimentos contra Salazar,
nomeadamente vindos da população católica, tiveram
o efeito perverso de tornar a ditadura mais alertada –
e mais violenta. As eleições, consideradas
fraudulentas, dão a vitória ao candidato do regime,
Américo Tomás, acabando por ditar o exílio e, mais
tarde, o assassinato do general pela PIDE, em 1965.
Com Marcelo Caetano no poder, a partir de 1968, a
tão falada abertura não só fica pelo caminho, como
provoca o movimento contrário. Como concluiu a
investigadora Irene Flunser Pimentel: «Apesar das
afirmações de Caetano, os métodos de detenção
arbitrária e de tortura não sofreram alterações, tendo
mesmo endurecido.»
À crescente contestação e exigências de mudança, o
Estado Novo responde com maior repressão e
fortalecimento da capacidade de intervenção da PIDE
através do decreto n.º 40550, que alarga o âmbito das
«medidas provisórias de segurança». De então em
diante a polícia política persegue, prende e tortura
com impunidade reforçada. Sophia, Francisco Sousa
Tavares e muitos dos seus amigos passam a estar sob
constante vigilância da Polícia Internacional e de
Defesa do Estado.
Para os agentes, tudo era digno de registo. Desde os
factos mais banais, como as pessoas recebidas em
casa, até encontros públicos para apresentações de
livros. Os telefonemas eram escutados, as entradas e
saídas vigiadas e o correio intercetado. Em carta a
Jorge de Sena, em 1962, Sophia lamenta-se: «A PIDE
esteve em nossa casa revistando e levou todas as suas
cartas.»
Para os agentes, tudo era digno de registo. Desde os
factos mais banais, como as pessoas recebidas em
casa, até encontros públicos para apresentações de
livros. Os telefonemas eram escutados, as entradas e
saídas vigiadas e o correio intercetado. Em carta a
Jorge de Sena, em 1962, Sophia lamenta-se: «A PIDE
esteve em nossa casa revistando e levou todas as suas
cartas.»
Também a poeta foi detida para ser interrogada pela
polícia política, como confirmam os espólios
depositados na Torre do Tombo.
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DeClara, nº 25 julho 2019
O divórcio litigioso e o beijo da paz que faltou
Mãe distraída, talvez mesmo desatenta, Sophia
deixava as ralações mundanas com vestuários e
refeições para as criadas, encarregadas de levar as
crianças à escola para que pudesse dormir até tarde.
De tal forma que era comum ouvir Luísa, a empregada
minhota de sempre, alardear com ironia a falta que
fazia à família: «Se não fosse eu, nesta casa comiam-
se versos.»
Intimidades de filhas adolescentes e o recordar dos
aniversários da prole eram entregues à guarda de
Luísa, que trabalha mais de 40 anos para a família. No
colégio, as freiras, confrontadas com aquela forma
invulgar de estar nas obrigações familiares, chegavam
a perguntar: «Mas a menina não tem mãe?»
Distraída, desligada ao ponto de ir à escola onde o
filho Miguel estudava apenas uma vez durante uma
escolaridade de oito anos ou de mandar a secretária
de Francisco comprar sapatos às crianças, Sophia era
uma mãe intelectual e uma mulher pouco dada a
gestos de ternura, incumpridora sempre que a
maternidade implicasse ações mais burocráticas,
como o controlo dos assuntos escolares. Mas,
chegados à idade adulta, tornou-se claro que
«nenhum de nós queria outra mãe».
Apesar de algo ausente do quotidiano filial, a
abordagem maternal de Sophia transfigurava-se
quando o assunto eram as doenças da prole. Talvez
por se tratar do cenário que mais a afligia – as
enfermidades –, a poeta era capaz de passar horas
num consultório à espera de um especialista que visse
os filhos todos de uma vez ou que aplicasse vacinas
protetoras se a iminência de alguma doença evitável a
preocupava.
Apesar de algo ausente do quotidiano filial, a
abordagem maternal de Sophia transfigurava-se
quando o assunto eram as doenças da prole. Talvez
por se tratar do cenário que mais a afligia – as
enfermidades –, a poeta era capaz de passar horas
num consultório à espera de um especialista que visse
os filhos todos de uma vez ou que aplicasse vacinas
protetoras se a iminência de alguma doença evitável a
preocupava. Perante a nefrite da filha Sofia, para
quem começa a inventar O Rapaz de Bronze, ou o
sarampo dos restantes, Sophia não arredava pé. Dessa
inquietação nasceram, como foi já referido, os
primeiros contos infantis.
Embora menos desatento, Francisco Sousa Tavares
também se escusa a visitar a escola do filho mais
velho. Mas, impetuoso na vida pública, agia em
coerência dentro de casa. Dele vinha uma atenção
parental que potenciava o medo e que seria preferível
evitar. Sobretudo quando se aproximava a chegada
das notas escolares, então enviadas pelo correio. Nem
as boas classificações da maioria em Português
acalmavam os ânimos do pai, capaz de ficar nervoso
ao ponto de lhes bater se os filhos se portavam mal.
Mais comuns, as classificações negativas em
Matemática eram, no entender do pai Sousa Tavares,
bom pretexto para castigo.
Nessas alturas, a mãe temperava os ânimos: «A culpa
é do ensino e dos livros, que estão péssimos.» Mas o
pai, capaz de saber de cor a matéria dos manuais de
Ciências ou Geografia, não tolerava uma resposta
errada, e podia puxar o braço bem atrás, garantindo
que aterrava com toda a força daquela figura
encorpada na cara de Miguel.
Sophia e Francisco discordavam amiúde, o que podia
significar gritos e coisas a voar por cima das cabeças
dos filhos. Bastava um entender que a palavra certa
era «pero» e outro «maçã» ou que não tivessem a
mesma perspetiva dos problemas do país. Ele
argumentava muito; ela arrumava os assuntos com
uma palavra. A relação turbulenta e as discussões,
sempre empolgantes, marcavam a relação entre a
poeta e o advogado. Mas o dia seguinte seria já de
esquecimento.
[…]
Depois do 25 de Abril, algo piora, aumentando a
frequência e gravidade das discussões. Gonçalo
Ribeiro Telles vai para o Governo, Sophia para a
Constituinte e Francisco, que tinha tido um papel mais
ativo, fica de fora. Pela coragem de combater a
ditadura, esperava ser reconhecido, mas, pelo
contrário, sente-se ostracizado. Mal amado. Por
assumir posições menos radicalmente de esquerda,
Francisco era acusado de ser um social-democrata
burguês. Embora tivesse lutado pelo fim do Estado
Novo, ao contrário de Sophia o advogado não é
chamado pelo Partido Socialista nem por nenhum
outro partido para concorrer às eleições de 1975 à
Assembleia Constituinte, provocando fricções entre o
casal.
A política tornou-se, aliás, um ponto de discórdia hoje
valorizado pelos estudiosos da obra da autora. Um
fator desgastante num casal que era já de pessoas
antagónicas.
34
DeClara, nº 25 julho 2019
Incompatíveis. Amigos, cúmplices, embora de
temperamentos muito diferentes – «ela tranquilidade
e poesia»; ele «impulsivo» –, tinham uma «grande
admiração um pelo outro, mas Sophia vivia fora da
realidade».
A política tornou-se, aliás, um ponto de discórdia hoje
valorizado pelos estudiosos da obra da autora. Um
fator desgastante num casal que era já de pessoas
antagónicas. Incompatíveis. Amigos, cúmplices,
embora de temperamentos muito diferentes – «ela
tranquilidade e poesia»; ele «impulsivo».
[…]
Primeiro caiu o político. Em consequência de um
escândalo relacionado com ilícitos cambiais, Sousa
Tavares é acusado pelo Ministério Público no processo
que ficou conhecido como caso DOPA (Dragagens e
Obras Públicas), por tráfico de divisas através da
empresa com o mesmo nome. A suspeita de
exportação de capitais tinha surgido por ser advogado
de um ex-rei da Roménia, que lhe pagou em cheque.
A lei, posteriormente considerada errónea, acabaria
por ser alterada em 1993 e o ministro estreante
absolvido.
Mesmo internado nos Cuidados Intensivos do Hospital
Santa Maria, em Lisboa, com um coágulo no cérebro,
ninguém lhe tirava o frenesim de uma pena afiada.
Numa tentativa de acalmá-lo, os médicos pedem a
Rudolfo Iriarte, chefe de redação de A Capital, para lá
ir. «Tinha sido operado à cabeça, estava todo
entrapado, mas preocupado com um texto que queria
publicar. Gritava: “Eu quero escrever!”»
Mas quando estala o escândalo, Sousa Tavares reage
sem levar em consideração os conselhos avisados de
Proença de Carvalho, que tenta conter os estragos
persuadindo-o a não falar publicamente sobre o
assunto. Morreria por si. Porém, como bem sabia o
amigo, Francisco era impossível de disciplinar.
«Ninguém conseguia influenciá-lo. Não era maleável.
Não tinha jogo de cintura.» À primeira oportunidade,
o recém-empossado governante põe-se ao telefone
com jornalistas.
Tarde demais. Para manter o cargo ministerial. E o
casamento com Sophia.
[…]
Amelia Clotilde Brugnini Garcia Lagos Sousa Tavares e
Francisco ainda fazem algumas viagens, mas não lhes
sobrou muito tempo de paz entre a boda e os
primeiros sinais de saúde periclitante. Após
começarem a viver juntos, Melucha telefona ao casal
Iriarte a pedir ajuda. Francisco tinha-se sentido mal.
