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Manifesto: Os Direitos Humanos dos
Ouvidores de Vozes
Ouvidores de Vozes: uma longa história de patologização, estigmatização e
violação dos direitos humanos
Ouvir vozes na ausência de sons vocais externos é visto por muitos como um sinal
de loucura, doença ou transtorno. Na psiquiatria tradicional, ouvir vozes tem sido
tratado como um sintoma de esquizofrenia. Nesta visão, assume-se que a
esquizofrenia é uma doença crônica e que as vozes precisam ser removidas com
tratamento. O tratamento tradicional consiste da prescrição de “antipsicóticos”.
Antipsicóticos são substâncias que podem levar a riscos de saúde moderados,
severos e até mesmo letais. Por muito tempo havia pouco ou nenhum espaço para
falar da experiência de ouvir vozes e sobre experiências traumáticas que
frequentemente são (parte da) causa das vozes. Por causa do rótulo
“esquizofrenia”, a reabilitação era considerada impossível. Muitos ouvidores de
vozes foram informados de que nunca alcançariam suas metas de vida, como viver
autonomamente, manter um trabalho ou obter um diploma, desfrutar de um
relacionamento romântico e ter filhos. Muitos ouvidores de vozes foram forçados à
medidas psiquiátricas coercivas como admissão forçada a uma enfermaria
psiquiátrica, celas de isolamento, medicação forçada, terapia de eletrochoque,
até mesmo visitas e alimentação forçadas. Enquanto tenham havidos mudanças na
psiquiatria nos últimos anos, estas visões e práticas ainda ocorrem em maior ou
menor grau por todo o mundo. A perspectiva tradicional da psiquiatria sobre ouvir
vozes - que não tem base científicas - tem contribuído para a visão da sociedade
que ouvir vozes é sinal de doença, deficiência ou loucura. Isto tem levado à
diferentes formas de estigmatização, exclusão e discriminação dos ouvidores de
vozes. Juntando todos esses dados, torna-se claro que ouvidores de vozes tem
enfrentado uma longa história de violações de direitos humanos - uma situação
que ainda permanece.
O Movimento Global de Ouvidores de Vozes: emancipação do ouvir de vozes
O movimento internacional de ouvidores de vozes considera ouvir vozes como uma
experiência humana comum e que seja possível (aprender como) viver com as
vozes. Ouvir vozes não é o sintoma de uma doença ou transtorno, mas uma
variação humana. A maioria dos ouvidores de vozes é capaz de conviver bem com
elas. Por esta perspectiva, o movimento de ouvidores de vozes busca emancipar e
empoderar os ouvidores de vozes. Os princípios e objetivos do movimento de
ouvidores de vozes são expressos na Declaração de Ouvidores de Vozes de
Melbourne (2013).
Objetivos do ‘Manifesto: Os Direitos Humanos dos Ouvidores de
Vozes’:
1) Chamar atenção e reconhecimento das violações dos direitos
humanos que ouvidores de vozes tem enfrentado;
2) Deixar claro o que são direitos humanos dos ouvidores de vozes;
3) Formular objetivos concretos para conquistar respeito pelos
direitos humanos dos ouvidores de vozes e prevenir injustiça no
mundo inteiro.
Direitos Universais dos Ouvidores de Vozes
• Os ouvidores de vozes tem os mesmo direitos de cada um dos outros seres
humanos. Todos os direitos humanos, como expressados na Declaração
Universal de Direitos Humanos, são aplicáveis aos indivíduos que ouvem vozes;
quem quer que sejam, onde quer que estejam.
Ouvir Vozes como uma Variação Humana Normal
• Ouvir vozes é uma variação normal da experiência humana.
• Os ouvidores de vozes representam a diversidade da espécie humana.
• Ouvir vozes é uma expressão da diversidade da experiência humana.
Direito à Vida, à Liberdade e Segurança
• Os ouvidores de vozes tem o direito de viver, de estar seguros e de ser livres.
Os ouvidores de vozes devem ser protegidos contra exploração, violência,
abuso e injustiças. Ouvidores de vozes não devem ser sujeitos à tortura ou a
tratamento ou punições cruéis desumanas ou humilhantes.
Direito a Não-Discriminação
• Os ouvidores de vozes não devem sofrer discriminação porque ouvem vozes.
