[1] O documento discute os princípios da clínica em saúde mental infantojuvenil, propondo abordagens não manicomiais que foquem no sujeito e no território social. [2] Defende a desinstitucionalização e a construção de instituições no território que promovam a sociabilidade. [3] Aponta desafios como sustentar a singularidade dos sujeitos, inventar formas criativas de acolhimento e dar voz às crianças nos processos de medicação.
Em um local de crime com óbito muitas perguntas devem ser respondidas. Quem é...
Revisitando princípios da clínica
1. I Forum Internacional “Novas abordagens
em Saúde Mental Infantojuvenil”
Revisitando princípios da clínica
Inventando estratégias crianceiras
São Paulo, Abril de 2018
Ricardo Lugon
ricardolugon@gmail.com
2. Clínica? Ou “afinal, o que é mesmo
que estamos fazendo”? (Delgado, 2009)
• Trata-se de uma clínica em construção. E de
uma clínica que só existe porque está em
construção. E essa construção não acabará
nunca.
• É necessário abrir mão de qualquer
sacralização e solenidade em torno da palavra
“clínica”
• A clínica é essencialmente um esforço
imperfeito.
3. Clínica? Ou “afinal, o que é mesmo
que estamos fazendo”? (Delgado, 2009)
• Essa clínica se refere a sujeitos: um com o
ofício do cuidado e um que pede esse
cuidado:
• Sujeitos em lugares concretos, historicidades
concretas, momentos concretos;
• “Cuidado” envolve construir novos lugares
sociais para estes sujeitos
• Transformar o território em lugares de
produção do cuidado
4. Sintoma, silêncio e clínica
(Tenório, 2002)
• O modelo manicomial não é a mesma coisa que
hospitalocêntrico: ele é sintomatológico porque foca
na debelação, no silenciamento do sintoma
• Os resultados já estão definidos a priori
– O que é dito às vezes servem apenas ao reconhecimento dos
sintomas, que, inventariados, determinarão a conduta : o
tratamento com frequencia se reduz ao monitoramento dos
sintomas e ao manejo da medicação
• A atençao psicossocial não pode estar em busca do
“equilíbrio”: ela precisa ajudar a dar voz àquilo que
emerge quando da crise (“emergência” do sujeito)
5. “Vertentes da clínica”
• Que “ecos do passado” reconhecemos no
trabalho de um Caps?
– Desinstitucionalização (basagliana): nega a doença e
convida a inventar instituições que atuem no
território social como motores da sociabilidade
– “Clinica institucional”: toma a positividade da clinica
como campo de trabalho com a loucura: fazer da
instituição um lugar de laço social
– Reabilitação: tem um caráter pedagógico (em seu
sentido amplo) e ajudar a recuperar a “competência
social”
6. A Inspiração Italiana
• Gorizia e Trieste, 1971
– Para estudar a doença mental, a psiquiatria pôs o
homem entre parênteses e acabou estudando
“doenças abstratas”
– Precisamos, mais do que nunca por a doença entre
parênteses para lidar com sujeitos concretos que
experimentam o sofrimento
– O sujeito em sua totalidade demanda trabalho, lazer,
cuidados, relações e afetos cooperativas de
trabalho
– Interface com a cultura: video, cinema, teatro;
associações de familiares no território vivo das
relações sociais e políticas, afetivas e ideológicas
7. Desafios
• Deslocar o foco para o cuidado no território
ajudar a preservar ou resgatar laços de
pertencimento (ou mesmo construi-los)
quando do ‘encontro clínico’ da saúde mental
com crianças e adolescentes
• Tecer redes redes são o modo de se
agenciar e conceber o cuidado: “papel não
fala”
8. Desafios
• Sustentar que nenhum sujeito pode ser
reduzido a seu transtorno
• O trabalho diagnóstico ser feito com o sujeito
em sofrimento: recontar sua história,
reconhecer suas montagens sintomáticas e
suas vias de superação e as dificuldades
concretas acarretadas por sua peculiar
condição na existência
9. E mais desafios
• Ousar criar e sustentar espaços para crianças e
adolescentes ouvidores de vozes, mas que não
podem – de novo – ser uma adaptação de algo
criado para os adultos. Inventar formas
crianceiras de abrir estes espaços de fala
– E precisa ser fora dos Capsi POR FAVOR!
• Disputar espaços de negociação dos
psicofármacos tendo crianças e adolescentes
como protagonistas das decisões
– Cuidado com o a priori: “medicação é sempre ruim”
– Ruim é o silenciamento da criança ou adolescente!