«Depois do casamento, comecei a notar-lhe falhas de
memória. Nunca queria ir ao médico. Tinha uma
falência total do fígado, não por alcoolismo. Só bebia
vinho às refeições. Entre os 20 e os 30 anos deve ter
tido uma hepatite mal curada, que lhe foi dando cabo
do fígado. Degenerou numa insuficiência renal, que
lhe provocava encefalopatias. Chegava a ter crises
duas vezes por dia. Ausentava-se e não se lembrava
de nada.»
Mesmo internado nos Cuidados Intensivos do Hospital
Santa Maria, em Lisboa, com um coágulo no cérebro,
ninguém lhe tirava o frenesim de uma pena afiada.
Numa tentativa de acalmá-lo, os médicos pedem a
Rudolfo Iriarte, chefe de redação de A Capital, para lá
ir. «Tinha sido operado à cabeça, estava todo
entrapado, mas preocupado com um texto que queria
publicar. Gritava: “Eu quero escrever!”»
Talvez por isso Manuel Alegre o tenha recordado
como aquele que mesmo depois de morto estaria lá
em cima a «desinquietar a ordem estabelecida das
coisas».
Se o divórcio foi assunto tabu para Sophia, que não
deixa transparecer o tema para a obra e nem com os
melhores amigos – nem mesmo frei Bento Domingos
– abordava o tema, a morte do homem com quem
tinha vivido mais de trinta anos e de quem teve cinco
filhos, foi guardada num daqueles baús das emoções
que não têm fundo. Recusa-se a visitar o ex-marido,
mesmo contrariando os conselhos de alguns amigos.
Não comparece ao enterro.
Se o divórcio foi assunto tabu para Sophia, que não
deixa transparecer o tema para a obra e nem com os
melhores amigos – nem mesmo frei Bento Domingos
– abordava o tema, a morte do homem com quem
tinha vivido mais de trinta anos e de quem teve cinco
filhos, foi guardada num daqueles baús das emoções
que não têm fundo. Recusa-se a visitar o ex-marido,
mesmo contrariando os conselhos de alguns amigos.
Não comparece ao enterro.
Mas Francisco, homem com o coração para fora, voz
da coragem e da liberdade, dedica-lhe a última
crónica que publica no Diário de Notícias, num texto
que pode ser entendido como uma derradeira
homenagem. Uma despedida pública, já que Sophia
recusou considerar a privada.
35
DeClara, nº 25 julho 2019
Sophia, o mito
A poeta que encantara os franceses na Sorbonne e
que lera textos de Eduardo Lourenço em Bordéus era
a mesma autora que viajava carregada de malas e
comprimidos, vivendo obcecada com pequenas
maleitas. Uma peculiaridade desconcertante para
todos aqueles que sentiam estar perante o mito
Sophia. A preocupação obsessiva com a compra de
repelente num país da Europa continental, e o simples
facto de escolher como tema de conversa um assunto
tão terreno como a picada de insetos, assombrou o
poeta Al berto em Bordéus: «Mas os mosquitos
também picam a Sophia!?»
Em 1999, torna-se a primeira mulher portuguesa a
receber o Prémio Camões.
Por ser a forma mais imediata à época, a boa nova
deveria ter chegado por telefone. Isto se a poeta não
tivesse deixado o auscultador fora do descanso,
causando alvoroço entre os que a tentavam contactar.
Inquieta pela responsabilidade de ser a guardiã de tão
importante nova e sentindo-se impedida de a
partilhar, à meia-noite Maria Velho da Costa põe-se a
caminho. Desloca-se pessoalmente à Travessa das
Mónicas para transmitir à amiga como a 11.ª edição
do Prémio Camões tinha sido decidida por
unanimidade no Brasil, em Salvador da Baía.
Apanhada de surpresa e ainda descrente, questiona:
– «O Prémio, Maria? Qual Prémio?»
Ao que a amiga romancista respondeu:
– «O Camões».
Porque a madrugada não seja boa companheira, nem
mesmo para notívagos como Sophia. Ou porque tudo
aquilo – e àquela hora – parecia vir a despropósito, só
lhe ocorre comentar:
– «Mas agora?»
Como dirá ao jornal Público e em várias entrevistas,
«pensar muito em prémios é um mau pensamento».
Mas Sophia dava importância ao facto de ser
reconhecida em vida e gostou especialmente de
receber o Prémio Camões. Até porque era muito
criteriosa com tudo o que publicava. Crítica com os
outros como com ela, era a primeira a exigir de si
própria.
Preparada para gerir o choque da poeta, a coautora
de Novas Cartas Portuguesas, com Maria Teresa Horta
e Maria Isabel Barreno, fica pela Travessa das Mónicas
a receber os telefonemas, apresentando-se como
secretária de Sophia, com quem celebra até às duas
da manhã com cerejas e vinho branco.
A distinção, criada para destacar anualmente um
escritor que tivesse contribuído para o
enriquecimento do património literário e cultural da
língua portuguesa, na altura ainda apenas em
Portugal ou no Brasil, valia 10 mil contos (50 mil
euros). Nesse ano, em que o júri era presidido por
António Alçada Baptista, o nome de Sophia havia sido
proposto pelos portugueses e logo aceite pelos
brasileiros.
Quando o dia clareou, Sophia recebeu, além dos
telefonemas e telegramas, enormes ramos de rosas
vermelhas, as suas favoritas, como as oferecidas pelo
casal amigo Ana e João Bénard da Costa. Juntos,
aproveitam a ocasião festiva para planearem uma
viagem à Grécia, que nunca chegaria a acontecer por
Sophia se sentir já debilitada e sem coragem para
longas caminhadas ou escadarias, ainda que a
prometerem encontros com os deuses.
Embora gostasse de prémios, especialmente deste, e
a poucos meses de completar 80 anos, Sophia
mantinha o seu lema de vida: «Não é o importante, é
o que importa.» Talvez defeito de poeta, nunca
deixara de se focar no que realmente contava: «Eu
para escrever preciso de paz, silêncio e liberdade…
faltando essas coisas não se pode escrever.»
No dia da entrega do prémio, 19 de novembro de
1999, pela mão do Presidente da República, Jorge
Sampaio, Sophia escolheu alhear-se dos salamaleques
oficiais para dedicar tempo ao filho do irmão Gustavo,
então nos seus 18 anos. Perante a pergunta de
Sampaio e Maria José Rita sobre se precisava de
alguma coisa, pediu: «Sim, que chame o meu
sobrinho Tomás». Queria mostrar os jardins do Palácio
de Belém ao Andresen mais novo, aquele que já não
imaginava vir a conhecer quando o irmão foi pai pela
quarta vez, aos 60 anos. Escolheu a família para viver
o momento. Representada por um adolescente, a
quem podia levar pela mão e revelar o que tanto a
encantara na sua própria infância: a natureza e os
jardins. Agora não os do Campo Alegre, mas os da
residência oficial da mais alta figura do Estado, no
Palácio de Belém.
Também no seu discurso da cerimónia de entrega do
Prémio Luís de Camões, o presidente mencionou as
gerações futuras, considerando que, ao distinguir
36
DeClara, nº 25 julho 2019
Sophia, homenageava um símbolo da língua
portuguesa que era uma referência. «De uma beleza
tão alta e exata, a sua obra é, no século agora a
terminar, uma das criações em que nos revemos e de
que nos orgulhamos. Nos poemas, nos contos, nas
histórias infantis, nos testemunhos de sabedoria,
Sophia fala-nos da nossa cultura e da nossa civilização
como memória, vida e futuro. Fala-nos da luz do sol e
da sombra que é o seu espelho, da elevação das
montanhas e da imensidão do mar, das estátuas
gregas e dos atos humanos. Fala-nos do trigo que
sacia a fome aos homens, das obras imortais que são
capazes de criar e também dos campos de
concentração onde matam. Fala-nos da beleza, da
generosidade e da vergonha que não pode ser
esquecida para não ser repetida.»
Antes de entregar a distinção que leva o nome do
autor de Os Lusíadas, o chefe de Estado assinala a
importância do sentido de justiça na obra da poeta:
«De todos nós deve ser a pergunta que Sophia põe na
boca de um dos três Reis do Oriente. “Que pode
crescer dentro do tempo senão a justiça?”» E enfatiza
o seu papel de combate à repressão recorrendo aos
versos da própria autora:
«Quando a pátria que temos não a temos
Perdida por silêncio e por renúncia
Até a voz do mar se torna exílio
E a luz que nos rodeia é como grades»
[…]
Sophia morre fisicamente no Hospital da Cruz
Vermelha, na freguesia do Lumiar, concelho de Lisboa,
no dia 2 de julho de 2004, depois de um internamento
de duas semanas. A missa do funeral é celebrada pelo
amigo frei Bento Domingues na Igreja da Graça,
aquela que fica a poucos metros da morada de uma
vida na Travessa das Mónicas, e cuja porta principal
dá para o largo que passou a chamar-se Miradouro
Sophia de Mello Breyner Andresen – Poeta.
Encavalitado na colina, a deixar fruir daquela Lisboa
que vai do Castelo de São Jorge à ponte sobre o Tejo,
com um suspiro no olhar.
P´lo Observador
(2000)
Boas férias!
e…
excelentes leituras!