• Sendo ouvir vozes uma experiência humana, ela não deve ser julgado de
antemão como sinal de doença ou periculosidade.
Direitos Iguais
• Os ouvidores de vozes devem ter acesso às mesmas opções e escolhas para
construir suas vidas que qualquer outro ser humano, como o direito de viver
independentemente, de ser parte da sociedade, de receber educação, de
escolar uma ocupação, de desfrutar um bom nível de vida, de ter uma família,
de escolher sua religião e opinião pessoais, e de desfrutar e praticar arte e
cultura.
Direito a Ter Opiniões e Crenças Pessoais
• Os ouvidores de vozes tem o direito de ter suas próprias crenças e
compreensões sobre a natureza de suas vozes.
• As compreensões dos ouvidores de vozes sobre suas vozes não podem ser vistas
como sinal de doença ou loucura.
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• Os ouvidores de vozes tem o direito de se reunir com outros ouvidores de
vozes e aliados, de trocar opiniões abertamente, e de compartilhar
experiências sobre ouvir vozes e outros assuntos.
• Os ouvidores de vozes tem direito de obter suporte social de uma maneira que
é recíproca. Eles tem o direito de sentir que são vistos e ouvidos, e que sua
perspectiva é reconhecida.
Direito à Informação
• Os ouvidores de vozes tem a liberdade de buscar e receber informação e
podem trocar informação por quaisquer canais de comunicação que
escolherem. Isto inclui informação sobre ouvir vozes e diferentes abordagens
para aprender a lidar com esta experiência.
• Para prevenir estigma e injustiça, a sociedade como um todo deveria ser
proativamente exposta a informação positiva e esperançosa sobre ouvir vozes
e informação sobre diferentes opiniões sobre vozes e os modos diferentes de
lidar com elas.
• Prover informação esperançosa sobre ouvir vozes, especialmente para os
jovens, é necessário a fim de prevenir o estigma e a patologização
desnecessária de jovens ouvidores de vozes.
Direito à Saúde e ao Cuidado
• Os cuidados médicos para ouvidores de vozes devem prover direitos humanos
como liberdade de escolha, direito de ser livre e estar seguro, de permanecer
saudável e liberdade de expressão.
• Pessoas que experimentam problemas psicológicos, sociais e de outras áreas
por ouvirem vozes devem ter o direito de receber cuidado e suporte humano e
de qualidade, onde quer que vivam.
• A experiência de ouvir vozes, as opiniões sobre ouvir vozes e as maneiras pelas
quais as pessoas lidam com as vozes não devem ser patologizadas.
• Grupos de auto-ajuda para ouvidores de vozes devem ser o padrão básico de
cuidado.
• O sistema de saúde deve prover informação atualizada, relevante e positiva
sobre ouvir vozes e tratamentos.
• Quando a medicação psiquiátrica for sugerida como tratamento, o profissional
deve prover informação completa, compreensiva e cientificamente atualizada
- não apenas pesquisa patrocinada pela indústria farmacêutica, mas pesquisa
crítica - sobre como determinada medicação funciona e que efeitos podem ser
esperados. Efeitos positivos e negativos assim como riscos de saúde, tanto a
curto quanto a longo prazo devem ser discutidos, bem como possíveis efeitos
colaterais caso a medicação seja interrompida.
• O tratamento compulsório é contrário aos direitos humanos. Em situações
potencialmente perigosas, a sociedade e os profissionais de saúde devem
prover cuidado adequado e seguro assim como honrar os direitos humanos.
• A provisão de cuidado deve ser escolhida com liberdade, baseada em
informação atualizada e com o consentimento do ouvidor de voz. O ouvidor de
vozes deve ter a liberdade de escolha referente a metas de recuperação e tipo
de tratamento, cuidado e suporte recebido.
• Ouvidores de vozes tem o direito de recusar certos tratamentos.
• Ouvidores de vozes tem o direito de obter auto-ajuda, contato com outros
ouvidores e suporte deles.
• Profissionais que proveem cuidado para ouvidores de vozes devem ser
treinados em como trabalhar com ouvidores de vozes.
• Profissionais devem ser treinados em direitos humanos.
• Profissionais que proveem cuidado devem ser treinados por aqueles que já
trabalham com grupos de suporte mútuo e colaborar com estes trabalhadores.
