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Autonomias possíveis:
práticas e desafios em saúde mental
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• Autonomia como condição inerente da vida
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• Organizações autopoiéticas autônomas: ser e fazer são inseparáveis
• Subordinam suas mudanças à conservação de sua própria
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• Situa-se completamente na rede de relações entre relações
(MATURANA e VARELA, 1997)
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• Saber: melhor e mais autêntico à medida que for capaz de construir
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(FREIRE, 2006)
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“O desenvolvimento da autonomia é ao
mesmo tempo alvo e meio para as
intervenções, pois a autonomia só se cria
exercendo-a.”
(CAMPOS et al., 2013)
Referências
• CAMPOS, G. W. S., et al. Práxis e formação Paideia: apoio e cogestão em saúde. Rio de
Janeiro: Hucitec, 2013.
• DUTRA, V. F. D.; BOSSATO, H. R.; OLIVEIRA, R. M. P. D. Mediar a autonomia: um
cuidado essencial em saúde mental. Escola Anna Nery, v. 21, n. 3. 2017.
• FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra. 2006.
• LEAL, E. M, et al. Psicopatologia da autonomia: a importância do conhecimento
psicopatológico nos novos dispositivos de assistência psiquiátrica. Rev. latinoam.
psicopatol. fundam., v. 9, n. 3, p. 433-446, 2006.
• MATURANA, H.; VARELA, F. De máquinas e seres vivos. Porto Alegre: Artes Médicas,
1997.
• ONOCKO-CAMPOS, R. T.; CAMPOS, G. W. S. Co-construção de autonomia: o sujeito em
questão. In Tratado de Saúde Coletiva. Editora Hucitec/Fiocruz; Campos, G. W. S.;
Minayo, M. C. S.; Akerman, M.; Drumond Júnior, M.; Carvalho, Y. M. 2006.

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  • 1. Autonomias possíveis: práticas e desafios em saúde mental Carla Maciel Residência Médica em Psiquiatra - HUPE UERJ Mestrado em Atenção Psicossocial - IPUB UFRJ Pós-Graduanda em Preceptoria no SUS - Hospital Sírio Libanês SP
  • 2. Perguntas disparadoras para debate Partindo do olhar para as suas práticas cotidianas, • Quais as questões relacionadas com a autonomia dos usuários vocês identificam durante o processo de cuidado? • Quais os desafios vocês encontram no trabalho de construção de autonomia junto aos usuários de saúde mental que vocês acompanham? • Em quais atividades realizadas por vocês e/ ou sua equipe de saúde mental a autonomia aparece como uma dimensão importante do trabalho proposto? De que maneira isso ocorre?
  • 3. Autonomia • Autos (próprio, si mesmo) e nomos (norma, lei) – origem grega • Iluminismo: relacionada às ideias de liberdade, individualidade e razão (livre-arbítrio). • Democracia: incorpora o direito à diversidade, liberdade de expressão e comportamento, impondo-se os limites dos danos a terceiros (FLEURY-TEIXEIRA et al., 2008). • Reforma Psiquiátrica: Paradigma de cuidado que investe na aquisição e promoção da autonomia dos cidadãos como princípio e diretriz para assistência em saúde mental. (DUTRA et al., 2017)
  • 4. Autonomia e os seres vivos • Autonomia como condição inerente da vida • Seres vivos: produzem a si mesmos de maneira constante • Organizações autopoiéticas autônomas: ser e fazer são inseparáveis • Subordinam suas mudanças à conservação de sua própria organização, produzida por meio da produção de seus próprios componentes, sob contínua perturbação e compensação. • Situa-se completamente na rede de relações entre relações (MATURANA e VARELA, 1997)
  • 5. Autonomia e pedagogia • O essencial nas relações é a reinvenção do ser humano no aprendizado de sua autonomia. • Saber: melhor e mais autêntico à medida que for capaz de construir minha autonomia em respeito à dos outros. • Inconclusão do ser que se sabe inconcluso. • “O respeito à autonomia e à dignidade humana de cada um (e cada uma) é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros” (FREIRE, 2006)
  • 6. Autonomia e co-criação • Capacidade de lidar com sua rede de dependências. • Processo de co-constituição de uma maior capacidade dos sujeitos compreenderem e agirem sobre si mesmos e sobre seu contexto • Depende do próprio sujeito/ indivíduo ou coletividade • Depende de condições externas, ainda que a pessoa participe da criação destas circunstâncias (Leis, funcionamento da economia, das políticas públicas, de valores, da cultura, do acesso à informação) • O sujeito é sempre co-responsável por sua própria constituição e pela constituição do mundo que o cerca. (ONOCKO-CAMPOS; CAMPOS, 2006)
  • 7. Psicopatologia e autonomia • Aquele que goza de autonomia e liberdade seria aquele com capacidade plena de autodeterminação. • Não existe independência absoluta do sujeito em relação à sociedade • Somos seres sociais desde a origem: o mundo somos nós mesmos • Stanghellini (2004): Liberdade - capacidade de pôr entre parênteses a representação preestabelecida do mundo (conhecimento do senso comum) sem perder a articulação com o mundo comum (pertencimento). • Construção de atividades e ações que dialoguem com a experiência vivida (descrita como psicopatológica) e com as dificuldades produzidas nas relação com o mundo. (LEAL, 2006)
  • 8. Práticas possíveis • Grupos GAM / Grupos de Medicação • Ouvidores de vozes • Ajuda Mútua • Geração de renda • Assembleias e espaços de controle social • Participação em eventos (congressos, fóruns, oficinas, cursos...) • Usuários como educadores • Atividades expressivas e artísticas • Práticas de cuidado centrado na pessoa
  • 9. “O desenvolvimento da autonomia é ao mesmo tempo alvo e meio para as intervenções, pois a autonomia só se cria exercendo-a.” (CAMPOS et al., 2013)
  • 10. Referências • CAMPOS, G. W. S., et al. Práxis e formação Paideia: apoio e cogestão em saúde. Rio de Janeiro: Hucitec, 2013. • DUTRA, V. F. D.; BOSSATO, H. R.; OLIVEIRA, R. M. P. D. Mediar a autonomia: um cuidado essencial em saúde mental. Escola Anna Nery, v. 21, n. 3. 2017. • FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. São Paulo: Paz e Terra. 2006. • LEAL, E. M, et al. Psicopatologia da autonomia: a importância do conhecimento psicopatológico nos novos dispositivos de assistência psiquiátrica. Rev. latinoam. psicopatol. fundam., v. 9, n. 3, p. 433-446, 2006. • MATURANA, H.; VARELA, F. De máquinas e seres vivos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. • ONOCKO-CAMPOS, R. T.; CAMPOS, G. W. S. Co-construção de autonomia: o sujeito em questão. In Tratado de Saúde Coletiva. Editora Hucitec/Fiocruz; Campos, G. W. S.; Minayo, M. C. S.; Akerman, M.; Drumond Júnior, M.; Carvalho, Y. M. 2006.