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Biblioteca Escolar - Conteúdos e Atividades

  • 2. Para Além da Curva da Estrada Para além da curva da estrada Talvez haja um poço, e talvez um castelo, E talvez apenas a continuação da estrada. Não sei nem pergunto. Enquanto vou na estrada antes da curva Só olho para a estrada antes da curva, Porque não posso ver senão a estrada antes da curva. De nada me serviria estar olhando para outro lado E para aquilo que não vejo. Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos. Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer. Se há alguém para além da curva da estrada, Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada. Essa é que é a estrada para eles. Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos. Por ora só sabemos que lá não estamos. Aqui há só a estrada antes da curva, e antes da curva Há a estrada sem curva nenhuma. 2 Agrupamento Clara de Resende DeClara, nº 25 julho 2019 Editorial Estamos a chegar ao fim de mais um ano letivo, e entretanto, preparamos já o próximo! Em breve estaremos de férias, mas não quis deixar de partilhar convosco as últimas notícias, artigos, textos que me foram chegando e que encerram as edições do DeClara 2018/2019. Espero que gostem. BOAS FÉRIAS! Isabel Santos Pereira Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" Heterónimo de Fernando Pessoa
  • 3. 3 RESPOSTAS AOS DESAFIOS DE JUNHO DESAFIOS DE JULHO DeClara, nº 25 julho 2019 Quando é que eles eclodiram dos seus ovos? Solução: dia 25 de fevereiro Desafio 1 Desafio 2 Solução: 30 Desafio 1 Descobre as 7 diferenças Desafio 2 Pinta conchinhas ou pedrinhas que apanhaste na praia ou pinta os pauzinhos dos gelados e traz em setembro para a tua biblioteca. Vamos fazer uma exposição com os vossos trabalhos de férias.
  • 4. 4 Agrupamento Clara de Resende DeClara, nº 25 julho 2019
  • 5. 5 Agrupamento Clara de Resende DeClara, nº 25 julho 2019
  • 6. Em pleno apogeu dos descobrimentos, parte uma armada do Cais do Sodré, rumo à Índia, cheia de homens que procuram fortuna. Ficam em terra, sozinhas e abandonadas, as mulheres. A ação gira em torno de uma mulher (a Ama), hipócrita e leviana, que aproveita a ausência do marido, que se encontrava rumo à Índia, para o enganar com os seus vários amantes. Esta divertida farsa critica alguns aspetos sociais de Portugal do século XVI, tais como a infidelidade das esposas na ausência dos maridos que partiam para a Índia. Francisco Manta, 9.ºB 3º Ciclo: “Auto Da Índia”, de Gil Vicente 6 SUGESTÕES DO MÊS LEITURA DeClara, nº 25 julho 2019 2º Ciclo: “A família que não cabia dentro de casa” de Alexandre Honrado Uma avó tão irrequieta que partiu uma perna a fazer esqui! Uma amiga com o estranho nome de Galochas. Uma irmã chanfrada. Uma vizinha choramingona e um taxista apaixonado por ela. Uma porteira que atrai as pulgas e um fantasma que resolve visitar a sua viúva. Um primo que é tanso e uma namorada ucraniana que fala uma língua que nem ele entende. Uma cabeça de esfregão ralado e uma tia Tábem. Uns pais que arrulham como pombinhos e uma casa mesmo a deitar por fora onde a família não cabe mas não pára de entrar — Ufa! Não é nada fácil ser-se adolescente, chamar-se Maria Ana (não, não é Mariana, quantas vezes será preciso dizer?!) e sobretudo ter de observar os estranhos efeitos que o amor tem nas pessoas… Biblioteca Escolar Apesar do milagre da medicina que fez diminuir o tumor que a atacara há alguns anos, Hazel nunca tinha conhecido outra situação que não a de doente terminal, sendo o capítulo final da sua vida parte integrante do seu diagnóstico. Mas com a chegada repentina ao Grupo de Apoio dos Miúdos com Cancro provoca uma atraente reviravolta de seu nome Augustus Waters. A história de Hazel vê-se agora prestes a ser completamente rescrita. Biblioteca Escolar Ensino Secundário: “A culpa é das estrelas” de Jonh Green
  • 7. 7 Agrupamento Clara de Resende DeClara, nº 25 julho 2019 As secas do mês Atenção: Estas anedotas são extremamente secas. Mesmo muito secas! As mais secas que já alguma vez ouviste! Num bar, o empregado vira-se para o cliente: -Estou a ver que o seu copo está vazio. Quer outro? -Mas para que é que eu havia de querer dois copos vazios? -Mãe, de onde é que viemos? -Nós descendemos de Adão e Eva. -Mas o pai disse que nós descendemos dos macacos… -Uma coisa é a família do teu pai, outra é a minha. O que é que um pato faz com uma pata? -Coxeia. Francisco Manta Rodrigues, 9.ºB
  • 8. 8 Agrupamento Clara de Resende DeClara, nº 25 julho 2019 Informação inútil: Desde 1983 que está definido que 1 metro é a distância linear que a luz percorre no vácuo em 299792458 avos de segundo. Anteriormente, 1 metro era definido por convenção, com base nas dimensões do planeta Terra, como a distância equivalente à décima milionésima parte do quadrante de um meridiano terrestre. A padronização do metro foi uma medida proposta pela Academia Francesa de Ciências, por iniciativa da Assembleia Nacional Constituinte. Francisco Manta Rodrigues, 9.ºB COM HUMOR…
  • 9. 9 Agrupamento Clara de Resende DeClara, nº 25 julho 2019 IMAGEM DO MÊS “Arma de Instrução em Massa”. Artista argentino cria tanque de guerra munido da arma mais poderosa: LIVROS! Já dizia Nelson Mandela: “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”. Talvez esta frase tenha inspirado o artista argentino Raul Lemesoff, o responsável pela criação de uma arma que pode mudar a vida de muitas pessoas: ele transformou um antigo carro Ford Falcon, de 1979, em um tanque de guerra. Mas, ao invés de disparar balas, o veículo dispara livros.
  • 10. 10 Agrupamento Clara de Resende DeClara, nº 25 julho 2019 “MAQUETES ENTRE TAKES” (Projeto desenvolvido no âmbito da disciplina de História e Geografia de Portugal - 5.º Ano - Turma F) Por Texto Coletivo - 5.ºF Ao longo deste ano letivo, a turma F do 5.º ano desenvolveu um projeto muito interessante no âmbito da disciplina de História e Geografia de Portugal, sob orientação do Professor Abel Cruz. Foi proposto aos alunos que elaborassem um trabalho de pesquisa sobre monumentos históricos. Cada aluno, individualmente ou em grupo, escolheu um monumento e trabalhou o tema, com envolvimento da sua família. Os alunos aprenderam factos importantes sobre os monumentos selecionados e tiveram a oportunidade de perceber melhor como elaborar um trabalho de pesquisa, seguindo os conselhos fornecidos no “Guia: Elaboração de um trabalho de pesquisa”. A elaboração das maquetes foi realizada com a participação dos familiares, o que resultou numa boa forma de aproximar alunos, pais e escola. No 3º período os trabalhos foram expostos no átrio da escola. Finalmente, tornando este projeto multidisciplinar, na disciplina de Português os alunos elaboraram uma composição relacionada com o seu monumento. Fica uma excelente recordação do 5º ano! A turma 5ºF no final do ano letivo
  • 11. 11 Agrupamento Clara de Resende DeClara, nº 25 julho 2019 Algumas imagens das Maquetes
  • 12. 12 Agrupamento Clara de Resende DeClara, nº 25 julho 2019 Algumas imagens das Maquetes
  • 13. 13 DeClara, nº 25 junho 2019 A Aventura na Grande Pirâmide de Quéops Eu e o meu amigo Rodrigo, quando éramos crianças, queríamos ir às pirâmides de Gizé, mas principalmente à maior, a Quéops. Os nossos pais não queriam ir. Quando crescemos decidimos fazer a nossa viagem de sonho. Fomos de avião e quando chegamos lá era tudo deserto. Não víamos mais nada, a não ser dunas de areia. Sem nada para nos guiar, fomos perguntar a umas pessoas que foram no nosso voo, onde é que era a pirâmide Quéops. A senhora disse-nos que era para virar à direita depois de uma duna e depois andar sempre em frente (que eram 5km) e aí a iriamos encontrar. Então lá fomos. Depois de muito esforço e de muita resistência, finalmente conseguimos. Rodrigo, empolgado, correu em direção a ela e eu fui atrás dele. Como já estávamos há muito à espera disto, fomos logo para dentro da pirâmide. Lá dentro subimos muitas escadas, até que encontramos uma porta que não estava aberta como as outras. Curiosos, entrámos, e lá dentro estava uma caixa grande, onde deveria estar um faraó, um esqueleto (que deveria ser a sua mulher morta) e também havia colares valiosos e joias, que deveriam ser os seus pertences mais pessoais. De repente, as portas fecharam-se e as paredes começaram a fechar-se também. Nós, preocupadíssimos, tentámos empurrar as paredes mas não resultou. O Rodrigo, preocupado, carregou sem querer com o pé num botão. Até que nós caímos em cima de ouro e joias. Ficámos espantados, porque era uma sala gigante cheia disso. E, nessa sala, havia uma porta que ia dar lá para fora. Então, saímos a correr e as pessoas ficaram a olhar para nós, porque do lado de fora não se via essa porta. Toda a gente, até nós pegamos num bocado de ouro e joias e fomo-nos embora. Rita da Silva Marques 5.º F n.º 22)
  • 14. 14 DeClara, nº 25 junho 2019 Final dos Concursos Ortografia e Gramática e Speling and Grammar Contest 5º, 6º e 7ºanos Dias 12 e 14 de Junho na Biblioteca da Escola Decorreu nos dias 12 e 14 de junho, na Biblioteca da Escola, a final dos concursos de Ortografia e Spelling Contest, no âmbito das atividades do PNL, dinamizado pelo Departamento de Línguas para os 5º, 6º e 7º ano de Escolaridade. Todos os alunos receberam uns docinhos e os respetivos certificados de participação. Os vencedores da final foram: • Spelling and Grammar Contest - Carolina Laia 5ºE • Ortografia e Gramática 5º - Filipe Castro Neves – 5ºD • Ortografia e Gramática 6º - Leonor Gomes, 6ºF • Ortografia e Gramática 7º - Sofia Outor, 7ºB Parabéns aos vencedores e a todos os participantes! As professoras responsáveis: Ana Paula Velasquez (Coordenadora do PNL) Amélia Reis Ângela Viegas Fernanda Moura Luísa Santos
  • 15. 15 Agrupamento Clara de Resende DeClara, nº 25 julho 2019 VISITA DO 7ºA À EXPOSIÇÃO I´M YOUR MIRROR No passado dia 13 de junho 2019 os alunos da turma do 7ºA, acompanhados pela Diretora de turma e professora de português Susana Silva e pela professora de Geografia Isabel Pereira deslocaram-se a pé até Serralves para visitar a exposição I´M YOUR MIRROR da artista Joana Vasconcelos. A exposição incluía mais de 35 obras, realizadas de 1997 até à atualidade, cobrindo um período de pouco mais de duas décadas e reunindo algumas das obras mais conhecidas e emblemáticas da artista: CAMA VALIUM (1998)
  • 16. 16 Agrupamento Clara de Resende DeClara, nº 25 julho 2019 VISITA DO 7ºA À EXPOSIÇÃO I´M YOUR MIRROR (cont.) URINÓIS REVESTIDOS A CROCHÉ Os alunos ouviram atentamente as explicações dadas pela guia, responderam a perguntas e fizeram várias questões e observações pertinentes. LILICOPTÈRE (2012) CORAÇÃO INDEPENDENTE VERMELHO (2005)
  • 17. 17 Agrupamento Clara de Resende DeClara, nº 25 julho 2019 VISITA DO 7ºA À EXPOSIÇÃO I´M YOUR MIRROR (cont.) BURKA (2002) Uma visita muito interessante! Para o ano haverá mais…
  • 18. 18 Agrupamento Clara de Resende DeClara, nº 25 julho 2019 Seleção E.V . Tema: Estruturas Artificiais Unidade Temática: Engenharia Professora: Maria Cristina Silva Isabel Pais
  • 19. 19 Agrupamento Clara de Resende DeClara, nº 25 julho 2019 Leonor Themudo Joaquim Santos Cont….