Faremos nosso melhor para garantir que:
• ouvidores de vozes sejam capazes de se emancipar;
• defenderemos juntos os direitos dos ouvidores de vozes;
• a sociedade seja bem informada sobre ouvir vozes e direitos humanos,
especialmente os próprios ouvidores de vozes, seus amigos, familiares,
profissionais, elaboradores das políticas, políticos e advogados;
• ouvidores de vozes sejam reconhecidos como uma minoria que precisa ser
protegida contra a injustiça;
• o ouvir de vozes e as crenças sobre as vozes não sejam patologizadas como
sintoma de um transtorno, mas que sejam vistos como variação humana, que
em alguns casos pode causar sofrimento emocional, mas que, com o suporte
adequado, pode ser vivida em paz e de maneira proveitosa;
• proveremos refúgios e espaços seguros onde ouvidores de vozes e seus aliados
possam encontra-se para compartilhar experiências, ideias e informações de
maneira aberta, e de executar atividades e ativismo;
• profissionais da saúde sejam munidos de informação sobre ouvir vozes, como o
suporte dos especialistas por experiência e conhecimento de diferentes
tratamentos que amplie a capacidade de escolha dos ouvidores de vozes;
• defenderemos a liberdade de escolha na saúde mental, incluindo a maneira
pela qual ouvidores de vozes são abordados e como os profissionais de saúde
comunicam-se com eles, a maneira pela qual eles lidam com as vozes e dão
sentido a elas, e quem e quais métodos eles desejam ter como apoio;
• ouvidores de vozes obterão apoio adequado para acessar reparação legal casos
seus direitos humanos sejam violados;
• leis nacionais sejam adaptadas para prover os direitos humanos devidos aos
ouvidores de vozes;
• diretrizes e protocolos em saúde mental sejam adaptados para prover os
direitos humanos devidos aos ouvidores de vozes.
Reconhecimento e Solidariedade a pessoas com outras variações e deficiências
• Reconhecemos os direitos de todos os humanos, como documentado na
Declaração Universal dos Direitos Humanos.
• Expressamos nossa solidariedade a pessoas com outras variações e/ou com
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Produzido no 10º Congresso Mundial de Ouvidores de Vozes
Traduzido por Lindsei Lansky.

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Manifesto: Os Direitos Humanos dos Ouvidores de Vozes

  • 1. Manifesto: Os Direitos Humanos dos Ouvidores de Vozes Ouvidores de Vozes: uma longa história de patologização, estigmatização e violação dos direitos humanos Ouvir vozes na ausência de sons vocais externos é visto por muitos como um sinal de loucura, doença ou transtorno. Na psiquiatria tradicional, ouvir vozes tem sido tratado como um sintoma de esquizofrenia. Nesta visão, assume-se que a esquizofrenia é uma doença crônica e que as vozes precisam ser removidas com tratamento. O tratamento tradicional consiste da prescrição de “antipsicóticos”. Antipsicóticos são substâncias que podem levar a riscos de saúde moderados, severos e até mesmo letais. Por muito tempo havia pouco ou nenhum espaço para falar da experiência de ouvir vozes e sobre experiências traumáticas que frequentemente são (parte da) causa das vozes. Por causa do rótulo “esquizofrenia”, a reabilitação era considerada impossível. Muitos ouvidores de vozes foram informados de que nunca alcançariam suas metas de vida, como viver autonomamente, manter um trabalho ou obter um diploma, desfrutar de um relacionamento romântico e ter filhos. Muitos ouvidores de vozes foram forçados à medidas psiquiátricas coercivas como admissão forçada a uma enfermaria psiquiátrica, celas de isolamento, medicação forçada, terapia de eletrochoque, até mesmo visitas e alimentação forçadas. Enquanto tenham havidos mudanças na psiquiatria nos últimos anos, estas visões e práticas ainda ocorrem em maior ou menor grau por todo o mundo. A perspectiva tradicional da psiquiatria sobre ouvir vozes - que não tem base científicas - tem contribuído para a visão da sociedade que ouvir vozes é sinal de doença, deficiência ou loucura. Isto tem levado à diferentes formas de estigmatização, exclusão e discriminação dos ouvidores de vozes. Juntando todos esses dados, torna-se claro que ouvidores de vozes tem enfrentado uma longa história de violações de direitos humanos - uma situação que ainda permanece. O Movimento Global de Ouvidores de Vozes: emancipação do ouvir de vozes O movimento internacional de ouvidores de vozes considera ouvir vozes como uma experiência humana comum e que seja possível (aprender como) viver com as vozes. Ouvir vozes não é o sintoma de uma doença ou transtorno, mas uma variação humana. A maioria dos ouvidores de vozes é capaz de conviver bem com elas. Por esta perspectiva, o movimento de ouvidores de vozes busca emancipar e empoderar os ouvidores de vozes. Os princípios e objetivos do movimento de ouvidores de vozes são expressos na Declaração de Ouvidores de Vozes de Melbourne (2013). Objetivos do ‘Manifesto: Os Direitos Humanos dos Ouvidores de Vozes’: 1) Chamar atenção e reconhecimento das violações dos direitos humanos que ouvidores de vozes tem enfrentado; 2) Deixar claro o que são direitos humanos dos ouvidores de vozes; 3) Formular objetivos concretos para conquistar respeito pelos direitos humanos dos ouvidores de vozes e prevenir injustiça no mundo inteiro.