  • 20. 20 Agrupamento Clara de Resende DeClara, nº 25 julho 2019 Notícias de Timor Leste… A nossa querida professora de História Teresa Moreira, atualmemte a lecionar em Timor Leste, quis partilhar connosco as imagens de um trabalho feito por 2 alunos do CAFE de Suai, Timor – Leste, sobre um tema que lhes diz muito: “ As Casas Sagradas e os seus objetos”, com um pequeno texto escrito em português de Timor-Leste. Continua…
  • 21. 21 DeClara, nº 25 julho 2019
  • 22. 22 DeClara, nº 25 julho 2019
  • 23. 23 Agrupamento Clara de Resende DeClara, nº 25 julho 2019 No passado dia 14 de junho os professores da escola Clara de Resende reuniram-se pelas 18h e 30m, depois de um dia em cheio de trabalho e ainda com imensas tarefas pela frente, para a sua Sunset. Um alegre convívio ao por do sol que permitiu relaxar, repor energias, partilhar várias iguarias, estreitar laços e afugentar fantasmas… Uma equipa fantástica!
  • 24. 24 Agrupamento Clara de Resende DeClara, nº 25 julho 2019 Um lanche partilhado… Que bom aspeto!
  • 25. 25 Agrupamento Clara de Resende DeClara, nº 25 julho 2019 E muita alegria… Os professores adoraram e esperam repetir! Aqui fica o registo, para mais tarde recordar….
  • 26. 26 É BOM SABER ... DeClara, nº 25 julho 2019 Momentos marcantes na evolução da peça mais emblemática em cada verão! Na década de 1820, quando as mulheres queriam nadar, usavam roupas volumosas que cobriam completamente o corpo. Na década de 1870, as mulheres começaram a usar "roupas de banho" mais leves, embora continuassem a utilizar mangas volumosas. No final do século 19, os homens começaram a utilizar o que hoje chamamos de "macacões", enquanto que, as mulheres optaram por “roupas de banho” que combinavam com meias, chapéus e chinelos. Em 1900 começam a fazer-se atividades como o mergulho. Assim, as mulheres decidiram usar “roupas de banho” mais leves para bronzearem mais facilmente. Em 1920, os homens ainda utilizavam longos "macacões", mas o estilo e os cortes do material sofreram alterações. Nos anos de 1940, os fatos de banho evoluíram mais uma vez e tornaram-se justos. Em julho de 1946, o designer francês Louis Reard apresentou a sua coleção de biquínis num showroom de Paris. O nascimento do biquíni causou ondas de choque na sociedade. Nos anos 60, os biquínis dominaram a moda na praia em todo o mundo. Quanto aos homens, os “calções de surf” tornara-se obrigatórios. Nos anos 60, Rudi Gernreich criou o monokini. Nos anos 90 a série “Baywatch: Marés Vivas" fez com que os fatos de banho começassem a ser mais desportivos. Nos anos 2000 a moda masculina atualizou-se e os calções de banho transformaram-se numa espécie de bermudas, inspirados no estilo dos utilizados para fazer skate.
  • 27. 27 DeClara, nº 25 julho 2019 Ano de comemorações do 100.º aniversário de Sophia Primeira Biografia de Sophia de Mello Breyner Andresen No ano de comemorações do 100.º aniversário, o Observador fez a pré-publicação de “Sophia”, revelando excertos de diferentes capítulos, ou seja, recuperando momentos distintos da vida da poeta, do nascimento, em 1919, à morte, em 2004. “Sophia de Mello Breyner Andresen”, de Isabel Nery (A Esfera dos Livros) A mãe desatenta, a preocupação doentia com as doenças e o divórcio de Francisco. Os primeiros anos na casa de família, o casamento e os filhos. A poesia, a política, o reconhecimento e a morte. O Observador faz a pré-publicação de "Sophia de Mello Breyner Andresen" de Isabel Nery.• O nascimento • A vida na casa Andresen • A Granja da Casa Branca e dos primeiros poemas • Tareco e Xixa, o início • As mãos horrorosas dos fascistas • O divórcio litigioso e o beijo da paz que faltou • Sophia, o mito Na introdução do livro, Isabel Nery explica que escreveu a primeira biografia de Sophia de Mello Breyner Andresen “através de muitas entrevistas, mas também da consulta de arquivos em Portugal, na Dinamarca e na Alemanha, além de dezenas de livros, páginas de jornais, artigos científicos, teses, filmes e documentários”. É a primeira biografia porque, como Eduardo Lourenço terá dito à autora, “o estatuto social [de Sophia] não era de grande proximidade”. O objetivo desta biografia, explica Isabel Nery, é o de deixar em papel a vida de uma das figuras mais importantes da cultura e da história portuguesas do século XX. Ao mesmo tempo, é viajar pela evolução do país, de um Portugal que recebeu imigrantes, que viu mudar as suas cidades, que se transfigurou à medida das vontades políticas e que teve sempre espelho maior na literatura, aqui especificamente na poesia. O nascimento Tal como a morte, o nascimento não se adia, nem se atrapalha com momentos históricos mais ou menos atribulados. Simplesmente acontece. E a Sophia aconteceu-lhe às 11 horas e 20 minutos do dia 6 de novembro de 1919, em casa dos pais, na Rua António Cardoso, nº 170, no Porto. Nesse mesmo 6 de novembro de 1919, Tomás de Mello Breyner deixa Lisboa às 8 e meia para apanhar o comboio rápido – que levava oito horas a chegar – até ao Porto. É na estação de São Bento, onde aporta às 4 horas da tarde, que recebe a notícia do nascimento: «Soube que a minha rica filha Maria Amélia tinha tido uma rapariga, às 11h. De manhã e com toda a felicidade.» À hora a que Sophia nasceu, o avô Tomás viajava no comboio de Lisboa para o Porto e o pai preparava-se para erguer perante a matilha dos seus cães de caça a primeira filha. Sem mais delongas, e apesar do frio agreste de um novembro no Norte do país, João Henrique Andresen entendeu urgente levar a recém- nascida ao alpendre para a apresentar ao universo. Talvez um momento premonitório da relação quase mística que a poeta viria a acalentar com a natureza, uma constante na sua obra e um traço marcante da sua personalidade. Apesar do frio agreste de um novembro no Norte do país, João Henrique Andresen entendeu urgente levar a recém-nascida ao alpendre para a apresentar ao universo. Talvez um momento premonitório da relação quase mística que a poeta viria a acalentar com a natureza.
  • 28. 28 DeClara, nº 24 julho 2019 Agasalhado por mantas, o novo ente inalou o ar inaugural a partir do topo da escadaria de pedra, enquanto o terceiro Andresen em Portugal o anunciava à matilha com que perseguia as presas a abater, a mesma que, dali a trinta anos, o veria morrer durante uma caçada. Diz-se que os cães ganiram à presença da neófita. Mas o resgate veio pronto, que travar conhecimento com o mundo num dia de inverno, quando nem ainda se tinham descoberto os milagres da penicilina, era ato de loucura punível com risco de morte. Para a embalar no novo mundo, que tanto lhe daria o prazer e a inquietude de observar, Sophia tinha à sua espera o berço de madeira nórdica, escura, maciça, com um metro por 40 centímetros. O sono inicial seria suportado por pequenas rodas douradas e encimado por uma fina cabeça de cegonha. No bico, pontiagudo e longo, sustentava-se o véu branco que protegia a bisneta do comerciante dinamarquês. A peça, mandada fazer por João Henrique no Norte da Europa, especialmente para receber Sophia, embalaria os pequenos Andresen nascidos em solo nacional, e continuaria a ser usada por várias gerações. Logo a 11 de novembro o jornal A Monarquia tornava público o acontecimento: «Deu, na sua casa do Porto, à luz uma menina a sra. D. Maria de Mello Breyner Andresen, esposa do sr. João Andresen. Mãe e filha encontram-se bem.» Era um bairro de família. Os primos saltavam os muros para irem a casa uns dos outros, assustando os animais no galinheiro ou acariciando os cães de caça de João Andresen, guardados nos canis. Todos juntos chegavam para enfurecer o jardineiro Martinho e a percetora Clara Branca das Neves, que tomava conta das crianças com mão pesada. Embora extremamente atento à vida política (de tal forma que os seus diários são hoje considerados registos históricos), a ocasião era bom pretexto para Tomás de Mello Breyner fazer um interregno nas – justificadas – apoquentações com a situação do país. Afinal, tratava-se do nascimento da descendente que tanta «ternura» lhe fazia, primeira filha da sua querida Mary. Emocionado, e inquieto por conhecer a quarta neta, o médico vai direto para casa de Maria Amélia. «Eram cinco horas quando beijei a querida filha e a querida neta. Às 7 apareceu o médico parteiro, Dr. Alberto Gonçalves, que é simpático e pareceu sabedor.» É também pelo avô que ficamos a saber quem foram as primeiras pessoas a conhecer a futura poeta: a bisavó Frau Lehman, a avó D. Joana Andresen e várias tias. Nos dias que se seguem, a bebé terá cólicas, como todos os recém-nascidos, e a mãe febre, como a maior parte das mulheres, com a subida do leite. Rapidamente recupera e quatro dias depois do parto Maria Amélia come já com vontade a sua costeleta. Rendido ao amor pela mais nova Mello Breyner – «Estive muito tempo com a rica neta ao colo. Querida e que amor ela é! Que ternura me faz!» –, o avô Tomás aproveita os dias passados no Porto para convidar Alfredo Viana, grande amigo dos Andresen, para padrinho de Sophia. Mas não só: dava consultas a quem o procurasse em casa da filha, assistia aos atendimentos dos colegas de Dermatologia no Hospital de Santo António, no Porto, e visitava presas da Cadeia da Relação, sem deixar de notar os problemas de higiene do estabelecimento prisional. Três dias antes do batizado, o avô Mello Breyner e o coronel de Artilharia António Bernardo Ferreira são testemunhas no registo civil, na Restauração, de que a recém-nascida «se ficou chamando Sophia». O batismo, católico, apesar da educação protestante do pai, aconteceu num dia lindo, mas frio, em que os termómetros registavam zero graus, às três da tarde de 16 de novembro. Como madrinha, a avó materna, Sophia Burnay de Mello Breyner, e como padrinho Alfredo Viana, amigo do pai, João Henrique Andresen. A vida na casa Andresen A rua onde cresceu era essencialmente habitada por Andresens. No número 170 Sophia e os pais, na casa geminada Olga Andresen, um pouco à frente a pintora naturalista Teodora Andresen. Quando, mais tarde, se inaugurou o elétrico, o pavimento resumiu-se ao espaço entre os dois carris, por isso o trajeto principal continuou a ser de terra. Todas as noites vinha um funcionário acender as lâmpadas da António Cardoso, uma por uma. Era um bairro de família. Os primos saltavam os muros para irem a casa uns dos outros, assustando os animais no galinheiro ou acariciando os cães de caça de João Andresen, guardados nos canis. Todos juntos chegavam para enfurecer o jardineiro Martinho e a precetora Clara Branca das Neves, que tomava conta das crianças com mão pesada.
  • 29. 29 DeClara, nº 25 julho 2019 Um dia, toda a rua acorreu ao som dos gritos da criada, depois de uma tromba de água preta lhe ter caído pela chaminé da cozinha quando o pai de Sophia resolveu tentar apagar um fogo disparando tiros de caçadeira. O plano, arrojado e algo fracassado, era libertar a fuligem e com ela extinguir as chamas. Ao contrário de Sophia, Ruben A., o primo que nasceu apenas seis meses depois da poeta, em maio de 1920, viveu vários anos na Casa Andresen. O edifício imponente, os jardins e os mundos que deles brotavam não só o inspiraram, como justificaram muitas das páginas dos seus diários, publicados na década de 1960 e hoje edições difíceis de encontrar. Neles, o escritor demora-se na descrição da quinta que «começava ao fim da subida que vem de Vilar, dando como marco a casa dos Jennings; transformava‐se em planalto acompanhando a margem direita do Douro e indo morrer na descida da Quinta e da Rua do Campo Alegre que vai calmamente desembocar na Igreja de Lordelo do Ouro». Do outro lado, o clube dos ingleses, campos de râguebi, críquete e ténis. Em frente da propriedade, a «rua em forma de corda bamba, com árvores frondosas de ambos os lados e lá ao fundo, a linha do elétrico que nos levava para a cidade ou para a Foz, conforme íamos a trabalho ou ver o mar». Mais do que uma habitação, o palacete, como lhe chamavam as padeiras, foi mandado construir no século XVIII por João da Silva Monteiro, que não chegou a habitá-lo. O avô de Sophia ordena profundas remodelações, «decerto com dinheiros vindos do Brasil», antes de se tornar o segundo e último proprietário da enorme quinta, onde não faltava o court de ténis, um dos espaços preferidos para receber convidados e fechar negócios. […] Se o avô de Sophia transformou a Casa Andresen num edifício icónico, é a avó Joana Henriqueta Lehman, que havia recebido formação artística na Alemanha, onde crescera, apaixonada por flores e jardins à inglesa, a desenhar o roseiral e a empenhar‐se em trazer para a quinta novidades botânicas de toda a Europa: túlipas da Holanda, junquilhos e lírios de Inglaterra, japoneiras, avencas e até morangos, que chegam a merecer fama. Ou espargos, servidos nos jantares que o casal tanto gostava de dar. Nas palavras de Ruben A., a mata, o souto de castanheiros, os altos muros de camélias, os milheirais em vários andares e as rosas encarnado escuro, que Sophia colhia quase todos os dias em casa da avó, fizeram deste o jardim mais impressionante acima do Mondego. A mata, o souto de castanheiros, os altos muros de camélias, os milheirais em vários andares e as rosas encarnado escuro, que Sophia colhia quase todos os dias em casa da avó, fizeram deste o jardim mais impressionante acima do Mondego. O apogeu da Quinta do Campo Alegre correspondeu ao enriquecimento da família; a venda da propriedade, ao seu declínio. Para muitos dos familiares, a culpa da ruína foi do segundo marido da avó Lehman, viúva aos 36 anos. De tal maneira odiado pelas crianças, Severiano José da Silva ficou conhecido por Belzebu, e terá contribuído para a falência dos Andresen. No entanto, a crise do comércio da borracha, que se tinha tornado um dos principais negócios da família, dona de frotas de navios na Amazónia, terá também contribuído para o delapidar da fortuna iniciada por Jan Hinrich Andresen. O mundo mágico do Campo Alegre não era perturbado pela instabilidade política do país, que teimava em não sarar. Durante a infância de Sophia, os governos caem a um ritmo pouco mais do que mensal e as ditaduras tornam-se a mancha prevalecente em boa parte da Europa. Primeiro o fascismo italiano, em 1922, depois o Estado Novo português em 1926, para longos 48 anos de vida que Sophia ajudará a extinguir. A Granja da Casa Branca e dos primeiros poemas A pequena Andresen vai inaugurar o Colégio Sagrado Coração de Jesus, no número 1354 da Avenida da Boavista, onde gostou «imensíssimo» de estudar e foi das melhores da escola. Via-se a si própria como uma boa aluna, embora inibida e, sobretudo, distraída. Corriqueiro era apontarem-lhe cadernos que não estavam em dia e fardas sem o aprumo para que foram concebidas, além de golas perdidas. No Sagrado Coração, a futura poeta foi a criança que talvez nunca devêssemos deixar de ser. Chegava muitas vezes atrasada – traço que se manteve toda a vida –, descia pelo corrimão e fazia asneiras que lhe valiam alcunhas. Um dia, numa brincadeira de garotas, mete a cabeça debaixo da torneira e sai da casa de banho com o cabelo a pingar. De então em diante passa a ser conhecida por Bocage, poeta que aparecia numa foto do livro de leitura em figura similar. […]