  • 2. Direitos Universais dos Ouvidores de Vozes • Os ouvidores de vozes tem os mesmo direitos de cada um dos outros seres humanos. Todos os direitos humanos, como expressados na Declaração Universal de Direitos Humanos, são aplicáveis aos indivíduos que ouvem vozes; quem quer que sejam, onde quer que estejam. Ouvir Vozes como uma Variação Humana Normal • Ouvir vozes é uma variação normal da experiência humana. • Os ouvidores de vozes representam a diversidade da espécie humana. • Ouvir vozes é uma expressão da diversidade da experiência humana. Direito à Vida, à Liberdade e Segurança • Os ouvidores de vozes tem o direito de viver, de estar seguros e de ser livres. Os ouvidores de vozes devem ser protegidos contra exploração, violência, abuso e injustiças. Ouvidores de vozes não devem ser sujeitos à tortura ou a tratamento ou punições cruéis desumanas ou humilhantes. Direito a Não-Discriminação • Os ouvidores de vozes não devem sofrer discriminação porque ouvem vozes. • Sendo ouvir vozes uma experiência humana, ela não deve ser julgado de antemão como sinal de doença ou periculosidade. Direitos Iguais • Os ouvidores de vozes devem ter acesso às mesmas opções e escolhas para construir suas vidas que qualquer outro ser humano, como o direito de viver independentemente, de ser parte da sociedade, de receber educação, de escolar uma ocupação, de desfrutar um bom nível de vida, de ter uma família, de escolher sua religião e opinião pessoais, e de desfrutar e praticar arte e cultura. Direito a Ter Opiniões e Crenças Pessoais • Os ouvidores de vozes tem o direito de ter suas próprias crenças e compreensões sobre a natureza de suas vozes. • As compreensões dos ouvidores de vozes sobre suas vozes não podem ser vistas como sinal de doença ou loucura. Direito a Reunir-se • Os ouvidores de vozes tem o direito de se reunir com outros ouvidores de vozes e aliados, de trocar opiniões abertamente, e de compartilhar experiências sobre ouvir vozes e outros assuntos. • Os ouvidores de vozes tem direito de obter suporte social de uma maneira que é recíproca. Eles tem o direito de sentir que são vistos e ouvidos, e que sua perspectiva é reconhecida.