  • 30. 30 DeClara, nº 25 julho 2019 A transmissão oral dos versos, mesmo antes de saber ler, levaria Sophia a afirmar ter crescido a acreditar que a poesia tinha existência própria, depois de um primeiro contacto com as palavras de Antero de Quental e de Camões que o avô Tomás de Mello Breyner lhe ensinava. E que a pequena Sophia não compreendia ainda, mas reconhecia. Chegava muitas vezes atrasada – traço que se manteve toda a vida –, descia pelo corrimão e fazia asneiras que lhe valiam alcunhas. Um dia, numa brincadeira de garotas, mete a cabeça debaixo da torneira e sai da casa de banho com o cabelo a pingar. De então em diante passa a ser conhecida por Bocage, poeta que aparecia numa foto do livro de leitura em figura similar. Embora tivesse a preocupação de evitar a discriminação dos outros netos relativamente a Sophia, o avô Tomás, que recebia a visita da neta em Lisboa e ia sempre vê-la ao Porto por altura do aniversário, em novembro, também não conseguia deixar de registar as especificidades da pequena. «Admirável na maneira como recita.» Um «assombro.» Depois de anotar no seu diário como Sophia tinha passado no exame da escola com distinção, Mello Breyner volta a espantar-se com a queda da criança para as letras: «Quando há dias estive no Porto vi-a decorar um soneto de Antero de Quental depois de o ouvir apenas três vezes. Que encanto de pequena!» Com apenas dez anos, Sophia passeava-se com uma edição de Os Lusíadas na algibeira e já fazia furor perante as visitas, que ficavam «de boca aberta» quando a ouviam recitar. É, portanto, desde muito pequena que Sophia começa a treinar a sua arte de dizer (mesmo antes de escrever) poesia. Durante o ano, a família Andresen vivia paredes-meias entre a Rua António Cardoso e a Quinta Grande. Nas férias, rumava à Granja. Na infância e juventude de Sophia, o mundo à parte que era a Casa Andresen e o Campo Alegre mudava-se para o outro mundo à parte que era a Granja, para muitos a praia mais aristocrática do país. Terra de veraneio de duques, duquesas e empresários, a quinta albergava patrícios como os Burnay ou os Cálem, e escritores como Eça de Queirós ou Ramalho Ortigão. Depois de receber a visita do rei D. Luís I, em 1869, é a famosa figura da Geração de 70 que tece os mais rasgados elogios ao clube de férias nascido graças à veia empreendedora de Frutuoso Ayres, decidido a transformar a quinta que fora de frades agostinianos em «estancia de repouso ou regalo». Em 1876, Ortigão dedica sete páginas do livro As praias de Portugal ao areal eleito por boa parte da elite portuguesa da época, numa altura em que só os muito endinheirados faziam férias junto ao mar. «A Granja é uma povoação diamante, uma estação bijou, uma praia de algibeira. Ao chegar tem a gente vontade de a examinar ao microscópio; ao partir apetece levá-la na mala, entre as camisas, como um sachet.» Tareco e Xixa, o início Sophia abandona o curso [estava inscrita nas cadeiras de cadeiras de Curso Elementar de Grego, Língua e Literatura Latina, História de Portugal, História da Antiguidade Oriental e História da Antiguidade Clássica], ao que tudo indica sem chegar a concluir qualquer cadeira, logo no ano seguinte ao ingresso, em 1938. Não sendo obrigatório apresentar nenhum documento para desistir da licenciatura, importa notar que o último documento sobre Sophia no processo do aluno, arquivado na Universidade de Lisboa, data de 25 de novembro de 1938, indicando que nada mais houve a registar depois dessa data. Longe dos estudos na capital, tinha agora oportunidade de viver apenas entre ela própria e a palavra. A poesia já a rondava desde criança, instalada sob a forma de projeto de vida. Busca. Salvação. «Comecei a escrever aos 12 anos. Depois aos 14 escrevi mais. Entre os 16 e os 23 escrevi mais do que em todo o resto da minha vida», dirá em entrevista a José Carlos Vasconcelos. Sete anos depois de abandonar a universidade lança o primeiro livro, Poesia, até hoje considerado obra essencial da autora. Fez-se uma edição de 300 exemplares,19 patrocinada pelo pai, que, mais tarde, se confessará espantado ao receber os cheques da editora compensando a despesa. Reaver o investimento não estava nos planos de quem ouvia da mulher: «Se ela é poeta, a culpa é tua.» Sete anos depois de abandonar a universidade lança o primeiro livro, Poesia, até hoje considerado obra essencial da autora. Fez-se uma edição de 300 exemplares, patrocinada pelo pai, que, mais tarde, se confessará espantado ao receber os cheques da editora compensando a despesa. Reaver o investimento não estava nos planos de quem ouvia da mulher: «Se ela é poeta, a culpa é tua.» Porém, o apoio revelar-se-ia premonitório. A filha, que parecia viver nas nuvens, ao ponto de os pais discutirem sobre a responsabilidade dolosa da
  • 31. 31 DeClara, nº 25 julho 2019 inclinação para tal arte, tinha encontrado como materializar o voo dos seus pensamentos. Sobre a edição de estreia, Poesia, a mãe, Maria de Mello Breyner Andresen, escreve-lhe uma carta. Ainda a habituar-se à ideia de ter uma filha poeta, dá- lhe os parabéns pelo novíssimo exemplar «tão lindo», que não só leu e releu, como dormiu «com o livrinho debaixo do travesseiro». Na missiva que lhe deixa acrescenta ainda que a estreia literária comoveu os avós e os tios, que lhe dão os parabéns. E despede-se: «Da sua mãe do coração.» A poesia será também pretexto para a vivência do amor. Depois de se conhecerem na Granja, e namorarem em Lisboa, onde ambos estudavam, a relação apaixonada com a palavra que já partilhavam leva Francisco Sousa Tavares a escrever a primeira recensão à obra da poeta. Uma crítica do futuro marido e pai dos cinco filhos que podia ser ela mesma um ensaio sobre esse dom do verbo que só uns raros bafeja: «Nunca se definiu, nem definirá poesia. A poesia é, vive ou paira, existe ou não existe. E acompanha a vida. É talvez um acréscimo de vida como toda a arte. Uma maneira íntima de adivinhar as coisas, de fundir o ritmo do mundo com o ritmo da nossa alma, numa pura e estranha intuição da verdade.» Tal como Sophia, também Francisco via nesse modo de escrita e na ética uma ligação simbiótica. «Todo o mundo é poético quando visto em verdade. Todas as coisas são maravilhosas quando as compreendemos. E a poesia limita-se afinal a iluminar a verdade, a beleza secreta que há em tudo aquilo que existe.» Seriam ainda precisas quase duas décadas para a ditadura cair, mas Sophia nunca mais deixaria de lutar pela mudança – pela liberdade. O Centro Nacional de Cultura (CNC), criado por um grupo de jovens católicos em 1945, é presidido pelo marido, Francisco Sousa Tavares, desde 1957, tornando-se uma sede de oposição ao regime. Sophia de Mello Breyner surge a Sousa Tavares como aquele autor raro que é simplesmente poesia, que diz humildemente o que sentiu quando um dia lhe aconteceu a vida. «Alguém que não quis fazer versos; mas que precisou de dizer as visões maravilhosas que trazia, o entendimento misterioso do universo que nela cantava num ritmo intenso.» O futuro marido recorre a uma das palavras preferidas da poeta para descrever a sua escrita «duma pureza inexcedível», sem teorias, nem gestos inúteis. «É uma intenção, uma revelação de beleza. Sofia Andresen escreveu o seu mundo e o mundo que lhe entrou pelos olhos extasiados, tudo fundido naquele ritmo de música e dança, de harmonia clara que é para ela uma exigência e um estilo.» As mãos horrorosas dos fascistas Apesar da popularidade das histórias para crianças, sistematicamente reimpressas nos últimos 60 anos, algumas a somar dezenas de edições, Sophia identificou-se sempre como essencialmente poeta. Não porque escrevia versos, mas porque queria assumir a responsabilidade de estar no mundo. A obra que vai acrescentar à sua poesia o carimbo do ativismo político é Mar Novo. Se imaginarmos possível indicar num calendário a data de entrada de Sophia na oposição ao regime ditatorial, seria 1958, ano da publicação desse livro. De então em diante, a poeta assume a rutura. Sem retorno. O contexto político, com greves, contestações e conspirações, geralmente pouco eficazes, mas debilitantes do regime, era já promotor de reacção, quando um acontecimento familiar alimenta em Sophia uma consciência acrescida das injustiças e arbitrariedades da ditadura. O contexto político, com greves, contestações e conspirações, geralmente pouco eficazes, mas debilitantes do regime, era já promotor de reacção, quando um acontecimento familiar alimenta em Sophia uma consciência acrescida das injustiças e arbitrariedades da ditadura. Em 1956, o irmão João Andresen ganha o concurso para a construção de um monumento ao Infante D. Henrique, com construção prevista para Sagres, a que o arquiteto chamou «Mar Novo». No entanto, em dezembro, Salazar recusa o resultado, como tinha feito já várias vezes com anteriores propostas de outros artistas, e comunica que o Conselho de Ministros havia decidido não construir a obra. Em vez disso, seria edificada em Lisboa uma reprodução, definitiva e em pedra, da escultura inicialmente prevista para ser exibida apenas durante a Exposição do Mundo Português, em 1940, o Padrão dos Descobrimentos. Que Sophia tenha, dois anos depois (em 1958), dado ao seu livro de poesia o mesmo nome não será coincidência. Chocada com a injustiça da decisão que afeta o irmão, e que considera política, deposita no livro um ato de revolta e insurreição. O caso tem sido até, por vezes, associado à morte prematura do arquiteto, aos 46 anos. Mas o enfarte agudo só acontece em junho de 1967, nove anos depois do episódio com «Mar Novo».
  • 32. 32 DeClara, nº 25 julho 2019 Este é o tempo Da selva mais obscura Até o ar azul se tornou grades E a luz do sol se tornou impura Esta é a noite densa de chacais Pesada de amargura Este é o tempo em que os homens renunciam O próprio título é atualmente visto por alguns estudiosos como significativamente provocador. Sendo o mar o desígnio histórico dos portugueses, acrescentar-lhe a palavra «novo» em tempo de ditadura trazia implícita a urgência de mudança de regime. A melhor prova do ponto de viragem que este livro vem trazer às intenções da escrita está nos próprios poemas aí publicados, como «Porque» (vide pág. 157) claramente antirregime, havendo mesmo quem veja na publicação o verdadeiro momento de iniciação à poesia de Sophia. O momento em que se compromete mais com o tema da responsabilidade ética. Seriam ainda precisas quase duas décadas para a ditadura cair, mas Sophia nunca mais deixaria de lutar pela mudança – pela liberdade. O Centro Nacional de Cultura (CNC), criado por um grupo de jovens católicos em 1945, é presidido pelo marido, Francisco Sousa Tavares, desde 1957, tornando-se uma sede de oposição ao regime. No ano seguinte, o chamado «general sem medo» apresenta-se às eleições presidenciais e o casal apoia essa candidatura de Humberto Delgado, adversário do ditador. Quando questionado por um jornalista, a 10 de maio de 1958, sobre o que aconteceria a António Oliveira Salazar se ganhasse as eleições à presidência da República, Delgado garantiu: «Obviamente, demito-o». Mãe distraída, talvez mesmo desatenta, Sophia deixava as ralações mundanas com vestuários e refeições para as criadas, encarregadas de levar as crianças à escola para que pudesse dormir até tarde. De tal forma que era comum ouvir Luísa, a empregada minhota de sempre, alardear com ironia a falta que fazia à família: «Se não fosse eu, nesta casa comiam- se versos.» A afronta não passaria despercebida aos vigilantes do regime. Mas Delgado mantém o papel de oposicionista. Em 1959, os apoiantes do militar de Torres Novas tentam derrubar o regime com uma investida que ficou conhecida como Golpe da Sé, frustrada a 11 de março, levando muitos dos apoiantes à prisão. Entre os detidos estavam o poeta Jorge de Sena, grande amigo de Sophia, e o marido, Francisco Sousa Tavares. A quase eleição de Humberto Delgado e o número crescente de movimentos contra Salazar, nomeadamente vindos da população católica, tiveram o efeito perverso de tornar a ditadura mais alertada – e mais violenta. As eleições, consideradas fraudulentas, dão a vitória ao candidato do regime, Américo Tomás, acabando por ditar o exílio e, mais tarde, o assassinato do general pela PIDE, em 1965. Com Marcelo Caetano no poder, a partir de 1968, a tão falada abertura não só fica pelo caminho, como provoca o movimento contrário. Como concluiu a investigadora Irene Flunser Pimentel: «Apesar das afirmações de Caetano, os métodos de detenção arbitrária e de tortura não sofreram alterações, tendo mesmo endurecido.» À crescente contestação e exigências de mudança, o Estado Novo responde com maior repressão e fortalecimento da capacidade de intervenção da PIDE através do decreto n.º 40550, que alarga o âmbito das «medidas provisórias de segurança». De então em diante a polícia política persegue, prende e tortura com impunidade reforçada. Sophia, Francisco Sousa Tavares e muitos dos seus amigos passam a estar sob constante vigilância da Polícia Internacional e de Defesa do Estado. Para os agentes, tudo era digno de registo. Desde os factos mais banais, como as pessoas recebidas em casa, até encontros públicos para apresentações de livros. Os telefonemas eram escutados, as entradas e saídas vigiadas e o correio intercetado. Em carta a Jorge de Sena, em 1962, Sophia lamenta-se: «A PIDE esteve em nossa casa revistando e levou todas as suas cartas.» Para os agentes, tudo era digno de registo. Desde os factos mais banais, como as pessoas recebidas em casa, até encontros públicos para apresentações de livros. Os telefonemas eram escutados, as entradas e saídas vigiadas e o correio intercetado. Em carta a Jorge de Sena, em 1962, Sophia lamenta-se: «A PIDE esteve em nossa casa revistando e levou todas as suas cartas.» Também a poeta foi detida para ser interrogada pela polícia política, como confirmam os espólios depositados na Torre do Tombo.
  • 33. 33 DeClara, nº 25 julho 2019 O divórcio litigioso e o beijo da paz que faltou Mãe distraída, talvez mesmo desatenta, Sophia deixava as ralações mundanas com vestuários e refeições para as criadas, encarregadas de levar as crianças à escola para que pudesse dormir até tarde. De tal forma que era comum ouvir Luísa, a empregada minhota de sempre, alardear com ironia a falta que fazia à família: «Se não fosse eu, nesta casa comiam- se versos.» Intimidades de filhas adolescentes e o recordar dos aniversários da prole eram entregues à guarda de Luísa, que trabalha mais de 40 anos para a família. No colégio, as freiras, confrontadas com aquela forma invulgar de estar nas obrigações familiares, chegavam a perguntar: «Mas a menina não tem mãe?» Distraída, desligada ao ponto de ir à escola onde o filho Miguel estudava apenas uma vez durante uma escolaridade de oito anos ou de mandar a secretária de Francisco comprar sapatos às crianças, Sophia era uma mãe intelectual e uma mulher pouco dada a gestos de ternura, incumpridora sempre que a maternidade implicasse ações mais burocráticas, como o controlo dos assuntos escolares. Mas, chegados à idade adulta, tornou-se claro que «nenhum de nós queria outra mãe». Apesar de algo ausente do quotidiano filial, a abordagem maternal de Sophia transfigurava-se quando o assunto eram as doenças da prole. Talvez por se tratar do cenário que mais a afligia – as enfermidades –, a poeta era capaz de passar horas num consultório à espera de um especialista que visse os filhos todos de uma vez ou que aplicasse vacinas protetoras se a iminência de alguma doença evitável a preocupava. Apesar de algo ausente do quotidiano filial, a abordagem maternal de Sophia transfigurava-se quando o assunto eram as doenças da prole. Talvez por se tratar do cenário que mais a afligia – as enfermidades –, a poeta era capaz de passar horas num consultório à espera de um especialista que visse os filhos todos de uma vez ou que aplicasse vacinas protetoras se a iminência de alguma doença evitável a preocupava. Perante a nefrite da filha Sofia, para quem começa a inventar O Rapaz de Bronze, ou o sarampo dos restantes, Sophia não arredava pé. Dessa inquietação nasceram, como foi já referido, os primeiros contos infantis. Embora menos desatento, Francisco Sousa Tavares também se escusa a visitar a escola do filho mais velho. Mas, impetuoso na vida pública, agia em coerência dentro de casa. Dele vinha uma atenção parental que potenciava o medo e que seria preferível evitar. Sobretudo quando se aproximava a chegada das notas escolares, então enviadas pelo correio. Nem as boas classificações da maioria em Português acalmavam os ânimos do pai, capaz de ficar nervoso ao ponto de lhes bater se os filhos se portavam mal. Mais comuns, as classificações negativas em Matemática eram, no entender do pai Sousa Tavares, bom pretexto para castigo. Nessas alturas, a mãe temperava os ânimos: «A culpa é do ensino e dos livros, que estão péssimos.» Mas o pai, capaz de saber de cor a matéria dos manuais de Ciências ou Geografia, não tolerava uma resposta errada, e podia puxar o braço bem atrás, garantindo que aterrava com toda a força daquela figura encorpada na cara de Miguel. Sophia e Francisco discordavam amiúde, o que podia significar gritos e coisas a voar por cima das cabeças dos filhos. Bastava um entender que a palavra certa era «pero» e outro «maçã» ou que não tivessem a mesma perspetiva dos problemas do país. Ele argumentava muito; ela arrumava os assuntos com uma palavra. A relação turbulenta e as discussões, sempre empolgantes, marcavam a relação entre a poeta e o advogado. Mas o dia seguinte seria já de esquecimento. […] Depois do 25 de Abril, algo piora, aumentando a frequência e gravidade das discussões. Gonçalo Ribeiro Telles vai para o Governo, Sophia para a Constituinte e Francisco, que tinha tido um papel mais ativo, fica de fora. Pela coragem de combater a ditadura, esperava ser reconhecido, mas, pelo contrário, sente-se ostracizado. Mal amado. Por assumir posições menos radicalmente de esquerda, Francisco era acusado de ser um social-democrata burguês. Embora tivesse lutado pelo fim do Estado Novo, ao contrário de Sophia o advogado não é chamado pelo Partido Socialista nem por nenhum outro partido para concorrer às eleições de 1975 à Assembleia Constituinte, provocando fricções entre o casal. A política tornou-se, aliás, um ponto de discórdia hoje valorizado pelos estudiosos da obra da autora. Um fator desgastante num casal que era já de pessoas antagónicas.