  • 3. Direito à Informação • Os ouvidores de vozes tem a liberdade de buscar e receber informação e podem trocar informação por quaisquer canais de comunicação que escolherem. Isto inclui informação sobre ouvir vozes e diferentes abordagens para aprender a lidar com esta experiência. • Para prevenir estigma e injustiça, a sociedade como um todo deveria ser proativamente exposta a informação positiva e esperançosa sobre ouvir vozes e informação sobre diferentes opiniões sobre vozes e os modos diferentes de lidar com elas. • Prover informação esperançosa sobre ouvir vozes, especialmente para os jovens, é necessário a fim de prevenir o estigma e a patologização desnecessária de jovens ouvidores de vozes. Direito à Saúde e ao Cuidado • Os cuidados médicos para ouvidores de vozes devem prover direitos humanos como liberdade de escolha, direito de ser livre e estar seguro, de permanecer saudável e liberdade de expressão. • Pessoas que experimentam problemas psicológicos, sociais e de outras áreas por ouvirem vozes devem ter o direito de receber cuidado e suporte humano e de qualidade, onde quer que vivam. • A experiência de ouvir vozes, as opiniões sobre ouvir vozes e as maneiras pelas quais as pessoas lidam com as vozes não devem ser patologizadas. • Grupos de auto-ajuda para ouvidores de vozes devem ser o padrão básico de cuidado. • O sistema de saúde deve prover informação atualizada, relevante e positiva sobre ouvir vozes e tratamentos. • Quando a medicação psiquiátrica for sugerida como tratamento, o profissional deve prover informação completa, compreensiva e cientificamente atualizada - não apenas pesquisa patrocinada pela indústria farmacêutica, mas pesquisa crítica - sobre como determinada medicação funciona e que efeitos podem ser esperados. Efeitos positivos e negativos assim como riscos de saúde, tanto a curto quanto a longo prazo devem ser discutidos, bem como possíveis efeitos colaterais caso a medicação seja interrompida. • O tratamento compulsório é contrário aos direitos humanos. Em situações potencialmente perigosas, a sociedade e os profissionais de saúde devem prover cuidado adequado e seguro assim como honrar os direitos humanos. • A provisão de cuidado deve ser escolhida com liberdade, baseada em informação atualizada e com o consentimento do ouvidor de voz. O ouvidor de vozes deve ter a liberdade de escolha referente a metas de recuperação e tipo de tratamento, cuidado e suporte recebido. • Ouvidores de vozes tem o direito de recusar certos tratamentos. • Ouvidores de vozes tem o direito de obter auto-ajuda, contato com outros ouvidores e suporte deles. • Profissionais que proveem cuidado para ouvidores de vozes devem ser treinados em como trabalhar com ouvidores de vozes. • Profissionais devem ser treinados em direitos humanos. • Profissionais que proveem cuidado devem ser treinados por aqueles que já trabalham com grupos de suporte mútuo e colaborar com estes trabalhadores.
  • 4. Faremos nosso melhor para garantir que: • ouvidores de vozes sejam capazes de se emancipar; • defenderemos juntos os direitos dos ouvidores de vozes; • a sociedade seja bem informada sobre ouvir vozes e direitos humanos, especialmente os próprios ouvidores de vozes, seus amigos, familiares, profissionais, elaboradores das políticas, políticos e advogados; • ouvidores de vozes sejam reconhecidos como uma minoria que precisa ser protegida contra a injustiça; • o ouvir de vozes e as crenças sobre as vozes não sejam patologizadas como sintoma de um transtorno, mas que sejam vistos como variação humana, que em alguns casos pode causar sofrimento emocional, mas que, com o suporte adequado, pode ser vivida em paz e de maneira proveitosa; • proveremos refúgios e espaços seguros onde ouvidores de vozes e seus aliados possam encontra-se para compartilhar experiências, ideias e informações de maneira aberta, e de executar atividades e ativismo; • profissionais da saúde sejam munidos de informação sobre ouvir vozes, como o suporte dos especialistas por experiência e conhecimento de diferentes tratamentos que amplie a capacidade de escolha dos ouvidores de vozes; • defenderemos a liberdade de escolha na saúde mental, incluindo a maneira pela qual ouvidores de vozes são abordados e como os profissionais de saúde comunicam-se com eles, a maneira pela qual eles lidam com as vozes e dão sentido a elas, e quem e quais métodos eles desejam ter como apoio; • ouvidores de vozes obterão apoio adequado para acessar reparação legal casos seus direitos humanos sejam violados; • leis nacionais sejam adaptadas para prover os direitos humanos devidos aos ouvidores de vozes; • diretrizes e protocolos em saúde mental sejam adaptados para prover os direitos humanos devidos aos ouvidores de vozes. Reconhecimento e Solidariedade a pessoas com outras variações e deficiências • Reconhecemos os direitos de todos os humanos, como documentado na Declaração Universal dos Direitos Humanos. • Expressamos nossa solidariedade a pessoas com outras variações e/ou com deficiências. Produzido no 10º Congresso Mundial de Ouvidores de Vozes Traduzido por Lindsei Lansky.