  • 34. 34 DeClara, nº 25 julho 2019 Incompatíveis. Amigos, cúmplices, embora de temperamentos muito diferentes – «ela tranquilidade e poesia»; ele «impulsivo» –, tinham uma «grande admiração um pelo outro, mas Sophia vivia fora da realidade». A política tornou-se, aliás, um ponto de discórdia hoje valorizado pelos estudiosos da obra da autora. Um fator desgastante num casal que era já de pessoas antagónicas. Incompatíveis. Amigos, cúmplices, embora de temperamentos muito diferentes – «ela tranquilidade e poesia»; ele «impulsivo». […] Primeiro caiu o político. Em consequência de um escândalo relacionado com ilícitos cambiais, Sousa Tavares é acusado pelo Ministério Público no processo que ficou conhecido como caso DOPA (Dragagens e Obras Públicas), por tráfico de divisas através da empresa com o mesmo nome. A suspeita de exportação de capitais tinha surgido por ser advogado de um ex-rei da Roménia, que lhe pagou em cheque. A lei, posteriormente considerada errónea, acabaria por ser alterada em 1993 e o ministro estreante absolvido. Mesmo internado nos Cuidados Intensivos do Hospital Santa Maria, em Lisboa, com um coágulo no cérebro, ninguém lhe tirava o frenesim de uma pena afiada. Numa tentativa de acalmá-lo, os médicos pedem a Rudolfo Iriarte, chefe de redação de A Capital, para lá ir. «Tinha sido operado à cabeça, estava todo entrapado, mas preocupado com um texto que queria publicar. Gritava: “Eu quero escrever!”» Mas quando estala o escândalo, Sousa Tavares reage sem levar em consideração os conselhos avisados de Proença de Carvalho, que tenta conter os estragos persuadindo-o a não falar publicamente sobre o assunto. Morreria por si. Porém, como bem sabia o amigo, Francisco era impossível de disciplinar. «Ninguém conseguia influenciá-lo. Não era maleável. Não tinha jogo de cintura.» À primeira oportunidade, o recém-empossado governante põe-se ao telefone com jornalistas. Tarde demais. Para manter o cargo ministerial. E o casamento com Sophia. […] Amelia Clotilde Brugnini Garcia Lagos Sousa Tavares e Francisco ainda fazem algumas viagens, mas não lhes sobrou muito tempo de paz entre a boda e os primeiros sinais de saúde periclitante. Após começarem a viver juntos, Melucha telefona ao casal Iriarte a pedir ajuda. Francisco tinha-se sentido mal. «Depois do casamento, comecei a notar-lhe falhas de memória. Nunca queria ir ao médico. Tinha uma falência total do fígado, não por alcoolismo. Só bebia vinho às refeições. Entre os 20 e os 30 anos deve ter tido uma hepatite mal curada, que lhe foi dando cabo do fígado. Degenerou numa insuficiência renal, que lhe provocava encefalopatias. Chegava a ter crises duas vezes por dia. Ausentava-se e não se lembrava de nada.» Mesmo internado nos Cuidados Intensivos do Hospital Santa Maria, em Lisboa, com um coágulo no cérebro, ninguém lhe tirava o frenesim de uma pena afiada. Numa tentativa de acalmá-lo, os médicos pedem a Rudolfo Iriarte, chefe de redação de A Capital, para lá ir. «Tinha sido operado à cabeça, estava todo entrapado, mas preocupado com um texto que queria publicar. Gritava: “Eu quero escrever!”» Talvez por isso Manuel Alegre o tenha recordado como aquele que mesmo depois de morto estaria lá em cima a «desinquietar a ordem estabelecida das coisas». Se o divórcio foi assunto tabu para Sophia, que não deixa transparecer o tema para a obra e nem com os melhores amigos – nem mesmo frei Bento Domingos – abordava o tema, a morte do homem com quem tinha vivido mais de trinta anos e de quem teve cinco filhos, foi guardada num daqueles baús das emoções que não têm fundo. Recusa-se a visitar o ex-marido, mesmo contrariando os conselhos de alguns amigos. Não comparece ao enterro. Se o divórcio foi assunto tabu para Sophia, que não deixa transparecer o tema para a obra e nem com os melhores amigos – nem mesmo frei Bento Domingos – abordava o tema, a morte do homem com quem tinha vivido mais de trinta anos e de quem teve cinco filhos, foi guardada num daqueles baús das emoções que não têm fundo. Recusa-se a visitar o ex-marido, mesmo contrariando os conselhos de alguns amigos. Não comparece ao enterro. Mas Francisco, homem com o coração para fora, voz da coragem e da liberdade, dedica-lhe a última crónica que publica no Diário de Notícias, num texto que pode ser entendido como uma derradeira homenagem. Uma despedida pública, já que Sophia recusou considerar a privada.
  • 35. 35 DeClara, nº 25 julho 2019 Sophia, o mito A poeta que encantara os franceses na Sorbonne e que lera textos de Eduardo Lourenço em Bordéus era a mesma autora que viajava carregada de malas e comprimidos, vivendo obcecada com pequenas maleitas. Uma peculiaridade desconcertante para todos aqueles que sentiam estar perante o mito Sophia. A preocupação obsessiva com a compra de repelente num país da Europa continental, e o simples facto de escolher como tema de conversa um assunto tão terreno como a picada de insetos, assombrou o poeta Al berto em Bordéus: «Mas os mosquitos também picam a Sophia!?» Em 1999, torna-se a primeira mulher portuguesa a receber o Prémio Camões. Por ser a forma mais imediata à época, a boa nova deveria ter chegado por telefone. Isto se a poeta não tivesse deixado o auscultador fora do descanso, causando alvoroço entre os que a tentavam contactar. Inquieta pela responsabilidade de ser a guardiã de tão importante nova e sentindo-se impedida de a partilhar, à meia-noite Maria Velho da Costa põe-se a caminho. Desloca-se pessoalmente à Travessa das Mónicas para transmitir à amiga como a 11.ª edição do Prémio Camões tinha sido decidida por unanimidade no Brasil, em Salvador da Baía. Apanhada de surpresa e ainda descrente, questiona: – «O Prémio, Maria? Qual Prémio?» Ao que a amiga romancista respondeu: – «O Camões». Porque a madrugada não seja boa companheira, nem mesmo para notívagos como Sophia. Ou porque tudo aquilo – e àquela hora – parecia vir a despropósito, só lhe ocorre comentar: – «Mas agora?» Como dirá ao jornal Público e em várias entrevistas, «pensar muito em prémios é um mau pensamento». Mas Sophia dava importância ao facto de ser reconhecida em vida e gostou especialmente de receber o Prémio Camões. Até porque era muito criteriosa com tudo o que publicava. Crítica com os outros como com ela, era a primeira a exigir de si própria. Preparada para gerir o choque da poeta, a coautora de Novas Cartas Portuguesas, com Maria Teresa Horta e Maria Isabel Barreno, fica pela Travessa das Mónicas a receber os telefonemas, apresentando-se como secretária de Sophia, com quem celebra até às duas da manhã com cerejas e vinho branco. A distinção, criada para destacar anualmente um escritor que tivesse contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua portuguesa, na altura ainda apenas em Portugal ou no Brasil, valia 10 mil contos (50 mil euros). Nesse ano, em que o júri era presidido por António Alçada Baptista, o nome de Sophia havia sido proposto pelos portugueses e logo aceite pelos brasileiros. Quando o dia clareou, Sophia recebeu, além dos telefonemas e telegramas, enormes ramos de rosas vermelhas, as suas favoritas, como as oferecidas pelo casal amigo Ana e João Bénard da Costa. Juntos, aproveitam a ocasião festiva para planearem uma viagem à Grécia, que nunca chegaria a acontecer por Sophia se sentir já debilitada e sem coragem para longas caminhadas ou escadarias, ainda que a prometerem encontros com os deuses. Embora gostasse de prémios, especialmente deste, e a poucos meses de completar 80 anos, Sophia mantinha o seu lema de vida: «Não é o importante, é o que importa.» Talvez defeito de poeta, nunca deixara de se focar no que realmente contava: «Eu para escrever preciso de paz, silêncio e liberdade… faltando essas coisas não se pode escrever.» No dia da entrega do prémio, 19 de novembro de 1999, pela mão do Presidente da República, Jorge Sampaio, Sophia escolheu alhear-se dos salamaleques oficiais para dedicar tempo ao filho do irmão Gustavo, então nos seus 18 anos. Perante a pergunta de Sampaio e Maria José Rita sobre se precisava de alguma coisa, pediu: «Sim, que chame o meu sobrinho Tomás». Queria mostrar os jardins do Palácio de Belém ao Andresen mais novo, aquele que já não imaginava vir a conhecer quando o irmão foi pai pela quarta vez, aos 60 anos. Escolheu a família para viver o momento. Representada por um adolescente, a quem podia levar pela mão e revelar o que tanto a encantara na sua própria infância: a natureza e os jardins. Agora não os do Campo Alegre, mas os da residência oficial da mais alta figura do Estado, no Palácio de Belém. Também no seu discurso da cerimónia de entrega do Prémio Luís de Camões, o presidente mencionou as gerações futuras, considerando que, ao distinguir
  • 36. 36 DeClara, nº 25 julho 2019 Sophia, homenageava um símbolo da língua portuguesa que era uma referência. «De uma beleza tão alta e exata, a sua obra é, no século agora a terminar, uma das criações em que nos revemos e de que nos orgulhamos. Nos poemas, nos contos, nas histórias infantis, nos testemunhos de sabedoria, Sophia fala-nos da nossa cultura e da nossa civilização como memória, vida e futuro. Fala-nos da luz do sol e da sombra que é o seu espelho, da elevação das montanhas e da imensidão do mar, das estátuas gregas e dos atos humanos. Fala-nos do trigo que sacia a fome aos homens, das obras imortais que são capazes de criar e também dos campos de concentração onde matam. Fala-nos da beleza, da generosidade e da vergonha que não pode ser esquecida para não ser repetida.» Antes de entregar a distinção que leva o nome do autor de Os Lusíadas, o chefe de Estado assinala a importância do sentido de justiça na obra da poeta: «De todos nós deve ser a pergunta que Sophia põe na boca de um dos três Reis do Oriente. “Que pode crescer dentro do tempo senão a justiça?”» E enfatiza o seu papel de combate à repressão recorrendo aos versos da própria autora: «Quando a pátria que temos não a temos Perdida por silêncio e por renúncia Até a voz do mar se torna exílio E a luz que nos rodeia é como grades» […] Sophia morre fisicamente no Hospital da Cruz Vermelha, na freguesia do Lumiar, concelho de Lisboa, no dia 2 de julho de 2004, depois de um internamento de duas semanas. A missa do funeral é celebrada pelo amigo frei Bento Domingues na Igreja da Graça, aquela que fica a poucos metros da morada de uma vida na Travessa das Mónicas, e cuja porta principal dá para o largo que passou a chamar-se Miradouro Sophia de Mello Breyner Andresen – Poeta. Encavalitado na colina, a deixar fruir daquela Lisboa que vai do Castelo de São Jorge à ponte sobre o Tejo, com um suspiro no olhar. P´lo Observador (2000) Boas férias! e… excelentes leituras!